1 MORFOLOGIA E SEDIMENTOLOGIA DO EXTREMO LESTE DA PLATAFORMA CONTINENTAL AO LARGO DO ESTADO DO CEARÁ – ÁREA FORTIM A ICAPUÍ FORTALEZA – CE Patrícia Reis Alencar Oliveira DG/PPGG/UFRN – CNPq, Natal RN, [email protected] George Satander Sá Freire DG/UFC, Fortaleza, CE, [email protected] Ronaldo Gomes Bezerra DG/UFC, Fortaleza, CE, [email protected] INTRODUÇÃO A plataforma continental brasileira possui um grande potencial para o acúmulo dos recursos minerais e energéticos marinhos como a areia, cascalho e lama de composição siliciclástica e/ou organógena, e em destaque os hidrocarbonetos. A explotação desses recursos marinhos vem sendo cada vez mais realizada, necessitando de maiores conhecimentos quanto à evolução tectônica e estratigráfica, para o conhecimento do potencial mineral e da prospectividade desta bacia. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo fornecer informações técnicas importantes para viabilizar e auxiliar a prospecção referente às atividades em áreas marinhas da plataforma continental interna adjacente aos municípios de Icapuí e Fortim-CE. MATERIAIS E MÉTODOS Modelagem batimétrica Suporte de amostragem - Para a modelagem da área em estudo foram utilizados os dados preexistentes digitais e analógicos do DVD do National Geophysical Data Center (NGDC) do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e em complementação utilizamos também as cópias heliográficas das Folhas de Bordo (1:150.000) e Carta Náutica (1:316.000), cedidas pela Diretoria Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil (DHN). Modelagem batimétrica - Após a obtenção dos dados em formato X, Y e Z (metro) foi gerada uma malha regular (grid) por meio do método de interpolação. Para a interpolação foi utilizado o método da Krigagem. Crítica ao modelo batimétrico - A avaliação do erro no processo de interpolação na confecção do modelo digital de terreno foi realizada a partir do cálculo de resíduos das profundidades (Zresidual = Zreal Zinterpolado). Análise de Relevo Superfície teórica - A superfície teórica foi confeccionada por meio da atenuação das isolinhas batimétricas com eqüidistâncias de 5 metros. As quais foram transformadas em uma planilha de dados XYZ e passaram por um processo de interpolação simples utilizando-se o método do Polynomial Regression obedecendo as mesmas especificações escolhidas para a confecção do modelo batimétrico. Declividade - A declividade foi obtida a partir do ângulo formado por uma superfície (no caso, uma isolinha) e um plano horizontal de referência. Confecção da Carta Faciológica As amostras utilizadas para a carta faciológica foram fornecidas pelo Banco Nacional de Dados oceanográfico (BNDO) e Laboratório de Geologia Marinha e Aplicada (LGMA-UFC) obtidas a partir dos cruzeiros: GEOCOSTA I, GEOCOSTA III, GEOMAR XVIII, MAR XV e REMAC realizados no período de 1993 a 2005. Classificação das Amostras - As amostras foram reclassificadas onde sua nomenclatura, apresenta em seu primeiro termo uma conotação de caráter textural (somente utilizando a razão entre areia e casacalho da classificação de Shepard, 1957) e seu segundo termo uma representação do teor de carbonato de cálcio presente na amostra (utilizando-se somente as quatro primeiras classes de Larsonneur, 1977). Confecção da carta faciológica - Para a geração da carta faciológica foi realizada uma compilação de todos os dados obtidos nas etapas anteriores para auxiliar na delimitação e caracterização das fácies com o uso do programa ArcGis. RESULTADOS E DISCUSSÕES A superfície interpolada apresentou-se satisfatória para a representação da superfície teórica de caráter regional, levando em consideração os erros inseridos ou advindos da interpolação utilizando o método da 2 Krigagem. Apresentando uma margem de erro segura para esse modelo de aproximadamente 1 metro para mais ou para menos de cada valor. Os desvios padrões apresentaram valores baixos com uma variação de 0,35 metros tanto para mais como para menos, com valores máximos de 1,47029 m e mínimos de 0,00423 m, demonstrando que a modelagem é bastante satisfatório. Caracterização morfológica do modelo batimétrico. A superfície modelada apresenta uma geometria com isolinhas distribuídas subparalelas a linha de costa, com direção preferencial no sentido NW-SE. Seu relevo, de uma forma geral, relativamente plano, apresenta um aumento da declividade à medida que se afasta da linha de costa. Os espaçamentos das isóbatas indicam que as declividades apresentam menores intensidades na horizontal entre a costa e a profundidade de 20 metros (plataforma interna) e maiores próximo a profundidade de 30 metros. Indicando uma ruptura no padrão local, o que nos leva a dividir essa região em plataforma interna (profundidades inferiores a 20 metros) e plataforma externa (profundidades maiores que 20 metros até a quebra da plataforma). Declividade - A plataforma continental da área em estudo apresenta declividade que variam entre 0° e 0,2°, com predomínio de declividade 0,03°. O zoneamento dos isodeclives foi realizado com base nos padrões de declividade diferente, observando-se os intervalos de declives muito reduzidos a extremamente reduzidos, reduzidos, e médios a muito elevados, definidos pelos intervalos 0° - 0,05°, 0,05° - 0,1° e 0,1° - 0,2°, respectivamente. Anomalia de relevo - As anomalias negativas e positivas distribuem-se de forma relativamente proporcional, estando as anomalias negativas mais concentradas entre o intervalo de -2 e -6 m e a positiva entre 2 e 8 m, tendo em vista que a margem de erro do modelo varia entre -1 e 1 m (margem de erro da interpolação). As anomalias positivas distribuem-se em toda plataforma continental e concentram-se próximas à quebra da plataforma, sendo separada da anomalia negativa pela anomalia nula. Na porção sudeste, região onde ocorre a inflexão das isolinhas, a anomalia positiva predomina na plataforma interna até uma profundidade aproximada de 20 metros, estendendo-se para noroeste a uma profundidade de aproximadamente 15 m. No mapa de anomalia podemos observamos um prolongamento na direção N-S da anomalia negativa, variando de -2 a -8 correspondente provavelmente ao paleovale do rio Jaguaribe que atravessa quase toda a plataforma. Isso pode indicar que tal alongamento na direção N-S, paralelo ao rio Jaguaribe, pode ter um controle tectônico. A descontinuidade com direção NW-SE identificada, à uma profundidade aproximada de 30 metros, separa um bloco soerguido, a leste da descontinuidade, de um bloco rebaixado à oeste. Que aparenta ter sofrido um deslocamento, evidenciado pelo rejeito significativo (descontinuidades maiores), por meio de uma falha normal. Mapa faciológico As amostras classificadas com a nova proposta do Laboratório de Geologia Marinha e Aplicada (LGMA) resultaram em 7 fácies sedimentares agrupadas em duas províncias: a Província Carbonática e a Província Siliciclástica. A integração do mapa batimétrico com o faciológico demonstra que as ocorrências das fácies encontram-se condicionadas pela topografia do relevo da região. Como podemos observar que as areias litoclásticas estão presentes de forma contínua na região próxima a costa dominando a zona Z1, concentrando-se à sudeste onde se encontra localizado o Banco dos Cajuais e prologando-se através da paleodrenagem do rio Jaguaribe defronte a localidade de Retirinho até a isóbata de 20 metros. Interrompida pelo avanço da areia bioclástica que pronuncia-se quase até a linha de costa. A sedimentação da fácies litoclástica é mais antiga em relação a fácies areia biolitoclástica, pois com a migração do rio Jaguaribe para a direção norte, nas proximidades da localidade de Fortim, interrompeu o aporte sedimentar permitido a deposição sotoposta da fácies areia biolitoclástica. Domínio Morfoestrutural A delimitação dos domínios foi embasada pela coincidência das feições lineares (descontinuidades) das anomalias de relevo, da declividade e da disposição e orientação da batimetria. Obtivemos três domínios morfoestruturais: Domínio I, II e III. Domínio I - Localizado na porção norte-noroeste da área, abrange uma área de aproximadamente 2.036 Km2, que está inserido na plataforma continental interna e em uma pequena porção da 3 plataforma externa, entre os municípios de Fortim e Icapuí. Equivale ao domínio Aracati Interior de Silva Filho (2004). Limita-se a norte e a sudeste com os domínios III e II, respectivamente. É marcado pelas coincidências das descontinuidades demarcadas tanto pela mudança de anomalia quanto por uma quebra no padrão de declividade. Neste domínio, predomina a anomalia negativa, gradiente baixo e relevo acidentado. Encontramos um lineamento N-S a nordeste da desembocadura do Rio Jaguaribe, o que achamos corresponder a uma paleodrenagem do respectivo rio. Neste domínio, encontramos falhas que sugerem um setor soerguido de outro rebaixado. Seu substrato é composto por sedimentos siliciclásticos, correspondendo à fácies Areia Litoclástica e Areia Cascalhosa Litobioclástica. Ainda nesse domínio, ocorre uma sedimentação bioclástica correspondente as fácies Areia Bioclástica, Areia Biolitoclástica, Areia Cascalhosa Bioclástica. Domínio II - O domínio II apresenta uma área de aproximadamente 678 Km2 e está localizado na porção norte-nordeste da área, a leste do município de Icapuí. Corresponde ao Domínio Icapuí Inferior de Silva Filho (2004). Limita-se a oeste com o domínio I por apresentar uma descontinuidade bem evidenciada pela quebra de declividade e mudança da predominância de anomalia negativa para positiva e a norte pelo aumento da declividade e novamente mudança na anomalia para pré-domínio de anomalia negativa. Esse domínio apresenta declive suave variando de reduzido a extremamente reduzido e aparenta ser controlado por fraturas com direção NW-SE e NE-SW. Seu substrato é composto pelas fácies areia litoclástica e areia bioclásticas (FIGURA 1). Domínio III - O domínio III apresenta uma área aproximada de 954 Km2 e compreende toda a plataforma externa (FIGURA 1). Corresponde ao Domínio Aracati Exterior de Silva Filho (2004). Domínio marcado por declividades médias a muito elevadas as quais separam a plataforma interna da externa. Havendo um predomínio da anomalia negativa. Seu substrato está composto pelos sedimentos bioclásticos, fácies areia bioclástica e por uma pequena ocorrência da fácies Areia Litobiolástica. FIGURA 1 - Mapa sintético dos elementos morfoestruturais da plataforma continental do Estado do Ceará. CONCLUSÃO A confecção de um modelo batimétrico de caráter regional foi de fundamental importância na caracterização e conhecimento da superfície submarinha da plataforma continental ao largo do Estado do Ceará – Área Fortim a Icapuí. A plataforma continental, área em estudo, foi estruturada pelo processo de abertura do Atlântico Equatorial e influenciada pela tectônica do pré-cambriano que ainda hoje sofre influência da neotectônica. Onde a morfologia de fundo condicionada pela tectônica exerce grande influência na distribuição das fácies sedimentares. A compilação de todas as informações obtidas e integração das mesmas em um modelo representativo das características da área em estudo é de extrema importância pois servirá como base para futuras utilizações ou intervenções nos recursos naturais ali disponíveis.