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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ENFERMAGEM
SIMONE DA SILVA OLIVEIRA
DELIBERAÇÃO MORAL DA ENFERMEIRA NO CUIDADO PRÉ - HOSPITALAR À
LUZ DA FENOMENOLOGIA SOCIAL
SALVADOR- BA
2014
SIMONE DA SILVA OLIVEIRA
1
DELIBERAÇÃO MORAL DA ENFERMEIRA NO CUIDADO PRÉ - HOSPITALAR À
LUZ DA FENOMENOLOGIA SOCIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação
em Enfermagem da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia, como requisito para
obtenção do grau de Mestre em Enfermagem, área de
concentração “Gênero, Cuidado e Administração em
Saúde”, Linha de Pesquisa “Cuidar em Enfermagem no
processo do desenvolvimento humano”.
Orientadora: Drª Darci de Oliveira Santa Rosa
SALVADOR
2014
2
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária de Saúde do SIBI /UFBA
O48
Oliveira, Simone da Silva
Deliberação moral da enfermeira no cuidado pré-hospitalar à luz da
fenômenologia social / Simone da Silva Oliveira. – Salvador, 2014.
97 p.
Orientadora: Profª Drª Darci de Oliveira Santa Rosa.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola de Enfermagem, 2014.
1. Cuidados de enfermagem. 2.Bioética. 3. Fenomenologia.I. Rosa, Darci de
Oliveira Santa. II. Universidade Federal da Ba
hia. Escola de
Enfermagem. III. Título.
CDU – 614.253.5
3
4
Àquela que me ensinou da forma mais sábia refletir sobre as minhas ações cotidianas.
Hildete Moura da Silva
(Amada Vozinha)
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela força e existência na minha vida, pelo sentido que dá a cada ação minha;
À minha mãe, pela responsabilidade da minha existência;
À Professora Drª Darci de Oliveira Santa Rosa, pela presença, ensinamentos e apoio sempre;
Às minha Tias, que são fonte do meu viver e aprendizado cotidiano, em especial Maria Helena,
Solange , Hilma e Marilda;
Ao meu amigo Leonildo Severino, pela presença em todas as etapas desse trabalho;
Às amigas irmãs: Valeria Flores, Liliane Flores, Ana Meire Oliveira e Ana Paula Oliveira.
Vocês revigoram a minha intencionalidade de viver;
À minha prima-irmã Layse Kelle, minha semelhante no agir na vida cotidiana;
Às amigas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência: Jaguanacy Oliveira e Patrícia Ramos,
pelo apoio e participação em cada etapa dessa conquista;
Às amigas Aisiane Cedraz e Ariane Cedraz, pelo incentivo e exemplo de ser amigas e
profissionais: a vocês devo essa escolha;
À amiga Virgínia Paula e à iluminada Ana Júlia pela essência e sentido que dão à minha vida;
Às amigas Lívia Magalhães e Fabiana Lira pela convivência e crescimento nessa jornada;
Aos membros do grupo de estudo e pesquisa EXERCE, que colaboram no meu aprendizado
cotidiano;
Ao Professor Dr Genival Freitas, pela inspiração do meu objeto de estudo;
Às Amigas Cistina Lima e Josane de Almeida pelo caminho percorrido ao meu lado nesse
trilhar;
À amiga Lidiane Vasconcellos, pela presença, admiração e compartilhamento das minhas ações;
Ao Amigo José Edésio, pelos ensinamentos diários;
A todos os profissionais da Secretaria Municipal da Saúde de Alagoinhas, em nome de Dr.
Reginaldo Paiva de Barros, que possibilitou que as minhas ações projetadas no cotidiano
profissional se tornassem atos;
Às Enfermeiras que atuam no Atendimento Pré-hospitalar Móvel e compartilham, no cotidiano, o
agir em situações adversas.
6
“O mudo vida é um mundo onde existo para a realização dos meus atos”
(SCHUTZ, 2003)
7
OLIVEIRA, Simone da Silva. Deliberação moral da enfermeira no cuidado Pré-hospitalar à
luz da fenomenologia social. 2014. 97f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)- Escola de
Enfermagem. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2014.
RESUMO
Ao cuidar de vítimas no Atendimento Pré-hospitalar Móvel, deparamos com situações que geram
dúvidas e demandam tempo, além de questionamentos ou a necessidade das correções de elementos
da prática cotidiana dos profissionais. Enfim, situações nas quais demandam da enfermeira à
deliberação. Este estudo de abordagem fenomenológica emergiu das vivências da autora como
enfermeira intervencionista dum Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de uma Microrregião
do Estado da Bahia. Teve como objeto, vivências de deliberação moral da enfermeira no cuidado
Pré-hospitalar Móvel. Objetivando compreender a experiência vivida pela enfermeira frente à
deliberação moral no cuidado Pré-hospitalar. Utilizou-se como referencial teórico–metodológico, a
fenomenologia social de Alfred Schutz. As participantes do estudo foram sete enfermeiras e cinco
enfermeiros intervencionistas, atuantes nas Unidades Móveis de um Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência Metropolitano. A coleta foi iniciada após o parecer de aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, respeitando os princípios
da beneficência, não maleficência, justiça e autonomia, no fornecimento das informações sobre os
objetivos, finalidade, anonimato, a minimização de riscos potenciais e a inexistência de ônus para
essas, no atendimento às perguntas e esclarecimentos antes da obtenção do aceite ou não obtenção
para participação no estudo, através da entrevista fenomenológica. O processo de análise passou
pela fase ideográfica e nomotética para a obtenção da estrutura do fenômeno. Nos resultados da
análise das vivências, emergiram três categorias concretas: Concretude do mundo vivido pelas
enfermeiras no Atendimento Pré-Hospitalar Móvel, Dimensão social das relações das enfermeiras
na vivência da deliberação moral no Atendimento Pré-Hospitalar Móvel e Desvelando o modo de
deliberar das enfermeiras do Atendimento Pré-hospitalar Móvel. A síntese das categorias concretas,
possibilitou a minha compreensão do tipo vivido das enfermeiras como caracterizado por condições
de trabalho difíceis, influenciadas pelos fatores externos/ambientais e institucionais. Apoiam-se na
bagagem de conhecimento, nas experiências de vida, nos fundamentos éticos, morais e técnicos
para justificar a deliberação na prática do cuidar, e vivenciam-se uma autonomia limitada no
momento das decisões no cuidado Pré-hospitalar. O estudo desvelou apenas uma faceta do
fenômeno, contribuindo para um novo olhar às práticas de cuidar das enfermeiras no Pré-Hospitalar
Móvel, descortinando os significados dessas ações para um grupo social em um tempo e espaço
definidos. Compreendi que as enfermeiras que atuam no Atendimento Pré-hospitalar Móvel
identificam-se com o grupo social de pertença e com o trabalho que realiza. Nesse sentido, faz-se
necessário acreditar que as enfermeiras que atuam no Atendimento Pré-hospitalar podem tornar-se
sujeitos no próprio mundo - vida de atuação ao agir e modificar a atitude natural encontrada. A
busca por relações sociais mais igualitárias e respeitosas, configura-se como um mediador de
transformações sociais, comportamentos éticos e ações de cuidar e deliberar.
Palavras chave: Cuidado de Enfermagem. Socorro de urgência. Bioética. Fenomenologia. Pesquisa
qualitativa.
8
OLIVEIRA, Simone da Silva. Moral deliberation Nurse Prehospital care in the light of social
phenomenology. 2014. 97f. Dissertation (Master's in Nursing)- School of Nursing. Federal
University of Bahia. Salvador, 2014.
ABSTRACT
While taking care of patients in the pre-hospital care mobile unit, we face situations that bring up
doubts and demand time apart from the questions or the necessity of correcting the everyday
practices of professionals. In other words, these are situations that demand deliberation from a nurse.
This study of phenomenological approach comes out of the experience of the author as an
emergency nurse of the Emergency Mobile Unit Service of the Micro region of the State of Bahia.
She had, as a result, experiences of moral doubt experienced by nurses in the Pre-hospital unit.
Objectifying to understand the experience lived as a nurse in relation to moral doubt in Prehospital
care. The social phenomenology of Alfred Schutz was used as the theoreticalmethodological
approach. The participants of the study were seven female emergency nurses and five male
emergency nurses, active members of the Mobile Units of the Emergency Mobile Unit Services of
the City. The data collection was initiated after it was approved by the Ethics Committee in Research
in the Nursing School of the Federal University of Bahia, respecting the principles of beneficence,
not maleficence, justice and autonomy, in the strengthening of information about objectives,
conclusions, anonymity, the minimization of potential risks, and the burden for the subjects, in the
answering of questions and making things clear before receiving or not receiving acceptance for
participation in the study, through a phenomenological interview. The process of analysis
underwent through the ideographic and nomothetic phase in order to obtain the structure of the
phenomenon. In the result of the analyses of the experiences, three concrete categories came up:
Concreteness of the world lived by nurses in the attendance in the Pre-hospital mobile care, Social
Dimensions of the relationships of the nurses in the experience of moral doubt in Pre-hospital
mobile unit care and Understanding the manner of deliberation of the nurses in Pre-hospital mobile
care. The synthesis of the concrete categories made my understanding of the type of nursing
experiences characterized by difficult work conditions possible, influenced by
external/environmental and institutional factors. The nurses depend on the base of knowledge, life
experiences, and ethical foundations, both moralistic and technical, to justify deliberation in the
practice of caring, and experience a limited autonomy in the moment of decision-making in prehospital care. The study unveiled only a facet of the phenomenon, contributing to a new pair of eyes
the practice of care of the nurses in the Pre-hospital mobile unit, uncovering the meaning of these
actions for a social group in a defined space and time. I understand that the nurses that act in the
Pre-hospital mobile units identify themselves with the social group that they belong to and with the
work they realize. In this way, it is necessary to believe that nurses that work in the Pre-hospital
mobile units can turn into subjects of the world itself – life of reacting at the moment of acting and
modifying a natural attitude. The search for more equitable and respectful social relations configures
itself as a mediator of social transformations, ethical behaviors, and action of care and deliberation.
Key words: Nurse Care. Emergency Relief. Bioethics. Phenomenology. Qualitative Research.
9
OLIVEIRA, Simone da Silva. Deliberación moral de la enfermera en el cuidado Prehospitalario
a la luz de la fenomenología social. 2014. 97f. Disertación (Máster en Enfermería)- Escuela de
Enfermería. Universidad Federal de Bahía. Salvador, 2014.
RESUMEN
Al cuidar de víctimas en el Atendimiento Pre-hospitalario Móvil, nos encontramos con situaciones
que generan dudas y requieren tiempo y cuestionamientos o necesidades de corrección de elementos
de la práctica cotidiana de los profesionales. En definitiva, situaciones que exigen deliberación por
parte del enfermero. Este estudio, de abordaje fenomenológico, surgió de la vivencia de la autora
como enfermera intervencionista de un Servicio de Atendimiento Móvil de Urgencia de la Microregión del Estado de Bahía. Tuvo como objeto vivencias de deliberación moral de los enfermeros
en el cuidado Pre-hospitalario Móvil. El objetivo fue comprender la experiencia vivida por los
enfermeros frente a la deliberación moral en el cuidado Pre-hospitalario. Se utilizó como referencial
teórico–metodológico la fenomenología social de Alfred Schutz. Los participantes del estudio
fueron siete enfermeras y cinco enfermeros intervencionistas, actuantes en las Unidades Móviles de
un Servicio de Atendimiento Móvil de Urgencia Metropolitano. La recolección fue iniciada después
del parecer favorable del Comité de Ética en Investigación de la Escuela de Enfermería de la
Universidad Federal de Bahía, respetando los principios de la beneficencia, no maleficencia, justicia
y autonomía, en el suministro de las informaciones sobre los objetivos, finalidad, anonimato,
minimización de riesgos potenciales y la inexistencia de cargas para las mismas, en el atendimiento
a las preguntas y aclaraciones antes de la obtención de la aceptación o no para participación en el
estudio, a través de entrevista fenomenológica. El proceso de análisis pasó por la fase ideográfica e
nomotética para la obtención de la estructura del fenómeno. En los resultados del análisis de las
vivencias surgieron tres categorías concretas: Concreción del mundo vivido por los enfermeros en
el Atendimiento Pre-hospitalario Móvil frente al cuidar, Dimensión social de las relaciones de los
enfermeros en la vivencia de la deliberación moral en el Atendimiento Pre-hospitalario Móvil y
Comprendiendo el modo de deliberar de los enfermeros del Atendimiento Pre-hospitalario Móvil.
La síntesis de las categorías concretas posibilitó la comprensión sobre lo vivido por los enfermeros
caracterizado por condiciones de trabajo difíciles, influenciada por los factores
externos/ambientales e institucionales. Se apoyan en el bagaje de conocimientos, experiencias de
vida, fundamentos éticos, morales y técnicos para justificar la deliberación moral en la práctica del
cuidar la vivencia de la autonomía limitada en el momento de las decisiones en el cuidado Prehospitalario. El estudio desveló solamente una de las facetas del fenómeno, contribuyó para una
nueva mirada sobre las prácticas de cuidar de los enfermeros en el Pre-hospitalario Móvil,
descubriendo los significados de estas acciones para un grupo social en un tiempo y espacio
definidos. En este sentido, se hace necesario creer que los enfermeros que actúan en el Atendimiento
Pre-hospitalario pueden volverse sujetos en su mundo de actuación, al actuar y modificar la actitud
natural encontrada. La búsqueda de relaciones sociales más igualitarias y respetuosas se configura
como un mediador de transformaciones sociales, de comportamientos éticos y acciones de cuidar y
de deliberar.
Palabras clave: Cuidado de Enfermería. Socorro de urgencia. Bioética. Fenomenología.
Investigación cualitativa.
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 -
Segundo momento da análise ideográfica - descrição 1
40
Quadro 2 -
Terceiro momento da análise ideográfica- descrição 1
41
Quadro 3 - Quarto momento da análise ideográfica - descrição 1
42
Quadro 4 - Quinto momento da análise ideográfica- descrição 1
42
Quadro 5 -
44
Caracterização das participantes do estudo
11
LISTA DE SIGLAS
ACLS –
Advanced Cardiologic Life Support
68
APH –
Atendimento Pré-hospitalar
14
APHM –
Atendimento Pré-hospitalar Móvel
13
ATLS –
Advanced Trauma Life Support
68
BLS –
Basic Life Support
68
CAPES –
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
16
CEP –
Comitê de Ética em Pesquisa
37
CEPE –
Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem
75
COFEN –
Conselho Federal de Enfermagem
21
EXERCE –
Educação, Ética e Exercício da Enfermagem
38
MS –
Ministério da Saúde
19
NEU –
Núcleo de Educação em Urgência
69
PHTLS –
Pré Hospital Life Support
68
RAU –
Rede de Atenção às Urgências
19
SAV –
Suporte Avançado de Vida
20
SAMU –
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
16
SBV –
Suporte Básico de Vida
20
SEM –
Serviço de Emergência Médica
18
SIUM –
Sistema Integrado de Urgências Médicas
67
SMS –
Secretaria Municipal da Saúde
37
SUS –
Sistema Único de Saúde
19
TARM –
Telefonista Auxiliar de Regulação Médica
19
TCLE –
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
38
UFBA –
Universidade Federal da Bahia
15
UTI –
Unidade de Terapia Intensiva
46
UPA –
Unidade de Pronto Atendimento
70
12
USA –
Unidade de Suporte Avançado
36
USB –
Unidade de Suporte Básico
36
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 13
2 APROXIMAÇÃO DA TEMATICA DO CUIDAR COM A DELIBERAÇÃO MORAL DA
......................................................................................................................................................... 17
ENFERMEIRA NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL .................................. 17
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL .................. 17
2.2 O CUIDAR DA ENFERMEIRA NOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA ...... 21
2.3 ASPECTOS ÉTICOS E BIOÉTICOS NO CONTEXTO DO ATENDIMENTO PRÉHOSPITALAR MÓVEL ................................................................................................................. 24
2.4 DELIBERAÇÃO MORAL E A TOMADA DE DECISÃO ÉTICA/MORAL DA
ENFERMEIRA NO CONTEXTO DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL ........... 28
2.5 A FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHUTZ COMO REFERENCIAL TEÓRICO
- METODOLÓGICO ...................................................................................................................... 29
3 O CAMINHO PERCORRIDO AO ENCONTRO DA DELIBERAÇÃO MORAL ............ 33
3.1 DESCREVENDO A EXPERIÊNCIA DA PESQUISADORA PARA O ENCONTRO DA
DELIBERAÇÃO MORAL VIVIDA PELAS PARTICIPANTES NO MUNDO DO APHM ....... 35
3.2 O TRILHAR PARA A CONSTRUÇÃO DA ESTRUTURA IDEOGRÁFICA ....................... 37
4 COMPREENDENDO A DELIBERAÇÃO MORAL DA ENFERMEIRA NO CUIDADO
......................................................................................................................................................... 41
PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL A LUZ DA FENOMENOLOGIA SOCIAL ........................... 41
4.1 DESCORTINANDO A SITUAÇÃO BIOGRÁFIACA DAS PARTICIPANTES DO ESTUDO
......................................................................................................................................................... 41
5 O VIVIDO DA DELIBERAÇÃO MORAL PELAS ENFERMEIRAS NA CONCRETUDE
......................................................................................................................................................... 46
DO CUIDAR NO APHM .............................................................................................................. 46
5.1 CATEGORIA 1: CONCRETUDE DO MUNDO VIVIDO PELAS ENFERMEIRAS NO
APHM ............................................................................................................................................. 46
5.2 CATEGORIA 2: DIMENSÃO SOCIAL DAS RELAÇÕES DAS ENFERMEIRAS NA
VIVÊNCIA DA DELIBERAÇÃO NO APHM .............................................................................. 52
13
5.3 CATEGORIA 3: DESVELANDO O MODO DE DELIBERAR DAS ENFERMEIRAS QUE
ATUAM NO APHM ....................................................................................................................... 57
6 BUSCA DA COMPREENSÃO PRETÉRITA DA DELIBERAÇÃO MORAL DAS ......... 60
ENFERMEIRAS QUE ATUAM NO APHM ............................................................................. 60
7 SÍNTESE DA AÇÃO DA DELIBERAÇÃO MORAL DAS ENFERMEIRAS NO ............ 76
CUIDADO PRÉ-HOSPITALAR ................................................................................................. 76
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 78
APENDICES .................................................................................................................................. 85
ANEXOS ........................................................................................................................................ 89
14
13
1 INTRODUÇÃO
A prática da enfermeira que atua no Atendimento Pré-hospitalar Móvel APHM, converge
para um agir diferenciado do ambiente hospitalar. Proporciona um desafio que obriga um
aprendizado contínuo para prestar cuidados em circunstâncias adversas, considerando que o evento
danoso não escolhe o local, nem a vítima, apenas emerge e exige um atendimento de qualidade da
equipe que garante o primeiro atendimento (DOLOR; FREITAS; OGUISSO, 2010).
O momento do cuidar das vítimas no APHM, apresenta situações que geram um tempo de
dúvidas, questionamentos ou necessidade de correções dos elementos da prática cotidiana dos
profissionais. Estas inquietações envolvem a atuação da enfermeira no processo de deliberação.
Sendo assim, na deliberação em pleno processo de cuidar, lança-se, de modo interpretativo
sobre o passado, o olhar de maneira compreensiva para o presente e, projeta-o para o futuro. Os
fenômenos atravessados por esse tipo de tempo são os históricos, sociais, pessoais e morais
(ZOBOLI, 2010). Nessa direção, as enfermeiras que atuam no APHM seguem compartilhando os
instantes carregados de significados em um mundo cotidiano que é um intersubjetivo, comum a
todos os profissionais que pertencem a este grupo social e, que trabalham no cenário de rua. A
intencionalidade da deliberação moral da enfermeira, tem como ponto de partida as relações
intersubjetivas.
O fenômeno da deliberação, no entanto, está imbuído pelas decisões já vivenciadas, ou seja,
por uma experiência prévia que está na base das nossas escolhas, pois é ela quem determina o peso
de cada decisão (WAGNER, 2012). Na minha prática enquanto enfermeira atuante no SAMU,
tenho observado que este fenômeno é envolvido pela vivência em conjunto aos outros profissionais
que, no cotidiano e na história singular das próprias vidas, enfrentam os problemas éticos/ morais
mais diversos, projetando ações das quais exigem como conduta profissional, a deliberação.
Os problemas éticos/morais são enfrentados em momentos do cuidar no APHM. No
cotidiano, fatores como a distância dos recursos demandados, a falta de informações sobre cuidados
médicos, a dificuldade na comunicação com a Central de Regulação, a demora em solicitar ajuda,
a chegada em cenários de crime e o espaço inadequado para a equipe trabalhar são alguns dos
pressupostos desses conflitos. Essas situações colocam a enfermeira, juntamente com a equipe do
APHM, diante de conflitos na vida cotidiana (SANDMAN; NORDMARK, 2006).
Sendo assim, o cuidar em um serviço de emergência se apresenta como um cenário
complexo no que se refere o processo da tomada de decisão. Para tanto, busco a compreensão da
14
deliberação, pois é um substantivo definido como ato ou efeito de deliberar-se; debate com o
objetivo de resolver algum impasse ou, tomar uma decisão; questionamento, reflexão, tendo em
vista a resolução de um problema ou o planejamento de uma atitude; ação empreendida após
consulta e/ou reflexão (HOUAISS, 2007).
Para Dolor, Freitas e Oguisso (2010) a atuação em APH, por vezes não dispõe de tempo
como fator propiciador de uma reflexão mais detalhada à cerca dos conflitos que possam emergir
em cada situação concreta. Tal limitação, entretanto, não poderia eliminar a possibilidade de uma
análise crítico-reflexiva, uma deliberação, sobre os problemas éticos que emergem nessas
circunstâncias.
Diante desse contexto, a motivação para este estudo teve início durante a minha vida
profissional junto ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU do Município de
Alagoinhas. Na trajetória das atividades como enfermeira intervencionista, observei no decorrer do
meu cotidiano: as surpresas advindas com os atendimentos, além das diversas condutas realizadas
pela equipe envolvida em contexto; como a equipe se expõe, atuando com o imprevisto; e o quanto
às características individuais, valores e crenças de cada profissional, possibilita tomada de decisões
diversificadas, mesmo estando em cenários semelhantes.
No início, chamou-me atenção a rotina da equipe de enfermagem que atuava no SAMU,
pois as condutas desses profissionais eram balizadas por um fazer meramente técnico, mecanizado
e orientado, apenas, por uma aplicabilidade de protocolo. Não sentia, no momento do atendimento,
o cuidar inerente à profissão, portanto, caminhávamos apenas no sentido da execução de um
atendimento Pré-hospitalar incipiente. Percebi um cuidar que sempre permeou na Enfermagem,
mas que não se desvelava na minha consciência.
Após um ano no serviço, busquei o aperfeiçoamento profissional para atender as minhas
necessidades como enfermeira intervencionista, e, observei que o cuidar do outro, no momento do
socorro, exigia reflexão, além do discernimento e prudência. A partir do tal momento passei a
refletir sobre as tomada de decisões, buscando as condutas mais assertivas, mesmo desconhecendo,
ainda, o sentido e significado da deliberação durante a experiência das minhas dúvidas.
Em 2008, resolvi inscrever-me em um Curso de Especialização em Emergência que me
possibilitou um bom direcionamento para o desenvolvimento das minhas atividades como
emergencista e, logo após a obtenção do título, aceitei o convite para atuar como co-orientadora de
trabalhos de conclusão de curso, entre eles o de temática: Autonomia do enfermeiro no atendimento
às vítimas que utilizam o SAMU. Tal experiência aprimorou o meu conhecimento sobre os
15
princípios éticos e me proporcionou uma prática profissional em prol do exercício da cidadania e
qualidade de vida frente às situações hostis vivenciadas nos atendimentos de urgência e
atendimentos de emergência.
Ressalto ainda que, a minha vivência como aluna especial da disciplina Ética e Bioética do
curso de Mestrado da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia – UFBA,
oportunizou-me a discutir amplas temáticas, entre elas: os dilemas éticos no contexto da
Enfermagem. Esta trajetória direcionou essa investigação que tem como objeto de estudo a
deliberação moral no cuidar das vítimas no momento do socorro, envolvendo as profissionais
enfermeiras que compõem a equipe do SAMU.
Mesmo diante desta vivência, a minha inquietação ainda persistia, pois a experiência como
coordenadora de enfermagem provocou-me alguns questionamentos nos momentos das
supervisões da equipe ou nas cenas das ocorrências. Ao escutar dos profissionais de enfermagem
às falas sobre a rotina do trabalho, surgiram questões como: e agora o que faço quando estiver com
uma vítima grave? Como decidir quando não conseguirmos contato com o Médico regulador?
Teremos tempo para cuidar? Tais indagações instigaram-me a refletir sobre a deliberação da
enfermeira na prática cotidiana do cuidar no APHM.
Em um estudo realizado por Santana et al (2012) foi identificado que o lidar com situações
extremas, de urgência e emergência, presentes a todo momento no APH, afasta a visão do todo, da
integralidade, direcionando-a para um cuidar mais imediatista, que visa estabelecer as funções
fisiológicas da vítima, momento este, que pode comprometer as ações humanísticas. O atendimento
humanizado, estando prejudicado, proporciona uma relação hostil entre paciente/família/equipe, o
que pode contribuir com que as enfermeiras trabalhem de modo automatizado, como robôs, sem
expressar sentimentos no momento que presta cuidados.
Logo, para que nossa prática contribua para um cuidar integral, respeitoso e acolhedor,
Fracolli e Zoboli (2011, p.763) afirmam que “os profissionais de saúde precisam superar o modo
peculiar de ser operadores das técnicas, decifradores dos exames, executores de rotinas, manuais e
procedimentos”. É preciso fazer imperar a lógica da cordialidade, da gentileza, da solicitude, em
detrimento da lógica da conquista, da dominação e do uso utilitário dos outros.
Entretanto, percebo que em alguns momentos, deliberar sobre o cuidado de enfermagem
prestado às vítimas atendidas pelo SAMU torna-se uma tarefa árdua, principalmente quando as
profissionais se deparam com situações adversas e com iminência de morte. Desse modo, atitudes
16
reflexivas e fundamentadas em princípios éticos, contribuem para uma assistência efetiva e
humanizada.
No cotidiano vivido pelas enfermeiras, na emergência, a imediatidade e as dramaticidades
das situações vivenciadas no APHM, podem fazer com que os problemas éticos/morais sejam mais
evidentes, tempestuosos e avultosos, exigindo um equacionamento ético da enfermeira no momento
da intencionalidade de suas ações (ZOBOLI; FORTES, 2004).
Com intenção de maior aproximação ao objeto de estudo, realizei um levantamento no
banco de teses e dissertações do Portal da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal
de Nível Superior)1, utilizando, como procura, as palavras-chave (deliberação, ética, enfermagem),
e encontrei apenas uma dissertação intitulada “Discursos profissionais e deliberação moral: análise
da prática do processo de enfermagem” (SCHNEIDER, 2010). Este estudo do tipo exploratóriodescritivo e documental de abordagem qualitativa foi desenvolvido junto ao Conselho Regional de
Enfermagem de Santa Catarina, que analisou os processos éticos profissionais de enfermagem no
período de junho a outubro de 2009, tramitados no referido Conselho Profissional como
instrumento para o exame crítico dos discursos profissionais em seus elementos de sustentação da
deliberação moral, utilizando a análise do discurso em Michel Foucault como referencial teóricometodológico.
Em outra pesquisa, nos sítios dos Programas de Pós-graduação, também identifiquei uma
tese de livre-docência intitulada como “Deliberação: leque de possibilidades para compreender os
conflitos de valores na prática clínica da atenção básica” (ZOBOLI, 2010), o que objetivou
compreender a deliberação moral na atenção básica a partir das recomendações feitas pelas
enfermeiras e médicos frente aos problemas éticos vivenciados na prática clínica, fazendo o uso do
método de análise por Diego Garcia.
Ampliando a busca no Scientific Eletronic Library Oline – SciELO Brasil1, no mesmo
período, foram encontrados apenas três artigos que trazem a deliberação como método de
racionalidade prática para as tomadas de decisão.
Dessa forma, por não encontrar estudos que tornassem possível revelar os valores,
sentimentos, intencionalidade, significados e percepções das ações de enfermeiras que vivenciam
a deliberação moral no cotidiano do APHM, espera-se com este estudo, provocar reflexões que
fomentem um melhor conhecimento para o desenvolvimento de ações da enfermeira, que
possibilitem a participação ativa das profissionais no processo de deliberação, auxiliando pacientes,
1
Pesquisa realizada em novembro de 2013
17
familiares e profissionais no momento do cuidar e a contribuir para um repensar das práticas da
enfermeira, favorecendo um agir ético e mais sensível, que não tenha como centralização apenas o
corpo doente, o atendimento à vítima ou a patologia grave, e mais, que distancie a sobreposição do
modelo biomédico sobre prática do cuidar no cotidiano da enfermeira, que traga à visibilidade como
agente moral que atua no Atendimento Pré-hospitalar Móvel.
Diante do exposto, suscita a questão central desta investigação: Como as enfermeiras
vivenciam a deliberação moral no cuidado Pré-hospitalar Móvel?
Neste sentido, a pesquisa tem como objetivo: Compreender a experiência vivida pelas
enfermeiras frente à deliberação moral no cuidado Pré-hospitalar Móvel.
--
2 APROXIMAÇÃO DA TEMATICA DO CUIDAR COM A DELIBERAÇÃO MORAL DA
ENFERMEIRA NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL
O Atendimento Pré-hospitalar Móvel originou-se no ano de 1792, durante a Revolução
Francesa, com o cirurgião Barão Dominique Larrey. Inicialmente, enfatizava-se a ideia do
transporte rápido do campo de batalha para o local apropriado ao atendimento. Posteriormente,
concluiu-se que o tempo de início do atendimento era fundamental para evitar a morte, passando a
realizar os cuidados iniciais dos soldados feridos, antes do transporte. Instituíram-se, dessa forma,
as ambulâncias voadoras que favoreceram a redução de mortes no cenário de guerra
(PHTLS/NAEMT, 2011).
18
Em consonância a esse processo, nos Estados Unidos, foi criado um Serviço de
Atendimento Pré- Hospitalar Móvel denominado Serviço de Emergência Médica (SEM). Esse
modelo trabalha com Técnicos em emergências Médicos regulados por uma Central de Regulação
(MARTINS; PRADO, 2003).
No Brasil, o desenho desse serviço de atendimento pré-hospitalar surgiu em 1808, com a
chegada da Família Real Portuguesa. Sua regulamentação ocorreu em 1989, devido ao surgimento
oficial do serviço de atendimento às emergências médicas nos moldes norteamericanos e
operacionalizado pelo Corpo de Bombeiros da cidade de São Paulo. E a partir de 1893, teve
aprovação pelo Senado da República Brasileira da lei que estabeleceu o socorro médico de urgência
na via pública (MARTINS; PRADO, 2003).
A mudança do perfil epidemiológico da morbimortalidade no Estado brasileiro, com o
aumento das ocorrências que envolvem os incidentes, com a violência urbana e dificuldade de
acesso da população aos pontos de atenção das urgências e emergências, resultou na necessidade
brasileira em dá origem à implantação do Serviço de Atendimento Móvel, difundido inicialmente
com as primeiras experiências em São Paulo e Rio de Janeiro (BUENO; BERNARDES, 2010).
Baseado nessa necessidade, o Atendimento Pré-Hospitalar instituído corresponde aos cuidados
prestados na cena do acidente e transporte da vítima até chegar ao Hospital de referência, tendo
essa, o mínimo de sequela possível (BRASIL, 2006).
Com tal visão, o Ministério da Saúde implementou a assistência pré-hospitalar no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SUS), através da portaria nº. 1864/GM de 29/09/2003, estabelecendo,
assim, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Nesse contexto, o serviço surge
como ordenador da assistência, enquanto forma de resposta às demandas de urgência seja no
domicílio, no local de trabalho, em vias públicas, ou aonde o paciente necessitar de um atendimento
inicial. Exige-se, então, um cuidar respeitoso e singular para cada indivíduo, no momento do
socorro (BRASIL, 2002).
O SAMU foi criado pelo Governo Federal e tem como finalidade prestar atendimento à
população em casos de emergência a fim de prevenir mortes precoces. As ocorrências podem ser
de natureza clínica, psiquiátrica, cirúrgica, traumática, gineco-obstétrica e pediátrica; reguladas por
uma Central de Regulação Médica das Urgências. O serviço é constituído por profissionais
oriundos e não procedentes da saúde, profissionais capacitados e com equipamentos adequados,
assegurado por meio de protocolos, previstos pelos Regulamentos Técnicos da Portaria
2048/02/GM/MS, para atender às necessidades de urgência da população local (BRASIL, 2002).
19
A Portaria de nº1600 em 07 de julho de 2011 reformula a Política Nacional de Atenção às
Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências (RAU) no SUS. De acordo com essa portaria,
fica definido a articulação e integração todos os equipamentos de saúde, objetivando ampliar e,
qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situações de urgência e emergência, nos
serviços de saúde, priorizando as linhas de cuidado cardiovascular, de trauma e cerebrovascular
(BRASIL, 2011).
Sendo assim, o SAMU e suas Centrais de Regulação Médica das Urgências, são
componentes da rede que atuam no atendimento primário à vítima quando o pedido do socorro for
oriundo de um cidadão, e no atendimento secundário quando a solicitação partir dum serviço de
saúde, do qual o paciente já tinha recebido o primeiro atendimento necessário ao quadro de urgência
apresentado, mas necessita ser conduzido para um ponto com atenção de maior complexidade,
obedecendo a rede hierarquizada (BRASIL, 2011)
Nesse cenário o socorro é feito depois da chamada gratuita, realizada através do acesso ao
link 192. A ligação é atendida por telefonistas auxiliares de regulação médica - TARMs, que
compõem o quadro da Central de Regulação das Urgências e que identificam a emergência e,
imediatamente, transferem o chamado para o médico regulador. Esse profissional faz o diagnóstico
da situação e inicia o atendimento no mesmo instante, orientando o paciente e disponibilizando os
recursos necessários para atender a necessidade do usuário (BRASIL, 2002).
Ressalta-se a
importância do aviso prévio da equipe de emergência ao hospital de referência, por meio da Central
de Regulação, sempre que possível, com relação à chegada de pacientes graves acerca da natureza
da ocorrência, da condição de saúde, dos recursos utilizados no atendimento, e do tempo estimado
para a chegada ao hospital. Assim, o setor pode se preparar para coordenar melhor seus recursos
para atender à necessidade de cada paciente.
No contexto do APHM, no cenário Nacional, as unidades são classificadas em Suporte
Básico (SBV) e Suporte Avançado de Vida (SAV). O SBV é definido como sendo a estrutura de
apoio oferecida aos pacientes com risco de mortes desconhecidas, promovidas por técnico ou
auxiliar de enfermagem e por um condutor/socorrista, através das medidas não-invasivas. Por
atenderem casos de baixa complexidade, há maior número dessas viaturas para atender as
demandas de urgência solicitadas à Central de Regulação Médica das Urgências. Podem, ainda,
atender vítimas em estado grave, tendo como apoio, o SAV (BUENO; BERNARDES, 2010).
As ambulâncias mantidas como SAV, classificadas como tipo D, são equipadas com todos
os materiais e equipamentos necessários para atender as vítimas graves, classificadas pelo médico
20
regulador de acordo com a classificação de risco pré-estabelecida. A tripulação desse tipo de
ambulância é composta por, pelo menos, três membros: um médico, um enfermeiro e um condutor
socorrista (BUENO; BERNARDES, 2010; BRASIL, 2002).
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, dispomos no cenário Nacional de 3.040
unidades móveis, sendo 2252 Unidades de Suporte Básico, 560 Unidades de Suporte Avançado
215 motolâncias, oito equipes de embarcação e cinco equipes aeromédicas, o que permite uma
cobertura do SAMU para 72% da população brasileira (BRASIL, 2013).
Durante o atendimento da equipe multiprofissional do SAMU, a avaliação e a intervenção
ocorrem simultaneamente. Entretanto, a tomada de decisões, nas situações adversas, baseia-se na
avaliação do paciente, nas orientações estabelecidas, em diretrizes e nos protocolos de atendimento.
A enfermeira assume um papel fundamental de articulação, da integração de equipe, que é
favorecido com a intersubjetividade entre os profissionais no cotidiano da prática do cuidar no
APHM.
Na composição da equipe, a enfermeira deve ser uma profissional devidamente registrada
no Conselho Regional de Enfermagem da sua jurisdição, habilitada para ações específicas de
enfermagem, devendo, além das ações assistenciais, prestar serviços administrativos e operacionais
nos sistemas de atendimento. Como requisitos gerais, a enfermeira deve ter disposição pessoal,
equilíbrio emocional e autocontrole, capacidade física e mental para a atividade, disposição para
cumprir ações orientadas, capacidade de trabalhar em equipe, iniciativa, facilidade de comunicação
e disponibilidade para a capacitação periódica. Dentre as suas competências e atribuições estão:
supervisionar e avaliar as ações da equipe de enfermagem no APHM; executar prescrições médicas
por telemedicina, prestar cuidados de enfermagem (BRASIL, 2006).
Estudos realizados em duas cidades Brasileiras evidenciaram, através do levantamento das
fichas do SAMU, que as ocorrências clínicas são predominantes, seguidas das emergências
traumatológicas, correspondendo frequência de 64% e 16%, respectivamente, dos atendimentos
gerais realizados. No que se refere à faixa etária dos usuários socorridos, 30% tinha idade entre 15
e 29 anos, 24% com a idade acima de 60 anos e uma frequência menor de ocorrência, 5,7%
correspondente à faixa-etária de 0 a 14 anos de idade das vítimas socorridas (GENTIL; RAMOS;
WHITAKER, 2008, SOARES; PEREIRA; MORAES; VIANNA, 2012). Esse contexto exige da
enfermeira uma preparação para o desenvolvimento de suas habilidades, além do conhecimento
técnico-científico, visto que, a clientela não é escolhida no momento da prática do cuidar.
21
Exige-se, ainda, de dada profissional, uma postura de controle da cena, agilidade e
competência para enfrentar as situações adversas de pacientes que estão no limiar de vida e morte,
visto o contato direto com complicações clínicas severas, acidentes e violência (OLIVEIRA et al,
2013).
A Lei do Exercício Profissional de Enfermagem Lei 7.498/86 de 25 de junho de 1986i
regulamentada pelo Decreto- Lei 94. 406/87 de 08 de junho de 1987 dispõe sobre o exercício da
Enfermagem, e dá outras providências.
Art.2- O enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe:
I- Privativamente:
l - Cuidados diretos de enfermagem a clientela graves com risco de vida.
m
- Cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam
conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas.
Vale
ressaltar,
ainda,
a
Resolução
nº
375/2011
do
Conselho
Federal
de
Enfermagem/COFEN que dispõe da presença obrigatória da enfermeira no atendimento pré e intrahospitalar em situações de risco conhecido e desconhecido em qualquer tipo de Unidade Móvel
(terrestre, marítima ou aérea), para realizar qualquer tipo de assistência de enfermagem.
Torna-se imperioso que a enfermeira discuta sua prática à luz da ética e do código de ética
profissional, além da legislação pertinente, como a Lei do Exercício Profissional de enfermagem,
a fim de analisar sua atuação e as condições em que a exerce, bem como reflita sobre sua prática
profissional, suas motivações e intencionalidade para as escolhas diárias no cenário do APHM.
2.2 O CUIDAR DA ENFERMEIRA NOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
Cuidar é respeitar, estimar, ter solicitude, reconhecer o valor da pessoa humana em si e no
outro, superando o ódio, o conflito, o desconhecimento, pela afirmação do amor e da justiça como
condições de realização da nossa humanidade (CESAR, 2011).
Segundo Collière (1989, p.235), cuidar significa “prestar cuidados, tomar conta, é, primeiro
que tudo, um ato de vida, no sentido de que representa uma variedade infinita de atividades que
visam manter, sustentar a vida e permitir-lhe continuar e reproduzir-se”. Os seres humanos, como
todos os seres vivos, sempre precisam de cuidados, pois é preciso tomar conta da vida para que ela
possa permanecer. As peculiaridades da existência humana, como meio de clarificação e
entendimento do ser, podem ser capturadas por uma única palavra: “cuidado”. O mundo pode ser
definido como aquilo a que o homem dedica cuidado, e o homem como aquilo que dedica cuidado
ao mundo.
22
A palavra cuidado tem duas derivações: do latim cura, escrito coera, que era usada num
contexto de relações de amor e de amizade, expressando a atitude de cuidado, de desvelo, de
preocupação e de inquietação em relação ao objeto do desejo; outra derivada cogitare-cogitatus
que tem o mesmo sentido de cura: cogitar, pensar, colocar atenção, mostrar interesse, revelar uma
atitude de desvelo e de preocupação. Assim, “cuidado significa desvelo, solicitude, diligência, zelo,
atenção, bom trato”. Cuidar é mais que um ato, é uma atitude (BOOF, 2008, p.33).
O cuidado revela, ainda, nossa existência como um ser-no-mundo, ele está ligado à vida,
tem caráter universal e se apresenta de forma singular em cada situação. Enquanto cuidado, nós
não somos um objeto fixo no interior do mundo, mas uma extensa rede de atenções para com o
interior do mundo. A maneira como cuidamos depende de como somos cuidados, da maneira como
o mundo se mostra através de cada um de nós e, principalmente, dos ângulos de interpretação que
temos do mundo (URASAKI, 2001).
Boof (2008) concebe o cuidado como a base possibilitadora da existência humana enquanto
condição humana. Se não receber cuidado desde o nascimento até a morte, o ser humano
desestrutura-se, definha, perde o sentido e morre. O cuidado somente surge quando a existência de
alguém tem importância para mim. Passo então a dedicar-me a participar do destino, das buscas,
dos sofrimentos e de seus sucessos, enfim de vida desse alguém importante para mim.
Colliére (2003, p.1) afirma que o “Cuidar da vida está na origem de todas as culturas. Desde
o início da história da humanidade, os homens e as mulheres esforçaram-se por sobreviver”.
Abordando a história do cuidar/ cuidado, expressa que pouco a pouco, sob a influência da
igreja, entre o século V e século XIII, “instala-se uma nova concepção dos cuidados que nega a
inter-relação corpo-espírito, dando a supremacia ao espírito e relegando o corpo impuro, fonte de
fornicação e de desejo”. O discurso religioso e a exortação vão substituir os cuidados concretos e
práticos, o contato direto com o corpo, o toque, o carinho vão perdendo espaço (COLLIÉRE, 2003,
p.59).
A enfermagem, que teve sua origem no cuidar, em conseqüência de sua caracterização
inicial associada ao cuidado prestado por mulheres, inicialmente mães, seguidas de religiosas em
prol da caridade e por mulheres de reputação questionável, teve um posicionamento de submissão
e subserviência ao longo da história. Sendo assim, a condição histórica fez a profissão emergir
como subalterna e caracterizada pela heteronomia, isto é, pelo domínio das ações por leis externas
à pessoa (COLLIÉRE, 1999).
23
Com a emergência da profissão médica, no final do século XX, surge uma Enfermagem
que, além das qualidades de submissão culturalmente construídas, é fortemente influenciada pela
classe médica, passando a cumprir responsabilidades e técnicas delegadas por este grupo.
Nesse particular há uma busca incessante por um cuidado no campo da enfermagem onde
se rompa o paradigma do modelo biomédico, curativista, que se faça imperar um cuidar ético,
distinto e praticado em todas as ações desenvolvidas pelas enfermeiras no pré-hospitalar, no
enfretamento diário em busca de um agir ético.
A competência para cuidar nos serviços de emergência, pressupõe além do saber técnico,
saberes ligados ao relacionar-se com o outro. É importante descrever que um cuidar humanizado
não se remete a envolver os nossos sentimentos com o do outro ser- cuidado; deve-se ser
considerado o saber lidar com estes sentimentos de modo terapêutico, com abordagem dialógica
pois, menosprezá-los pode nos levar a uma prática reducionista na qual só cabe a dimensão técnica.
Assim, para Zoboli (2010), o cuidado remete-nos à atitude de desvelo pelo outro, ou seja,
toma como critério para nossas ações a alteridade, a relação com o Outro a partir do reconhecimento
desse como ser humano de igual dignidade e participante da rede de cuidado que constrói e mantém
a vida.
Uma ação de cuidado nos direciona no sentido de fazer algo para ajudar o outro, para
fomentar vida, na relação intersubjetiva. É uma interação subjetiva, onde a interação com o Outro
se dá por meio de palavras, gestos, olhares, imputada na vida cotidiana das enfermeiras
(FRACOLLI; ZOBOLI, 2011).
Nesse sentido, cuidar do outro é compreendê-lo em sua subjetividade; apreender o seu
sentir-se doente; é não envolver apenas o buscar e reunir dados para elucidar diagnósticos e propor
terapêuticas, como previsto pela lógica técnico-científica. Requer uma aproximação, um
acolhimento que nos ajude a compreendê-los nas seguintes facetas: “conseguimos sentir o seu
mundo vida? Como vivencia a doença em sua existência? Como esse mundo se apresenta a ele?
Como vê os cuidados que lhe são prestados? Como nos vê?” (BOEMER, 2011, p.63). Na minha
prática cotidiana, tais questionamentos em tela pouco são lembrados ou colocados como prioritários
no momento do atendimento inicial em serviços de urgência e emergência, fato que, faz com que
reflita como cuidamos em cenários como esses.
Em um estudo sobre relações de não cuidado de enfermagem numa emergência nas vozes
dos pacientes, os sujeitos qualificam o cuidado como mais mecânico do que humano, ou seja,
denotam insensibilidade. Afirmam que a comunicação não verbal por meio do toque, do olhar que
24
cuida; que integra os seres e representa o importar-se com o outro e, que expressa preocupação,
zelo, afeto, conforto, amor e carinho, está sendo pouco utilizada na relação do profissional com o
paciente (BAGGIO; CALLEGARO; ALACOQUE, 2011).
Entendo que os cuidados de enfermagem, no APHM, devem ser orientados não apenas para
o aspecto biológico, mas também para as reações emocionais, seja do cliente ou famíliar, pois esses
se sentem fragilizados diante dos acontecimentos inesperados advindos com as situações de
emergência (FIGUEIREDO et al, 2010).
Para Waldow (2007), no momento em que se cuida, a enfermeira na relação com o outro,
assume o cuidado como um valor moral, este imperativo envolve outros valores como a compaixão,
a solidariedade, a competência, a confiança e o compromisso profissional que faz desenvolver uma
consciência ética.
A pesquisa de Coelho (2006) apresenta 46 formas de cuidar que se consolidam com o
distanciamento da predominância biologicista e mecanicista, através de uma relação dual entre
profissional/paciente e o respeito da individualidade e dos fatores bio-psico-socio-econômicos que
envolvem o ser cuidado.
Neste contexto, na prática do cuidar da profissional enfermeira que atua no SAMU não se
deve desvincular, durante a realização de um procedimento, a operacionalização de uma técnica no
momento do socorro; dos aspectos afetivos; da essência do ser humano como ser existente em um
contexto social de um cenário de rua que exige relações interativas dos atores sociais em diversos
momentos de cuidado.
2.3 ASPECTOS ÉTICOS E
PRÉHOSPITALAR MÓVEL
BIOÉTICOS
NO
CONTEXTO
DO
ATENDIMENTO
A ética faz parte da natureza humana, voltando-se para um agir consciente, livre e
responsável. Segundo Fortes (2011, p.26) “Ética se refere à reflexão crítica sobre o comportamento
humano que interpreta, discute e problematiza os valores, os princípios e as regras morais, à procura
da “boa vida” em sociedade, do bom convívio social.”.
A moral, do latim (mos-mores), designa costumes, as regras do comportamento, remete ao
agir humano, hábitos, normas, regras. E a ética, do grego (ethos), também significa costumes, regras
de comportamento. Portanto, etimologicamente tem o mesmo significado que moral. A diferença
entre tais termos é que a ética é tida como reflexão sobre as questões fundamentais do agir humano,
procurando compreender a natureza do bem e do mal, enquanto a moral é percebida como a
25
aplicação ao concreto, à ação. Refere-se à ética como de ordem mais reflexiva, e, à moral como de
ordem mais normativa (RATES; PESSALACIA, 2010). Percebo assim,
[...] que o significado etimológico de moral e ética não nos fornecem o significado atual
dos dois termos, mas nos situam no terreno especificamente humano no qual se torna
possível e se funda o comportamento moral: o humano como o adquirido ou conquistado
pelo homem sobre o que há nele de pura natureza. O comportamento moral pertence
somente ao homem na medida em que, sobre a sua própria natureza, cria esta segunda
natureza, da qual faz parte a sua atividade moral (VÁZQUEZ, 2011, p.24-25).
O comportamento moral é, portanto, uma questão de ordem prática, isto é, o que fazer em
cada situação; e a ética envolve a reflexão sobre este comportamento prático. A ética também pode
ser definida como a ciência que tem por objetivo o juízo de apreciação, na medida em que juízos
de apreciação são os que se aplicam à distinção entre o bem e o mal.
Agir de forma ética não é simplesmente uma questão de opção, é uma necessidade em
função do bem superior, aspiração de todo ser humano, imprescindível para a plena realização, é
mandatária, porque ética é qualidade, justiça e cuidado. Portanto, a ética nasce da necessidade de
fazer o bem o que implica o reconhecimento de um valor, das coisas de das pessoas
(FERNANDES; FREITAS, 2006, p.27).
Ao longo da vida cotidiana o ser humano vai assimilando princípios que surgem
inicialmente no meio familiar e que durante sua trajetória de vida estes podem ser modificados e/ou
incorporados no decorrer de sua vivencia em sociedade. Durante o agir ético ele faz uso de alguns
instrumentos norteiam suas ações, pois segundo Fernandes e Freitas:
[...] O homem faz uso de algumas ferramentas, como a consciência e a vontade, e algumas
virtudes como a prudência e a tolerância, as quais são imprescindíveis para estabelecer
relações harmoniosas com as pessoas e o mundo em que vive (FERNANDES; FREITAS,
2006, p.28).
Os homens no seu cotidiano não só agem moralmente, como refletem sobre esse
comportamento prático e o tomam como objeto de reflexão e de pensamento. Logo, o agir na
situação concreta traduz um problema prático-moral, mas investigar o modo pelo qual a
responsabilidade moral se relaciona com a liberdade e com o determinismo aos quais nossos atos
estão sujeitos, torna-se um problema de competência ética. (VAZQUEZ, 2011)
Dolor, Freitas e Oguisso (2010, p.250) afirmam que, no Brasil são frequentes os problemas
éticos experimentados por profissionais da saúde, em diversas ocasiões, principalmente em
situações de emergência/urgência. “É o momento que a tomada de decisão deve buscar um
26
entendimento unânime da equipe, tendo em vista que, além das questões técnicas, existem
circunstâncias distintas, relacionadas ao contexto familiar e social”.
Sendo assim, na prática cotidiana dos profissionais de enfermagem no APHM proporciona
um momento de encontro com o outro ser - cuidado e com profissionais que compõem a equipe,
este fato intensifica a necessidade da deliberação frente às tomadas de decisão. Sabe-se que entre
as competências importantes para o exercício da prática da enfermeira no APH, estão o raciocínio
clínico para a tomada de decisão e a habilidade para executar as intervenções prontamente.
(GENTIL; RAMOS; WHITAKER, 2008). Então, os princípios bioéticos são fundamentais para
este guiar profissional.
Atualmente, verifica-se que a bioética não se restringe aos debates focados nos avanços
biotecnológicos, tampouco à assistência aos cuidados de saúde e à ética profissional ou em
pesquisa. Para esta, associam-se estes fatores à complexidade da própria vida, problematizandoos
na intenção de encontrar soluções quando possível (ZOBOLI, 2010). Assim, no mundo vivido pelas
enfermeiras que atuam no APHM a bioética emerge como campo de reflexão e diálogo sobre
profissionais e auxilia na deliberação.
A bioética tem sido discutida de forma constante, desde a sua origem, na segunda metade
do século XX. É definida como um espaço transprofissional, transdisciplinar e transcultural na área
da saúde e da vida. Faz imperar o resgate da dignidade da pessoa humana, dando ênfase na
qualidade de vida; “proteção à vida humana e seu ambiente, por meio da tolerância e da
solidariedade”. Trata-se de um processo reflexivo e não de uma ética pré-estabelecida
(BARCHIFONTAINE, 2005).
A bioética, definida como ética da vida, foi proposta inicialmente por Potter, em 1971.
Como oncologista, Potter, preocupou-se com o futuro da humanidade e com a sobrevivência dessa,
frente os avanços da tecnociência. Assim, propôs a junção das ciências biológicas e das
humanidades em um único campo do conhecimento a fim de aproximá-las, fazer com que a ética
se voltasse para os fatos novos que estavam ocorrendo, e que a biologia passasse a considerar algo
além das bancadas dos experimentos. Na época, teólogos e filósofos discutiam o teor da bioética
distante da realidade vivida pelos profissionais e estudantes em sua prática diária. Por outro lado,
os pesquisadores não questionavam a dimensão da tecnociência que estavam desenvolvendo, mas
a sociedade passou a questionar se tudo que era possível cientificamente estaria justificado e/ou
permitido (ZOBOLI, 2006).
27
No entanto, acreditou-se, por muito tempo, que a bioética seria algo ligado à biotecnologia
de ponta, tanto na vertente do seu desenvolvimento como de aplicação na atenção à saúde e, foi
apenas no final do século XX que se expressou como uma forte reflexão social, contribuindo para
uma prática pautada no uso do conhecimento para o bem social, de forma justa e cuidadosa.
O enfoque do principialismo é o mais difundido na bioética. Foi, esse enfoque, proposto
por Tom Bechaump e James Childress, em 1978 que adotou a beneficência na prática clínica, a não
maleficência, autonomia e justiça como os princípios que balizam a ética. Os dois autores os
entenderam como princípios prima facie, que vinculam, mas que em uma situação concreta podem
se ver obrigados a ceder a primazia a outro princípio, sendo que a situação é o elemento que permite
estabelecer a hierarquia. É preciso analisar a situação de forma detalhada, deliberar sobre os cursos
de ação do caso, e com base nisso, tomar uma decisão prudente (GRACIA, 2010).
A beneficência é um dos princípios mais conhecidos, que significa não causar danos;
significa a obrigação de garantir o bem-estar do indivíduo. Relaciona-se ao dever de ajudar os
outros, de fazer ou promover o bem a favor de seus interesses. Reconhece o valor moral do outro.
Permite ao profissional de saúde avaliar os riscos e benefícios potenciais, buscar o máximo de
benefícios e reduzir os danos e riscos a outrem (BARCHINFONTAINE, 2005).
O princípio de não maleficência traduz o dever de se abster de fazer qualquer mal para os
clientes, de não causar danos ou colocá-los em risco. O profissional se compromete a avaliar e
evitar os danos previsíveis (KOERICH; MACHADO; COSTA, 2005).
Para entender este princípio, não basta, apenas, que o profissional tenha boas intenções de
não prejudicar o cliente. É preciso evitar qualquer situação que signifique riscos para esse, verificar
se o modo de agir não está prejudicando o cliente coletivamente ou individual, se determinada
técnica não oferece risco, e, ainda, se existe outro modo de execução com menos riscos.
O respeito à autonomia assegura o direito do cliente decidir e agir sobre o próprio corpo e
destino de acordo com valores e crenças pessoais. Uma pessoa autônoma é um indivíduo capaz de
proporcionar a deliberação sobre objetivos pessoais e de agir em direção a essa deliberação,
considerando os valores morais do contexto no qual está inserido. Um indivíduo autônomo age
livremente de acordo com um plano próprio, e respeitar tal autonomia é valorizar a consideração
sobre as opiniões, as escolhas, evitando, da mesma forma, a obstrução das ações do sujeito
autônomo, a menos que seja prejudicial para a coletividade (ALMEIDA, 2010).
A justiça em bioética trata de ações distributivas, eqüitativas, apropriadas e determinadas
por normas, que se justificam e se estruturam nos termos da cooperação social, estendendo-se aos
28
direitos e responsabilidades dos cidadãos, na sociedade, em termos civis e políticos.
(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).
Entretanto, na prática cotidiana, nas vivencias dos problemas éticos nos serviços de
emergência, desvela-se a necessidade de se ponderar e especificar os quatro princípios no contexto
de cada caso. Abre-se, portanto, para a bioética, a possibilidade de considerar a pluralidade moral
da sociedade e a necessidade de dialogar com outros princípios. Pois estes princípios devem nortear
as discussões, decisões, procedimentos e ações na esfera dos cuidados da saúde (KOERICH;
MACHADO; COSTA, 2005).
Dentro desta contextualização, vale ressaltar o princípio da responsabilidade, que implica
no sujeito responder pelas consequências dos próprios atos. Ser responsável é estar constantemente
re-estabelecendo uma relação equilibrada entre direitos e deveres (BUB, 2005).
Nesse contexto, a deliberação decorre do reconhecimento e da aceitação da
incomensurabilidade da realidade, dos quais resulta a necessidade de enriquecer a compreensão das
coisas e dos fatos a partir da inclusão de diferentes visões e perspectivas. A deliberação considera
impossível um raciocínio do tipo matemático às questões da vida prática, como a ética (ZOBOLI,
2010).
2.4 DELIBERAÇÃO MORAL E A TOMADA DE DECISÃO ÉTICA/MORAL DA
ENFERMEIRA NO CONTEXTO DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL
No Atendimento Pré-hospitalar, há necessidade dos profissionais se adaptarem aos
conhecimentos e às habilidades técnicas para situações que demandam improvisações, porque
apresenta características que o diferencia do atendimento hospitalar, este vai de encontro a uma
clientela que necessita de socorro imediato, onde o evento danoso pode ser ocorrente no trânsito,
no trabalho, em casa, na rua e nas mais imagináveis situações. Cabe ressaltar, entretanto, que fatores
agravantes podem influenciar o prognóstico da condição da vítima, como a falta de opções para o
encaminhamento e atendimento devidos. Estas circunstâncias podem gerar problemas éticos de
difíceis soluções num determinado momento, razão pela qual a enfermeira deve estar preparada
para tomar as melhores decisões e propiciar o maior benefício no momento do atendimento
(DOLOR; FREITAS; OGUISSO, 2010).
Com funções pré-estabelecidas, as enfermeiras sofrem intensa pressão pela necessidade de
ter respostas rápidas em relação aos casos com que se depara no dia-a-dia. Enfrentam também
situações limítrofes de vida e sofrimento, e, portanto, estão num processo constante de ajustes e
29
reajustes, visto que a presença de fatores intervenientes pode colaborar para o surgimento dos
problemas éticos e há necessidade constante de tomada de decisão (CAMPOS; FARIAS; RAMOS,
2009).
Compreendo que a deliberação moral tem de ocorrer sempre que os valores individual ou
coletivamente estiverem em conflito ou sob ameaça. Delibera-se para se tomarem decisões. Estas
são sempre concretas; não podem ser tomadas no abstrato, mas hão de levar em conta as
circunstâncias do ato e suas consequências previsíveis. As decisões éticas equivalem a decisões
concretas tomadas depois de cuidadosa deliberação (ZOBOLI, 2010).
O processo do cuidar que envolve a profissão associada à complexidade das questões
referentes à saúde, à doença e às diversidades multiculturais dos sujeitos envolvidos, exige da
enfermeira um olhar amplo, conhecimento técnico-científico além de condutas éticas que precedem
e alicerçam a deliberação antecedendo à tomada de decisão. Não obstante, sabe-se que estes pilares
uma vez não estabelecidos podem provocar desordens e possibilitando uma escolha ineficaz.
A enfermeira que atua nos serviços de emergência age como agente moral conscienciosa
quando considera imparcialmente os interesses de todos os afetados, por aquilo que fez; é aquela
que analisa cuidadosamente os fatos e examina suas implicações; aquela que aceita princípios de
conduta somente após a certeza de que eles são sólidos, por fim, é aquela que está disposta a agir
de acordo com o resultado desta deliberação (BUB, 2005).
Nesse sentido, o cotidiano no mundo vida dos profissionais que atuam no SAMU precisa
ser constantemente pensado como ação ética, pois se espera que o serviço responda com eficiência
e eficácia as demandas de urgências e emergências da população, o que implica competência
técnico-científica, humanística e ética da equipe de atendimento (VIEIRA; MUSSI, 2008). Estes
fatores tornam-se fundamentais para a intencionalidade da deliberação moral das enfermeiras que
compõem o APH Móvel.
2.5 A FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHUTZ COMO REFERENCIAL TEÓRICO
- METODOLÓGICO
Procurando ampliar o olhar sobre o fenômeno da deliberação moral da enfermeira no
cuidado Pré-hospitalar, na perspectiva da minha própria vivência, aproximei-me da fenomenologia
social de Alfred Schutz como referencial teórico metodológico, com a intenção de conhecer as
vivências das ações dessas profissionais no seu cotidiano, como elementos que interagem e se
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complementam dentro de um mundo - vida, onde se vivenciam as experiências subjetivas,
chamadas de mundo social.
O termo fenomenologia origina-se da combinação das palavras gregas phainomenon, que
significa fenômeno, aquilo que se mostra por si mesmo, o manifesto; e logos que significa ciência,
estudo. Portanto, etimologicamente, podemos defini-la como estudo ou ciência do fenômeno, sendo
que, por fenômeno, entende-se tudo aquilo que se manifesta ou se revela por si mesmo
(SOKOLOWSKI, 2010).
Esse movimento filosófico iniciou-se no século XX. Contudo, como método de
investigação, a fenomenologia nasce com Edmund Husserl na metade do século XIX com a obra
Investigações Lógicas. Ele foi o primeiro a conceber e divulgar a fenomenologia como ciência das
estruturas essenciais da consciência pura. Alguns dos seus seguidores e críticos foram Martin
Heidgger, Merleau- Ponty, Paul Ricour e Alfred Schutz (SOKOLOWSKI, 2010).
Para a fenomenologia toda a consciência é consciência de alguma coisa, é intencionalidade,
ato de visar algo. A intencionalidade é um transcender, um dirigir-se a outra coisa que não seja a
própria consciência. Por isso é vivência, consciência e mundo. A todo objeto (noema) há
correspondência de certa modalidade de consciência (noesis). A intencionalidade institui uma
interação entre sujeito e objeto, o homem e o mundo, o pensamento e o se ser, mostrando que toda
consciência, é consciência de algo, e nada ocorre no vazio (PEIXOTO, 2011).
Esta nova proposta filosófica não se preocupa com a enumeração dos fatos, mas conduz a
busca incessante da essência dos mesmos; representa uma tendência que eleva a importância do
sujeito na construção do conhecimento. “Refundar as ciências é igualmente colocar como
referência básica o homem e suas necessidades” (PEIXOTO, 2011, p.53).
Pensando na fenomenologia social, essa é compreendida como atitude natural, em que a
subjetividade é considerada um dado do mundo da vida, relacionado à questão da comunicação
interpessoal, corporal e cultural (CAPALBO, 1998). Considera-se a intersubjetividade como um
dado intramudano sobre o qual se ergue qualquer atividade do eu de relação e, da própria ciência
social (ZEFERINO; CARRARO, 2013).
Este referencial teórico-metodológico descreve a estrutura total da experiência vivida e a
percepção dos indivíduos sobre suas vivências, caracterizando-se por ser um método intuitivo
(MERIGHI, 2003). Uma vez que se buscou a intencionalidade das ações de um grupo social, ou
seja, das enfermeiras que no próprio cotidiano vivenciam a deliberação moral no cuidado
Préhospitalar, optei pela Fenomenologia Social de Alfred Schütz para subsidiar o estudo.
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Alfred Schutz nasceu em Viena em 1899 e, aos 18 anos, foi enviado ao campo de batalha,
na fronteira italiana. O seu retorno doloroso a um império em crise o obrigou a optar por escolhas
pragmáticas: os estudos de direito, os quais concluíram em 1921, e um emprego de consultoria em
uma empresa bancária, que substituíram os projetos anteriores, projetos de se tornar maestro. A
carreira de Schutz como consultor econômico, solidificou-se e, como especialista em direito
internacional produziu relatórios e análises sobre a situação político-econômica da Europa Central.
Entretanto, sua ascensão profissional era margeada pelo poder crescente do nazismo, bem como
pela crise econômica, pela política que ameaçava todo o mundo germânico, além do grande
interesse pela intelectualidade (CASTRO, 2012).
Sendo assim, em meio à sua participação na vida intelectual vienense, escreveu, entre 1924
e 1927, seu primeiro trabalho importante, Theorie der Lebensform, onde já apontava suas
preocupações e as influências da sociologia fenomenológica (CASTRO, 2012).
As contribuições de Schutz fundamentam-se nos conceitos fenomenológicos de Hurssel e
da Sociologia de Max Weber para reinterpretar as relações sociais e explicitar o significado da
realidade social. O pensamento schutziano apresenta soluções originais para a problemática da
intersubjetividade, no horizonte da pesquisa fenomenológica.
Segundo Capalbo (1998) Schutz apropriou-se de conceitos básicos da fenomenologia de
Husserl: intencionalidade, intersubjetividade e mundo-vida, tendo como eixo a volta ao núcleo
essencial. Da teoria da Ação Social de Weber, utilizou-se dos conceitos de compreensão, ação e do
significado subjetivo para fundamentar filosoficamente as ciências sociais.
A fenomenologia social se interessa, não pelos atos singulares, nem pelos comportamentos
individuais, fechados numa consciência de si, mas se volta para a compreensão do que constitui um
determinado grupo social, o qual vive uma situação típica. O mundo cotidiano não se resume a um
mundo individual, mas intersubjetivo, no qual compartilhamos com os nossos semelhantes, sendo
comum a todos nós (WAGNER, 2003).
As experiências vivenciadas pelo ser humano consciente que vive e age em um mundo seu
e o interpreta, é que faz sentido para esse, além de ser o que ele segue através de uma
intencionalidade. “De acordo com Hurssel todas as experiências diretas de seres humanos são
experiências em, e de, seu mundo da vida; elas o constituem, são dirigidas a ele, são testadas nele”
(WAGNER, 2012, p.16).
O mundo da vida cotidiana deve ser considerado como um mundo intersubjetivo, que já
existia antes, que já foi experimentado e interpretado por outros, nossos antecessores, como um
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mundo organizado. Toda interpretação sobre esse mundo é baseada sobre um estoque de
experiências prévias a seu respeito; nossas próprias experiências e aquelas que são transmitidas
operam como uma fonte de referência (WAGNER, 2012. p.84).
A posição de um indivíduo no seu mundo - vida atravessa uma trilha de experiências de
vidas anteriores que jamais se esgota em uma situação específica; se encontra em uma situação
biograficamente determinada, esta, por sua vez, possui uma história; é a sedimentação de todas as
experiências prévias do indivíduo, organizadas como uma posse que está disponível em seu estoque
de conhecimento. “Minha situação biográfica e meu acervo de conhecimento condicionam minha
projeção do futuro” (SCHUTZ, 2003, p.86).
A fenomenologia sociológica de Alfred Schutz ainda emprega sua análise da experiência
com vistas à elaboração de uma análise da ação social. Nesse sentido, a compreensão do social
volta-se para “o motivo para” que consiste em um estado de coisas - o objetivo que se pretende
alcançar com a ação empreendida, ou seja, a orientação para a ação futura e “motivo porque” que
está relacionado às vivências passadas, com conhecimentos disponíveis que justificam suas ações
(CAMPOY; MERIGHI; STEFANELI, 2005).
Schutz ainda diferencia os conceitos de conduta e ação. O primeiro refere-se à experiência
de significado subjetivo que emanam de nossa vida espontânea, “todos os tipos de atividades
automáticas de nossa vida interior ou exterior”. A ação origina de toda conduta baseada no projeto
pré-concebido, em uma intenção de tornar real o estado de coisas projetado (WAGNER, 2012,
p.139). Diferentemente da conduta, a ação tem sempre uma intencionalidade dirigida para a
realidade social que se tem familiaridade através de uma convivência prévia (SHUTZ, 1972).
Na fenomenologia social, o mundo fatual de nossa experiência, é vivenciado com
tipicidade. As tipificações não são mais que generalizações das características particulares de seus
semelhantes. Desta forma, não são constructos fechados, visto que se ampliam com a experiência
de cada sujeito, no mundo-vida. (ASTRAIN, 2006).
No momento do cuidado no Pré-hospitalar, a ocorrência de problemas éticos/morais levam
as enfermeiras deliberarem, com base em motivações para as ações, o que permite reflexões sobre
a intencionalidade e significados dessas ações.
Assim, as enfermeiras que atuam no SAMU, configuram-se em um grupo social que possui
características semelhantes que às motivam na condução das ações que lhe são inerentes frente ao
cuidado Pré-Hospitalar. Nesse contexto a compreensão da deliberação moral nesta pesquisa se
constitui em desvelar uma rede de significados das experiências vividas de participantes, em um
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determinado tempo e espaço, reconhecendo o mundo da vida de cada uma dessas profissionais que
mantém uma relação interpessoal no mundo das deliberações; de cuidar, do encontro intersubjetivo,
do estar com outros atores sociais no APHM.
3 O CAMINHO PERCORRIDO AO ENCONTRO DA DELIBERAÇÃO MORAL
A busca pela necessidade de situar o fenômeno deliberação moral da enfermeira no cuidado
Pré-Hospitalar encaminhou-me para a realização de um estudo qualitativo fenomenológico. A
pesquisa qualitativa procura introduzir um rigor, que não o da precisão numérica, que não são
passíveis de serem estudados quantitativamente, tais como angústia, ansiedade, medo, alegria,
cólera, amor, tristeza, solidão, etc. Esses fenômenos apresentam dimensões pessoais subjetivas
apreendidas através da abordagem qualitativa (MARTINS; BICUDO, 2005, p.28).
Segundo Martins e Bicudo (2006, p.26), na pesquisa fenomenológica, os pesquisadores
“procuram reavivar, tematizar e compreender eideticamente os fenômenos da vida cotidiana à
medida que são tais fenômenos, vividos, experienciados e conscientemente percebidos”.
A pesquisa fenomenológica, através do fenômeno vivido, descreve o significado da
experiência vivenciada, faz imperar como princípio fenomenológico uma volta às coisas mesmas,
que segundo Husserl propõe a volta ao eidos, ao núcleo essencial; a análise de uma atividade que
faz emergir a essência, que é uma atualização resultante do ato intencional da consciência
(CAPALBO, 1998).
Para Martins e Bicudo (2005), a fenomenologia trabalha com uma visão de conhecimento
e de realidade específicas e próprias. Assim, o sujeito e o objeto não são separados, mas estão
ontologicamente unidos, uma vez que o ser é sempre um ser-no-mundo. Nela, estão presentes
algumas concepções que dizem da interpretação do mundo vida como: fenômeno, realidade,
consciência, essência, verdade, experiência, intersubjetividade.
Através da Fenomenologia Social de Schutz, encontrei um referencial coerente com estudos
sobre o significado, subjetividade, intersubjetividade e intencionalidade da consciência. Assim
sendo, busquei apreender a ação das enfermeiras a partir da deliberação moral, investigando o
mundo das relações sociais dessas profissionais, no momento do cuidar no APHM.
A compreensão da realidade eminente da vida de sentido comum dessas profissionais, que
habitam o mundo do APHM, é a chave que permite entender a obra de Schutz. Para esse encontro
no mundo-vida é importante apreender um espaço e tempo que sejam comuns, conforme Schutz
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(2003). Nestes, são interpretadas por cada pessoa, as experiências construídas no curso de sua
existência concreta.
O contexto do estudo escolhido intencionalmente é composto por bases descentralizadas de
um SAMU Metropolitano, por considerar que este serviço dispõe na peculiar composição, uma
estrutura que oferece atendimento a uma população, estimada pelo IBGE em 2012, de 2,71 milhões
de habitantes, disponibiliza para os seus usuários um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
com escuta médica por 24 horas e é composto por uma Central de Regulação Médica das Urgências.
Atuam neste, equipes especializadas e uma frota equipada por USAs , USBs e motolâncias
que de acordo com a decisão gestora do Médico Regulador, que compõe a equipe da Central de
Regulação, são disparadas para atender às necessidades dos usuários, prestando atendimento de
Suporte Básico e Avançado de Vida à população local e atendendo a uma média de 400
ocorrências/dia.
Vale ressaltar que, o Serviço em estudo, por vezes, tem ativo no seu fluxo de atendimento
uma Unidade Intermediária que tem como tripulantes a profissional Enfermeira, Técnico de
Enfermagem e Condutor, em uma Unidade de Suporte Avançado, mesmo não estando discriminada
na Portaria 1600/2011/GM/MS, que reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências
(BRASIL, 2011).
Foram participantes da pesquisa, 07 enfermeiras e 05 enfermeiros, atendendo aos critérios
de inclusão estabelecidos, com a intencionalidade de obter informações subjetivas, sendo estes: ser
enfermeira que intervêm junto à equipe de enfermagem nas Unidades Móveis; os que já tenham
vivenciado no seu cotidiano a deliberação moral no processo do cuidar em um Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência Metropolitano e ter no mínimo seis meses de atuação neste
serviço. Foram excluídas as enfermeiras que não atendiam aos critérios de inclusão, encontravamse em férias e estavam ausentes nos dias de coleta.
Para fins deste estudo, desde os primeiros contatos com as participantes envolvidas na
pesquisa, especialmente no que se refere às profissionais do estudo, foram respeitados o previsto
na Resolução n°466 (BRASIL, 2012), do Conselho nacional de Saúde, que dispõe sobre as normas
de pesquisas envolvendo seres humanos, o que incluiu a aprovação dos participantes da pesquisa
mediante informações prévias sobre o desenvolvimento dessa.
Foi realizado, inicialmente, um contato com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) do
município, apresentando cópia do projeto para abertura de um protocolo (PMS de 10/2013 –
Apêndice A), solicitando parecer e liberação para utilização do campo para coleta das informações
35
e desenvolvimento da pesquisa. Após o período solicitado para análise, o projeto teve parecer
favorável pelo setor de Capacitação (Carta de Anuência – Anexo B).
Com a posse dessa anuência e antecedendo a coleta dos dados, o projeto foi submetido para
apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem da UFBA, através
da Plataforma Brasil, juntamente com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE –
Apêndice B) que contêm informações essenciais aos colaboradores.
Após a aprovação do CEP sob CAEE 23134613.4.00000.5531 (Anexo A) foi encaminhado
a SMS parecer, para a autorização e início da coleta. Esta instituição redirecionou a proposta, então,
para a área técnica do Município (Coordenação de Urgência) que encaminhou a pesquisadora para
um primeiro contato com a Coordenação de Enfermagem do SAMU local. Esse primeiro encontro
possibilitou o encaminhamento por meio de uma declaração (Anexo C), fundamentada no critério
da pesquisa, às seis bases descentralizadas definidas por esta Coordenação, visto que, uma das
bases descentralizadas do Município se encontrava em reforma.
A aproximação da pesquisadora com o campo foi marcada por sentimentos de ansiedade e
temores frente ao tempo prolongado no aguardo da liberação para o acesso aos espaços que são
marcados por deliberações no cotidiano das enfermeiras. Nesse sentido, a intenção de compreender
o contexto e a dinâmica de trabalho convergiu à necessidade de se caracterizar as construções do
senso comum utilizados pelas participantes em sua vida cotidiana conforme SCHUTZ (2003). Essa
etapa foi iniciada na busca pela compreensão da dinâmica de trabalho daquelas profissionais que
convivem com ações imprevistas, no seu cotidiano, durante a prática de cuidar. Logo, as primeiras
visitas às bases descentralizadas foram realizadas nos meses de Janeiro e fevereiro de 2014. Na
oportunidade, ocorreu o primeiro contato com os líderes das bases e a apresentação da proposta da
pesquisadora às equipes plantonistas.
3.1 DESCREVENDO A EXPERIÊNCIA DA PESQUISADORA PARA O ENCONTRO DA
DELIBERAÇÃO MORAL VIVIDA PELAS PARTICIPANTES NO MUNDO DO APHM
Estar diariamente nas bases, provocou-me algumas inquietações durante as visitações, tais
como: será que terei um encontro favorecido com essas profissionais, mesmo com uma rotina de
trabalho diferenciada? Será que as suas saídas sem previsão de retorno possibilitarão a realização
das entrevistas? Como poderei conseguir a empatia e chegar à intersubjetividade em um serviço
que não tem como espaço de atuação um ambiente fechado?
36
Sendo assim, antes das entrevistas me aproximei das enfermeiras para criar um espaço
fenomenológico que possibilitasse a empatia entre mim e elas, no seu cotidiano. Esse momento
desejado, e sugerido por todas profissionais, foi escolhido durante as visitas às bases
descentralizadas e permitiu o meu encontro com os participantes num espaço restrito, prédefinido
pelas participantes, onde as falas foram declaradas sem intervenções ou interferências dos outros
componentes da equipe.
Realizei a suspensão do meu vivido e conceitos sobre o APHM. Após cada encontro, com
uma maior familiaridade, fui garantindo o meu retorno com um agendamento segundo as intenções
das participantes que elegeram o horário de passagem de plantão como o momento ideal, de
disponibilidade, aceitação e motivação devido às particularidades do serviço. Proporcionei o que
Husserl define, entre os graus de relação entre os participantes e pesquisadora, como momento da
simples intersubjetividade que não tem ainda uma relação efetiva (CAPALBO, 1998).
Para a concretização das entrevistas informei, previamente, às participantes, sobre os
objetivos, finalidade, garantia do sigilo, do anonimato, a minimização de riscos potenciais e a
inexistência de ônus para os mesmos. Para evitar o risco de constrangimento, coação ou pressão ao
participante ofereci um tempo para a leitura do TCLE e aguardei seu pronunciamento e decisão de
participar, ou não, na pesquisa proposta. Orientei as mesmas quanto ao direito e liberdade de
interromper a sua participação, em qualquer etapa da pesquisa. Apenas após a compreensão das
colaboradoras e a confirmação do aceite, solicitei a assinatura do TCLE em duas cópias,
permanecendo uma via com a participante e a outra comigo, agregando ao material que ficará sob
a minha guarda por cinco anos no banco de dados do Grupo de Estudos e pesquisa em Educação,
Ética e Exercício da Enfermagem (EXERCE).
Ressaltei a manutenção do anonimato, a fim de preservar a identidade das participantes, não
proporcionando nenhuma associação entre os dados obtidos e seus nomes, aos quais, após a minha
reflexão, atribui pseudônimo e selecionei palavras que permeiam a deliberação moral e que
emergem quando essa ação aparece na consciência dos atores sociais no cotidiano do mundo- vida,
onde se vivencia o cuidado Pré-hospitalar.
Buscando o significado da ação, no momento da entrevista, proporcionei uma relação face
a face, com interação direta, um encontro que permitiu o desvelamento da deliberação moral das
participantes, atribuindo através da ação pré-reflexiva dos atores sociais o significado das
experiências passadas que advém com a vivência da deliberação moral no mundo vida.
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Para desvelar a deliberação moral da enfermeira frente ao cuidar no APHM utilizei a
entrevista fenomenológica. Optei por esta pelo fato desta permitir uma maior interação entre
pesquisador e sujeito da pesquisa, além de possibilitar a percepção de sentimentos, emoções e valor,
o que não seria possível com outra técnica.
Na entrevista fenomenológica há um encontro entre sujeito e pesquisador, para se escutar a
palavra do sujeito; faz- se necessário imbuir-se e impregnar-se de seus gestos e de toda a sua forma
de dizer as coisas, como se o pensasse com o seu pensamento, abstraindo-se de todo preconceito
(CARVALHO, 1991).
Para nortear a entrevista utilizei um roteiro de entrevista com questões referentes à
identificação das participantes, contemplando dados sócio-demográficos, como forma de me
aproximar da situação biográfica de cada participante, colocada por cada uma, no momento dos
encontros e afastando a minha inferência como pesquisadora nesse momento.
Através das duas questões de aproximação: O que você entende por deliberação moral?; E
por tomada de decisão ética/moral, e da questão norteadora: Fale-me como você tem vivido a
deliberação moral ou tomada de decisão ética/moral tendo em vista o cuidado Pré – hospitalar
Móvel (APÊNDICE C), aproximei-me das motivações das enfermeiras, das relações e dos
interesses de cada uma que habita o mundo do APHM, através das quais obtive suficiência de
significado para apreender o típico da ação conforme recomenda Zeferino e Carraro (2013)
Considerei como fim seus gestos, expressões faciais, períodos de silêncio e de forte
entonação de voz, pois representam a expressão da história viva narrada pelas participantes. As
entrevistas foram registradas por meio digital (gravador/MP3), após autorização das participantes
e foi permitido a todas o acesso ao material gravado/ transcritos com possibilidade de acréscimo às
informações ou suspensão de algum aspecto que julgassem sigilosos. Apenas duas participantes
solicitaram a escuta de suas entrevistas realizadas.
Após a realização das entrevistas, iniciei a pré-análise do estudo fenomenológico com a
transcrição na integra dos discursos e a busca do sentido global das descrições, sempre sob o olhar
para as questões norteadoras e de aproximação realizadas por cada participante, intencionando o
desvelamento das estruturas de significado das ações.
3.2 O TRILHAR PARA A CONSTRUÇÃO DA ESTRUTURA IDEOGRÁFICA
38
A análise ideográfica do fenômeno da deliberação moral das enfermeiras frente ao cuidado
Pré-hospitalar foi realizada em cinco momentos visando a apreensão das vivências motivadas das
participantes.
No primeiro momento, transcrevi as entrevistas buscando a fidelidade à fala gravada. Nesse
momento, descrevi de forma ingênua a experiência vivida das enfermeiras frente à deliberação
moral no cuidado pré-hospitalar. “A descrição é o relato de quem sabe alguma coisa para alguém
que não sabe”. (MARTINS; BOEMER; FERRAZ,1990, p.145).
Nesse momento, realizei uma leitura vertical e criteriosa de cada um dos discursos das
participantes, sem buscar o sentido da interpretação, mas apenas com o direcionamento de agrupar
as falas, de cada uma em particular, seguindo a ordem da transcrição e a identificação das
participantes.
No segundo momento, destaquei em negrito as locuções de efeito e transcrevi as Unidades
de Contexto sob a minha perspectiva como pesquisadora, colocando-as em um quadro para melhor
visualização, conforme apresentado a seguir:
QUADRO 1 SEGUNDO MOMENTO DA ANÁLISE IDEOGRÁFICA - DESCRIÇÃO 1
QUESTÃO DE APROXIMAÇÃO: O que você entende por deliberação moral?
Descrição
Unidade de Contexto
É [,..] eu tenho que considerar [...] eu entendo
que a deliberação moral ela [...] vai passar por
uma tomada [...] de decisão que envolve um
entendimento consensual da situação
vivenciada e dos atores que estão dentro
[...] da [...] situação. (E1,P1, R1)
A deliberação moral como tomada de decisão
coletiva e compartilhada entre os membros da
equipe e outros atores sociais, como a família,
paciente e os outros membros da equipe.
Para apreender as essências, imagina-se cada parte como estando presente ou ausente na
experiência, até que a descrição seja reduzida ao essencial para a existência duma consciência da
experiência (CORRÊA, 1997). Com este pensamento passei ao terceiro momento da trajetória
fenomenológica, nova redução, realizei novas releituras das descrições das participantes, buscando
extrair a essência delas, sem criar um julgamento da deliberação moral, fazendo um movimento
para tal fenômeno aparecer na sua essência.
Organizei as entrevistas individuais em outro quadro, com três colunas, atendendo a etapa
ideográfica e deixando aparentes as locuções de efeito na segunda coluna e a Unidade de
39
Significados na terceira coluna, como desveladoras dos significados da deliberação moral, que se
mostrou no meu primeiro contato com as descrições, como pesquisadora.
QUADRO 2 TERCEIRO MOMENTO DA ANÁLISE IDEOGRÁFICA- DESCRIÇÃO 1
QUESTÃO DE APROXIMAÇÃO: O que você entende por deliberação moral?
Descrição
Locuções de efeito
É [,..] eu tenho que considerar,...eu entendo
que a deliberação moral ela... vai passar por
uma tomada [...] de decisão que envolve
um entendimento consensual da situação
vivenciada e dos atores que estão dentro
[...] da [...]
situação. (E1,P1, R1)
É, uma tomada [...] de decisão
que envolve um entendimento
consensual
da
situação
vivenciada e dos atores que
estão dentro da
[...]situação. (E1,P1, R1)
Unidades de
significado
A
deliberação
moral
como
tomada de decisão
coletiva. (E1,P1,
R1)
No quarto momento da análise, busquei as convergências das Unidades de Significado que
expressaram justificativas em comum referentes à ação. Realizei o registro de palavras que
representaram um significado aparente mais próximo daquilo que se mostrou nos trechos dos
depoimentos desse grupo social.
Nesse instante de reflexão busquei a epoché, colocando a minha situação biográfica entre
parênteses. Voltei às coisas mesmas, aos trechos das entrevistas transcritas, para que pudesse
destacar o fenômeno colocando-o “em suspensão”. Busquei como investigadora me afastar de
teorias e preconceitos que o explicassem ou que pudessem influenciar os meus questionamentos.
“É desta maneira que o fenômeno situado se ilumina e se desvela para o pesquisador” (MARTINS;
BICUDO, 2005, p.100).
QUADRO 3 QUARTO MOMENTO DA ANÁLISE IDEOGRÁFICA - DESCRIÇÃO 1
QUESTÃO DE APROXIMAÇÃO: O que você entende por deliberação moral?
Locuções de efeito
Unidades de Significado
Palavras de
Significado
É uma tomada [...] de decisão que envolve um A deliberação moral Tomada
entendimento
consensual
da
situação como tomada de decisão decisão
vivenciada e dos atores que estão dentro da
coletiva. (E1, P1, R1)
[...] situação. (E1, P1, R1)
40
de
Esse movimento de distanciamento e aproximação do fenômeno foi revivido por mim,
como pesquisadora, com cada um dos depoimentos. E, através desse desvelamento, consegui
mergulhar nas falas das participantes e apreender o sentido das significações da deliberação nas
vivências das enfermeiras que cuidam no APHM, fazendo aparecer os constituintes de sentido.
Nesse momento, direcionei o meu olhar aos constituintes de sentido desvelados para aproximálos
por semelhança de sentido e com a intenção de construir subcategorias e categorias concretas,
comuns a esse grupo social, conforme o exemplo a seguir.
QUADRO 4 QUINTO MOMENTO DA ANÁLISE IDEOGRÁFICA- DESCRIÇÃO 1
Subcategorias concretas
Constituintes de Sentidos
Desvelando como os fatores externos/ ambientais e
institucionais influenciam o processo da deliberação
moral das enfermeiras no APHM
Desvelando a influência do contexto do APHM na
deliberação moral das enfermeiras frente ao cuidar
Fatores pessoais
Fatores Externos/ambientais Fatores
Institucionais
Exposição da Equipe
Ambulância como lugar inseguro
Comunicação da equipe
Unidade Intermediária
Rede de atendimento fragilizada
Desvelando o conhecimento das enfermeiras que Conhecimento científico
fundamentam a ação da deliberação moral no APHM
Conhecimento técnico
Formação
Experiências
Desvelando as vivências de cuidado na deliberação das Protocolos
enfermeiras no APHM
Normas
Cuidado humanizado
Cuidado relacional
Qualificando as relações profissionais estabelecidas no Poder
mundo - vida do APHM
Subordinação
Sofrimento e prazer
Revelando vivências de dilemas morais e éticos vividos Dilemas
durante a atuação no APHM
Problemas
Revelando vivências de conflitos morais e éticos Conflitos
oriundos da atuação no APHM
Equipe
41
Fundamentos morais, éticos e técnicos que norteiam a Valores
prática das enfermeiras do APHM no cotidiano da Deveres
deliberação moral e da tomada de decisão
Responsabilidade
Código de Ética
Deliberação como tomada de decisão
Desvelando a maneira como as enfermeiras tomam
coletiva
decisão
Ação para a tomada de decisão
Avaliação
Desvelando os limites da autonomia vivido pelas Autonomia limitada
enfermeiras para a tomada de decisão no APHM
Liberdade
A compreensão do modo vivido na concretude do processo de deliberação moral, permitiu
a construção das categorias e subcategorias concretas na perspectiva de Shutz. Nesse estudo, estas
se configuraram nos “motivos porque” da ação das enfermeiras no cuidar no APHM, que se
constituíram como um fenômeno social apreendido através da experiência descrita pelas
profissionais, além do olhar reflexivo e interpretação da pesquisadora.
4 COMPREENDENDO A DELIBERAÇÃO MORAL DA ENFERMEIRA NO CUIDADO
PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL A LUZ DA FENOMENOLOGIA SOCIAL
4.1 DESCORTINANDO A SITUAÇÃO BIOGRÁFIACA DAS PARTICIPANTES DO ESTUDO
A situação biográfica conceitua a individualidade de cada participante no existir de um
mundo da vida, que vivencia de forma específica. Através desta identifica-se o passado,
compreende e justifica-se o presente e projetam-se ações futuras (WAGNER, 2012).
Serão apresentadas características que definem a situação biográfica das participantes desse
estudo no mundo vida do APHM:
42
QUADRO 5: CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES DO ESTUDO
Nº
Entrevista
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
Pseudônimo
Sexo
Idade
Tempo de
Formação
Tempo
de
Atuação
Pré-Hosp.
Normativo
M
26
04 anos
1 ano e
07 meses
Decisão
M
41
15 anos
1 ano e 08
meses
Compromisso
F
28
03 anos
1 ano e 09
meses
Conhecimento
F
29
04 anos
1 ano e 08
meses
Ação
M
27
03 anos
1 ano e 09
meses
Responsabilidade
M
33
12 anos
2 anos
Valor
F
31
07 anos
1 ano e 09
meses
Protocolo
F
35
10 anos
2 anos
Atitude
F
28
03 anos
2 anos
Conduta
F
28
03 anos
1 ano e 08
meses
Conflito
F
28
03 anos
1 ano e 08
meses
Dilema
M
44
14 anos
2 anos
Fonte: elaborado pela pesquisadora após entrevistas, jan/fev, 2014
CH
Semanal
Titulação
30
Mestre
30
Especialista
30
Especialista
30
Especialista
30
-
30
30
Especialista
-
30
30
30
Especialista
Especialista
Especialista
30
Especialista
30
-
.
A leitura flutuante proporcionou-me, ainda, a apreensão do sentido global da experiência
da deliberação moral das enfermeiras, possibilitando a apreensão das essências dessa ação frente
ao cuidado pré-hospitalar.
Nesse momento busquei o grau de relação intersubjetiva que Husserl define como “a vida
social propriamente dita, onde as consciências constituem-se unidades efetivas e executam
apreensões totais; das quais operações individuais são os elementos complementares e solidários
uns em relação aos outros” (CAPALBO, 1998 p.33). Nessa percepção passarei a descrever o
sentido global, que se apresentou inicialmente num contato direto com as falas das participantes.
Ação, formado por uma instituição federal de ensino superior do Estado da Bahia, em
2011, iniciou as suas atividades no APHM desde 2012. Não possui curso de especialização. Define
a deliberação moral como uma decisão tomada quando se enfrentam os dilemas na vida cotidiana,
desvelada pela necessidade de um conhecimento prévio, adquirido com o vivido, na família, na sua
formação e da experiência no serviço de APHM. Os passos da deliberação moral envolvem
43
planejamento das ações de enfermagem pautadas na experiência profissional, no APH e em sua
reflexão sobre a aplicabilidade de protocolos, normas e rotinas.
Para Ação as condutas no cotidiano do APHM são vividas com o enfrentamento dos
problemas morais influenciadas pelo contexto do atendimento em situação de rua e o controle
emocional da equipe é o mediador entre o processo de deliberação e tomadas de decisão ética/moral
permeadas por escolhas guiadas por uma regulação médica, e, também embasadas em protocolos.
No entanto, para o seu existir no mundo da vida é preciso uma ação pré-reflexiva para que as
decisões institucionais não se sobreponham à pessoa no momento de cuidar do outro no APHM,
pois considera os problemas éticos e morais transversais, ao contexto das diversas ocorrências que
surgem com a regulação médica que exige uma atitude frente às necessidades do paciente que
necessita de cuidado imediato.
Decisão, formado por uma instituição federal de ensino superior do Estado da Bahia, em
1999, iniciou as suas atividades no APHM em 2012. Considera a deliberação moral como uma
tomada de decisão coletiva que no momento da prática diária no APH, conta com a participação da
equipe e de outros componentes que interagem com esse grupo social. A vivência cotidiana revela
aspectos éticos e legais como ferramentas essenciais para a deliberação. Em sua vivência, a dada
ação como enfermeiro do APHM considera como relevância motivacional para a condução da sua
prática cotidiana os preceitos éticos e morais, o conhecimento e a habilidade técnica científica
apoiada na perícia, habilidades para não ultrapassar os limites éticos e morais da profissão no
APHM, a deliberação moral desde o momento em que há solicitação do socorro pelo usuário.
Decisão considera como guia para a sua tomada de decisão no APHM a escuta da equipe e a
comunicação com a central de regulação médica das urgências.
Compromisso, formado por uma instituição de ensino superior privada de Salvador, em
2011, iniciou as suas atividades no APHM em 2012. Possui curso de especialização em Urgência
e Emergência. Conceitua a deliberação moral como um compromisso com sua profissão e este
revela no contexto da APHM como autonomia reduzida no serviço. Ela vivencia mais autonomia
na deliberação moral principalmente quando tripula as Unidades móveis sem profissionais
médicos. Sua experiência no cotidiano revela situações conflituosas devido à relação de poder
instituída na equipe. Para ela estas situações contribuem para o risco do seu envolvimento em
infrações éticas/legais. Compromisso compreende que o cumprimento dos protocolos
institucionais e a sua participação em treinamentos evitam danos ao paciente no momento do cuidar
no APHM.
44
Normativo, formado por uma instituição de ensino superior privada de Salvador, em 2011,
iniciou as suas atividades no APHM em 2012. Possui mestrado em Saúde Pública. No seu cotidiano
conceitua a deliberação moral em sua prática como uma tomada de decisão fundamentada nas
normas, resoluções, portarias e leis. Esta tomada de decisão é vivida diante dos conflitos
vivenciados no APHM. Considera que nas deliberações no APHM é necessária uma comunicação
efetiva entre a equipe da intervenção e a da regulação. Normativo revela a existência de uma
relação de subordinação que favorecem deliberações e suas ações frente ao cuidar dos pacientes
atendidos pela equipe do SAMU.
Conhecimento, formada por uma instituição federal de ensino superior do Estado da Bahia
em 2010, iniciou as suas atividades no APHM desde 2012. Possui curso de especialização em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Compreende que a deliberação moral está associada ao poder
que a enfermeira possui para a tomada de decisão diante de ocorrências em que o médico não está
presente na equipe e a situação de agravo exige desta enfermeira, presente no cenário, uma conduta
imediata. Para ela, os motivos que fundamentam suas ações de decisão na vida cotidiana, são os
conhecimentos adquiridos e as concepções de vida. Conhecimento revela que cursos de
capacitação ampliam o conhecimento e estimulam a reflexão sobre o vivido, auxiliando no processo
de deliberação moral e na tomada de decisão.
Responsabilidade, formado por uma instituição federal de ensino superior do Estado da
Bahia, em 2002, iniciou as suas atividades no APHM desde 2012, Possui especialidade em
Urgência e Emergência, Auditoria e Saúde Coletiva. Compreende a deliberação moral como sua
capacidade de tomar decisões dentro do seu exercício profissional, que para ela é expressa no agir
com responsabilidade no momento do cuidar, evitando danos provocados por negligência,
imprudência e imperícia. No seu cotidiano ela vivencia a ação responsável ao preservar a vida com
atitudes de eficiência, eficácia e efetividade. Responsabilidade compreende que o conhecimento
adquirido em suas experiências e treinamentos são fundamentais para a resolução dos conflitos que
emergem no contexto de atuação da equipe que compõe o SAMU.
Valor, formada por uma instituição federal de ensino superior do Estado da Bahia, em 2007,
iniciou as suas atividades no APHM desde 2012. Não possui curso de especialização. Apreende a
deliberação moral como sua atribuição enquanto enfermeira frente à moralidade do serviço. Para
ela deliberação moral é a tomada de decisão baseada nos princípios éticos do indivíduo e de sua
profissão. Na sua vivência, a deliberação moral é a tomada de decisões frente aos conflitos
presenciados junto à equipe que compõe o APHM. Valor compreende que o processo de
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deliberação em situação de rua, para o cuidado dos pacientes nas situações de urgência, há a
exigência de um afastamento de preconceitos para que o atendimento seja realizado de forma
integral.
Protocolo, formada por uma instituição estadual de ensino superior da Bahia, em 2004,
iniciou as suas atividades no APHM desde 2012. Possui especialidade em Urgência e Emergência.
Entende que a ação da deliberação moral é a tomada de decisão da enfermeira embasada por
protocolos. No seu mundo-vida do Pré-hospitalar traz para a sua consciência a necessidade de um
agir com competência profissional, diante dos problemas práticos morais vivenciados. Protocolo
expressa que possui o código de ética como um guia de conduta para o seu fazer no momento do
cuidar no cotidiano do APHM.
Conduta, formada por uma instituição estadual de ensino superior da Bahia, em 2011,
iniciou as suas atividades no APHM desde 2012. Possui curso de especialização em UTI sob a
forma de Residência. Compreende a deliberação moral como a tomada de decisão baseada nas
condutas éticas, norteada por protocolos e pelo código de ética. Ela toma decisões tendo como base
as questões éticas e morais que envolvem o seu cotidiano e expressa que é através de vivências de
situações gratificantes e difíceis no cenário dos atendimentos dos pacientes em situação de rua.
Conduta, expressa o processo de deliberações como as ações motivadas pela relevância imposta a
partir dos protocolos institucionais e orientações cedidas pelos médicos Reguladores que fazem
parte da central de regulação médica das urgências.
Atitude, formada por uma instituição de ensino superior de um estado do sudeste brasileiro,
em 2011, iniciou as suas atividades no APHM desde 2012. Possui especialidade em UTI. Considera
a deliberação moral como uma tomada de decisão norteada por um agir ético. Traduz como o fazer
da enfermeira guiada pelo conhecimento científico apreendido e as atribuições que assumem no
exercício da profissão no SAMU. Para ela a sua vivência cotidiana do processo de deliberação
moral está associada à sua condição de enfermeira que está subordinada as decisões médicas
definidas pela Central de Regulação. Atitude, expressa que mesmo não tendo um protocolo
uniformizado na rotina do seu serviço, a sua condição de estar sozinha no cenário faz com que ela
reconheça sua autonomia limitada na condução das ocorrências que envolvem esse grupo social de
enfermeiras que atuam no APHM e a possibilidade de um agir diferenciado.
Conflito, formada por uma instituição estadual de ensino superior da Bahia, em 2011,
iniciou as suas atividades no APHM desde 2012. Possui curso de especialização sob a forma de
Residência em UTI. Revela a deliberação moral como a sua capacidade de tomar decisões de acordo
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com as suas competências determinadas pelas legislações e pelos protocolos existentes. Na sua
ação da deliberação moral no APHM existem condições de trabalho, que interferem nas suas
tomadas de decisões frente ao atendimento das necessidades de urgência da população. Conflito,
descreve que os conflitos que emergem no interior da equipe de trabalho põem em risco o direito
do outro “ser” que aguarda o socorro imediato e cuidados.
Dilema, formado por uma instituição federal de ensino superior da Bahia em 2000, iniciou
as suas atividades no APHM desde 2012. Não possui curso de especialização. Define a deliberação
moral como a ação fundamentada no estoque de conhecimento técnico e nos aspectos éticos e legais
que norteiam a profissão. Ela tem vivenciado o processo de deliberação moral no cotidiano com os
dilemas entre a equipe do SAMU e os conflitos entre os profissionais componentes pré e
intrahospitalar. Dilema, apesar dos conflitos e dilemas vivenciados, tem realizado essa ação de
forma prazerosa no momento que é motivado, no seu cenário prático, pelo reconhecimento da
população.
5 O VIVIDO DA DELIBERAÇÃO MORAL PELAS ENFERMEIRAS NA CONCRETUDE
DO CUIDAR NO APHM
O desvelar das categorias concretas foi construída considerando os constituintes de sentido
e as subcategorias, dando origem a três categorias concretas que estão apresentadas a seguir com
dez subcategorias.
5.1 CATEGORIA 1: CONCRETUDE DO MUNDO VIVIDO PELAS ENFERMEIRAS NO
APHM
Nessa categoria as enfermeiras expressam que a concretude da existência vivida com outros
atores sociais no mundo social da prática no APHM e a influência dos fatores externos/ambientais
e institucionais. Entre estas, a fragilidade das estruturas da rede de atenção às urgências fragilizadas,
o estoque de conhecimento e as experiências adquiridas na prática de cuidar no APHM.
Subcategoria 1.1: Desvelando como os fatores externos/ambientais e institucionais influenciam
o processo da deliberação moral das enfermeiras no APHM
Subcategoria 1. 2: Desvelando a influência do contexto do APHM sobre a deliberação moral
das enfermeiras frente ao cuidar
Subcategoria 1. 3: Desvelando o conhecimento das enfermeiras que fundamentam a ação da
deliberação no APHM
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Subcategoria 1. 4: Desvelando as vivências de cuidado na deliberação das enfermeiras no
APHM
Subcategoria 1.1: Desvelando como os fatores externos/ambientais e institucionais
influenciam o processo da deliberação moral das enfermeiras no APHM
As enfermeiras desvelaram como os fatores externos/ambientais, influenciam as ações no
processo de deliberação moral, considerando o meio ambiente, a comunidade, o cenário de rua,
situações adversas e a sua integridade pessoal.
[...] no pré-hospitalar a gente tem muitas situações em que o ambiente é um dos fatores
mais instáveis da situação [...] você fica a todo momento[...] sendo moldado por coisas
que vem do ambiente externo que modula a gente [...] nós somos resultados do meio
que estamos inseridos. Nós temos um esqueleto moral, um arcabouço de conceitos e
preconceito e [...] pré-decisões tomadas. Vai depender muito de onde eu estou, de como
eu estou e para onde eu vou [...]. (Ação)
[...] posso dar um exemplo: [...] A gente tem situações em que a própria comunidade
se volta contra ah![....]os profissionais que estão prestando assistência[...].
(Normativo)
[...] na verdade a nossa deliberação, ou seja, uma tomada de decisão coletiva muitas
vezes depende de todo um cenário que a gente encontra, né? Para depois a gente
chegar numa decisão[...]. (Decisão)
[...] É o que eu falei![...] quando a gente chega ao campo de atuação a gente encontra
situações adversas[...]. (Dilema)
[...] tem a questão também de você está preocupada com a situação da cena. Então, a
integridade da gente é primordial[...]. (Protocolo)
Ação descreve o mundo do APHM como um cenário instável, inseguro. Relata que a sua
deliberação moral na prática do cuidar é influenciada pelo ambiente externo que o envolve.
Normativo e Decisão consideram o seu ambiente de trabalho, os cenários de rua, e
expressam que a cena é envolvida por insegurança à integridade física do profissional e, para ela,
esse fato pode interferir nas decisões cotidianas. Dilema refere o seu encontro com as situações
adversas vividas no mundo social do APHM. Para Protocolo a integridade das profissionais é um
fator primordial para o atendimento da equipe.
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As enfermeiras desvelam a influência das estruturas organizacionais como um dos fatores
institucionais que impulsionam e fundamentam a deliberação moral no mundo social do SAMU.
Entre estas, as enfermeiras citam o dimensionamento de pessoal, de recursos materiais, de como se
dá a comunicação com a Central de Regulação Médica das Urgências, do comportamento moral
dos membros da equipe e de como as enfermeiras atuam.
[...] dentro do SAMU a gente tem ah! A gente tem diversas divisões, né? De unidades[..
]a unidade avançada, a unidade intermediária e básica, aqui [...] que não é a realidade de
todos os SAMUs, de todos os locais[...]A unidade intermedária não existe legalmente
até pelo menos onde eu sei! Até onde sabemos[...]. (Atitude)
SAMU é um pouco diferente dos outros serviços porque a gente está com uma equipe
reduzida [...] então, a gente não conta com apoio de outros profissionais além da
equipe e nem de materiais equipamentos fora do que a gente tem [...]. (Conduta)
[...] mas tenho meios de regulação, tenho como ligar para é[...]instâncias superiores para
que eles me ajudem nessa tomada de decisão [...] eu faço uma relação direta com a[...]
central de regulação mediada pelo médico regulador e ai eu tento me expor da
maneira mais clara possível[..].(Normativo)
[...] tem algumas coisas que são essenciais, como entrar em contato com o regulador!
(Protocolo)
Alguém pode filmar o que eu estou fazendo [...] Mas, tem uma moralidade do serviço
é [...] o comportamento da equipe, o comportamento do profissional dentro de uma
equipe no serviço. Então [...] existem coisas que vão influenciar a tomada de decisão
é [...] no seu cuidado[...]. (Ação)
[...] apesar de ser um serviço que a equipe é peça fundamental para a qualidade, no
entanto, ainda existem [...] as questões individuais que muitas vezes interferem na
tomada de decisão [...]. (Responsabilidade)
A gente [...] tem a questão do enfermeiro ele ser fixo em bases aqui [...] e o médicos não,
eles rodam as bases. Então, a equipe sempre vai esperar muito mais do enfermeiro,
né? (Conflito)
Atitude e Conduta descrevem as características institucionais do ambiente de trabalho que
interferem na deliberação frente ao cuidar.
Protocolo e Decisão descrevem o fluxo inicial de comunicação através de uma Central de
Regulação Médica das Urgências.
Ação e Responsabilidade consideram os fatores pessoais e a personalidade de cada ator
social que fundamentam a situação biográfica determinada existente de cada profissional, que se
encontram no sistema de interesses e relações presentes no espaço social do trabalho.
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Conflito refere que o fato de as enfermeiras serem fixas nas bases descentralizadas
proporciona uma maior credibilidade das ações dessa profissional.
Subcategoria 1.2: Desvelando a influência do contexto do APHM sobre a deliberação moral
das enfermeiras frente ao cuidar
A influência do contexto do APHM no processo de deliberação moral para o cuidado é
exposto pelas enfermeiras como fatores que dificultam suas ações, a exemplo dos entraves de
regulação, destino do paciente e as condições precárias do serviço para o cuidado nas
ambulâncias.
A gente tem uma rede que não funciona e ai acaba expondo os próprios profissionais
do serviço [...] A gente vivencia inúmeras situações com essa questão de regulação que
é um grande entrave... (Protocolo)
[...] apesar que a regulação ela é[...] que define[...] é a definidora de muitas vezes [...] do
processo de regulação vamos dizer assim [...] do paciente. É muita responsabilidade, por
conta muitas vezes das condições precárias (pausa) é[...] de estrutura do serviço, que
na maioria das vezes nós encontramos lá! (Responsabilidade)
[...] o que prejudica mesmo é o destino desse paciente ao cuidado hospitalar[..]a gente
encontra dificuldade com o término da nossa ação[...] (Dilema)
Para Protocolo a Rede de atenção às urgências está fragilizada e o sistema de regulação de
pacientes dificulta as tomadas de decisões da equipe.
Responsabilidade desvela a existência de estruturas institucionais precárias no cotidiano.
Dilema revela que a dificuldade de comunicação com os outros componentes da Rede de
Atenção às Urgências, dificulta a continuidade do cuidar no ambiente hospitalar.
As enfermeiras desvelam no próprio vivido, sentimentos de medo, impotência, prazer,
sofrimento e frustração no momento que deliberam frente ao cuidar no APHM.
Eu acho uma linha muito tênue porque [...] quando você se vê só você e o paciente, então
é assim... o profissional e o paciente...numa situação de unidade básica, de unidade
intermediaria que por aqui[...] a gente tem [...]. (Compromisso)
[...] só que muitas vezes a maior parte da minha vivência é... o que acontece é... a equipe
ela está desfalcada por um membro que é fundamental [...] na assistência, que é o
médico. (Responsabilidade)
50
Na unidade avançada a gente sempre tem um médico junto com a gente... então...Mas,
em situação também contrária que a gente não tem nada escrito, a gente não tem médico
com a gente [...] é bem complicado [...] Assim... é complicado a gente fica![...] a gente as
vezes se sente assim[...] se sente impotente diante do doente, da família [...] é... um
sentimento meio de frustração na hora, né? (Atitude)
Acho que é um trabalho que é difícil [...] mas é... ao mesmo tempo um trabalho
gratificante...(Conflito)
A gente ver que o atendimento pré-hospitalar ainda é uma das melhores ações do campo
da saúde... é o que vem tendo resultados positivos...a gente se sente satisfeito com o que
a gente faz! [...] é triste não haver uma ligação entre os três pontos... o que vem antes na
atenção básica e o quem vem depois na atenção hospitalar na terciaria. (Dilema)
Compromisso expressa sentimento de temor frente à atuação das equipes de Suporte básico
e Unidades Intermediárias.
Para Atitude o sentimento de impotência emerge frente à família e ao doente que dependem
do seu cuidado no APHM.
Conflito e Dilema revelam sentimentos de sofrimento e prazer no cotidiano da deliberação
moral no seu ambiente de trabalho.
Subcategoria 1.3: Desvelando o conhecimento das enfermeiras que fundamentam a ação da
deliberação no APHM
Para as enfermeiras, o mundo-vida é influenciado pela base de conhecimento adquirida com
as próprias experiências armazenadas. Percebem que a riqueza do aprendizado existente com a
troca de subjetividade entre os profissionais que habitam no mundo do APHM, são elementos
relevantes para a deliberação moral.
Então, deliberação [...] assim [...] é tudo aquilo que [...] a gente tem de conceitos, de
[...] preconceitos, que a gente tem de conhecimento técnico/científico, de moral que
traz de nossas vivências, que traz da academia, que a gente pega do serviço que acaba
sendo acolhido por ele [...].(Ação)
Eu acredito que todas as nossas decisões né? Relativa à ação da questão da enfermagem
[...] todas as nossas ações elas são voltadas a um conhecimento técnico né? (Dilema)
É fazer aquilo que lhe compete de acordo com o que você estudou de acordo com o
seu papel no serviço naquele momento [...]. (Conduta)
[...] então, a gente tenta assim o máximo tá baseado no conhecimento técnico científico
[...] para conseguir tomar decisões durante o atendimento do paciente...do cuidar. (Valor)
51
As situações dependem do nosso conhecimento técnico, da nossa habilidade prática
[...]. (Conhecimento)
Se você tem o conhecimento técnico cientifico você tem respaldo de certa forma para
poder depois, né? Ate que venha responder alguma coisa perante o COREN
[...]. (Protocolo)
Ação, Dilema, Conduta e Valor revelam que o conhecimento técnico/científico
apreendido pelas vivências direciona as ações das enfermeiras.
Conhecimento expressa que as capacitações e treinamentos favorecem os atos decisórios
por colaborar com o aumento da bagagem de conhecimento.
Para Protocolo, o conhecimento técnico proporciona o exercício da profissão com
segurança.
Subcategoria 1.4: Desvelando as vivências de cuidado na deliberação das enfermeiras no
APHM
As enfermeiras assumem um encontro relacional no vivido com uma ação de cuidar
diferenciada que transcende a condição de apenas chegar e atender. Entretanto, desvelam também
que experenciam um cuidado prestado com falta de conhecimento, que distancia a relação entre
profissionais e pacientes, com cumprimento de protocolos institucionalizados que direcionam as
condutas realizadas pela equipe de enfermagem.
[...] como equipe também a gente tem questões relacionadas muito ah! [...]
conhecimento! Falta de conhecimento![...] são situações muito difíceis... situações de
você chegar ir para uma PCR de uma criança, e o médico ele não saber manusear um
desfibrilador, colocar na voltagem e ai você diz que vai colocar na voltagem e ele querer
que você desfibrile o paciente! E você não faz, porque não é a sua obrigação, né? Eles
acham que por a gente está meio que livre para fazer certas coisas a gente pode entrar no
domínio um do outro [...] Quando a gente tem que ter, né? Firmeza e está consciente que
cada um tem as suas atribuições [...]. (Conflito)
[...] na área do APH[...] a gente tem várias questões a ser trabalhada[...], porque foge
muito de apenas chegar e atender[...]. (Decisão)
[...] muitas vezes a gente vem vivenciando [...] a gente tenta trabalhar em cima de
protocolos né?[...]. (Protocolo)
[...] o protocolo é fácil tá ali, tá escrito a gente está protegido por ele [...] ótimo!
(Conduta)
A gente só não pode fazer medicação fora de protocolo, porque isso realmente é uma
conduta médica, a gente não pode prescrever medicamento nenhum a não ser é [...]
do protocolo como no caso da glicose por exemplo que já tem um protocolo..e [...] agora,
outros cuidados a gente já pode ir tomando se tiver um paciente com intoxicação exogena
52
a gente já pega acesso, oferece oxigênio, passa uma sonda nasogátrica (pausa) se tiver
que aspirar, as vezes está muito sialorreico, a gente aspira[...].(Conduta)
[...] não quer dizer que aquele cuidado que se diz avançado vá excluir o cuidado
mínimo de conforto de exposição daquela vítima [...]. Você está produzindo cuidados
de enfermagem não importa o âmbito da atenção [...] é a tecnologia leve, eu estou
falando de tecnologia relacional, de uma tecnologia de comunicação, de uma tecnologia
de inter-relação entre equipe que vai moldar o cuidado independente de você ter tecnologia
dura ou não. (Ação)
[...] eu acho que pré-hospitalar ele envolve muito [...] é um cuidado muito diferente
[...] tem que ter um tato, você tem que ter feeling [...] tem que ter o time das coisas [...].
(Compromisso)
Conflito desvela a falta de conhecimento dos profissionais, no vivido do cuidar no APHM,
e descreve um caso vivenciado durante a prática cotidiana que envolveu a tomada de decisão frente
a reanimação de uma criança.
Para Decisão, no APHM, a prática cotidiana das enfermeiras não se resume à apenas o
atendimento padronizado da equipe.
Protocolo, Atitude e Conduta descrevem a vivência cotidiana de cumprimento de
protocolos institucionais para a deliberação moral frente ao cuidar.
Ação revela que o cuidado avançado não substitui o cuidado de conforto. Refere que essa
ação significa estabelecer uma relação com o Outro através da tecnologia leve, relacional, de
comunicação. Para Compromisso, a ação do cuidar desenvolvida no mundo de suas relações é
diferenciada.
5.2 CATEGORIA 2: DIMENSÃO SOCIAL DAS RELAÇÕES DAS ENFERMEIRAS NA
VIVÊNCIA DA DELIBERAÇÃO NO APHM
Nessa categoria, as profissionais desvelaram as relações estabelecidas no momento que
deliberam no cuidado Pré-hospitalar.
Subcategoria 2.1: Qualificando as relações profissionais estabelecidas no mundo vida do
APHM
Subcategoria 2.2: Revelando vivências de dilemas morais e éticos vividos durante a atuação no
APHM
Subcategoria 2.3: Revelando vivências de conflitos morais e éticos oriundos da atuação no
APHM
Subcategoria 2.4: Fundamentos morais, éticos e técnicos que norteiam a prática das enfermeiras
do APHM no cotidiano da deliberação moral e da tomada de decisão
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Subcategoria 2.1: Qualificando as relações profissionais estabelecidas no mundo vida do
APHM
As enfermeiras descrevem que a afinidade, a pressa e o entrosamento da equipe são aspectos
das relações sociais vividos no mundo da vida. Expressam a existência de lacunas de socialidades
entre essas profissionais, a equipe de enfermagem e a equipe médica da regulação que atuam no
serviço.
Quando você está ali a todo período você consegue vincular, mas quando você não tem
essa questão de se manter é [...] no lugar e roda [...] ai acaba[...] você perde essa questão
de afinidade de equipe, do grau de trazer a equipe para você. A gente tem questões
relacionadas à personalidade das pessoas, a vícios das pessoas, a descompromissos das
pessoas que estão fazendo parte da equipe[...]há questão relacionadas a tentar uniformizar
o trabalho da equipe né? [...] a gente tem diversas situações relacionadas a isso [...]
decisão para tomar assim é bastante difícil para o enfermeiro sendo que, envolve uma
equipe né? (Conflito)
[...] você trabalha em conjunto e pode acontecer que o grupo não está coeso, e uma
ação que poderia ser completa e eficaz as vezes pode ser atrapalhada pela agilidade ou
por uma pressa no atendimento[...]. (Dilema)
Mas, às vezes a equipe não tá entrosada ou a situação realmente é adversa
[...].(Valor)
[...] essa questão assim [...] da gente está atendendo paciente sozinho no momento né? Eu
acho complicado [...] porque às vezes a gente passa um quadro, né? E às vezes a gente
não consegue um contato com o médico. [...] é bem complicado aqui no SAMU [...].
(Atitude)
Conflito descreve que a falta de vínculos entre a equipe pode provocar situações difíceis na
condução das tomadas de decisão.
Para Dilema a falta de coesão do grupo e a pressa para o atendimento são enfrentamentos
cotidianos durante as relações interpessoais no momento do cuidar.
Valor descreve a falta de entrosamento entre os profissionais da equipe e as situações
adversas vivenciadas no APHM.
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Para Atitude, suas decisões se tornam difíceis quando as relações estabelecidas entre a
equipe da intervenção e a equipe médica da regulação se mantêm indiretas, no momento da ação
de cuidar no cotidiano do trabalho.
[...] em situações que a gente está de intermediária no serviço então o enfermeiro ele acaba
sendo é [...] líder da equipe é [...] então toda informação de certa forma é ele que tem
naquelas situação [...] em muitas vezes o enfermeiro ele é [...] em um determinado
momento o centro da equipe[...]. (Conflito)
Conflito em outro momento desvela que quando assume as Unidades Intermediárias é
conferido um poder às enfermeiras. Essas se alto definem como líderes, pelo valor simbólico da
atuação desse grupo atribuído pela detenção de informações que orientam a deliberação moral, no
momento que estão tripulando as Unidades Móveis sem o profissional médico em situações
vivenciadas cotidianamente.
Subcategoria 2.2: Revelando vivências de dilemas morais e éticos vividos durante a atuação
no APHM
As enfermeiras vivenciam, na prática cotidiana do APHM, dilemas éticos/morais em
decorrência da especificidade do serviço e das relações sociais estabelecidas entre os profissionais
que tripulam as Unidades Móveis.
[...] uma vez eu perguntei assim: poxa será que eu tenho em todas ocorrências [...] o
mesmo comportamento, a mesma conduta, a mesma reação? Até que momento a gente
vai [...] seguir o protocolo? Seguir situações? Até que momento aquela situação que
a gente está envolvido é [...] seja profissionalmente [...] seja até emocionalmente com
aquilo que a gente está vivenciando vai interferir nas nossas decisões? (Ação)
[...] também, tem a questão de tomada de decisão em que alguns momentos a gente
não faz o atendimento com o médico ao nosso lado, nós sabemos o que tem que ser
feito, mas não podemos fazer pela ausência do médico, então a gente faz? A gente não
faz? A gente aguarda, a gente não aguarda? (Valor)
[...] porque às vezes a gente se ver em determinada situação que a gente precisa sim ter
uma tomada de decisão como é [...] já aconteceu de pegar um paciente com intoxicação
entendeu? Toda característica...né.. de intoxicação mesmo.. você tentar.. entrar em contato
com o médico regulador e você não conseguir, o paciente fazendo taquicardia e você vai
fazer o que? Só que ai você fica naquela situação né... o risco/benefício ou você faz[...]
ou você deixa.. né? Minimizar as chances de vida.....então, assim eu sempre sou
adepta, né? (Protocolo)
É aí que mora o perigo [...] e é ai que na hora que você se depara de frente a um problema,
o problema não é resolvido só por você [...] e você toma aquela decisão que pode
conflitar diretamente com a ética pode conflitar totalmente com a moral [...] a
deliberação moral e a tomada de decisão ela fica numa linha muito perigosa porque ao
55
mesmo tempo que ela é muito permissiva você pode fugir dessa linha e acabar entrando
em uma [....] indo além de uma ilegalidade profissional. (Compromisso)
Ação desvela os dilemas vivenciados frente às situações adversas. No cotidiano as ações
transcendem a aplicação de protocolos.
Valor expressa dilemas que se mostram presentes pela ausência do médico entre a equipe
que atua no APHM e as diferenças de valores pessoais e competências profissionais de cada ator
social envolvido no cuidar.
Para Protocolo a especificidade do serviço, a falta de comunicação com a regulação médica
faz emergir dilemas e impõe a necessidade de uma tomada de decisão que preserve o bem estar do
paciente.
Compromisso desvela o perigo que vivencia por correr o risco de contrariar o exercício
profissional durante as tomadas de decisões, que executam sozinhos, frente aos dilemas
vivenciados no seu cotidiano.
Subcategoria 2.3: Revelando vivências de conflitos morais e éticos oriundos da atuação no
APHM
As enfermeiras desvelam no vivido do APHM conflitos éticos/morais em decorrência das
competências dos profissionais que tripulam as Unidades Móveis. Expressam questões que
envolvem princípios éticos e o despreparo de profissionais médicos.
[...] muitas vezes o profissional da enfermagem ele tem a sua competência que é uma
competência individual que entra em choque com a competência do médico que entra em
choque com a competência do condutor sabendo ele que na verdade ah! [...] então, muitas
vezes o que acontece o enfermeiro tem que tomar essas decisões e muitas vezes
contrariar decisões tomadas pelo médico regulador então isso acaba entrando em
choque... (Responsabilidade)
[...] mas, você pode por questões éticas[...]falar assim oh! Aqui cheguei ao meu limite,
mas não é suficiente, eu tenho que arrumar um meio, não posso fazer é... sozinho.
(Normativo)
[...] por vezes o enfermeiro não é o líder daquela equipe numa unidade avançado mas
a gente percebe que o médico está despreparado para aquela situação e[...] ele quer
muitas vezes fazer da forma errada, e a gente vai por aquele meio, questiona é dessa
forma? tem certeza que é dessa forma? Ou tem certeza que a gente não pode fazer de outra
forma? (Conflito)
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Responsabilidade desvela a existência de conflitos em função das distintas competências
dos profissionais oriundos e não provenientes da área de saúde que estão envolvidos no processo
decisório das ações de cuidar no APHM.
Para Normativo, as questões éticas envolvidas no cuidar no APHM geram conflitos.
Conflito, descreve a vivência de situações de conflitos éticos morais no momento em que a equipe
médica denota atitudes de imperícia, que influenciam diretamente na sua deliberação.
Subcategoria 2.4: Fundamentos morais, éticos e técnicos que norteiam a prática das
enfermeiras do APHM no cotidiano da deliberação moral
As enfermeiras do estudo desvelam os valores e deveres que estão imbuídos no mundo
social do APHM e influenciam o sistema de interesses das enfermeiras frente aos problemas
práticos, morais vivenciados.
No caso do serviço, é [...] móvel de urgência...caso você não consiga resolver aquilo
ali, você não vai poder suplantar uma norma [...] então eu vou ter que entrar em
contato com a central regulação mostrar a realidade do paciente a realidade da
situação e pedir que ele me ajuda que ele tente mais um pouquinho lá para que a
gente consiga essa vaga que seja em um hospital que seja em uma UPA ou...que
seja em um procedimento que a gente vem a fazer na ambulância mesmo [...].
(Normativo)
[...] eu não vou além daquilo que a ética e a moral me permite fazer dentro das
minhas competências de assistência e de administração... a minha decisão vai até
onde eu posso fazer. (Decisão)
A gente não pode tomar uma decisão que o nosso conselho não permita. Que não seja
orientado previamente..é isso! (Atitude)
Exercendo [...] de acordo com os seus direitos, deveres e obrigações é[...] não fugindo do
princípio maior que é da moral, da questão de evitar qualquer ato de negligência,
imprudência e imperícia. Então assim a responsabilidade do enfermeiro hoje ele é
muito grande e uma das maiores aflições que eu tenho é justamente a dimensão dessa
responsabilidade está no conhecimento de poucas pessoas[...].
(Responsabilidade)
Sua mente fica é[...] na hora você está ligado na situação: oh! é uma vítima disso, eu
tenho que fazer aquilo, o cuidado é esse, mas ao mesmo tempo que você está fazendo
isso você está captando coisas da cena[...]. (Ação)
[...] eu costumo dizer tudo que a gente faz registra..né? o registro do prontuário, do
paciente da ficha de atendimento é que vai lhe respaldar para todas as situações então,
você tem que ter um registro técnico, entendeu? (Protocolo)
57
[...] muitas vezes a gente sai sem médico. Então, a gente vai fazer aquilo que nos
compete fazer de acordo com o que é liberado para nossa classe é [...] baseado em
alguns protocolos. (Conduta)
Normativo desvela que as enfermeiras não devem ultrapassar as normas institucionais nas
tomadas de decisão.
Para Decisão e Atitude, esse grupo social deve agir fundamentando-se na ética e no Código
de ética que guia o exercício profissional.
Responsabilidade e Ação descrevem a responsabilidade das enfermeiras no atributo moral
das suas atividades realizadas no APHM.
Protocolo destaca a necessidade do registro de enfermagem para o respaldo das situações
vivenciadas no cotidiano do APHM.
Conduta considera que a enfermeira deve fazer o que lhe compete, de acordo com os
protocolos existentes no serviço.
5.3 CATEGORIA 3: DESVELANDO O MODO DE DELIBERAR DAS ENFERMEIRAS QUE
ATUAM NO APHM
Nessa categoria, as profissionais desvelaram etapas que antecedem os atos decisórios
dessas, que impulsionam e que, por vezes, condicionam a ação da deliberação moral no momento
do cuidar no APHM.
Subcategoria 3.1: Desvelando a maneira como as enfermeiras tomam decisão no APHM
Subcategoria 3.2: Desvelando os limites da autonomia vivido pelas enfermeiras para a tomada
de decisão ética/moral no APHM
Subcategoria 3.1: Desvelando a maneira como as enfermeiras tomam decisão no APHM
As enfermeiras desvelam que no cotidiano do APHM as tomadas de decisões são iniciadas
com a comunicação com a Central de Regulação, e em alguns momentos agem sozinhas em função
da situação de gravidade e dificuldade de comunicação com o médico regulador. Na cena ainda
refletem como lidar com as situações encontradas no momento do atendimento.
[...] cada momento a gente está tomado decisões...(Conflito)
58
A tomada de decisão final na cena ela é um reflexo do que a central de regulação
captou de informação e transmitiu de informação para o solicitante e o para o paciente.
(Decisão)
[...] muitas vezes, a gente vai chegar na ocorrência aqueles primeiros atendimentos
não tem como a gente fazer contato com o médico regulador para poder tomar a
decisão, então, a gente já vai iniciando. (Conduta)
[...] então a gente tem as vezes que decidir né? mesmo sem que tenha o conhecimento
prévio daquele que seria o corresponsável pelas atitudes[...] o regulador...é..isso.
(Protocolo)
Então eu acho que no SAMU o enfermeiro tem essa liberdade [...] na verdade [...] de
tomar decisões devido aos treinamentos...devido toda a capacitação[...]. (Conhecimento)
Conflito desvela que a todo o momento as enfermeiras estão tomando decisões.
Para Decisão, o agir das enfermeiras inicia desde o primeiro contato do solicitante com a
Central de Regulação com as informações que são passadas para a família e para o paciente.
Conduta e Protocolo revelam que mesmo sem contato com o médico regulador, as profissionais
tomam decisões e realizam os primeiros atendimentos quando estão sem o profissional médico nas
Unidades.
Conhecimento atribui à ação das enfermeiras do APHM a existência de uma maior
liberdade no processo decisório devido aos conhecimentos adquiridos com os treinamentos.
As enfermeiras também proporcionam a deliberação no cuidado Pré-hospitalar, quando
expõe atitudes necessárias para o próprio agir e para a necessidade de um horizonte compartilhado
no vivido concreto do cuidar.
[...] mas eu tenho que ser é! o máximo técnico no momento possível... eu preciso ser
produtivo[...] eu preciso ser eficaz, eficiente eu preciso manter a estabilidade da cena
para depois eu fazer qualquer tipo de remoção. (Ação)
Você tem que... avaliar [...]pedir uma outra opinião[... ]. (Compromisso)
Para Ação, é preciso ter disposições atitudinais para os atos decisórios. Para Compromisso,
a avaliação e o compartilhamento das suas ações antecedem as suas decisões.
Subcategoria 3.2 Desvelando os limites da autonomia das enfermeiras na tomada de decisão
no APHM
59
As participantes do estudo revelam estar conscientes dos limites de sua autonomia e
competências profissionais para as tomadas de decisões no APHM, estando subordinadas às
condutas dos profissionais médicos que compõem a equipe.
Por mais que a gente tenha (aumenta o tom de voz)..o conhecimento, a gente tem essa
obrigação de entrar em contato com o médico regulador[...]. (Protocolo)
[...] mas muitas vezes a equipe da intervenção, por ela está mais presente naquele
momento com o paciente ela tem a autonomia e até mesmo o poder de decidir o que
é o melhor para o paciente [...]. (Responsabilidade)
[...] geralmente a gente não toma decisão sozinha a não ser aquela decisão que já está
protocolada, em diversos protocolos de atendimento que a gente tem, fora isso a gente
só toma decisão acompanhada do médico [...] Na nossa tomada de decisão a gente não
pode fazer uma coisa pelo paciente mesmo sabendo que ele precise porque a gente
depende de uma decisão de uma terceira pessoa que as vezes não está vivenciando o que
a gente está vendo ali ..entendeu? eu não posso medicar um doente né? O que me cabe
fazer é puncionar um acesso e tal[...] porque já está no protocolo a gente pode fazer,
né?..A gente é preso, né? (Atitude)
Aqui a gente trabalha com o enfermeiro regulador aí [...] assim [...]se o médico
regulador lhe pede pra você fazer uma ação que não lhe cabe[... ] você pode
interceder com o enfermeiro regulador: olhe me pediram para fazer isso[...]mas isso
não me cabe [...]dentro[...] da minha função eu acabo que[...] pedindo a permissão de
alguém superior, se eu perceber que aquilo não me cabe eu peço diretamente a minha
coordenadora: posso? Isso aqui, estão pedindo para fazer posso? [...] se ela autorizar
é uma responsabilidade dela enquanto coordenadora [...] você tem fazer o seu...sempre
o seu...sempre o seu[...]. (Compromisso)
[...] eu não posso tomar a decisão por exemplo de levar o paciente para um
determinado hospital, o paciente de trauma. Então, mesmo sabendo disso é[...]a
gente tem que esperar a decisão do médico regulador que é autoridade sanitária
para essa tomada de decisão[...]. (Conhecimento)
[...] quando não tem protocolos a gente faz..É [...] ações que a gente pode fazer, mas
sempre também passando para o médico regulador e tendo a orientação e suporte dele [...]
quando tem médico na unidade não, porque ele vai conduzir tudo que precisar ser
feito já com o parecer dele[...]agora sozinhos, a gente precisa realmente fazer contato,
mas tem situações que a gente vai chegar vai fazer várias ações e depois passar para o
médico [...]. (Conduta)
Protocolo expressa a subordinação à equipe médica da regulação. Responsabilidade
descreve que a equipe da intervenção, quando está completa, tem um maior poder frente às decisões
por manter uma relação direta com o paciente. Atitude revela que as enfermeiras estão presas a
protocolos e só tomam decisões com o consentimento do profissional médico. Para Compromisso,
as enfermeiras desvelam uma autonomia limitada, pois as suas decisões são sempre orientadas
pelos seus superiores.
60
Para Conhecimento e Conduta, todas as decisões são definidas pelo médico regulador por
ser, este, considerado autoridade sanitária no ambiente de trabalho do APHM. Para elas, o médico,
quando presente no atendimento, conduz tudo que precisa ser feito com o paciente.
6 BUSCA DA COMPREENSÃO PRETÉRITA DA DELIBERAÇÃO MORAL DAS
ENFERMEIRAS QUE ATUAM NO APHM
Neste trilhar, busquei apreender as facetas do fenômeno ao ir e vir sobre as entrevistas na
tentativa de obter o significado essencial da deliberação moral da enfermeira no cuidado
Préhospitalar, que me possibilitasse desvelar a essência da estrutura do velado, na perspectiva de
Corrêa (1997). Assim, nesse processo, o meu olhar de pesquisadora apontou para as experiências e
consciência que as participantes deste estudo têm do fenômeno.
O caminho percorrido, na apreensão do fenômeno da deliberação moral, através da análise
nomotética, possibilitou a identificação da estrutura constituída de categorias concretas que
revelaram a tipicidade das enfermeiras como grupo social, que na perspectiva de Schutz (1972)
vivenciam as razões dessa ação no cotidiano do APHM.
Na Fenomenologia Social, ao se investigar um fenômeno, busca-se também construir a
característica típica da ação do grupo social, que vivencia determinada situação no mundo da vida
cotidiana. Nesse sentido, a tipificação “define o tipo de ação em processo e os tipos ideais de
pessoas” (WAGNER, 2012, pág. 135). O típico da ação é construído por meio da observação da
vida real, daquilo que se capta da realidade e da vivência, considera-se que tal tipificidade
desempenha papel importante na compreensão do outro e na interação social CAPALBO (1998).
Para se compreender o significado dessa ação, apreenderam-se seus motivos por que, ou
seja, suas justificativas, razões e intenções. Percebeu-se que a ação de deliberar no cuidado
Préhospitalar é consciente e está voltada para alguém ou alguma coisa.
De posse da estrutura do concreto vivido da deliberação moral, passei a compreender as
falas das enfermeiras à luz do referencial filosófico-metodológico de Alfred Schütz e das produções
científicas relacionadas ao fenômeno desvelado.
CONCRETUDE DO MUNDO VIVIDO PELAS ENFERMEIRAS DO APHM NO
PROCESSO DE DELIBERAÇÃO MORAL FRENTE AO CUIDADO
61
Na busca pela compreensão do modo como as enfermeiras vivenciam o cotidiano, apreendi
que essas profissionais dividem espaço comum do APHM com razões, motivações e justificativas
que impulsionam as ações de deliberação moral frente ao cuidado.
Nos recortes das falas, as enfermeiras revelam vivencias de concretude do mundo da vida e
expressam que os fatores externos/ambientais e institucionais influenciam a deliberação moral no
contexto do APHM.
Segundo Schutz, esse mundo da vida, de relações, envolve a esfera das experiências
cotidianas, direções e ações por meio das quais os indivíduos convivem com os seus interesses,
manipulando objetos, tratando com pessoas no cotidiano e projetando ações através de planos
(WAGNER, 2012).
Percebi o ambiente de trabalho do componente móvel como um espaço marcado pela
exposição das ações e atitudes da equipe e pelo descontrole emocional da comunidade durante as
ações dos atendimentos. Por estes fatores, compreendo a necessidade da integridade física e
emocional da equipe que cuida em um modelo de atendimento inverso do que encontramos
rotineiramente nos espaços hospitalares e Pré-hospitalar fixo. Neste contexto de atuação, não é a
equipe que espera pelo paciente no interior de um serviço, mas é a equipe que vai ao encontro dele,
para assisti-lo em situações das mais variadas. Esse ambiente diferenciado exige habilidades e
competências específicas das profissionais e entre estas estão a tomada de decisões, que deve ser
rápida, segura e eficaz.
Para Colliére (1999, p.304), o cuidar é uma ação que acontece em um tempo espaço
definido, “o espaço da ação de cuidados é juntamente com o tempo, o componente principal dessa
ação, seja em relação aos utilizadores de cuidados ou de quem presta os cuidados”.
O atendimento que é prestado em situação de rua traz uma condição ameaçadora para os
profissionais que lidam com a ação do cuidar. Exige, no entanto, uma relação interacional entre a
equipe da regulação e a de intervenção, para que haja uma reflexão quanto às possibilidades que
esse espaço pode oferecer para facilitar os cuidados. Existem fatores, como a presença de populares,
ambientes hostis, risco de incêndios, violência, que podem ser determinantes na mobilização ou
imobilização de interesses, motivações ou de afastamento das relações sociais para o cuidado
(COLLIÈRE, 1999).
No APHM as enfermeiras que vivenciam significativamente este mundo social ao refletirem
sobre suas ações efetuadas anteriormente desvelam o compartilhamento da deliberação moral no
mundo concreto, presente com outros atores sociais que compõem a equipe do SAMU, salvando
62
vidas. Com essa motivação eles se relacionam, constantemente, em um ambiente de comunicação,
com outros profissionais, comunidade local e familiares, que em alguns momentos estão presentes
no cenário de atendimento, presenciando as necessidades de deliberar e de tomar decisões.
Para Wagner (2012), viver no mundo da vida cotidiana significa viver em um envolvimento
interativo com muitas pessoas, em complexas redes de relacionamentos sociais. Neste sentido, as
enfermeiras quando deliberam frente ao cuidar compartilham um mundo de relacionamentos com
a rede de atenção às Urgências e com outras pessoas (profissionais, familiares, comunidade local e
outros pacientes). Estas relações são dos tipos face a face, eu-tu, e eu-nós, quanto mais próximas
possibilitam as relações intersubjetivas.
No APHM existem especificidades do serviço descritas pelas enfermeiras do estudo que
caracterizam esse espaço de trabalho como um estabelecimento de saúde regulamentado por leis
que definem a funcionalidade, através da comunicação com a Central de Regulação Médica das
Urgências. Esse contexto influencia as ações das enfermeiras quando deliberam frente às
necessidades de urgência e emergência da população.
Para Wagner (2012), o cenário do mundo da vida não é simplesmente um mundo físico,
mas também um mundo sócio-cultural, pré-constituído e pré-organizado, cuja estrutura especial é
resultado de um processo histórico e diferente, portanto, presente em cada cultura ou sociedade.
No que se refere à configuração do serviço de APHM, dispomos de uma Central de
Regulação Médica de Urgência que está destinada a realizar um atendimento eficaz e adequado e
compreende um processo de trabalho que garante a escuta ativa de um médico regulador por 24
horas, com o acolhimento de todos os chamados e a estimativa do grau de urgência para cada caso
e decisão, proporcionando o disparo dos recursos necessários, podendo ser uma Unidade de Suporte
Avançado ou Unidade de Suporte Básico, para o encaminhamento do paciente a uma rede
hierarquizada (BRASIL, 2011; SANTOS et al, 2012).
As enfermeiras expressam dificuldades encontradas com as ações cotidianas por atuarem
no mundo do APHM em Unidades Móveis classificadas como Intermediárias, disparadas para
todos os tipos de ocorrências, com ou sem risco identificado, mesmo não sendo regulamentadas
pela Portaria 1600/11/GM/MS que estabelece as diretrizes para implantação do SAMU no cenário
Nacional (BRASIL, 2011).
Em contrapartida, um estudo realizado em Portugal identificou que desde 2007 foi
implantado o Serviço Imediato de Vida naquele país. Neste, segue-se outra configuração, mantendo
o enfermeiro e um Técnico de ambulância de Emergência, em uma Unidade montada com
63
equipamentos e matérias da USB e da USA. Essa nomenclatura se baseou na necessidade de
garantir os cuidados de saúde capazes de favorecer uma reanimação com sucesso enquanto não está
disponível uma equipe médica, dita como de suporte avançado de vida (OLIVEIRA; MARTINS,
2013).
Assim, apreendo que são gerados problemas éticos diversos no APHM, para que ele seja
compreendido em nosso país como um serviço centralizado no sistema de Regulação Médica sem
similaridade nas categorias historicamente institucionalizadas nos Estados Unidos e na França
(MARTINS; PRADO, 2003).
As enfermeiras ainda desvelam a fragilidade da rede, por esta atender também à lógica
assistencialista, de forma fragmentada, centrada na prestação de serviços, sem o estabelecimento
de relações diretas com os profissionais dos pontos de atenção que compõem a rede de atendimento.
Esta caracterizada pelo número insuficiente de leitos de retaguarda para o atendimento as urgências
e emergências. Consolida-se assim, um cenário distante do previsto pela Política Nacional de
Atenção às Urgências, que propõe a reorganização e regulação dos serviços de Urgência e
Emergência no âmbito do SUS dentro do território Nacional (BRASIL, 2011).
Em estudo realizado sobre a análise da implantação do sistema de atendimento préhospitalar
móvel em cinco capitais brasileiras, foi identificado que, no Rio de Janeiro, existem vários entraves
para obtenção de vagas nos hospitais da rede e essa revela desconexão que interfere diretamente na
continuidade dos atendimentos realizados nas Unidades de saúde fixas, por retardarem o
acolhimento do paciente (MINAYO; DESLANDES, 2008)
A partir deste contexto organizacional, compreendo que as limitações encontradas na Rede
de atenção as Urgências submetem os usuários a constrangimentos físicos e morais, ferindo
princípios de justiça, pois todos possuem o direito de serem respeitados na sua autonomia como
cidadãos e de receber atendimento com estrutura física, recursos materiais e equipamentos
compatíveis com suas necessidades, prestado por equipe qualificada para esse fim (POLL;
LUNARDI; FILHO, 2008). Dificulta-se assim, o funcionamento do SAMU como um componente
onde os cuidados das enfermeiras dependem de um ambiente comum de comunicação com a rede
de atenção às Urgências.
A rua é o local onde ocorre o maior número de agravos traumáticos, clínicos e de outras
naturezas. No entanto, o hospital e o Pré-hospitalar fixo são componentes onde a equipe do APHM
intermedia as suas ações, funcionando como o local de referência para os encaminhamentos dos
pacientes.
64
No entanto, em um estudo realizado no SAMU de Belo Horizonte foi identificado
problemas na recepção dos pacientes nas unidades fixas, visto que os profissionais que atuam nos
pontos de atenção ainda desconhecem a funcionalidade do componente móvel, gerando conflitos
nas relações estabelecidas (ALVES et al, 2013).
Estudo realizado com médicos do Sistema Integrado de Urgências Médicas (SIUM) de
Guátamo identificou como uma das insatisfações dos profissionais desse serviço às condições
inadequadas da atenção secundária, pela falta de profissionais especializados, que provoca uma
descontinuidade do atendimento oferecido durante o transporte dos pacientes graves (PRADA et
al, 2011).
Percebo, assim, um reflexo da cópia dos modelos de atendimento dos cenários americano e
francês que possuem características diferentes das nossas. Assim, a configuração do cenário do
Componente Móvel através das falas das enfermeiras revela situações em que elas ficam expostas
a condições de trabalho que provocam sentimentos de angústia, sofrimento e frustração. Apreendo
que esses sentimentos estão relacionados à impotência para agir no cotidiano diante de situações e
momentos que demandam deliberações para a realização de suas decisões.
Sobre condições de trabalho, Carneiro (2011) relata que essas incorporam aspectos
específicos do ambiente, mas também a organização técnica, o domínio do saber, o cenário e o
ambiente no qual se efetua o trabalho.
Em um estudo realizado no Chile, na cidade de Valdívia, foi possível identificar que a
equipe de enfermagem do SAMU convive, cotidianamente, com a morte, o sofrimento físico e
mental. O trabalho de rua gera situações de estresse e este deve ser manejado de alguma forma,
preservando significativamente as vidas, de quem tem a possibilidade de salvar vidas (OYARZUN;
CATIPILLÁN, 2009).
Oliveira e Martins (2013) descrevem nas experiências vivenciadas, no trabalho
desenvolvido pelas enfermeiras que atuam no APH, o surgimento de sentimentos desagradáveis
como medo, ansiedade frustração e insegurança. Entretanto, de forma antagônica, o prazer e a
satisfação foram sentimentos desvelados pelas participantes ao atribuírem sentido ao trabalho pela
gratificação da população e satisfação das profissionais com o que se faz.
De acordo Tolfo e Picinini (2007, p.39), “Uma vida desprovida de sentido no trabalho é
incompatível com uma vida cheia de sentido fora do trabalho”, o trabalho deve ser algo prazeroso,
com os requisitos mínimos para atuação e para a qualidade de vida dos indivíduos.
65
O trabalho, na perspectiva Wagner (2012), é compreendido como a ação no mundo exterior
baseado em projetos e caracterizada pela intenção de realizá-lo. Esse trabalho é a forma mais
importante para a construção da realidade do mundo cotidiano e, através dele, comunicamse,
integram-se o presente, passado e futuro.
Na minha compreensão, as enfermeiras identificam-se com o grupo de pertença, com o
trabalho que realiza e com a organização a que pertencem. Entretanto, no SAMU experimentam
dificuldades para a realização dos seus atos de trabalho, considerando os regulamentos/ leis
institucionais como elementos externos que condicionam as suas escolhas frente ao cuidar.
A experiência que as enfermeiras constroem no curso das próprias existências concretas no
espaço de atuação no APHM, é também agregada ao acervo de conhecimento das profissionais que
compõem esse grupo social, e este, impulsiona as ações da deliberação moral no momento que
estabelecem relações de cuidado com pacientes que necessitam do atendimento primário através
do SAMU.
No mundo social, o homem vivencia uma situação biográfica determinada, situa-se de
maneira específica no mundo da vida e é nesse contexto que pensa, sente e age. (WAGNER, 2012).
Para as enfermeiras deste estudo, o total da experiência construída no curso da existência concreta
no mundo do APHM, os conhecimentos adquiridos com os seus contemporâneos e predecessores
na academia, cursos e treinamentos, formulam o acervo de seus conhecimentos e as motivam para
o seu agir no cotidiano do SAMU.
Em um estudo realizado em Cuiabá, sobre os desafios e possibilidades para os Profissionais
de enfermagem de um SAMU, foi identificado que no processo de implantação do serviço, as
enfermeiras passaram por capacitações através do Pré Hospital Trauma Life Support e, foram
montados grupos de estudo como forma de responder qualitativamente às necessidades dos
usuários e do serviço (FIGUEIREDO; COSTA, 2009).
Outros estudos demonstram que as enfermeiras tem buscado cursos e treinamentos como
Advanced Trauma Life Support (ACLS), Advanced Trauma Life Support (ATLS), Pré Hospital
Life Support (PHTLS) ou Basic Life Support (BLS), mas estes não são considerados por elas como
suficientes para atender as reais exigências de atuação no APH, devido às dificuldades encontradas
nas situações adversas da prática do serviço, a exemplo do difícil acesso às vítimas ou os
atendimentos realizados no interior da ambulância, na vida concreta (VARGAS, 2006; ROSANA;
RAMOS; WHITAKER , 2008).
66
Com o propósito de organizar os serviços de urgência/emergência a Portaria
2048/02/GM/MS instituiu a criação de Núcleos de Educação em Urgências (NEU), formados
regionalmente, em parcerias com instituições de ensino e pesquisa, com a sociedade civil e as
comunidades. Deve seguir um cronograma com grades mínimas de capacitação dos profissionais
que atuam nos serviços pré-hospitalar e hospitalares, garantindo estrutura capaz de problematizar
a realidade dos serviços e estabelecer nexo entre trabalho e educação (BRASIL, 2002).
Apreendi, através da interpretação das falas, que há a necessidade de um olhar de todos os
atores para as peculiaridades do mundo social do atendimento pré-hospitalar móvel, que exigem
atuação qualificada para o atendimento que congrega profissionais de diferentes saberes e
formações.
Tal fato aponta para as estratégias de qualificação de suas equipes como processo
permanente, inserido no cotidiano das ações do serviço, considerando o espaço para a educação
dentro da rotina do trabalho (CICONET; MARQUES; LIMA, 2008).
No vivido das enfermeiras, para deliberar no APHM é preciso que o grupo tenha
competência, conhecimento técnico/científico e responsabilidade para um agir ético dentro da
realidade social que se encontram. Entendo por competência um caráter prático e social, que ajuda
o sujeito que aprende a utilizar os conhecimentos em situações operativas e existenciais, permite
que trabalhe com situações e desafios complexos, mais próximos de situações reais que proporciona
desenvolver continuamente a reflexão crítica (MOGILKA, 2003).
Nas experiências cotidianas, as enfermeiras descrevem as vivências de cuidado no APHM.
Esse vivido justifica razões para as suas ações de deliberação moral que estão enraizadas no
passado, da convivência com seus predecessores e contemporâneos- como outras enfermeiras que
compartilharam a ação da deliberação, e no seu presente vivo, com a personalidade que esse grupo
desenvolveu durante o cotidiano de cuidar no pré-hospitalar móvel.
Entretanto, a falta de conhecimento dos profissionais médicos foi descrita pelas enfermeiras
como um fator que interfere no agir dessas profissionais e possibilita a ocorrência de danos por
imperícia no cuidado. Em um estudo sobre as representações sociais de profissionais de Unidades
de Pronto Atendimento sobre o Serviço Móvel de Urgência, identificou-se o descrédito dos
profissionais da UPA em relação ao preparo dos profissionais do SAMU para lidar com os casos
de gravidade atendidos no cotidiano (ARAÚJO et al, 2011). Neste particular, ressalto aqui que é
vedado aos profissionais de enfermagem praticar atos danosos aos pacientes que possam ser
caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência (COFEN, 2008).
67
O mundo de atitude natural do pré-hospitalar móvel se configura por um modelo de
assistência à saúde imbuído por fatores históricos, sócio-culturais e ideológicos, sendo este, o
mundo vida na perspectiva de Schutz (2003). O homem tem a capacidade de viver no mundo
cotidiano que já se encontra estruturado previamente e, a leitura dessa realidade estabelecida o faz
agir de modo natural. Além disso, consegue intervir naturalmente nesse mundo, influenciando e
sendo influenciado, transformando-se continuamente e alterando as estruturas sociais (WAGNER,
2012)
Oriundo de um modelo biomédico, assistencialista, centrado na figura do profissional
médico, o atendimento móvel carrega a origem de um serviço conduzido por protocolos. Neste, há
uma prática rotinizada, conduzida pela prática médica que pode dificultar o desvelamento da
essência do cuidado da enfermeira, quando desvinculada da interação social e do estar consciente
da presença do outro nas relações de cuidar.
O médico regulador é o gestor do sistema, orientador técnico e ordenador de todas as
categorias profissionais e instituições envolvidas (MARTINS; PRADO, 2003). A normatização
vigente do SAMU tem no médico regulador, o elemento centralizador das decisões não somente
no que se refere ao funcionamento do sistema, sobretudo, em relação ao domínio do conhecimento
que é, em essência multiprofissional.
Em contrapartida, as enfermeiras consideram o cuidado no APHM como uma ação que
transcende o ato de chegar e atender o paciente, corroborando com Schutz que afirma a existência
do mundo social como algo que temos de modificar através de nossas ações ou que modifica nossas
ações através de “disposições interiorizadas pelos indivíduos, adquiridas, que tentam reproduzi-las
consciente e inconscientemente. E adaptam essas disposições no contexto que estão inseridos”
(WAGNER, 2012, p.222).
Ao analisar esta relação social das enfermeiras do APHM com os pacientes que dependem
do seu cuidar, no momento da deliberação moral, interpreta-se a afirmação de Capalbo (1998, p.18)
ao destacar que viver é conviver e compreende que o mundo vida “não é apenas possuir células,
organismo biológico, estruturas neurofisiológicas e químicas em funcionamento, mas compreender
que na vivência humana há outros aspectos como: relacionamentos humanos, compartilhamento de
ideias, de emoções e sentimentos”.
Para Colierrè (1999), cuidar não pode ter sentido se a utilização das técnicas não tiver
integrada no processo relacional. Quando o ofício de cuidar transforma-se em uma mera aplicação
68
de protocolo, somente vale o que pode ser medido e controlado, em uma racionalidade
essencialmente técnica (ZOBOLI; FRACOLLI, 2011).
As ações de cuidar desveladas pelas participantes propõem o rompimento do paradigma
biomédico, imposto pelas relações indiretas e distanciadas. A ampliação de vínculos na percepção
de Schutz requer a apreensão de um objeto, fato ou evento no mundo exterior que não é contudo,
apreendido meramente como um Eu no código de apercepção, mas de modo apresentativo,
expressando cogitações de um semelhante . O termo cogitações é aqui usado no sentido cartesiano
mais amplo, como sentimentos, valores. (WAGNER, 2012). Esse direcionamento de Schutz vai ao
encontro das falas das participantes quando expressam o uso da tecnologia leve como o
estabelecimento de vinculo entre pessoas que ocupam posições distintas no contexto social de quem
é cuidado e quem o socorre.
No APHM, onde se vive a deliberação moral, as normas institucionais, o ambiente e
condições de trabalho impostos influenciam diretamente as ações das participantes. A descrição de
ações passadas e atos do vivido concreto, possibilitam a modificação da atitude ingênua com a qual
as enfermeiras participantes percebem essa ação frente ao processo de cuidar, fazendo emergir uma
reflexão que projeta a possibilidade de mudanças das práticas de cuidados neste contexto.
DIMENSÃO SOCIAL DAS RELAÇÕES DAS ENFERMEIRAS NA VIVÊNCIA DA
DELIBERAÇÃO NO APHM
Nessa categoria percebo que a enfermeira, ao atuar nas Unidades Móveis, não é um ser
isolado neste mundo da vida, está o tempo todo se relacionando com o outro e, muitas vezes, essa
relação definirá as ações dessa profissional.
Segundo Wagner (2012, p.80), “o mundo social no qual o homem nasce e tem de achar seu
caminho é por ele vivenciado como uma rede fina de relacionamentos sociais”. As enfermeiras
expõem nas falas a dificuldade de sustentar esta relação social estabelecida com os demais
profissionais que atuam no APHM.
A falta de interação do grupo, a pressa dos profissionais e os entraves na comunicação com
o médico regulador vivenciados no cotidiano do mundo do APHM, dificultam a deliberação das
enfermeiras. Na perspectiva de Schutz (2003), o mundo da vida é experimentado por nós, segundo
graus de familiaridade e anonimato. Quanto mais anônimo for a tipificação desse grupo social,
tanto mais afastado estará da individualidade de meus semelhantes e poucos, serão os aspectos
retidos por mim como relevantes.
69
No cenário do APHM, as enfermeiras descrevem relações sociais que hora são vinculadas
através da aproximação com a equipe e em momentos diversos se distanciam pelas posições
ocupadas pelos profissionais, no serviço, em tempos diferentes exercendo funções préestabelecidas
distintas. É válido ressaltar que a rotatividade de profissionais fragiliza o estabelecimento de
vínculos (SILVA et al, 2014).
Estudos identificam que a presença de enfermeiras no atendimento das ocorrências favorece
maior segurança na tomada de decisões e proporciona harmonia à equipe, além de ter a iniciativa
em colaborar, em benefício do paciente. As relações estabelecidas com a equipe contribuem na
realização das intervenções e procedimentos, visando aumentar a sobrevida do paciente
(PEREIRA, 2006; MALVESTIO; SOUSA, 2008).
Em um estudo sobre o processo comunicativo no Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência, foi identificado que a ferramenta comunicação é imprescindível na área de urgência e
emergência, pois o processo comunicativo deve ser utilizado como propiciador de segurança e
clareza aos profissionais envolvidos pelo fato de lidarem diariamente com situações que requerem
atenção redobrada e perfeito entendimento das informações transmitidas (SANTOS et al, 2012).
Outro estudo sobre a liderança do enfermeiro no contexto dos serviços de urgência e
emergência identificou que a comunicação deve ocorrer de forma intensa e dialógica, favorecendo
uma tomada decisão coletiva, de modo a manter a equipe motivada, assumindo corresponsabilidade
nos resultados alcançados (SILVA et al, 2014).
Na prática cotidiana, o desenvolvimento de habilidades comunicativas é essencial para o
desenvolvimento do trabalho no APHM. Segundo Wagner (2012, p.223) “as ações sociais
envolvem comunicação, e qualquer comunicação é necessariamente fundamentada em atos de
trabalho, a fim de me comunicar com outros tenho de desempenhar atos abertos para o mundo
exterior, que serão interpretados pelos mesmos”.
Compreendi que as enfermeiras vivenciam momentos de dificuldades no processo de
comunicação entre os membros da equipe da intervenção e médicos reguladores. Elas necessitam
tomar decisões para a condução das ocorrências e a relação indireta estabelecida entre os
profissionais da regulação e equipe da intervenção, por um tempo e espaço não comum, corrobora
com situações em que os médicos reguladores não dividem o mundo vida com as enfermeiras e
essas se deparam cotidianamente com a necessidade de tomar decisões para o cuidado, nas
situações de urgência e emergência. Esse agir sem compartilhamento interfere na efetividade dos
cuidados.
70
Através das falas das enfermeiras, apreendi dilemas e conflitos éticos/morais ocorridos no
cotidiano do APHM por existirem atos nem sempre coincidentes com os interesses inerentes, por
ter as ações subordinadas à prática médica, pela ausência do médico na Unidade de Suporte
Avançado e pelos riscos associados a decisões que são impostas diante dos limites da sua
competência profissional.
Esse grupo social de enfermeiras expressa uma condição de poder exercido ao se tornar o
centro da equipe no momento que estão tripulando as Unidades Intermediárias, pelo valor
simbólico atribuído pelo grupo à detenção de conhecimentos que fundamentam a ação da
deliberação. Segundo Pereira (2011), o poder simbólico na compreensão de Bourdieu é o poder
invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que estão sujeitos a esse poder ou
também por aqueles que o exercem. É essencialmente relacional e só se dá a partir de vivências
partilhadas ou compartilhadas.
No cotidiano do APHM, a dimensão simbólica através dos conceitos de Schutz me revela
que a simbolização é “uma apresentação de ordem superior, Isto é, baseia-se em referências de
apresentação já formadas, tais como marcas, indicações, símbolos (WAGNER, 2012, p.244).
Encontrei nesse serviço de saúde vivencias partilhadas e compartilhadas em que os diferentes
grupos sociais se agregam e se rompem mantendo relações de dominados e dominantes. Apreendi
que no momento que as enfermeiras encontram-se sozinhas nas Unidades intermediárias mantém
a sua relação de poder sobre os outros componentes da equipe de enfermagem, pelo seu domínio
de informações e conhecimentos, mas se submetem a essa condição de subordinação na presença
do profissional médico.
Percebo, ainda, que a relação entre profissões e profissionais não envolve apenas as práticas
técnicas cotidianas, faz parte, essencialmente de uma existência no mundo vida, de uma posição
social historicamente construída. Sendo assim, a enfermagem transita em um espaço de conflitos,
disputas, interesses e coerções que constituem o cotidiano enraizado nos contextos sociais,
culturais, políticos, onde se relacionam e desenvolvem ações peculiares de cuidar (COLLIÉRE,
2003).
Na compreensão de Wagner (2012, p.79), “cada um de nós ocupa um lugar determinado na
sociedade, e desempenha um papel social, possui um status, tem certas posições intelectuais, éticas
e religiosas”. No processo histórico à subordinação da prática profissional de enfermagem associase à determinação do papel desempenhado pela enfermeira que, foi marcado por uma prática de
71
cuidados subalterna desprovida do valor social e econômico e que assumiu uma função de tratar
sob o impacto da pressão médica (COLLIÈRE, 1999).
Para Lunardi et al (2007), é imprescindível que reconheçamos as relações estabelecidas e
significados simbólicos que ocupamos nos espaços que estamos inseridos, pois a dimensão moral
da prática da enfermeira é abordada, associando – se à possibilidade de exercício de poder dos seus
trabalhadores para o enfrentamento dos múltiplos problemas morais vivenciados no cotidiano do
trabalho.
No entanto, o reconhecimento dos dilemas éticos morais está atrelado a todas as áreas de
atuação dos profissionais da saúde e consistem em um problema com duas alternativas distintas e
justificáveis com condutas para sua solução. Segundo Freitas e Fernandes (2006) a resolução dos
dilemas faz imperar a voz de quem tem o poder de decisão, sem a participação de todos os
envolvidos.
“Os conflitos envolvem uma oposição, uma contradição, uma luta de princípios, atitudes
métodos ou propostas, tem por pano de fundo, elementos morais, gerados por saberes distintos”
(DUARTE; LAUTERT,2007, p.65).
No cotidiano do APHM os conflitos são oriundos das restrições das práticas desse grupo
social, por atender o cumprimento da sua competência profissional, mesmo tendo a consciência
que possuem experiências e conhecimentos suficientes para resolver problemas que emergem no
cotidiano, porém não lhe é permitido legalmente.
No mundo do APHM, qualquer experiência, carrega consigo um horizonte de
indeterminação, e diante de possibilidades problemáticas o ator se depara com possibilidades em
aberto, situações desconhecidas, indeterminadas. Para proceder à sua escolha, faz questionamentos
em um processo reflexivo, no qual elege o que é mais importante para o dado mundo naquela
determinada situação, segundo suas áreas de interesse, acessando um sistema de relevância
(CAPALBO, 1998).
Nem tudo o que está presente numa situação é importante para as pessoas nelas envolvidas.
Na verdade, alguns dos fatores de uma situação impõe-se aos atores constituindo assim
relevâncias impostas. Outros são isolados pelo indivíduo, que considera importantes para
ele, no momento; esses assumem uma relevância volitiva (WAGNER, 2012, p.22)
Assimilei que no cotidiano do APHM se impõem sobre as ações das participantes condutas
fundamentadas nos deveres institucionais e do exercício profissional regido pelo Código de ética
dos Profissionais de Enfermagem (CEPE), nas normas, rotinas e protocolos institucionais, que
72
caracterizam a relevância imposta no momento da deliberação. O grupo reconhece o cumprimento
do Art.12 do CEPE que adverte para a responsabilidade e o dever da enfermeira de assegurar ao
paciente uma assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência e
imprudência.
A presença de protocolos institucionais reconhecidos e autorizados pelo respectivo
Conselho de Fiscalização Profissional garante a atuação dessas profissionais frente às demandas de
urgência e emergência (DOLOR; FREITAS, 2006). Sendo assim, as enfermeiras devem avaliar a
sua competência e limites de atuação considerando os procedimentos de riscos, invasivos ou não.
O valor dado ao cuidado e o reconhecimento da responsabilidade presente nas experiências
de vida no APHM, apresentam-se como relevâncias volitivas que intencionam ações das
enfermeiras no cotidiano das práticas morais. Nesse espaço social os valores são formados através
da observação e experiências dos atores e são apreendidos inicialmente na infância, tornando-se
“parte de um indivíduo durante a socialização na família, escola, igreja e outros grupos sociais”
(POTTER; PERRY, 2005, p. 68). Os valores pessoais somados aos valores profissionais quando
identificados favorecem as tomadas de decisões éticas/morais diárias.
Através da consciência da responsabilidade revelada pelas enfermeiras, apreendo que no
APHM a atuação dessas profissionais é imbuída por escolhas que precisam ser feitas a cada
momento da prática de cuidar que as fazem refletir sobre as suas competências e deveres da
profissão. Para Oguisso (2006) a reflexão sobre responsabilidade e competência constitui um
instrumento indispensável para a tomada de decisões com base nas normas legais e os princípios
éticos-profissionais.
Outro instrumento utilizado pelas participantes para nortear e respaldar legalmente a prática
foi à comunicação escrita. Fez-me perceber a necessidade do cumprimento Resolução COFEN
358/2009 que dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem, mesmo atuando em
um serviço que possui diversidades de fatores que influenciam o cotidiano das enfermeiras e onde
as ações de cuidado são dependentes de tempo.
Sendo assim, no mundo do APHM, esse grupo social desenvolve um trabalho por vezes
baseado em princípios éticos construídos ao longo da vida. Noutras vezes, agem respaldadas em
normas ou rotinas institucionais, em interesses particulares, na tradição e repetição. E, assim,
diferentes situações, a conduzem a fazer algumas permissões e que podem trazer implicações éticas
e morais (DUARTE; LAUTERT, 2007).
73
A deliberação moral no APHM deve envolver então, valores, princípios e compromisso de
cuidar, que orientam o exercício profissional das enfermeiras e a tomada de decisões, pois implica
definir ideias concretas sobre o que se deve fazer corretamente e daquilo que se é responsável.
DESVELANDO O MODO DE DELIBERAR DAS ENFERMEIRAS QUE ATUAM NO
APHM
As enfermeiras como tripulantes das Unidades Móveis, ao fazerem parte do mundo social
do APHM diariamente vivenciam na prática moral, a experiência de tomar decisões frente aos
conflitos e dilemas que identificam no cotidiano. Nesse cenário de atuação, tornam-se consciente
da responsabilidade e ao mesmo tempo desvelam a existência de uma autonomia reduzida, no
trabalho, que interfere na própria capacidade de deliberação.
Na percepção de Wagner (2012, p.344), a deliberação é “a experiência de dúvida, do
questionamento, da escolha e da decisão” Sendo assim, no vivido das enfermeiras as dúvidas e
questionamentos que antecedem as suas escolhas e as decisões, em alguns momentos precisam ser
iniciadas mesmo na ausência do médico na cena, sem contato com a regulação. Estas assumem,
nesse momento, uma maior responsabilidade profissional tendo em vista uma maior complexidade
dos cuidados prestados, reconhecem, entretanto, a liberdade atribuída às suas ações de
conhecimento está subordinada à condição de estarem ou não com o profissional médico nas
Unidades Móveis. Nesse sentido, existe um paradoxo ao princípio da autonomia dessas
profissionais que, no mundo atual das relações, estão associadas a uma limitação da expressão da
liberdade e às relações de poder estabelecidas, constituídas socialmente entre as diversas categorias
(PRZENYCZKA et al, 2012).
A autonomia é a “independência da vontade em relação a qualquer desejo ou objeto de
desejo e a sua capacidade de se determinar em conformidade com uma lei própria, que é a da razão”
(ABBAGNANO, 2007, p. 97). As enfermeiras consideram que no contexto de prática do APHM
podem exercer esse princípio com mais facilidade, quando estão com a equipe da intervenção.
Entretanto, Oguisso e Schmidt (2012) alertam que toda liberdade e autonomia profissional trazem
como consequência uma obrigação, impondo às enfermeiras a necessidade de assumir o exato
compromisso.
Na compreensão de Gracia (2010) a deliberação sempre traz como questionamentos o que
fazer? e como fazer? No entanto, com a assimetria das relações entre enfermeiras e médicos, na
maioria das vezes não há um compartilhamento das ações entre esses grupos e por esse fato,
74
apreendo, através da concretude do vivido dessas profissionais, que as suas condutas são realizadas
frequentemente seguindo uma ordem de protocolos institucionais. Para Silva, Sanna e Nunes
(2001) esse instrumento funciona como um guia de normas e procedimentos para estabelecer o que
deve ser feito, este proporciona garantias de condições ideais para os atendimentos, podendo
também nortear o trabalho sem fugir do preestabelecido.
Os protocolos são ferramentas e, quando utilizadas por esse grupo, geram um sentido
ambíguo para a equipe que está nos cenários de rua: traduzem o respaldo legal, mas possibilitam a
rotinização e o estabelecimento de relações sociais indiretas entre as equipes da intervenção e
regulação que distanciam o Tu do Nós no momento de cuidar. O vivido em um mundo com regras
impostas, onde os elementos contraditórios e incoerentes não são mobilizados, evita que o
individuo transcenda os requisitos necessários de seus planos e operações práticos, os quais tendem
a assumir um caráter rotineiro (WAGNER, 2012). Tal fato pode transgredir as ações de deliberação,
possibilitando apenas uma decisão racional, rápida, e pouco refletida, mesmo sabendo que existem
situações no cotidiano dessas profissionais que não estão listadas como regras prontas protocoladas.
Para Wagner (2012, p.150), o processo de escolhas remete a possibilidade da não execução
do projeto de ação. Em alguns momentos as enfermeiras do APHM, ao conduzirem suas ações
passadas, durante as ocorrências compartilham a responsabilidade com o médico regulador e faz
garantir os fundamentos do próprio CEPE, que descreve que o profissional consciente e responsável
deve avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal, e, somente, aceitar
encargos ou atribuí-los quando capaz de desempenho seguro para si e para outrem.
As habilidades e competências das enfermeiras do APHM descritos na Portaria
2048/MS/GM/02 apontam os limites inerentes à própria profissão e demonstram como as
profissionais estão vulneráveis as condições existentes na dinâmica de trabalho do SAMU,
caracterizadas principalmente pelo leque de relações conflituosas.
Em um estudo sobre Risco de vida e natureza do SAMU: demanda não pertinente e
implicações para enfermagem, foi identificado que a tomada de decisão dos usuários sobre qual
serviço chamar, no momento da urgência está influenciada pelo processo de medicalização social,
fortemente centrado no modelo biomédico (VERONESE; OLIVEIRA; NAST, 2012). No entanto,
apreendi nas falas das participantes, uma prática profissional semelhante ao ser atribuído ao médico
todo poder das tomadas de decisões éticas/morais, eximindo os demais profissionais do APHM,
desse ato, mesmo estando envolvidos com o cuidar.
75
Para Zoboli (2012, p.50), “é preciso uma deliberação coletiva para compartilhar distintas
percepções, em um diálogo entre diferentes sentidos morais”. Existem, ainda, sugestões de etapas
para a tomada de decisões, explicitando possíveis ações para o agir, as quais destacam-se:
“avaliação inicial; identificação do problema e dos objetivos a atingir; planificação, que consiste
na criação das alternativas de ação, avaliação das mesmas e seleção da melhor; execução; e por
fim, a avaliação da decisão introduzindo-se os ajustes necessários. Essas, precisam, fugir da
condição prescritiva e evoluir para um ato definido após diálogo entre o grupo, para conseguir
responsavelmente o melhor para os pacientes (GÂNDARA, 2004, p.582)
Compreendo que a tomada de decisão envolvendo um maior número de pessoas,
proporciona resultados mais qualificados, aumentando a possibilidade de decisão, evitando as
distorções inerentes a visão individualizada (ANGELONI, 2003). No cotidiano do mundo social
do APH, as enfermeiras, também, potencializam a necessidade no seu vivido do compartilhamento
da avaliação das ações com aqueles que são seus semelhantes e divide o mesmo espaço social de
forma direta, onde possivelmente já vivenciou uma mesma experiência para a resolução dos
problemas encontrados no cotidiano.
Na percepção de Wagner (2012), o mundo intersubjetivo é proporcionado através das
relações sociais. Nele as coisas são conhecidas por mim e por meus semelhantes, entretanto,
possuímos perspectivas diferentes, pelas posições ocupadas. Somente a abertura para consciência
do outro permitirá a intersubjetividade, e quando os interesses pessoais forem transferidos ao outro,
pode haver uma simetria das relações profissionais que horizontalize os atos de toda equipe e
favoreça o atendimento para com o outro no momento que se cuida no APHM, como fruto de uma
cuidadosa deliberação.
Apreendo que as enfermeiras precisam compreender as próprias razões, motivação
profissional e pessoal que justificam a deliberação moral no cuidado Pré-hospitalar. Pertencentes a
um cotidiano com interesses comuns, esse tornar consciente, do modo de deliberar, proporciona
reflexões das ações cotidianas, desse grupo social, com possibilidades para um agir que proporcione
o exercício da autonomia no momento de deliberar.
76
7 SÍNTESE DA AÇÃO DA DELIBERAÇÃO MORAL DAS ENFERMEIRAS NO
CUIDADO PRÉ-HOSPITALAR
A compreensão do vivido da deliberação moral das enfermeiras no cuidado Pré-hospitalar
móvel desvelou uma faceta desse fenômeno, descortinando os significados dessas ações para um
grupo social em um tempo e espaço definidos. Estes foram possíveis de se desvelar a partir da
análise compreensiva, segundo a teoria de Alfred Schutz.
A apreensão das categorias concretas, possibilitou: descrever o tipo vivido das enfermeiras
que deliberam no cuidado Pré-hospitalar Móvel, que constitui uma característica do grupo que está
vivenciando um mesmo fenômeno; no estudo em questão, a deliberação moral no cuidado Préhospitalar Móvel. Assim, desvelou-se que as enfermeiras, vivenciam a ação de deliberar em um
mundo com fatores externos/ambientais e institucionais que influenciam a deliberação moral; sofre
influência direta do contexto do APHM na ação de deliberar, tem no conhecimento fundamentos
para a ação da deliberação moral, tem vivências de cuidado no momento que deliberam no APHM,
estabelecem relações profissionais no mundo vida do APHM, vivenciam dilemas e conflitos
éticos/morais quando deliberam; utilizam os fundamentos morais, éticos e técnicos para nortear as
práticas, tomam decisões limitadas pelo uso dos protocolos e pela autonomia limitada no cenário
de atuação no APHM.
Apreendi, como enfermeira intervencionista do SAMU e pesquisadora, uma realidade de
significados, razões e justificativas para a deliberação dessas profissionais no seu mundo cotidiano.
Compreendi que as enfermeiras que atuam no APHM identificam-se com o grupo social de
pertença e com o trabalho que realiza. Entretanto, experimentam dificuldades para a realização dos
77
seus atos de trabalho, devido os regulamentos/ leis e normativas institucionais que condicionam a
prática de cuidar.
No vivido concreto, foi desvelado que as profissionais apoiam-se na bagagem de
conhecimento, experiências de vida, nos fundamentos éticos, morais e técnicos para justificar a
deliberação na prática do cuidar.
O cotidiano dessas profissionais é marcado por condições de trabalho difíceis, limitações
do exercício profissional e subordinação à categoria médica que, potencializa as condições
impróprias para o trabalho de quem cuida em situações de urgência e emergência.
No contexto do APHM, as vivências de cuidado vão desde um cuidar relacional,
diferenciado, até uma ação guiada por protocolos institucionais e normas que caracterizam a
especificidade do atendimento móvel. É encontrada nos protocolos, a segurança para o exercício
profissional, juntamente com o cumprimento dos fundamentos previstos no Código de Ética de
Enfermagem.
Entretanto, as relações sociais estabelecidas com os profissionais médicos revelam uma
condição de subordinação, definida por papéis sociais, construídos historicamente e que ainda
retrata a enfermagem como um campo de atuação subalterno às ações médicas. Essa construção
passada socialmente marca o cotidiano dessas profissionais no APHM.
Foram encontrados grupos sociais no APHM que se rompem mantendo as relações de
dominados e dominantes, dificultando a horizontalização das relações e proporcionando um
distanciamento das relações eu- tu, eu – nós, no momento de deliberar no cuidado Pré-hospitalar
móvel.
A pesquisa fundamentada nas bases teóricas da Fenomenologia Social permitiu construir
um subsídio para ação da profissional enfermeira junto à equipe e a pacientes que necessitam de
um atendimento inicial no momento do socorro, por abordar a deliberação moral vivenciada, por
enfermeiras, no mundo social do APHM, mundo este, adverso pelas suas peculiaridades, onde esse
grupo social pode modificar e ser modificado.
O estudo apresenta como limites o fato de ser desenvolvido em um grupo social específico,
situado em um tempo e espaço de interesses e valores que convergem, e que necessitam consenso
na direção da manutenção da vida, com características próprias do seu mundo vida, o que pode
divergir de outras realidades. Esse fato inviabiliza as generalizações dos resultados a outros grupos,
com características diversas deste.
78
No entanto, outras compreensões precisam ser dirigidas para o mundo social do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência, buscando as ações de cuidar como interesses comuns daqueles
que fazem parte dessa prática. Nesse sentido, faz-se necessário acreditar que as enfermeiras que
atuam no APHM podem se tornar sujeitos no próprio mundo-vida de atuação, ao agir e modificar
a atitude natural encontrada. Ao superarem as relações assimétricas, vão ao encontro da visibilidade
e reconhecimento dos seus papéis no serviço, visto que, a busca por relações sociais mais
igualitárias e respeitosas se configuram como um mediador de transformações sociais, dos
comportamentos éticos, além das ações de deliberar e cuidar.
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APENDICES
Apendice A – Solicitação de autorização da coleta de dados
86
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
87
Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
1 Instruções aos Participantes
O momento do cuidar das vítimas no APHM apresenta situações que geram um tempo de
dúvidas, questionamentos ou necessidade de correções de elementos da prática cotidiana dos
profissionais. Estas inquietações envolvem a atuação da enfermeira no processo de deliberação.
Eu, Simone da Silva Oliveira, estou desenvolvendo o projeto de Dissertação de mestrado
no Programa de Pós- graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade
Federal da Bahia, intitulado: “Deliberação moral da enfermeira no cuidado Pré-hospitalar à luz da
fenomenologia social”. O objetivo geral é compreender a experiência vivida pelas enfermeiras
frente à deliberação moral no cuidado Pré-hospitalar Móvel, tendo como orientadora a Professora
Doutora Darci de Oliveira Santa Rosa.
Venho convidar-te, a participar deste projeto, a sua participação se dará através de uma
entrevista gravada, auxiliada por questões de aproximação e norteadoras, com vistas a contribuir
compreensão da deliberação moral da enfermeira no cuidado Pré-hospitalar. A entrevista
acontecerá nos períodos pré-definidos por você, conforme a sua disponibilidade.
Os resultados dessa pesquisa serão divulgados através da dissertação, publicação de artigos
e apresentação em eventos científicos, nos quais garantiremos o seu anonimato com uso de
pseudônimo.
Informo que para garantir sua privacidade e anonimato a entrevista será efetuada em local
reservado e guardada por nós pesquisadoras durante cinco anos e solicito sua autorização para
decidir sobre o destino delas depois deste tempo, como guarda-las no banco de dados do Grupo de
estudos e pesquisa EXERCE.
Serão mantidos o respeito e o anonimato da sua identidade e da instituição, não havendo
qualquer associação entre os dados obtidos e o seu nome. Os benefícios desta pesquisa serão os
conhecimentos acerca da deliberação moral que podem subsidiar a sua prática como enfermeira
que atua no SAMU 192.
Esta entrevista poderá causar riscos de constrangimentos durante sua aplicação por abordar
a subjetividade através das suas vivências frente ao fenômeno da deliberação moral, com isso você
tem total liberdade para não participar ou deixar de responder as perguntas que lhe causem algum
desconforto, ou mesmo pode desistir de participar da pesquisa em qualquer fase desta, sem
penalização alguma e sem nenhum prejuízo a sua vida profissional, mesmo após ter acordado
anteriormente. Caso ocorra, podemos também, suspender e reagendar para outro momento, até que
se sinta melhor.
Nós pesquisadores esclarecemos que não haverá ônus para você como participante da
pesquisa e nos responsabilizamos por qualquer tipo de dano previsto ou não neste termo de
consentimento, prestando-lhe assistência integral, e/ou indenização caso seja necessário.
Ao se considerar devidamente esclarecida pelas pesquisadoras quanto aos objetivos desta
pesquisa convido você a assinar esse termo, sendo que uma cópia ficará em suas mãos e outra com
a pesquisadora. Estaremos à sua disposição para esclarecer qualquer tipo de dúvida sobre a pesquisa
a qualquer momento que deseje.
Este projeto e Termo de consentimento Livre e Esclarecido será apreciado pelo Comitê de
Ética da Escola de Enfermagem da UFBA, caso sinta alguma duvida sobre o mesmo poderá entrar
em contato com o CEP pelo telefone 3283.7615. End.: Rua Augusto Viana, S/N Bairro Canela
CEP.: 40 110 060 – Salvador.
88
2 Termo de Consentimento Livre e Pós- Esclarecido
Sinto-me suficientemente esclarecido com as orientações fornecidas pela mestranda Simone da
Silva Oliveira. Entendi que serei entrevistada e a entrevista será gravada, que poderei me recusar a
participar a qualquer momento da pesquisa. Não terei despesas com o projeto. Terei minha
identidade e a da instituição a que pertenço preservadas, o risco que corro é o do constrangimento
com as perguntas e se me sentir constrangida poderei interromper minha participação na pesquisa,
assim como poderei receber informações a qualquer tempo. Entendi que os resultados poderão ser
divulgados em dissertação, em eventos e em revistas científicas.
Ficou claro para mim que este projeto passou por um Comitê de Ética em Pesquisa. Diante
destas considerações registro o meu de acordo.
Salvador, ______ de _______________ de 2014
__________________________
Entrevistada
Simone da Silva Oliveira
Pesquisadora Responsável/UFBA
Tel.: (75) 81151846 / 3422-2114
Darci de Oliveira Santa Rosa
Orientadora
Tel: (71) 88144101
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
Apêndice C- Roteiro para entrevista
Local da entrevista: __________________________________________
Data:___________ Início: ______h
Nº da entrevista: ___
IDENTIFICAÇÃO
Sexo
Término: _____h
89
Idade
Tempo de formação:
Tempo de atuação na área:
Outros vínculos empregatícios:
Especialidade ( ) Sim
(
Carga horária semanal:___
) Não
Qual?________________
Instituição formadora:
QUESTÕES DE APROXIMAÇÃO
O que você entende por deliberação moral?
E por tomada de decisão ética/moral?
QUESTÃO NORTEADORA
Fale-me como você tem vivido a deliberação moral ou tomada de decisão ética/moral tendo em
vista o cuidado Pré – hospitalar Móvel?
ANEXOS
Anexo 1 – Parecer Consubstanciado
90
91
92
Anexo 2 – Termo de Anuência
93
Anexo 3 Declaração de encaminhamento
Download

A motivação para este estudo teve início durante a minha vida