O INTÉRPRETE DA LÍNGUA DE SINAIS: POSSIBILIDADES E DESAFIOS Taynara Martins Resende INTRODUÇÃO As discussões acerca do tema da inclusão e da deficiência estão sendo muito difundidas no Brasil e no mundo, principalmente com a ideia da inserção das pessoas com deficiência na rede regular de ensino. Para se tratar sobre esse assunto, faz-se necessário abordar a questão dos profissionais que trabalham com esses indivíduos, seja na escola, na Igreja, no ambiente de trabalho ou em outros espaços públicos, sendo assim, neste trabalho será enfatizada a realidade, os desafios e as dificuldades de um profissional em específico: o Intérprete da Língua de Sinais. O Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) é o profissional que trabalha com os surdos, mediando e facilitando a interação da comunidade ouvinte com a língua de sinais utilizada pela comunidade surda. Este trabalho ainda é muito recente no Brasil e, por esse motivo ainda não há profissionais em quantidade suficiente e bem qualificados para atender toda a demanda da população surda do país. Este trabalho é resultado de pesquisas realizadas nas disciplinas de Monografia I e II no decorrer do curso de Pedagogia na Universidade Federal de Uberlândia e apresenta como objetivos gerais: identificar as dificuldades enfrentadas pelos Intérpretes da Língua de Sinais e suas possibilidades de trabalho; analisar as condições oferecidas pelas escolas de ensino regular para o trabalho do Intérprete de Libras; e descrever como se dá a formação de Intérpretes no município de Uberlândia - MG. METODOLOGIA Este trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória, sendo a metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa, a abordagem qualitativa, caracterizada pelo cunho processual construtivo-interpretativo e dialógico. A opção por realizar uma pesquisa de cunho qualitativo se deve ao favorecimento do entendimento, do diálogo e pela consideração da heterogeneidade dos sujeitos que este tipo de pesquisa proporciona. A pesquisa qualitativa tem como objetivo o processo, a construção do conhecimento, e o diálogo é a fonte direta. (González Rey, 2002). É importante apontar também que esta abordagem procura ir além da superfície dos eventos, determina significados, muitas vezes ocultos, interpreta-os e explica-os. Desta forma, como a proposta era participar ativamente e não apenas participar com meras observações passivas, a escolha desta abordagem se tornou fundamental para a realização deste estudo sobre os Intérpretes de língua de sinais. Assim, partindo da metodologia adotada e considerando todas as implicações que estas abrangem, foram utilizados como instrumentos de pesquisa a observação e entrevistas com os sujeitos envolvidos no trabalho de um Intérprete da Língua de Sinais em uma escola municipal de Uberlândia, visto que a intenção era compreender a natureza de um fenômeno social, por meio de uma análise de percepção dos sujeitos. A observação é uma técnica de construção de dados, porém para que se torne um instrumento valido e fiel de investigação, precisa antes de tudo, ser controlada e sistemática. Isso implica um planejamento cuidadoso e uma preparação rigorosa do observador. Usada como o principal método de investigação ou associada a outras técnicas de coleta, a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens. Também foram realizadas entrevistas para elaboração desta pesquisa, considerando que A entrevista pode proporcionar a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer ou fizeram, bem como acerca de suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes (SELTIZ et al., 1987, p. 273) Minayo (1996, p. 109), define entrevista como “uma arena de conflitos e contradições, considerando os critérios de representatividade da fala e a questão da interação social que está em jogo na interação pesquisador-pesquisado”. Nesta pesquisa, optou-se em utilizar entrevistas semiestruturadas, considerando a definição de Manzini (1991), de que a entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas. Partindo desta concepção, foram realizadas entrevistas com alguns sujeitos participantes do trabalho do Intérprete da língua de Sinais no contexto escolar, sendo eles: o próprio Intérprete, duas alunas surdas, a professora regente da sala em que o Intérprete trabalhava, a diretora da escola e a coordenadora do Atendimento Educacional Especializado, a fim de melhor compreender como se dá trabalho deste profissional pesquisado. As entrevistas dos sujeitos pesquisados são compostas de informações que compreendem os dados pessoais, escolarização, relação Intérprete/alunos/professor, e, no caso específico da entrevista com o Intérprete, inclui informações sobre os desafios da profissão e sugestão de melhorias para sua atuação, além da questão da formação que foi abordada em todas as entrevistas, menos na entrevista dos alunos. As entrevistas foram gravadas em áudio e, após uma escuta atenta, os relatos foram transcritos. RESULTADOS E DISCUSSÕES A partir das observações e entrevistas realizadas com os sujeitos envolvidos no trabalho cotidiano do Intérprete, foram enumerados quatro categorias principais que se destacaram no decorrer das observações e entrevistas, sendo elas: Inclusão e possibilidades de trabalho do Intérprete na escola pesquisada; Relação Intérprete/alunos/professor; Formação do profissional Intérprete da Língua de Sinais e Desafios da profissão. Essas categorias foram organizadas de forma que a pesquisa realizada na escola possibilite “vivenciar” o trabalho desenvolvido pelo Intérprete de Língua de Sinais desta instituição, viabilizando a análise e a discussão dos dados obtidos. No percurso da pesquisa, percebeu-se que as dificuldades enfrentadas pelos Intérpretes vão muito além da questão da formação inicial e continuada deste profissional, observando que no município pesquisado não há este último tipo de formação, o que exige a tomada de medidas urgentes para que esse quadro se altere em favor tanto dos Intérpretes, quanto dos alunos que são auxiliados, visto que a formação, seja a inicial, a qual também não foi constatada na entrevista com a Intérprete observada, seja a continuada, é imprescindível para a melhor atuação deste profissional e também das pessoas com surdez. Todos esses fatores, somando-se a questão da aceitação dos profissionais, a oferta de materiais antecipados e a formação, são assuntos que merecem ser discutidos para que haja uma conscientização das pessoas da importância da atuação dos Intérpretes de Libras junto às crianças surdas. É importante ressaltar também, sobre a necessidade de se estabelecer medidas para que a legislação elaborada com o intuito de se oficializar a profissão de Tradutor/Intérprete de Língua de Sinais se faça valer nos ambientes em que atuam esses profissionais. Pois, de nada adianta, estabelecer a formação mínima para a atuação, mas logo em seguida, no mesmo texto, a lei abrir exceções caso essa formação não seja alcançada pelos interessados em atuarem como Intérpretes. E, além disso, não oferecer formação continuada para esses profissionais que trabalham com a Libras, uma língua viva, em constante alteração. Desta forma, este trabalho é concluído, com a sensação de que muito ainda se tem para discutir sobre esse assunto, visto que por ser uma profissão recente, há muito que lutar para conseguir alcançar condições dignas de trabalho e reconhecimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GONZÁLEZ REY, F. L. Pesquisa qualitativa em psicologia: caminhos e desafios. Tradução Marcel Aristides F. silva. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. MANZINI, E. J. A entrevista na pesquisa social. São Paulo, v. 26/27, p. 149-158, 1990/1991. MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 6 Ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1996. SELLTIZ. et al. Método de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: EPU, 1987