Pronunciamento senador Neuto De Conto* Sessão Ordinária do Senado Federal Data: 13/5/2009 Tema: Crise financeira e o setor de alimentos Senador Presidente, Mão Santa, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, inúmeros estudos apontam que o setor da economia brasileira mais exposto ao impacto da crise econômica internacional é o sistema financeiro, a construção civil residencial e comercial, os prestadores de serviços, fabricantes de bens duráveis e semiduráveis e toda a cadeia de agrobusiness. Os produtores de alimentos estão sendo afetados, porque não encontram mais financiamento internacional. Os produtos estão sofrendo desvalorização e os mercados consumidores estão retraídos. No plano interno, a situação não é muito diferente, apesar da sinalização e dos esforços que vêm sendo realizados pelo Governo, desde o início da crise. A oferta de crédito diminuiu, o dinheiro desapareceu. Desde setembro do ano passado, percebemos que começou a se verificar uma redução significativa na oferta de crédito e uma diminuição do investimento na produção agrícola, devido à desaceleração registrada no comércio internacional. Recentemente, em entrevista nos Estados Unidos, o Ministro Guido Mantega anunciou que o Governo ainda dispõe de instrumentos monetários eficazes para acelerar o mercado. Lembrou que já foram liberados mais de R$100 bilhões para estimular o crédito e que o Banco Central ainda dispõe de R$160 bilhões em depósitos compulsórios. Por fim, disse que o Brasil conta com cerca de US$200 bilhões em reservas internacionais. Mesmo assim, creio que seria prudente não esquecerem que a expansão dos gastos públicos é limitado, e a crise, ao que tudo indica, será de longa duração. Os analistas acham que uma melhoria na escala geral vai demorar ainda alguns anos. A estimativa é que um quadro de reaquecimento global na economia, com a retomada do apetite do mercado internacional para o consumo, só deverá acontecer nos próximos anos. De qualquer forma, para o nosso País não há mais como se afastar da crise que começou com o colapso do setor imobiliário americano e continua a causar grandes choques no sistema financeiro mundial. Desde 1929, a economia internacional não atravessava tamanha recessão. Na opinião de diversos economistas, a crise atual é muito mais grave que a de 29. Naquela época, o mundo não era globalizado, o comércio internacional era modesto e o sistema financeiro internacional, limitado. A partir do segundo semestre de 2008, a economia brasileira começou a perder os bons resultados que acumulou até o final de agosto. Apesar das fortes quedas registradas na produção e da diminuição do consumo, o ano terminou positivo para a economia como um todo. Durante todo o ano de 2008, a economia registrou um crescimento de 5,1% contra 5,7%, em 2007. No entanto, logo no início deste ano, os Ministros da área econômica começaram a reconhecer que a crise havia realmente desembarcado em nossas terras. Os primeiros dados divulgados em 2009 mostram que a balança comercial teve o pior desempenho desde março de 2001, apresentando, em janeiro passado, um déficit de US$518 milhões, segundo divulgação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Nesse cenário de grande turbulência, desconfiança, recessão, dificuldades e nervosismo dos mercados, o agronegócio brasileiro tenta resistir confiante em sua grande capacidade de recuperação e enorme potencial adquirido ao longo dos anos de trabalho, do progresso e de modernização. Somos os maiores exportadores mundiais de carne bovina, de frango, de café, de cana-de-açúcar, de laranja, soja, tabaco e de outros produtos agrícolas como frutas e milho, mas, de repente, fomos surpreendidos pela crise, e os países importadores diminuíram suas compras. Entretanto, com o mercado consumidor internacional mais calmo, como se espera que aconteça a médio prazo, e com a desvalorização do real frente ao dólar que já atingiu o limite, a produção brasileira poderá encontrar uma saída para vender seus produtos a preços mais competitivos: US$1,00 que poderia ser estabilizado à faixa de R$2,30. De acordo com estudos realizados pelo Professor Alexandre Mendonça de Barros, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, mesmo em recessão, os países ricos não deverão restringir drasticamente o consumo de alimentos. Porém, as perspectivas são de safra menor para este ano. Segundo estimativa feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o ciclo 2008/2009, a produção deverá ser, no máximo, de 141.800.000 toneladas de grãos, o que representaria uma queda de 1,4% sobre a safra atual. Para o Dr. Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura, os custos de produção estão 30% mais caros e os produtores, receosos com os novos desdobramentos da economia mundial. No final de janeiro passado, o Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo divulgou uma série de dados importantes sobre o desempenho do conjunto da agricultura brasileira. Os números revelam que, no primeiro mês de 2009, as exportações do agronegócio brasileiro recuaram 11,4% em relação ao mesmo mês de 2008, atingindo US$4,34 bilhões. No que se refere às importações, o recuo foi de 29,6%, também em comparação com janeiro de 2008, somando US$1,4 bilhão. Mesmo com esse resultado, o IEA amostra que o desempenho do agronegócio brasileiro sustentou a balança comercial. O superávit do agronegócio registrou, em janeiro de 2009, US$2,940 bilhões. Entre os fatores adversos que explicam o fraco desempenho de janeiro das exportações dos produtos primários, destaca-se a queda dos preços das commodities da pauta de exportação. A partir de meados de setembro, com os primeiros sinais da crise, as cotações dos produtos da agricultura começaram a cair. Todavia, os impactos não foram sentidos de imediato porque, como é de praxe, as negociações com as mercadorias do agronegócio são sempre realizadas com antecipação. Como os preços estavam elevados até agosto, os resultados negativos, principalmente de grãos e oleaginosas, não se refletiram de forma significativa nas estatísticas das exportações agrícolas brasileiras. Sr. Presidente, Srs. Senadores, o nosso pronunciamento se estenderia por mais um longo tempo. Por isso, peço a V. Exª, Sr. Presidente, que dê como lido o total do discurso, pois ele faz uma análise profunda sobre o futuro do agronegócio do Brasil. Este País, que tem terra, água, clima, gente e tecnologia poderá ser, sim, o maior produtor e o maior exportador de alimentos para não só alimentar o Brasil, mas também todo o mundo. Muito obrigado, Sr. Presidente. * Senador pelo PMDB-SC e membro da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop)