Nosotros (la indivisa divindad que opera em nosotros) hemos soñado el mundo. Lo hemos soñado resistente, misterioso, visible, ubicuo em el espacio y firme em el tiempo; pero hemos consentido em su arquitectura tenues y eternos interstícios de sin razón para saber que es falso. J.L.Borges, Discussión As origens da Saúde Pública: aspectos históricos e filosóficos Transição: do século XVI ao XVIII • Foram assentadas as bases para o desenvolvimento da Anatomia e da Fisiologia. • A observação e a classificação permitiram o reconhecimento mais preciso das doenças. • Firma-se a ideologia da possibilidade e importância de se aplicar o conhecimento científico à saúde da comunidade e a abordagem quantitativa dos problemas de saúde. A doença no século XVII Thomas Sydenham (1624-1689): A medicina deveria se livrar de todos os sistema filosóficos que explicavam a doença. Era necessário reduzir todas as doenças a certas espécies com o mesmo cuidado que os botânicos descreviam suas plantas. Na décima edição do “Sistema da Natureza”, em 1758, Linneu dá início à moderna técnica de classificação biológica, incluindo a nomenclatura binária. Reino: Plantae Divisão: Magnoliophyta Classe: Magnoliopsida Ordem: Rosales Família: Rosaceae Gênero: Rosa Classificação de Cullen (1712-1790) CLASSES* Pirexias Neuroses Locais Espasmos ORDENS 1. 2. 3. 4. 5. Febres Inflamações Exantemas Fluxos Hemorragias *Segundo as funções vitais, animais, naturais e outras. 1. 2. 3. 4. 5. Palpitações Asma Cólicas Histeria Diabetes Cuvier libertou de sua função taxonômica a subordinação dos caracteres para fazê-la entrar nos diversos planos de organização dos seres vivos: a invisibilidade da função independe da identidade visível. Clássicos Cuvier O órgão se definia por sua estrutura Submissão da disposição do órgão à soberania da função Variáveis morfológicas Grandes unidades funcionais O olhar médico do final do século XVIII: práticas e instituições • O questionamento das estruturas hospitalares • As redes múltiplas de vigilância “da moral e da saúde pública” • O direito de exercício e o ensino médico • A organização da clínica Pouco a pouco um espaço administrativo e político se articula em um espaço terapêutico. Nasce da disciplina um espaço útil do ponto de vista médico. A clínica do século XVIII: estudo sucessivo e coletivo dos casos em um campo estruturado e organizado. A clínica do século XIX Não existe essência patológica para além dos sintomas: “Sua coleção forma o que se chama doença.” Desaparece a divisão entre a essência da doença, seus sintomas e seus signos. Muda a relação entre olhar e linguagem. A anátomo-clínica • Bichat (1827) – Tratado das membranas – o espaço fundamental é definido pelos tecidos: “Eles (os tecidos) são os elementos dos órgãos, mas os atravessam, aparentam e, acima deles, constituem vastos sistemas em que o corpo humano deverá encontrar as formas concretas da sua unidade.” A anátomo-clínica • Os fenômenos da doença estão relacionados aos tecidos e a nosografia passa a fundar-se na afecção dos órgãos. A anátomo-clínica A anatomia-patológica é uma ciência que tem por objetivo o conhecimento das alterações visíveis que o estado de doença produz nos órgãos do corpo humano. A abertura dos cadáveres é o meio de adquirir este conhecimento; mas para que ela adquira uma utilidade direta é preciso acrescentar-lhe a observação dos sintomas ou das alterações de funções que coincidem com cada espécie de alterações de órgãos. Läennec, 1884 A doença é o próprio corpo tornando-se doente. Aspectos históricos: do século XVI ao XVIII Os problemas persistiam praticamente os mesmos da era medieval. O padrão administrativo da Idade Média persistiu, e não seria alterado até o século XIX. O sétimo selo Ingmar Bergman Suécia, 1957 Antonius Block retorna das Cruzadas e encontra sua vila destruída pela doença (século XIII). A Morte aparece para levá-lo, mas Block se recusa a morrer sem ter entendido o sentido da vida. Propõe então um jogo de xadrez, em uma tentativa de burlar a única certeza que o habita. Saúde, Iluminismo e Revolução (1750-1830) • São lançadas as fundações do movimento sanitário do século XIX. • As grandes revoluções políticas – França e América • Consciência social da inevitabilidade da mudança – a História Saúde, Iluminismo e Revolução (1750-1830) 1. O Iluminismo: crença na grande utilidade da razão para o progresso social. A inteligência social só poderia efetivar-se se houvesse uma opinião pública informada. Assim, envidaram-se esforços para esclarecer o povo em assuntos de saúde e higiene. A Enciclopédia das Artes, Ciências e Ofícios (1751-1772) A perspectiva prática: o empirismo inglês John Locke (1632-1704) Ensaio acerca do entendimento humano Jeremy Bentham (1748-1832) Saúde, Iluminismo e Revolução (1750-1830) 2. A Revolução Industrial – Inglaterra • Mudanças industriais e agrárias. • Nova ética da classe média: insistência na ordem, eficiência e disciplina social; preocupação com a condição humana. • A contraparte britânica da polícia médica alemã. Saúde, Iluminismo e Revolução (1750-1830) O início do enfrentamento da mortalidade infantil: Por volta de 1750, em algumas freguesias de Londres, a mortalidade de crianças variava entre oitenta e noventa por cento. George Rosen Saúde, Iluminismo e Revolução: o enfrentamento da mortalidade infantil As crianças passam a ser vistas como vítimas de cuidados impróprios e exigem-se medidas higiênicas mais racionais. • Trabalhos voltados para as crianças e a redução da mortalidade materna. Saúde, Iluminismo e Revolução (1750-1830) O enfrentamento da mortalidade materna: Tabela 1: Taxas médias de mortalidade para o Hospital Britânico de Partos Ano 1749-1758 1779-1788 1789-1798 TM materna para 1.000 NV 24 17 3,5 TM infantil para 1.000 NV 66 23 13 preocupação com todas as fases da vida infantil higiene geral para a prevenção de doenças oferecimento de cuidados prénatais aperfeiçoamento da dieta O BEM ESTAR DE CRIANÇAS E MÃES provisão de leite puro instrução da mãe incentivo da amamentação legislação trabalhista de proteção à mulher A descoberta da infância: a iconografia No mundo das formas românicas e até o fim do século XIII não existem crianças caracterizadas por uma expressão particular, e sim homens de tamanho reduzido. Philippe Ariès A descoberta da infância: a iconografia A criança agora era representada sozinha e por ela mesma: esta foi a grande novidade do século XVII. (...) Cada família agora queria possuir retratos de seus filhos, mesmo na idade em que ainda eram crianças. Esse costume nasceu no século XVII e nunca mais desapareceu. Philippe Ariès A família moderna A reorganização da casa e a reforma dos costumes deixaram um espaço maior para a intimidade, que foi preenchida por uma família reduzida aos pais e às crianças, da qual se excluíram os criados, os clientes e amigos. Philippe Ariès Saúde, Iluminismo e Revolução (1750-1830) • A saúde e os direitos humanos. • Uma geografia da saúde e da doença – os inquéritos médico-topográficos regionais e do Estado. • O esclarecimento do povo: “da barbárie à civilização”. Para cada uma das vidas das quinze mil pessoas que pereceram nos últimos vinte e cinco anos, e que poderiam ter sido salvas ... são responsáveis aqueles cuja função é a de intervir e se empenhar para conter a calamidade – aqueles que têm o poder de salvar mas não o usam. Mas a apatia deles é uma razão adicional para que vocês se levantem - que uma voz venha de suas ruas, vielas, becos ... Isso alarmará o ouvido do público e atrairá a atenção da legislatura. Comunicação às classes trabalhadoras do Reino Unido sobre o seu Dever quanto ao Estado Atual da Questão Sanitária (1847) Saúde, Iluminismo e Revolução (1750-1830) • Preocupação com a saúde dos trabalhadores: marinheiros, soldados, mineiros e metalúrgicos, etc. • John Howard e o relato “Estado das Prisões” (1777) • A reforma da atenção à demência: o estudo científico da doença mental. Saúde, Iluminismo e Revolução (1750-1830) • Criação de hospitais gerais e especiais. • Criação dos Dispensários como instituição complementar aos hospitais. • A melhoria nas condições urbanas. O Grande Fedor, como ficou conhecido, foi um episódio no verão de 1858 no qual um mau cheiro causado pela poluição do Rio Tâmisa se tornou insuportável na cidade da Londres. As doenças, em especial as comunicáveis, relacionam-se à imundície do ambiente por falta de escoamento, de abastecimento de água e de meios para remover refugos das casas e das ruas. Miasmas originários de animais e matéria vegetal em decomposição O problema de saúde se reorientou e passou a ser considerado mais de Engenharia do que de Medicina. George Rosen 1616 1885 O “entusiasmo estatístico” • 1820 – início das análise estatística dos dados obtidos por inquéritos “Muitos tinham como objeto a questão da mortalidade diferencial e o efeito sobre a saúde de fatores como classe econômica e social, ocupação, raça, aprisionamento, intemperança e carência de saneamento.” Problema: decidir quando o número de observações estava suficientemente grande para se evitar o erro. A Incorporação da Probabilidade • 1812 – Laplace – “Teoria Analítica das Probabilidades” • 1837 – Poison – Recherches sur la Probabilité des Jugements (como calcular o erro médio de uma diferença entre duas freqüências estatísticas observadas) • 1835 – Quetelet – o “homem médio” A Era Bacteriológica (1875-1950): o elemento específico na doença • 1840 - Jacob Henle, Alemanha– teoria que considerava os organismos vivos a causa das doenças infecciosas e contagiosas. • 1968 – Pasteur, França – doença do bicho-da-seda • 1870 – Koch, Alemanha – publica um artigo em que, pela primeira vez, é reconhecida a origem microbiana de uma doença (antraz) – retoma os postulados de Henle (causa específica) e os conclui. As origens da Saúde Pública: tendências econômicas e sociais em uma sociedade mutante • A acumulação de riquezas não produziu impacto sobre a saúde do povo: a desigualdade na distribuição o sacrifício de vidas visto como mal necessário a crença em que o acúmulo de capital e bens levaria ao fim da pobreza As origens da Saúde Pública: tendências econômicas e sociais em uma sociedade mutante • Final do século XIX – assuntos de saúde e bem-estar transformam-se em teoria e programas de ação social. • O Estado é visto como instrumento indispensável a despeito das organizações voluntárias. Políticas sociais na América Latina • Panorama: A Desigualdade Social 1. Raízes históricas: colonialismo, escravidão 2. Raízes políticas 3. Raízes econômicas: padrão de desenvolvimento Pobreza e vulnerabilidade social • Insegurança (Pesquisa CEPAL, 2002) Percentuais crescentes da população declararam sentir-se submetidas a condições de risco, insegurança e sem defesa. • Individual, coletivo, biológico, social: as articulações interdisciplinares. O modelo biomédico, o conceito de doença e os sistemas de classificação. Clínica Sociologia Estatística A determinação social da doença, o conceito de coletivo e abordagem das relações sociais. Gilles Deleuze O problema da verdade ... o verdadeiro só se dá ao saber através de problematizações e as problematizações só se criam a partir de práticas, práticas de ver e práticas de dizer. Gilles Deleuze Topologia: pensar de outra forma Gilles Deleuze Como la lectura, la clase es uma obra em colaboración y quienes escuchan no son menos importabtes que el que habla. J.L. Borges Elvira Maciel – DEMQS/ENSP/FIOCRUZ [email protected]