Este Estudo Temático coloca o desafio de buscar em fontes alternativas indicações que possam ajudar na compreensão do fenômeno, senão na sua totalidade, mas em parte, o que já pode representar um avanço em preencher uma parcela da lacuna observada para as migrações internas no passado. De acordo com Martine (1990), os demógrafos especialistas em migração preferem se concentrar nos períodos para os quais existem dados censitários mais confiáveis, ou seja, a partir de 1940, enquanto os demógrafos historiadores preferem enfocar temas relacionados à nupcialidade, natalidade/fecundidade, menor grau à mortalidade e à família. “Esta aversão geral ao estudo da migração interna numa perspectiva histórica é particularmente lamentável, em vista das potencialidades desse tipo de análise, para a própria compreensão dos processos econômicos, sociais e políticos que forjaram a atual nação brasileira. Para nós, é indiscutível que a imbricação da história migratória com esses processos é muito mais íntima que as das outras variáveis demográficas. Portanto, sua recuperação constituiria, sem dívida, uma contribuição importante ao conhecimento da formação nacional” (MARTINE, 1990, p.16). Apesar desta observação, muito pouco se avançou sobre esta temática das migrações internas no final do século 19 e primeiras décadas do século 20, em especial para São Paulo. As informações sobre migração interna para o período resumem-se em enumerar as pessoas nascidas em outros estados brasileiros; estes são os dados encontrados nos censos demográficos, anuários, boletins e estatísticas diversas que trazem informações sobre o estado de São Paulo, o que significa conhecer fragmentos da migração interprovincial/estadual. Conquanto isto também seja relevante, importa também para este Observatório, captar e identificar a intensa mobilidade espacial que se processava dentro do território paulista, em virtude da expansão da cafeicultura, do processo de urbanização e industrialização que se verifica no período de 1880 a 1940. No caso desse Estudo Temático 1, esse desafio, traduz-se em um trabalho de fôlego, lento e paciencioso no levantamento nas atas de casamento (religioso e/ou civil), que trazem a naturalidade dos noivos. Dessa forma, é possível, além de detectar a imigração oriunda de outros estados do país, acrescentar conhecimento à mobilidade espacial no interior do território paulista. Em estudo anterior, incorporando os dados dos Registros Paroquiais para Campinas, Teixeira (2004) demonstrou a viabilidade de se usar as informações de naturalidade dos noivos para cobrir essa lacuna sobre a origem das pessoas que vieram a casar-se e fixar-se em Campinas, sobretudo após o ano de 1829, quando cessam de existir as Listas Nominativas. Assim, as evidências encontradas apontam para a viabilidade de se valer desse tipo de informação para cobrir o período que se estende até meados do século 20. A proposta inicial é selecionar dois municípios para um levantamento piloto: municípios de São Carlos e de Campinas e em se constatando a viabilidade do levantamento para o estudo das migrações internas, futuramente agregar outros municípios representativos de algumas regiões paulistas. A metodologia consistirá, primeiramente, em localizar e fotografar os registros paroquiais nos respectivos municípios. A partir de então, as informações serão digitadas em uma base de dados (em Access) contendo os campos associados a cada nubente (data do casamento, nome dos cônjuges, idade, local de nascimento e profissão, quando esta constar), para posterior tratamento estatístico. Esta constitui a parte mais trabalhosa do Estudo Temático, a partir da qual os dados serão analisados segundo as variáveis acima descritas. Essa mesma base de dados assim gerada também deverá alimentar os dados requeridos para a consecução do Estudo Temático 4.