1 VANESSA RUOTOLO FERREIRA ESCALA DE DISTÚRBIOS DO SONO EM CRIANÇAS: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Medicina, Escola 2009 de para obtenção do Título de Mestre em Ciências São Paulo Paulista 2 VANESSA RUOTOLO FERREIRA ESCALA DE DISTÚRBIOS DO SONO EM CRIANÇAS: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Medicina, Escola Paulista de para obtenção do Título de Mestre em Ciências Orientador: Prof. Dr. Gilmar Fernandes do Prado Co-orientadora: Dra. Luciane Bizari Coin de Carvalho Dra. Lucila Bizari Fernandes do Prado São Paulo 2009 3 Ferreira, VR Escala de Distúrbios do Sono em Crianças: tradução, adaptação cultural e validação/ Vanessa Ruotolo Ferreira – São Paulo, 2009; XI, 60p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós Graduação. Título em inglês: Sleep Disturbance Scale for Children: translation, cultural adaptation and validation. 1. Escala de Distúrbios do Sono 2. Crianças 3. Tradução 4. Validação 4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA DISCIPLINA DE MEDICINA DE URGÊNCIAS E MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS Chefe do Departamento de Medicina: Prof. Dr. Ângelo Amato Vincenzo de Paola Coordenador do Programa de Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica: Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah 5 Vanessa Ruotolo Ferreira ESCALA DE DISTÚRBIOS DO SONO EM CRIANÇAS: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO Presidente da banca: Prof. Dra. Luciane Bizari Coin de Carvalho BANCA EXAMINADORA Mônica Cintrão França Ribeiro Rosana Souza Cardoso Alves Sueli Rizzutti Suplente: Maria Lígia Juliano 6 Dedicatória A minha sensibilidade dedico ao Jonen, meu grande amor, com quem cultivo a arte de amar e conviver. A minha curiosidade dedico a minha filha Giovanna, parceira de autoconhecimento e perseverança. O meu envolvimento dedico ao meu filho Otávio, com quem aprendi a me entregar e dividir. Ao meu pai Gilberto (in memoriam) dedico minhas vitórias, porque com ele aprendi a sonhar. A minha coragem dedico à Sônia, minha mãe, que me ensinou a lutar. A minha irmã Fabiana dedico minha escolha, porque com ela aprendi a me diferenciar. 7 Agradecimentos Ao Prof° Dr. Gilmar Fernandes do Prado pela orientação, dedicação e sabedoria na condução deste trabalho. “Sua generosidade em distribuir seus conhecimentos é algo que nunca vou esquecer.” À Profª Dra. Luciane Bizari Coin de Carvalho, que com paciência me conduziu nesta jornada de crescimento profissional e pessoal. Você é minha mãe pedagógica, apoiando e incentivando minha vida acadêmica. À equipe do ambulatório Neuro-Sono, pelo convívio, amizade e acolhimento, em especial à Dra. Lucila Bizari Fernandes do Prado, pela permissão e confiança no trabalho com as crianças. Ao Dr. Oliviero Bruni pela assistência no desenvolvimento deste trabalho, mesmo com a distância e diferença de idioma. À minha tia Maria de Lourdes Fernandes Silva (professora de inglês) que dedicou grande parte de seu tempo na revisão da tradução do artigo. Ao José Fausto de Morais e Mayra Ivanoff Lora pelo auxílio com a análise estatística. À Eleida Pereira de Camargo que prontamente se disponibilizou para contactar e encaminhar as traduções. À Ana Maria Palma, Maria Assunta Bottari Palma pelas traduções das versões em italiano. À Maria Lígia pelo auxílio no envio do artigo para a revista Sleep Medicine. À Maria José Varela e Fabiana Ruotolo pela leitura da tese e contribuições. Aos secretários Davi, Mauro e Anderson pela colaboração. Às famílias que participaram deste projeto o tornando realidade. A todos que direta ou indiretamente estiveram envolvidos na realização deste trabalho. 8 Índice 1.0. Resumo e Abstract 1.1. Resumo 1.2. Abstract 2.0. Revisão da Literatura 2.1. Distúrbios do Sono em Crianças 01 02 04 06 07 2.2.Escala de Distúrbios do Sono em Crianças 2.3. Tradução e validação de instrumentos 2.3.1. Tradução e adaptação cultural 2.3.2. Validação 2.3.2.1.Validade 2.3.2.2.Confiabilidade 3.0. Artigo em Português Introdução Métodos Resultados Discussão Conclusão Figura 1 Tabela 1 Tabela 2 Tabela 3 Tabela 4 Anexo 1 Anexo 2 Referências Bibliográficas 4.0. Referências Bibliográficas da revisão de literatura 5.0. Anexos Anexo I . Classificação Internacional de Distúrbios do Sono Anexo II . Roteiro de Anamnese Anexo III. Diário do Sono Anexo IV. Aceite do comitê de ética em pesquisa pela Sleep Medicine Anexo V. Termo de Consentimento livre e esclarecido Anexo VI. Protocolo de aceite do artigo Anexo VII. Artigo em inglês Anexo VIII. Escala em inglês - “Sleep disturbance scale for children” Anexo IX. Escala em italiano-“Scala per la valutazione dei disturbi del sonno” 18 20 20 23 24 25 27 28 30 37 40 43 44 45 46 47 48 49 50 51 55 61 9 Anexo X.Escala em português – “Escala de Distúrbios do Sono em Crianças” Anexo XI. Obras consultadas 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ASDA – American Sleep Disorders Association DD - Distúrbios do Despertar DIMS – Distúrbios de Início e Manutenção do Sono DP – Desvio Padrão DRS – Distúrbios Respiratórios do Sono DTSV – Distúrbios da Transição Sono-Vigília HS - Hiperhidrose do Sono EDSC - Escala de Distúrbios do Sono em Crianças PLMS – Movimento Periódico dos Membros PSG – Polissonografia REM – Rapid Eye Movement SAOS – Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono SBD – Sleep Breathing Disorders SDB – Sleep disordered-breathing SDSC – Sleep Disturbance Scale for Children SED - Sonolência Excessiva Diurna SARVAS - Síndrome da Resistência das Vias Aéreas Superiores PSQ - Pediatric Sleep Questionnaire CSHQ - Children`s Sleep Habits Questionnaire BISQ - Brief Infant Sleep Questionnaire IAH – Índice de Apnéia e Hipopnéia 1 1.0. RESUMO E ABSTRACT 2 1.1. RESUMOa Introdução: A Escala de Distúrbios do Sono em Crianças (EDSC) é um instrumento com 26 itens para a avaliação do sono em crianças com idades entre 3 e 18 anos. Ela é capaz de diferenciar os seguintes distúrbios: distúrbios de início e manutenção do sono, distúrbios respiratórios do sono, distúrbios do despertar, distúrbios da transição sono–vigília, sonolência excessiva diurna e hiperhidrose do sono. O objetivo deste estudo foi traduzir, adaptar culturalmente e validar a escala para o Português do Brasil. Método: O estudo foi realizado em duas fases: (1) tradução, retrotradução (back translation), pré-teste e cálculo do tamanho da amostra; (2) validação: confiabilidade (Alfa de Cronbach); validade convergente (Correlação de Pearson) e validade discriminante (comparação entre a pontuação da escala e os resultados polissonográficos). Cem crianças, com idades entre 3-18 anos, acompanhadas de seus pais e/ou responsáveis, participaram das fases. Polissonografias foram realizadas para o cálculo do tamanho da amostra e validação. Resultados: As instruções da escala e seus itens foram adaptados, levando-se em consideração as equivalências semânticas, conceituais, experienciais e culturais. A comunicação visual também foi adaptada para a preferência e hábitos da população brasileira, resultando em um questionário com instruções claras e de fácil reconhecimento das perguntas e das possíveis respostas. A análise de confiabilidade mostrou valor maior que 0,55. Há validade convergente razoável. A validade discriminante verificada através do uso do estudo polissonográfico para presença dos Distúrbios Respiratórios do Sono (DRS) a Versão do artigo publicado na revista Sleep Medicine 2009,10(4): 457-463– doi:10.1016/j.sleep.2008:03.018 3 foi 8,9 atestando a validade discriminante somente para DRS. As três perguntas da escala sobre DRS foram suficientes para predizer essa condição. Conclusão: A Escala de Distúrbios do Sono em Crianças foi traduzida, adaptada e validada para o português do Brasil, apresentando consistência interna, validade convergente e discriminante. Pode ser utilizada em estudos populacionais para predizer os DRS em crianças. Palavras-chave: Sono; Criança; Questionário; Validação; Escala de Distúrbios do Sono em Crianças. 4 1.2. ABSTRACT Introduction: The Sleep Disturbance Scale for Children (SDSC) is a 26-item instrument for evaluating sleep among children aged 3-18 years. It differentiates among conditions such as disorders of initiating and maintaining sleep, sleep breathing disorders, disorders of arousal, sleep-wake transition disorders, excessive somnolence, and sleep hyperhydrosis. The aim os this study was to translate, culturally adapt, and validate it for Brazilian Portuguese. Method: The study was carried out in two phases: (1) forward translation, back translation, pretesting, and calculation of sample size; (2) validation: reliability (Cronbach´s alpha), convergent analysis (Pearson correlation), and discriminatory validity (comparing scores of the test with the results of polysomnography). One hundred children, aged 3-18 years, accompanied by their parents and/or guardians participated in the phases. PSG studies have been done to calculate the sample size and validation. Results: The scale instructions and items were adapted regarding semantic, experiential, conceptual, and cultural equivalence validation. The scale structure related to visual communication was also adapted to Brazilian population preference and habits, and this resulted in a chart with clear instructions and easy recognition of the statements and possible responses. Reliability analysis showed values greater than 0.55. There has been reasonable convergent validity only for SDB. Discriminatory validity using the PSG study for positive sleep-disordered breathing (SDB) was 8.9, attesting discriminatory validity only for SDB.The three questions of the scale can screen SDB. 5 Conclusion: The SDSC was translated and validated for Brazilian Portuguese, and it presented internal consistency, convergent and discriminatory validity. It can be used in population-based studies in order to screen sleep-disordered breathing in children. Keywords: Sleep; Children; Questionnaire; Validation; Sleep Disturbance Scale for Children 6 2.0. REVISÃO DA LITERATURA 7 2.1. Distúrbios do Sono em Crianças Os Distúrbios do Sono podem aparecer ao longo de toda vida do ser humano, desde a época neonatal até a velhice, sendo frequentemente encontrados em crianças1. Ottaviano et al. encontraram que 35% das crianças menores de 2 anos possuem distúrbios de sono caracterizados por tempo maior que 30 minutos para o início do sono e despertares frequentes, 23 % nas crianças entre 2 e 3 anos e 14% das crianças de 4 a 6 anos2. Stein et al. encontraram que 20% das crianças em idade escolar apresentaram ronco, cansaço diurno e tempo prolongado para adormecer, pelo menos uma vez por semana3. Mindell et al. relataram que cerca de 20% a 25% das crianças e adolescentes apresentam algum tipo de distúrbios de sono4. Aproximadamente 30 a 34% das crianças da cidade de São Paulo têm um distúrbio do sono em algum momento da vida, que vai desde dificuldades em adormecer e despertares a distúrbios mais graves como a Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) 5,6. A grande prevalência das doenças relacionadas ao sono e seu potencial para interferir na qualidade de vida, inclusive das crianças, justificam a importância do conhecimento sobre o sono e seus distúrbios nas diferentes especialidades médicas7. As crianças, normalmente, não se queixam de problemas de sono, sendo motivo para que os pais e/ou responsáveis busquem auxílio médico 1. Quando se considera padrões de sono na criança, a idade tem especial importância, visto que alguns comportamentos ou atitudes, tais como alimentação noturna, enurese, cochilos diurnos, podem ser considerados normais ou não2,5,8. As diferentes culturas refletem idéias variadas sobre onde, como, quando e por que as crianças devem dormir e conceitos diversos sobre o que vem a ser um sono normal ou 8 um problema9,10. Os costumes e as tradições precisam ser considerados para o diagnóstico de distúrbio do sono1. O contexto familiar torna-se também importante para a compreensão do sono na criança e seus distúrbios. A doença de um dos pais, os problemas conjugais e a dinâmica familiar alterada podem resultar em insônia, ou como a queixa se apresenta: “meu filho não dorme”1,11. O nível de estresse familiar é outro fator que tem impacto sobre o sono das crianças, sendo que pais mais estressados tendem a ter práticas menos efetivas em relação aos limites impostos, refletindo na hora de dormir12,13. Os distúrbios do sono na criança prejudicam a qualidade e quantidade de sono dos pais, resultando em fadiga, cansaço, irritabilidade, menor tolerabilidade, alterando a afetividade e a efetividade de ser um cuidador13. As crianças com distúrbios do sono apresentam disfunções: cognitivas6,14-16 (aprendizagem, atenção, e na consolidação da memória17); na performance motora (equilíbrio estático)18 na regulação de humor (irritabilidade); e problemas no comportamento (agressividade, hiperatividade, impulsividade)19,20. O sono inadequado pode levar a diversas comorbidades, como retardo do crescimento, alterações cardiovasculares, imunológicas e metabólicas21, afetando a qualidade de vida da criança7. Em geral, os distúrbios do sono podem ser agrupados para facilitar o diagnóstico, o aprendizado ou a comunicação científica. Ao longo dos anos, algumas tentativas foram realizadas, porém ainda não há um consenso sobre qual seria a mais adequada22,23 (Anexo I). A seguir, serão descritos alguns distúrbios do sono em crianças. 9 1. Insônia Comportamental da Infância Insônia é a dificuldade em iniciar, manter o sono ou despertar antes do horário desejado24. A Insônia Comportamental da Infância pode ser caracterizada por problemas na hora de dormir, resistência em ir para a cama, dificuldades para adormecer, despertares frequentes e prolongados, acordar antes da hora desejada ou sonolência excessiva diurna (SED)24. Apresenta-se em três formas: a de associação para o início do sono, a falta de imposição de limites e uma combinação entre as duas. No distúrbio de associação para o início do sono a condição solicitada pela criança para adormecer será a mesma para retornar ao sono depois de “despertares normais” durante a noite. É positiva, quando a criança cria sua própria condição para adormecer ou retornar a dormir, ou negativa quando a criança necessitar de outra pessoa ou estímulos externos para induzir o sono ou o seu retorno. A associação negativa envolve a assistência dos pais ou condições ambientais, cuja ausência resulta em despertares frequentes ou em longos períodos acordados durante a noite24,25. Na falta de imposição de limites, as recusas em ir para a cama ou o adiamento da hora de dormir podem ser vistas quando a criança faz solicitações repetidas por atividades adicionais, que envolvam mais televisão, mais outra história, mais água, mais outro abraço, entre outras ou tendo acessos de choro, “birra”, “manha” que atrasam a hora de dormir24. 10 O diagnóstico é realizado essencialmente pela história clínica (Anexo II), complementado pelo Diário do Sono (Anexo III), que é um instrumento útil para determinar os padrões e comportamentos de sono e vigília, durante a semana e finais de semana. Neste diário, são anotados, de modo gráfico, o horário de deitar, dormir, acordar e levantar, a ocorrência de despertares e eventos durante o sono com horários e duração, assim como para os cochilos26. 2. Transtornos Rítmicos do Movimento Os Transtornos Rítmicos do Movimento consistem em movimentos esteriotipados, principalmente na parte superior do corpo, ocorrendo principalmente na transição entre a vigília e o sono, podendo também ocorrer após um despertar durante a noite27,28. Este comportamento pode causar lesões no corpo ou prejuízos nas funções diárias28. Estes transtornos acometem crianças normais, resolvendo-se até os 5 anos de idade, sendo percebidos como algo prazeroso para a criança, conduzindo ao sono ou retornando a ele depois de acordar no meio da noite27,29. As crianças ao acordarem no dia seguinte ao evento, não se lembram de sua ocorrência28. Os pais precisam estar cientes de que, embora o comportamento seja bizarro, é passageiro e não está associado a distúrbios psicológicos ou físicos até os 4 anos de idade27. Os 3 tipos mais comuns de Transtornos Rítmicos do Movimento são: jactatio capitis (movimentar a cabeça de um lado para outro), bater a cabeça (“head banging”), rolar de um lado para outro (“body rolling”) ou o balançar do corpo (“body rocking”) 28.O “head 11 banging” é a forma mais comum da apresentação do transtorno que consiste em bater ritmicamente a cabeça no travesseiro ou talvez em uma superfície dura como a madeira da cama ou parede, com movimentos para frente e para trás. Uma combinação de dois ou mais transtornos rítmicos do movimento também pode ocorrer28,29. A causa até o momento não é conhecida, mas sabe-se que a auto-estimulação, o estresse ambiental, a falta de estímulo do ambiente, os comportamentos de ganho de atenção e de agressão passiva podem ser considerados nestes transtornos. Há um aumento de ansiedade nestas crianças29. 3. Bruxismo O Bruxismo é caracterizado pelo ato involuntário, não funcional e forçado de ranger os dentes durante o sono, produzindo um barulho sem que a criança perceba. Normalmente acontece no sono mais superficial, porém pode acontecer em todos os estágios do sono 27,28. Estudos mostram que estas crianças têm maior propensão a desenvolverem disfunções temporo-mandibulares e dores de cabeça, apresentando tendência de ansiedade aumentada28. Sua ocorrência é relatada em 20% das crianças com queixas de dor de cabeça ou na face, podendo haver, nos casos graves, variados graus de deterioração nos dentes 27. 12 4. Sonambulismo e Sonilóquio O sonambulismo que é despertar ou despertar parcial, isto é presença de atividade motora sem consciência tem sua maior ocorrência em crianças com idades entre 3 e 10 anos28. O episódio de sonambulismo pode ser agitado ou calmo, com vários graus de complexidade e duração, sendo percebido quando a criança levanta ou rasteja ao redor do berço, ou caminha calmamente dormindo até a cama dos pais. Algumas crianças podem ter episódios agitados, restringindo-se ao próprio quarto, deslocando-se para outros cômodos, chegando a sair de casa, tendo risco de se machucarem com comportamentos perigosos, já que não são conscientes, como pular de uma janela alta ou andar pela rua, por exemplo 28-30. O sonilóquio é caracterizado como falar durante o sono. As palavras podem ser compreendidas ou não pelo interlocutor, chegando a constituir frases inteiras com conteúdo ou contexto pertinentes, ou serem desconexas ou incompreensíveis. É uma parassonia bastante comum, ocorrendo em qualquer estágio do sono, sendo breve e sem consequências28. 5. Terror Noturno e Pesadelos O terror noturno é uma parassonia que se caracteriza por despertar parcial do sono de ondas lentas que acomete 3% das crianças. Os episódios assustam os pais, pois há gritos, agitação, sudorese, face ruborizada, terrificada e taquicardia, não trazendo nenhum benefício a intervenção dos pais28. Os episódios duram, em geral, de poucos segundos a 13 minutos e tipicamente acabam com a o retorno ao leito. Em geral, não há lembrança do episódio e caso a criança acorde ao final de um episódio, pode descrever os sentimentos primitivos de perigo, sem haver a narrativa completa como no pesadelo 27. Os pesadelos acontecem com maior frequência na parte final do sono, quando o sono REM é mais abundante. Seu conteúdo varia com a idade, tendendo a ser mais complexo. A criança acorda muito assustada e em alerta descreve vividamente o conteúdo do sonho, que normalmente envolve a criança27,28. 6. Distúrbios Respiratórios do Sono (DRS) Os Distúrbios Respiratórios do Sono abrangem desde o Ronco Primário até a Apnéia Obstrutiva do Sono. 6.1. Ronco Primário O ronco é o som produzido pela vibração do palato mole e dos pilares das tonsilas palatinas, indicando um estreitamento das vias aéreas durante o sono 31. O ronco pode variar de acordo com a posição do corpo e durante os estágios do sono, comumente piorando durante as infecções respiratórias ou crises de rinite alérgica32. O ronco se constitui num sintoma cardinal para os Distúrbios Respiratórios do Sono, pois reflete o estreitamento da via aérea superior33,34. 14 É comum, o ronco vir acompanhado de respiração oral ou hiperextensão do pescoço durante o sono, mecanismo de compensação que melhora a passagem do ar pela via aérea superior durante os períodos de obstrução parcial32. Com grande freqüência, os pais destas crianças relatam respiração oral, que afeta a arcada dental e o desenvolvimento facial progressivamente35,36. Estima-se que 3 a 27% das crianças são roncadoras habituais35, sendo que estas possuem o sono duas vezes mais agitado que as que não roncam36. As crianças que roncam, mas não apresentam hipoxemia, hipercapnia ou fragmentação do sono relacionada a eventos de obstrução parcial ou completa durante a polissonografia, recebem o diagnóstico de Ronco Primário 35. 6.2.Síndrome da Resistência das Vias Aéreas Superiores (SARVAS) O aumento da via aérea superior suficiente para prejudicar a qualidade do sono é a chamada Síndrome do Aumento da Resistência da Via Aérea Superior (SARVAS). Com prevalência desconhecida a SARVAS afeta as crianças que não se enquadram no critério diagnóstico para SAOS, não somente roncando, mas também sofrendo com a fragmentação do sono e morbidades comportamentais diurnas37. 15 6.3. Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono ( SAOS) A Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono na criança é caracterizada por episódios de obstrução parcial ou total da via aérea superior durante o sono com esforço respiratório torácico e abdominal28, acompanhada pela redução da saturação da oxihemoglobina, redução da carboxihemoglobina ou hipercapnia33. A prevalência da Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono estimada em crianças é de 1 a 3% com distribuição igualitária entre os sexos37,38. As manifestações clínicas incluem o ronco habitual, respiração oral, sono agitado, enurese, fadiga diurna, mudanças de humor e desatenção. Os fatores predisponentes incluem a hipertrofia adenotonsilar, distúrbios neuromusculares, hipoplasia maxilar e macroglossia, entre outros28. A história clínica e exame físico são importantes para o diagnóstico dos distúrbios do sono1,21, e para o tratamento26. Entretanto, exames subsidiários podem ser de grande valia para complementar o diagnóstico. A cefalometria, traçada a partir da telerradiografia, é importante para avaliar anormalidades anatômicas, acompanhamento do crescimento craniofacial e desenvolvimento de planos de tratamento ortodôntico e facial ortopédico 39. Permite a visualização do espaço nasofaríngeo da via aérea superior em toda sua extensão. Sua correta interpretação favorece o diagnóstico precoce dos distúrbios respiratórios durante o sono, sendo o ronco a variável mais importante associada com a morfologia craniofacial40,41 . 16 A nasofibroscopia é um método endoscópico de diagnóstico, que permite a observação direta da nasofaringe e sua avaliação funcional, sendo mais fidedigna que a radiografia lateral do cavo na avaliação do tamanho e formato da tonsila faríngea42,43. A Polissonografia é o estudo laboratorial do sono que inclui: eletroencefalograma, eletrooculograma, atividade muscular (normalmente do músculo anterior da tíbia), eletrocardiograma, monitorização da respiração, além da monitoração através de áudio e vídeo1,26,31,44,45. É considerada padrão-ouro para diagnóstico dos Distúrbios Respiratórios do Sono. No entanto, o custo na execução para estudos epidemiológicos, o número insuficiente de laboratórios e técnicos especializados em distúrbios de sono em criança, levam a um tempo de espera prolongado, incentivando a procura de novos instrumentos de rastreamento dos distúrbios respiratórios do sono37. O relato dos pais sobre a presença de ronco na criança é considerado um indicador de risco da existência de Síndrome da Apnéia Obstrutiva, devendo ser considerado critério clínico importante na decisão de avaliação polissonográfica46. Buscar instrumentos para avaliação do sono em pediatria é importante para utilidade na prática clínica e científica42. O uso de questionários para avaliação é útil, uma vez que permite a padronização, uniformização e reprodutibilidade das medidas propostas. A escolha de um instrumento de avaliação precisa levar em conta se seus componentes são claros, se é simples, de fácil compreensão e aplicação, e se possui tempo de administração apropriado47. Os questionários para crianças são em sua maioria internacionais: como o “Pediatric Sleep Questionnaire - PSQ” 37 , “Children`s Sleep Habits Questionnaire – CSHQ” 48, “Brief Infant Sleep Questionnaire - BISQ” on sleep apnea study” 50 49 e “Tucson Children`s assessment , entre outros. Alguns são traduzidos para a língua portuguesa 17 como o “Questionário sobre sintomas de Distúrbios Respiratórios do Sono” 51 , “Inventário dos hábitos de sono para crianças” e “Questionário sobre o comportamento de sono” 42. Há um instrumento validado para a língua portuguesa “OSA-18” 7, que é um instrumento para avaliação de qualidade de vida para pacientes com Distúrbios Respiratórios do Sono. 18 2.2. Escala de Distúrbios de Sono em Crianças A escala de Bruni et al.52 foi publicada em 1996, com o objetivo de acessar uma variedade de comportamentos relacionados ao sono de crianças e adolescentes. O desenvolvimento do instrumento foi realizado de modo que: fosse proposta uma medida padronizada para crianças e adolescentes através de um índice de fácil e rápido uso para clínicos e pesquisadores; fosse criada uma base de dados de uma grande população para definição de valores normais; fossem definidos itens diferentes que pudessem ser usados como detector de áreas especifica dos distúrbios do sono e das crianças com distúrbios do sono. Os itens escolhidos para o questionário foram derivados da experiência clínica e revisão de questionários prévios da literatura. O item que descrevesse um sintoma típico de algum distúrbio do sono era selecionado, mesmo que tivesse baixa frequência na população. Foram formadas 45 questões e aplicadas em duas escolas de Roma, sendo que as questões não compreendidas foram omitidas ou clarificadas. O cálculo da confiabilidade (consistência interna) e validade discriminante eliminaram-nas e as que não alteraram a consistência interna foram mantidas. O questionário acessa distúrbios do sono e comportamentos nos seis meses prévios, discriminando entre algo transitório e persistente. A análise fatorial distinguiu seis fatores: Fator 1 - DIMS (Distúrbios de Início e Manutenção do Sono) que abrange: duração do sono (questão 1), latência do sono (questão 2), ir para a cama sem relutância (questão 3), dificuldade em adormecer (questão 4), 19 adormecer sem ansiedade (questão 5), despertares noturnos (questão 10) e dificuldade em adormecer (questão 11). Fator 2 - DRS (Distúrbios Respiratórios do Sono) abrangendo: dificuldades respiratórias (questão 13), apnéia do sono (questão 14) e ronco (questão 15). Fator 3 - DD (Distúrbios do Despertar) abrangendo: sonambulismo (questão 17), terror noturno (questão 20) e pesadelos (questão 21). Fator 4 – DTSV (Distúrbios da Transição Sono-Vigília) que abrange: “hypnic jerks” - abalos (questão 6), distúrbios rítmicos do movimento (questão 7), alucinações hipnagógicas (questão 8), movimentação noturna (questão 12), sonilóquio (questão 18) e bruxismo (questão 19); Fator 5 – SED (Sonolência Excessiva Diurna) abrangendo: dificuldade em acordar (questão 22), acordar cansado (questão 23), paralisia do sono (questão 24), sonolência diurna ( questão 25); Fator 6 – HS (Hiperhidrose do Sono) com as questões: adormecer suado (questão 9), transpirar durante a noite (questão 16). 20 2.3. Tradução e validação de instrumentos 2.3.1. Tradução e adaptação cultural Clínicos e pesquisadores sem um instrumento adequado para medida em sua própria língua têm duas opções: desenvolver uma nova medida ou modificar uma medida previamente validada em outra língua, tendo conhecimento do processo de adaptação cultural53,54. A primeira opção demanda muito tempo e empenho, tanto pessoal quanto financeiro para que um novo instrumento seja criado, adequando conceitos, selecionando os itens e testando sua validade. É preciso avaliar a real necessidade de se criar um instrumento, caso exista um anterior com a mesma proposta e de boa qualidade54,55. Na segunda opção, fazem-se necessárias a tradução, adaptação cultural e avaliação de suas propriedades de medida após sua tradução 53,54,56. Deve-se levar em conta que a maioria dos instrumentos é formulada na língua do pesquisador, sendo destinado àquela população específica em seu cenário cultural especifico. O processo de tradução e adaptação cultural deve ser considerado quando os instrumentos forem utilizados em outros países, culturas e línguas. A tradução não deve ser somente linguística, mas culturalmente adaptada para manter as mesmas propriedades de medidas do instrumento original54,57. Beaton et al.54, após revisão da literatura, propuseram um conjunto de instruções padronizadas (guideliness) para a adaptação cultural de instrumentos. As etapas são cinco: Tradução, Síntese das traduções, Back-translation (retrotradução), Comitê de Revisão e Pré-teste. 21 A tradução deve ser feita por pelo menos dois tradutores independentes e qualificados, cientes do objetivo da tradução e com conhecimentos prévios sobre a doença estudada. Deve ser enfatizada a tradução conceitual e não a estritamente literária53,54. Na síntese das traduções as duas traduções iniciais, a partir do instrumento original, são comparadas para que uma única versão seja produzida, através do consenso entre os revisores54. No Back-translation (retrotradução) ou avaliação da tradução inicial, a tradução deve ser vertida para a língua original e o resultado comparado ao instrumento de origem. Esta etapa deve ser realizada por outros dois tradutores independentes e nativos que apresentem bom conhecimento dos dois idiomas, não devendo estar cientes do objetivo da tradução ou possuir conhecimentos sobre a doença a que o instrumento se propõe53,54. O Comitê de Revisão deve ser formado por uma equipe multidisciplinar conhecedora da doença em questão, da finalidade do instrumento e dos conceitos a serem analisados. O comitê deve ser constituído para produzir uma versão final do instrumento com base nas diversas traduções e back-translation, comparando os resultados entre si53,54. As versões devem ser revisadas através de consenso, sendo que alterações à versão podem ser implementadas, dando-se atenção especial ao tempo verbal54,57. Em alguns casos faz-se necessário modificar as instruções, o formato ou rejeitar alguns itens não apropriados. O Comitê deve ter certeza de que a introdução do instrumento e as instruções para o preenchimento do questionário estejam cuidadosamente traduzidas, de forma a reproduzirem a sua reaplicabilidade de medida54. Há recomendações que incluem: sentenças curtas com palavras chave em cada item de maneira simples; voz ativa ao invés de voz passiva; uso de termos específicos no lugar de gerais. Os autores devem evitar: metáforas; modo subjetivo; advérbios e preposições; 22 formas possessivas; palavras “vagas”; e sentenças que contenham dois verbos sugerindo ações diferentes53. Na avaliação dos instrumentos, alguns aspectos devem ser considerados53,54: Equivalência semântica: baseia-se na avaliação da equivalência gramatical e de vocabulário. Algumas alterações gramaticais, às vezes, são necessárias para que as sentenças sejam construídas. No verbo “ser/estar” foi modificado para sentir (sente-se); a palavra “improvisamente” por não possuir significado inteligível teve sua tradução como “sem aviso prévio”, precisando ser adaptada para “sem avisar”. Equivalência idiomática: algumas expressões idiomáticas raramente são traduzidas, precisando ser encontradas expressões equivalentes ou substituições. Equivalência experiencial ou cultural: as situações descritas na versão devem se manter no contexto cultural a que se propõe, portanto algum item talvez precise se modificar. A escala original (italiano) mantém o sujeito oculto a partir da questão 3, a palavra “a criança” foi acrescentada com a finalidade de melhorar o entendimento e reafirmar a idéia de que as questões se referem à criança. A palavra “si dondola” tem como tradução “se balançar”, porém em nossa cultura é comum as pessoas balançarem/ ninarem as crianças para que elas adormeçam, sendo necessário adaptar para “faz movimentos rítmicos com a cabeça e corpo”, entendendo de que se trata de algo não apropriado ao adormecer. Equivalência conceitual: refere-se à validade de um conceito explorado e os eventos experienciados pelas pessoas de determinada população, deste modo os itens podem ser equivalentes no significado semântico, mas não conceitualmente equivalentes. Nas instruções “seu filho” foi substituído para “sua criança” de 23 maneira genérica, uma vez que é muito comum a presença de avós, tios e demais parentes nas consultas médicas da população pediátrica ao invés da presença de pais e mães somente. Tal modificação aproxima–se da chance maior em responder mais adequadamente à escala. O Pré-teste tem como finalidade observar a equivalência da versão final em uma amostra da população, para que erros e desvios na tradução sejam compreendidos. A confirmação de que as questões são aceitáveis sem relutância ou hesitação demonstram entendimento da mesma. Quando a versão final não alcança um nível satisfatório de equivalência (80%), uma nova revisão precisa ser realizada53. No pré-teste, o examinador depois de cada pergunta questiona o paciente sobre o item “O que você entendeu?”, julgando se a questão foi perfeitamente entendida pelos pais/responsáveis53. Esta fase proporciona algumas considerações sobre como as pessoas estão interpretando os itens e o instrumento, porém não nos oferece informações sobre suas propriedades de medida (validade e confiabilidade). Testes adicionais são necessários para que se verifiquem estas propriedades. 2.3.2. Validação O processo de validação de um instrumento tem como função determinar se ele está medindo o que se propõe medir, estando em conformidade com a verdade ou com o padrãoouro58. Neste processo as propriedades psicométricas são testadas para que possa ser 24 comparada com o original, uma vez que as mudanças realizadas nos processos de tradução e adaptação cultural podem alterar as propriedades dos instrumentos54. A análise psicométrica de instrumentos de medida compreende: validade e avaliação da confiabilidade54,58. 2.3.2.1. Validade Os tipos mais comuns e importantes de validade são: validade de conteúdo, validade de constructo e validade de critério 58,59. Na validade de conteúdo são avaliados se os itens de uma escala contemplam o que a escala está designada a acessar, envolvendo um exame crítico da estrutura do instrumento, revisão dos procedimentos utilizados para desenvolvê-lo e a sua aplicabilidade. Esta validade é realizada através da opinião de especialistas58. As formas mais comuns de validade de constructo são as associações (normalmente expressas com coeficiente de correlação) entre a escala e outras medidas validadas do mesmo constructo 58,59. A validade convergente e discriminante serve como base para a validação de constructo, sendo que a validade convergente é sustentada quando diferentes métodos de medida (padrão-ouro, outros instrumentos) proporcionam resultados similares. A validade discriminante examina a capacidade do instrumento em discriminar as populações diferentes (grupo com e sem a doença)59. A análise da validade de critério presume a existência de um padrão ouro (ou indicador da situação real) 59,60. Há 2 tipos de validade de critério: a validade concorrente e 25 a preditiva. A validade de critério concorrente tem a capacidade de avaliar a correlação do instrumento com outra medida utilizada para medir o que está sendo estudado (padrãoouro), sendo ambos aplicados simultaneamente. A validade de critério preditiva avalia se este instrumento tem a capacidade de prever um resultado futuro, neste caso, o novo instrumento é aplicado antes do instrumento de critério (padrão-ouro)59. 2.3.2.2. Confiabilidade A Confiabilidade é uma das mais importantes qualidades esperadas para um instrumento, que é considerado confiável ao consistentemente produzir os mesmos resultados quando aplicado aos mesmos indivíduos em diferentes momentos61. Há duas formas de analisar a confiabilidade: consistência interna e confiabilidade teste-reteste. A consistência interna é testada através do exame da correlação entre cada item do instrumento62, ou seja, quando os itens são utilizados para formar uma escala eles precisam medir a mesma coisa, um deve estar correlacionado com o outro. Um coeficiente útil para acessar a consistência interna é o Alfa de Cronbach63. O Alfa de Cronbach produz uma numeração que varia entre 0,0 a 1,0, representando o quanto os itens medem a mesma dimensão ou constructo58. A consistência interna é considerada substancial e satisfatória quando um item correlaciona 0,40 ou mais com a escala61,62. A confiabilidade teste-reteste é uma medida da correlação entre duas avaliações em momentos distintos, referindo-se à estabilidade na obtenção das mesmas respostas quando o 26 instrumento é aplicado à mesma pessoa em tempos diferentes, admitindo a reprodutibilidade do instrumento quando aplicado em um intervalo de tempo 58. 27 3.0. ARTIGO EM PORTUGUÊS 28 INTRODUÇÃOb Os Distúrbios do Sono são freqüentemente encontrados na população pediátrica (principalmente relutância em dormir na própria cama e despertares noturnos). Os Distúrbios do Sono em crianças incluem pesadelos, terror noturno, sonilóquio, sonambulismo, enurese, bruxismo e ronco. Mesmo que os distúrbios sejam curtos em sua duração, eles podem apresentar consequências em longo prazo e afetar toda a família [1]. O ronco pode indicar a presença de aumento da resistência das vias aéreas superiores. É um dos sintomas dos Distúrbios Respiratórios do Sono (DRS) e pode afetar mais de 7% das crianças [2-4]. Se os DRS forem diagnosticados e tratados rapidamente, os distúrbios cognitivos e de desenvolvimento podem ser prevenidos [3,5,6]. O padrão ouro para diagnóstico dos DRS é a polissonografia, mas o tempo, esforço requerido e os custos de pesquisas laboratoriais têm limitado os estudos que necessitam de grandes amostras [7]. Para acessar dados sobre a presença de Distúrbios do Sono, pesquisadores e clínicos têm utilizado o relato dos pais sobre o padrão de sono das crianças em casa, que tem sido um bom preditor para Distúrbios do Sono entre crianças [2]. Os questionários são ferramentas úteis para essa predição, uma vez que possibilitam que as medidas propostas sejam padronizadas, uniformizadas e reprodutíveis. Na escolha de um instrumento, devem ser considerados: se suas questões são claras, de fácil entendimento e aplicação e se o tempo de administração é apropriado [8]. Poucos questionários foram publicados com o intuito de acessar os Distúrbios do Sono e sintomas associados que ocorrem em crianças e adolescentes [7,9-11]. b Versão do artigo publicado na revista Sleep Medicine 2009,10(4):457-463– doi:10.1016/j.sleep.2008:03.018 29 Em 1996, Bruni e colaboradores desenvolveram o questionário “Escala de Distúrbios do Sono em Crianças” (EDSC) que avalia uma variedade de padrões de comportamento relacionados ao sono das crianças [10,12]. Este instrumento é reprodutível e validado, apresenta consistência interna e é capaz de distinguir seis grupos de Distúrbios do Sono (os tipos mais comuns) entre crianças e adolescentes: Distúrbios de Início e Manutenção do Sono, Distúrbios Respiratórios do Sono, Distúrbios do Despertar, Distúrbios da Transição Sono-Vigília, Sonolência Excessiva Diurna, Hiperhidrose do Sono [12]. O valor e utilidade desta escala foram demonstrados na população italiana [12] e belga [10], justificando-se sua tradução, adaptação e validação para o Português do Brasil. A EDSC é um instrumento simples, de aplicação fácil e rápida, que apresenta uso potencial não somente na prática clínica como também em estudos populacionais no Brasil. Para alcançar este objetivo em uma população heterogênea e com alto índice de analfabetismo funcional como no Brasil [13], a escala se ateve, cuidadosamente, a variáveis como comunicação visual e sentenças de fácil entendimento. Portanto, o objetivo deste estudo foi traduzir, adaptar culturalmente e validar a “Escala de Distúrbios do Sono em Crianças” de Bruni et al. para o Português do Brasil. 30 MÉTODOSc Um total de 100 crianças, com idades entre 3 e 18 anos (42 meninas e 58 meninos), acompanhadas por seus pais e/ou responsáveis participaram deste estudo. O estudo foi realizado em 2 fases (Figura 1): 1) (60 crianças) tradução, retrotradução (back translation), pré-teste e cálculo do tamanho da amostra; 2) validação (40 crianças): confiabilidade, análise convergente e validade discriminante (comparação dos escores do teste com resultados da polissonografia). Os pais e/ou responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil. 2.1. 1ª fase 2.1.1. Aplicação da versão traduzida do Inglês. Para uma testagem inicial foi utilizada a versão da escala que estava disponível no Brasil, que havia sido traduzida para o português de uma versão em inglês [12]. Esta escala preservava as características da comunicação visual e instruções do modelo original, mas não tinha sido validada para o português do Brasil. Esta versão foi aplicada em 20 crianças com seus pais e/ou responsáveis, no ambulatório Neuro-Sono, disciplina de Neurologia, UNIFESP, com o objetivo de identificar sistematicamente as dificuldades que a escala apresentava. Os principais problemas encontrados se referiam à dificuldade em entender as c Versão do artigo publicado na revista Sleep Medicine 2009,10(4): 457-463– doi:10.1016/j.sleep.2008:03.018 31 instruções e sentenças e dificuldade em localizar as respostas, relacionando-se a sua apresentação gráfica. A melhor maneira para solucionar as dificuldades apresentadas pela EDSC foi realizar a tradução a partir da original em italiano, levando-se em conta as equivalências semânticas, experienciais, conceituais, culturais e idiomáticas [14]. A escala em italiano foi obtida através de contato telefônico com um dos autores da Universidade de Roma La Sapienza, Itália, que prestou toda assistência necessária ao processo de tradução para o português. A comunicação visual foi modificada para algo que acreditávamos ser mais inteligível e prático para a população brasileira. 2.1.2. Tradução A EDSC foi traduzida do original italiano (Anexo 1) para o português por dois tradutores (trabalhos independentes) bilíngües e fluentes em Italiano. Uma ênfase particular foi dada à tradução conceitual (mais do que a estritamente literária). As duas traduções foram comparadas por um Comitê de Revisão (quatro revisores especialistas em sono) e as divergências foram modificadas até obtenção de um consenso quanto à tradução inicial, chegando à primeira versão em português. 2.1.3. Retrotradução (back-translation) A primeira versão foi vertida para o italiano por dois tradutores bilíngües, que não participaram da fase anterior, realizando a retrotradução. A seguir, as versões foram 32 comparadas pelo Comitê de Revisão. As divergências encontradas foram documentadas e analisadas pela comparação entre elas. As sentenças em português foram reescritas, quando necessário, até que um consenso fosse obtido por acordo, e a versão final em português foi obtida (Anexo 2). 2.1.4. Pré-teste A segunda versão portuguesa da EDSC foi aplicada em forma de entrevista a 20 pais e/ou responsáveis dos pacientes com queixas de Distúrbios do Sono. Um dos investigadores questionou os pais e/ou responsáveis, depois de cada sentença, para julgar se o entendimento da questão estava correto ou não (Pré-teste) [14]. As 26 sentenças precisavam ser compreendidas por pelo menos 80% dos adultos testados. As sentenças não compreendidas por 20% ou mais dos pais e/ou responsáveis, foram revistas e modificadas apropriadamente, levando-se em conta a maneira de estruturar a sentença e palavras, ao invés de um estilo erudito. Os pais e/ou responsáveis apresentaram compreensão adequada da segunda versão em português, sendo esta definida como a versão final. 2.1.5. Estudo Piloto Para o cálculo do tamanho da amostra necessário para a validação da escala, foi conduzido um estudo piloto com 20 crianças cujos pais e/ou responsáveis responderam à versão final da escala em português. Dez crianças com DRS e dez sem nenhum tipo de 33 distúrbio de sono através de resultado polissonográfico, participaram desta fase. Entre as 10 crianças com diagnóstico de DRS através de polissonografia, 9 apresentaram EDSC com diagnóstico de DRS (P1= 0,9), e entre 10 crianças com polissonografia sem qualquer Distúrbio do Sono, 4 apresentaram diagnóstico de DRS na EDSC (P2=0,4). O cálculo da amostra foi realizado através da fórmula de Pocock (N – P1 (100 – P1) + P2 (100 – P2)X 100/ (P1 – P2)²) e um N=13 foi encontrado, utilizando-se 20 para cada grupo. 2.2. 2ª fase 2.2.1. Validação A versão final da EDSC foi aplicada em 40 crianças acompanhadas por seus pais e/ou responsáveis de março a agosto de 2006. Vinte destas crianças tinham DRS diagnosticados pela PSG e 20 não tinham nenhum tipo de Distúrbio de Sono. O pesquisador estava cego para qual criança tinha DRS ou não. 2.2.2.1. Polissonografia. Todas as polissonografias foram realizadas em noite inteira no Laboratório de Sono Hospital São Paulo, Setor Neuro-Sono, UNIFESP, SP. Utilizou-se polígrafo Neuromap®Neurotec® versão 1,9,7,0 (Itajubá, MG, Brasil) e cada criança foi monitorada com eletrencefalograma (C3/A2, C4/A1, O1/A2 e O2/A1), eletrooculograma de olho esquerdo e direito, e eletromiograma submental. O eletrocardiograma foi monitorado continuamente. Saturação arterial de oxigênio foi monitorada continuamente com oxímetro de pulso 34 (Criticare®). Foram utilizadas medidas de pressão nasal e fluxo oronasal com termistor de três vias. Movimentos de parede torácica e abdominal foram medidos, utilizando-se cintas piezoelétricas. Movimentos de pernas foram monitorados com eletromiograma [15]. A polissonografia foi estadiada de acordo com os critérios de Rechtschaffen e Kales [16], utilizando-se época de 30 segundos [16,17]. Os eventos respiratórios foram contados de acordo com os critérios-padrão para crianças [15,18]. A apnéia obstrutiva foi definida como cessação do fluxo aéreo em dois ou mais ciclos respiratórios, na presença de respiração paradoxal e movimentos abdominais. A hipopnéia foi definida como redução de 50% ou mais da amplitude do sinal do termistor acompanhado por dessaturação da oxihemoglobina ou microdespertar [19]. A apnéia central foi definida como ausência de fluxo aéreo nasal e oral e dos movimentos de parede torácica e abdominal por 20 segundos ou mais ou acompanhados por dessaturação da oxi-hemoglobina. O índice de apnéia foi definido como número de apnéias por hora de tempo total de sono. O índice de apnéiahipopnéia (IAH) foi definido como número de apnéias obstrutivas e hipopnéias por hora de tempo total de sono [18-20]. O IAH foi considerado normal quando houve presença de pelo menos 1 evento apneico por hora [14]. A dessaturação da oxi-hemoglobina foi definida como queda de 3% ou mais na saturação de oxigênio ou valores sustentados menores que 92% [21]. O ronco foi definido como a respiração ruidosa produzida principalmente pela vibração do palato mole e dos pilares da orofaringe, categorizado como ausente e presente. Para os escores de microdespertares, foram utilizados os critérios da ASDA (American Sleep Disorders Association), considerando-se três segundos ou mais [21] e classificados em (1) microdespertares ocorrendo em até dois segundos após terminar o 35 evento apneico e (2) microdespertares não associados a eventos apneicos (microdespertar espontâneo) [20]. A latência do sono foi definida como sendo a duração de tempo desde o apagar das luzes até o início do sono, categorizada como normal (até 20 minutos) e aumentada [22]. A eficiência do sono foi definida como a relação entre tempo total de sono e tempo total de registro do exame, considerando-se normal (acima de 89%) ou diminuída [22]. PLMS (movimentos periódicos de membros durante o sono) foram definidos como movimentos estereotipados dos membros, com duração de 0,5 a 5 segundos e que se repetem periodicamente (5 ou mais movimentos a cada 90 segundos)[17], categorizados como normais até 5 movimentos por hora de tempo total de sono. 2.3. Análise Estatística Teste t de Student e o Teste de qui-quadrado foram realizados para acessar a homogeneidade na relação sexo e idade.[23] A EDSC é formada por 26 itens (na versão final da escala) divididos em 6 subescalas: DIMS (Distúrbios de Início e Manutenção do Sono) constituída pelos itens 1, 2, 3, 4, 5, 10 e 11; DRS ( Distúrbios Respiratórios do Sono), itens 13, 14 e 15; DD ( Distúrbios do Despertar) itens 17, 20 e 21; (DTSV) Distúrbios da Transição Sono-Vigília, itens 6, 7, 8, 12, 18 e 19; SED ( Sonolência Excessiva Diurna) itens 22, 23, 24, 25 e 26; e HS (Hiperhidrose do Sono) itens 9 e 16. 36 2.3.1. Análise da confiabilidade A análise da confiabilidade foi realizada na EDSC, através da análise de consistência interna dos itens, utilizando o Teste de Alfa de Cronbach [24,25]. 2.3.2. Validade Convergente Foi utilizada a Correlação de Pearson para investigar a análise convergente da escala, comparando a escala geral com as subescalas [25,26]. 2.3.3. Validade Discriminante A média da escala das crianças com DRS na polissonografia (PSG+) foi comparada com a média da escala de crianças sem qualquer tipo de distúrbios de sono na polissonografia (PSG-) para calcular a validade discriminante. Como os escores para cada grupo apresentaram distribuição normal (Teste Kolmogorov–Smirnov) e variância homogênea (Teste de Levene´s pra variâncias igualitárias), o teste t de Student para amostras independentes foi utilizado. Foi considerado significante p<0,05. 37 RESULTADOSd 2.4. Dados demográficos A amostra para validação consistiu de 16 meninas (40%), com idade média de 8,2±3,6 anos (3-17 anos) e 24 meninos (60%), com idade média de 8,6±3,7 anos (3-16 anos) (Tabela 1). Não houve diferença significante entre os grupos quanto ao gênero (p=0,2) e idade (p=0,7). 2.5. Tradução e adaptação cultural 2.5.1. Instruções e questões A análise dos títulos da escala de Distúrbios do Sono em italiano (Scala per la valutazione dei disturbi del sonno) e em inglês (Sleep Disturbance Scale for children) levou à produção do título em Português “Escala de Distúrbios do Sono para Crianças (EDSC)”. As instruções e todas as questões da escala foram adaptadas levando-se em consideração sua equivalência semântica, experiencial, conceitual, cultural e idiomática. As características de comunicação visual também foram modificadas (Anexo2). Onze questões (2, 5, 6, 9, 11, 12, 16, 17, 23, 25 e 26) precisaram de adaptações que se relacionavam à equivalência semântica quando traduzidas para o português. Três questões (3, 7 e 17) foram adaptadas no que se refere à equivalência cultural. Três questões (5, 20 e d Versão do artigo publicado na revista Sleep Medicine 2009,10(4): 457-463– doi:10.1016/j.sleep.2008:03.018 38 25) precisaram de equivalência conceitual. Doze questões (1, 4, 8, 10, 13, 14, 15, 18, 19, 21, 22 e 24) foram traduzidas para o português sem necessitar de adaptação. 2.6. Confiabilidade da escala As questões da escala apresentaram um Alfa de Cronbach com valores maiores que 0,55, mostrando que o nível de consistência interna foi satisfatório (Tabela 02). As subescalas HS e DIMS e o conjunto de 26 questões foram os que apresentaram maior índice de consistência interna. 2.7. Validade da escala De acordo com as características da EDSC e desenho experimental utilizado no estudo, foi possível estudar a validade convergente e discriminante. Para calcular a validade convergente, a correlação entre a escala geral e subescalas foi analisada pelo coeficiente de Correlação de Pearson (Tabela 3), em que a maior parte das correlações foi identificada como positivas, mostrando que a EDSC apresentou validade convergente razoável. No que se refere à validade discriminante (Tabela 4), os pacientes com PSG + para DRS tenderam a apresentar uma média maior para a subescala DRS que os pacientes com PSG- para qualquer Distúrbio de Sono (8,9 e 4,9 respectivamente; p< 0,0001). Nenhuma significância estatística foi detectada entre as outras subescalas e a escala geral. Portanto, o exame polissonográfico é considerado como medida de discriminação somente para a 39 escala DRS, mostrando que somente as três perguntas da escala podem detectar pacientes com DRS. 40 DISCUSSÃOe A EDSC foi traduzida, adaptada e validada para o português do Brasil do original em italiano. A versão brasileira da EDSC apresentou consistência interna adequada, validade convergente e validade discriminante. A comparação da subescala DRS com a polissonografia mostrou associação, consequentemente atestando sua validade discriminante para esta condição clínica e mostrando que a escala tem capacidade substancial para predizer este diagnóstico. A escala original foi designada para crianças em idade escolar, no nosso estudo foram também utilizados pré-escolares por terem rotinas e hábitos escolares semelhantes, principalmente em relação ao horário de início das aulas. A tradução de questionários para outra língua e culturas é sempre uma tarefa delicada [8,14,27-30]. Isto é particularmente difícil para traduções para o português do Brasil, um país em que a população apresenta um alto índice de analfabetismo funcional [13]. Quando traduzimos para o português a versão em inglês da escala [12], observamos dificuldades de entendimento o que nos levou a fazer uma nova tradução a partir do original em italiano. Isto nos permitiu fazer uma melhor tradução da escala e, como conseqüência, assegurar as características desejáveis de simplicidade, facilidade de compreensão e aplicação rápida [8,27]. A estrutura gráfica da escala precisou ser modificada para um padrão que é mais aceito na população brasileira. Características mais precisas da comunicação visual precisaram ser incorporadas, para tornar e possível que o entrevistado respondesse às Versão do artigo publicado na revista Sleep Medicine 2009,10(4): 457-463– doi:10.1016/j.sleep.2008:03.018 41 questões sem muito esforço. Algumas modificações quanto aos sujeitos das sentenças foi importante. Deste modo, o termo “seu filho/sua filha” foi evitado, porque às vezes a criança não era o filho/filha do acompanhante que foi entrevistado. Uma das adaptações necessárias para os questionários na língua portuguesa, quando também for destinado a populações com menor nível de instrução, é a repetição explicita do sujeito nas sentenças de todas as questões, ao invés de deixar implícito (como é normalmente feito em português). Este procedimento foi muito útil quando a EDSC foi utilizada no Setor Neuro-Sono (Disciplina de Neurologia, UNIFESP). O ambulatório deste setor atende a uma população heterogênea da cidade de São Paulo e uma grande proporção destes pacientes vem de nível socioeconômico baixo. O principio fundamental para esta tradução, adaptação cultural e validação foi tornar a escala útil para todas as populações, com diferentes níveis culturais e socioeconômicos. Desta maneira, as modificações foram construídas dentro do aspecto formal da escrita e comunicação visual, e não em um estilo que implicasse na discriminação entre os distúrbios de sono. Algumas dificuldades detectadas no uso da EDSC envolveram a falta de conhecimento sobre as características do sono das crianças pelos pais e/ou responsáveis que, às vezes, não compartilham o quarto com a criança ou até mesmo a casa. Entretanto, isto não prejudica a validação do questionário. Na maioria dos casos, o entrevistado compreendeu os objetivos das sentenças e o objetivo da escala. As seis categorias diagnósticas e suas respectivas subscalas da EDSC objetivam servir de base para o reconhecimento dos distúrbios do sono. Isto facilita o diagnóstico oferecendo aos não especialistas uma ferramenta de screening que pode guiar uma futura avaliação especializada ou polissonografia. 42 O valor do Alfa de Cronbach do estudo do Bruni [12] foi 0,71-0,79 (respectivamente, grupo de distúrbios do sono e grupo clínico). Nós obtivemos 0,55 em nosso estudo, mostrando que a escala tem propriedade psicométrica similar em diferentes populações. Embora a EDSC abranger uma vasta idade, devemos ater-nos ao fato de que não engloba alguns padrões de comportamento entre as crianças como tirar cochilos, dormir em seu próprio quarto ou na cama dos pais, necessidade de objeto transicional, medo de escuro, enurese noturna, acordar à noite e ir para a cama dos pais. Estes padrões de comportamento podem estar associados com grupos de idades especificas e podem ter significância no entendimento dos distúrbios de sono entre crianças. 43 CONCLUSÃOf Uma nova escala em português do Brasil para detectar os distúrbios do sono entre crianças foi criada no final desse processo de tradução, adaptação cultural e validação da EDSC. Esta versão da EDSC demonstrou importantes características como consistência interna, validade convergente, validade discriminante, além de ser uma ferramenta simples, de fácil e rápida aplicação, com a capacidade de detectar DRS entre as crianças com somente três questões. f Versão do artigo publicado na revista Sleep Medicine 2009,10(4): 457-463– doi:10.1016/j.sleep.2008:03.018 44 Figura 1. Fluxograma de todas as crianças que participaram de todas as fases do estudo. 1ª fase: 1.Aplicação da tradução a partir da versão em inglês (20 crianças) 2.Avaliação da equivalência cultural (Pré-teste) (20 crianças) 3.Estudo Piloto (20 crianças) 2ª fase Validação: Confiabilidade, Validade Convergente e Validade Discriminante (40 crianças) Total de 100 crianças 45 Tabela 1. Distribuição das 40 crianças que participaram da 2ª fase, de acordo com gênero e idade. IDADE 3 |- 6 6 |- 9 9 |- 12 12 |- 15 15 |- 18 Total GÊNERO Feminino % Masculino 8,2±3,6 8,6±3,7 4 25,0 9 7 43,8 3 3 18,8 5 1 6,3 6 1 6,3 1 16 100,0 24 % Total 8,4±3,6 37,5 13 12,5 10 20,8 8 25,0 7 4,2 2 100,0 40 % 32,5 25,0 20,0 17,5 5,0 100,0 46 Tabela 2. Alfa de Cronbach para os elementos da Escala de Distúrbios de Sono para Crianças. ELEMENTO Escala Subescala DIMS Subescala DRS Subescala DD Subescala DTSV Subescala SED Subescala HS As subescalas NÚMERO DE QUESTÕES ALFA DE CRONBACH 26 0,78 7 0,80 3 0,66 3 0,62 6 0,57 5 0,56 2 0,82 6 0,55 DIMS = Distúrbios de Início e Manutenção do Sono; DRS = Distúrbios Respiratórios do Sono; DD = Distúrbios do Despertar; DTSV = Distúrbios da Transição Sono-Vigília; SED = Sonolência Excessiva Diurna; HS = Hiperhidrose do Sono. 47 Tabela 3. Correlação de Pearson entre a escala de sono e as subescalas. DIMS DIMS 1,00 DRS -0,20 DD 0,20 DTSV 0,30 SED 0,20 HS 0,09 TOTAL 0,60* DRS -0,20 1,00 0,02 0,20 0,09 0,40* 0,40* DD 0,20 0,02 1,00 0,40* 0,50* -0,06 0,60* DTSV 0,30 0,20 0,40* 1,00 0,20 0,30* 0,80* SED 0,20 0,09 0,50* 0,20 1,00 0,10 0,60* HS 0,09 0,40* -0,06 0,30* 0,10 1,00 0,50* TOTAL 0,60*. 0,40* 0,60* 0,80* 0,60* 0,50* 1,00 * p< 0.05; DIMS = Distúrbios de Início e Manutenção do Sono; DRS = Distúrbios Respiratórios do Sono; DD = Distúrbios do Despertar; DTSV = Distúrbios da Transição Sono-Vigília; SED = Sonolência Excessiva Diurna; HS = Hiperhidrose do Sono. 48 Tabela 4. Comparação entre as médias de pontuação para a escala (Teste t Student) nos grupos com polissonografia positiva para Distúrbios Respiratórios do Sono (PSG+) e polissonografia negativa para qualquer distúrbio do sono (PSG-). PSGPSG+ Escala Média DP média DP DIMS 15,2 DRS 4,9 DD 4,3 DTSV 13,8 SED 9,8 HS 3,8 TOTAL 51,8 5,6 2,1 1,8 3,9 3,2 2,6 11,1 13,1 8,9 4,9 13,2 10,1 5,0 55,3 5,5 2,9 2,4 4,7 3,8 2,5 13,6 P 0,2 <0,001 0,3 0,7 0,8 0,1 0,4 DIMS = Distúrbios de Início e Manutenção do Sono; DRS = Distúrbios Respiratórios do Sono; DD = Distúrbios do Despertar; DTSV = Distúrbios da Transição Sono-Vigília; SED = Sonolência Excessiva Diurna; HS = Hiperhidrose do Sono. 49 Anexo 1: Escala Original em italiano “SCALA PER LA VALUTAZIONE DEI DISTURBI DEL SONNO” 50 Anexo 2 : Versão final da “Escala de Distúrbios do Sono em Crianças” em Português. 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASg 1. Quine L. Sleep problems in primary school children: comparison betweem mainstream and special school children. Canterbury: UK Blackwell Science Ltd.; 2001. p. 210-21. 2. Montgomery-Downs HE, O´Brien LM, Holbrook CR, Gozal D. Snoring and sleepdisordered breathing in young children: subjective and objective correlates. Sleep 2004;27:87-94. 3. 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BMJ 1997;314:572 61 ANEXOS 62 Anexo I – Classificação Internacional de Distúrbios do Sono (International Classification of Sleep Disorders – ICSD – 2005) 63 Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono - 2005 Insônia Distúrbios Respiratórios do Sono Hipersonias de origem central Distúrbios do Ritmo Circadiano Parassonias Distúrbios do Movimento Relacionado com o Sono Sintomas isolados, variantes normais e situações não definidas Outros Distúrbios do Sono INSÔNIA Insônia de ajustamento ou aguda Insônia psicofisiológica Insônia paradoxal Insônia idiopática Insônia devido a doenças mentais Insônia por higiene do sono inadequada Insônia comportamental da infância Insônia devido a uso de drogas ou substâncias Insônia devido a condições médicas Insônia inespecífica, não ocasionada por substâncias ou condições fisiológicas conhecidas ( não orgânicas) Insônia fisiológica (orgânica) não especificada DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO Síndromes com Apnéia Central Apnéia central primária Apnéia central devido ao padrão respiratório de Cheyne-Strokes Apnéia central devido à respiração periódica da altitude Apnéia central devido a condições médicas – não Cheyne Strokes Apnéia central por efeito de drogas ou substâncias Apnéia primária da infância ( anteriormente: “apnéia primária do recém-nascido”) Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) SAOS do adulto SAOS da criança Síndromes de Hipoventilação/Hipoxemia Relacionadas ao Sono Hipoventilação alveolar não obstrutiva do sono, idiopática Síndrome da hipoventilação alveolar central congênita 64 Síndromes de Hipoventilação/Hipoxemia devido a condições médicas Devido à patologia pulmonar parenquimatosa ou vascular Devido à obstrução de vias aéreas inferiores Devido a doenças neuromusculares ou desordens da parede torácica Outros Distúrbios Respiratórios do Sono Não especificados HIPERSONIAS DE ORIGEM CENTRAL (NÃO ASSOCIADAS A DISTÚRBIOS DO RITMO CIRCADIANO, A DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO OU A CAUSA DE DISTÚRBIO DO SONO) Narcolepsia com cataplexia Narcolepsia sem cataplexia Narcolepsia devido a condições médicas Narcolepsia inespecífica Hipersonolência recorrente Síndrome de Kleine-Levin Hipersonolência relacionada à menstruação Hipersonolência idiopática com longo tempo de sono Hipersonolência idiopática sem longo tempo de sono Sindrome do sono insuficiente de origem comportamental Hipersonolência devido a condições médicas Hipersonolência devido a drogas ou substâncias Hipersonolência fisiológica (orgânica) não especificada DISTÚRBIOS DO RITMO CIRCADIANO Atraso de fase do sono Avanço (adiantamento) de fase do sono Ritmo sono-vigília irregular Distúrbio do tipo ciclo-livre (free running ou nonentrained type) Distúrbio do ritmo circadiano por mudança de fuso horário (jet lag disorder) Distúrbio do ritmo circadiano por mudança de turnos de trabalho (shift-work disorder) Distúrbio do ritmo circadiano devido a condições médicas Outros distúrbios do ritmo circadiano Outros distúrbios do ritmo circadiano devido a uso de drogas ou substâncias PARASSONIAS Desordens do Despertar (do Sono NREM) Despertar confusional 65 Sonambulismo Terror noturno Parassonias usualmente associadas ao sono REM Transtorno comportamental do sono REM Paralisia do sono recorrente Pesadelo Outras Parassonias Estados dissociados do sono Enurese noturna Gemido relacionado com o sono (Catathrenia) Síndrome da explosão da cabeça (Exploding head syndrome) Alucinações hipnagógicas Desordem alimentar do sono Parassonias não especificadas Parassonias devido a drogas ou substâncias Parassonias devido a condições médicas DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO RELACIONADOS COM O SONO Síndrome das pernas inquietas Movimentos periódicos dos membros durante o sono Câimbras de pernas relacionadas ao sono Bruxismo Distúrbio rítmico do movimento (jactatio capitis) Distúrbios não especificados do movimento relacionado ao sono Distúrbios do movimento relacionados ao sono Distúrbios do movimento relacionados ao sono devido a drogas ou substâncias Distúrbios do movimento do sono devido a condições médicas SINTOMAS ISOLADOS, VARIANTES NORMAIS E QUESTÕES NÃORESOLVIDAS Dormidor longo Dormidor curto Ronco sonilóquio Mioclonias do inicio do sono (sleep starts) Mioclonia benigna do sono na infância Tremor hipnagógico dos pés e ativação dos músculos da perna durante o sono (alternated leg movements activation) Mioclonia propriospinal no início do sono Mioclonia fragmentar excessiva 66 OUTROS DISTÚRBIOS DO SONO Outros distúrbios fisiológicos do sono Outros distúrbios não causados por substâncias ou condição fisiológica Distúrbio de sono de origem ambiental APÊNDICE A: DISTÚRBIOS DO SONO ASSOCIADOS COM CONDIÇÕES CLASSIFICÁVEIS EM OUTRO LOCAL Insônia fatal familiar Fibromialgia Epilepsia relacionada ao sono Cefaléia relacionada ao sono Refluxo gastroesofágico relacionado ao sono e laringoespasmo Isquemia coronariana relacionada ao sono Deglutição anormal relacionada ao sono e laringoespasmo APÊNDICE B: OUTROS DISTÚRBIOS PSIQUIÁTRICOS E COMPORTAMENTAIS FREQUENTEMENTE ENCONTRADOS NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE DISTÚRBIOS DO SONO Transtornos do humor Ansiedade Distúrbios somatoformes Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos Distúrbios usualmente diagnosticados na infância ou adolescência (retardo mental, autismo, síndromes de Rett, Asperger, Angelman, TDAH) Transtornos de personalidade 67 Anexo II – Roteiro de Anamnese 68 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA Disciplina de Neurologia NEURO-SONO Ambulatório Criança e Adolescente (Ficha de Atendimento do Profissional da Saúde) Data: _____/_____/_______ RG-HSP:______________________ Nome do paciente: ___________________________________________________________________________________ Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Data de nascimento: ____/___/_______ Idade: __________ Raça:_______________ Escolaridade:________________________________________________________Trabalho:_____________ ____________ Pai:____________________________________________________________________ocupação:_________ ___________ Mãe:___________________________________________________________________ocupação:_________ ___________ Endereço:________________________________________________________________________________ ___________ Bairro:___________________________________Cidade:_____________ Estado:______ CEP:______________________ Telefones: residência:_____________________ trabalho:_________________________ Celular:_______________________ outros:___________________________ Nome do acompanhante: ______________________________________________________________________________ Idade:_________________ Relação com o paciente:________________________ QD:____________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ HPMA:_________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ___________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________(use o verso) IC:_____________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 69 IES: Ambiente de sono (qualidade, só/acompanhado):________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Hora de se deitar: ___________________ Hora de dormir: ___________________ Hora de acordar: ___________________ Hora de se levantar: ___________________ final de semana__________________ ___________________ ____________________ ____________________ Atividades durante o período de sono:__________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Insônia (I, T, M):___________________________________________________________________ Manifestaçðes do sono: Ronco (leve, intenso, interrompido):___________________________________________________________________ Apnéia (curta, longa, freqüente, rara):__________________________________________________________________ PLMS-mioclonias: __________________________________________________________________________ Pernas inquietas: ____________________________________________________________________________ Câimbras: ________________________________________________________________________________ Parassonias (sonambulismo, enurese, terror noturno, bruxismo, sonilóquio, jactatio capitis, alucinaçðes, paralisia do sono, RBD): ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Sonhos (pesadelos, recorrência, conteúdo, quantidade):________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Condições decorrentes do DS: Sonolência (ao acordar, durante o dia, crises):____________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Cansaço/fadiga:___________________________________________________________________ Cataplexia (desencadeantes):_____________________________________________________________________ DESENVILVIMENTO NEURO-PSICO-MOTOR: Peso nascimento:__________Estatura nasc.: ______________ sustentação da cabeça:__________________ Apgar:______________ Perímetro cefálico:_____________ sentar sozinha:________________________ Problemas gestação:________________________________ engatinhar:___________________________ Ficar em pé:__________________________ Problemas do parto:________________________________ Andar:______________________________ Problemas perinatal:________________________________ _________________________________________________ 70 primeiras palavras:_____________________ Outros problemas:__________________________________ controle urinário diurno:________________ controle urinário noturno:________________ Comentários:_______________________________________ controle fecal:_________________________ nício escola ou creche:__________________ ISDA: Olhos:___________________________________________________________________________________ Nariz:___________________________________________________________________________________ Oro-faringe:_____________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ Orelhas:_________________________________________________________________________________ SNC:___________________________________________________________________________________ S.Respiratório:____________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ S.Cardiovascular:__________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ S.Digestivo:______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ S.Endócrino:_____________________________________________________________________________ Neuropsíquico (humor, memória, atenção, distúrbio escolar ou profissional): ________________________________________________________________________________________ Sexual:__________________________________________________________________________________ S.Osteomuscular:__________________________________________________________________________ Pele, anexos e subcutâneo:________________________________________________________________ S.Gênito-urinário:__________________________________________________________ VACINAÇÃO:__________________________________________________________________________ EXAME FÍSICO: Peso_____________ Altura______________ IMC_________ P/E_____________PC__________ Perímetro cervical _______ PA________ Pulso________ FC______ FR_____ Temperatura______ Segmento cefálico : Face____________________________________________________________________________________ Orofaringe_______________________________________________________________________________ Dentes__________________________________________________________________________________ Olhos:___________________________________________________________________________________ Nariz:___________________________________________________________________________________ Otoscopia:_______________________________________________________________________________ Pescoço_________________________________________________________________________________ Tórax: _________________________________________________________________________________ Coração:_________________________________________________________________________________ Pulmões:________________________________________________________________________________ Abdômen:_______________________________________________________________________________ Fígado______________________________________ baço:__________________________________________ Osteomuscular:___________________________________________________________________________ Endócrino:_______________________________________________________________________________ Psíquico:________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ 71 Neurológico:_____________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ AP: ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ AF:___________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ MEDICAÇÔES: ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ EXAMES REALIZADOS: ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ Questionários e/ou testes aplicados:__________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS: ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ CONDUTA E COMENTÁRIOS_____________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ Atendido por_________________________Revisto por __________________________ 72 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA Disciplina de Neurologia NEURO-SONO CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O Sr.(a) (ou seu filho/a) será atendido neste ambulatório de Distúrbios do Sono (Neuro-Sono) por pós-graduandos, estagiários, residentes ou alunos de Medicina, Psicologia, Odontologia, Fisioterapia, Nutrição, Fonoaudiologia, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Educação Física. A coordenação e supervisão dos atendimentos é realizada pelo Prof. Dr. Gilmar Fernandes do Prado, Dra. Lucila B. Fernandes do Prado e Dra. Luciane B. Coin de Carvalho. Durante o seu atendimento, e por ser esta uma escola de medicina, vários profissionais poderão estar presentes, e em toda consulta o seu problema será levado ao conhecimento de um ou todos os supervisores do ambulatório de sono. Se o Sr.(a) ou seu filho(a) sentir-se constrangido e não quiser se submeter ao atendimento multiprofissional (com vários profissionais), informe antecipadamente ao profissional que o chamar para atendimento. Não será possível o atendimento direto por alguns supervisores, exceto em circunstâncias específicas. As informações e/ou documentação fotográfica recolhidas durante a consulta ou complementada por telefone, poderão ser utilizadas, se o Sr.(a) permitir, em estudos e pesquisas garantindo-se a não divulgação do seu nome ou imagem (ou do seu filho/a). O Sr.(a) será informado quando seus dados forem requeridos para estudo/pesquisa. Em nenhum momento o Sr.(a) ou seu filho(a) será submetido a experiências sem o seu conhecimento e consentimento. Caso você venha a participar de alguma pesquisa, o Sr.(a) poderá retirar o consentimento em qualquer momento da pesquisa sem prejuízo ao seu (ou de seu filho/a) atendimento ambulatorial. 73 A não autorização da utilização dos seus dados (ou de seu filho/a) não mudará o seu (ou de seu filho/a) tratamento. Não haverá nenhum custo para o Sr.(a) e nenhuma forma de pagamento será feita pela utilização de seus (ou de seu filho/a) dados. Eu, _____________________________________________________________, RG______________, estou devidamente informado sobre o atendimento neste Ambulatório e SIM ( ) NÂO ( ) autorizo a utilização de meus dados (do meu filho/a) em estudos e pesquisas. Declaro que compreendi as informações que li ou foram lidas para mim e que estou ciente do sigilo sobre meus dados pessoais e clínicos. Assinatura do paciente ou responsável___________________________________data:_____________ Assinatura do responsável pelo NeuroSono:______________________________data:_____________ 74 Anexo III – Diário do Sono 75 DIÁRIO DE SONO Nome:______________________________________________________________ Mês_______________ Ano__________________ Data Dia Tarde 12 13 14 15 16 17 Noite 18 19 20 21 22 23 24 Madrugada 1 2 3 4 Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado OBS:*Ao acordar pela manhã, preencha os quadradinhos referentes às horas que você acha ter dormido. *Se ficar mais de 15 minutos acordado, em qualquer período de sua “noite” de sono, deixe uma parte daquele quadradinho ou mais sem preencher. *Anote medicações, pensamentos importantes que o incomodem, pesadelos, sonambulismo ou quaisquer outros fatos marcantes. 5 Manha 6 7 8 9 10 11 76 Anexo IV- Aceite do Comitê de Ética em Pesquisa.