Fundação Getulio Vargas Escola de Pós Graduação em Economia – EPGE Mestrado em Finanças e Economia Empresarial FLEXIBILIDADE NA UTILIZAÇÃO DE DIESEL OU BIODIESEL, UMA ABORDAGEM UTILIZANDO A TEORIA DE OPÇÕES REAIS Leonardo Leandro Ferreira Rio de Janeiro 2007 FLEXIBILIDADE NA UTILIZAÇÃO DE DIESEL OU BIODIESEL, UMA ABORDAGEM UTILIZANDO A TEORIA DE OPÇÕES REAIS LEONARDO LEANDRO FERREIRA Dissertação apresentada ao Mestrado em Finanças e Economia Empresarial como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Finanças e Economia Empresarial Orientador: Professor Ricardo Simonsen Co-Orientador: Professor Edson Daniel Lopes Gonçalves Rio de Janeiro 2007 2 FLEXIBILIDADE NA UTILIZAÇÃO DE DIESEL OU BIODIESEL, UMA ABORDAGEM UTILIZANDO A TEORIA DE OPÇÕES REAIS Autor: Leonardo Leandro Ferreira Orientador: Ricardo Simonsen Co-Orientador: Edson Daniel Lopes Gonçalves Data da defesa: 30 de maio de 2007 Banca Examinadora composta por: ___________________________________________________________ Prof. Ricardo Simonsen (Orientador . EPGE-FGV) ___________________________________________________________ Prof. Edson Daniel Lopes Gonçalves (Co-Orientador FGV) ___________________________________________________________ Prof. Carlos Eugenio da Costa (EPGE-FGV) ___________________________________________________________ Prof. Fernando Holanda Barbosa Filho (IBRE-FGV) Rio de Janeiro 2007 3 Agradecimentos Agradeço ao professor Ricardo Simonsen pela orientação e ao Edson Daniel Lopes Gonçalves pela co-orientação. Agradeço aos professores da EPGE que durante o curso me transmitiram muito conhecimento. Ao professor Marco Antonio Guimarães Dias que me auxiliou e gentilmente me convidou a assistir seu curso sobre Opções Reais na PUC/Rio. A minha família pelo apoio e compreensão durante mais esta etapa a ser concluída. 4 Resumo Este trabalho abordará o desenvolvimento do Biodiesel como combustível de fontes renováveis na matriz energética brasileira. Em especial será abordada a flexibilidade de utilização entre o Diesel tradicional de origem petrolífera e o Biodiesel de origem vegetal. Será feita a avaliação do valor da flexibilidade de um equipamento com motor ciclo diesel quando da possibilidade de utilização de Diesel mineral ou Biodiesel. A valoração da flexibilidade operacional será feita utilizando a Teoria de Opções Reais. Por fim, será comentado o potencial de ganho no agregado para um país como o Brasil, com um modal de transportes predominantemente rodoviário movido a Diesel. Palavras-Chave: Opções Reais, Biocombustíveis, Biodiesel 5 Abstract This paper will point the development of Biodiesel as a renewable fuel on brazilian energy matrix. Specially pointing the flexibility of utilization either of Biodiesel or traditional petroleum originated Diesel. The valuation of the flexibility of a diesel cycle engine that could switch by Diesel or Biodiesel, will be done. The valuation of this operational flexibility will be done with Real Options Theory. By the end will be done comments of the aggregate value added to a country like Brazil, which have a transport sector mainly focused in diesel fueled vehicles. Key-words: Real Options, Biofuels, Biodiesel 6 Sumário 1. Introdução ....................................................................................... 9 2. Matriz energética brasileira ............................................................ 11 2.1) Características atuais .............................................................. 11 3. 2.2) O Biodiesel ............................................................................. 13 2.3) Diesel Mineral e Biodiesel ...................................................... 16 A Teoria de Opções Reais ............................................................. 20 3.1) Antecedentes Teóricos ........................................................... 20 3.2) Opções Reais: Definições e determinantes de valor ............. 22 3.3) Arcabouço Matemático: Processo estocástico e Movimento Browniano Geométrico ............................................... 4. 25 Avaliação da Flexibilidade de Substituição entre Diesel e Biodiesel por Opções Reais ................................................................ 28 4.1) O Problema ............................................................................. 28 4.2) Levantamento dos Dados........................................................ 31 4.3) Solução do Problema ............................................................. 37 4.4) Análise de Sensibilidade ......................................................... 41 5. Conclusão .................................................................................... 45 6. Referências Bibliográficas .......................................................... 47 7 Lista de figuras Figura I – Matriz Energética Brasileira ....................................................... 11 Figura II – Estrutura da Oferta Interna de Energia ..................................... 12 Figura III – O processo de Produção do Biodiesel .................................... 15 Figura IV – Árvore descritiva da Regra de Decisão .................................. 29 Figura V – Série de Preços deflacionada do Diesel .................................. 35 Figura VI – Série de Preços deflacionada da Soja ................................... 35 Figura VII – Sensibilidade: Volatilidades .................................................. 42 Figura VIII – Sensibilidade: Correlação ..................................................... 43 Figura IX – Sensibilidade: Taxa de Conveniência ..................................... 44 Lista de tabelas Tabela I – Comparação entre Diesel e Biodiesel ..................................... 17 Tabela II – Sensibilidade à Volatilidade .................................................... 41 8 1. INTRODUÇÃO A atividade econômica no mundo moderno é cada vez mais dependente do mercado de energia. Uma economia em crescimento e desenvolvimento envolve certamente um incremento de demanda por energia. Sendo assim, a matriz energética e a dinâmica de busca por novas fontes de energia são importantes para os agentes econômicos, sejam estes empresas, governo ou indivíduo. Energia é um conceito que está cada vez mais em evidência. A dinâmica de esgotamento progressivo de reservas de energia primária de fonte mineral como carvão e petróleo e o crescente aumento da temperatura global incentivam uma corrida por energias alternativas. Esta dinâmica busca, através do progresso tecnológico, viabilizar economicamente novas fontes energéticas. É neste contexto que, nos últimos anos vem crescendo o desenvolvimento do Biodiesel como fonte de energia renovável. No caso específico da matriz energética brasileira, o Biodiesel assume um papel promissor. Isto porque atualmente o peso do Diesel mineral na matriz energética é consideravelmente elevado se comparado com outros países. Sendo assim, o Biodiesel tem um mercado potencial elevado no Brasil e as inovações tecnológicas a ele associadas podem aumentar a eficiência nos setores consumidores de Diesel, sobretudo o setor de transportes. Após esta introdução, no segundo capítulo, será apresentada a matriz energética brasileira, sua composição e algumas características relevantes. Será abordada a tradição brasileira em combustíveis renováveis com o desenvolvimento, por exemplo, do álcool da cana-de-açúcar como fonte alternativa à gasolina. De forma que existe hoje, a perspectiva de uma participação do Biodiesel como fonte alternativa ao diesel mineral. O segundo capítulo contará ainda com uma análise conjunta do Diesel e do Biodiesel, suas principais características e os incentivos à produção em países onde o biodiesel já é produzido em maior escala. Por fim, serão abordados os aspectos de complementaridade e substituição das duas fontes de energia. A existência de dois combustíveis de características semelhantes abre a possibilidade de troca de combustível para o consumidor de diesel, assim como o 9 já ocorrido com os consumidores de gasolina com o advento dos veículos flexfuel. A flexibilidade na escolha do combustível gera um valor para o agente econômico demandante de diesel. O mesmo poderá escolher o combustível que lhe represente menor custo, impactando positivamente o fluxo de caixa de sua atividade e conseqüentemente seu Valor Presente Liquido (VPL). Sendo assim, no terceiro capítulo serão abordadas de forma sucinta as teorias de avaliação e sua evolução, chegando a Teoria de Opções Reais que permitem a valoração das flexibilidades operacionais. Uma das aplicações de Opções Reais são as opções de input ou Switch Input Real Options, que se enquadram no caso a ser avaliado neste trabalho. Utilizando a Teoria de Opções Reais, observa-se que a incerteza dos preços do diesel e do biodiesel fazem com que a flexibilidade gere um valor adicional ao equipamento que será avaliado. No quarto capítulo será feita uma avaliação do valor da opção gerada ao detentor de um equipamento ciclo diesel quando se inclui a opção de consumo do biodiesel. Após a avaliação a partir de parâmetros iniciais, a última seção do capítulo será destinada à análise de sensibilidade. Isto é, as alterações no resultado do problema quando são alterados alguns de seus parâmetros. Por fim, conclui-se no último capítulo a importância e o potencial de desenvolvimento do Biodiesel na matriz energética brasileira, não só como um mero combustível renovável, mas sobretudo como um dinamizador da economia, com redução de riscos e geração de valor. Ainda nas conclusões serão descritas algumas possibilidades de extensão para o trabalho desenvolvido. 10 2. MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA 2.1 Características Atuais Primeiramente, definimos matriz energética como a composição das fontes de energia primária, utilizadas em uma determinada região ou país. A economia brasileira está entre as maiores economias do mundo e na América Latina assume o papel de maior consumidor energético da região. Algumas variáveis interferem diretamente na composição da matriz energética, como a hidrologia, disponibilidade de recursos naturais, extensão de terras cultiváveis, clima etc. Abaixo mostramos a configuração atual (ano de 2006) da matriz energética brasileira: Figura I Matriz Energética Brasileira Urânio 1,2% Biomassa 29,7% Petróleo 38,4% Carvão Mineral Hidráulica 6,4% 15,0% Gás Natural 9,3% Fonte: Ministério de Minas e Energia Como podemos observar, o petróleo é a fonte de energia primária mais utilizada no Brasil. A participação é de 38,4% e uma das explicações para sua elevada participação é que, historicamente, apesar de ser um país de dimensões continentais, o Brasil se desenvolveu com um modal de transportes predominantemente rodoviário. Da produção nacional de derivados de petróleo, cerca de 40% se refere ao óleo diesel. Isto é, cerca de 15% da matriz energética brasileira se concentra no 11 óleo diesel como fonte de energia. E o setor de infra-estrutura de transportes responde, no Brasil, por mais de 80% do consumo de diesel. Outro fator de destaque na matriz energética brasileira é a proporção de fontes de energia renováveis. Aproximadamente 45% da matriz energética brasileira no ano de 2005 foi composta por combustíveis renováveis (Biomassa e Hidráulica). Como podemos ver no gráfico abaixo, a proporção de renováveis na matriz energética brasileira contrasta significativamente com a média mundial. O contraste é ainda maior se comparado com os países que compõem a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos - OCDE1. Figura II Fonte: Ministério de Minas e Energia As perspectivas para o desenvolvimento de tecnologias e fontes de energia renováveis são cada vez maiores em todo o mundo. As conversações entre os países que culminaram com o Protocolo de Kyoto evidenciam a preocupação cada vez maior sobre o meio ambiente. Existe hoje um consenso de que os governos devem incentivar o desenvolvimento de novas fontes de energias renováveis e novas tecnologias. Neste contexto, o Brasil além de já ter 1 São os seguintes 30 países membros da Organisation de Coopération et de Développement Économiques: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Eslovaca, República Tcheca, Suíça, Suécia e Turquia. 12 atualmente uma matriz energética com grande peso dos renováveis, ainda tem novas fronteiras para avançar nestas fontes de energia. Além do grande potencial hídrico brasileiro, destaca-se o potencial das fontes de energia oriundas da biomassa. O Brasil tem uma extensão de terras cultiváveis grande, o que possibilitou o desenvolvimento de tecnologias para aproveitamento de energia de biomassa como o álcool da cana-de-açúcar. A partir de dados do Balanço Energético Nacional de 2006, divulgado pelo Ministério de Minas e Energia, tem-se que o álcool produzido a partir da cana-deaçúcar responde por cerca de 10% da matriz energética nacional. Sendo assim, o álcool assume papel importante na matriz energética nacional, em substituição principalmente à gasolina derivada do petróleo em motores ciclo Otto. Da mesma forma, vislumbra-se que o desenvolvimento do Biodiesel pode ter papel importante na matriz energética nacional, como substituto do Diesel derivado de petróleo em motores ciclo Diesel. 2.2 O Biodiesel 2.2.1 A História do Biodiesel Em 1853, os cientistas E.Duffy e J. Patrick conduziram pela primeira vez o processo de transesterificação de óleos vegetais. Este evento ocorreu muitos anos antes do desenvolvimento, no ano de 1893, do primeiro motor a ciclo diesel. Foi na Alemanha, no dia 10 de agosto de 1893, que Rudolph Diesel desenvolveu o primeiro motor eficiente a ciclo diesel. Em 1898, o motor foi apresentado oficialmente na Feira Mundial de Paris e o combustível então utilizado era o óleo de amendoim, um tipo de biocombustível produzido através do processo de transesterificação. Antes da Segunda Guerra Mundial, o óleo vegetal transesterificado foi utilizado no abastecimento de veículos pesados na África do Sul. O processo chamou atenção de pesquisadores norte-americanos durante a década de 40. No Brasil, as Indústrias Matarazzo foram pioneiras na utilização de biocombustíveis 13 com a utilização do álcool da cana-de-açúcar no processo de “lavagem” do café. A reação entre o álcool e o óleo de café resultou na liberação de glicerina, redundando em éster etílico, produto que hoje é conhecido como biodiesel. Mundialmente, o Biodiesel tem assumido papel importante como uma promissora fonte de energia alternativa ao diesel mineral. O caráter renovável já mencionado confere ao produto uma perspectiva de crescimento e desenvolvimento tecnológico de longo prazo. Desta forma, vários países já produzem o biodiesel comercialmente, estimulando o seu desenvolvimento em escala industrial, dentre os quais podemos citar: Argentina, Alemanha, Estados Unidos, Malásia, França e Itália. A competitividade do biodiesel no mercado destes países muitas vezes é garantida através de incentivos fiscais aos produtores e da elevada carga tributária incidente sobre os combustíveis derivados de petróleo. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), a União Européia responde por grande parte da produção mundial de Biodiesel, o que é um dado relevante visto que a oferta de terras agricultáveis na Europa não é muito abundante. Na Europa, um país de grande destaque no biodiesel é a Alemanha, que segundo dados da European Biodiesel Board é responsável atualmente por cerca de 50% da produção mundial de Biodiesel. Isso mostra que com os incentivos adequados e a crescente elevação dos preços do petróleo a produção de biodiesel pode crescer rapidamente. Na Alemanha, além da adição de biodiesel ao diesel mineral, o Biodiesel B100 (biodiesel puro, sem mistura com o diesel mineral derivado do petróleo) já é comercializado em mais de 1500 postos de venda. Sendo assim, a história do biodiesel, que se inicia no momento da criação do motor a diesel, parece atingir em tempos atuais um momento especial. A evolução crescente da tecnologia de produção, associada a pressões ambientais e a escassez de petróleo, conferem ao biodiesel a característica de um vetor promissor no setor energético. 14 2.2.2 O processo de produção de Biodiesel Aqui será descrito brevemente o processo de produção do biodiesel para um melhor entendimento do leitor sobre a definição deste combustível. O biodiesel tecnicamente é definido como um éster alquílico de ácidos graxos. Ele é obtido através do processo de transesterificação entre qualquer triglicerídeo (óleos e gorduras animais ou vegetais) e álcool de cadeia curta (metanol ou etanol). Na presença de um catalisador, o processo de transesterificação é a separação entre a glicerina contida no óleo e sua posterior substituição pelo álcool na cadeia. Desta forma, o resultado é que se obtém um óleo mais fino e menos viscoso, capaz de ser utilizado como combustível. Uma característica interessante no processo de produção de biodiesel é que existe uma grande variedade de opções de matéria-prima. Oleaginosas como a soja, girassol, amendoim, algodão, dendê, coco, babaçu e mamona podem ser utilizadas para a produção do óleo vegetal utilizado no processo de transesterificação. Abaixo segue uma representação gráfica simplificada acerca do processo de produção do Biodiesel a partir de oleaginosas. Figura III 15 Após a transesterificação e um tratamento o Biodiesel está pronto para a comercialização. Seja misturado ao Diesel mineral em proporções como 2% (B2) e 5% (B5), ou mesmo o Biodiesel puro (B100). Um levantamento realizado pela ABIOVE mostra que cerca de 80% dos custos na produção de Biodiesel correspondem à matéria-prima (óleo vegetal). Outros 10% correspondem ao custo do álcool (Etanol ou Metanol) utilizado no processo de transesterificação. Os 10% restantes correspondem aos demais custos operacionais. Isto é importante, pois no decorrer do trabalho vincularemos a variação de preços de biodiesel à variação de preços da matéria-prima. Isto é, a fonte de incerteza com relação ao preço do Biodiesel será modelada a partir da incerteza com relação aos preços do óleo vegetal. 2.3 Diesel Mineral e Biodiesel Para o desenvolvimento do trabalho e a análise do valor da opção real de se escolher entre o consumo de Diesel mineral ou Biodiesel precisamos de uma série de dados sobre as principais características dos dois combustíveis. De forma comparativa serão avaliadas as características dos dois combustíveis para a obtenção dos dados relevantes para a avaliação. Primeiramente é importante observar que os dois combustíveis tem características muito parecidas no que diz respeito a aspectos físico-químicos como densidade e poder calorífico2. Abaixo temos uma tabela resumindo algumas das propriedades dos dois combustíveis para melhor comparação: 2 A densidade do diesel mineral obtido na rede de abastecimento automotiva é de 0,82Kg/L e a do biodiesel é de 0,89kg/L. O poder calorífico do diesel mineral varia em torno de 45MJ/Kg enquanto o do biodiesel varia em torno de 40MJ/Kg. 16 Tabela I Comparação entre Diesel e Biodiesel Diesel Mineral Biodiesel Composição Hidrocarbonetos C8 a C22 Ésteres C12 a C18 Fonte Não-Renovável Renovável Matéria Prima Petróleo Óleo Vegetal Viscosidade 3 a 6 cSt 3 a 12 cSt Destilação 160 a 360º C 240 a 330º C Aplicação Motor ciclo diesel Motor ciclo diesel Nº Cetano 40 a 50 50 a 70 Poder Calorífico 45 MJ/Kg 39,4 a 41,8 MJ/Kg Enxofre 0 a 0,2% 0 a 0,0024% Balanço CO2 Emissão Emissão e Seqüestro Fontes: Petrobrás e Tecpar3 Como podemos observar, a composição dos combustíveis difere ligeiramente, porém o tamanho das cadeias de carbono são semelhantes. Isto lhes confere características semelhantes quanto ao poder calorífico e quanto ao número de cetano. O poder calorífico nos dá a idéia da energia contida no combustível que é liberada no processo de combustão do motor. Já o número de cetano é uma característica especialmente importante para motores ciclo diesel, onde a combustão é acionada por compressão (ao contrário do motor ciclo Otto onde existe uma centelha para ignição). Sendo assim, quanto maior o índice de cetano do combustível maior sua resistência à detonação, o que explica o porquê da melhora da qualidade do diesel convencional quando se adiciona uma proporção de biodiesel. Como o biodiesel possui um número de cetano superior, a mistura eleva o número de cetano do diesel mineral. As diferenças entre os combustíveis só se acentuam de forma relevante quando incluímos na comparação elementos poluentes. Como podemos observar na tabela, a emissão de CO2 (principal gás associado ao efeito estufa) é sempre positiva na utilização do diesel mineral enquanto o biodiesel mantém um balanço equilibrado dada sua característica de renovabilidade. Quando analisamos o teor 17 de enxofre, que é um elemento altamente poluente e corrosivo, o biodiesel também apresenta grande vantagem em relação ao diesel mineral. Como vimos, as características do diesel e do biodiesel são bem semelhantes. Isto confere uma possibilidade real de substituição do diesel pelo biodiesel por parte de detentores de equipamentos que utilizem motor a ciclo diesel. O diesel pode ser utilizado como combustível para a geração de energia elétrica ou para o setor de transportes com caminhões, automóveis, tratores, trens, etc. Esta possibilidade real de substituição é descrita da seguinte forma pela European Biodiesel Board: “In the transport sector, it may be effectively used both when blended with fossil diesel fuel and in pure form. Tests undertaken by motor manufacturers in the European Union on blends with diesel oil up to 5-10%, or at 25-30% and 100% pure have resulted in guarantees for each type of use…” Da mesma forma, Silva et alli (2006)4 descreve experimentos semelhantes realizados no Brasil com um motor ciclo diesel de um trator. Sem alterações no motor foram realizados ensaios nas seguintes condições do motor: 100% com biodiesel, 100% com diesel e 50% de biodiesel e diesel. O que se observou neste artigo foi que o motor funciona normalmente com diesel ou biodiesel e que existe uma pequena perda de rendimento do motor quando este é alimentado com biodiesel. Em média, a potência do motor ensaiado com biodiesel puro foi 94% da potência do mesmo motor ensaiado com diesel mineral. A título de comparação a substituição de gasolina por álcool faz o rendimento dos motores flex-fuel a ciclo Otto caírem a 70% em média quando se utiliza o álcool como combustível. Recentemente alguns fabricantes de motores como a Scania, Massey Ferguson e Valtra autorizaram a utilização do B100 em seus motores. A garantia para a utilização do B100 é dada apenas para os padrões de biodiesel EN14214 (europeu) e ASTMD6751 (Americano) Este resultado é importante, pois no trabalho será considerada a hipótese de que não há custo de transformação de equipamentos para permitir a flexibilidade na escolha do combustível a ser utilizado. Da mesma forma, será 3 Instituto de Tecnologia do Paraná Artigo de professores da USP, Unesp e Universidade Federal de Lavras (UFLA) apresentado em um congresso no ano de 2006. 4 18 assumida uma perda de rendimento de 94% quando da utilização de um ou outro combustível. Sendo assim, conclui-se neste capítulo a questão da escolha que o agente econômico pode fazer orientando a avaliação que se seguirá, que é a de avaliar o quanto vale para um agente consumidor de diesel ter a opção de escolher entre diesel e biodiesel, caso o biodiesel seja comercializado em grande escala. 19 3. A TEORIA DE OPÇÕES REAIS 3.1 Antecedentes teóricos Até hoje as técnicas clássicas de avaliação de investimentos como as de Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR) são amplamente utilizadas em diversos setores. O problema com estas técnicas é que elas submetem a avaliação a hipóteses rígidas no que se refere ao tratamento da incerteza. Como em diversos modelos em finanças e economia, uma vez relaxada uma hipótese o modelo se torna mais complexo e de mais difícil modelagem. Talvez seja esta a explicação do porquê destas técnicas permanecerem com uso de massa em casos de avaliação de investimentos. As hipóteses rígidas das técnicas de VPL e TIR a qual nos referimos são relativas à incerteza e às flexibilidades presentes em um projeto no mundo real. Os métodos de VPL dão um dado valor para o projeto considerando o desconto do fluxo de caixa, sendo o valor do fluxo de caixa um número fixo. A incerteza pode ser incorporada ao VPL de duas formas: (i) Na taxa de juros: por meio de um modelo como o CAPM (Capital Asset Pricing Model) incorpora-se um prêmio de risco à taxa de juros livre de risco. Desta forma, uma taxa de juros ajustada ao risco do projeto é utilizada para descontar o fluxo de caixa, mas note que o valor a ser descontado em cada período t não muda. (ii) No fluxo de caixa: o ajuste ao risco se dá diretamente no fluxo de caixa, sendo derivado um fluxo de caixa equivalente de certeza. Com o fluxo de caixa ajustado ao risco a taxa de desconto a ser utilizada para o calculo do VPL passa a ser a taxa livre de risco. Mas note mais uma vez que em cada período t teremos um único valor equivalente certeza para o fluxo de caixa. Nestes modelos, parte-se da hipótese de que o agente não tem flexibilidade para tomar decisões posteriores no projeto que venham a impactar o 20 fluxo de caixa. Pelo VPL, o fluxo de caixa já está dado em cada período de tempo. Outra hipótese dos modelos de VPL é a de irreversibilidade5 do investimento, isto é, uma vez realizado o investimento o agente nada poderia fazer a partir de então. Todas estas hipóteses das técnicas clássicas de VPL trazem rigidez ao modelo de avaliação por Fluxo de Caixa Descontado, e intuitivamente observamos que no mundo real estas hipóteses não se aplicam. É necessário observar que em um ambiente com incerteza o agente econômico tem flexibilidades, e uma vez realizado um investimento, o agente pode tomar distintas decisões à medida que obtém mais informações, impactando diretamente seu fluxo de caixa. Isto é, havendo incerteza existem possibilidades de reação por parte do agente à medida que estados da natureza vão ocorrendo e informações novas são reveladas. É neste contexto que surgiu há quase trinta anos uma técnica alternativa para a avaliação de investimentos sob incerteza que incorpora estas flexibilidades na valoração do ativo. Incorporando estas flexibilidades o agente passa a ter opções de tomar determinadas decisões que impactam diretamente o fluxo de caixa do ativo. A técnica alternativa para a avaliação foi então denominada de Opções Reais. Destaca-se sua primeira aplicação por Tourinho (1979) em seu artigo seminal onde aplicou técnicas de apreçamento de opções6 em um problema real de avaliação. A partir de então tem se evoluído muito o estudo e o desenvolvimento da Teoria de Opções Reais. Um outro trabalho de expressão e precursor da teoria de opções reais foi realizado por Brennan & Schwartz (1985), que aplicam a modelagem de Opções Reais a ativos de recursos naturais. A partir de então uma série de trabalhos foram realizados e as aplicações de Opções Reais se expandiram muito. Como exemplos de opções reais podemos citar a opção de abandonar um investimento, de expandir um investimento, a opção de esperar para realizar um investimento, a opção de investir em P&D, a opção de escolher entre dois insumos substitutos etc. 5 Relacionando o valor da firma à modelagem de irreversibilidade do investimento destacamos o trabalho pioneiro de Pindyck (1988). 6 As técnicas de apreçamento de opções foram disseminadas alguns anos antes com os trabalhos pioneiros de Black & Scholes (1973) e Merton (1973) e também por Cox & Ross (1976). 21 Dentre as diversas aplicações e classificações de opções reais, a que nos interessa especificamente neste trabalho é a opção real de input (Switch input Real Options). Análises sobre este tipo de opção real apareceram cedo na literatura, com destaque para Kulatilaka (1986, 1988), Triantis & Hodder (1990), Fine & Freund (1990) e He & Pindyck (1992). A idéia é que a flexibilidade de escolha entre diferentes tecnologias ou insumos gera valor ao ativo real em questão (seja uma fábrica, uma máquina ou um veículo). Trigeorgis & Kuatilaka (1994) mostram que, na ausência de um custo de troca, o valor de um projeto flexível em insumos pode ser visto como o valor de um projeto rígido mais a soma do valor das opções de escolha em períodos futuros. 3.2 Opções Reais: Definições e determinantes de valor Pode-se partir agora para as definições do que são Opções Reais. Basicamente, podemos entender opção como sendo um direito, e não uma obrigação, com relação a uma determinada decisão a ser tomada no futuro. No caso das opções financeiras, elas são um contrato derivativo7 que dá ao detentor o direito de comprar ou vender o ativo objeto a um determinado preço (chamado de preço de exercício) em (ou até) uma determinada data de vencimento. Cabe aqui notar as definições de Opções Européias e Opções Americanas que serão úteis na configuração do problema a ser analisado neste trabalho. No caso de opções européias, o direito se dá exclusivamente na data de vencimento da opção. No caso de opções americanas o direito de exercício pode ser executado em qualquer período até a data de vencimento da opção. No caso de Opções Reais, ela incorpora o direito de um agente empreender determinadas ações relativas a ativos reais. A título de exemplo, estas ações podem ser relativas a opções de expansão de uma planta industrial, abandono de um projeto, escolha entre dois ou mais tipos de combustíveis etc. 7 Hull (2003) define derivativo como um instrumento financeiro cujo valor depende do valor de outras variáveis (ou ativos) objetos. 22 Assim como as opções financeiras, as opções reais têm algumas variáveis que determinam o seu valor. Entre estas variáveis estão: (i) Valor dos ativos reais sujeitos a incerteza. Por exemplo, no caso de uma opção de expansão de uma planta industrial é notório que o valor da opção de expansão varia de acordo com o valor da planta. Uma opção real de expansão de 50% de uma planta no valor de R$ 1 milhão não deve valer mais do que uma opção de expansão de 50% de uma planta no valor de R$ 100 milhões (se as demais variáveis que impactam o valor da opção forem iguais nos dois casos). (ii) Preço de exercício. Por exemplo, no caso de uma opção de abandono de um projeto. Assuma dois projetos idênticos sendo que em um temos uma opção real de abandoná-lo daqui a um ano e recuperar R$ 50 milhões e no outro só se recuperam R$ 40 milhões. O preço de exercício de R$ 50 milhões faz com que esta opção real (no caso, uma opção de venda) tenha valor superior a outra. (iii) Prazo de vencimento da opção. Voltemos ao caso da opção de expansão acima. É intuitivo que se o agente só tem a opção de decidir expandir a planta em um determinado ano este direito vale menos do que caso ele tivesse este direito por um prazo mais longo. (iv) Volatilidade do ativo subjacente. O valor de uma opção aumenta à medida que se aumenta a volatilidade do ativo subjacente. Para ilustrar esta dinâmica podemos recorrer novamente à opção real de abandono de um projeto. Se um projeto tem risco muito reduzido (volatilidade baixa) sabemos que a probabilidade de ocorrência de um estado da natureza em que o projeto dê resultados muito negativos é baixa. Logo, o valor da opção de abandono também será baixo. Já em um projeto extremamente arriscado (volatilidade alta) a opção de abandonar o projeto e limitar as perdas terá valor maior. 23 (v) Taxas de juros e dividendos8. Aqui nos referimos tanto às taxas de juros livres de risco como também aos dividendos do ativo subjacente. Notadamente a opção é um ativo que lida com um fluxo de caixa até a data de seu vencimento, de modo que a manipulação (trazer a valor presente ou levar a valor futuro) do valor de preço de exercício e preço do ativo objeto em um dado período de tempo necessita destes parâmetros. Como estas taxas influenciam diretamente o valor do ativo subjacente e o “valor no tempo” do preço de exercício, elas também vão impactar o valor da opção real. O que determina a classificação de uma opção real são as características da flexibilidade que ela incorpora na análise. Por exemplo, no caso da opção de abandono de um projeto por um determinado valor, esta é classificada como uma opção americana de venda. Isto porque a qualquer momento se o projeto não estiver apresentando bons resultados o agente pode “vender” o projeto ao valor que recupera ao abandonar. Analogamente, no caso da opção de expansão de 50% de uma planta industrial, temos uma opção de compra americana. Isto porque a qualquer momento o agente pode “comprar” uma “planta adicional” que aumenta a capacidade em 50% por um determinado valor, que é o preço de exercício da referida opção de compra. No caso da flexibilidade de escolha entre dois combustíveis para um motor durante um longo período de tempo, podemos interpretar esta opção como sendo, na verdade, uma seqüência de opções européias. Isto porque a cada momento em que o preço muda e há evento de abastecimento o agente exerce a opção de escolha do combustível mais barato. A quantidade de opções européias a ser analisada neste caso depende basicamente do período a ser analisado e de qual o intervalo de tempo entre o qual os preços são alterados. Existem diversas metodologias para a solução do problema de valoração de opções reais. Sobretudo, o mais importante é a definição do problema e a caracterização da regra de decisão. Tendo estas informações é possível classificar as opções reais e mapear os parâmetros necessários para a solução do problema. Dentre as principais metodologias para a valoração de opções reais 8 No caso de opções reais os dividendos são descritos como taxa de conveniência ou convenience yield. 24 podemos destacar a avaliação por árvores de decisão9 (modelos de árvores binomiais, trinomiais, quadrinomiais etc), metodologias numéricas e por simulação, como a Simulação de Monte Carlo. 3.3 Arcabouço Matemático: Processo Estocástico e Movimento Browniano Geométrico O método utilizado no trabalho para a valoração da opção real de substituição entre diesel e biodiesel será uma avaliação por fluxos de caixa dinâmicos. Estes fluxos de caixa dinâmicos são gerados a partir de Simulações de Monte Carlo. Sendo assim, nesta seção será caracterizado o arcabouço matemático referente ao entendimento de processos estocásticos e o Movimento Browniano Geométrico. A incerteza é um fator determinante para a existência de flexibilidades e conseqüentemente de opções reais. Esta incerteza pode ser modelada em processos estocásticos. Segundo Dixit & Pindyck (1994) um processo estocástico é definido como uma lei de probabilidade para a evolução de xt (uma variável x no período t). Os processos estocásticos podem ser contínuos ou discretos e podem ser estacionários ou não-estacionários. Um processo estocástico é contínuo quando o período t em questão é uma variável contínua. Já a caracterização de um processo estocástico estacionário envolve a noção de que as propriedades estatísticas (características da distribuição de probabilidades) da variável são constantes ao longo do tempo, ao contrário do processo não-estacionário. O Movimento Browniano10 é um processo estocástico com as seguintes características: (i) a distribuição de probabilidade para os valores futuros do processo dependem apenas do valor corrente da variável11 ; (ii) incrementos independentes, isto é, a distribuição de probabilidades para a variação do processo ao longo do tempo é independente de qualquer outro intervalo de 9 Metodologia de solução em tempo discreto. Também conhecido como Processo de Wiener 10 25 tempo; (iii) variações do processo em qualquer intervalo de tempo seguem uma distribuição normal, com variância linearmente crescente em relação ao intervalo de tempo. Um processo estocástico que se enquadra nas características acima é o Movimento Browniano Geométrico (MBG). O MBG de uma variável x pode ser descrito segundo a seguinte equação diferencial: dx = µ ⋅ x ⋅ dt + σ ⋅ x ⋅ dz (equação 3.1) Onde, dx = variação no preço da variável aleatória x µ = parâmetro de drift (uma constante) x = valor da variável aleatória dt = variação no tempo σ = variância dz = incremento do Processo de Wiener12 Pelas características do processo de Wiener observa-se que variações percentuais da variável x seguem uma distribuição normal. Como as variações percentuais podem ser compreendidas como mudanças no logarítimo natural de x, tem-se que variações absolutas da variável x seguem uma distribuição lognormal. Esta característica é importante pois, as fontes de incerteza da avaliação que se segue são os preços do diesel e do biodiesel. Preços só podem assumir valores não negativos, o que é uma característica da distribuição log-normal. A caracterização destas distribuições servirão para a modelagem e a geração de valores por simulação de forma a construir os fluxos de caixa para a análise de opções reais. 11 Definição de um processo de Markov. O processo de Wiener ou Movimento Browniano é referente a uma variável aleatória z que respeita as três características definidas na seção. 12 26 Uma metodologia de simulação muito difundida é a Simulação de Monte Carlo, onde são gerados números aleatórios de uma determinada distribuição de probabilidade que são utilizados como parâmetros para se extrair valores de uma distribuição acumulada para uma dada variável aleatória x. Utilizando o teste da raiz unitária de Dickey-Fuller Pindyck & Rubinfeld (1991) não rejeitam a hipótese de MBG para preços nominais de petróleo para uma série de dados de 34 anos. Outras tentativas usando preços reais ou séries mais curtas também não conseguem rejeitar a hipótese do MBG. Dixit & Pindyck (1994) realizaram testes em que foi usada uma série de preços de petróleo de 117 anos e o MBG foi rejeitado em favor do Movimento de Reversão à Média (MRM). Entretanto, Maddala & Kim (1998) questionam se o uso de séries temporais muito longas seria adequado uma vez que pode ter havido mudança estrutural no mercado. realizaram o e Dixit & Pindyck (1994). Desta forma, ao longo do trabalho os preços do diesel e do biodiesel serão modelados a partir de processos estocásticos como o MBG e será utilizada a metodologia de Simulação de Monte Carlo para gerar séries de preços futuras das duas variáveis de incerteza. Isto possibilitará o cálculo da opção real de substituição entre diesel e biodiesel. 27 4. AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO ENTRE DIESEL E BIODIESEL POR OPÇÕES REAIS Neste capítulo será introduzida a aplicação prática da Teoria de Opções Reais na avaliação da flexibilidade de utilização de diesel mineral ou biodiesel como input de um equipamento que utilize motor a ciclo diesel. A idéia é quantificar o valor da flexibilidade na escolha do combustível em cada período de abastecimento. 4.1 O problema Primeiramente precisamos caracterizar o problema de forma a sermos capazes de classificar o tipo de opção real a qual se refere o caso. Para tal, precisamos mapear as fontes de incerteza, a flexibilidade existente, todas as variáveis pertinentes à valoração da opção real e a regra de decisão. Neste caso, as fontes de incerteza são o preço do diesel mineral e o preço do biodiesel. O preço do diesel mineral normalmente flutua de acordo com as flutuações de preço de sua matéria-prima, que é o petróleo. Como derivado de petróleo de grande consumo, o diesel mineral é comercializado em todo o mundo e existem dados de mercado disponíveis. Como mencionado no capítulo anterior, é a volatilidade que nos dá a mensuração do risco, ou seja, da incerteza. A outra fonte de incerteza do problema é o preço do biodiesel. O biodiesel, como mencionado anteriormente, é um combustível que só tem se tornado economicamente viável nos últimos anos por conta da forte alta dos preços do barril de petróleo e motivações ambientais. Em alguns países, como a Alemanha, o biodiesel já é comercializado em postos de abastecimento, entretanto não existe ainda um histórico de preços como no caso do diesel a partir do qual se possa mapear a volatilidade. Para resolver este problema usaremos o histórico de preços da soja13 como uma proxy14 para efeito de cálculo de volatilidades e correlação. 13 A escolha da soja no problema se deu basicamente por dois motivos. O primeiro é que a soja é uma commodity negociada com bastante liquidez no mercado internacional, o que nos permite de forma mais fácil 28 Uma vez mapeadas as fontes de incerteza, observamos que a flexibilidade do agente detentor de um equipamento com motor ciclo diesel é a de escolha entre os dois combustíveis. Apresentamos inicialmente o resultado obtido em um teste realizado por Silva et alli (2006) que mostra existir uma pequena diferença de rendimento do motor se alimentado a diesel mineral ou a biodiesel puro (B100). Logo, partiremos do pressuposto de que, em termos de rendimento, o agente considera sob o diferencial de preços dos combustíveis um fator que representa a perda de 94% quando abastecido com B100 em relação à utilização do diesel mineral. Sendo assim, podemos caracterizar a regra de decisão com a qual o agente se depara. A cada vez em que o agente abastece o tanque de combustível do equipamento ele deve observar o preço dos dois combustíveis e escolher abastecer com aquele que tiver o menor preço. Abaixo segue um esquema de árvore de decisão para cada período em que o agente tem de abastecer o tanque. Figura IV Logo, em cada período o agente se depara com a seguinte regra de decisão para a escolha do combustível: o acesso a dados como histórico de preços. Segundo, porque a soja ocupa papel de destaque na agricultura brasileira sendo, pelo menos no curto prazo, uma das principais fontes de óleo vegetal para produção do biodiesel. 14 Aqui ressaltamos estudo da ABIOVE que demonstrou que 80% dos custos para obtenção do biodiesel se referem ao custo de matéria-prima. 29 Min(0,94· PreçoDieselt ; PreçoBiodieselt) Pela regra de decisão definida acima temos que o agente se depara com uma seqüência de regras de decisão para cada mês em que o preço muda. Logo, o valor gasto para o abastecimento do tanque com flexibilidade de escolha será de: T G = ∑ Min(0,94·Pd t ; Pbt ) ⋅ n ⋅ q (equação 4.1) t =1 Onde, G = Gasto com abastecimento Pdt = Preço do diesel por litro no período t Pbt = Preço do biodiesel por litro no período t n = número de vezes em que o tanque é abastecido por mês q = capacidade do tanque em litros T = tempo de utilização do equipamento com motor ciclo diesel Para o exercício que segue, o tempo de vida do equipamento será estipulado em 15 anos15. As simulações realizadas neste trabalho vão ser discretizadas em períodos mensais, isto é, dentro de um determinado mês não haverá variação dos preços. De modo que a decisão que o agente tomar para o primeiro abastecimento no mês vai ser a mesma para o último abastecimento, até que o preço se altere novamente e uma nova avaliação seja feita. No caso analisado o motor é abastecido 5 vezes por mês e a capacidade do tanque de combustível é de 350 litros16. 15 Dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres mostram que a idade média dos veículos de cargas no Brasil é de 16,3 anos. 16 Capacidade padrão do tanque de combustível de um caminhão Scania. Dados retirados do site: www.scania.com.br 30 Sendo assim, temos que o referido problema é um caso clássico de opções reais de input. A flexibilidade de escolha do combustível a cada mês em que os preços dos combustíveis variam pode ser interpretada como uma seqüência de opções européias. No caso em questão, temos um total de 180 meses, resultando um total de 180 opções de troca entre combustíveis. O valor da opção real de troca entre os combustíveis é dado pela diferença entre o valor do fluxo de caixa rígido (utilizando apenas óleo diesel) e o valor do fluxo de caixa flexível (possibilidade de escolha entre diesel e biodiesel). 4.2 Levantamento dos dados Na abordagem da Teoria de Opções Reais do capítulo 3 foram definidas as variáveis relevantes que determinam o valor de uma opção. Para a solução do problema descrito necessitamos do levantamento de todos os dados pertinentes. Esta seção será destinada ao levantamento e explanações relacionadas aos levantamentos das informações utilizadas no problema. 4.2.1 Preços iniciais do diesel mineral e do biodiesel Conforme descrito, o valor dos ativos sujeitos à incerteza interferem no valor de uma opção real. Na aplicação deste trabalho a incerteza se dá sob o preço dos combustíveis utilizados no motor ciclo diesel, respectivamente diesel ou biodiesel. O preço inicial do diesel a ser utilizado no problema será o preço de R$ 1,87 por litro. Para a hipótese deste preço inicial foi utilizado o preço ao produtor do diesel segundo levantamento feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para a primeira semana de março de 2007, que apresentou valor de R$ 1,36315, ao qual foi adicionado uma margem hipotética de 10% para as distribuidoras de forma que 1,36315 × 1,10 = 1,50 . A carga de tributos sobre o diesel (CIDE e ICMS)17 17 CIDE: Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico ICMS: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços 31 varia em torno de 25%. Sendo assim, temos o preço na bomba utilizado no trabalho será de R$ 1,87 por litro. O preço inicial do biodiesel a ser utilizado no problema será o preço de R$ 2,41 por litro. Para a hipótese deste preço inicial foi utilizado o preço médio observado no 4º leilão de biodiesel realizado pela ANP que saiu ao preço médio de R$ 1.746,66 por metro cúbico. Isto nos confere um preço de aproximadamente R$ 1,75 por litro18 que se adicionada à mesma margem de distribuição de 10% mais 25% de tributos, obtém-se um preço de venda de R$ 2,41 por litro. 4.2.2 Prazo de vencimento das opções, taxas de juros e taxa de conveniência O prazo de vencimento da opção real é o prazo de 15 anos estipulado anteriormente, com base na idade média da frota de veículos de carga movidos a ciclo diesel no Brasil. A taxa de juros livre de risco utilizada no trabalho deve ser uma taxa de juros real com maturidade semelhante à do prazo estipulado para o vencimento da opção real. No caso será utilizada uma taxa de juros real para o prazo de 15 anos e uma alternativa para obtenção desta taxa é a utilização dos cupons a mercado de títulos públicos indexados à inflação como as NTN-B (indexados ao IPCA). Como referência utilizamos a taxa de juros real obtida na cotação a mercado da NTN-B com prazo vencimento em 15/03/2023 (maturidade de 16 anos como proxy da maturidade de 15 anos da opção real). Em 16/03/2007 esta taxa de juros real seria de 7,45% a.a.19. Como a variação dos preços no problema é mensal foi feita a conversão desta taxa de juros anual para uma taxa de juros mensal através do seguinte cálculo: (1 + 0,0745) 18 1 12 − 1 . O que nos dá uma taxa de juros real de 0,60% a.m. 3 Conversão de metros cúbicos para litro: 1 m = 1000 litros. Informações obtidas referente às taxas médias negociadas no mercado do dia 16/03/2007 e publicadas pela ANDIMA no site www.andima.com.br. 19 32 A taxa de conveniência (convenience yield) para opções reais é análoga à taxa de dividendos observada na valoração de opções financeiras. Combustíveis são bens estocáveis e a taxa de conveniência pode ser interpretada como o conjunto de benefícios (descontados os custos de estocagem) que as unidades estocadas geram. No caso de combustíveis, estes benefícios podem compreender a suavização da produção, prevenção de falta do produto, facilidade de planejar produção e vendas etc A estimação da taxa de conveniência pode ser feita através dos indicativos existentes em mercados futuros. Partindo da hipótese de ausência de arbitragem, temos que: Ft = P × e ( r −δ ) t (equação 4.2) Onde, Ft = Preço futuro P = Preço a vista r = taxa de juros livre de risco δ = taxa de conveniência t = prazo de maturidade do contrato futuro Logo, na existência de mercados futuros podemos extrair dos mercados os valores das taxas de conveniência. Neste trabalho as fontes de incerteza serão preço do diesel e do biodiesel. Ao contrário do mercado de petróleo, o mercado de diesel não possui mercado futuro desenvolvido o que nos impossibilita o cálculo exato da taxa de conveniência para o combustível. O biodiesel também não possui mercado futuro e utilizar a taxa de conveniência do mercado de soja, por exemplo, não é recomendável metodologicamente. Isto porque pela própria definição de taxa de conveniência não é razoável supor que os custos e benefícios de estocagem do biodiesel e da soja (que é um produto destinado prioritariamente como alimento) 33 sejam semelhantes, dado que o biodiesel é um combustível, tem características físicas distintas e atende outro mercado. Ao mesmo tempo, é intuitivo que o biodiesel tenha uma taxa de conveniência semelhante a do diesel por atender ao mesmo mercado e por ter custos de armazenamento semelhantes. Sendo assim, inicialmente será considerada taxa de conveniência nula (benefícios de estocagem se igualam aos custos de estocagem) para o diesel e biodiesel. Entretanto, na seção de análise de sensibilidade vamos rodar simulações com diferentes taxas de conveniência para avaliar seu impacto sob o valor da opção real de escolha entre abastecer com diesel ou biodiesel. 4.2.3 Volatilidades e Correlação Para a avaliação do valor das opções reais de troca é necessária a modelagem dos processos estocásticos referentes aos preços do diesel mineral e do biodiesel. Como parâmetro para rodar as simulações é importante ter uma estimativa das volatilidades mensais do diesel e do biodiesel. Para o cálculo das volatilidades e correlação do diesel e do biodiesel é necessário um levantamento de série histórica de preços mensais. Para deflacionar a série de preços foi utilizada uma série histórica do fator acumulado de inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)20 até o mês de fevereiro de 2007. Os dados das séries de preço, índices acumulados de inflação e demais cálculos estão dispostos em duas tabelas em anexos ao final do trabalho. Para o preço do diesel mineral obtemos as séries históricas do preço do diesel no mercado interno divulgados pela ANP. Abaixo segue a representação gráfica da série de preços obtida: 20 A utliização do IPCA como índice para deflacionar a série de preços se deve ao fato de ser o índice oficial utilizado pelo Banco Central do Brasil como referência para a evolução dos preços no Brasil. 34 Figura V 4 t/0 4 ja n/ 0 m 5 ai /0 5 se t/0 5 ja n/ 0 m 6 ai /0 6 se t/0 6 ja n/ 07 se m ai /0 04 3 n/ t/0 ja 3 /0 ai m se 2 n/ t/0 ja /0 2 se ai n/ m ja 03 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 1 0,9 0,8 0,7 0,6 02 Preços Série de preços deflacionada do Diesel Meses Fonte: Agência Nacional do Petróleo No caso do biodiesel, como mencionado anteriormente, não existe um histórico de preços do combustível. Desta forma, será utilizada como proxy da volatilidade do biodiesel a volatilidade da soja dada sua representatividade no mercado de oleaginosas e dadas as características de liquidez no mercado internacional. Da mesma forma a correlação estimada entre diesel e biodiesel será derivada na verdade da correlação dos preços do diesel mineral e da soja. Abaixo segue a representação gráfica da série de preços da soja obtida: Figura VI Série de preços deflacionada da Soja 3.500,60 3.000,60 2.000,60 1.500,60 1.000,60 500,60 5 t/0 5 ja n/ 0 m 6 ai /0 6 se t/0 6 ja n/ 07 se ai /0 05 m 4 n/ ja t/0 4 se ai /0 m 04 ja n/ 3 t/0 se 3 ai /0 m 03 ja n/ 2 t/0 se 2 ai /0 m n/ 02 0,60 ja Preços 2.500,60 Meses Fonte: FGVdados 35 Note que para a modelagem do processo estocástico dos preços do diesel e do biodiesel precisamos deflacionar as séries de preços. Isto porque desejamos mensurar as variações dos preços de cada um dos combustíveis a preços de hoje. Portanto, tanto para cálculo da média do crescimento dos preços como para a volatilidade e correlações as séries de preços utilizadas devem estar deflacionadas. As taxas de variação dos preços mensais do diesel foram calculadas a partir da aproximação dada pela fórmula abaixo, onde o retorno em um dado período t é dado por: P v = ln t P t −1 (equação 4.3) Para o preço do diesel mineral, através de uma média aritimética simples, foi encontrada uma taxa de variação média mensal de 1,14%. Para o biodiesel, utilizando a série de preços internacionais da soja e convertendo para reais através da taxa de câmbio referente ao fechamento do mês encontramos uma taxa de variação média mensal de 0,16%. Para o calculo da volatilidade, tanto da série de preços do diesel mineral como da série de preços do biodiesel21 usamos a seguinte fórmula de um estimador não-viesado para o desvio padrão de uma amostra: ∑ (u n σ= i =1 i −u ) 2 n −1 (equação 4.4) Sendo assim, encontramos para o preço do diesel mineral uma volatilidade de 3,60% e para o biodiesel uma volatilidade de 7,99%. Graficamente observamos que não existe correlação entre o preço do diesel e da soja, e de fato o cálculo da correlação dos retornos resultou em –0,04. É importante verificar que por se tratar de um mercado incipiente, estas volatilidades podem sofrer variações significantes uma vez que o mercado de 21 Utilizando série de preços da soja como proxy. 36 biodiesel esteja desenvolvido com um grande número de produtores e consumidores. O que se verifica na maioria dos casos é que esta volatilidade tende a cair quando o mercado se desenvolve. Por conta disso, numa seção posterior do trabalho é realizada uma análise de sensibilidade quanto ao valor da opção real em diferentes cenários de volatilidade. 4.3 Solução do problema Consolidando temos os seguintes inputs para o modelo de simulação que gerará os fluxos de caixa dinâmicos: - Vida útil do equipamento movido a diesel = 180 meses - Capacidade do tanque 350 litros - 5 eventos de abastecimento por mês - Taxa de Juros livre de risco: 0,60% a.m. - Preço inicial do Diesel mineral (Pd0) = R$ 1,87 /litro - Preço inicial do Biodiesel (Pb0) = R$ 2,41 /litro - Rendimento Biodiesel em relação ao Diesel (rb) = 94% - Volatilidade do retorno do Diesel mineral = 3,6% a.m. - Volatilidade do retorno do Biodiesel = 7,99% a.m. - Correlação entre retornos do Diesel e Biodiesel = -0,04 Para gerar as simulações de fluxo de caixa que determinam o valor da opção real de troca entre diesel e biodiesel são utilizadas todas as informações acima. Entretanto, dados como vida útil do equipamento, capacidade do tanque, número de abastecimentos e taxa de juros livre de risco são valores constantes no problema. Logo, o que determina a variabilidade dos fluxos de caixa a serem 37 simulados são exatamente os preços do diesel e do biodiesel que são as fontes de incerteza do problema. Portanto, os dados estatísticos referentes aos preços do diesel mineral e do biodiesel são os dados utilizados para a construção da simulação. Estes dados estatísticos servem para a parametrização do processo estocástico definido para a evolução dos dois preços. No caso em análise, o processo estocástico atribuído foi de que a variação nos preços do diesel e do biodiesel seguem um Movimento Browniano Geométrico. Desta forma, temos que as variações nos preços dos combustíveis em cada período t (no caso mensal) seguem uma distribuição normal com média µ e variância σ2. Logo, com base na equação 3.1, as variações nos preços do diesel e do biodiesel seguem o processo abaixo: dPd = 0,0114 ⋅ Pd ⋅ dt + 0,036 ⋅ Pd ⋅ dz (equação 4.5) dPb = 0,0016 ⋅ Pb ⋅ dt + 0,080 ⋅ Pb ⋅ dz (equação 4.6) Para rodar a simulação sobre Pd e Pb, ao invés da simulação de seus retornos, é derivada através do Lema de Itô22 uma equação para o processo estocástico de P tal que: P1 = P0 × e µ −σ 2 2 ∂t +σ ×ε × ∂t (equação 4.7) Cabe aqui ressaltar que se considerarmos o valor de µ como simplesmente o parâmetro de drift observado acima, teríamos na verdade o Movimento Browniano Geométrico Real. Entretanto, é necessária a simulação do Movimento Browniano Geométrico neutro ao risco para que os fluxos de caixa dinâmicos gerados possam ser descontados à taxa livre de risco. A medida de probabilidade neutra ao risco é aquela que faz com que o retorno esperado do ativo básico (no caso o diesel e o biodiesel) seja a taxa livre de risco. Isto é, a incerteza é incorporada nas probabilidades reais de forma a 22 Ver Hull (2003), página 411. 38 transformarem estas novas medidas de probabilidade em probabilidades neutras ao risco, possibilitando então, o desconto dos valores pela taxa livre de risco. Esta medida de probabilidade neutra ao risco é uma medida equivalente de Martingale23, o que possibilita o desconto dos valores obtidos na simulação pela taxa livre de risco. O drift neutro ao risco µ da equação 4.7 pode ser calculado de duas formas, pois tem-se as seguintes igualdades: µ =α −π = r −δ (equação 4.8) Onde, µ = drift neutro ao risco α = drift real π = prêmio de risco r = taxa de juros livre de risco δ = taxa de conveniência (convenience yield) A partir dos dados estimados podemos então rodar simulações referentes aos fluxos de caixa dos gastos com combustível do detentor do equipamento ciclo diesel. Para o cálculo do valor da opção de troca entre os combustíveis é necessário primeiramente rodar as simulações para gerar o fluxo de caixa do gasto se o agente só abastece com diesel ajustado pelo faltor de rendimento do biodiesel. Este ajuste se faz necessário pois o que importa efetivamente é a quantidade de energia equivalente dos combustíveis e não seu volume. O valor presente do fluxo de caixa abastecendo só com diesel é dado por: 180 VPrigido = ∑ t =1 23 rb × E ( Pd t ) × 350 × 5 (1 + r )t (equação 4.9) Um processo estocástico é um martigale sob a medida de probabilidade P se o seu valor esperado é o seu 39 Sendo que Pdt segue o processo estocástico definido pela equação 4.7 Depois é gerado um fluxo de caixa para o gasto com combustível onde o agente detentor de equipamento ciclo diesel possui a opção de abastecer com diesel ou biodiesel, dependendo do combustível que esteja mais barato. O valor presente do fluxo de caixa dinâmico gerado pelas simulações com a existência da flexibilidade de utilização de diesel ou biodiesel no equipamento é dado pela seguinte equação: 180 VPflexibilidade = ∑ E[min(rb × Pd t ; Pbt )] × 350 × 5 t =1 (1 + r )t (equação 4.10) Onde Pdt e Pbt seguem o processo estocástico da equação 4.7 O valor da opção real de troca entre os dois combustíveis é dado pela diferença entre os dois fluxos de caixa: Vopção = VPrigido − VPflexibilidade Através de recursos computacionais24 foram geradas as simulações acerca do preço do diesel e do biodiesel segundo os processos descritos acima. Foram geradas 10.000 simulações dos processos correlacionados do preço do diesel e do biodiesel para o cálculo do valor presente dos gastos com combustíveis com base na esperança do preço de cada combustível em cada período de tempo t=1 até t=180. Os resultados obtidos foram: VPrigido = R$552.054,40 VPflexível = R$436.615,80 Vopção = R$115.438,60 valor corrente. 40 Logo, o valor da opção de possibilidade de substituição entre diesel e biodiesel para o agente consumidor deste combustível é de R$ 115.438,60 se este agente possuir esta opção durante um período de 15 anos de utilização do equipamento ciclo diesel. 4.4 Análise de Sensibilidade Diferentemente das opções financeiras, opções reais tem como ativo objeto ativos reais. A estimação de parâmetros para ativos reais é muito mais trabalhosa e menos confiável do que a estimação para ativos financeiros até mesmo por limitações de dados como a observada no caso do biodiesel que não tem base de dados histórica de preços. Dada esta limitação referente à qualidade dos parâmetros utilizados, é comum em trabalhos envolvendo opções reais realizar uma seção de análise de sensibilidade. Portanto, esta seção se dedicará a avaliar como varia o valor da opção real dada a variação em alguns parâmetros. Isto nos permitirá concluir com maior confiança a existência de um valor significativo para a opção de troca entre diesel e biodiesel. A primeira análise será feita quando se varia a volatilidade do diesel e do biodiesel. Intuitivamente observamos que quanto maior a volatilidade do ativo objeto, maior o valor da opção. Supondo 25 possíveis combinações de volatilidades para o diesel e o biodiesel temos os seguintes dados para o valor da opção real: Tabela II Sensibilidade à Volatilidade Volatilidade Diesel 4,0% 24 6,0% Volatilidade Biodiesel 8,0% 10,0% 12,0% 1,8% 44.052,83 82.451,15 120.867,30 162.836,60 194.704,30 2,7% 54.299,00 89.990,25 127.608,60 165.485,40 200.550,20 3,6% 66.782,62 100.400,40 132.375,00 169.322,20 212.165,50 4,5% 75.166,78 115.411,30 149.652,80 175.216,40 223.488,90 5,4% 90.499,13 123.624,90 162.167,40 188.109,80 227.129,20 O software utilizado foi o R. Este software é freeware e pode ser encontrado em http://www.r-project.org/ 41 Observa-se que o valor da opção real é extremamente sensível à variação nas volatilidades dos dois combustíveis. No cenário de volatilidades mais baixas, o valor da Opção Real de troca entre diesel e biodiesel foi de R$ 44.052,83 enquanto no cenário de volatilidades mais altas o valor da opção real pode atingir o valor de R$ 227.129,20. A sensibilidade do valor da opção às alterações das volatilidades pode ser melhor observada através do gráfico abaixo: Figura VII Ocorre que quanto maior a volatilidade dos combustíveis, maior a incerteza a qual o agente está sujeito no momento do abastecimento. Ou seja, maiores variações nos preços dos combustíveis representam maior risco ao consumidor, que faz com que a flexibilidade de escolha do mais barato tenha mais valor. No limite pode-se entender que quanto mais volátil o preço dos combustíveis, por mais vezes a diferença de preços entre eles será elevada, o que confere uma economia significativa quando da possibilidade de substituição. A correlação estimada entre o diesel mineral e o biodiesel foi de –0,04, ou seja, muito próxima de zero. Entretanto, foram rodadas simulações com variações no valor da correlação entre os dois combustíveis a fim de determinar a sensibilidade no valor da Opção Real de troca. Os resultados estão representados no gráfico abaixo: 42 Figura VIII Sensibilidade: Correlação 175.000,00 167.540,20 150.000,00 Valor da Opção 139.859,20 125.000,00 115.438,60 100.000,00 86.921,88 75.000,00 50.000,00 44.912,35 25.000,00 -0,9 -0,4 -0,04 0,4 0,9 Correlação O valor da opção analisada neste trabalho é impactada caso a correlação do diesel e do biodiesel varie. A intuição deste resultado da análise de sensibilidade é simples. Ocorre que se os dois processos são negativamente correlacionados se o preço do diesel sobe o preço do biodiesel cai e então o consumidor pode ter a possibilidade de trocar de combustível e economizar. Da mesma forma, caso os processos tenham correlação próxima de 1 o que vai acontecer é que se espera que quando o preço do diesel suba o do biodiesel também suba. Isto faz com que a flexibilidade de escolha do combustível mais barato perca valor. A taxa de conveniência para o diesel e o biodiesel utilizada na solução do problema foi nula, isto é, o benefício e o custo de estocagem se igualavam. Entretanto, na prática é comum que a taxa de conveniência de ativos reais variem de acordo com fatores de mercado. Desta forma, foram realizadas simulações adicionais que avaliam qual seria o valor da Opção Real de troca caso a taxa de conveniência varie. Foram simulados casos onde os custos de estocagem superam os benefícios e situações em que os benefícios de estocagem superam os custos. Os resultados das simulações podem ser observados no gráfico abaixo: 43 Figura IX Sensibilidade: Taxa de Conveniência 200.000,00 Valor da Opção 175.000,00 185.298,10 150.000,00 150.238,20 125.000,00 115.438,60 100.000,00 94.591,86 75.000,00 75.786,76 50.000,00 25.000,00 -0,4% -0,2% 0,0% 0,2% 0,4% Taxa de Conveniência Conforme mencionado, a taxa de conveniência pode ser interpretada de forma análoga a taxa de dividendos nos modelos de precificação de opções financeiras. A intuição é de que a taxa de conveniência nos dá o valor no tempo do preço do ativo subjacente, logo para uma maior taxa de conveniência menor o valor real dos preços dos ativos subjacentes e conseqüentemente menor o valor da opção real de troca que é dada pela diferença entre os preços do diesel e do biodiesel. Logo, observamos que mesmo sob condições em que os parâmetros são flexibilizados em um range de valores bem diversificados, ainda assim a opção real de troca entre diesel e biodiesel tem valor significativo. Isto mostra que com a introdução do biodiesel para comercialização o agente detentor de um equipamento ciclo diesel tem uma flexibilidade valiosa frente as fontes de incerteza com que se depara. 44 5. CONCLUSÃO A Teoria de Opções Reais tem se difundido cada vez mais e se torna a cada dia mais relevante nas teorias de decisões sob incerteza. Inicialmente aplicada à avaliação de projetos de investimentos, esta pode ser estendida a outras situações como a abordada neste trabalho. Aqui, a Teoria de Opções Reais foi o arcabouço utilizado para mostrar o valor criado a um agente consumidor de diesel quando é introduzida a opção de trocar este pelo biodiesel. Foi observado através da solução do problema e das simulações que a introdução do biodiesel em grande escala no mercado gera um valor expressivo aos agentes que detêm como ativos reais equipamentos movidos a diesel. Estes equipamentos podem ser veículos automotivos, caminhões, máquinas agrícolas e usinas termoelétricas. O valor da opção real de troca encontrado no problema pode ser interpretado como um valor gerado a partir da redução de riscos dos agentes demandantes de diesel. Isto porque uma vez que estes tem a opção de abastecer com outro combustível, naturalmente a variância do seu gasto com abastecimento diminui, dado que ele sempre vai escolher aquele combustível que tem o menor preço. Mesmo relaxando os parâmetros utilizados no cálculo da opção real de troca para situações nas quais a flexibilidade do agente tem menos valor (volatilidades mais baixas do diesel e biodiesel ou correlação próxima de 1), obteve-se ainda um resultado expressivo para o valor da opção real. O resultado torna-se ainda mais relevante se considerarmos a representatividade do diesel mineral na matriz energética brasileira e do elevado estoque de ativos reais na economia que utilizam o diesel mineral como insumo. Ao introduzir a comercialização do biodiesel nas redes de distribuição, estes ativos reais na economia brasileira passarão a ter uma opção real embutida. O valor agregado na economia por conta da criação destas opções reais tende a ser elevado. Logo, como no Brasil temos um modal de transportes essencialmente 45 movido a diesel podemos observar que a redução dos riscos neste setor leva a uma diminuição de riscos agregada para a economia. Uma vez desenvolvido o mercado de biodiesel no Brasil, o valor gerado pela opção real de troca será benéfico para a economia. Para futuras pesquisas e aprimoramento do trabalho exposto, serão apresentadas algumas sugestões. O modelo acima proposto pode ser aplicado para estudos de caso mais específicos, em setores agrícolas para equipamentos como máquinas agrícolas ou ao setor energético com usinas termoelétricas movidas a diesel. Além disso, uma das limitações do modelo apresentado foi a falta de dados de preços históricos para o biodiesel. Em trabalhos futuros pode ser utilizada uma série de preços de biodiesel para a estimação de parâmetros e reavaliação do modelo. Outra alternativa seria alterar a modelagem dos processos estocásticos para processos como reversão a média ou processos com saltos e avaliar o valor da opção real de troca nestes casos. 46 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIOVE, Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais. Disponível em http://www.abiove.com.br, acesso em 01/02/2007 ALVES, M. Carro Flex-Fuel: Uma Avaliação por Opções Reais. PUC-Rio Dissertação de Mestrado, 2007 AMRAM, M., KULATILAKA, N. Real Options: Managing Strategic Investment in an Uncertain World. Boston: Harvard Business School Press, 1999 ANDIMA, Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro. Disponível em http://www.anp.gov.br, acesso em 01/03/2007 ANP, Agência Nacional do Petróleo. Disponível em http://www.anp.gov.br, acesso em 01/03/2007 ANTT, Agência Nacional de Transportes Terrestres. Disponível em http://www.antt.gov.br, acesso em 01/03/2007 BRENNAN, M., SCHWARTZ, Evaluating Natural Resource Investments, Journal of Business, 58, 1985 COPELAND, T., V. ANTIKAROV. Real Options. Texere LLC, New York (2001) DIAS, M. Notas de aula. (2007) Disponível em http://www.puc-rio.br/marco.ind/, acesso em 01/02/2007 DIAS, M. Opções Reais Híbridas com aplicações em petróleo, PUC-Rio, Tese de Doutorado, 2005 47 DIXIT, A., R.S.PINDYCK. Investment under Uncertainty. Princeton University, Press, Princeton, NJ, 1994 EBB, European Biodiesel Board, Disponível em http://www.ebb-eu.org, acesso em 01/02/2007. FGVDADOS, Disponível em http://www.fgvdados.br, acesso em 01/03/2007. HE, H., R. Pindyck, Investments in Flexible Production Capacity, Journal of Economic Dynamics and Control, 16 (1992), 575-599 HULL, J.C. Options, Futures and Other Derivatives. Prentice Hall. New Jersey, 2006 KULATILAKA, N., TRIGEORGIS, L. The General Flexibility to Switch: Real Options Revisited. International Journal of Finance 6, no. 2, 1994 KULATILAKA, N. The Value of Flexibility, MIT-EL working paper 86-014, 1986 LUCENA, T. O Biodiesel na matriz energética brasileira, UFRJ Monografia de Bacharelado, 2004 MADDALA, G.S.; KIM, I-M. Unit Roots, Cointegration, and Structural Change. Cambridge: Cambridge University Press, 1998 MME, Ministério de Minas e Energia. Balanço Energético Nacional (2006). Disponível em http://www.mme.gov.br, acesso em 01/02/2007. PINDYCK, R.S., RUBINFELD, D.L. Econometric Models and Economic Forecasts. New York: McGraw-Hill, Inc., third edition, 1991 48 SCHWARTZ, E., TRIGEORGIS, L. Real Options and Investment under Uncertainty: Classical Readings and Recent Contributions. Cambridge (EUA): MIT Press, 2001 SILVA, F et alli. Avaliação do desempenho do motor de combustão alimentado com Diesel e Biodiesel, UFLA., 2006 TOURINHO, O.A.F. The Valuation of Reserves of Natural Resources: An Option Pricing Approach. Berkeley, 1979. TRIANTIS, A., J. Hodder, Valuing Flexibility as a Complex Option, Journal of Finance, 45 (1990). TRIGEORGIS, LENOS: Real Options – Managerial Flexibility and Strategy in Resource Allocation; USA, MIT Press, 1996. . 49 ANEXO I Programação em R realizada para simulação de monte carlo dos processos estocásticos do diesel e do biodiesel assumindo movimentos brownianos geométricos correlacionados: #Monte Carlo para 2 ativos correlacionados: rm(list=ls()) #Criando matriz de correlação e input de parâmetros: pd0 <- 1.87 pb0 <- 2.41 rb <- 0.94 cap <- 350 event <- 5 r <- 0.006 d <- 0.000 rho <- c(-0.04) R <- c(1,rho,rho,1) dim(R) <- c(2,2) #Usando Decomposição de Cholesky: P <- chol(R) #Criando vetor de desvio-padrao: s <- c(0.036,0.08) deltaT <- 1 #No de simulações: N <- 10000 #Criando tensores para coleta dos dados: a <- array(0,c(181,3,N)) for (i in 1:N) { #10000 simulações #Criando vetor de preços a[1,,i] <- c(pd0,pb0,0) #preço hoje dos ativos objetos #Vetor de choques aleatórios u <- rnorm(360) dim(u) <- c(180,2) #Usando a matriz de Cholesky para criar erros com as correlações das ações: e <- u%*%P for (j in 1:180){ for(m in 1:2){ 50 a[j+1,m,i] <- a[j,m,i] +a[j,m,i]*(r-d)*(deltaT) +a[j,m,i]*s[m]*e[j,m]*(deltaT)^(1/2) } a[j+1,3,i]<- min(rb*a[j+1,1,i],a[j+1,2,i]) } } ###Tirando a média ao longo do tempo e cálculos finais: #Declaração de variâveis: mediapd <- array(0,c(1,180)) mediapb <- array(0,c(1,180)) mediamin <- array(0,c(1,180)) rbruto <- array(0,c(1,180)) vppd <- array(0,c(1,180)) vppb <- array(0,c(1,180)) vpmin <- array(0,c(1,180)) for (i in 1:180){ mediapd[,i]<- mean(rb*a[i+1,1,]) mediapb[,i]<- mean(a[i+1,2,]) mediamin[,i]<- mean(a[i+1,3,]) rbruto[,i]<- (1+r)^(i) vppd[,i] <- mediapd[,i]/rbruto[,i] vppb[,i] <- mediapb[,i]/rbruto[,i] vpmin[,i] <- mediamin[,i]/rbruto[,i] } Prig <- cap*event*sum(vppd) Pflex <- cap*event*sum(vpmin) option <- Prig-Pflex option Prig Pflex 51 ANEXO II – Tabela com dados de preço de Diesel Data jan/02 fev/02 mar/02 abr/02 mai/02 jun/02 jul/02 ago/02 set/02 out/02 nov/02 dez/02 jan/03 fev/03 mar/03 abr/03 mai/03 jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05 jul/05 ago/05 set/05 out/05 nov/05 dez/05 jan/06 fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jun/06 jul/06 ago/06 set/06 out/06 nov/06 dez/06 jan/07 fev/07 mar/07 Série Diesel 0,54897 0,5491 0,5619 0,62412 0,62508 0,65132 0,71563 0,71658 0,71741 0,72025 0,74919 0,87507 1,04622 1,05656 1,06246 1,05708 0,99323 0,96535 0,9682 0,96533 0,96571 0,96407 0,95989 0,96078 0,96193 0,96576 0,96794 0,96929 0,96843 0,97797 1,05192 1,0525 1,04952 1,05109 1,09784 1,18711 1,18683 1,17424 1,18333 1,18729 1,18321 1,2096 1,21221 1,21083 1,23649 1,35715 1,35391 1,3557 1,34923 1,35731 1,35952 1,3563 1,36229 1,35671 1,3586 1,35573 1,36012 1,3571 1,35791 1,35876 1,35898 1,36057 1,36315 Série IPCA Fator Acum IPCA 0,52 0,36 0,6 0,8 0,21 0,42 1,19 0,65 0,72 1,31 3,02 2,1 2,25 1,57 1,23 0,97 0,61 -0,15 0,2 0,34 0,78 0,29 0,34 0,52 0,76 0,61 0,47 0,37 0,51 0,71 0,91 0,69 0,33 0,44 0,69 0,86 0,58 0,59 0,61 0,87 0,49 -0,02 0,25 0,17 0,35 0,75 0,55 0,36 0,59 0,41 0,43 0,21 0,1 -0,21 0,19 0,05 0,21 0,33 0,31 0,48 0,44 0,44 1,4554 1,4479 1,4427 1,4341 1,4227 1,4197 1,4138 1,3972 1,3881 1,3782 1,3604 1,3205 1,2933 1,2649 1,2453 1,2302 1,2184 1,2110 1,2128 1,2104 1,2063 1,1970 1,1935 1,1895 1,1833 1,1744 1,1673 1,1618 1,1575 1,1516 1,1435 1,1332 1,1254 1,1217 1,1168 1,1092 1,0997 1,0934 1,0870 1,0804 1,0711 1,0658 1,0660 1,0634 1,0616 1,0579 1,0500 1,0443 1,0405 1,0344 1,0302 1,0258 1,0236 1,0226 1,0248 1,0228 1,0223 1,0202 1,0168 1,0137 1,0088 1,0044 1,0000 Série Diesel Deflacionada 0,798976259 0,795031299 0,810645847 0,895039597 0,889301901 0,924691721 1,011744557 1,001173683 0,99586023 0,992655408 1,01918941 1,155537863 1,353127315 1,336430846 1,323120695 1,300425548 1,210138588 1,169038819 1,174251547 1,168433888 1,164933067 1,153953899 1,145628281 1,142804959 1,138253913 1,134166296 1,129834448 1,126117492 1,120970756 1,12626946 1,202892706 1,192702357 1,181175285 1,179051362 1,22609795 1,316711833 1,305176744 1,283884779 1,286234774 1,282714584 1,26728132 1,289229201 1,292269474 1,287579385 1,312634385 1,435699808 1,421610205 1,415703343 1,403892966 1,404016623 1,400560374 1,391260749 1,39447675 1,387377534 1,392233947 1,386658246 1,390453168 1,384458454 1,38072838 1,377322962 1,370965334 1,366556508 1,36315 Ln(Pt/P-1) -0,49% 1,94% 9,90% -0,64% 3,90% 9,00% -1,05% -0,53% -0,32% 2,64% 12,56% 15,79% -1,24% -1,00% -1,73% -7,20% -3,46% 0,44% -0,50% -0,30% -0,95% -0,72% -0,25% -0,40% -0,36% -0,38% -0,33% -0,46% 0,47% 6,58% -0,85% -0,97% -0,18% 3,91% 7,13% -0,88% -1,64% 0,18% -0,27% -1,21% 1,72% 0,24% -0,36% 1,93% 8,96% -0,99% -0,42% -0,84% 0,01% -0,25% -0,67% 0,23% -0,51% 0,35% -0,40% 0,27% -0,43% -0,27% -0,25% -0,46% -0,32% -0,25% Desvio Padrão 0,02% 0,01% 0,82% 0,02% 0,09% 0,66% 0,04% 0,02% 0,01% 0,03% 1,37% 2,23% 0,04% 0,03% 0,07% 0,65% 0,19% 0,00% 0,02% 0,01% 0,03% 0,03% 0,01% 0,02% 0,01% 0,02% 0,01% 0,02% 0,00% 0,33% 0,03% 0,03% 0,01% 0,09% 0,39% 0,03% 0,06% 0,00% 0,01% 0,04% 0,01% 0,00% 0,02% 0,01% 0,66% 0,03% 0,02% 0,03% 0,01% 0,01% 0,02% 0,00% 0,02% 0,00% 0,02% 0,00% 0,02% 0,01% 0,01% 0,02% 0,01% 0,01% 52 ANEXO II – Tabela com dados de preço da Soja Data jan/02 fev/02 mar/02 abr/02 mai/02 jun/02 jul/02 ago/02 set/02 out/02 nov/02 dez/02 jan/03 fev/03 mar/03 abr/03 mai/03 jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05 jul/05 ago/05 set/05 out/05 nov/05 dez/05 jan/06 fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jun/06 jul/06 ago/06 set/06 out/06 nov/06 dez/06 jan/07 fev/07 mar/07 Preço Soja US$ 435,57 435,92 462,81 466,31 482,89 504,45 559,7 562,13 563,62 544,52 569,47 566,96 565,12 570,47 571,87 602,45 632,23 624,07 563,48 556,11 624,83 734,14 761,84 774,18 821,69 851,34 977,65 985,02 909,4 809,11 698,17 588,33 567,3 532,07 534,67 540,13 525,46 540,88 640,3 629,83 638,25 696,75 692,63 634,24 586,62 586,92 582,79 599,61 592,94 596,93 591,42 582,95 600,77 596,01 597,18 562,82 555,63 607,1 676,95 677,09 710,75 772,68 772,68 Cambio Preço Soja R$ 2,3066 2,4161 2,3596 2,322 2,377 2,5413 2,8595 3,3275 3,0286 3,7467 3,6113 3,616 3,5224 3,493 3,5637 3,3359 2,9159 2,978 2,8443 3,0006 2,984 2,9034 2,8559 2,9341 2,8862 2,9486 2,8945 2,8904 2,9569 3,1567 3,0747 3,0466 2,9298 2,8513 2,859 2,7145 2,6682 2,613 2,6011 2,655 2,5146 2,4286 2,3459 2,3785 2,3623 2,2339 2,2516 2,2177 2,337 2,2217 2,1181 2,1542 2,0718 2,2713 2,1701 2,1905 2,1468 2,1623 2,141 2,1672 2,1342 2,1093 2,08 1.004,69 1.053,23 1.092,05 1.082,77 1.147,83 1.281,96 1.600,46 1.870,49 1.706,98 2.040,15 2.056,53 2.050,13 1.990,58 1.992,65 2.037,97 2.009,71 1.843,52 1.858,48 1.602,71 1.668,66 1.864,49 2.131,50 2.175,74 2.271,52 2.371,56 2.510,26 2.829,81 2.847,10 2.689,00 2.554,12 2.146,66 1.792,41 1.662,08 1.517,09 1.528,62 1.466,18 1.402,03 1.413,32 1.665,48 1.672,20 1.604,94 1.692,13 1.624,84 1.508,54 1.385,77 1.311,12 1.312,21 1.329,76 1.385,70 1.326,20 1.252,69 1.255,79 1.244,68 1.353,72 1.295,94 1.232,86 1.192,83 1.312,73 1.449,35 1.467,39 1.516,88 1.629,81 1.607,17 Série IPCA 0,52 0,36 0,6 0,8 0,21 0,42 1,19 0,65 0,72 1,31 3,02 2,1 2,25 1,57 1,23 0,97 0,61 -0,15 0,2 0,34 0,78 0,29 0,34 0,52 0,76 0,61 0,47 0,37 0,51 0,71 0,91 0,69 0,33 0,44 0,69 0,86 0,58 0,59 0,61 0,87 0,49 -0,02 0,25 0,17 0,35 0,75 0,55 0,36 0,59 0,41 0,43 0,21 0,1 -0,21 0,19 0,05 0,21 0,33 0,31 0,48 0,44 0,44 Fator Acum IPCA 1,4554 1,4479 1,4427 1,4341 1,4227 1,4197 1,4138 1,3972 1,3881 1,3782 1,3604 1,3205 1,2933 1,2649 1,2453 1,2302 1,2184 1,2110 1,2128 1,2104 1,2063 1,1970 1,1935 1,1895 1,1833 1,1744 1,1673 1,1618 1,1575 1,1516 1,1435 1,1332 1,1254 1,1217 1,1168 1,1092 1,0997 1,0934 1,0870 1,0804 1,0711 1,0658 1,0660 1,0634 1,0616 1,0579 1,0500 1,0443 1,0405 1,0344 1,0302 1,0258 1,0236 1,0226 1,0248 1,0228 1,0223 1,0202 1,0168 1,0137 1,0088 1,0044 1,0000 Série Soja Deflacionada 1.462,23 1.524,95 1.575,48 1.552,78 1.633,02 1.820,02 2.262,70 2.613,36 2.369,51 2.811,76 2.797,68 2.707,21 2.574,51 2.520,48 2.537,96 2.472,36 2.246,12 2.250,62 1.943,79 2.019,75 2.249,13 2.551,32 2.596,74 2.701,87 2.806,27 2.947,99 3.303,11 3.307,75 3.112,56 2.941,42 2.454,75 2.031,17 1.870,57 1.701,78 1.707,21 1.626,25 1.541,84 1.545,29 1.810,32 1.806,60 1.718,98 1.803,52 1.732,15 1.604,16 1.471,11 1.387,01 1.377,83 1.388,61 1.441,84 1.371,84 1.290,50 1.288,16 1.274,08 1.384,32 1.328,02 1.260,98 1.219,43 1.339,20 1.473,70 1.487,44 1.530,26 1.636,99 1.607,17 Ln(Pt/P-1) 4,20% 3,26% -1,45% 5,04% 10,84% 21,77% 14,41% -9,80% 17,11% -0,50% -3,29% -5,03% -2,12% 0,69% -2,62% -9,60% 0,20% -14,66% 3,83% 10,76% 12,61% 1,76% 3,97% 3,79% 4,93% 11,37% 0,14% -6,08% -5,66% -18,09% -18,94% -8,24% -9,46% 0,32% -4,86% -5,33% 0,22% 15,83% -0,21% -4,97% 4,80% -4,04% -7,68% -8,66% -5,89% -0,66% 0,78% 3,76% -4,98% -6,11% -0,18% -1,10% 8,30% -4,15% -5,18% -3,35% 9,37% 9,57% 0,93% 2,84% 6,74% -1,84% Desvio Padrão 0,16% 0,10% 0,03% 0,24% 1,14% 4,67% 2,03% 0,99% 2,88% 0,00% 0,12% 0,27% 0,05% 0,00% 0,08% 0,95% 0,00% 2,19% 0,14% 1,12% 1,55% 0,03% 0,15% 0,13% 0,23% 1,26% 0,00% 0,39% 0,34% 3,33% 3,65% 0,70% 0,92% 0,00% 0,25% 0,30% 0,00% 2,46% 0,00% 0,26% 0,22% 0,18% 0,61% 0,78% 0,36% 0,01% 0,00% 0,13% 0,26% 0,39% 0,00% 0,02% 0,66% 0,19% 0,28% 0,12% 0,85% 0,89% 0,01% 0,07% 0,43% 0,04% 53 54