PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática Roteiro Informativo Sobre a Região Cárstica de Lagoa Santa: A Gruta da Lapinha e o Parque Estadual do Sumidouro Fábio Luis Bondezan da Costa Belo Horizonte 2008 2 Fábio Luis Bondezan da Costa Roteiro Informativo Sobre a Região Cárstica de Lagoa Santa: A Gruta da Lapinha e o Parque Estadual do Sumidouro Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Orientadora: Profª. Drª. Cláudia de Vilhena Schayer Sabino Co-orientador: Prof. Dr. Francisco Ângelo Coutinho Belo Horizonte 2008 3 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais C837r Costa, Fábio Luis Bondezan da Roteiro informativo sobre a região Cárstica de Lagoa Santa: a Gruta da Lapinha e o Parque Estadual do Sumidouro / Fábio Luis Bondezan da Costa. Belo Horizonte, 2008. 97f. : Il. Orientadora: Cláudia de Vilhena Schayer Sabino Co-orientador: Francisco Ângelo Coutinho Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática 1. Cavernas. 2. Educação extra-classe. 3. Educação ambiental. 4. Educação não-formal. I. Sabino, Cláudia de Vilhena Schayer. II. Coutinho, Francisco Ângelo. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. IV. Título. CDU: 551.442:37 4 5 Mamãe e filho dinossauros Desenho realizado por minha filha Bianca de 4 anos 6 AGRADECIMENTOS • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A Deus, pela possibilidade de estar vivo e poder concluir esse trabalho. À minha esposa Liége pelo apoio incondicional e amor demonstrados durante todo tempo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. A meus filhos pela alegria e carinho. A meus pais e irmãos que acreditaram que era possível crescer em minha profissão. À minha orientadora Profª. Drª. Cláudia de Vilhena Shayer Sabino por acreditar em meu projeto, pela grande disponibilidade e pelo carinho demonstrado durante o curso. Ao meu co-orientador Prof. Dr. Francisco Ângelo Coutinho pelas palavras sábias e enorme capacidade de transmitir conhecimento. Aos professores do mestrado, pela contribuição para meu desenvolvimento pessoal e profissional. Aos bioespeleólogos Rodrigo Lopes Ferreira e Marconi Souza Silva por me apresentarem o maravilhoso mundo subterrâneo, dando um sentido a meu curso de Ciências Biológicas. A meus grandes amigos do Colégio Batista Mineiro pelo apoio. Ao promotor Marcos Paulo de Souza Miranda, pelo apoio ao trabalho e por acreditar que é possível preservar o patrimônio natural. Ao Sr. José Ayrton Labegalini, pelo interesse em meu projeto e pelo material cedido para a realização do mesmo. Ao Gerente do Parque Estadual do Sumidouro, Sr. Rogério Tavares de Oliveira, por me apresentar o parque e pela preocupação para com a preservação de tão importante patrimônio natural. Ao IBAMA, em especial ao analista ambiental Flávio Túlio Gomes, pelo apoio ao trabalho e disponibilidade. Ao Sr. Marcelo Rasteiro, da Sociedade Brasileira de Espeleologia, por ser tão preocupado com a preservação do patrimônio espeleológico e por ser sempre disponível para colaborar com o trabalho. A meus amigos Willian Resende Quintal e Luiz Octávio Dolabela, pelo apoio na produção da cartilha. Ao biólogo e fotógrafo Adriano Marques de Souza, pela ajuda na realização das fotografias subterrrâneas. Aos funcionários da Gruta da Lapinha, Gruta de Maquiné, Gruta Rei do Mato e da Secretaria de Cultura e Turismo de Lagoa Santa pelo apoio ao trabalho. À amiga Érika Suzanna Bányai do Museu da Lapinha pelo interesse em meu trabalho, pelo valioso material disponibilizado. Aos amigos anabaênicos pelas ajudas virtuais e pessoais. Aos amigos do mestrado, pelo apoio e conhecimento. 7 “ Quando nos deparamos com a entrada de uma caverna somos tomados por um sentimento misto, de temor e desejo; temor das trevas, do desconhecido e desejo de encontrar ali as chaves de mistérios ainda sequer suspeitados.” Leonardo da Vinci apud Lino (2001) 8 RESUMO As cavernas fascinam e estimulam a curiosidade humana por suas belezas e mistérios. Alunos da quinta-série do ensino fundamental demonstram interesse por esse tipo de ambiente, uma vez que mais de 90% dos respondentes do questionário a cerca do ambiente cavernícola afirmam que têm vontade de conhecer tal local. Desta forma sugere-se que as cavernas, consideradas um espaço não-formal, sejam utilizadas para a realização de atividades educacionais estimulante aos alunos de maneira positiva. Para tanto, as concepções alternativas dos estudantes devem ser analisadas para a introdução de um novo conteúdo escolar, de modo a tornar o objeto significativo. A presente dissertação possui como objetivo geral a produção de um roteiro informativo sobre o ambiente cavernícola, utilizando o conhecimento prévio dos alunos e os PCN’s. Foram aplicados aos alunos de quinta-série, de duas escolas particulares de Belo Horizonte, um questionário relativo ao ambiente cavernícola. Concluiu-se que as cavernas podem e devem ser utilizadas no processo de ensino/aprendizagem. Palavras-chave: Cavernas, educação ambiental espaço não-formal, concepções alternativas, 9 ABSTRACT Caves have fascinated and stimulated human curiosity because of their beauty and mystery. Fifth grade students demonstrate interest for this kind of environment, since more than 90% of the respondents of the questionnaire about the cave environment state they would like to visit such places. For that reason we suggest that caves, considered an informal space, should be used as a place for educational activities, fostering positive attitudes among students. In order to do so, the alternative concepts of the students have to be analyzed to introduce a new school subject, making this subject meaningful. The current dissertation has as a general goal the production of an informative guide about the cavern environment, using the previous knowledge of the students and the PCN’s (National Curriculum Parameters). A questionnaire about the cavern environment was used with fifth grade students from two private schools in Belo Horizonte. A conclusion was made that the cave environment must be used in the learning / teaching process. Key-words: education caves, non-formal space, alternative concepts, environmental 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Estalactite em formação na Gruta de Maquiné ...........................................37 Figura 2: Estalactites quebradas na Gruta Rei do Mato ............................................38 Figura 3: Pintura rupestre presente na entrada da Gruta de Maquiné........................44 Figura 4: Vista parcial do Parque Estadual do Sumidouro .........................................51 Figura 5: Vista parcial da Lagoa do Sumidouro...........................................................53 Figura 6: Escorrimento no interior da Gruta da Lapinha ............................................55 Figura 7: Apresentação da Gruta da Lapinha realizada pelo guia...............................59 Figura 8: Momento da excursão à Gruta da Lapinha..................................................60 Figura 9: Registro fotográfico das cavidades naturais.................................................61 Figura 10: Mapa da Gruta do Baú ...............................................................................62 Figura 11: Tira representativa da influência da mídia sobre os hábitos dos morcegos................................................................................................................68 Figura 12: Tira representativa do repúdio dos humanos para com os insetos............69 11 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Percentuais sobre os motivos que levam a visitação à caverna.................65 Gráfico 2: Percentuais sobre os seres vivos que podem ser encontrados no ambiente cavernícola..............................................................................................................67 Gráfico 3: Percentuais sobre o tipo de alimentação dos organismos cavernícolas............................................................................................................70 Gráfico 4: Percentuais sobre os motivos pelos quais uma caverna deve ser protegida.................................................................................................................71 Gráfico 5: Percentuais sobre a relação ambiente externo/interno...............................73 Gráfico 6: Percentuais sobre as medidas que podem ser tomadas para a proteção das cavernas.................................................................................................................74 12 VOCABULÁRIO • Basalto - O basalto é uma rocha ígnea eruptiva, de granulação fina, afanítica, isto é, os cristais não são perceptíveis à vista desarmada, podendo, ainda, conter grandes quantidades ou ser constituído integralmente de vidro (material amorfo). • Bioespeleologia - Ramo da biologia que se dedica ao estudo da fauna cavernícola. • Cascata - Tipo de escorrimento que recobre as paredes das cavernas. • Carbureteira - Equipamento utilizado na prática espeleológica, composta basicamente por capacete e uma fonte de luz. • Cárstico - Carste ou Carso ou ainda Karst, também conhecido como relevo cárstico ou sistema cárstico, é um tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química (corrosão) das rochas, que leva ao aparecimento de uma série de características físicas. O relevo cárstico ocorre predominantemente em terrenos constituídos de rocha calcária, mas também pode ocorrer em outros tipos de rochas carbonáticas, como o mármore e rochas dolomíticas. • Coluna - Forma vertical e geralmente cilíndrica que se origina da união de uma estalactite com uma estalagmite. • Cortina - Espeleotema formado pela gota de água que emerge em uma parede ou teto inclinado, deixando um fino rastro de calcita que forma uma lâmina ondulada. • Epígeo - Relativo ao ambiente externo à caverna. • Espeleogênese - Processo de formação das cavernas. • Espeleologia - Espeleologia (do latim spelaeum, do grego σπήλαιον, "caverna", da mesma raiz da palavra "espelunca") é a ciência que estuda as cavidades naturais e outros fenômenos cársticos, nas vertentes da sua formação, constituição, características físicas, formas de vida, e sua evolução ao longo do tempo. • Espeleotema - Espeleotema (Do grego, "depósito de caverna") ou concreção é o nome genérico de todas as formações rochosas que ocorrem tipicamente no interior de cavernas como resultado da sedimentação e cristalização de minerais dissolvidos na água. 13 • Estalactite - Formações rochosas sedimentares que se originam no teto de uma gruta ou caverna, crescendo para baixo, em direção ao chão, pela deposição (precipitação) de carbonato de cálcio arrastado pela água que goteja do teto. Apresentam frequentemente uma forma tubular ou cônica. • Estalagmite - Formações que crescem a partir do chão de uma gruta ou caverna em direção ao teto, formadas pela deposição (precipitação) de carbonato de cálcio arrastado pela água que goteja do teto. • Gipsita - Sulfato de cálcio hidratado, também designado por gesso ou gipsite. • Gnaisse - Rocha de grande variação mineralógica e grau metamórfico, é amplamente empregada como brita na construção civil e pavimentação, além do uso ornamental. • Guano - Nome dado aos excrementos das aves e morcegos quando estes se acumulam. • Hipógeo - Relativo à parte interna da cavidade natural. • Micaxisto - Rochas metamórficas de xistosidade acentuada, formadas, essencialmente, por quartzo e mica. • Quiróptero - Relativo a morcegos. • Travertino - São formas especiais de escorrimento semelhantes a pequenos diques que represam, em “piscinas” escalonadas, a água que escorre pelos pisos das cavernas. 14 LISTA DE SIGLAS • CECAV – Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas • EA – Educação Ambiental • IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis • IEF – Instituto Estadual de Florestas • ONU – Organização das Nações Unidas • PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais • SBE – Sociedade Brasileira de Espeleologia • UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais • UIS – União Internacional de Espeleologia 15 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................16 1.1 Justificativa.............................................................................................................17 1.2 Objetivos................................................................................................................17 1.2.1 Geral....................................................................................................................17 1.2.2 Específico............................................................................................................17 1.3 Estrutura do trabalho..............................................................................................18 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ESPAÇO NÃO-FORMAL E OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS...............................................................................19 2.1 Educação Ambiental..............................................................................................19 2.2 Espaço não-formal.................................................................................................23 2.3 Parâmetros curriculares nacionais.........................................................................25 2.3.1 PCN Temas Transversais - Meio Ambiente.......................................................29 3. CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS............................................................................31 4. CAVERNAS, GRUTA DA LAPINHA E O PARQUE ESTADUAL DO SUMIDOURO..........................................................................................................35 4.1 Cavernas................................................................................................................35 4.1.1 Os fatores impactantes ao ambiente cavernícola...............................................41 4.1.2 Importância da preservação dos ambientes cavernícolas e seu entorno...........43 4.1.3 A legislação e o ambiente cavernícola................................................................48 4.2 O Parque Estadual do Sumidouro..........................................................................50 4.3 A Gruta da Lapinha................................................................................................54 16 5. METODOLOGIA......................................................................................................57 5.1 Aplicação do questionário sobre o ambiente cavernícola......................................57 5.2 Observações sobre a excursão à Gruta da Lapinha..............................................59 5.3 Registro fotográfico do ambiente cavernícola e sua fauna....................................61 5.4 Produção do Roteiro Informativo............................................................................63 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................65 6.1 Resultados da aplicação do questionário sobre o ambiente cavernícola..............65 6.2 Resultados da observação da excursão à Gruta da Lapinha................................75 7. PRODUTO...............................................................................................................78 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................81 ANEXOS......................................................................................................................86 Anexo A: Questionário.................................................................................................86 Anexo B: Produto.........................................................................................................87 Anexo C: Autorização IBAMA/CECAV.........................................................................94 17 1. INTRODUÇÃO Caverna (do latim cavus, buraco), toca, lapa ou gruta é toda cavidade natural formada na rocha com um tamanho suficiente para a entrada de seres humanos. Esse tipo de ambiente se caracteriza por sua alta estabilidade ambiental e ausência permanente de luz. Meu primeiro contato com uma cavidade natural subterrânea não-turística ocorreu na região do circuito das grutas em Minas Gerais e deu todo um sentido a um curso de Biologia que até aquele momento não me estimulava. Chego a afirmar que foi um caso real de amor à primeira vista. Aquelas espetaculares formações, a escuridão absoluta ao se apagar a luz da carbureteira, os riscos daquele tipo de exploração, aquelas formas de vida impressionantes fizeram com que realmente me sentisse um biólogo. Desde a primeira visita já se passou uma década, mas o amor pelo ambiente cavernícola não diminuiu. O Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, oferecido pela PUC-MINAS, surgiu como uma possibilidade de reafirmar esse sentimento pelo ambiente hipógeo e disseminar, assim como os morcegos disseminam as sementes em seus vôos noturnos, o conhecimento sobre o assunto para alunos que visitam esse tipo de ambiente, em especial a Gruta da Lapinha, localizada em Lagoa Santa, Minas Gerais. Realizar o projeto não foi simples; não pelo conteúdo em si, que me atrai bastante e torna o trabalho agradável, mas, sim, pelo momento mais difícil pelo qual já passei, em função de uma grave doença que não me permitiu trabalhar por alguns meses. Mas esse fato foi superado e, agora, posso com muito orgulho apresentar o projeto realizado. 18 1.1 Justificativa As cavidades naturais, por suas belezas e mistérios, atraem as pessoas, instigadas pelo espírito de aventura. Essas características do meio estimulam a curiosidade de alunos, como exemplo os de quinta-série, e podem ser utilizadas de maneira proveitosa por parte do educador para a discussão de conteúdos específicos. Essas peculiaridades foram utilizadas para a produção de um roteiro informativo, que objetivou a apresentação e a conscientização referente ao ambiente hipógeo e seu entorno para alunos da quinta série. 1.2 Objetivos 1.2.1 Geral A presente dissertação possui como objetivo geral a produção de um roteiro informativo sobre o ambiente cavernícola, utilizando o conhecimento prévio dos alunos, a fim de nortear e instruir sobre educação ambiental. 1.2.2 Específicos São objetivos específicos da dissertação: • Avaliar o conhecimento prévio dos estudantes da quinta série do ensino fundamental acerca do ambiente cavernícola. 19 • Aproximar os visitantes do ambiente cavernícola das peculiaridades do ambiente explorado. • Informar e conscientizar aos visitantes de ambientes cársticos a necessidade de proteção das cavernas. • Divulgar as normas básicas de segurança nas visitas às cavernas. 1.3 Estrutura do trabalho A presente dissertação apresenta-se dividida em sete capítulos: • O primeiro capítulo trata sobre os temas Educação Ambiental (EA) e seus conceitos, espaço não-formal e os temas existentes nos Parâmetros Currículares Nacionais (PCN) que se enquadram na temática do trabalho. • O segundo discorre sobre o tema Concepções Alternativas, explicando-o e determinando sua importância para a realização do trabalho. • O terceiro fornece fundamentação teórica sobre o ambiente cavernícola e suas principais características. Também traz informações gerais sobre a Gruta da Lapinha e o recém implantado Parque Estadual do Sumidouro. • O quarto explica a metodologia utilizada no trabalho. • O quinto apresenta e discute os resultados obtidos. • O penúltimo apresenta o produto, relacionando-o com o referencial teórico utilizado no trabalho. • E o último faz uma retrospectiva sobre o trabalho e apresenta suas principais conclusões. 20 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ESPAÇO NÃO-FORMAL E OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 2.1 Educação Ambiental O ser humano relaciona-se com a natureza, muitas vezes, de forma diferenciada de outros seres vivos. Enquanto os demais seres se encontram incluídos no ambiente, o ser humano insiste em se considerar “fora” do mesmo. Gonçalvez (2006) demonstra que o próprio conceito de natureza não é natural e, sim, criado pelo homem de acordo com sua cultura: Toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada idéia da natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens. Constitui um dos pilares através do qual os homens erguem as suas relações sociais, sua produção material e espiritual, enfim, sua cultura. (GONÇALVEZ, 2006). Parece complexo para nossa espécie perceber que somos parte integrante da natureza, já que em muitos casos modificamos o espaço natural radicalmente e criamos, assim, o “nosso” meio. Esse local modificado não é percebido pelas pessoas como um ambiente, já que para muitos, ambiente é aquele natural, que não foi modificado pelo homem. Infelizmente, o ser humano trata a natureza como algo que não é “civilizado”, que se opõe à cultura e que, portanto, não merece nosso respeito, mas o repúdio. É exemplo desse desrespeito o uso de expressões pejorativas; fato esse citado por Gonçalvez (2006): Sem que nos apercebamos, usamos em nosso dia-a-dia uma série de expressões que trazem em seu bojo a concepção de natureza que predomina em nossa sociedade. Chama-se de burro ao aluno ou a pessoa que não entende o que se fala ou ensina; de cachorro ao maucaráter; de cavalo ao indivíduo mal-educado; de vaca, piranha e veado àquele ou àquela que não fez a opção sexual que se considera correta, etc... Juntemos os termos: burro, cachorro, cavalo, vaca, piranha e veado são todos nomes de animais, de seres da natureza tomados – em todos os casos – em sentido negativo, em oposição a comportamentos considerados cultos, civilizados,e bons. (GONÇALVEZ, 2006). 21 Gonçalvez (2006) ainda ressalta que a natureza é definida, em nossa sociedade, como aquilo que se opõe à cultura. A cultura é tomada como algo superior e que conseguiu controlar e dominar a natureza. Já sobre o ponto de vista específico dos professores de Biologia, TozoniReis (2002) destaca que a concepção da dualidade homem-natureza se caracteriza em uma compreensão que naturaliza as relações dos indivíduos com o ambiente em que vivem, sendo a relação homem-natureza, portanto, definida pela própria natureza. É fundamental que o ser humano tenha consciência de que é parte integrante da natureza, tendo, dessa forma, não apenas o direito de usá-la em seu benefício, mas também a obrigação de perpetuá-la para as próximas gerações, para os demais seres existentes, promovendo, assim, o seu uso sustentável. Utilizamos os recursos do ambiente como se os mesmos fossem inesgotáveis; produzimos, compramos e jogamos fora muito mais do que realmente precisamos. Chegamos a um ponto tal que temos que agir rapidamente para que os danos não sejam maiores e, possivelmente, irreversíveis. Gadotti (2000) afirma inclusive que, em função do descontrole de produção gerado pelo homem, passamos do modo de produção para o modo de destruição, o que nos conduz à era do exterminismo. Dias (2003) faz alusão às mudanças de atitude e não apenas aos bens “ecologicamente corretos” que adquirimos: Em nenhum período conhecido da história humana ela precisou tanto de mudança de paradigma, de uma Educação renovadora, libertadora. Mais do que produzir painéis solares baratos, reciclar e dotar os carros de células de combustível, em vez de petróleo, precisamos de um processo mais completo, que promova o desenvolvimento de uma compreensão mais realista do mundo. No século XX, o ser humano involuiu, ética e espiritualmente. (DIAS, 2003). Completando o raciocínio, Dias (2003) refere-se à urgência do primordial papel da Educação Ambiental. É necessário convencer aqueles que dependem do ambiente, ou seja, todos, sobre a necessidade de sua preservação. Gadotti (2000) ressalta essa importância, quando menciona: 22 O sucesso da luta ecológica depende muito da capacidade dos ecologistas convencerem a maioria da população, a população mais pobre, de que se trata não apenas de limpar os rios, despoluir o ar, reflorestar os campos devastados para vivermos num planeta melhor num futuro distante. Trata-se de dar uma solução, simultaneamente, aos problemas ambientais e aos problemas sociais. Os problemas de que tratam a ecologia não afetam apenas o meio ambiente. Afetam o ser mais complexo da natureza que é o ser humano. (...) Os mais ameaçados pela destruição do planeta são os pobres. (GADOTTI, 2000). De acordo com Tozoni-Reis (2002), o ano 1972 foi considerado como uma referência para o movimento ambiental mundial e as primeiras discussões culminaram na Conferência de Estocolmo. A Educação Ambiental surge, então, como uma das maneiras pelas quais o homem passa a perceber a importância da preservação do ambiente. Nessa conferência, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), aparece a idéia do que deveria se chamar Educação Ambiental. Isso surge em função do fato de que a educação vigente não era capaz de promover as mudanças necessárias na sociedade. Dias (2003) afirma: Entretanto, reconheceu-se, na época, que a Educação então vigente, pelas suas características de rigidez e distanciamento das realidades da sociedade, e até pela situação por que passava em todo o mundo, não seria capaz de promover as mudanças necessárias. Surgiria o rótulo Educação Ambiental (EA) como um “novo” processo educacional que deveria ser capaz de executar a tarefa. (DIAS, 2003). Tozoni-Reis (2002) também destaca que, nessa conferência, a educação dos indivíduos para o uso mais equilibrado dos recursos foi apontada como uma das estratégias para a solução dos problemas ambientais. O conceito de Educação Ambiental evoluiu concomitantemente com a mudança do conceito de meio ambiente. Dias (2003) cita esse fato: A evolução dos conceitos de EA esteve diretamente relacionada à evolução do conceito de meio ambiente e ao modo como este era percebido. O conceito de meio ambiente, reduzido exclusivamente a seus aspectos naturais, não permitiria apreciar as interdependências nem a contribuição das ciências sociais e outras à compreensão e melhoria do ambiente humano. (DIAS, 2003). 23 Na Primeira Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental, realizada pela ONU na cidade de Tibilizi em 1977, a EA foi definida como um instrumento para criar consciência e compreensão dos problemas ambientais, além de estimular a formação de comportamentos positivos (TOZONI-REIS, 2002). Para Tozoni-Reis (2002), a EA se caracteriza da seguinte forma: (...) educação ambiental é uma dimensão de educação, é atividade intencional da prática social, que imprime ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, com o objetivo de potencializar essa atividade humana, tornando-a mais plena de prática social e ética ambiental. (TOZONIREIS, 2002). Cascino (2003) ressalta que a chamada Educação Ambiental não contém uma especificidade isolada, desconectada; ela só existe na estreita relação entre a produção de um fazer mais amplo com os processos de transformação de toda a educação. Em relação à Educação Ambiental e ao ambiente cavernícola, tema da presente dissertação, Ferreira & Martins (2001) afirmam: Outro grande desafio é educar a população quanto à importância de se preservar esses ecossistemas. Para isso, o conjunto de informações necessárias à preservação deve não ser apenas gerado, mas também ser divulgado, através de práticas de educação ambiental, sendo essencial formar profissionais capacitados a realizar essa tarefa. Caberá a eles fornecer, a cada indivíduo, uma visão completa do ambiente cavernícola, abrangendo todos os seus aspectos (geológicos, biológicos e outros), de forma a despertar o interesse por sua conservação. (FERREIRA & MARTINS, 2001). Na vasta literatura sobre a temática da EA, podemos encontrar inúmeros conceitos, mas a maioria deles convergem para um mesmo ponto. Esse é o objetivo ao qual a EA visa: o desenvolvimento de conhecimento, compreensão, habilidades e motivação para adquirir valores, mentalidades e atitudes necessárias para lidar com os problemas ambientais encontrando, assim, soluções sustentáveis. 24 2.2 Espaço não-formal Toda a atividade realizada fora do ambiente escolar, como, por exemplo, as visitas às Unidades de Conservação, cavernas, museus, zoológicos, dentre outros, são consideradas como modalidade de educação não-formal. Atividades que ocorrem específicamente em ambientes naturais recebem o nome de “Outdoor Education.” Morais (2005) caracteriza a educação não-formal: Estas modalidades de atividades e espaços educativos são definidas em contraposição à educação escolar formal e caracterizadas por flexibilidade, intencionalidade e caráter voluntário dos participantes. São dirigidas a um público heterogêneo, inexistindo exames ou emissão de certificados de aprovação. (MORAIS, 2005). Gohn (2006) apresenta uma contraposição a respeito da educação nãoformal, considerando que é a que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianos. Podemos observar no texto de Gadotti (2005) outro conceito de educação não-formal, que se caracteriza por sua especificidade e não por oposição à educação formal: A educação não-formal é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática. Os programas de educação não-formal não precisam necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de aprendizagem. (GADOTTI, 2005). Gadotti (2005), inclusive, salienta que a educação não-formal é também uma atividade educacional organizada e sistemática, levada a efeito fora do sistema formal. Essa, segundo o autor é, por algumas pessoas, denominada incorretamente “educação informal”. Várias são as definições para a educação não-formal, mas podemos perceber na literatura que, em comum, existe maior flexibilidade, interesse, 25 participação, solidariedade, dentre outros, tornando, assim, o conteúdo mais atrativo para os estudantes e demais visitantes. A educação não-formal pode ocorrer em áreas de preservação e é nesse ponto que se enquadra o presente trabalho. No texto de Mergulhão & Vasaki (2002), existe uma interessante definição dessas áreas naturais protegidas: As áreas naturais protegidas por lei recebem o nome genérico de Unidades de Conservação (UC). A maioria delas é de parques, reservas e estações ecológicas sob a responsabilidade do governo, estadual ou federal, mas também há muitas sob a guarda do município e até de particulares. Geralmente, são locais em que o ecossistema original está bem preservado e/ou corre sério risco de destruição; abrigam espécies ameaçadas ou ecossistemas frágeis, como recifes de corais e cavernas. Além disso, apresentam relevante interesse conservacionista, científico, educativo e turístico. A variedade de ambientes é muito grande: de florestas a ilhas e recifes de corais, áreas de campo, cerrado, manguezais, restingas, banhados e cavernas, entre outros. (MERGULHÃO & VASAKI, 2002). Destaca-se, sob o ponto de vista educacional, que ao se realizar uma atividade em um ambiente externo, como em uma caverna, por exemplo, brincadeiras surgem durante a atividade, semelhantes àquelas que são normalmente reprimidas em salas convencionais. No espaço não-formal tais brincadeiras são aceitáveis e servem para que ocorra uma quebra de pressão associada ao processo ensino/aprendizagem. Essa liberação da pressão de aprender, quando algo está sendo ensinado, pode oferecer espaço potencial para ser usado em atividades criativas (BROOKE & SOLOMON, 1998). Deve-se resaltar o que afirmam Mergulhão & Vasaki (2002), ao dizerem que mais importante do que transmitir conhecimentos é sentir o ambiente; desenvolver a observação e o respeito a todos os elementos que o compõem. Além dos aspectos positivos da utilização do espaço não-formal citados no texto, devem-se levar em consideração os impactos que essa atividade pode gerar. Lobo (2005), em seu trabalho sobre educação ambiental em cavernas, afirma: 26 (...) Todavia, nem sempre a atividade turística vem sendo desenvolvida de forma a privilegiar a conservação dessas áreas (naturais), o que acaba por jogá-la no lugar comum das atividades e fenômenos sócioeconômicos de caráter puramente predatório.(...) (LOBO, 2005). A análise dos conceitos sobre a educação não–formal faz com que a atividade realizada no interior do ambiente cavernícola possa se enquadrar nessa modalidade educacional, pois gera uma maior flexibilidade e uma maior interação entre os estudantes, tornando o aprendizado mais estimulante. 2.3 Parâmetros Curriculares Nacionais Os Parâmetros Curriculares Nacionais são documentos criados pela Secretaria de Educação do Governo Federal com o auxílio de vários educadores brasileiros no ano de 1998 e tem como objetivo construir referências nacionais comuns ao processo educativo, sem perder as diversidades regionais, políticas e culturais existentes em nosso pais de dimensões continentais. Os conhecimentos contidos nos PCN são reconhecidos como necessários para o exercício da cidadania por parte dos jovens. Os objetos do presente estudo se aterão a dois PCN; em particular, o PCN sobre as ciências naturais de 5ª à 8ª séries (3º e 4º ciclos) e o PCN sobre meio ambiente, visto que o trabalho de pesquisa realizado teve como referência alunos da 5ª série de duas escolas particulares, que visitaram uma caverna na região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Dentre os objetivos gerais do PCN para o ensino fundamental, o que melhor se enquadra ao tema da presente dissertação é: • O aluno perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do ambiente (BRASIL, 1998a). 27 O PCN ressalta que o ensino de ciências não deve se basear na memorização de conteúdos e nem se afastar do contexto social, cultural ou ambiental. Não se deve aprender ciências para a prova e, sim, para se tornar uma pessoa mais crítica e sabedora de seus direitos e deveres para com a natureza, para com o próximo e para com o ambiente. É apresentada nos PCN a importância que o professor deve dar ao conhecimento prévio do aluno, ou seja, devem-se ouvir dos alunos quais são os significados pessoais que os mesmos dão ao que estudam. Dessa maneira, o professor poderá promover uma evolução conceitual, a aprendizagem dos procedimentos e a compreensão dos valores humanos. O ponto de vista histórico também é valorizado nos PCN, devendo o professor abordar a história das ciências e a das invenções. Deve-se destacar, sempre que possível, a história do lugar onde vive o aluno, de modo que o mesmo perceba que o conhecimento está a seu alcance e não apenas em livros que contam sobre locais distantes. Dentre os objetivos do PCN, sobre as ciências naturais para o terceiro ciclo, os que melhor se aplicam ao tema dessa dissertação são os seguintes: • reconhecer que a humanidade sempre se envolveu com o conhecimento da natureza e que a Ciência é uma forma de desenvolver esse conhecimento, por que se relaciona com outras atividades humanas; • valorizar a disseminação de informações socialmente relevantes aos membros da sua comunidade; • valorizar a vida em sua diversidade e a conservação dos ambientes, • elaborar perguntas e hipóteses, selecionando, organizando dados e idéias para resolverem problemas; • caracterizar as condições e a diversidade de vida no planeta Terra em diferentes espaços, particularmente nos ecossistemas brasileiros; • interpretar situações de equilibrio e desequilibrio ambiental relacionando informações sobre a interferência do ser humano e a dinâmica das cadeias alimentares. 28 Em relação aos conteúdos de ciências para o terceiro ciclo (5ª e 6 ª séries), é função do professor selecionar aquilo que for mais pertinente para seus alunos, podendo ocorrer um aprofundamento maior em alguns temas e uma visão mais simplificada sobre outros. Os conteúdos são separados em eixos temáticos e os mais relevantes ao nosso estudo estão explicitados a seguir. Quanto ao eixo temático Vida e Ambiente, o PCN enfatiza que é fundamental que o aluno estude o ambiente em que vive e valorize os trabalhos de campo: (...) Entretanto, garantir estudos sobre o ambiente onde vive o aluno é um recurso essencial à cidadania. Além disso, é importante que os alunos entrem em contato direto com o que estão estudando, de forma que o ensino dos ambientes não seja exclusivamente livresco. As observações diretas, as entrevistas, os trabalhos de campo e os diferentes trabalhos práticos são atividades básicas. (BRASIL, 1998a). O aluno deve compreender que em todos os ambientes existem relações entre o seres vivos e entre estes e o meio físico. Deve perceber também que as especificidades de cada ambiente surgem exatamente em virtude da variação de fatores bióticos e abióticos de cada um deles. Para o PCN, o estudo dos seres vivos, baseado na classificação de grupos, é desastroso; ficar apenas em diferenças fisiológicas e morfológicas é transformar um conteúdo extremamente interessante em um fracasso completo. Devem, sim, observar as diferentes espécies em seus ecossistemas e promover uma relação entre as formas e funções de seus corpos com seus habitos e hábitats. Para o estudo dos seres vivos, deve-se usar o desenho de observação, que com o passar do tempo e com a auxílio do professor tornar-se-ão cada vez mais precisos e úteis para a análise da morfologia. Deve-se também apresentar aos alunos quais são os animais nativos de determinados ambientes e quais são aqueles introduzidos pelo ser humano, como também quais estão ameaçados de extinção, explicitando os motivos. 29 O estudo das cadeias alimentares no terceiro ciclo é fundamental, como pode ser visto no trecho abaixo: A interdependência alimentar entre os seres vivos é um conhecimento fundamental no terceiro ciclo, e a classificação dos seres vivos de acordo com seu papel na cadeia alimentar é prioritária, um conhecimento ao alcance dos alunos. Também poderão compreender que as substâncias são transferidas em cada elo da cadeia. (...)(BRASIL, 1998a). Problemas relacionados às alterações das cadeias alimentares também devem ser trabalhados, inclusive aqueles provocados pelo homem nos ecossistemas brasileiros. O estudo dos fósseis e o processo de fossilização, no terceiro ciclo é bastante proveitoso e deve ser aliado à apresentação de formas de vida do passado, em especial àquelas sul-americanas. O PCN sobre as ciências naturais valoriza os trabalhos de campo: Atualmente é impensável o desenvolvimento do ensino de ciências de qualidade sem o planejamento de trabalhos de campo que sejam articulados às atividades de classe. Esses trabalhos contemplam visitas planejadas a ambientes naturais, a áreas de preservação e conservação, áreas de produção primária (plantações) e indústrias, segundo os diferentes planos de ensino do professor. (BRASIL, 1998a). O trabalho de campo não é apenas aquele realizado dentro de uma unidade de conservação; o próprio ambiente escolar, como o pátio e os arredores da escola, podem funcionar como atividades de campo. 2.3.1 PCN Temas Transversais - Meio Ambiente O PCN sobre meio ambiente enfatiza a necessidade de mudança de atitude das pessoas em relação ao ambiente onde vivem. Há pessoas com discursos brilhantes sobre a preservação do meio ambiente, mas que jogam lixo nas ruas, 30 não separam o que pode ser reciclado e compram mais do que realmente precisam. A inclusão do tema meio ambiente nos temas transversais do PCN é uma das possibilidades que pode ser usada para que a percepção ambiental das pessoas mude para o lado da proteção. Sob esse ponto de vista, a escola é fundamental, pois ela é o espaço em que é possível se trabalhar a formação de valores e atitudes favoráveis ao meio ambiente. A importância da Educação Ambiental é ressaltada no documento, como pode ser observado na passagem abaixo: Todas as recomendações, decisões e tratados internacionais sobre o tema evidenciam a importância atribuída por lideranças de todo o mundo para a Educação Ambiental como meio indispensável para conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação sociedade/natureza e soluções para os problemas ambientais. Evidentemente, a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do planeta, mas certamente é condição necessária para isso. (BRASIL, 1998b). O aprendizado relativo à Educação Ambiental deve ser significativo para as pessoas. Aprender constantemente sobre fatos que ocorrem em locais distantes da realidade pode fazer com que o ensino não seja atrativo e se perca a curto prazo, o que não significa que eles não devam ser trabalhados. Já o aprendizado que valorize o cotidiano pode realmente gerar um conhecimento e atitudes significativas, pois estamos tratando daquilo que conhecemos: Grande parte dos assuntos significativos para os alunos é relativa à realidade mais próxima, ou seja, sua comunidade, sua região. Por ser um universo acessível e familiar, a localidade pode ser um campo de práticas, nas quais o conhecimento adquire significado, o que é essencial para o exercício da participação. No entanto, por mais localizadas que sejam, as questões ambientais dizem respeito direta ou indiretamente ao interesse de todo o planeta. (BRASIL, 1998b). Os objetivos do PCN Meio Ambiente (BRASIL, 1998b) que se enquadram na dissertação estão listados abaixo. Vale ressaltar que esses podem ser alcançados até o final do quarto ciclo: 31 • • • • • • identificar-se como parte integrante da natureza e sentir-se afetivamente ligado a ela, percebendo os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente; perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural, adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do patrimônio natural, étnico e cultural; observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de um modo propositivo, para garantir um meio ambiente saudável e uma boa qualidade de vida; compreender que os problemas ambientais interferem na qualidade de vida das pessoas, tanto local quanto globalmente; conhecer e compreeder, de modo integrado, as noções básicas relacionadas ao meio ambiente; compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem, aplicando-os no dia-a-dia. Quando se faz uma análise dos métodos de avaliação nos PCN, o que se percebe é que, quando se trabalha a questão ambiental, deve-se valorizar sobretudo atitudes, posturas e domínios de procedimentos, ao invés de conceitos de ecologia. 32 3. CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS Observando os princípios básicos do construtivismo, aprendemos que as idéias prévias dos estudantes são fundamentais no processo de ensino/aprendizagem. Viana e Brito (2004), ao citarem o trabalho de Vygotsky, reconhecem que os conhecimentos do cotidiano e os científicos se relacionam e se influênciam constantemente, fazendo parte de um único processo: o de formação de conceitos De acordo com Piaget (1977), a assimilação de um determinado objeto se define como a incorporação de um elemento exterior num esquema sensóriomotor ou conceitual do sujeito. E a acomodação é definida como a necessidade do esquema de assimilação em considerar as particularidades próprias dos elementos. Segundo Piaget (1977), a construção do conhecimento em sala de aula é fortemente influenciada pela presença desses conceitos, visões e crenças, já que o sistema cognitivo é uma totalidade que se conserva nas assimilações e acomodações. No entanto, Piaget (1977) destaca que “como o todo é mais estável que seus componentes”, a ecologia conceitual, conjunto de idéias que o aprendiz já possui no instante da aprendizagem, tem um forte poder de redefinir o conceito ou a idéia nova em função de crenças e visões anteriores. Outro ponto em relação à importância do conhecimento prévio para o processo de aprendizagem é destacado por Oliveira (2005): (...) Ele (o sujeito) é parte atuante e essencial no processo de construção do conhecimento. Portanto, deve-se considerar sua visão acerca do mundo, pois é ele o alvo de interesse nesse processo. Sem a sua participação efetiva, a construção dos conceitos não ocorre, portanto, não ocorre aprendizagem, somente transmissão de conhecimentos que se apresentam desvinculados da realidade. (OLIVEIRA, 2005). 33 Partindo dessa premissa, ao identificarmos quais são os conhecimentos prévios informais dos alunos em relação ao ambiente cavernícola, objeto de nosso estudo, podemos construir um conhecimento científico que seja significativo. De acordo com Mortimer (2006), a construção de novos conceitos não pressupõe o abandono das concepções prévias, mas a tomada de consciência do contexto em que elas são aplicáveis. De acordo com esse fato, podemos compreender que as idéias primárias dos estudantes não são abandonadas nem subsumidas do processo de ensino aprendizagem. Além de não serem abandonadas, as idéias prévias podem ser difíceis de modificar, é o que afirmam Cavalcanti e Ostermann (2007), ao citarem o programa de pesquisa da década de 70, denominado “movimento das concepções alternativas”: Estudos nesse programa mostraram que as idéias que os estudantes apresentavam a respeito dos conceitos científicos eram, além de influenciadas por uma série de fatores (visão pessoal, contexto), bastante resistentes a mudanças. Em outras palavras, uma concepção alternativa sobre um determinado conceito científico não é facilmente substituída pela concepção correta desse conceito. (CAVALCANTI E OSTERMANN, 2007). Quando se trata especificamente do aprendizado do ensino de ciências, Linder (1993) conclui que a descrição da aprendizagem em ciências deve enfatizar “o esforço de se aumentar a capacidade dos estudantes em distinguir entre concepções apropriadas para cada contexto específico” e não o esforço para mudar concepções já existentes entre os estudantes. O que é realmente significativo para o estudante é aquele conhecimento que lhe é útil, ou seja, que faça parte de seu cotidiano. Berger e Luckmann (1967), citados por Mortimer (2006), enfocam que, comparadas à realidade da vida cotidiana, outras realidades são provícias finitas de significados, ou seja, podem existir várias realidades, mas a verdadeira é aquela da vida cotidiana, pela qual somos realmente tocados. 34 Mortimer (1996) completa a citação acima afirmando: A linguagem cotidiana é o modo mais abrangente de se compartilhar significados e permite a comunicação entre os vários grupos especializados dentro de uma mesma língua. Suprimí-la seria instaurar uma babel, impedindo que diferentes grupos pudessem compartilhar de significados numa mesma cultura. (MORTIMER, 1996). Uma pessoa que possua um conhecimento científico bastante apurado provavelmente fará uso em seu cotidiano de conceitos do senso comum, sob pena ser taxado de incoveniente. Podemos usar como exemplo o fato de que um bioespeleólogo ao conversar com uma pessoa que não tenha conhecimento sobre os seres cavernícolas, não deve afirmar que determinado animal avistado é um troglóbio anoftálmico. Fica mais simples informar que aquele ser vivo habita exclusivamente o interior da caverna e, por isso, não há necessidade da presença de olhos. No estudo do ambiente cavernícola, não é do nosso interesse que o aluno domine conceitos científicos, como, por exemplo, o nome complexo de várias formações e termos utilizados em trabalhos científicos. Dentre essas palavras, podemos destacar os travertinos, gipsita, hipógeo, epígeo. Isso ocorre simplesmente pelo fato de que não precisamos desses conceitos para que os alunos percebam a verdadeira importância de se proteger esse ambiente. Esses conceitos são fundamentais para os pesquisadores de cavernas, pois é a partir de sua utilização que se produz ciência, mas não para os visitantes das mesmas. Os conceitos científicos devem, sim, passar por transformações que os tornem objetos de ensino, que os tornem acessíveis e significativos para os estudantes. Transformar não significa necessariamente simplificar; é o que justifica Marandino (2004), quando pontua que essa passagem do conhecimento científico para o saber ensinado não se constitui em mera adaptação ou simplificação do conhecimento. Note-se ainda a importância da união do saber sábio à perspectiva social, pois fazermos escolhas, já que o saber não é único, Marandino (2005). 35 No trabalho de Lopes (1997), encontramos uma passagem que reflete a temática analisada: O conhecimento escolar é um tipo de conhecimento próprio que se caracteriza por ser uma (re)construção do conhecimento científico: a didatização não é meramente um processo de vulgarização ou adaptação de um conhecimento produzido em outras instâncias (universidades e centros de pesquisa). A seu ver, o trabalho de didatização acaba por implicar, necessáriamente, uma atividade de produção original e, por conseguinte, deve-se “ recusar a imagem passiva da escola como receptáculo de subprodutos culturais da sociedade. Ao contrário, devemos resgatar e salientar o papel da escola como socializadora/produtora de conhecimentos”. (LOPES, 1997). Quanto à visão construtivista de ensino/aprendizagem que parece dominar a área da educação em ciências, Mortimer (2006) apresenta duas características principais, dentre todas as que aparecem na vasta literatura e que provavelmente são compartilhadas: • a aprendizagem se dá através do ativo envolvimento do aprendiz na construção do conhecimento; • as idéias prévias dos estudantes desempenham um papel fundamental no processo de aprendizagem, já que essa só é possível a partir do que o aluno já conhece. O aluno deve se mostrar interessado pelo conteúdo para que realmente construa seu conhecimento. Nesse ponto, Costa (2007) demonstrou que o uso de cavernas é favorável para o desenvolvimento de um conhecimento específico, já que o interesse dos alunos da 5ª série pelo tema ultrapassa os 90%. 36 4. CAVERNAS, GRUTA DA LAPINHA E O PARQUE ESTADUAL DO SUMIDOURO 4.1 Cavernas Segundo a definição adotada pela União Internacional de Espeleologia (UIS), caverna (do latim cavus, buraco), toca, lapa ou gruta é toda cavidade natural formada na rocha com um tamanho suficiente para a entrada de seres humanos. Estão presentes no território brasileiro milhares de cavernas, como se observa em Karmann & Filho (2007): No Brasil, até 2006, haviam sido registradas 5.195 cavernas no cadastro do Centro Nacional de Estudo, Proteção e manejo de Cavernas (Cecav), vinculado ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Essa quantidade, porém, é considerada mínima, já que as estruturas geológicas encontradas no país indicam que provavelmente existem dezenas de milhares dessas curiosas formações em terras nacionais. (KARMANN & FILHO, 2007). As cavernas atraem em função de sua beleza e dos mitos que existem a seu respeito, o que instiga a curiosidade e o prazer pela aventura. De acordo com Karmann & Filho (2007), as cavernas vêm, desde a pré-história, atraindo o interesse da humanidade, como mostra a grande quantidade de registros arqueológicos encontrados nas entradas e, mais raramente, no interior. O trabalho de Lino (2001) relaciona as cavernas com a história do ser humano: A história humana não pode ser contada sem referir-se às cavernas. A relação entre o homem e esses ambientes é tão ou quase tão antiga quanto sua própria história; uma relação de importância fundamental na própria evolução de conceitos, sensações e sentimentos universais que definem o homem como um ser cultural. (LINO, 2001). Em algumas entradas de cavernas, encontram-se verdadeiros murais com pinturas rupestres. Esses mostram, em alguns locais, uma perfeição de detalhes que chega a impressionar, abordando situações cotidianas dos homens que lá 37 viveram, dando pistas de seu modo de vida para as civilizações atuais. Lino (2001) comenta sobre as pinturas rupestres: Tais pinturas e gravuras rupestres estão geralmente relacionadas com locais onde nossos ancestrais estabeleciam os rituais relacionados à caça ou aos seus mortos e deuses. Sepulturas, oferendas e pequenos altares, além das pinturas rupestres, são alguns dos vestígios que nos deixaram desses ritos, em sua maioria ainda indecifrados. (LINO, 2001). Atualmente a curiosidade em relação às cavernas pode trazer problemas para esse ambiente, já que muitas vezes ela não está aliada à proteção. Na verdade, estão aliadas à depredação por pessoas despreparadas para apreciar de maneira adequada esse ambiente ímpar. Algumas vezes, os destruidores afirmam estar realizando um trabalho de educação ambiental ou de ecoturismo. De acordo com Gillieson (1996), as cavernas frequentemente ocorrem em rochas sedimentares, em consequência da elevada dissolução de sais pela abrasão da água. As rochas são dissolvidas lentamente pela água doce levemente acidificada, em um fenômeno chamado pelos geólogos de espeleogênese. Na água das chuvas que atravessa o solo, podemos encontrar o ácido carbônico, que é formado pela reação da água com o dióxido de carbono, presente na atmosfera. A água infiltrada abre, dentro dessas rochas, buracos cada vez maiores e com diferentes formatos, que caracterizam os variados tipos de cavernas. A dissolução lenta e contínua da rocha pela água dá origem às galerias. Existem cavernas em vários tipos de rochas (basaltos, gnaisses, granito, micaxistos), mas sua incidência é muito menor em relação aos terrenos calcários. Após o surgimento da cavidade, podem aparecer os espeleotemas (estalactites, estalagmites, colunas, travertinos, cortinas, cascatas, dentre outros). Os espeleotemas são formados (Figura 1) pela lenta dissolução do calcário pela água de chuva acidificada, e como já mencionado, de posterior escorrimento e deposição pelas paredes e tetos da caverna. 38 Figura 01: Estalactite em formação na Gruta de Maquiné Fonte: Foto de Adriano Marques de Souza Várias dessas formações possuem um aspecto de grande beleza, que impressiona os visitantes. Infelizmente alguns deles quebram essas formações (Figura 02) para levar como lembrança para casa. 39 Figura 02: Estalactites quebradas na Gruta Rei do Mato Fonte: Foto de Adriano Marques de Souza Uma passagem que retrata esse fato é encontrada em um antigo livro sobre as cavernas de Minas Gerais (DEPARTAMENTO GERAL DE ESTATÍSTICA, 1939): (...) desejando certa moça aquelas concreções, de fato muito bem trabalhadas por êsse cinzel mágico da natureza, o seu pretendente alí estivera em perigosa ginástica naqueles paus mal seguros, a quebrar os preciosos adornos da abóbada para o delicioso presente. Eu sabia que os organizadores de presepes são terríveis destruidores das concreções das nossas grutas; fiquei sabendo, então, que também Cupido se inscreve na lista dos demolidores das nossas belezas naturais. (DEPARTAMENTO GERAL DE ESTATíSTICA, 1939). 40 Karmann & Filho (2007) explicam a espeleogênese, ou seja, a formação dos espeleotemas de maneira clara: A água que penetra no interior dos maciços rochosos, através de pequenas fissuras ou poros, é enriquecida com minerais dissolvidos. Quando a água atinge o espaço vazio das cavernas, esses materiais podem sofrer precipitação do teto, nas paredes e no chão, gerando estruturas variadas e de grande efeito visual. Apesar da enorme variedade de formas dos espeleotemas, a grande maioria destes é composta por apenas três minerais: a calcita e aragonita (ambos tem a mesma fórmula, mas o arranjo dos cristais é diferente) e gipsita. (KARMANN & FILHO, 2007). De acordo com Poulson & White (1969), o ambiente cavernícola possui algumas peculiaridades, tais como a sua alta estabilidade ambiental, a ausência permanente de luz natural, umidade elevada e a temperatura que, principalmente em áreas mais distantes da entrada é em geral constante e semelhante às médias anuais do ambiente externo circundante. Essas peculiaridades do ambiente fazem com que esse local se torne especial para alguns grupos de seres vivos, que passaram então a viver em seu interior há milhares de anos e que, em alguns casos, já se encontram tão especializados que nem podem sair. Em relação a esses animais que vivem em cavernas, podemos observar um variado grau de especialização ao ambiente. Em seus estudos, extremamente importantes para a bioespeleologia, a ciência que estuda os seres que habitam as cavernas, Holsinger & Culver (1988) classificaram os seres cavernícolas em três categorias: • Troglóxenos são comuns em cavernas, mas saem dela regularmente para se alimentar. Isso os torna reais importadores de matéria orgânica, depositada em cavernas por suas fezes, chamadas de guano. • Troglófilos podem completar seus ciclos de vida dentro e/ou fora das cavernas. Quando estão fora das cavernas esses animais preferem ambientes úmidos e sombreados. 41 Troglóbios se alimentam, reproduzem e morrem dentro da caverna. • Esses animais mostram especializações de forma, fisiologia e comportamento que devem ter evoluído em resposta a pressões seletivas presentes nesse tipo de ambiente e/ou em função da ausência de pressões seletivas típicas do meio externo. De acordo com Trajano (2000), para a colonização efetiva do habitat subterrâneo, os organismos devem ser capazes de se orientar topograficamente e encontrar comida sob a condição de ausência permanente de luz natural, escassez de comida e pequena densidade populacional. Os animais cavernícolas podem possuir algumas especializações que facilitam a vida no interior desse ambiente; dentre elas podemos encontrar apêndices maiores do que os animais epígeos, ausência de pigmentação e olhos, dentre outros. Como citado por Trajano (2000), encontrar alimento é um problema sério para os animais e, em especial, para aqueles que nunca saem das cavernas, pois esse, em geral, é escasso e efêmero. Os recursos podem ser transportados para o meio hipógeo através da água, vento ou por animais que freqüentam esse ambiente. Segundo Ferreira (1998), em várias cavernas secas, o principal recurso é o guano de morcegos, pássaros ou grilos que podem formar largas pilhas. O guano representa muitas vezes o importante recurso alimentar presente em cavernas, principalmente naquelas permanentemente secas, tanto para a fauna terrestre quanto aquática (o que pode melhor ser observado em cavernas tropicais). O guano é formado pela deposição das fezes dos animais, em geral, de aves e morcegos, logo abaixo do local onde as colônias se encontram. Sobre o guano, sua importância e características, Ferreira & Martins (1999) asseveram: Os morcegos defecam na área abaixo do local em que a colônia se fixa, fornecendo assim o alimento de muitas outras espécies, mas essa deposição cessa se abandonarem esse ponto. O guano, por isso, é um recurso efêmero, colonizado no início da deposição por numerosos organismos de espécies pioneiras, que dão a partida para um processo de sucessão. (FERREIRA & MARTINS, 1999). 42 A fragilidade dos organismos cavernícolas, em especial dos troglóbios, deve-se a alguns fatores; dentre eles à pequena diversidade dos seres, à dependência dos recursos importados do meio externo e à sua suscetibilidade a variações climáticas (TRAJANO, 2000). Vários troglóbios possuem pequena distribuição geográfica e populações diminutas quando comparadas ao ambiente externo, em função da escassez de recurso alimentar, e como conseqüência, essas populações tornam-se extremamente vulneráveis, e sua dificuldade em recuperar perdas populacionais é muito superior aos seres que habitam o ambiente epígeo (TRAJANO, 2000). 4.1.1 Os fatores impactantes ao ambiente cavernícola Os impactos que ocorrem em uma caverna podem ter origem na atuação humana ou naturalmente, conforme Ferreira & Horta (2001): esses impactos podem ocorrer em partes do ambiente cavernícola ou até mesmo na caverna como um todo. Infelizmente, a maior parte dos impactos atualmente são provocados por atuação antrópica, como explicado por Marra (2001): O longo período de pesquisas e descobertas foram aos poucos sendo trocados pela destruição e perda do patrimônio espeleológico, causado por um lado pelo crescimento das áreas urbanas, expansão da fronteira agrícola, etc., e por outro na geração de grandes demandas ao setor da construção civil, que encontravam no calcário a matéria-prima para fabricação do cimento e derivados para obras de alvenaria. Somado a esse quadro, o crescimento do setor minerário brasileiro e o avanço da indústria madeireira com a descaracterização das nossas matas nativas, sobretudo da mata atlântica, proporcionaram às cavernas a perda de suas características principais. Tais perdas estiveram associadas a várias modalidades de impactos, muitos desses vinculados a destruição de suas feições por explosão da rocha calcária, da contaminação de águas superficiais e subterrâneas gerando despejo dos rejeitos nos leitos dos rios, pelo extermínio da cobertura vegetal essencial para sobrevivência das mesmas, e somando ainda pelo descaso de governos municipais por efeito da colocação de lixo urbano e radioativo nas cavernas, fazendo deste quadro um problema de dimensões consideráveis. (MARRA, 2001). 43 Já que a maior parte do recurso alimentar do ambiente hipógeo vem do ambiente epígeo, os fatores que degradam o lado externo podem gerar impactos do lado interno. O grau desses impactos pode provocar alterações graves no nível populacional dos seres cavernícolas, e levar até a extinção de espécies. A própria visitação a uma caverna, por mais inocente e cheia de boas intenções que seja, pode provocar impactos ou até mesmo acidentes. De acordo com Trajano (2000): A visitação humana é um fator impactante para o ambiente cavernícola, mas também não podemos privar a população da visitação a algumas cavernas que possam ser consideradas como turísticas após a realização dos estudos necessários a sua viabilização, pois uma caverna que não tenha sido avaliada por especialistas pode trazer problemas aos visitantes como exemplo os perigos de acidentes e até problemas de saúde. (TRAJANO, 2000). Dentre os problemas de saúde que uma pessoa pode adquirir numa visita a caverna, podemos citar a leishmaniose, transmitida por Flebotomídeos que vivem em torno das entradas e problemas pulmonares, como a histoplasmose, provocada por fungos. Outro problema para o ambiente cavernícola, de acordo com Lacerda (2005), ocorre devido ao fato de que atualmente a velocidade das novas informações torna as opiniões voláteis. Os valores se modificam em nome do consumismo e a degradação ambiental é impulsionada em favor do lucro. A degradação dos ambientes cavernícolas segue esse padrão em função do próprio consumismo, relacionado ao uso de recursos naturais pelo homem. E o que parece mais grave é que os próprios visitantes podem não ter noção do impacto existente nesse tipo de ambiente, pois, para eles, o impacto causado por ação antrópica não é percebido durante uma visitação a uma caverna turística. 44 Esse fato pode ser comprovado no trabalho de pesquisa realizado por Goulart & Santos (2005), na Gruta da Lapinha : Em relação à vegetação clorofilada, influiu pouco na qualidade da visita e 39% dos que responderam consideraram a situação atual aceitável. Nota-se que este aspecto pouco influencia para 22% dos entrevistados e apenas 2% consideram como péssima a situação observada. Pode-se concluir que os visitantes não consideram ou não percebem esse impacto, uma vez que ele ocorre com bastante frequência dentro da gruta. (GOULART & SANTOS, 2005). 4.1.2 Importância da proteção dos ambientes cavernícolas e seu entorno Proteger as cavernas é proteger todo um patrimônio que já é utilizado pelo homem há milhares de anos, desde o tempo em que elas serviam como abrigo. Atualmente vivemos em casas que, na maioria das vezes, possuem como matéria prima o calcário, ou seja, indiretamente continuamos a depender das cavernas para nossa proteção e abrigo. Há milhares de anos atrás, quando o homem utilizava cavernas como principal forma de abrigo, o mesmo deixava marcas em suas paredes. Estas marcas são denominadas “pinturas rupestres” ( Figura 3). 45 Figura 3: Pintura rupestre presente na entrada da Gruta de Maquiné Fonte: Foto de Adriano Marques de Souza Essas pinturas resistiram ao tempo e são fundamentais para se decifrar como era aquele modo de vida. Silva (1993) retrata muito bem a importância das pinturas rupestres: Arte rupestre é a representação gráfica do homem pré-histórico expressa nos desenhos feitos nos paredões das grutas. Retrata o cotidiano através de cenas familiares de animais, cenas de caça e apresenta também representações complexas de formas geométricas. Através dela, o homem primitivo retratou também o mito e a magia. (SILVA, 1993). Ainda sob o ponto de vista da antropologia, preservar as cavernas significa preservar informações de grande valia sobre o surgimento e o desaparecimento de populações humanas em diferentes épocas. Silva (1993) demonstra essa 46 importância no trecho em que retrata a famosa raça de Lagoa Santa, encontrada por Lund nas cavernas da região: Essa população pré-histórica veio a caracterizar a conhecida raça de Lagoa Santa, classificada por Lund desde o século passado. Esta população teria vivido em franca idade da pedra pois não há indicios de que soubessem confeccionar implementos de ferro ou bronze. (SILVA, 1993). Sobre a importância da preservação do ambiente cavernícola e de seu entorno, do ponto de vista ambiental, podemos citar o que foi explicado por Ferreira & Horta (2001): Cavernas são importantes para o equilíbrio do ecossistema em sua área de ocorrência. As interferências no ambiente físico causadas por ação humana ou por fenômenos naturais refletem diretamente nas cavernas localizadas nas áreas no qual esses impactos ocorrem. A alteração da estrutura original do ambiente cavernícola causados por diferentes impactos pode causar um distúrbio no ambiente externo provocando um stress que desequilibraria um determinado ecossistema. (FERREIRA & HORTA, 2001). Do ponto de vista educacional, proteger cavernas significa dar oportunidade para que esse ambiente seja explorado pelos educadores de maneira a aumentar o conhecimento dos estudantes, desenvolver o interesse pelo patrimônio natural, contribuir para a socialização, dentre outros; já como demonstrado por Costa (2007), que o interesse dos alunos pelo ambiente cavernícola ultrapassa os 90%. Lino (2001) também enfatiza a importância das cavernas: Turisticamente as cavernas representam atrativos de alto valor, não apenas em termos contemplativos pela beleza e dimensões de seus espaços e ornamentações, mas também pelo mistério e aventura que caracterizam sua visitação. É ainda uma forma de turismo de alto potencial educativo se realizado de maneira adequada. Caso contrário pode ser, como demonstram inúmeros exemplos, uma das formas mais agudas de dilapidação e destruição desse patrimônio. (LINO, 2001). Uma das atividades de maior impacto ao ambiente cavernícola é a exploração do calcário. Tal atividade deve ser feita, sim, mas de maneira coerente, 47 prejudicando minimamente as áreas cársticas e após um minuncioso estudo de impacto ambiental e posterior relatório de impacto ambiental (EIA/RIMA). Segundo Marra (2001): A principal importâcia para preservação e conservação das cavernas, sítios espeleológicos e suas respectivas áreas de influência, é a manutenção dos sistemas ecológicos, sensíveis e únicos. Nas cavernas é possível o desenvolvimeno de estudos científicos, da investigação minuciosa e sistemática em diversos campos do conhecimento, a fim de proporcionar a sociedade a melhor opção de crescimento social e econômico através do adequado uso desse frágil ecossistema. (MARRA, 2001). Marra (2001) enumera oito motivos para a proteção do ambiente cavernícola: 1. Podem funcionar como opções de lazer, recreativas, de contemplação da beleza cênica de seu interior, desde que devidamente manejados 2. Exercem importante função de armazenar estratégicos reservatórios de água e de recarga de aquíferos para abastecimento, bem como às análises e pesquisas sobre o comportamento hídrico local e regional 3. Possibilitam adequada utilização, com vistas a exercer o papel de importante fonte de atividade economicamente viável, tais como o turismo, esporte, e seus benefícios associados 4. Guardam importantes informações nos sítios geológicos, possibilitando pesquisar o conjunto da origem, da formação e das sucessivas transformações da litologia ali instalada e do paleoclima outrora ocorrido na região 5. Protegem e conservam minerais raros ou formações geológicas inigualáveis 6. Conservam de forma eficiente interessantes informações da vida pretérita através dos sítios fossilíferos e arqueológicos, através dos quais é possível identificar, catalogar e pesquisar espécies de animais e vegetais fósseis, bem como o estudo cultural dos povos do passado, onde documentos, monumentos e objetos compõem importantes registros dos hábitos vividos de uma determinada sociedade 7. Propiciam eficiente abrigo para conservação de habitats de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, tanto da fauna como da flora 48 8. Podem desempenhar a função de locais reservados a manifestações sociais Segundo o termo de referência para o plano de manejo espeleológico de cavernas com atividades turísticas implantadas, publicado em 2006 pelo IBAMA/CECAV, o estudo das áreas com potencial espeleológico visa: • promover o conhecimento do potencial espeleológico das áreas de estudo; • proteger a caverna e a fauna associada; • proteger o sistema hidrológico e hidrogeológico de áreas cársticas ou pseudo-cársticas, principalmente áreas de recarga; • proteger áreas ou locais que possuem atributos de valor naturais, sociais e culturais; • definir a área de influência da cavidade, com base em estudos técnicos específicos; • apresentar o zoneamento espeleológico com base em estudos técnicos específicos, como instrumento de gestão; • disciplinar o uso de áreas cársticas e pseudo-cársticas definindo parâmetros a serem utilizados, no controle de acesso e na implantação de infra-estrutura de uso turístico; • propor medidas de controle de efeitos negativos advindos da ação antrópica, bem como alternativas de recuperação das áreas degradadas; • estimular a prática de educação ambiental. Em relação à proteção da fauna, é fundamental salientar, como Trajano (2000), a fragilidade dos organismos cavernícolas, em especial a dos troglóbios; essa deve-se a alguns fatores, dentre eles a pequena diversidade dos seres, a dependência dos recursos importados do meio externo e a suscetibilidade a variações climáticas. 49 Proteger cavernas é proteger todo um conjunto de seres vivos que em alguns casos só podem viver nesse ambiente: Vários troglóbios possuem pequena distribuição geográfica e populações pequenas em função da escassez de recurso alimentar, em conseqüência essas populações são extremamente vulneráveis e sua dificuldade em recuperar perdas populacionais é muito superior aos seres que habitam o ambiente epígeo. (TRAJANO, 2000). A proteção do ambiente cavernícola poderia se basear somente na presença desses seres em função do seu alto risco de extinção. Mas, além desse fator, deve ser considerada também a importância geológica, histórica e arqueológica desse ambiente. 4.1.3 A legislação e o ambiente cavernícola Toda atividade realizada em um ambiente cavernícola está regulamentada por lei e deve ser de conhecimento daqueles que pretendem utilizá-la. As cavernas, os sítios arqueológicos e pré-históricos são considerados pela legislação brasileira bens da União (BRASIL,1988). Então, mesmo que uma caverna esteja dentro de uma propriedade particular, ela pertence ao governo. O Decreto 99.556, de 1º de outubro de 1990 (BRASIL, 1990a), no primeiro artigo, dispõe que as cavernas constituem patrimônio cultural brasileiro, devendo ser preservadas e conservadas para que possam permitir estudos técnicocientíficos, atividades espeleológicas, étnico-culturais, turísticas, recreativas e educativas. No Decreto 99.556, temos que as cavernas podem ser utilizadas consoantemente com a legislação específica, desde que se assegurem a integridade física e o equilíbrio ecológico. O decreto cita também que qualquer empreendimento que seja realizado na área de ocorrência de cavidades naturais deve antes passar por um estudo de impacto ambiental. 50 Ainda de acordo com o decreto 99.556, é função do poder público preservar, conservar, fiscalizar e controlar o uso do patrimônio espeleológico brasileiro. A resolução CONAMA 347/04 de 10/09/2004 (BRASIL, 2004) define em seu artigo 6 o seguinte: Art. 6o Os empreendimentos ou atividades turísticos, religiosos ou culturais que utilizem o ambiente constituído pelo patrimônio espeleológico deverão respeitar o Plano de Manejo Espeleológico, elaborado pelo órgão gestor ou o proprietário da terra onde se encontra a caverna, aprovado pelo IBAMA. (BRASIL, 2004). Observamos, então, que o proprietário de um terreno que possua uma cavidade natural pode, sim, fazer uso da mesma, desde que tenha feito o Plano de Manejo Espeleológico. Ainda sobre a resolução CONAMA 347/04 de 10/09/2004 (BRASIL, 2004) temos o seguinte: Art. 12º - Na ocorrência de sítios arqueológicos e paleontológicos junto à cavidade natural subterrânea, o órgão ambiental licenciador comunicará aos órgãos competentes responsáveis pela gestão e proteção destes componentes. (BRASIL, 2004). Assim temos protegido, de acordo com a lei, todo patrimônio arqueológico e paleontológico presente em regiões cársticas. Já a Portaria Ibama nº 887 de 15/06/1990 - (BRASIL, 1990b) que dispõe sobre o uso das Cavidades Subterrâneas, entre outros, em seu Art. 3º, limita o uso das cavidades naturais subterrâneas apenas a estudos de ordem técnico-científica, bem como atividades de cunho espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo. Visando à proteção do patrimônio espeleológico e seu entorno, o artigo 5 da Portaria Ibama nº 887 de 15/06/1990 estabelece que: Art. 5º - Proibir desmatamentos, queimadas, uso de solo e subsolo ou ações de quaisquer natureza que coloquem em risco as cavidades naturais subterrâneas e sua área de influência, a qual compreenda os recursos 51 ambientais, superficiais e subterrâneos, dos quais dependam sua integridade física ou seu equilíbrio ecológico. (BRASIL, 1990b). Se analisarmos então as leis que regem o patrimônio espeleológico, teremos a impressão de que ele está protegido. Mas, na verdade, não é o que vemos na prática, apesar de nossa legislação ser considerada uma das melhores do mundo em relação ao ambiente cavernícola. Para se ter uma idéia da gravidade da situação, o Ministério das Minas e Energia está preparando a revogação do Decreto 99.556 de 1º de outubro de 1990 (BRASIL, 1990a), de modo a favorecer a investida de grandes empresas sobre nosso patrimônio espeleológico. 4.2 O Parque Estadual do Sumidouro O Parque Estadual do Sumidouro foi criado em 1980 pelo Decreto Estadual de Nº 20.375 de 3 de janeiro de 1980 (IEF, 2005), como uma compensação ambiental pela construção do Aeroporto Metropolitano de Confins, já que obra de tão grande porte poderia afetar de maneira irreversível o desenvolvimento da região, com um aumento significativo na economia, o que também provocaria um grande impacto sobre o meio ambiente. De acordo com o Relatório Final: Memorial descritivo da área, cadastro de proprietários e propriedades, anexo fotográfico e descrição das atividades relativas ao Parque Estadual do Sumidouro (Meta A6) do projeto “Proteção e conservação dos recursos naturais da RMBH no estado de Minas Gerais”: O Parque Estadual do Sumidouro abrange uma superfície de 1741 hectares, localizados ao norte do município de Lagoa Santa (86 %) e no extremo sudeste de Pedro Leopoldo (14%), na porção centro norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte e no centro leste da APA Carste de Lagoa Santa. Os principais limites naturais são: ao norte, a lagoa do Sumidouro, a nordeste, o rio das Velhas, a leste e sudeste o córrego do Jaques e a oeste e noroeste o córrego Samambaia ou Poções. 52 Do ponto de vista cultural, a presença do parque é fundamental, pois ele engloba o maciço onde se situa a Gruta da Lapinha, uma das mais belas cavidades naturais abertas à visitação no Brasil, além de outras grutas próximas a ela. Guarda também a Lapa do Sumidouro, de grande importância arqueológica, além de vários sítios de importância paleontológica. O Parque Estadual do Sumidouro (Figura 4) está inserido no bioma do Cerrado e possui maciços rochosos com afloramentos calcários de grande beleza cênica, com altitudes variando entre 700 e 780 metros. Figura 4: Vista parcial do Parque Estadual do Sumidouro Fonte: Foto de Fábio Luis Bondezan da Costa A respeito da vegetação podemos encontrar nas matas secas que recobrem os maciços calcários, madeiras de lei, como aroeiras, angicos, braúnas, jacarandás, além de ipê amarelo, ipê roxo, moreira, aroeirinha, jatobá do campo, 53 gabiroba, manjoba, mutamba, faveiro. Nas margens de rios, córregos e lagoas encontramos a mata ciliar, fundamental para a preservação dos cursos de água. Sobre a avifauna presente no parque, Rodrigues & Michelin (2005) asseveram: Foram registradas 27 espécies de aves aquáticas, distribuídas em 12 famílias. Das 27 espécies registradas 12 foram consideradas residentes ou prováveis residentes e oito visitantes. (...) Uma das espécies Platalea ajaja Linnaeus, 1758 é considerada ameaçada de extinção no estado de Minas Gerais, enquanto outras duas Mycteria americana Linnaeus, 1758 e Ciconia maguari são consideradas raras. (RODRIGUES & MICHELIN, 2005). De acordo com o Instituto Estadual de Florestas (IEF, 2005) estão presentes no parque: Dentre os mamíferos, encontram-se mico estrela, raposa, tatu galinha, tatu peba, coelho, gambá, veado catingueiro, gato do mato, lontra, tamanduá colete, os répteis jibóia, cascavel, jararaca e as aves codorna, garcinha, biguá, urubu, gavião, irerê, seriema, rolinha, beija-flor, andorinha, pica pau branco, são algumas das espécies representantes da fauna desta região. (IEF, 2005). No interior do parque, há a Lagoa do Sumidouro (Figura 5), local onde foram encontrados vestígios do “Homem de Lagoa Santa”. Nas épocas mais secas do ano a lagoa pode se extinguir totalmente, voltando o volume normal na época das chuvas. 54 Figura 5: Vista parcial da Lagoa do Sumidouro Fonte: Foto de Fábio Luis Bondezan da Costa Quanto à região do Sumidouro e sua importância histórica, temos a passagem citada por Piló et al (2004): Peter Lund visitou a Lapa do Sumidouro em 1839, 1840 e 1841, mas foi entre 29 de agosto e 10 de setembro de 1843, aproveitando uma forte estiagem que ocasionou o esvaziamento da Lagoa do Sumidouro que teve a portunidade de efetuar uma escavação mais sistemática. (PILÓ et al, 2004). A importância histórica do Parque Estadual do Sumidouro e da Lapa do Sumidouro, presente junto à Lagoa do Sumidouro, é extremamente relevante, sendo inclusive tombada pelo IEPHA de acordo com Gastelois Et Al (2003), através do Decreto Estadual de N°17729/76, o que pode ser comprovada pela passagem: 55 No aspecto histórico, científico e cultural, a Lapa do Sumidouro, localizada junto ao maciço e à lagoa de mesmo nome, reveste-se de uma importância que transcende, e muito, uma significância nacional, posto que a mesma constitui uma forte e importante referência do patrimônio arqueológico americano. Os achados e estudos arqueológicos e paleontológicos, aí realizados pelo dinamarquês Peter W. Lund e equipe, outorgaram-lhe uma importância ímpar no contexto arqueológico mundial. Foi nessa região que o Dr. Peter Lund encontrou o material arqueológico e paleontológico que lhe permitiu estudar e identificar o “homem de Lagoa Santa” e correlacionar a presença do mesmo com a fauna extinta da região, em decorrência do que a Lapa do Sumidouro deve e precisa ser, oficial e formalmente, protegida e valorizada. (GASTELOIS Et Al, 2003). Apesar de toda a importância do parque para a preservação do patrimônio nacional, ele realmente só recebeu a devida atenção do governo nesse ano de 2007, já que sua criação foi a 27 anos e somente agora em 2007 ocorreu a sua devida efetivação. 4.3 A Gruta da Lapinha A Gruta da Lapinha foi descoberta por Peter Wilhem Lund, em 1835, considerado o Pai da Paleontologia Brasileira e citado inclusive por Darwin (DARWIN, 2004) em seu livro “A Origem das Espécies”; é uma das mais belas cavidades naturais abertas ao turismo do Brasil. A importância de Lund para o trabalho de Darwin é citada por Silva (1993), pois, segundo a autora, os fósseis descobertos por Lund na região de Lagoa Santa tiveram grande repercussão na Europa e contribuíram para os estudos de Darwin sobre a sua teoria da evolução. Essa obra de arte da natureza está localizada na cidade de Lagoa Santa (MG), distante 13 Km do centro da cidade e 38 Km da capital de Minas Gerais. Possui em seu interior lindíssimas formações (Figura 6), que encantam os turistas que a visitam, e toda uma infraestrutura para recebimento dos mesmos. 56 Figura 6: Escorrimento no interior da Gruta da Lapinha Fonte: Foto de Fábio Luis Bondezan da Costa Ressalte-se que a região de Lagoa Santa, além de importantíssima sob o ponto de vista espeleológico, paleontológico e arqueológico, também se destaca por ter sido o primeiro local no mundo onde foi descrito o bioma do cerrado. Silva (1993) destaca: As primeiras notícias referentes à vegetação do cerrado foram dadas pelos naturalistas viajantes do séculos XVIII (Spix e Martius, 1824). Mas foi Peter Lund o responsável indireto pelo primeiro estudo realizado sobre a mesma. Trouxe para a região o botânico dinamarquês Eugéne Warming que procedeu os levantamentos de aproximadamente 700 espécies vegetais do cerrado, das quais fez minuciosa análise, resultando, desses estudos, o primeiro tratado de ecologia moderna. (SILVA, 1993). 57 A gruta está inserida dentro da APA Carste de Lagoa Santa e do Parque Estadual do Sumidouro, sendo atualmente a Prefeitura Municipal de Lagoa Santa, a responsável pela administração do local. A extensão total da gruta é de 730 metros; a área de visitação turística possui 510 m e existe um desnível de 40 m, facilmente vencidos pelos turistas em função de toda estrutura colocada no interior da caverna, como escadas e corrimões, para facilitar a locomoção das pessoas. De acordo com Marra (2001), a Gruta da Lapinha foi aberta ao turismo em 1968 e recebe em média 35.500 visitantes por ano, sendo que o maior fluxo de visitação ocorre no período das férias escolares. Marra (2001) também lembra que um dos maiores problemas da gruta é o sistema de iluminação que não está de acordo com o ambiente cavernícola e que eleva a temperatura interna, o que obviamente prejudica a fauna presente. De acordo com Goulart & Santos (2005), atualmente a gruta não possui nenhum programa permanente e sistematizado de educação ambiental que aborde os impactos ocasionados pela visitação turística. Goulart & Santos (2005) citam vários impactos presentes no interior da gruta; dentre eles: as inscrições sobre a rocha, ocorrência de vegetação clorofilada em função dos holofotes, grande impacto visual em função das obras de infra-estrutura feitas para facilitar o deslocamento de turistas e, ainda, o grande número de espeleotemas quebrados. 58 5. METODOLOGIA A metodologia utilizada divide-se em: • Aplicação do questionário sobre o ambiente cavernícola; • Análise dos dados; • Observações sobre a excursão à Gruta da Lapinha; • Fotografias do ambiente cavernícola e sua fauna; • Produção do Roteiro Informativo. 5.1 Aplicação do questionário sobre o ambiente cavernícola O passo inicial da pesquisa foi a aplicação de um questionário semi- estruturado (Anexo A) sobre o ambiente cavernícola, baseado no utilizado por Ferreira (2004) durante sua tese de doutoramento pela Universidade Federal de Minas Gerais. O questionário inclui questões sobre o ambiente cavernícola e sobre os seres que habitam tal ambiente. Algumas alterações se fizeram necessárias em função da mudança do público alvo. O presente trabalho foi desenvolvido junto a alunos da quinta série; o original, junto a visitantes no momento em que entrariam em cavernas turísticas de Minas Gerais, em particular nas Grutas Rei do Mato, em Sete Lagoas e Maquiné, em Cordisburgo. Qualquer visitante pôde responder ao questionário, se interessado. Entre as principais modificações feitas está a retirada do cabeçalho, que incluía o nome do respondente. Na nova aplicação, os alunos não deveriam se identificar para que tivessem total liberdade para responder às questões. Outra mudança foi feita em relação à questão 01: no primeiro questionário se perguntava “Por que você veio visitar uma caverna?” e no usado nesta dissertação se pergunta “Você tem vontade de visitar cavernas? Por quê?” A última modificação foi feita com a inclusão da questão de número 5; “Você acha que as cavernas 59 devem ser protegidas? Por quê?” Essa questão foi considerada importante para a avaliação dos sentimentos e conhecimentos prévios dos alunos. Para a aplicação do questionário foram selecionadas seis turmas de quinta série de duas escolas do ensino particular de Belo Horizonte, cujos alunos são da classe média (está sendo considerada classe média a que está entre os dominantes e os trabalhadores braçais, (FURTADO, 2004)). Foram escolhidas três turmas de cada instituição, perfazendo um total de 142 alunos. A amostragem em tais instituições foi por conveniência e por que os alunos das mesmas visitariam uma caverna turística, de acordo com o plano de ensino em exercício. A escolha dos alunos da quinta série foi pelo interesse que a faixa etária demonstra em relação ao ensino de ciências e às questões ambientais. O questionário foi aplicado sem que os alunos tivessem qualquer informação prévia, visando não aumentar o interesse dos mesmos pelo assunto ou a busca de informações sobre o tema, o que poderia prejudicar os resultados. Foi aplicado durante o horário normal das aulas. Os alunos tiveram 40 minutos para responder com total liberdade, sendo possível mais que uma resposta para a mesma questão. A aplicação foi feita no mesmo dia para as três turmas de cada escola. Durante a aplicação, não foram permitidas consultas, comentários ou questionamentos, visando o sigilo e integridade das respostas. Os alunos responderam às perguntas exclusivamente com base em seus conhecimentos prévios. As turmas que responderam ao questionário não tiveram contato durante o intervalo das aulas (recreio) para que não ocorresse troca de informações. Os questionários foram analisados, sendo averiguados para cada questão os tipos de respostas mais freqüentes (categorização) e as respectivas percentagens. Essas respostas foram então tabuladas e utilizadas na elaboração do Roteiro Informativo sobre o ambiente cavernícola (Produto deste trabalho). 60 5.2 Observações sobre a excursão à Gruta da Lapinha Os estudantes das duas escolas fizeram uma visita posterior à aplicação do questionário à Gruta da Lapinha, situada na cidade de Lagoa Santa, região metropolitana de Belo Horizonte. Em ambos os casos os alunos foram acompanhados por um professor. Não foi fornecida aos alunos nenhuma informação prévia sobre as características do ambiente a ser visitado; apenas foram ressaltadas questões relativas à segurança individual e coletiva e à proteção do ambiente. Figura 7: Apresentação da Gruta da Lapinha realizada pelo guia Fonte: Foto de Fábio Luis Bondezan da Costa A visita foi orientada pelos guias da Gruta da Lapinha, que dividiram as turmas em grupos de no máximo vinte alunos. Era feita inicialmente, nas 61 escadarias do salão de entrada da caverna, uma explanação sobre o ambiente e uma exposição sobre as normas de segurança para a realização do passeio (Figura 7), após esta explanação os estudantes entraram na caverna. Figura 8: Momento da excursão à Gruta da Lapinha Fonte: Foto de Fábio Luis Bondezan da Costa Em cada salão da caverna, o guia reunia o grupo de alunos e apresentava as características do local (Figura 8), baseando-se principalmente nos aspectos físicos e nas curiosidades existentes. O professor, exceto em casos excepcionais, se absteve de qualquer intervenção durante o processo da visita, sendo as questões respondidas pelo guia. Durante a visitação, que durou em média 40 minutos, o professor analisava e anotava a conduta dos estudantes, seus questionamentos e as atitudes dos guias. 62 5.3 Registro fotográfico do ambiente cavernícola e sua fauna Outra parte fundamental do trabalho foi a realização do registro fotográfico sobre o ambiente cavernícola e sua fauna, que incluiu seres troglófilos e troglóxenos, não sendo avistados os troglóbios. Esse registro teve como finalidade a produção do Roteiro Informativo. Foram fotografadas também, as características físicas, principalmente as formações de interesse educacional. Esse trabalho foi realizado com a autorização do IBAMA/CECAV (Anexo C) e com o auxílio do biólogo Adriano Marques de Souza, que possui experiência na fotografia de fauna (Figura 9). Figura 9: Registro fotográfico das cavidades naturais Fonte: Foto de Fábio Luis Bondezan da Costa 63 O registro fotográfico foi realizado durante os meses de novembro e dezembro de 2007 e janeiro de 2008, (em etapa distinta das excursões com os alunos), nas regiões de Cordisburgo, Lagoa Santa, Matozinhos, Pedro Leopoldo e Sete Lagoas, conforme a autorização concedida pelo IBAMA/CECAV. Para o livre acesso às cavernas, os donos das propriedades foram informados e, mediante autorização, os trabalhos realizados. Para o acesso seguro ao ambiente cavernícola foram utilizados os equipamentos de proteção fundamentais para a prática da espeleologia, como: macacão, carbureteira, botas, perneiras, água, carbureto reserva e lanternas. Quando possível, foram utilizados mapas das cavidades (Figura 10) obtidos mediante autorização da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE). Os equipamentos utilizados para a realização das fotografias foram duas câmeras fotográficas semi-profissionais e tripés. Figura 10: Mapa da Gruta do Baú Fonte: Sociedade Brasileira de Espeleologia, 02/02/1980 64 A procura por seres foi feita em habitats específicos por meio de busca visual e, em nenhum momento, os animais foram tocados ou coletados. Foram fotografados em seu habitat e sempre no mais curto espaço de tempo possível, para minimizar o estresse provocado pela presença do ser humano e pela luz forte do flash. As fotos obtidas foram transferidas para o programa Kodak EasyShare. Foram selecionadas as que apresentavam boa qualidade de foco e enquadramento e se adequavam à temática do Roteiro Informativo. 5.4 Produção do Roteiro Informativo A produção do Roteiro Informativo sobre cavernas foi feita analisando-se os seguintes aspectos: • os PCN’s para o ensino fundamental; • o conhecimento prévio dos alunos; • os aspectos relativos à segurança; • a realidade das cavernas turísticas. A relação entre esses aspectos permitiu a união do conhecimento de ciências sugerido pelo Estado (PCN`s), para os alunos do terceiro ciclo (5ª e 6ª séries), com o conhecimento prévio dos mesmos, na confecção do roteiro. Como primeira atividade, foram analisadas e tabuladas as respostas dos questionários. No segundo momento, foram selecionados nos PCN’s para o ensino fundamental e no PCN sobre o tema transversal Meio Ambiente quais eram os conteúdos sugeridos para o terceiro e quarto ciclos que se aplicavam ao tipo de conhecimento que poderia ser obtido ao se utilizar o ambiente cavernícola, como base para ensino. 65 A união desses dois aspectos deu origem ao roteiro informativo sobre o ambiente cavernícola, objetivando aumentar o conhecimento dos alunos sobre esse ambiente e sobre os seres que vivem em seu interior, assim como motivar uma atitude protecionista nos estudantes. 66 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 Resultados da aplicação do questionário sobre o ambiente cavernícola As respostas fornecidas para a questão número 01 (Você tem vontade de visitar cavernas? Por quê?) demonstram que mais de 90% dos alunos têm vontade de visitar uma caverna. O principal motivo que leva a essa vontade é o interesse/curiosidade pelo ambiente cavernícola (Gráfico 1). Gráfico 1: Percentuais sobre os motivos que levam a visitação à caverna. Fonte: Dados da pesquisa Esse resultado sugere que as cavernas são um ambiente interessante para o desenvolvimento de atividades educacionais para alunos da quinta série podendo, portanto, ser corretamente utilizadas para esse fim. Devem ser visitadas cavidades já preparadas para receber turistas; como a Gruta da Lapinha, Maquiné e Rei do Mato, todas localizadas no Estado de Minas Gerais. A grande curiosidade que alunos dessa faixa etária (58%) possuem deve ser devidamente valorizada e estimulada pelos educadores para a obtenção de melhores resultados na aprendizagem de conteúdos específicos. 67 A importância histórica também foi citada, o que se repetiu em respostas a outras questões. Alunos nessa faixa etária demonstram interesse por história e ciências, o que foi percebido neste trabalho, pelas respostas relacionadas a essas duas disciplinas. O PCN valoriza o ponto de vista histórico no estudo de ciências, tornandose, portanto este, mais um argumento a favor do uso da história paralelamente ao conteúdo de ciências. Dentre os alunos respondentes, 53% nunca haviam visitado uma caverna, apesar da grande curiosidade e vontade de conhecê-las. Esse fato pode ocorrer porque os alunos da quinta série dependem dos pais e/ou da escola para realizarem tal visita e estes nem sempre estão disponíveis para tal atividade. Tantos alunos nunca terem visitado uma caverna é surpreendente, em função de estarmos, em Belo Horizonte, tão próximos de uma região cárstica importante no país. É relevante salientar que o poder aquisitivo das famílias dos alunos envolvidos permite esse tipo de passeio. As cavernas turísticas são ótimos locais para passeios de famílias permitindo o contato direto com a natureza; fato que não tem sido devidamente aproveitado por aqueles que moram próximos das cavidades turísticas que são preparadas para a visitação. O PCN é um outro ponto a favor do desenvolvimento dessa atividade nas escolas, pois valoriza o contexto social, cultural e ambiental da região, onde vivem as pessoas, sendo, portanto, esse tipo de visita de grande importância para o desenvolvimento e exercício da cidadania. As cavernas mais visitadas pelos alunos são: a Gruta da Lapinha (56%) e a Gruta de Maquiné (32%). Esse resultado ocorreu provavelmente porque a distância entre Belo Horizonte e a Gruta da Lapinha é de apenas 40 Km, e de Belo Horizonte até Maquiné, aproximadamente 114 km, o que torna a visita mais onerosa e complexa para as instituições de ensino e famílias, desestimulando a realização. Para a visita à Gruta de Maquiné, seria necessário um dia de atividade, incluindo o almoço e o transporte, o que acarretaria um custo bem mais elevado do que o da visita à Gruta da Lapinha. 68 Não se deve, entretanto, imaginar que tendo visitado uma determinada caverna turística não seja interessante a visita a outras, pois cada uma delas possui suas peculiaridades. Podemos destacar os enormes salões da Gruta de Maquiné, as duas estalagmites gêmeas e a bela ornamentação da Gruta Rei do Mato e os escorrimentos e salões da Gruta da Lapinha. Essa valorização da diversidade é outro ponto abordado nos PCN, especialmente em relação aos ecossistemas brasileiros. O gráfico 2 mostra o resultado obtido para a questão 03 (Que tipo de seres vivos você imagina que existem nas cavernas?). Gráfico 2: Percentuais sobre os seres vivos que podem ser encontrados no ambiente cavernícola. Fonte: Dados da pesquisa Esta questão é importante porque o estudo dos seres vivos e seus ambientes é outro ponto abordado no PCN. A diversidade da vida em diferentes 69 espaços deve ser valorizada dando maior ênfase aos ecossistemas brasileiros, como já foi citado anteriormente. O ser mais citado pelos estudantes foi o morcego, provavelmente devido à influência da mídia que freqüentemente exibe esse animal e seus hábitos, em documentários científicos ou mesmo em desenhos animados. Em alguns casos, tais mídias distorcem a realidade em relação aos morcegos (Figura 11), sendo os mesmos tratados exclusivamente como sugadores de sangue. Figura 11: Tira representativa da influência da mídia sobre os hábitos dos morcegos Fonte: Gonsales, 2008a Os insetos e aracnídeos, que perfazem a maior parte dos seres que vivem no interior das cavernas, foram citados com uma freqüência razoável. Esse fato ocorreu provavelmente porque não existe um interesse maior em mostrá-los à população, que não os considera tão “interessantes” quanto os morcegos. Afirmar que uma caverna pode estar repleta de aranhas e insetos pode dar a impressão, para aqueles que administram uma cavidade turística, que ocorrerá uma diminuição na visitação, já que boa parte da população repudia esses animais, muitas vezes também com o apoio da mídia (Figura 12). 70 Figura 12: Tira representativa do repúdio dos humanos para com os insetos Fonte: Gonsales, 2008b Um número razoável de estudantes citou os ursos como um dos moradores das cavernas, sendo que essa resposta está inclusa na categoria “Outros Vertebrados” do gráfico 2. A presença desses animais não pode ocorrer no Brasil, já que não estão presentes em nossa fauna. As cobras também foram citadas, mas esses animais só freqüentam a entrada das cavernas, não aprofundando devido à ausência de luz natural nas partes distantes das bocas das mesmas. Mas mesmo na entrada de uma caverna turística encontrar esse animal é um fato bastante improvável, já que o movimento constante de pessoas não é um fator que atrairia tal réptil. Também foi importante notar que vegetais foram citados nas respostas de uma pequena parte dos questionários. A condição mais extrema em ambientes cavernícolas naturais é a ausência permanente de luz natural, o que impede o desenvolvimento de plantas. Essa resposta sugere desconhecimento em relação às cavernas. Os visitantes das cavernas turísticas podem encontrar vegetais em salões distantes da entrada, quando os mesmos possuem iluminação artificial suficiente para o desenvolvimento de musgos e pteridófitas. Essa peculiaridade deve ser apresentada aos alunos, já que se trata de uma informação interessante. Quando se pergunta qual é a alimentação dos seres que vivem nas cavernas (Gráfico 3), os alimentos mais citados são os vegetais. Essa resposta 71 sugere novamente desconhecimento sobre o ambiente das cavernas, nas quais o principal recurso alimentar se baseia em detritos acumulados, como o guano. Gráfico 3: Percentuais sobre o tipo de alimentação dos organismos cavernícolas. Fonte: Dados da pesquisa Em cavernas, a alimentação baseada em vegetais se restringe basicamente a um determinado grupo de morcegos, os frugívoros, sendo inviável para seres cavernícolas. O sangue foi citado como uma fonte de alimento, sendo essa resposta diretamente associada à presença dos morcegos, já que para boa parte dos indivíduos esse é o principal alimento dos quirópteros. Esse fato não representa a realidade, já que das 1.100 espécies existentes, apenas 3 se alimentam de sangue (BERNARD, 2005). Os alunos também escreveram que os seres que vivem nas cavernas se alimentam uns dos outros. Os insetos também foram citados como uma boa fonte de alimentação para os seres cavernícolas. Essas respostas demonstram o conhecimento dos alunos sobre o conteúdo cadeia alimentar e a inter-relação que 72 existe entre os seres em seu ambiente, por ser esse um conteúdo trabalhado exaustivamente em sala de aula. O tema cadeia alimentar deve, segundo o PCN, ser bem trabalhado nessa faixa etária, sendo considerado prioritário. Deve-se também trabalhar interrelações entre os seres de uma cadeia e os problemas provocados pelo homem nas relações entre os outros seres vivos. Sob essa ótica a abordagem dos conteúdos relacionados às cavernas se torna uma excelente oportunidade para se estudar o assunto. A análise do gráfico 4 sugere que, para os alunos, a caverna deve ser protegida principalmente porque possui valor histórico. Esse resultado se relaciona ao conteúdo visto pelos estudantes na quinta série, que inclui a grande importância das cavernas como abrigo, para o homem pré-histórico. Gráfico 4: Percentuais sobre os motivos pelos quais uma caverna deve ser protegida. Fonte: Dados da pesquisa Essa resposta demonstra, mais uma vez, a importância da história para os trabalhos de educação ambiental e a possibilidade da realização de uma atividade interdisciplinar sobre o ambiente cavernícola. Demonstra também a possibilidade de por meio da interdisciplinaridade relacionar o homem com a natureza, e 73 evidenciar a dependência desta para nos mantermos vivos, ou seja, como afirma o PCN para que possamos perceber que somos parte integrante e que devemos ter uma relação afetiva para com o meio em que vivemos. Para aproximadamente ¼ dos estudantes, as cavernas também devem ser protegidas por serem um patrimônio natural, o que revela a visão conservacionista de alguns alunos. Fica evidente que esse tema deve ser melhor trabalhado pelos professores, já que o aumento de uma visão conservacionista por parte de pessoas ainda jovens, pode gerar atos de proteção dos ambientes próximos e, conseqüentemente, de todo o planeta. Leve-se em conta a famosa frase do escritor e ambientalista francês René Dubois, “Pense globalmente e aja localmente”. Segundo o PCN, trabalhar com o cotidiano das pessoas e não com fatos e ambientes que estão longe das mesmas pode gerar um aprendizado significativo. Podemos então valorizar a questão da caverna ser um patrimônio natural tão próximo a nós mineiros, para obtermos conscientização ambiental. Ao se analisar a questão 6 (Você acha que a proteção do meio ambiente ao redor das cavernas pode beneficiar a proteção das cavernas?) percebe-se que para parte dos alunos, a proteção do ambiente externo beneficia o ambiente interno (Gráfico 5). Essa correlação entre o ambiente hipógeo e epígeo demonstra que uma parcela dos estudantes têm noção de que as cavernas não são ambientes isolados e, sim, relacionados aos ambientes exteriores, dos quais dependem diretamente para a manutenção da vida. 74 Gráfico 5: Percentuais sobre a relação ambiente externo/interno. Fonte: Dados da pesquisa Essa questão foi também a que gerou uma maior percentagem de respostas em branco ou “não sei”. Do total de questionários analisados, 21% dos estudantes não souberam responder essa pergunta. Observando que a relação entre os seres vivos e o ambiente, do ponto de vista da educação ambiental é de fundamental importância, deve-se trabalhar esse tema com os alunos com mais freqüência. As medidas indicadas pelos estudantes, que podem ser implementadas para a proteção das cavernas, estão apresentadas no Gráfico 6. Fica evidente a relação que os alunos estabelecem entre a não proteção das cavernas e as atitudes de pessoas sem a devida consciência ambiental, que visitam esse tipo de ambiente. Os alunos recomendaram: evitar a depredação e não jogar lixo no interior da cavidade. 75 Gráfico 6: Percentuais sobre as medidas que podem ser tomadas para a proteção das cavernas. Fonte: Dados da pesquisa Foi citada a função do poder público. Responsabilizar o poder público e não observar o que nós podemos fazer para melhorar nosso ambiente é algo comum na cultura brasileira. O controle da visitação também foi citado e alguns alunos chegaram a afirmar que as visitações às cavernas deveriam ser proibidas, com exceção à entrada dos pesquisadores. Foi pouco citada a necessidade da realização de trabalhos de educação ambiental como medida de proteção do ambiente cavernícola. 76 6.2 Resultados da observação da excursão à Gruta da Lapinha A excursão à Gruta da Lapinha demonstrou pontos positivos e negativos em relação à estrutura local, ao trabalho dos guias, ao interesse dos alunos e ao estado geral da cavidade. A opinião de alunos e professores, são descritos a seguir. Dentre os pontos positivos podemos citar: • A pontualidade dos guias em relação ao começo e término da excursão, o que foi importante devido ao tempo escasso disponível para a atividade (realizada em meio período). • A disponibilidade dos guias em adaptar o conteúdo a ser trabalhado por eles ao tempo determinado pela escola para a realização da atividade. • O número máximo de pessoas por guia que podem entrar na cavidade, reduzido a vinte pessoas, o que facilita a realização do trabalho e gera menor impacto para a cavidade e aos seres que vivem em seu interior. • A explicação inicial dos guias, na entrada da caverna sobre: a formação da caverna, as regras de segurança e a conduta no interior da cavidade, além da importância da caverna e de sua proteção e o respeito que os visitantes deveriam ter em relação à fauna cavernícola, principalmente em relação aos pequenos animais. • A paciência de alguns guias para responder às várias questões formuladas pelos estudantes. Dentre as questões mais freqüentes destacam-se: * Há quanto tempo a caverna se formou? * Os morcegos são perigosos? Eles atacam? * Existe ar no fundo da caverna? * De que os animais que vivem nas cavernas se alimentam? * Existe o risco de desabamento na caverna? 77 * Podemos ficar perdidos no interior das cavernas? * Podemos encontrar cobras nas cavernas? • O conhecimento dos guias sobre as formações de grande beleza cênica e as curiosidades presentes na caverna. • O grande interesse dos alunos por esse ambiente e a vontade de conhecer mais sobre ele. • O cuidado demonstrado pelos responsáveis pela gruta ao isolar um dos salões antes aberto às visitações, para que os morcegos não fossem prejudicados em seu habitat, pelo grande fluxo de turistas. • O preço do ingresso cobrado para as escolas particulares que visitam a gruta, reduzido em 50% em relação ao turista comum. Isso diminui o custo para o estabelecimento de ensino e estimula essa atividade. Vale ressaltar que as escolas públicas interessadas em visitar a cavidade têm 100% de desconto para realizar a visita. Dentre os pontos negativos são destaques: • O curto espaço de tempo disponível para a realização da atividade, o que dificultou a visita e gerou perda de informações que seriam fornecidas pelos guias. • A não visitação, em função do pouco tempo disponível, ao Museu da Lapinha, que possui um importante acervo sobre o homem pré-histórico da região de Lagoa Santa. • O pouco tempo utilizado, por parte dos guias, para explicações sobre a fauna presente no ambiente cavernícola. O que podemos notar é que os guias são instruídos a mostrar as formações e suas semelhanças com animais e pessoas, o que deve ser considerado mais interessante, pelo órgão que coordena as atividades na Gruta da Lapinha. • Ao estado ruim das escadas e passarelas na época da visitação. Em alguns locais, as passarelas se mostravam perigosas, sendo necessário evitar esses caminhos devido ao risco de acidentes. Esse fato já foi 78 contornado pela Prefeitura Municipal de Lagoa Santa, que substituiu por novas estruturas de metal. • O estado geral da gruta que se encontra com pichações (feitas principalmente em baixo relevo ou a lápis) e a presença de espeleotemas quebrados. • Em relação à iluminação interior fica como ponto negativo a inadequação a esse tipo de ambiente, já que favorece o desenvolvimento de espécies vegetais que não poderiam estar naturalmente nesse local. • O estado ruim das lanternas fornecidas aos guias, equipamento essencial para o bom trabalho dos mesmos, que dependem delas para mostrar determinados tipos de formações. • O desinteresse de alguns alunos. À medida que transcorria a atividade, alguns estudantes se cansaram e ficaram desinteressados, chegando em alguns momentos, devido ao excesso de conversas, a prejudicar as explicações dos guias. • A falta de educação e respeito por parte de alguns alunos para com o patrimônio natural. Apesar de terem sido informados sobre a necessidade de proteger a cavidade, jogaram lixo no chão, falaram em um tom elevado de voz, no momento das explicações e, em raros casos, tentaram escrever nas rochas. Apesar dos pontos negativos citados, o trabalho de campo é considerado uma atividade básica para o exercício da cidadania e para que os alunos tenham um contato direto com o conteúdo que estão trabalhando. Esta atividade deve, portanto ser estimulada pelos docentes e pela escola como um todo. O profissional de ensino pode utilizar os trabalhos de campo para sensibilizar seus alunos para a proteção ambiental, possibilitando uma mudança de valores e atitudes. É interessante que essas mudanças sejam disseminadas pelas famílias, gerando uma rede ambientalmente correta. 79 7. PRODUTO Como já mencionado, para a produção do Roteiro Informativo (Anexo B) os seguintes aspectos foram analisados e relacionados: • as informações contidas nos PCN´s sobre a temática em foco; • o conhecimento prévio dos alunos sobre o ambiente cavernícola; • a Educação Ambiental e suas possibilidades; • a bibliografia; • os aspectos relacionados à segurança. Para a confecção do material também foram selecionados temas que não foram trabalhados no questionário, definidos após a análise do resultado e das excursões à Gruta da Lapinha. Como se trata de um Roteiro Informativo para alunos em especial da 5ª série, foram utilizados textos curtos e simplificação das informações, além de selecionados os temas considerados mais relevantes em relação ao ambiente cavernícola e dentro desses temas as informações fundamentais de acordo com a bibliografia pesquisada e as respostas obtidas no questionário. Todas as fotografias presentes no Roteiro foram tiradas pelo autor da dissertação e pelo biólogo Adriano Marques de Souza, que acompanhou as incursões às cavernas das regiões de Lagoa Santa, Matozinhos, Cordisburgo, Pedro Leopoldo e também ao Parque Estadual do Sumidouro. Em algumas páginas do roteiro estão presentes caixas de texto denominadas “APROFUNDANDO”, que contêm informações sobre o ambiente cavernícola que merecem destaque. A parte da diagramação do Roteiro foi feita com o objetivo de estimular a leitura e agradar aos estudantes. Todo o trabalho foi realizado com a intenção de produzir um estímulo visual atraente para os leitores. O Roteiro deve ser distribuído aos alunos das instituições de ensino que tenham interesse em visitar a Gruta da Lapinha antes da realização da excursão. Deve então, ser trabalhado pelo professor, com o objetivo de esclarecer dúvidas e preparar os alunos para uma atividade que será realmente importante e produtiva para todos. 80 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS As cavernas podem e devem ser usadas para o ensino de conteúdos específicos de ciências para alunos da quinta série em função do elevado grau de interesse dos mesmos pelo tema. Deve-se, para tanto, partir das concepções alternativas dos estudantes para que o aprendizado seja mais significativo e interessante. Nota-se que o conhecimento prévio dos alunos que responderam ao questionário sobre ambiente cavernícola foi, em alguns pontos, considerado discordante do conhecimento científico. Foram encontrados diversos aspectos que relacionam o ecossistema cavernícola aos PCN’s, podendo o tema ser usado constantemente pelos professores em suas atividades educativas. A visita às cavernas é uma ferramenta útil, sob o ponto de vista educacional, servindo como estímulo à utilização desse tema nas aulas de ciências. A análise crítica do patrimônio espeleológico também é útil para o desenvolvimento da conscientização ecológica. Por ser um tema valorizado pelos PCN’s, deve ser estimulada pelos docentes por meio do uso dessa crítica em suas atividades escolares, tornando nossos alunos pessoas mais preparadas para a elaboração de questionamentos em relação às questões ambientais. Outro ponto de destaque é a possibilidade de se realizar um trabalho interdisciplinar com a disciplina História. Em várias respostas fornecidas pelos alunos ao questionário foi possível perceber o conhecimento da relação homem pré-histórico/caverna. A história do homem das cavernas foi um assunto citado pelos alunos em boa parte dos questionários, portanto, faz parte do conhecimento prévio dos mesmos e é importante a utilização na busca de um aprendizado significativo. Portanto, o roteiro informativo produzido a partir do conhecimento dos alunos pode ser utilizado pelas escolas para esclarecer, incentivar e despertar a curiosidade dos mesmos antes de uma visita a caverna. 81 Fica como sugestão a ampliação do universo amostral da pesquisa, para que se produza um material ainda mais eficiente para o auxilio à preservação de um ecossistema de tamanha relevância em nosso estado. 82 REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGER, P. L., LUCKMANN (1967). The social construction of reality: a treatise in the sociology of knowledge. London: Allen Lane. In. MORTIMER, Eduardo. Fleury. Linguagem e formação de conceitos no ensino de ciências. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006. BERNARD, E. Morcegos vampiros: Sangue, raiva e preconceito. 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Quais? 3) Que tipos de seres vivos você imagina que existem nas cavernas? 4) De que você acha que eles se alimentam? 5) Você acha que as cavernas devem ser preservadas? Por quê? 6) Você acha que a preservação do meio ambiente (ao redor das cavernas) pode beneficiar a preservação das cavernas? Por quê? 7) Que medidas poderiam ser tomadas para a preservação das cavernas? Muito obrigado! Sua ajuda será fundamental em nosso trabalho. 88 ANEXO B 89 90 91 92 93 94 95 ANEXO C 96