HIPERESTESIA DENTINÁRIA: OPÇÕES DE TRATAMENTO
MANAGEMENT OF DENTIN HYPERESTHESIA
Caroline Reny Mesquitaa
Júlio César Franco Almeidab
Paulo Márcio Yamagutic
Lílian Marly de Paulad
Fernanda Cristina Pimentel Garciae
Resumo
A hiperestesia dentinária caracteriza-se por uma reação da dentina exposta ao meio bucal a um estímulo não nocivo de
natureza química, térmica, tátil ou osmótica. Essa sintomatologia dolorosa manifesta-se de forma aguda, súbita,
localizada e de curta duração, que desaparece após a remoção do estímulo e não causa alteração patológica no
complexo dentinopulpar. Existem vários estudos na literatura que suportam inúmeros tipos de tratamento.. Dessa
forma, o objetivo desse artigo é abordar os diferentes tratamentos preconizados para o manejo e tratamento da
hiperestesia dentinária.
Palavras-chaves: dentina, hiperestesia,tratamento
Summry
Dentin hyperesthesia has been defined as a short, sharp pain arising from exposed dentin in response to stimuli
typically thermal, chemical, tactile or osmotic. This painful symptoms manifest themselves in acute, sudden, localized
and of short duration, which disappears after the removal of the stimulus and not cause pathological changes in the
complex dentinopulp. Furthermore,scientific support for various therapies was variable, so it could be a challenge for a
parctitioner to select appropriate therapy . Thus, the objective of this paper is to elucidate the different treatments
recommended for management and treatment of dentin hyperesthesia.
Keywords: dentin, hyperesthesia , treatment
Introdução e Revisão da literatura
A hiperestesia dentinária está associada
com a exposição da dentina à cavidade bucal, e
é caracterizada por uma dor aguda, bem
localizada e transitória, em resposta a
estímulos sensoriais não nocivos: táteis,
térmicos, evaporativos e osmóticos, os quais
normalmente não causariam resposta em um
dente saudável (6, 29,30, 31,37).
A sensibilidade dentinária não mantém
em princípio, relação com a dor de origem
pulpar resultante de alterações patológicas
provocada por agentes nocivos. Este aspecto é
a
fundamental para o diagnóstico diferencial
entre sensibilidade dentinária e dor recorrente
de alterações patológicas da polpa. Durante a
anamnese do paciente deve-se considerar:
história da dor, cronologia, natureza,
localização, irradiação, fatores de exarcebação
e de redução da dor. Devem-se realizar testes
de percussão, palpação, térmicos, elétricos,
bem como exame radiográfico e de inspeção
do dente e dos tecidos adjacentes (37). Existem
vários termos para denominar a manifestação
sensorial da dentina: hipersensibilidade dental,
sensibilidade
dental,
hipersensibilidade
Cirurgiã-dentista
Mestre em Dentística Restauradora pela Faculdade de Odontologia de Bauru-FOB-USP, Doutorando em Materiais Dentários
pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba-FOP-UNICAMP
c
Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília-UnB-DF, Doutorando em Ciências da Saúde pela Universidade de
Brasília-UnB-DF
d
Mestre e Doutora em Ciências da saúde pela Universidade de Brasília-UnB-DF, Profa Dra da Faculdade de Ciências da SaúdeUniversidade de Brasília-UnB-DF
e
Especialista, Mestre e Doutora em Dentística Restauradora pela Faculdade de Odontologia de BauruFOB-USP, Profa Dra da Faculdade de Ceilândia- Universidade de Brasília-UnB-DF. e-mail:[email protected]
b
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dentinária, ou simplesmente, sensibilidade
dentinária. O termo hipersensibilidade é
considerado inapropriado, pois há estreita
relação com as manifestações imunológicas do
organismo (37). O termo hiperestesia
dentinária é sugerido por Pereira (37), sendo
utilizado para diferenciar uma situação de
extrema sensibilidade a um determinado
estimulo, e a dor resultante de eventos de
natureza patológica (28, 36).
Uma explicação para a ocorrência da
hiperestesia dentinária basea-se na teoria
hidrodinâmica de Brännsström e Aström
(1972). De acordo com esta teoria, estímulos
de
natureza
variáveis
induzem
a
movimentação dos fluidos contido nos túbulos
dentinários,
os
quais
excitarão
os
mecanorreceptores na periferia da polpa,
ocasionando dor. Esta teoria basea-se no fato
de que o bloqueio dos túbulos dentinários
interfere na movimentação do fluido ao longo
da dentina, diminuindo a excitabilidade dos
nervos, reduzindo desta maneira a hiperestesia
dentinária (4, 7, 30,37,44,45).
A dentina hiperestésica apresenta
acentuado número de túbulos dentinários
expostos e o desaparecimento da hiperestesia
coincide com a oclusão parcial ou total dos
túbulos.(29, 1). Os agentes que obliteram os
túbulos dentinários podem atuar por
precipitação de proteínas, pela formação e
deposição de cristais nos túbulos dentinários
ou
por
técnicas
restauradoras
convencionais(29, 37).
Precipitação de proteínas
A aplicação de agentes químicos como
cloreto de zinco, nitrato de prata, formalina e
paraformaldeido promovem a destruição dos
prolongamentos
odontoblásticos
e
a
precipitação de proteínas na superfície da
dentina exposta (37). Greenhill e Pashley (18)
verificaram que a precipitação de proteínas nos
túbulos
dentinários
não
reduziu
a
condutibilidade
hidráulica
da
dentina,
representando assim pouca melhoria para a
hiperestesia dentinária..
Deposição de partículas inorgânicas
Tratamento da Hiperestesia dentinária
São inúmeros os agentes e as teorias
preconizadas para o tratamento da hiperestesia
dentinária, o que leva a suposição de que
nenhuma forma de tratamento é totalmente
eficiente.(26,30,37). Entre as formas de
tratamento indicadas, incluem-se terapias de
ação hiperestésicas, vernizes cavitários,
agentes com ação oclusiva sobre os túbulos
dentinários,
precipitação
de proteínas,
deposição de partículas, aplicação de películas
impermeabilizadoras,
procedimentos
restauradores,
aplicação
de
laser
e
despolarização de fibras nervosas (45).
Grossman,1935 (19), recomendou que o
agente anti-hiperestésico deve ser de fácil
aplicação, indolor, ter ação rápida e efeito
prolongado e não promover alteração de cor no
dente (16). Não há até o momento um agente
dessenssibilizante ideal que preencha todos
esses requisitos (37).
Agentes de ação oclusiva sobre os túbulos
dentinários
Hidróxido de cálcio
O hidróxido de cálcio quando aplicado
em consistência pastosa durante 3 a 5 minutos,
por meio de brunidura, promove alivio
imediato da hiperestesia em 75% dos casos
tratados (27). Segundo Kleinberg, 1986 (25) o
hidróxido de cálcio facilita a deposição de
fosfato de cálcio proveniente do fluido
dentinário e da saliva e promove a obliteração
dos túbulos dentinários. Pashley et al, 1986
(34) identificaram que a aplicação subseqüente
de ácido cítrico a 6% é capaz de remover os
cristais de hidróxido de cálcio e devolver a
permeabilidade original à dentina. Desta
maneira, a ingestão de alimentos ácidos e
refrigerantes, pode remover os cristais de
hidróxido de cálcio, previamente formados.
Compostos fluoretados
Quando as substâncias fluoretadas
entram em contato com a superfície dental
mineralizada, reagem quimicamente com os
íons cálcio e fosfato e possibilitam a formação
e a precipitação de cristais de CaF2. Porém,
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estes cristais são bastante instáveis e se
desassociam logo após a sua formação,
fazendo que o efeito dos fluoretos seja de curta
duração (37). Os compostos fluoretados não
apresentam efeitos oclusivos, sendo que há
somente uma pequena formação de
fluorapatita (9). Estes compostos exigem
várias aplicações por um longo período de
tempo para que se obtenha um efeito
significativo na redução da hiperestesia (37).
Por outro lado, a aplicação de flúorfosfato
acidulado a 1.23% na superfície dentária
exposta, por 4 minutos, 1 vez por semana, após
um período de quatro semanas, eliminou a
hiperestesia em cerca de 65% dos casos nos
quais foi utilizado esse tratamento apud
Pereira, 1995 (37).
hiperestesia. O tratamento pode consistir na
associação da aplicação de agentes antihiperestésicos pelo cirurgião-dentista e o uso
doméstico de dentifrício contendo cloreto de
estrôncio hexahidratato a 10%. (37).
Iontoforese
A iontoforese pode ser denominada de
cataforese, ionoforese ou eletroforese, e
consiste na transferência de íons, sob pressão
elétrica, para a superfície dentinária, a partir de
soluções de fluoreto de sódio a 1% ou 2% ou
fluoreto estanhoso a 2%, 4% ou 8% (46). Esse
método utiliza um eletrodo negativo aplicado
sobre a dentina, e um eletrodo positivo sob o
comando do paciente, o qual cria um circuito
fechado que permite a passagem de uma
corrente elétrica de 1 μ, promovendo o
transporte de íons para a dentina (37). Esse
método é sofisticado e de custo elevado, cujos
resultados de regressão da hiperestesia pode
ser obtido com métodos mais simples (5).
Oxalato de potássio
Os sais de potássio apresentam-se
eficazes no tratamento da hiperestesia
dentinária, seja na forma de dentifrícios, seja
em aplicações tópicas (43). Esses sais ao
reagirem com o cálcio ionizado da dentina
formam cristais insolúveis de oxalato de cálcio
na superfície dentinária e/ou no interior dos
canalículos,
sendo
resistente
ao
condicionamento com ácido cítrico a 6%
(33).O oxalato
de potássio
é um
dessensibilizante neural pela liberação de íons
potássio, que pode alterar as trocas iônicas
responsáveis pela transmissão do estímulo
doloroso (24). Entretanto, o aumento
localizado da concentração de potássio é
passageiro, e a concentração diminuirá à
medida que aumenta a velocidade do fluido
dentinário ou a permeabilidade da barreira
entre os túbulos e a polpa . Os produtos a base
de oxalato têm ganhado popularidade em razão
dos resultados altamente promissores, tanto em
estudos clínicos quanto em testes laboratoriais
(37). Porém, a oclusão dos túbulos permite
uma redução temporária da permeabilidade e
da sensibilidade, pois os cristais são
parcialmente dissolvidos nos fluidos orais ou
perdidos durante a escovação (42).
Cloreto de estrôncio
A aplicação de uma solução
concentrada de cloreto de estrôncio na
superfície de dentina hiperestésica possibilita a
troca de cálcio da dentina por estrôncio,
produzindo estronciapatita e fostato de
estrôncio no interior dos túbulos dentinários
(37). Segundo Gedalia et al, 1978 (13), a
aplicação de cloreto de estrôncio a 10%
seguido da utilização de fluoreto de sódio a 2%
foi mais efetivo que o uso do fluoreto de sódio
isolado no tratamento da hiperestesia. Gillam
et al, em 1997 (15), verificaram que a
utilização diária de Sensodyne SC, a partir de
4 semanas, é eficaz, no controle da
Biovidros
Nenhum agente utilizado para o
tratamento da hiperestesia dentinária é à base
de um componente inorgânico natural dos
tecidos mineralizados. Porém, um estudo
realizado empregando um método a base da
precipitação de fosfato de cálcio (CaP), sendo
de composição similar à porção inorgânica da
dentina, verificou a obliteração dos túbulos
dentinários com este composto. Dessa forma, o
uso de um vidro bioativo pode ser usado como
um meio terapêutico para a mineralização dos
túbulos dentinários em um meio fisiológico da
cavidade bucal (12). Um estudo recente
verificou que um agente dessensibilizante
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constituído de um vidro bioativo, demonstrou
uma efetiva redução na condutibilidade
hidráulica da dentina , mostrando ser um
tratamento promissor como base de um
dessensibilizante
na
regressão
da
sintomatologia dolorosa (10).
Procedimentos restauradores
As lesões cervicais não cariosas, que
caracterizam-se muitas vezes por uma
hiperestesia dentinária, podem apresentar-se
no formato de cunha ou pires, com uma grande
superfície dentinária exposta (37). Nessas
condições, os procedimentos restauradores
utilizando os cimentos de ionômero de vidro
ou a associação dos sistemas adesivos com as
resinas compostas, constituem recursos
terapêuticos eficientes (37). O clinico deve
discernir quanto à aplicação do tratamento,
levando em consideração os aspectos
biológicos, mecânicos e estéticos. Ide et al,
1998 (23) demonstraram que a aplicação de
adesivos dentinários é eficaz na redução da
hiperestesia dentinária. O oxalato de potássio
interfere no potencial adesivo de alguns
sistemas
restauradores,
reduzindo
significantemente a resistência adesiva desses
materiais (32). Os procedimentos restauradores
são mais demorados e criteriosos, entretanto
mostram-se significantemente eficazes no
controle da hiperestesia dentinária (37).
Laser
A aplicação do laser possibilita a
liberação de B-endorfinas endógenas, quanto
apresenta efeito bioestimulador, que resulta na
deposição de dentina secundária (14). Em
estudos de microscopia eletrônica de varredura
observaram a obliteração parcial, ou total ,bem
com a fusão dentinária, em conseqüência, há a
redução da condutibilidade hidráulica da
dentina, Pashley et al ,1992 (36).
Os laser empregados tanto podem ser
de baixa potência, HeNe, GaAlAs (diodo),
quanto de alta potência, CO2, Nd:YAG. Os
raios laser de baixa potência possuem efeito
biomodulador, analgésico, antiinflamatório.
Enquanto os de alta potência atuam no
rompimento de tecidos por meio de ablação,
coagulação, vaporização e desnaturação de
proteínas (26,28). Quando for empregado o
laser de baixa potência, deve-se eleger 4
pontos de aplicação dos raios (3 pontos na
cervical e 1 ponto apical), com comprimento
de onda de 660nm a 780nm, aplicado em em 4
sessões. A dose deve ser de 6 j/cm² (25mW /
10segundos) a 2 j/cm² (10mW/ 10segundos).
Quando for utilizado o laser de alta potência,
Nd:YAG, ele deve apresentar 30mJ/pulso a 10
hz aplicado por 2min, Lizareli et al, 2001 (28).
O laser de HeNe reduziu a sensibilidade
dentinária em 98%, após segunda sessão de
aplicação (2). Zhang et al, 1988 (47)
verificaram que o laser de CO2 reduziu a
sensibilidade dentinária em 50% dos casos,
após 3 meses de avaliação. Estudos
verificaram que os laser GaAlAs e Nd:YAG
promoveram redução
da sensibilidade
respectivamente em 65% e 70% dos casos
apud Yui et al, 1994. Com o aprofundamento
dos estudos de aplicação dos laser, este método
deverá tornar-se extremamente útil para o
tratamento de diversas alterações que
acometem a cavidade bucal, inclusive a
hiperestesia dentinária. Esse tratamento possui
uma limitação devido ao alto custo dos
aparelhos.
Despolarizadoras das terminações nervosas
Nitrato de potássio
O uso de nitrato de potássio não obstrui
os túbulos dentinários e nem promove a
redução da condutibilidade hidráulica da
dentina, no entanto o seu emprego pode ser
considerado uma terapia efetiva no tratamento
de dentina hiperestésica (21). Acredita-se que
há um aumento da concentração de íons
potássio na extremidade interna dos túbulos
em nível suficiente para inativar às
terminações nervosas da polpa, Kim, 1986
(24). Considerando como verdadeira a ação
neural dessa substância, não se recomenda a
aplicação de agentes de ação oclusiva
previamente a utilização de nitrato de potássio,
pois isso impediria que os íons potássio
alcançassem as terminações nervosas ao nível
pulpar (22). Desta maneira é recomendada a
utilização tópica pelo cirurgião-dentista de gel
de fluoreto de sódio e nitrato de potássio a 5%,
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seguido de tratamento doméstico com
dentifrício contendo nitrato de potássio 5%
para diminuição da sensibilidade (22).
Efeito placebo
Placebo são substâncias inertes, sem
agentes ativos, utilizados como controle para
determinar a eficácia das substâncias avaliadas
(29). Estas substâncias possuem características
clínicas dos agentes anti-hiperestésicos
(aspecto, viscosidade, coloração) e o seu efeito
decorre de interações fisiológicas e
psicológicas
do
paciente,
sendo
o
relacionamento
profissional-paciente
importante para o alivio da dor (37).
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
Conclusões
Concomitante
ao
tratamento
odontológico efetuado o profissional deve
orientar e informar ao paciente que a
hiperestesia dentinária é um evento comum
após determinados tratamentos odontológicos
e que pode desaparecer espontaneamente.
Deve-se recomendar ao paciente:
-Reduzir a quantidade e a freqüência de
ingestão de alimentos ácidos, pois são
substâncias
responsáveis
pela
desmineralização do esmalte e dentina ;
-Evitar escovação imediatamente após o
consumo de alimentos ácidos;
-Realizar as técnicas de escovação adequadas,
utilizando-se de escova macia e dentifrício
pouco abrasivo;
-Fazer visitas periódicas ao cirurgião-dentista
para a proservação do caso;
-Procurar tratamento médico no caso de
doenças sistêmicas que envolvam redução do
fluxo salivar e aumento da acidez bucal.
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Hiperestesia dentinária: Opções de tratamento
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HIPERESTESIA DENTINÁRIA: OPÇÕES DE TRATAMENTO