Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. TV DIGITAL NO BRASIL: DO SBTVD AO IMPASSE Alex Pereira de Moura1 RESUMO Apresentam-se as implicações decorrentes da possível implantação da TV Digital no Brasil. A TV Digital é um sistema de transmissão de dados através de um código binário no qual o som e a imagem são digitalizados, ou seja, transformados em séries que combinam os dígitos 0 e 1 que, por sinal, é a mesma linguagem utilizada pelos computadores. São apresentados aspectos fundamentais da TV Digital, dos padrões já estabelecidos e o panorama brasileiro, além de referências ao potencial multimídia deste sistema de comunicação e uma análise, através de estudos exploratórios, das perspectivas de implantação de um sistema de TV Digital no Brasil PALAVRAS-CHAVE: TV Digital, Sistema de Comunicação, Convergência Em meados da década de 1980 a possibilidade de difusão digital de televisão era considerada uma realidade muito longe de ser alcançada. O principal motivo para este pensamento era a necessidade de se ter taxas de transmissão consideradas elevadas – entre 108 a 207 Mbit/s – para não ser necessário o uso da codificação. (SÂMIA et al 2003). Além das limitações tecnológicas, a TV Digital teve que disputar espaço com a HDTV (High Definition TV). Segundo Zuffo (2001) o conceito que se tem de TV Digital confundiu-se com o de HDTV. Enquanto a HDTV tinha a preocupação de melhorar a imagem através da alta definição a TV Digital estava focada em aumentar o número de canais, programas e serviços disponíveis, contudo ainda não havia sido encontrada a solução tecnológica para isto. Pode-se definir TV Digital como: um sistema de radiodifusão televisiva que transmite sinais digitais, em lugar dos atuais, analógicos. É um sistema mais eficiente, no que diz respeito à recepção dos sinais, pois, na transmissão analógica cerca de 50% dos pontos de resolução de uma imagem se perdem e, portanto, apenas metade deles são recebidos nos 1 Aluno do Curso de Pós-Graduação em Comunicação Midiática – Nível Mestrado da FAAC – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Bauru-SP ([email protected]). 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. lares. Já a transmissão digital permite que a íntegra do sinal transmitido pelas emissoras seja recebido pelos televisores domésticos. (MELO, 2000 p.7) Verifica-se, então, no início dos anos 90, a rápida evolução de algoritmos de compressão de dados que atingem níveis (de compressão) elevados para a transmissão de imagens digitais. É o surgimento de tecnologias como o JPEG, para a fotografia e o MPEG para imagens em movimento (SÂMIA et al 2003). Os equipamentos tornaram-se acessíveis para o desenvolvimento da Televisão Digital e, por outro lado, o preço dos receptores de HDTV não iria atingir rapidamente um nível de preço acessível ao consumidor. Por estas razões e pelo fato de os consumidores estarem interessados no conteúdo e no número de programas oferecidos intensificou-se as pesquisas acerca dos sistemas de transmissão de TV digital. (SÂMIA et al 2003). Hoje todo um sistema completo de televisão que é composto por três componentes, representados na Figura 1 a seguir, pode ser todo digitalizado, ou seja, a imagem, o áudio e demais informações são geradas, transmitidas e recebidas na forma de sinais digitais. Estúdio Envolve entre outras, as atividades de produção (gravação de cenas), pós-produção (edição e acabamento), transmissão de sinais entre diferentes setores da emissora ou entre um veículo e a base (reportagens externas) e armazenamento dos vídeos. 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. Radiodifusão (broadcast) Sistema de recepção Transmissão das informações para o usuário final Antena e o receptor (Televisor) Figura 1: Sistema de transmissão Fonte: Ministério das Comunicações: TV Digital – Curso Para Jornalistas, 2004 Padrões de TV Digital Até ao início da década de 90, a radiodifusão da Televisão Digital era impensável devido aos custos elevados para a sua implementação. Durante o ano de 1991 a evolução tecnológica tornou a compressão digital de vídeo cada vez mais viável, o que levou a uma discussão em torno da Televisão Digital Terrestre. Hoje estão estabelecidos três padrões de TV Digital no mundo, que em linha geral são: O padrão ATSC prevê uma melhor inter-operabilidade entre os atuais sistemas analógicos(seja PAL-M ou NTSC) com a futura transmissão digital, podendo utilizar receptores no formato tradicional 4x3 ou no formato HDTV (16x9). O padrão DVB é voltado para uma utilização mais eficiente do espectro através de técnicas modernas de modulação e transmissão dos sinais, mas com ênfase na utilização de aparelhos receptores com o formato tradicional 4x3. O ISDB é voltado para a utilização da TV não apenas como um meio de recepção de imagens em tempo real, mas como um verdadeiro sistema multimídia bidirecional, provendo recursos para o usuário escolher uma dentre várias fontes de imagem (múltiplas câmeras), também utilizando as mesmas técnicas de modulação do padrão DVB. (ZUFFO, 2001:24) Tais sistemas apresentam as especificidades técnicas apresentadas no Quadro 1. QUADRO 1 – Comparativo dos sistemas de TV Digital Sistema Freqüência Modulação HDTV ATSC 6MHz 8-VSB Sim DVB-T 8MHz COFDM Não ISDB-T 6MHz COFDM Sim Fonte: SET/ABERT 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. O “Padrão Europeu” de TV Digital No ano de 1991 foi constituído o European Launching Group (ELG). O ELG tinha como função definir e normalizar um sistema de transmissão ao digital de televisão na Europa. Em 1993, é criado o Digital Video Broadcasting (DVB), baseado no Main Profile Main Level (MPML) da norma internacional de compressão MPEG-2. De modo a englobar todos os meios de transmissão ao de televisão, o DVB dividiu-se em três padrões: o cabo (DVB-C), o satélite (DVB-S) e o terrestre (DVB-T) (SÂMIA et al 2003). Neste trabalho irá se discutir o DVB-T que é o que já se encontra consolidado. Verifica-se após de 1993 uma expansão do ELG-DVB que passou a incluir os maiores grupos de interesse no audiovisual da Europa (radiodifusores públicos e privados, indústria eletrônica, operadores de rede e reguladores). O ELG-DVB começou a elaborar o Memorandum of Understanding (MoU), no qual se estipulavam as regras a utilizar no desenvolvimento e harmonização do DVB. O MoU foi o ponto de partida para a unificação de muitos interesses, significando que interesses comerciais rivais precisavam de ter em conta requisitos e objetivos comuns (SÂMIA et al 2003). O DVB juntou os maiores interesses televisivos europeus num único grupo, com o intuito de desenvolver um sistema completo de Televisão Digital.Tornou-se claro que o satélite e o cabo iriam fornecer os primeiros serviços de Televisão Digital. Menos problemas técnicos e uma fácil normalização das suas especificações, levaram a que estes se desenvolvessem mais rapidamente que o sistema terrestre. Porém, foi através do sistema terrestre que o DVB se estabeleceu plenamente (SÂMIA et al 2003). Por volta de 1997, o desenvolvimento do projeto DVB tinha atingido os seus objetivos iniciais, entrando numa nova fase que visava promover as suas especificações 4 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. de um modo global e a criação do padrão (standard) aberto para a Televisão Digital interativa: Multimedia Home Platform (MHP) (MELO, 2000). O DVB-T caracteriza-se por apresentar a flexibilidade do sistema contemplada na sua definição, de forma que através de alguns dos canais simultâneos podem ser veiculados dados, o que propicia o desenvolvimento de aplicações interativas. É desta maneira, aliás, que a TV digital vem sendo utilizada na Europa, especialmente na Inglaterra, onde ela é mais difundida. (MELO, 2000) Alternativamente, o sistema DVB permite que, em lugar de até quatro canais de Standard Definition Television SDTV, seja transmitido um único canal de HDTV, continuando parte da banda reservada para serviços de dados. Além da flexibilidade, a robustez do sistema foi também privilegiada, na medida em que ele necessita atender a uma grande diversidade de geografias e formas de recepção, como são as dos vários países europeus (MELO, 2000) Ainda podem ser elencadas como características do DVB-T, conforme SÂMIA et al, 2003: • O sistema tem que coexistir com o PAL (Partilha da banda VHF/UHF) conforme Figura 2. Figura 2: Transmissão DVB-T Fonte: Ministério das Comunicações: TV Digital – Curso Para Jornalistas, 2004 • Necessidade de sistema com elevada robustez à interferência co-canal e interferência devida a canais adjacentes. • Efeitos de propagação potencialmente nocivos: a) multipercursos; b) ecos (outros transmissores no caso de utilizar uma Single Frequency Network) c) Efeito Doppler (mobilidade) 5 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. • MPEG - 2 • Sistemas de correção de erros: Viterbi e Reed Solomon • Modulação OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplexing) • Dois modos: 2K (1705 portadoras) ou 8K (6817 portadoras) • Tempo de guarda variável (1/4, 1/8, 1/16, 1/32) para acomodar o Delay Spread • Modulação das sub-portadoras depende da qualidade do canal de propagação: QPSK, 16-QAM ou 64-QAM. • Hierarquização do tráfego (maior proteção e menor taxa de transmissão para tráfego destinado a um receptor móvel) • Canais de largura de banda de 6MHz, 7MHz ou 8MHz • Taxa de transmissão depende dos parâmetros de codificação e modulação, que por sua vez, dependem do canal de propagação • Taxa de transmissão máxima da ordem de 32Mbps • Banda de transmissão: VHF/UHF O custo da transição para o DVB-T está associado ao equipamento de recepção que será instalado. Existem duas opções: a substituição do televisor por um com sistema digital integrado de recepção ou a inclusão de apenas mais um elemento, a set-top-box, que é um dispositivo para converter os sinais digitais para o padrão analógico (FASSOLO, 2005) Num primeiro momento o set-top-box é um caminho mais barato de migração para o digital porque você pode aproveitar o que você tem em casa hoje. Comprar o set-top-box simplesmente para converter o sinal digital para analógico. Ou para áudio e vídeo, você entrar nas portas de áudio e vídeo do seu aparelho e para você num futuro comprar um display integrado.[...] No primeiro momento em que o receptor é caro, o display é caro comprar conjugado é mais complicado. Fora que a evolução do set-top-box vai ser muito mais rápida do que a do televisor. É mais prudente você comprar um set-topbox e depois comprar um receptor integrado do que você já partir para um receptor integrado.[...] Na Europa o mercado é quase que cem por cento settop-box (FRANCO, 2005) Apesar de desenvolvido na Europa, desde o princípio o sistema DVB visava o mercado mundial, pois suas especificações são extremamente abrangentes e prevêem condições de utilização distintas das européias. Como exemplo, tem-se que, embora naquele continente a largura de banda de um canal de televisão seja de 8 MHz, o DVB 6 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. permite a sua utilização com larguras de banda de 7 e de 6 MHz, que é o caso nas Américas. (MELO, 2000) O consórcio DVB possui atualmente, mais de 260 membros, tendo o seu sistema sido adotado, além dos países europeus, pela Austrália, Nova Zelândia, Singapura e Índia.(www.dvb.org) O “Padrão Americano” de TV Digital Nos Estados Unidos, a introdução da Televisão Digital teve início em 1998. O Advanced Television Systems Committe (ATSC), organismo que estabelece qual o padrão a ser utilizado nos EUA, optou por introduzir em simultâneo, a Televisão Digital e a Televisão de Alta Definição (HDTV), o que acabou criando a necessidade dos consumidores americanos de comprar novos receptores. Em conseqüência desta opção e do elevado preço dos receptores, a penetração junto dos consumidores americanos, num primeiro momento, foi baixa. (SÂMIA et al, 2003) O ATSC tem algumas limitações, foi projetado para oferecer uma TV de alta definição de imagem. Porém, em sua concepção original, a convergência com aparelhos como os celulares de Terceira Geração e a utilização da TV móvel foram deixadas de lado. Contudo, hoje, o sistema americano permite também a transmissão de Standart Definition Television SDTV e de canais de dados para a implementação da interatividade. Mesmo assim é um sistema que permite a utilização de muito pouco do que a TV digital pode oferecer. Utiliza o MPEG-2 para a codificação do sinal de vídeo e o Dolby AC-3 para o áudio (MELO, 2000). Apesar das restrições técnicas do sistema de modulação americano, reveladas também pelo relatório da ABERT/SET (2002), o padrão ATSC possui uma característica de valor inegável: uma camada de software com interface aberta – o 7 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. DASE (DTV Application Software Environment), que permite que as aplicações e os serviços interativos sejam executados normalmente em qualquer receptor. O ATSC foi adotado nos Estados Unidos, no Canadá, no México, em Taiwan e na Coréia do Sul. 5.1.1 O “Padrão Japonês” de TV Digital O padrão japonês é denominado ISDB - Integrated Service Digital Broadcasting foi criado em 1999, no Japão, por um grupo de empresas, fabricantes e operadoras de televisão e de telecomunicações capitaneado pelo governo japonês, contudo só foi colocado em operação oficialmente em 2003 nos três maiores centros urbanos daquele país – Tokyo, Osaka e Nagoya –, e no restante do Japão até o início de 2006. (MELO 2000). O sistema japonês baseou-se nos conceitos do DVB, com um aprimoramento de suas qualidades de robustez e flexibilidade o que permite que sejam transmitidos dados, imagem e som, com tipos de modulação e taxas de transmissão diferentes, configuráveis em até três grupos independentes e reprogramáveis de sinais (SÂMIA et al 2003). A faixa de transmissão do canal de televisão consiste de 13 segmentos. Os parâmetros de transmissão podem ser definidos independentemente para cada segmento, utilizando-se integralmente as propriedades da modulação na qual as portadoras são configuradas para serem ortogonais uma às outras. Portanto, na transmissão hierárquica em que os programas são transmitidos com níveis de robustez diferentes, a possibilidade de estabelecer parâmetros de transmissão específicos para os respectivos níveis hierárquicos, ou seja, definir esquema de modulação/correção de erro/transposição temporal específicos, é extremamente importante. No ISDB um canal pode ter até três níveis hierárquicos. 8 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. O sistema ISDB provê uma largura de faixa de recepção mínima de 430 KHz (um segmento), além da largura de faixa de transmissão normal de 5,6 MHz. Além destas características destacam-se: • alta definição, • mobilidade, • portabilidade, • data casting (serviços de dados) e • flexibilidade. (SÂMIA et al 2003). A aplicação de um segmento, realizado em uma porção do sinal transmitido de TV, pode ser uma ferramenta poderosa na construção de um novo modelo de negócio para provimento de vídeo, orientado para recepção portátil, por si só ou quando integrado a outra mídia. (MELO 200) O sistema ISDB possui o modo 4K adicionalmente aos modos 2K e 6K. O modo 4K suporta as características de transmissão requeridas tanto para recepção fixa quanto para recepção móvel e é, portanto mais adequado para uma programação combinando recepção fixa / móvel / portátil. (SÂMIA et al 2003). Panorama da TV Digital no Brasil No Brasil a decisão sobre o padrão a ser adotado foi colocada em consulta pública pela Agência Nacional de Telecomunicações - Anatel. Os 9 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. testes de campo e laboratório realizados pelo grupo SET – Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Abert – Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão - apontaram a modulação COFDM como sendo a ideal para as condições brasileiras. O COFDM é usado tanto pelo padrão europeu DVB-T quanto pelo japonês ISDB-T. Pela primeira vez, o grupo formado pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (SET/Abert) descartou oficialmente para o Brasil o padrão de TV digital DVB, adotado pela Comunidade Européia. Nos comentários que o grupo SET/Abert encaminhou à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), referentes à consulta pública do relatório elaborado pela Fundação CPqD, está a sugestão para que o órgão regulador adote não só o padrão como o modelo de negócios da tecnologia ISDB. "O japonês é o único que atende ao modelo de negócio flexível defendido pela Abert", disse o coordenador do grupo, Fernando Bittencourt, em 12/6/2001, durante o "22º Congresso Brasileiro de Radiodifusão", em São Paulo. Segundo Roberto Franco, presidente da SET, o que a instituição fez “foi analisar o que já existe no mundo inteiro” (FRANCO 2005) e ressalta “Nós comparamos os 3 padrões mundiais, ou seja, sistemas reconhecidos pela OIT”. Franco acrescenta que “Pegamos os 3 sistemas: o ATSC, o ISDB e o DVB, 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. comparamos estes sistemas tecnologicamente e procuramos entender qual seria o impacto no Brasil.” Franco aponta que “o melhor caminho para o Brasil é adotar um destes 3 sistemas ou desenvolver parte destes sistemas, ou seja, sem reinventar a roda, mas fazendo com que ele atenda a necessidade do mercado brasileiro.” Segundo os estudos da SET, Franco destaca as características que o padrão adotado no Brasil deva ter: que ele consiga ter a robustez que nós precisamos, que ele seja forte o suficiente, o robusto o suficiente para resistir a ruídos, a condições de recepção não muito adequadas, como a gente tem aqui no Brasil, em que a gente tem um controle bom da parte de transmissão, mas a condição de recepção na casa do telespectador nem sempre é a mais adequada. Que ele seja robusto o suficiente para atender esta característica e ao mesmo tempo flexível para que a tecnologia não seja limitadora das aplicações. Que deixe para os exploradores dos serviço e para os consumidores do serviço decidam o que é bom e o que é ruim na TV Digital. Não é a tecnologia que tem que definir que deva ser Standard Definition, High Definition, móvel , portátil. Que a tecnologia seja transparente. Você tem aí o Sistema Europeu e o Sistema Japonês que atendem muito bem a isso. (FRANCO, 2005) Dentre os 3 padrões vigentes Franco (2005) é categórico “o Sistema Japonês é o melhor tecnologicamente”. Franco (2005) ainda destaca: “No governo passado, ainda Fernando Henrique, no final do governo, por volta de 1998, 1999, o Brasil estava muito próximo da decisão.” sobre qual sistema o Brasil iria adotar e que a decisão foi postergada porque 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. “o presidente Fernando Henrique achou que no final do governo não deveria tomar uma decisão, que é uma decisão complexa com vários interesses em jogo”. E, partir de 2002, “O governo Lula resolveu reestudar todo o assunto. Achava que o assunto não havia sido suficientemente discutido” No início do Governo Lula, o Ministro das Comunicações Miro Teixeira anuncia o projeto do Sistema Brasileiro de TV Digital – SBTVD que deve ter as seguintes características: I promover a inclusão social, a diversidade cultural do País e a língua pátria por meio do acesso à tecnologia digital, visando à democratização da informação; II propiciar a criação de rede universal de educação à distância; III estimular a pesquisa e o desenvolvimento e propiciar a expansão de tecnologias brasileiras e da indústria nacional relacionadas à tecnologia de informação e comunicação; IV planejar o processo de transição da televisão analógica para a digital, de modo a garantir a gradual adesão de usuários a custos compatíveis com sua renda; V viabilizar a transição do sistema analógico para o digital, possibilitando às concessionárias do serviço de radiodifusão de sons e imagens, se necessário, o uso de faixa adicional de radiofreqüência, observada a legislação específica; VI estimular a evolução das atuais exploradoras de serviço de televisão analógica, bem assim o ingresso de novas empresas, propiciando a expansão do setor e possibilitando o desenvolvimento de inúmeros serviços decorrentes da tecnologia digital, conforme legislação específica; VII estabelecer ações e modelos de negócios para a televisão digital adequados à realidade econômica e empresarial do País; VIII aperfeiçoar o uso do espectro de radiofreqüências; IX contribuir para a convergência tecnológica e empresarial dos serviços de comunicações; X aprimorar a qualidade de áudio, vídeo e serviços, consideradas as atuais condições do parque instalado de receptores no Brasil; e XI incentivar a indústria regional e local na produção de instrumentos e serviços digitais. (ATOS DOS PODER EXECUTIVO, DECRETO 4.901, 26 DE NOVEMBRO DE 2003) Conforme o Decreto nº 4901 de 26/11/03 foram instituídos os seguintes comitês para a implantação do SBTVD: • Comitê de Desenvolvimento, com a participação de representantes dos vários ministérios e da Anatel. • Comitê Consultivo, com a participação de entidades representativas. • Grupo Gestor, com apoio técnico e administrativo da Finep e do CPqD. 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. Hoje são 105 instituições envolvidas no projeto SBTVD, entre universidades, centros de pesquisa, indústrias e emissoras, agrupadas em 22 consórcios, com os trabalhos técnicos coordenados pelo CPqD . Ao todo, são 1.300 pesquisadores das cinco regiões do país desenvolvendo a tecnologia, a linguagem e um modelo de conteúdo para o Sistema Brasileiro de TV Digital (BECKER, 2005). Diversos cronogramas foram estabelecidos, porém nenhum deles foi cumprido. Para Franco (2005) “A SET considera que o assunto, do ponto de vista tecnológico, já está totalmente esgotado, totalmente discutido.” e acrescenta que “O Brasil é hoje um dos países mais conhecedores do assunto, que tem maior domínio sobre a tecnologia em comparação entre os 3 sistemas existentes.” Franco (2005) vai além da questão tecnológica e afirma que “do ponto de vista de negócios já se tem bastante elemento de decisão para iniciar o processo.” De acordo com o Ministério das Comunicações (29/12/2005), em junho, durante a Copa do Mundo, será feita a primeira transmissão oficial em canal aberto da tv digital, em São Paulo. Ainda, de acordo com o MC, em setembro, as emissoras de televisão devem entrar em operação comercial. “O atraso da ação no Brasil é prejudicial ao país, a indústria e ao mercado de televisão.” (FRANCO, 2005) REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS: ATOS do Poder Executivo , Decreto 4.901, 26 DE NOVEMBRO DE 2003 BECKER, Valdecir - Plano de Comunicação do SBTVD, Brasília, MC, 2005 BENEYTO, J.V.La ventana global, Madrid: Taurus, 2002 FASSOLO, Sandro. Entrevista concedida a Alex Pereira de Moura, Santa Rita do Sapucaí, 08 set. 2005. FRANCO, Roberto Dias Lima, Entrevista concedida a Alex Pereira de Moura, São Paulo, 27 set. 2005. MELO, Paulo Roberto de Sousa Melo TV DIGITAL: DESAFIO OU OPORTUNIDADE ,Rio de Janeiro, BNDES, 2000 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006. MEYROWITZ, J. Medium theory. In D. Crowley & D. Mitchell (org). Communication theory today. Cambridge: Polity Press, 1994. pp. 50-77 MEYROWITZ, Joshua. Multiple Media Literacies. In: Journal of Communication 43(3). New York, Summer, 1998. pp. 96-108. NEMICHE, M. Un Modelo sistémico de evolución social dual, Barcelona, Universidade Autônoma de Barcelona, 2002. SÂMIA et al Digital TV Systems and Standards, Santa Rita do Sapucaí, FINATEL, 2003 SEVERINO, A .J. Metodologia do trabalho científico. 20ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 1997 STRAUBHAAR, Joseph D. Thompson Learning, 2004. Comunicação, Mídia e Tecnologia São Paulo: Pioneira THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia - Petrópolis: Vozes, 1998 VILCHES, Lorenzo A migração digital – São Paulo – Rio de Janeiro : Edições Loyola, Editora PUC – Rio, 2003 ZUFFO, Marcelo Knörich A Convergência da Realidade Virtual e Internet Avançada em Novos Paradigmas de TV Digital Interativa, 2001, 91p. Sitiografia Site da organização norte-americana que desenvolveu o sistema de TV Digital ATSC <www.atsc.org> acessado em 20 de julho de 2005 Site do grupo que desenvolveu o sistema de TV Digital Europeu <www.dvb.org> acessado em 01 de agosto de 2005. Site da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão <www.abert.org.br> acessado em 02 de agosto de 2005. Site da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações <www.set.com.br> acessado em 04 de agosto de 2005 Site da Agência Nacional de Telecomunicações <www.anatel.gov.br> acessado em 06 de agosto de 2005. Site do Sistema Brasileiro de TV Digital < http://sbtvd.cpqd.com.br> acessado em 28 de agosto de 2005 1