Relatório de Actividades Outubro de 2007 – Setembro de 2008 O ano que passou No ano que passou, procurámos, uma vez mais, ser fiéis ao nosso projecto musical de divulgação do património da música vocal polifónica, em particular da música portuguesa e ibérica dos séc. XVI-XVIII. E ainda - como sempre inscrevemos como marca de água nos programas dos nossos concertos - tentámos que “a intervenção cultural do grupo procure privilegiar públicos com menos oportunidades de contacto com a música coral desta época, através de concertos comentados com uma intenção pedagógica que visa despertar o gosto pela música e contribuir para o enriquecimento cultural dos cidadãos.” Concretizámos dois dos três projectos musicais que havíamos inscrito no nosso Plano de Actividades 2007/08. O terceiro - “Mosaico” - imaginado como ilustração das várias expressões de uma Península Ibérica multicultural que aqui con-viveram, apesar de não ter sido possível montá-lo para este ano, pela dificuldade em encontrar repertório exequível relativo às religiões e culturas árabe e judia, não o quereríamos abandonar. Aguarda a sua oportunidade. Dos oito concertos que fizemos, sete deles foram fora do Porto, onde a oferta cultural e, em particular, de apresentações musicais de qualidade é mais escassa. Foram dois os projectos centrais do nosso trabalho durante este ano: Stabat Mater e Em torno de João Rodrigues Esteves. Correspondem a duas linhas de acção que gostaríamos de continuar a explorar: o primeiro programa estruturou-se em torno de um texto central da liturgia da Paixão e consequentemente da música sacra criada ao longo de vários períodos históricos e artísticos (já havíamos feito um outro programa referenciado ao Advento com o texto do Magnificat); o outro programa abordou um compositor português pouco re-conhecido, pouco interpretado, pouco gravado e, por isso, pouco ouvido. João Rodrigues Esteves (JRE), compositor português do séc. XVIII, bolseiro de D. João V em Itália, aqui apresentado em contexto, da música que se fazia no seu tempo e dos compositores seus contemporâneos. Este último projecto constituiu ainda uma oportunidade de colaboração com o grupo de cantores que integram a Associação ……. e com dois músicos instrumentistas – o Tiago, companheiro de sempre e organista residente, e a Ana Isabel violoncelista e que nos permitiu abordar um programa exigente em termos de recursos vocais e instrumentais. Esta nossa prática tem-se revelado extremamente salutar pelas possibilidades que nos abre e pela abertura e desafio permanentes que nos estimulam e enriquecem. Achámos que o programa de JRE estava já bastante trabalhado (fizemos com ele cinco concertos) e a sua relevância para o património musical português bem justificava que a sua obra fosse mais divulgada. Por isso, pelo segundo ano consecutivo, propusemo-nos gravar um programa musical, desta feita do programa “Em torno de João Rodrigues Esteves, compositor português do tempo de D. João V”. Aguardamos ainda o resultado final desse trabalho de gravação. 2 Os projectos No âmbito do objectivo de divulgação - além de outros da ordem do prazer estético musical e da contemplação espiritual - dos concertos Anima Mea, a “apresentação do programa” de cada concerto que surge sempre no programa distribuído no início e é depois retomada e comentada durante a apresentação, é um elemento central e diferenciador dos nossos concertos. Por isso se reproduzem a seguir para que fique registado e porque nem todos os associados tiveram oportunidade de assistir aos concertos. 1. Stabat Mater • Igreja do Convento de Arouca, 1 de Março de 2008 • Igreja de Santo António das Antas, 9 de Março de 2008 Apresentação do Programa Depois do projecto Magnificat em 2005, centrado na figura de Maria que aceita ser Mãe do Salvador, este é um programa centrado na Paixão de Cristo, mas em que a peça musical de maiores proporções continua a ser referenciada a Maria e ao seu sofrimento pela morte do seu filho único: o Stabat Mater. Este concerto, sem descentrar o foco na Paixão de Jesus, poderá permitir pousar o olhar naqueles que o acompanharam e sofreram com-paixão esses momentos cruciais da humanidade de Cristo que a Páscoa redime e dá sentido à mensagem evangélica. O programa privilegia peças musicais de autores portugueses, abrangendo um arco temporal vasto que nos transporta do longínquo século X ao séc. XIX, e é variado nos meios de execução: canto gregoriano, música vocal polifónica e música concertante com coro, solistas e instrumentos. A paixão de Cristo domina a primeira parte do programa, que abre com a versão medieval, em canto gregoriano, de Christus factus est pro nobis obediens usque ad mortem. Esta expressão latina - Cristo fez-se obediente por nós até à morte – encerra, por assim dizer, todo o Mistério da Paixão e Morte de Cristo. Por isso, esse mesmo texto vai abrir a 2ª parte, mas na visão oitocentista do compositor Joaquim Casimiro (1802-62). Pelo meio, os textos percorrem diversos momentos e reflexões sobre a Paixão: a última Ceia, que nos relata os gestos fraternos do repartir do Pão e do lava-pés; o Monte das Oliveiras, lugar da provação e da experiência da traição; a súplica do Filho a Deus Pai “das profundezas clamei por Ti, Senhor”, 3 prelúdio da terrível interrogação “Meu Deus, porque Me abandonaste?” e a sua resposta na forma de pergunta “Povo Meu, que te fiz Eu, que mal te causei?”. A segunda parte do programa culmina com a sequência medieval Stabat Mater - uma meditação sobre o sofrimento de Maria contemplando a figura do próprio filho, Jesus, jazendo morto na cruz - na visão setecentista do compositor João Rodrigues Esteves (1690 - c.1755). Trata-se de uma obra-prima do barroco português, uma das primeiras obras influenciadas pelos modelos vindos de Itália, que privilegiam a teatralidade, o contraste e o estilo concertante, e necessita de um exigente conjunto de meios interpretativos: 4 vozes solistas, coro e baixo contínuo. Organizando-se em torno da Paixão de Cristo, é em plena Quaresma que este programa ganha sentido do ponto de vista litúrgico e musical. Trata-se, assim, de um “concerto espiritual” no verdadeiro sentido da expressão, em que o diálogo entre Música e Palavra, a ambiência do Tempo e do Lugar, a harmonia entre Acção e Contemplação se congregam para a fruição estética e o recolhimento do espírito. 2. Em torno de João Rodrigues Esteves, compositor português do tempo de D. João V • Igreja Matriz de Baião, 19 de Janeiro de 2008 • Capela das Pereiras, Ponte de Lima, 26 de Janeiro de 2008 • Igreja de S. Tiago e Igreja de S. Francisco, Estremoz, 17 de Maio de 2008 • Igreja de S. Pedro de Rates, Póvoa de Varzim, 25 de Maio de 2008, no âmbito do 3º Ciclo de Música Sacra • Igreja de S. Pelágio, Oliveira de Frades, 13 de Junho de 2008 Apresentação do Programa O século XVIII português é marcado de modo indelével pela figura do rei D. João V (17071750), dito Magnânimo, que inicia um processo de mudança profunda na sociedade e na cultura portuguesas logo após a subida ao trono em 1707. Como afirma o musicólogo Rui Nery, essa profunda mudança é “moldada directamente pela personalidade lúcida, enérgica, interveniente, autoritária, idiossincrática e, em última análise, contraditória do próprio monarca” (Rui Nery e Paulo F. Castro, História da Música, Lisboa, INCM, 1991, p. 84). Na sua acção musical destaca-se a contratação de um dos músicos mais famosos do seu tempo, Domenico Scartatti (1685-1757), Mestre da Capela Papal, que chegou a Portugal em 1719 para ensinar sua filha Maria Bárbara de Bragança. Em 1728 Scarlatti seguiu para 4 Espanha com a princesa, quando esta casou com o herdeiro do trono espanhol, príncipe das Astúrias e futuro Fernando VI. D. João V criou ainda o Seminário da Patriarcal, uma escola de música sacra dirigida por músicos estrangeiros do mais alto nível, e promoveu a ida dos seus melhores alunos para Itália, como bolseiros. De entre estes músicos, numa primeira fase, destacam-se as figuras de António Teixeira, Francisco de Almeida e João Rodrigues Esteves. É em torno da figura de João Rodrigues Esteves (c.1690-c.1755) que se organiza o programa deste concerto, que se estrutura em vários vectores: - Por um lado, apresenta obras-primas deste músico e coloca-as em contraponto com obras de compositores do seu tempo. - Por outro lado, o programa relaciona-se intensamente com a figura sacra de Santa Maria. 1ª parte culmina com o Magnificat, o cântico em que aceita ser Mãe do Salvador, e a 2ª parte encerra com o Stabat Mater, a sequência medieval que evoca o seu sofrimento contemplando a figura do próprio filho, Jesus, jazendo morto na cruz. Ambas as obras são para um exigente conjunto de meios: 4 vozes solistas, coro e baixo contínuo. - Finalmente, o programa evoca o contraste entre os modelos polifónicos da música portuguesa no século XVII - vindos do Renascimento e transformados pela estética maneirista que realça de modo intenso o significado do texto - e os modelos do século XVIII, vindos do barroco italiano e que privilegiam a teatralidade, o contraste e o estilo concertante. Traça-se, assim, um percurso que vai do seiscentismo de D. Pedro de Cristo ao setecentismo de Carlos Seixas, do maneirismo de Diogo Melgás ao barroco de A. Scarlatti, em alternância permanente com a música de João Rodrigues Esteves. Emerge, assim, Rodrigues Esteves como um notável nome da Música Portuguesa, que soube integrar o seu tempo e criar páginas sublimes de música. Pouco se sabe da vida de João Rodrigues Esteves (c.1690-c.1755). Esteve em Roma entre 1719 e 1726, onde teve a influência do barroco italiano eclesiástico, na tradição de G. Carissimi (1605-64) ou O. Pittoni (1657-1743). Mais tarde veio a ser Mestre de Música do Seminário da Patriarcal. Conservam-se cerca de 100 composições de sua autoria, todas manuscritas, em vários arquivos portugueses: missas, motetos, hinos, lamentações, etc. As datas indicadas nesses manuscritos vão desde 1719 até 1751. Devem salientar-se em particular a Missa a 8 vozes, o Magnificat e o Stabat Mater para 4 vozes solistas, coro a 4 vozes e Baixo Contínuo. Esteves privilegia a escrita para vozes mistas e baixo cifrado, onde a arte contrapontística dá lugar a uma maior importância do plano harmónico. O seu estilo insere-se dentro do “stille concertato”, em que pequenas frases, de motivos imitativos, alternam com elementos em bloco, de carácter harmónico. 5 Que este concerto possa contribuir para o conhecimento desta importante figura da nossa história da música, e simultaneamente desperte a curiosidade dos ouvintes para procurar e conhecer outros nomes e obras que marcam o século XVIII em Portugal. 3. Música no 5º aniversário do Metro do Porto • Estação do Marquês – 7/12/2007, 18.30h • Estação de S. Bento - 12/12/2007, 18.30h A Metro do Porto convidou o Anima Mea para participar nas comemorações do seu 5º Aniversário. Como coincidiu com as imediações natalícias, realizámos dois concertos com um programa adequado ao tempo: “Natal do Mundo em 12 canções”. Estas apresentações decorreram em duas estações onde nunca tínhamos antes actuado. Gravação de um Compact Disc no estúdio da Numérica Este foi o corolário do trabalho desenvolvido com o programa “Em torno de João Rodrigues Esteves, compositor português do tempo de D. João V”, Pretende ser isso mesmo, um registo do nosso trabalho, que nos dá a medida da nossa evolução técnico-vocal e, sem qualquer presunção, um contributo para a divulgação de um dos grandes compositores portugueses de um dos períodos mais ricos da música portuguesa e que se mantém inexplicavelmente na sombra. Far-se-á agora uma edição para os associados do Anima Mea e o mais que se verá. 6 Actividades extra-curriculares • Visita ao Centro de Interpretação Geológica de Canelas, Outubro 2007 Constou de uma visita ao Museu Geológico das Trilobites de Arouca e um percurso pedestre de visita aos sítios e monumentos geológicos da região. Este património geológico é cada vez mais reconhecido nos meios científicos nacionais e internacionais, o que justificou a criação do Geoparque de Arouca que agora se vai candidatar às Redes Europeia e Global de Geoparques da UNESCO. Muito interessante, educativo e higiénico. Com piquenique e doces conventuais. • Jantar de Reis em casa da Argentina As tradições inventam-se e esta pareceu-nos a todos (não sabemos se à Argentina) que é uma iniciativa com futuro. Este era o teor da notícia do ano anterior, não vemos motivos para quaisquer alterações, acrescentos… • Um dia na Rota do Românico do Vale do Sousa, 28 Junho 2008 Organizámos uma visita de um dia à Rota do Românico do Vale do Sousa. No Vale do Sousa, o românico está associado ao despoletar da nacionalidade, reflectindo a ocupação das terras progressivamente conquistadas. A diversidade dos testemunhos monumentais românicos aí existentes permite oferecer um leque muito completo dos tipos arquitectónicos então construídos, que passavam pelos: - conjuntos monásticos (Mosteiro de Pombeiro de Ribavizela, Igreja de S. Salvador de Unhão, Igreja de S. Vicente de Sousa, Igreja de Santa Maria de Airães, Igreja de S. Pedro de Ferreira, Igreja de S. Pedro de Cête, Igreja de S. Salvador de Paço de Sousa), - igrejas paroquiais e santuários isolados (Igreja Velha de S. Mamede de Vila Verde, Igreja de Santa Maria de Meinedo, Igreja do Salvador de Aveleda, Igreja de S. Gens de Boelhe, Igreja de S. Miguel de Gândara/Cabeça Santa, Igreja de S. Pedro de Abragão, Igreja de S. Miguel de Entre-os-Rios e Ermida de Nossa Senhora do Vale de Cête), - estruturas funerárias (Monumento funerário do Sobrado/Marmoiral, Memorial da Ermida), - torres senhoriais e/ou defensivas e arquitectura civil (Torre/Castelo de Aguiar de Sousa, Torre de Vilar, Ponte de Vilela e Ponte de Espindo). Foi a partir desta singularidade, criada pela memória histórica deste território, no período de afirmação da arte românica, que a RRVS foi estruturada, integrando 21 objectos patrimoniais 7 que, no conjunto, procuram testemunhar o papel que este território outrora desempenhou na história da nobreza portuguesa e das Ordens Religiosas. Este conjunto empresta à RRVS um carácter único que deve ser valorizado, no sentido de fazer desta Rota e do Vale do Sousa, um produto e um destino com especificidades, ancorado a um património com grande valor regional, nacional e ibérico. É a partir da história da Nobreza portuguesa e das Ordens Religiosas que se pode traçar a evolução das terras do Vale do Sousa e das suas gentes. Facto que atesta esta importância é a presença aqui, desde o século X, de duas das cinco famílias que constituíram a primeira nobreza portuguesa – Riba Douro (Paço de Sousa) e Sousas ou Sousões (Pombeiro). Aliás, Egas Moniz, o célebre aio do rei, fazia precisamente parte da família de Riba Douro. Estas duas famílias contribuíram com os seus filhos segundos (infanções) para o povoamento e reconquista do território português, para além do papel fundamental que detinham na eleição de abades e administradores dos bens da Igreja, colocando ainda alguns em mosteiros e conventos. As grandes famílias protegiam as comunidades religiosas, constituindo-se como seus patronos, pois numa época em que a cultura se encontrava nas mãos dos clérigos, eram estes os responsáveis pelo enaltecimento destas e dos seus feitos. Foi este cenário que levou à edificação de um significativo número de construções monásticas, que reflectem a importância e a riqueza agrícola deste território, pois foram frequentes os patrocínios da nobreza local aos institutos religiosos. A família dos Sousas deteve um papel importante nas obras do mosteiro de Pombeiro, no final do século XIII, enquanto a família de Riba Douro teve uma forte presença, na região do Vale do Douro, principalmente na região de Entre-os-Rios, onde fundaram ou se apropriaram de vários mosteiros, alguns dos quais se tornaram muito importantes como Paço de Sousa. Apresenta-se de seguida o programa da visita que foi cumprido na íntegra e não refere os momentos musicais para experimentar a acústica – para possíveis apresentações posteriores do Anima Mea - e entender a arquitectura recolhida e intimista dos edifícios e os momentos ruidosos de convívio alegre e distendido que o vinho verde da Quinta de Lourosa iluminou. Um dia no Românico do Vale do Sousa PROGRAMA 8 10:00 h – Mosteiro de S. Pedro de Cête, Paredes 11:30 h – Mosteiro de São Pedro de Ferreira 13:30 h – Almoço na Quinta de Lourosa, Lourosa 15:30 h – Torre de Vilar, Lousada 16:30 h – Igreja de S. Mamede de Vila Verde, Felgueiras 17:30 – Mosteiro Santa Maria de Pombeiro Fim da Visita Os monumentos que integram esta visita estão inseridos numa rota mais vasta, designada Rota do Românico do Vale do Sousa, composta por 21 elementos patrimoniais localizados nos seis municípios do Vale do Sousa. A Rota do Românico do Vale do Sousa pretende ser um dos mais emblemáticos produtos turísticos culturais de Portugal, assente no património edificado da época medieval, com expressão arquitectónica de estilo românico. Mosteiro de S. Pedro de Cête, Paredes A sua história é das mais complexas de monumentos românicos portugueses, começando por uma doação aos beneditinos por parte de dois mouros convertidos ao cristianismo, confirmada por documento de 882. Destruído esse primeiro mosteiro pelos árabes em finais do século X, foi reconstruído logo após, por iniciativa de um cruzado da Gasconha, havendo um documento de 1097 que precisa ter o abade sido escolhido no vizinho mosteiro de Paço de Sousa. Entre 1121 e 1128 o mosteiro conquista o poder de Jurisdição, tornando-se autónomo de Paço de Sousa, datando o essencial da crasta primitiva desta época. No século XIII o abade Estevão I transformou grande parte de igreja, que voltaria a ser objecto de uma extensa campanha de construção no século XV, de carácter já manuelino, que entre outras modificações, interveio no claustro e na sala capitular. Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa, Penafiel Um primeiro Mosteiro foi fundado neste local, onde antes existira uma villa romana, por D. Troicosendo Galendiz em 956; tratava-se de um mosteiro familiar, que foi depois transformado em mosteiro misto, cuja nova construção seria consagrada pelo Bispo D. Pedro de Braga em 1088, data patente no testamento de um benfeitor, Egas Hermenegildo. Em 1106 Egas Moniz, tutor de Afonso Henriques, lega-lhe metade da sua vasta fortuna, com indicação expressa de ali querer ficar sepultado, com sua mulher, ocorrendo a sua morte em 1146. Ora é neste período, antes de 1166, que o mosteiro passa para as mãos dos beneditinos cluniacenses, que irão promover a grande campanha de obras, culminando na igreja e conjunto monástico que hoje podemos ver (estando o segundo parcialmente destruído ou alterado), concluídos em meados do século XIII. No século XVII é demolida a Capela do Corporal, em 1605, construídos os claustro e a fonte e, em 1690, o cruzeiro. Em 1741 é remodelada a Capela-mor, que será reconstruída em 1784, segundo o modelo cenográfico barroco, com uma muito maior profundidade que a primitiva, românica. O restauro de meados deste século, na sequência do grande incêndio de 1927, reabilitou a igreja e consolidou as restantes dependências, incluindo o claustro de feição classicizante. Memorial da Ermida O Memorial da Ermida é um monumento de notável interesse. Corresponde a uma tipologia de que restam unicamente seis exemplares em todo o território nacional. A função deste 9 tipo de monumentos, embora não esteja ainda totalmente esclarecida, deverá relacionar-se tanto com a colocação de túmulos, como com a evocação da memória de alguém, como ainda com a passagem de cortejos fúnebres. As características estilísticas do Memorial sugerem uma cronologia em torno de meados do século XIII. Mosteiro de S. Pedro de Ferreira, Paços de Ferreira Fazendo parte de um importante mosteiro medieval, o templo deverá ter sido começado ainda no século XII, por iniciativa do sobrinho de D. Afonso Henriques, Soeiro Viegas ou, mais provavelmente, por iniciativa directa dos Templários, beneficiários da crasta e do padroado, conforme se depreende dos documentos coevos, particularmente do testamento de Gonçalo Gonçalves, de 1232, e das Inquirições de 1258. A construção do templo actual datará de 1180/1195, tendo sido Igreja Colegiada. Passou depois, cerca de 1281, para a posse dos Agostinhos que o mantiveram até 1475, altura em que os seus benefícios passam a reverter para o arcebispado do Porto, passando a ser administrado por uma colegiada secular, aí instalada pela iniciativa do Bispo D. João de Azevedo. Arruinadas as dependências monásticas, a igreja foi objecto de diversas intervenções nos séculos XVII e XVIII, sendo restaurada em 1937. Como nota final importa esclarecer que parece destituída de qualquer fundamento a atribuição da fundação do mosteiro aos Cavaleiros do Santo Sepulcro. ALMOÇO e PROVA DE VINHOS – QUINTA DE LOUROSA, Lourosa Torre de Vilar, Lousada Típica torre senhorial do período feudal, que fazia parte da Honra de Brolhões, com funções defensivas e simbólicas – como marca do poder senhorial no território – ostentando um aparelho e algumas características ainda românicas, embora a sua data de construção não deva ser anterior ao século XIII. Igreja de São Mamede de Vila Verde A referência documental mais antiga respeitante à Igreja de São Mamede de Vila Verde data de 1220. Integrava então o padroado do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro. É constituída por uma única nave e cabeceira rectangulares. Os vestígios da pintura mural, hoje muito residuais, mostram que a parede da cabeceira foi pintada à maneira de um retábulo, onde são identificadas as representações de S. Bento e supostamente de S. Bernardo. Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras A primeira referência a um cenóbio, fundado neste local, data do século IX, inserida num Breve Papal de Leão IV, datado de 853. Em 1059, terá sido fundado o Mosteiro beneditino, por D. Gomes Aciegas, sendo protegido por D. Gomes de Cela Nova, patriarca dos Sousas e sobrinho de Fernando I, primeiro Rei de Castela, de quem tinha recebido o padroado destas terras. Em 1112 é coutado por D. Teresa, não sendo clara a sua filiação a Cluny, que deverá datar já do século XII. No século XIII começa a sua integral transformação, que deixará poucos vestígios da crasta original, sofrendo com o desmembramento do seu património, ordenado por Filipe I em 1586, uma clara fase de declínio. Depois, será objecto de extensas obras durante os séculos XVII e XVIII, que alterarão totalmente o carácter do monumento, que conservará apenas a planta, os absidíola(s) e a frontaria como memórias da sua fundação medieval. 10