A Regulação do Setor Ferroviário Brasileiro FÁBIO FERREIRA DURÇO (Organizador) A Regulação do Setor Ferroviário Brasileiro AUTORES Cleveland Prates Teixeira Fábio Ferreira Durço Fernando Scharlack Marcato Frederico Araújo Turolla Luís Felipe Valerim Pinheiro Mário Engler Pinto Júnior Pedro Augusto Godeguez da Silva Belo Horizonte 2015 CONSELHO EDITORIAL Álvaro Ricardo de Souza Cruz André Cordeiro Leal André Lipp Pinto Basto Lupi Antônio Márcio da Cunha Guimarães Bernardo G. B. Nogueira Carlos Augusto Canedo G. da Silva Carlos Bruno Ferreira da Silva Carlos Henrique Soares Claudia Rosane Roesler Clèmerson Merlin Clève David França Ribeiro de Carvalho Dhenis Cruz Madeira Dircêo Torrecillas Ramos Emerson Garcia Felipe Chiarello de Souza Pinto Florisbal de Souza Del’Olmo Frederico Barbosa Gomes Gilberto Bercovici Gregório Assagra de Almeida Gustavo Corgosinho Jamile Bergamaschine Mata Diz Janaína Rigo Santin Jean Carlos Fernandes Jorge Bacelar Gouveia – Portugal Jorge M. Lasmar Jose Antonio Moreno Molina – Espanha José Luiz Quadros de Magalhães Kiwonghi Bizawu Leandro Eustáquio de Matos Monteiro Luciano Stoller de Faria Luiz Manoel Gomes Júnior Luiz Moreira Márcio Luís de Oliveira Maria de Fátima Freire Sá Mário Lúcio Quintão Soares Martonio Mont’Alverne Barreto Lima Nelson Rosenvald Renato Caram Roberto Correia da Silva Gomes Caldas Rodolfo Viana Pereira Rodrigo Almeida Magalhães Rogério Filippetto de Oliveira Rubens Beçak Vladmir Oliveira da Silveira Wagner Menezes William Eduardo Freire É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico, inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora. Impresso no Brasil | Printed in Brazil Arraes Editores Ltda., 2015. Coordenação Editorial: Fabiana Carvalho Produção Editorial e Capa: Danilo Jorge da Silva Revisão: Raquel Rezende 385.0981 A regulação do setor ferroviário brasileiro / [organizado por] R344 Fábio Ferreira Durço. – Belo Horizonte: Arraes Editores, 2015. 2015p.118 ISBN: 978-85-8238-190-8 1. Ferrovias – Brasil – História. 2. Setor ferroviário – Brasil – Regulação. 3. Transporte ferroviário de cargas. 4. Setor Ferroviário – Competitividade. 5. Ferrovias – Desestatização. I. Durço, Fábio Ferreira (org.). II. Título. CDD – 385.0981 CDU – 656.2(81) Elaborada por: Fátima Falci CRB/6-nº700 Matriz Rua do Ouro, 603 – Bairro Serra Belo Horizonte/MG - CEP 30210-590 Tel: (31) 3031-2330 Filial Rua Senador Feijó, 154/cj 64 – Bairro Sé São Paulo/SP - CEP 01006-000 Tel: (11) 3105-6370 www.arraeseditores.com.br [email protected] Belo Horizonte 2015 Ao meu filho, João Pedro. V Sumário Capítulo 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................1 Fábio Ferreira Durço Capítulo 2 HISTÓRIA DAS FERROVIAS NO BRASIL...................................................4 Fábio Ferreira Durço 2.1. Arcabouço regulatório e o desenvolvimento do setor ferroviário........4 2.2. Decadência do sistema ferroviário brasileiro............................................9 Capítulo 3 DESESTATIZAÇÃO E ARCABOUÇO REGULATÓRIO...........................13 Fábio Ferreira Durço 3.1. Arcabouço regulatório..................................................................................19 Capítulo 4 O RISCO MORAL NOS CONTRATOS DE CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGAS..........................................................................................................24 Fábio Ferreira Durço Luís Felipe Valerim Pinheiro 4.1. Noções do conceito econômico de risco moral (“moral hazard”) na teoria econômica......................................................................................24 4.2. Situações de risco moral nos contratos de concessão de transporte ferroviário de cargas......................................................................................26 4.2.1. Metas do serviço de transporte ferroviário de cargas e investimentos.....................................................................................26 VI 4.2.2. Compartilhamento de infraestrutura ferroviária por meio de tráfego mútuo e de direito de passagem....................................30 4.2.3. Tarifas.....................................................................................................32 Capítulo 5 DESENVOLVIMENTO DO SETOR FERROVIÁRIO APÓS A DESESTATIZAÇÃO.............................................................................................37 Fábio Ferreira Durço 5.1. Investimentos..................................................................................................39 5.2. Valec..................................................................................................................40 5.3. Indústria de vagões e material rodante......................................................42 5.4. Produção ferroviária......................................................................................45 5.5. Geração de empregos.....................................................................................47 Capítulo 6 COMPETIÇÃO NO SETOR FERROVIÁRIO...............................................48 Fábio Ferreira Durço 6.1. Separação vertical e manutenção da integração vertical.........................52 6.2. Competição com integração vertical..........................................................54 Capítulo 7 PPP SETOR FERROVIÁRIO: PERSPECTIVAS JURÍDICAS......................55 Mario Engler Pinto Junior 7.1. Introdução.......................................................................................................55 7.2. As disfunções do modelo de concessão.....................................................56 7.3. A proposta do governo brasileiro...............................................................59 7.4. Aplicação da PPP no setor ferroviário.......................................................61 7.5. Limites e possibilidades da legislação nacional........................................63 7.6. Considerações finais......................................................................................68 Capítulo 8 REGULAÇÃO E PARCERIA PÚBLICA PRIVADA: COMO CRIAR UMA INTERAÇÃO EFICIENTE......................................................................70 Frederico Araújo Turolla Cleveland Prates Teixeira Pedro Augusto Godeguez da Silva 8.1. Introdução.......................................................................................................70 8.2. Modelos de Parceria Público-Privada.........................................................71 VII 8.3. Regulação de mercado aplicada ao setor de transporte ferroviário......74 8.3.1. Razões para regular.............................................................................74 8.3.2. A economia do setor de transporte ferroviário.............................77 8.3.3. Instrumentos regulatórios e modelos concorrenciais..................79 8.4. A experiência internacional: estudo de casos............................................80 8.4.1. Estados Unidos...................................................................................80 8.4.2. Europa..................................................................................................81 8.4.3. Austrália e Japão.................................................................................82 8.4.4. América Latina....................................................................................83 8.5. Lições para o Brasil........................................................................................83 8.6. Conclusões......................................................................................................86 Capítulo 9 DEBATE SOBRE O NOVO MODELO REGULATÓRIO DO SETOR FERROVIÁRIO: ALGUNS APONTAMENTOS............................................87 Fernando Scharlack Marcato 9.1. Introdução.......................................................................................................87 9.2. O setor ferroviário e seus modelos regulatórios no Brasil.....................87 9.2.1. A relevância do setor ferroviário na matriz de transportes........88 9.2.2. Revisão do modelo regulatório no setor ferroviário nacional...90 9.2.3. A reforma de 2011..............................................................................93 9.3. A proposta para a reforma do Novo Marco Legal Brasileiro................94 9.3.1. A proposta do novo modelo institucional....................................95 9.3.2. Contribuições para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do modelo proposto..........................................................................96 9.4. Contextualização do novo modelo............................................................101 9.5. Conclusão........................................................................................................102 REFERÊNCIAS.....................................................................................................104 VIII Capítulo 1 Introdução Fábio Ferreira Durço1 A ideia da publicação deste livro remonta o final da década de 1990, quando os jornais impressos traziam uma ampla cobertura do processo de desestatização das ferrovias e enalteciam o renascimento da indústria ferroviária brasileira. A princípio, eram apenas recortes de jornais arquivados cuidadosamente em uma pasta fichário, que funcionaram, primordialmente, como estímulo para compreender o que se passava no Brasil e aproximar-me, talvez, da minha verdadeira vocação: a de historiador. A partir de 2006, depois de reunir uma centena de artigos de jornais sobre ferrovias, e já como aluno do curso de pós-graduação lato sensu da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP), escrevi o primeiro trabalho acadêmico sobre o setor ferroviário, que analisou o papel das ferrovias no desenvolvimento econômico brasileiro após o processo de desestatização iniciado em 1996. Já em 2011, como aluno do mestrado em economia na EESP, e depois de vários anos integrado à Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV DIREITO SP) direcionei o foco da pesquisa para a questão regulatória, em especial sobre o monopólio natural, a concorrência e o risco moral. Dessa forma, os primeiros capítulos deste livro derivam diretamente da minha dissertação de mestrado, denominada “A Regulação do Setor Ferroviário Brasileiro: Monopólio Natural, Concorrência e Risco Moral”, que analisou a eficiência econômica do arcabouço regulatório do setor ferroviário brasileiro e sua influência sobre o desenvolvimento do modal ferroviário no País e sobre as empresas detentoras dos atuais contratos de concessão vigentes desde a desestatização das ferrovias, iniciada em 1996. Minha hipótese é que a regulação, ainda que mínima, foi fundamental, na segunda metade da década de 1990, para criar as condições jurídicas e econômicas 1 Mestre em Economia pela FGV–EESP (2011), pós-graduado em Economia pela FGV–EESP/CEABE (2006), pós-graduação em Administração de Empresas (2003) pela FGV–EAESP/CEAG, Graduado em Administração de Empresas (1999). Graduando em Direito pela PUC/SP. Foi consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD - ONU) e integrou a equipe de coordenação do Projeto Pensando o Direito, realizado no âmbito da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça (SAL-MJ). Desde 2004, trabalha na Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV DIREITO SP). Atualmente, é vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da FGV DIREITO SP (GVlaw). 2 Fábio Ferreira Durço (Org.) necessárias para a desestatização do setor. Por outro lado, a despeito dos avanços econômicos do modal ferroviário nos primeiros quinze anos de concessão, é possível constatar distorções, exemplificadas pela baixa concorrência, pelo abandono de alguns trechos e pela falta de integração entre as malhas ferroviárias. Ao longo deste livro, também serão avaliadas as premissas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) relativas ao aperfeiçoamento do novo marco regulatório do setor, com o intuito de fomentar a concorrência por meio da definição de metas de produção por trecho, da devolução de trechos não utilizados pelas concessionárias e da definição de critérios mais objetivos para calcular o valor do pedágio, de modo a garantir o direito de passagem. Por essa razão, serão analisados os aspectos históricos do desenvolvimento das ferrovias no Brasil, as condições e premissas que nortearam o Estado no processo de desestatização, os instrumentos contratuais, os investimentos privados nas estradas de ferro, a experiência de outros países na condução de reformas para o fortalecimento do transporte ferroviário e finalmente as novas resoluções propostas pelo poder concedente em 2011, que são, conjuntamente, intituladas “o novo marco regulatório do setor ferroviário”. O capítulo 2 apresenta uma síntese do histórico das ferrovias brasileiras, abrangendo o período de 1854 a 1995. Também são identificadas as mudanças políticas, econômicas e sociais que levaram ao colapso da indústria ferroviária no Brasil a partir da década de 1980. O capítulo 3 aborda o processo de desestatização das ferrovias (iniciado em 1996) e o arcabouço regulatório vigente na segunda metade da década de 1990, fundamental para a estruturação jurídica e financeira dos contratos de concessão. Já o capítulo 4, de autoria conjunta com Luís Felipe Valerim Pinheiro, analisa os instrumentos contratuais, em especial em relação ao problema de risco moral sobre o direito de passagem. Quando o atual modelo de concessão das ferrovias foi elaborado (na primeira metade dos anos 1990), havia uma lógica política e econômica bastante diferente da dos dias atuais. O que orientou a construção dos contratos de concessão naquela época foi a necessidade de reduzir as despesas do Estado brasileiro, por meio da transferência dos déficits das estatais para a iniciativa privada. A preocupação principal da desestatização das ferrovias era eliminar o déficit. O contrato refletia essa lógica. O problema do risco moral sobre o direito de passagem é um dos pontos mais relevantes da proposta de alteração do marco regulatório do setor. Conforme será apresentado neste livro, essa questão representa um dos principais entraves para a falta de competitividade no setor ferroviário. O capítulo 5 aborda a evolução da indústria ferroviária brasileira ao longo dos últimos quinze anos, sua importância econômica e os desdobramentos sobre os setores correlacionados, como indústria de vagões e material rodante. Por sua vez, o capítulo 6 apresenta um estudo comparado sobre as reformas introduzidas no sistema de transporte de cargas e passageiros em vários A Regulação do Setor Ferroviário Brasileiro 3 países do mundo, com o objetivo de reverter os decréscimos dos níveis de produção, em parte, como consequência da competição com automóveis, ônibus, caminhões e aviões, além de oleodutos e hidrovias. Na sequência, o capítulo 7, desenvolvido por Mário Engler Pinto Júnior, aprofunda a discussão sobre o uso de instrumentos regulatórios para assegurar o compartilhamento da rede existente, apresenta o modelo de separação vertical e a nova proposta do governo brasileiro para o setor ferroviário, que prioriza o livre acesso. Finalmente, o capítulo aponta alternativas para o uso de contrato de parceria público-privada aplicadas ao setor. Já o capítulo 8, elaborado conjuntamente por Cleveland Prates Teixeira, Frederico Araújo Turolla e Pedro Augusto Godeguez da Silva, traz uma discussão de dois elementos-chave de desenvolvimento do setor ferroviário: o modelo estrutural, incluindo possível cooperação público-privada, e o marco regulatório do setor. O capítulo também apresenta a questão de como criar e manter uma infraestrutura valendo-se de instrumentos de parceria público-privada (PPP), os modelos disponíveis para tanto e uma reflexão sobre a experiência regulatória em outros países e sua aplicação, de forma propositiva, ao contexto brasileiro. Finalmente, o capítulo 9, elaborado por Fernando Scharlack Marcato, contextualiza as recentes propostas de alteração do novo modelo regulatório do setor ferroviário brasileiro (atualizadas até a data de elaboração deste capítulo) e pontua questões que podem impactar em sua estruturação e eficácia.