EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE TRATORES DE RODAS, NO
BRASIL, NO PERÍODO DE 1999 A 2008
[email protected]
Apresentação Oral-Evolução e estrutura da agropecuária no Brasil
FÁBIO ISAIAS FELIPE1; ROBERTO ARRUDA DE SOUZA LIMA2; SABRINA
MARUCCI RODRIGUES3.
1.CEPEA/ESALQ, PIRACICABA - SP - BRASIL; 2,3.ESALQ/USP, PIRACICABA - SP BRASIL.
Evolução da estrutura da indústria de tratores de rodas, no Brasil, no período de 1999 a
2008.
Resumo
Apesar da instabilidade econômica no final da década de 1990 não houve desaceleração do
setor agrícola no Brasil. Nesse período, a agricultura passou a ser beneficiada por linhas
especiais de crédito, momento em que houve o surgimento do Programa de Modernização da
Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), que
contribuiu para o processo de modernização da agricultura, bem como desta indústria no
Brasil. Neste trabalho é apresentada uma análise da evolução da estrutura do mercado de
tratores no Brasil a partir da implantação do programa Moderfrota. Para tanto, foi realizada a
mensuração da concentração industrial e sua evolução na última década. Observou-se que,
embora a concentração industrial tenha se elevado durante a última década, seu
comportamento foi distinto em diferentes momentos.
Palavras-chave: tratores, Moderfrota, concentração, razão de concentração, política agrícola
Abstract
Despite the instability of the Brazilian economy in the late 1990’s, it was observed no
constraint in the agricultural sector. In that period, agriculture started to be benefited from
special lines of credit, when it was created the Modernization Program of Fleet of
Agricultural Tractors, Harvesters and Implements, named Moderfrota, which contributed to
the modernization process of the agriculture and the industry of tractors. This article analyzes
the evolution of the structure of tractors market in Brazil from the implantation of Moderfrota
program until present. Thus, it was researched the industrial concentration and its evolution in
the last decade. It was observed that even though the industrial concentration has risen during
the last decade, it was distinct at different moments.
Key words: tractors, Moderforta Program, concentration, concentration ratios, agricultural
policy.
1 - Introdução
Nas últimas décadas, a agricultura brasileira apresentou substancial crescimento de seu
produto. Este quadro ocorreu devido ao melhor aproveitamento dos fatores de produção,
destacando-se a utilização mais eficiente de fertilizantes e o maior uso de mecanização no
setor. Dos anos 1970 até os dias atuais o setor agrícola brasileiro tem apresentado
significativo aumento na produção, o que em determinados períodos é resultado do aumento
na área cultivada e em outros da maior produtividade agrícola, ou ambos (Ferreira Filho &
Felipe, 2007).
1
A mecanização da agricultura no Brasil é um importante elemento para a maior
produtividade, todavia, até meados da década de 1960 toda a demanda por maquinário
agrícola era atendida pelas importações. Após aquele período, em razão da política de
substituição de importações, houve o surgimento no Brasil da indústria de tratores agrícolas.
Tendo em vista a necessidade de elevar a produção e a produtividade agrícola no Brasil, bem
como a redução dos déficits com comércio exterior, houve o crescimento e o desenvolvimento
desta indústria. Assim, naquela ocasião passou a haver a proteção deste setor através de
política cambial e fiscal que ofereciam vantagens comparativas em relação aos similares
importados (Vegro et al, 1997). Apesar dos resultados favoráveis quanto aos índices de
mecanização, em 1996 estes ainda eram considerados baixos se comparados a outros países,
como se observa na
Tabela 1.
De acordo com Ferreira Filho & Costa (1999) o consumo de tratores agrícolas é
sensível aos fenômenos associados à evolução da agricultura, destacando-se: mudança na
composição de cultivo, abertura da fronteira agrícola, políticas agrícolas e/ou econômicas,
tecnologias e processos inovadores. Este comportamento pode ser exemplificado pela
evolução da área plantada e das vendas de tratores, conforme Figura 1.
Tabela 1 – Brasil: estoque de tratores, colheitadeiras, área cultivada e área por tipo de maquinário no
em 1996.
Tratores
Área cultivada
País
Colheitadeiras
ha/trator ha/colheitadeira
de rodas
(1000 ha)
Brasil
Argentina
Canadá
EUA
França
Reino Unido
460.000
280.000
740.000
4.800.000
1.312.000
500.000
49.600
50.000
155.000
662.000
154.000
47.000
53.500
25.000
45.360
175.000
18.288
6.090
116,3
89,3
61,3
36,5
13,9
12,2
1.078,6
500,0
292,6
264,4
118,8
129,6
55
45
52
40
35
49
30
46
25
20
43
Tratores (unidades)
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
10
1997
15
1996
Vendas de tratores (mil unidades)
50
Área cultivada (milhões de hectares)
Fonte: Anfavea (2006).
40
Área cultivada (hectares)
Figura 1 – Brasil: Unidades vendidas de tratores de rodas e área plantada (em milhares de hectares),
período de 1996 a 2008.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2008) e Anfavea (2008).
2
Apesar da instabilidade econômica no final da década de 1990 não houve
desaceleração do setor agrícola no Brasil, o que se deu em razão da desvalorização cambial,
bem como pelo aumento no volume exportado. A agricultura passou a ser beneficiada por
linhas especiais de crédito, momento em que houve o surgimento do Programa de
Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras
(Moderfrota), que contribuiu para o processo de modernização da agricultura, bem como
desta indústria no Brasil.
Dessa forma, o objetivo desse trabalho é analisar a evolução da estrutura do mercado
de tratores no Brasil a partir da implantação do programa Moderfrota. Para tanto, é realizada a
mensuração da concentração industrial e sua evolução na última década. A concentração é
medida, neste trabalho, através do índice de concentração CR(k).
2 – A indústria de tratores de rodas no Brasil
A partir da implantação do Programa Moderfrota, ocorrida em março de 2000, houve
significativa mudança no cenário da mecanização agrícola no Brasil. Observou-se que a
implantação deste ocasionou um acréscimo na demanda por máquinas agrícolas, com
aumento do consumo em número de unidades (Figura 2). No entanto, se faz necessário expor
que o crescimento no consumo de máquinas foi reflexo do bom momento do setor agrícola
em vários setores, sendo exceção o ano de 2005.
45.000
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
5.000
0
Figura 2 – Brasil: vendas internas de tratores na agricultura (unidades), período de 1995 a 2008
Fonte: Anfavea (2009).
No Brasil, de acordo com Vegro et al (2007), o Estado de São Paulo constitui o maior
demandante para o setor de máquinas agrícolas, absorvendo 36% das vendas para o mercado
interno. Outros seis estados (Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná,
Espírito Santo e Goiás), demandam conjuntamente um montante de 54% da produção
nacional, revelando assim a importância assumida, em primeiro lugar, pelo setor sucroalcooleiro e, em segundo, pela citricultura que juntos, sem dúvida, são o maior mercado para
a oferta de tratores de rodas das montadoras brasileiras.
O Estado do Paraná apresentou no período de 2006 a 2007, um aumento de mais de
100% nas vendas internas de tratores, passando de 1.679 unidades para 3.459. Esse aumento
ocorreu graças a expansão das áreas agrícolas no estado, com destaque para a cultura da canade-açúcar e programas regionais específicos da região. Este estado foi o 2° maior destino dos
desembolsos do Moderfrota e representou 9% das vendas internas totais do período.
Ainda de acordo com Vegro et al (2007), a expansão do cinturão canavieiro para
outros estados carrega consigo a demanda por máquinas agrícolas, notadamente, de tratores. É
fato, que o forte endividamento dos produtores de grãos do Centro-Sul limitou sua propensão
3
à aquisição de novas máquinas agrícolas, representando, portanto, o agronegócio
sucroalcooleiro o mercado mais dinâmico para as montadoras.
A comercialização de tratores de rodas no mercado interno exibiu, entre 1999 e 2004,
importante crescimento na participação da classe de potência mais elevada nas vendas totais
(de 100cv a 199cv). Mas entre 2005 e 2006, a baixa rentabilidade das principais culturas
ocasionou forte recuo das vendas nas classes mais elevadas de potência as quais foram
novamente retomadas a partir de 2007 (VEGRO et al, 2007).
É importante salientar que na década de 1970, período de abundante crédito para
agricultura, o setor também experimentou um período de melhoria na produtividade total dos
fatores. Considerando o consumo acumulado de tratores entre 1970 e 1999, tem-se a quantia
de 905,6 mil unidades. No período referente ao Programa Moderfrota (2000 a 2008), o
consumo acumulado totalizou 279,8 mil unidades. Assim, tem-se que o total consumido em
oito anos foi 30% do consumo total de 30 anos (1970 a 2000).
Dados dos Censos Agropecuários apontam que entre 1970 e 1996 o estoque de tratores
da agricultura brasileira apresentou-se crescente, o que possivelmente é recorrente da falta de
renovação destas máquinas. No entanto, a partir de 2006 observou-se ligeira diminuição de
1,9% no estoque de tratores, o que pode se explicado pela renovação de máquinas obsoletas
por tratores mais novos e eficientes. O estoque de tratores da agricultura brasileira é
observado na Figura .
900
800
mil unidades
700
600
500
400
300
200
100
1970
1975
1980
1985
1996
2006
Figura 3 – Brasil: estoque de tratores da agricultura entre 1970 e 2006
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2008).
Entre 1970 e os dias atuais, houve modificações no padrão de consumo de tratores
agrícolas no Brasil. Aqueles com menor potência foram aos poucos sendo substituídos por de
potência superior. Desse modo, houve forte diminuição no consumo de tratores com até 50
CV de potência, em contrapartida, houve crescimento da demanda por tratores maiores,
superiores a 100 CV de potência. Chama a atenção a partir de 2000 o aumento no consumo de
tratores da faixa entre 101 e 150 CV de potência e aqueles com potência acima de 150 CV de
potência, conforme se observa na
Tabela .
Considerando o período entre o ano 2000 (implantação do Moderfrota) e 2004, houve
substancial crescimento no consumo de tratores de rodas pela agricultura brasileira. Este
cenário não só ocorreu devido ao novo programa, mas também pela melhoria na renda
agrícola, uma vez que aquele período se caracterizou pelo bom cenário nos preços dos grãos,
principalmente a soja no mercado interno e externo.
Tabela 2 – Consumo de tratores no Brasil entre 1970 e 2008 por faixas de potência
4
Anos
1970 a 1974
1975 a 1979
1980 a 1984
1985 a 1989
1990 a 1994
1995 a 1999
2000 a 2007
Até
50 CV
28,4%
14,5%
9,4%
9,0%
6,5%
4,5%
1,9%
Faixas de potência
Entre 51 e 100 De 101 a 150
CV
CV
66,3%
5,2%
74,1%
11,1%
74,1%
15,9%
73,0%
17,7%
66,7%
26,7%
68,1%
25,8%
53,8%
33,9%
Acima de 150
CV
0,1%
0,2%
0,6%
0,3%
0,1%
1,6%
10,4%
Total
100,0%
100,0%
100,0%
100,0%
100,0%
100,0%
100,0%
Fonte: Anfavea (2008).
Brandão et al (2005) atribuem o crescimento da área cultivada no Brasil ao maior
consumo de máquinas e implementos agrícolas. Estes autores apontam que este cenário
ocorreu devido ao Moderfrota, uma vez que a conversão de pastagens em lavouras ficou mais
viável tecnologicamente, e se viabilizou a expansão no estoque de máquinas e implementos
agrícolas no Brasil. Apesar disso, deve-se considerar que a elevação no consumo de máquinas
agrícolas é anterior ao lançamento do Moderfrota, sugerindo que outras variáveis também
estão associadas ao fenômeno.
Na região Norte houve predominância no consumo de tratores com potência superior a
200 CV, o que se explica pela abertura de novas áreas para a agricultura e pecuária, como já
constatado por Ferreira Filho & Felipe (2007). No Nordeste também se observou maior
participação de tratores com potência superior a 200 CV, mas não tão concentrado como no
Norte. O consumo no Nordeste se distribuiu entre tratores pequenos e médios, o qual pode ser
explicado pelo fato da grande agricultura estar presente somente em regiões isoladas, como no
caso do algodão no Oeste da Bahia. A distribuição do consumo de tratores por faixas de
potência entre as regiões brasileiras pode ser observada pela Tabela 3.
Tabela 3 – Brasil: consumo de tratores por faixa de potência e por regiões entre 2000 e 2007
Até
Entre 51 e
Entre 101 e
Entre 151 e
Acima de
Regiões
50 CV
100 CV
150 CV
200 CV
200 CV
Norte
7,6%
2,7%
4,6%
1,8%
44,6%
Nordeste
2,7%
9,1%
5,1%
8,4%
14,1%
Centro-Oeste
2,0%
8,1%
20,9%
33,9%
17,2%
Sudeste
38,3%
46,3%
30,3%
44,8%
21,2%
Sul
49,5%
33,9%
39,0%
11,0%
2,9%
Fonte: Anfavea (2008).
Vegro & Ferreira (2007) apontam para a divergência entre os economistas no que se
refere à análise do Moderfrota. Parte destes considera o Moderfrota um programa bem
sucedido de Política Industrial, uma vez que possibilitou a renovação da frota de máquinas
agrícolas, proporcionando maior eficiência na produção e conseqüente aumento da
rentabilidade dos agricultores, já que passou a se produzir a menores custos e perdas. Além
disso, houve melhoria na demanda por máquinas agrícolas, inclusive para a exportação, o que
aumentou o número de empregos na indústria. A corrente contrária considera o Moderfrota
uma política de subsídios para o setor agrícola, apontando que o programa desvirtua a
competitividade real da agricultura em relação a outros setores.
A criação e implementação do programa Moderfrota, passando pela securitização das
dívidas dos agricultores e elevação das cotações das commodities, formou, sem dúvida, os
alicerces para as montadoras de maquinaria agrícola. Estabeleceram-se, assim, no País um
verdadeiro pólo de atração para os novos investimentos em escala produtiva e em tecnologia
para o segmento de máquinas agrícolas automotrizes (FERREIRA et al, 2005).
5
Pontes & Padula (2005) apontam que até o ano 2000 havia receio por parte da
indústria nacional de tratores em realizar novos investimentos em razão da instabilidade
econômica no Brasil. Todavia, a partir daquele período, já em razão do Moderfrota, as
exportações brasileiras de tratores tiveram crescimento de 581,51%, enquanto que o
crescimento de colheitadeiras exportadas foi de 563,69%. Além disso, houve profundas
transformações nas relações entre produtores rurais, concessionárias, bancos de fomento e
indústria de máquinas.
Ainda de acordo com Ferreira et al (2005), a indústria de máquinas agrícolas
automotrizes possuem tecnologia e equipamentos nacionais de ponta. Destacam que a atração
de investimentos para o país associada com a consolidação definitiva da indústria de
máquinas agrícolas permitiu fantástica projeção internacional desse segmento. Com padrões
tecnológicos similares aos mais adiantados países em vigor, as montadoras brasileiras têm
sido capazes de conquistar novos mercados e substanciais parcelas dos mercados tradicionais
para seus produtos.
O aumento da produção e vendas de máquinas agrícolas nos últimos anos propiciou a
renovação de mais de um terço da frota do País além de conferir maior conteúdo tecnológico
para os equipamentos. Por ambos os fatos, o segmento é, na atualidade, uma relevante
indústria para o país.
No momento atual, todavia, o segmento carece de ações que harmonizem seus
interesses visando construir mútuas vantagens (fornecedores, montadoras, governo e
produtores rurais). Ao governo federal compete o arrojo necessário no sentido de desonerar as
importações de aço, visto que esta matéria-prima corresponde a 20% do custo total na
indústria de máquinas agrícolas, para que se estabeleça maior competitividade no mercado
interno e se contenha a majoração dos principais suprimentos da indústria de máquinas
(VEGRO et al, 2008).
Na atualidade, com a necessidade de incrementar substancialmente a oferta de
alimentos a custo competitivo, nada mais indicado que a introdução de tratores mais potentes,
capazes de executar em menor tempo uma maior variedade de serviços agrícolas com custos
muito inferiores, quando comparados com os tratores de menor potência (VEGRO et al,
2008).
3 – Metodologia
Para este trabalho, analisou-se primeiramente a produção e as fusões e aquisições nos
diferentes grupos econômicos da indústria brasileira de tratores. Após este procedimento
foram calculados os índices de concentração. Para este trabalho utilizou-se as medidas
denominadas razão de concentração (concentration ratios), representada por CR(k). A razão
de concentração de ordem k é um índice positivo que fornece a parcela de mercado das k
maiores empresas da indústria (k = 1, 2,..., n). Assim,
k
CR( k ) = ∑ s i
(1)
i =1
Onde:
si =
Xi
n
∑X
i =1
i
Em que,
si : parcela das vendas de cada empresa no mercado interno;
X i : vendas internas de cada empresa;
6
n
∑X
i =1
i
: vendas internas total.
A parcela das vendas internas das maiores empresas do setor é analisada pelo índice
CR(k), porém, limitando a análise já que não considera a dispersão dentre as empresas da
indústria. Diante disso, se faz necessário a utilização de outros índices de concentração, como
o Índice Hirschman-Herfindahl (HH). No entanto, a ausência de dados disponíveis sobre as
vendas das empresas de menor porte (agregadas como “outras” nas estatísticas) não permite o
cálculo de tais índices.
Sendo assim, os índices de concentração pretendem fornecer um indicador substancial
da concorrência existente em uma determinada indústria. Quanto maior o valor da
concentração, menor é o grau de concorrência entre as empresas, e mais concentrado (em uma
ou poucas empresas) estará o poder de mercado da indústria. O nível de concorrência vigente
em um determinado setor é o resultado da ação dos produtores individuais (conduta), pois ao
escolherem os níveis de preço ou as quantidades ofertadas (variáveis estratégicas), dadas às
características específicas dos produtos fabricados (substitutos), as preferências dos
consumidores e as condições de acesso (existência ou não de barreiras de mercado à entrada
de novas empresas). Além disso, as taxas de preferências intertemporais dos agentes, seus
graus de informação e seus coeficientes de aversão ao risco (incerteza) são fatores que
influenciam as tomadas de decisão de cada empresa.
Posteriormente, a conduta das empresas determina o desempenho destas. Desta forma,
os resultados obtidos pelas firmas lhes conferem um nível de poder de mercado individual
(oportunidade que a empresa tem de ofertar seu produto com um preço acima do ponto de
equilíbrio entre a receita marginal e o custo marginal) dentro da indústria, sendo que tal
evento é possível de ser detectado pelos índices de concentração e dispersão. Visto que o
poder de mercado influencia, ou é influenciado, pela quantidade de demandantes que as
empresas, com sua capacidade de oferta, podem atender.
4 – Resultados e Discussão
Ao longo do período analisado, empresas deixaram de operar, como foi o caso da
Muller S. A. Indústria e Comercio. Já a YANMAR do Brasil S.A., que no ano de 1999
apresentou produção equivalente a aproximadamente 2,39% da produção total do ano teve, a
partir de 2003, suspensão da divulgação de seus dados individuais. Durante o período
disponibilizado (1999 a 2003) houve o crescimento da produção, assim como o ocorrido com
as outras firmas do setor. A YANMAR, que teve sua denominação alterada para YANMAR
SOUTH AMERICA Ind., produz para a América Latina a linha de produtos agrícolas de
pequeno porte como pulverizadores, bombas de alta pressão, derriçadeira e roçadeira, mas nos
dados disponibilizados pela ANFAVEA estão agregados na categoria “outras empresas”. Em
relação aos tratores de roda, esta produz vários modelos de motores estacionários que são
vendidos a outras empresas nacionais do setor (Portal YANMAR SOUTH AMERICA, 2009).
A produção de tratores de rodas, no início deste século era direcionada quase que
exclusivamente para o mercado interno. No entanto, o forte crescimento das exportações no
período de 2002 a 2005 foi o que permitiu a sustentação do crescimento da produção, pois as
vendas internas decresceram nesse período. O Moderfrota está relacionado ao mercado
interno, de modo que é interessante separar a análise entre a produção e o volume de vendas
internas. As tabelas 4 e 5 apresentam esses valores referentes à primeira década do século
XXI.
A Agrale S. A. inicialmente é uma das menores empresas em relação a sua produção
total de tratores de rodas, dentre as divulgadas pela ANFAVEA no ano de 1999.
7
Aparentemente beneficiou-se da política do MODERFROTA, já que mostrou um grande
crescimento decorrente do cenário econômico do período (Tabela 6), sem passar por nenhum
processo de fusão ou abertura de capital, ao longo dos últimos anos expandiu seu portfólio em
relação aos produtos ofertados ao setor agroindustrial, é uma empresa de capital brasileiro, o
qual se utiliza de produtos de origem YANMAR (Portal Agrale S. A., 2009).
8
Tabela 4 – Brasil: produção anual de unidades de tratores de rodas, período de 1999 a 2008.
AGCO
New Holland
Valtra
John Deere
Agrale
Case
Yanmar
Muller
Outras
Total
1999
6.939
4.854
5.738
2.131
491
253
500
5
20.911
2000
9.477
6.251
6.702
3.742
737
181
447
9
27.546
2001
14.040
8.307
7.330
3.634
789
27
2002
16.264
9.752
8.449
4.082
946
179
2003
19.348
10.449
9.087
5.829
1.009
713
2004
21.975
10.619
9.898
6.969
1.761
702
2005
20.013
6.444
7.924
4.417
1.053
102
2006
14.782
7.648
7.169
3.302
1.171
413
2007
19.326
11.467
10.859
5.373
1.497
763
2008
24.314
14.751
13.850
8.869
1.841
1.205
680
674
844
918
1.101
1.434
1.674
40.352
47.109
52.768
40.871
35.586
50.719
6.6504
9
34.136
Fonte: Anfavea (2009)
Tabela 5 – Brasil: vendas internas de tratores de rodas, período de 1999 a 2008.
AGCO
New Holland
Valtra
John Deere
Agrale
Case
Yanmar
Muller
Outras
Total
1999
5.988
4.363
5.187
2.190
420
109
526
5
18.788
2000
8.084
5.798
5.810
3.297
667
183
443
9
24.291
2001
9.703
7.228
6.549
3.051
763
166
621
9
28.090
2002
11.340
8.760
7.458
3.953
855
169
651
33.186
2003
9.654
7.213
6.851
3.671
904
423
2004
9.740
6.263
7.062
2.874
1.575
290
2005
5.881
2.734
5.369
1.634
924
138
2006
6.446
3.761
5.731
1.652
1.171
236
2007
9.378
6.642
8.597
2.829
1.507
381
2008
12.550
9.684
11.048
4.743
1.604
691
689
832
863
1.144
1.357
0
1.646
29.405
28.636
17.543
20.141
30.691
41.966
Fonte: Anfavea (2009).
9
Tabela 6 – Evolução das vendas internas, empresas selecionadas, período de 1999 a 2008, base 1999 =
100.
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
AGCO
100,0 135,0 162,0 189,4 161,2 162,7 98,2 107,6 156,6 209,6
New Holland 100,0 132,9 165,7 200,8 165,3 143,5 62,7 86,2 152,2 222,0
Valtra
100,0 112,0 126,3 143,8 132,1 136,1 103,5 110,5 165,7 213,0
John Deere
100,0 150,5 139,3 180,5 167,6 131,2 74,6 75,4 129,2 216,6
Agrale
100,0 158,8 181,7 203,6 215,2 375,0 220,0 278,8 358,8 381,9
Case
100,0 167,9 152,3 155,0 388,1 266,1 126,6 216,5 349,5 633,9
Fonte: ANFAVEA (2009)
No ano de 2000 a empresa New Holland Latino Americana LTDA, do grupo FIAT, o
qual possuía uma grande fatia do mercado nacional de tratores, correspondendo à terceira
colocação em produção total no ano de 1999 e permanecendo no ranking no ano de 2008,
fundiu-se com a antiga J. I. Case passando a se chamar Case Brasil & Cia. Foi criada assim a
CNH Global, segunda maior empresa no ramo de tratores de rodas em produção. A empresa
Stayer também pertence ao grupo (Portal New Holland Latino Americana LTDA, 2009, e
Case Brasil & Cia, 2009).
A AGCO do Brasil Com. e Ind. LTDA desde o ano de 1999 vem liderando a produção
de tratares de roda nacional, pertencente ao grupo de empresas do ramo como MasseyFerguson e Valtra, empresas reconhecidas e de alta qualidade (Portal AGCO do Brasil Com. e
Ind. LTDA, 2009). A empresa Valtra do Brasil foi adquirida pelo grupo AGCO do Brasil
Com. e Ind. LTDA no ano de 2005 (Portal Valtra do Brasil, 2009).
No ano de 1996, o grupo John Deere entrou no mercado brasileiro através da linha de
tratores John Deere, com a marca SLC - John Deere LTDA, o qual começou a sociedade com
40% desta. No ano de 1999, a John Deere aumentou novamente seus investimentos no Brasil
adquirindo o controle total do capital da SLC – John Deere S.A.. Entre 2003 e 2004, a
empresa anunciou investimentos para sua ampliação, período o qual apresentou maior
produção (Portal John Deere S. A., 2009).
Para análise da concentração de mercado, os dados foram agregados por grupo
econômico, considerando o exposto nos parágrafos anteriores. Como o objetivo do presente
trabalho é a análise da estrutura do mercado brasileiro, foram levantados os dados somente
referentes às vendas no mercado interno, isto é, desconsiderou-se o volume exportado pelas
empresas. A Figura 4 apresenta a evolução das vendas consideradas na análise de
concentração.
10
25.000
20.000
Unidades
AGCO
15.000
New Holland
Valtra
10.000
John Deere
Agrale
5.000
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
0
Observações:
1) A partir de 2005, as vendas da AGCO estão somadas às vendas da Valtra.
2) As vendas da New Holland incluem as vendas da Case.
Figura 4 – Brasil: evolução das vendas internas de tratores de rodas, por grupo econômico, no período
de 1999 a 2008.
Fonte: elaborado pelos autores.
A indústria de tratores de rodas brasileira, ao longo de todo período analisado
mostrou-se com concentração elevada (Tabela 7). Nota-se que no período em que os
desembolsos do Moderfrota foram crescentes (até 2002), houve aumento da concentração,
sendo que a redução dos desembolsos coincide com a queda na concentração industrial. A
exceção neste processo foi o ano de 2005, em que houve a citada aquisição da Valtra pela
AGCO.
Tabela 7 – Brasil: concentração nas vendas internas de tratores de rodas, período de 1999 a 2008.
Ano
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
C2
59,48%
57,90%
60,87%
61,08%
58,80%
58,67%
80,50%
80,30%
81,45%
80,95%
C4
94,94%
95,39%
95,04%
95,46%
94,58%
91,59%
95,08%
94,32%
95,58%
96,18%
C6
99,97%
99,96%
99,97%
100,00%
100,00%
100,00%
100,00%
100,00%
100,00%
100,00%
Fonte: elaborado pelos autores
11
5 – Considerações finais
Embora a concentração industrial tenha se elevado durante a última década, seu
comportamento foi distinto em diferentes momentos. No início do período analisado
(primeiro triênio), época em que houve forte política favorável ao setor, destacando-se a
implantação do Moderfrota, a concentração elevou-se. Já no segundo triênio, quando a oferta
de crédito para o setor foi restrita, a estrutura foi mais favorável a competição, com redução
do indicador de desigualdade. O período final, caracterizado por fusão de empresas, elevou a
concentração de forma importante.
O comportamento verificado na primeira metade da década analisada sugere que
novas investigações sejam realizadas no sentido de verificar se a política para o setor
incentivou o grau de concentração industrial, verificando quem foram os agentes beneficiários
de programas como o Moderfrota.
Adicionalmente, a maior mecanização do campo, os investimentos realizados no
período, sugere a hipótese, a ser verificada em estudos futuros, de que a maior concentração
industrial beneficiou o setor e a agropecuária. A identificação de economias de escala na
indústria de tratores de roda é tema para novos estudos.
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