UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL - PGDR
A PECUÁRIA FAMILIAR UMA REALIDADE POUCO CONHECIDA:
ESTUDO DE CASO SOBRE A CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE
SÓCIO-ECONÔMICA DA PECUÁRIA FAMILIAR NO
MUNICÍPIO DE SANT´ANA DO LIVRAMENTO/RS
JORGE EDUARDO HAMILTON TORRES
PORTO ALEGRE
RIO GRANDE DO SUL – BRASIL
2001
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL - PGDR
A PECUÁRIA FAMILIAR UMA REALIDADE POUCO CONHECIDA:
ESTUDO DE CASO SOBRE A CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE
SÓCIO-ECONÔMICA DA PECUÁRIA FAMILIAR NO
MUNICÍPIO DE SANT´ANA DO LIVRAMENTO/RS
Monografia apresentada como requisito
para obtenção do título Especialista em
Desenvolvimento Rural e Agroecologia, sob a
orientação do professor Dr. Miguel Andrade
Miguel.
JORGE EDUARDO HAMILTON TORRES
PORTO ALEGRE
RIO GRANDE DO SUL – BRASIL
2001
Aos meus pais Grandenel e Ieda Torres
Pelo seu grande exemplo de amor, dedicação, compreensão e de perseverança, por
sempre acreditarem na nossa capacidade de superar limitações para vencermos os nossos
desafios da vida.
DEDICO
À Cristina, esposa e companheira dedicada;
devido ao estímulo, apoio e compreensão pela
ausência na família.
OFEREÇO
AGRADECIMENTOS
O autor expressa seus agradecimentos:
A EMATER/RS, por possibilitar e viabilizar a participação no curso;
Ao professor orientador Lovois, pelo profissionalismo e competência no compromisso
com a educação e pela sua atenção e disponibilidade para a qualificação do presente trabalho;
Aos colegas e amigos da EMATER/RS, municipais, regional e central pelo grande
espírito de solidariedade, colaboração e ajuda em todos os momentos necessários;
Aos colegas Engº Agrº José Romualdo Carvalho Ferrera e Claudio Marques Ribeiro
pela sua solidariedade e seu espírito de colaboração e de profissionalismo;
A gerencia regional Bagé pelo seu apoio e visão empreendedora;
A todos os professores do IEPE / UFRGS, pelos educadores que são e amigos que se
tornaram;
Aos colegas do curso pelo companheirismo e amizade;
A todos os funcionários administrativos, tanto da EMATER/RS, como do IEPE, pela
atenção, dedicação e simpatia demonstrada que sempre nos acompanharam;
Aos colegas Engenheiros Agrônomos, Companheiros, Funcionários da Biblioteca
Publica e Entidades de Classe de Santana do Livramento / RS que ajudaram e contribuíram
de distintas formas com este trabalho;
5
Aos agricultores e seus familiares que me acolheram e contribuíram de forma muito
sincera para que este estudo pudesse tornar-se realidade;
Aos amigos que apoiaram e deram força;
A DEUS pela família e amigos que tenho, tornando tudo isto realidade.
SUMÁRIO
CAP.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10
CAP.2 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 15
2.1 Entendimento sobre Desenvolvimento Rural ...................................................... 15
2.2 Abordagem e Análise Sistêmica .......................................................................... 18
CAP.3 METODOLOGIA .............................................................................................. 21
3.1 Complexidade dos Sistemas Agrários ................................................................. 21
3.2 Referencial Teórico ............................................................................................. 22
3.3 O Enfoque Sistêmico Aplicado a Agricultura ..................................................... 23
3.3.1 Sistema Agrário ............................................................................................. 24
3.3.2 Sistema de Produção ...................................................................................... 24
3.3.3 Sistema de Cultivo ......................................................................................... 24
3.3.4 Sistema de Criação ........................................................................................ 25
3.3.5 Itinerário Técnico .......................................................................................... 25
3.3.6 Definição de Agricultura Familiar ................................................................. 26
3.3.7 Uma Definição e Caracterização Aproximada de Pecuária Familiar ........... 29
3.4 Indicadores de Desempenho Econômico e para Análise e Sistematização das
Informações Obtidas no Decorrer da Pesquisa de Campo .................................. 30
3.4.1 Dimensão Econômica dos Sistemas de Produção ......................................... 30
3.4.2 Valor Agregado ............................................................................................. 30
3.4.3 Renda Agrícola .............................................................................................. 32
3.4.4 Renda Total .................................................................................................... 33
3.4.5 Indicadores Agro-econômicos Utilizados na Avaliação dos Sistemas de
Produção ........................................................................................................ 34
3.5 Análise – Diagnóstico dos Sistemas Agrários do Município de Sant’Ana do
Livramento ........................................................................................................... 38
3.5.1 Dados Secundários Coleta e Tratamento ....................................................... 38
3.5.2 Leitura da Paisagem do Município ................................................................ 39
7
3.6 Coleta e Sistematização dos Dados Primários para Elaboração da Caracterização
dos Sistemas de Produção .................................................................................... 40
3.7 Caracterização e Tipologia dos Agricultores e dos Sistemas de Produção ......... 41
3.7.1 Dimensão Agronômica dos Sistemas de Produção ....................................... 43
CAP.4 RECONSTITUIÇÃO DA EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS
SISTEMAS AGRÁRIOS ................................................................................... 45
4.1 Descrição do Meio Ambiente .............................................................................. 45
4.1.1 O Município de Sant’Ana do Livramento ..................................................... 45
4.1.2 Topografia e Geomorfologia ......................................................................... 46
4.1.2.1 Região 01 – Basalto ................................................................................ 47
4.1.2.2 Solos do Município de Sant’Ana do Livramento ................................... 48
4.1.3 Solos da Região 01 – Basalto ........................................................................ 49
4.1.3.1 Litólico Eutrófico ................................................................................... 49
4.1.3.2 Vertissolos .............................................................................................. 49
4.1.4 Solos da Região 02 – Arenito ........................................................................ 50
4.1.4.1 Podzólico vermelho-amarelo álico ......................................................... 51
4.1.4.2 Podzólico vermelho-escuro álico ............................................................ 51
4.1.5 Flora da Região 01 – Basalto ......................................................................... 52
4.1.6 Flora da Região 02 – Arenito ........................................................................ 54
4.1.7 Fauna ............................................................................................................. 56
4.1.7.1 Na Região 01 – Basalto .......................................................................... 58
4.1.7.2 Na Região 02 – Arenito .......................................................................... 59
4.1.8 Clima ............................................................................................................. 59
4.1.8.1 Na Região 01 – Basalto .......................................................................... 60
4.1.8.2 Na Região 02 – Arenito ........................................................................... 61
4.1.9 Hidrografia e Principais Microbacias ............................................................ 62
4.1.9.1 Na Região 01 – Basalto .......................................................................... 62
4.1.9.2 Na Região 02 – Arenito .......................................................................... 63
4.2.Evolução e Diferenciação dos Sistemas Agrários ............................................... 64
4.2.1 Sistema Agrário Indígena – até 1634 ........................................................... 64
8
4.2.2 Sistema Agrário das Missões I – de 1634 a 1682 ........................................ 66
4.2.2.1 Na Região 01 do Basalto ........................................................................ 67
4.2.2.2 Na Região 02 do Arenito ....................................................................... 67
4.2.3 Sistema Agrário das Missões II e da Colônia de Sacramento –
de 1682 a 1814 ................................................................................................ 68
4.2.4 Sistema Agrário das Charqueadas - de 1814 a 1930 ..................................... 76
4.2.5 Sistema Agrário Moderno da Agropecuária – de 1930 a 2001 .................. 85
4.2.5.1 Na Região 01 do Basalto ....................................................................... 85
4.2.5.2 Na Região 02 do Arenito ........................................................................ 89
CAP.5 CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE AGRICULTORES DE PECUÁRIA
FAMILIAR ...................................................................................................... 110
5.1 Pecuarista Familiar Tipo 01 com Área Maior que 100ha e Menor que 500ha e
Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA) ......................................... 110
5.2 Pecuarista Familiar Tipo 1.2 com Área Maior que 100ha e Menor que 500ha e
Inexistência de Renda de Outras atividades (ROA) .......................................... 115
5.3 Pecuarista Familiar Tipo 2.1 com Área Menor que 100ha e Inexistência de
Renda de Outras Atividades (ROA) .................................................................. 122
5.4 Pecuarista Familiar Tipo 2.2 com Área Menor que 100ha e Inexistência de
Renda de Outras Atividades (ROA) .................................................................. 126
5.5 Pecuarista Familiar Tipo 3.1 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras
Atividades (ROA) – Aposentadoria .................................................................. 131
5.6 Pecuarista Familiar Tipo 3.2 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras
Atividades (ROA) .............................................................................................. 137
5.7 Pecuarista Familiar Tipo 4.1 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras
Atividades (ROA) – Venda de mão-de-obra ..................................................... 142
5.8 Pecuarista Familiar Tipo 4.2 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras
Atividades (ROA) – Venda de mão-de-obra ..................................................... 148
CAP.6 CONCLUSÃO ................................................................................................ 162
9
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................. 176
ANEXOS ..................................................................................................................... 179
a. Mapa da Localização do Município de Sant’Ana do Livramento
b. Mapa da Divisão das Regiões Homogêneas
b 1. Mapa das Microbacias hidrográficas
c. Corte Transversal das Regiões Homogêneas
d. Mapa de Solos
e. Questionário Semi-Estruturado para Pesquisa à Campo
QUADROS:
QUADRO 01 – Resumo da Evolução e Diferenciação dos Sistemas Agrários
QUADRO 02 - Síntese dos Indicadores Sócios – Econômicos dos Sistemas de Produção
QUADRO 03 - Síntese das Principais características apresentadas pelos pecuaristas familiares
entrevistados.
FOTOS:
FOTO 01 - Relevo predominante na região 01 do basalto
FOTO 02 - Relevo e solo predominante na região 02 do arenito
FOTO 03 - Sistema de transporte de água
FOTO 04 - Latrina típica da região
FOTO 05 - Modelo de casa produtor - v. de mão-de-obra, <100 ha
FOTO 06 - Modelo típico de instalações para bovinos agricultores, <100 ha
FOTO 07 - Modelo típico de instalações para ovinos agricultores, < 100 há
CAP.1 INTRODUÇÃO
A economia brasileira, desde o seu descobrimento, esteve estruturada na agricultura e
no extrativismo agrícola em grandes ciclos regionalizado exportadores, iniciando com a
exploração do Pau Brasil, Cana de Açúcar, Café, Borracha e Pecuária.
No Rio Grande do Sul, o ciclo do gado começou com a primeira tropa trazida pelos
padres jesuítas em 1634 vindos de Corrientes da banda Ocidental do Rio Uruguai, com 1.500
reses entre ovelhas, cavalos, para alimentar os povos das Missões. Após a primeira fase das
reduções jesuítas, que foram destruídas pelos bandeirantes para escravizar os silvícolas, o
gado abandonado criou-se solto atingindo naquele período mais de um milhão de cabeças,
chegando até o litoral do Atlântico e no limite das províncias do Uruguai. A principal
atividade do período foi
da preação do gado xucro. Este foi o primeiro grande ciclo
econômico do couro e do sebo no Rio Grande do Sul sendo comercializado via Colônia de
Sacramento para a Europa e os centros maiores do Brasil.
Após este ciclo, inicia-se o período da pecuária na cadeia de produção do charque a
partir de 1780, por todo o interior do estado, marcando uma época de prosperidade e de
grande projeção econômica. Começam os cercamentos dos campos, a construção de estâncias
e a pecuária como atividade principal das sesmarias. No início do século passado, com a
chegada das instalações frigoríficas em 1917, é estabelecida na fronteira, através da técnica do
frio, a promoção da reestruturação de toda a cadeia da pecuária para atender as suas
necessidades. Provocando, então, a busca de animais para melhoria da qualidade genética
para serem utilizadas nesse processo de industrialização que se mantém até os dias de hoje.
Consolida-se a atividade econômica da pecuária, os campos são cercados, e as sesmarias
começam a ser divididas em estâncias.
11
A região cresceu e se desenvolveu de forma pujante ao ser a grande fornecedora de
carne e lã para Europa, a partir da II Guerra Mundial, provocando um reflexo direto na
economia local. Logo em seguida nas décadas de 40 – 50, também inicia o ciclo do arroz com
a entrada dos imigrantes de origem alemã e italiana, desencadeando outro período de
destacado crescimento econômico e social gerando riqueza superior ao restante do estado.
Ao contrário de hoje, conhecida como metade sul do estado do Rio Grande do Sul
pobre por não ter modificado a sua estrutura histórica de produção baseada na pecuária
extensiva, na lã e no arroz, a região enfrenta uma séria crise econômica, social e cultural.
A fronteira oeste do estado, integrante desta região, seguiu o mesmo ritmo de
crescimento trilhando no mesmo caminho das atividades pecuária de corte, lã e arroz como
suas principais matrizes produtivas. A região fronteiriça é vista pelo restante do estado tão
somente como terra de latifúndio, ignorando o pequeno estabelecimento rural, estruturado na
atividade da pecuária, que enfrenta de forma mais aguda esta crise econômica com problemas
de natureza social e de falta de políticas públicas específicas sem precedentes.
O município de Santana do Livramento, situado nesta fronteira, fazendo divisa com o
Uruguai, é um exemplo representativo de como se desenvolveu este crescimento econômico
e de recessão dessas matrizes produtivas ao longo de sua história.
O município enfrenta uma grave crise de mercado para os seus produtos, concorrendo
diretamente em condições desiguais com o Mercosul, refletindo com isto na perda de sua
importância no conjunto da sociedade estadual, na diminuição do poder aquisitivo e na
qualidade de vida da população também, promovendo o êxodo rural para a cidade numa
velocidade maior que esta consegue absorver, criando condições miseráveis de sobrevivência.
12
Os agricultores familiares dessa região têm a mesma lógica de reprodução social que
os demais de outras regiões do estado, contudo possuem um diferencial nos seus sistemas de
produção, tendo na pequena exploração da pecuária de corte, ovinocultura e pequenas
plantações, inclusive o arroz, a sua principal fonte de subsistência e de renda. As suas origens
étnicas são constituídas principalmente dos sesmeiros luso-ibéricos, dos mestiços de índios,
que deram origem ao gaúcho, dos negros que serviram nos saladeiros, dos militares,
agregados, posseiros, espanhóis, imigrantes alemães e italianos que aqui vieram e juntos
constituíram uma sociedade diversificada, entre elas a do agricultor familiar denominado por
estas características e peculiaridades de “pecuarista familiar".
Embora a pecuária familiar seja pouco conhecida, das lideranças regionais, municipais
e de suas entidades representativas, tem um importante papel para o desenvolvimento do
município por representar uma quantidade significativa de estabelecimentos rurais existentes
em Santana do Livramento.
A extensão rural como agente de mudança, por ter adotado historicamente o sistema
agropecuário hegemônico da revolução verde e exportador, não priorizou o atendimento ao
longo dos anos deste agricultor familiar na região, mas de produtores rurais que respondiam a
ela com a adoção e o uso de novos insumos e tecnologias, cujo principal objetivo era
simplesmente a busca da produção e de produtividade por unidade de área.
A extensão rural tem um enfoque diferenciado hoje, busca resgatar estes atores sociais
esquecidos e pouco conhecidos das instituições e entidades que representam as forças vivas da
região e do município, desenvolvendo trabalhos que contribuam para conhecer melhor esta
realidade, a sua identidade cultural e a sua lógica de reprodução social.
A falta de políticas públicas direcionadas e mais específicas a este público também é
um fator importante do processo de exclusão e estagnação que atinge a
13
pecuária familiar. A maioria das políticas são estabelecidas com critérios que permitem
enquadrar apenas os agricultores familiares do norte do estado.
Das bibliografias que se tem conhecimento, poucos trabalhos abordam e fazem uma
reflexão sobre as dificuldades enfrentadas pela pecuária familiar no município e na região,
assim como sobre sua lógica, sua dinâmica sócio–econômica e como vive e sobrevive
entremeada aos grandes estabelecimentos agropecuários.
O presente trabalho é um estudo deste grupo de famílias que compõem esta
complexidade social no município de Santana do Livramento, com objetivo geral de fazer
uma caracterização com uma análise sócio–econômica
e
contribuir para a melhor
compreensão de sua realidade e de suas origens. Este entendimento é importante para
estabelecer futuros debates sobre o seu desenvolvimento, para definir políticas públicas que
não excluam desse processo e promover uma melhor percepção sobre este público para os
serviços de extensão rural.
Objetivos específicos,
1) realizar uma análise sócio–econômica dos sistemas agrários e de produção dos
pecuaristas familiares de Santana do Livramento, identificando as tipologias mais
representativas e sua atual situação.
2) Entender a realidade compreendendo o passado desta categoria social e como ela
surgiu, através do estudo da reconstituição da evolução histórica, identificando-se a gênese
desta tipologia e dos seus sistemas agrários.
3) Analisar a lógica e as estratégias de reprodução social implementadas
pelos
pecuaristas familiares se fez necessário para conhecer as relações de troca que ocorrem entre
os mesmos, a sua localidade, os agentes externos de comercialização (cadeia de produção) e o
seu meio ambiente.
4) Caracterizar e analisar os diferentes sistemas de produção utilizados pelos
pecuaristas familiares, com uma visão sistêmica de processo dinâmico e complexo
evidenciando a contribuição e a influência das Rendas de Outras Atividades( R.O.A.).em sua
economia e no seu trabalho no estabelecimento rural.
Além desta introdução, é composto pelos seguintes capítulos:
No capítulo dois, faz a revisão da literatura das teorias sobre o desenvolvimento rural e
sobre a abordagem e análise sistêmica.
O capitulo três apresenta a metodologia e o seu referencial teórico utilizada no
trabalho, os indicadores de desempenho econômico para análise
e sistematização das
informações obtidas no decorrer da pesquisa de campo.
O capítulo quatro é composto pela reconstituição da evolução e diferenciação dos
sistemas agrários e a descrição do município de Santana do Livramento quanto à
geomorfologia, solos, flora, fauna, clima e hidrografia.
No capítulo cinco, é descrita a caracterização das principais tipologias dos pecuaristas
familiares do município de Sant’Ana do Livramento conforme as suas regiões homogêneas.
O capítulo seis apresenta as conclusões sobre a gênese e a tipologia dos pecuaristas
familiares, uma análise sócio–econômica incluindo a influência das rendas de outras
atividades e de suas relações no agroecossistema.
CAP.2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Entendimento sobre Desenvolvimento Rural
A compreensão de conceitos que estão sendo construídos sobre o desenvolvimento
rural são importantes ferramentas para orientar o presente trabalho.
Além destes, as definições teóricas de analise e abordagem sistêmica serão utilizadas
como metodologia a ser aplicada no mesmo.
O conceito de Desenvolvimento é um conceito que está continuamente sendo
construído conforme o tempo e espaço a serem considerados, ou seja, é variável, está
intimamente ligada à situação conjuntural complexa em que uma sociedade está inserida;
portanto, não deve e nunca será algo estanque, ou imutável.
Baseando-se nessas considerações, citaremos alguns conceitos atuais importantes que
irão orientar o presente trabalho:
Antes devemos ter claro:
O conceito de crescimento difere do conceito de desenvolvimento, sendo este maior
que aquele e englobando-o. O crescimento é o aumento de produto real de uma economia
durante um determinado período de tempo, e o desenvolvimento é o crescimento da economia
ao longo do tempo, com acompanhamento estrutural e melhorando os indicadores
econômicos, sociais, políticos e culturais per capita, sem pontos de estrangulamento (
RESENDE, 1998).
A compreensão de que o rural contribui com numerosos e diversos modos com os
interesses da sociedade, obriga a busca de uma melhor compreensão das múltiplas funções do
rural. No entanto, a própria agricultura tem dimensões sociais e ambientais
16
singulares, em que pese, a função primordial da agricultura continue sendo a de produzir
alimentos e produtos básicos. Entretanto, ela gera também uma gama de produtos e serviços
não primários, que configuram o meio ambiente, afetam os sistemas sociais e culturais,
contribuindo para o crescimento econômico (FAO, 1999).
Considerando o desenvolvimento rural segundo a Contag, 1997:
O desenvolvimento rural envolve o crescimento da produção, da renda e dos vetores
de sua distribuição, via ocupações produtivas, impostos e investimentos produtivos, que
realimentam o processo. Implica uma melhoria generalizada das condições de vida e trabalho
da população que habita o meio rural com acesso aos bens e serviços socais que devem ser
garantidos aos cidadãos. Abrange ainda a formação e desenvolvimento da infra-estrutura
econômica e social, pública e privada, de tal forma que os indicadores sociais de qualidade de
vida sofrem continuas elevações.
Um dos conceitos mais atuais que exige profundas modificações e inovações nas
estruturas sociais existentes é o conceito de desenvolvimento sustentável, que além de abordar
o econômico engloba a questão social, política cultural e do meio ambiente onde uma
determinada comunidade está inserida.
Desenvolvimento é um processo sistêmico mediante o qual uma economia consegue
simultaneamente crescer, reduzir desigualdades sociais e preservar o meio ambiente. (VEIGA,
1998)
Outro importante conceito sobre desenvolvimento rural sustentável que agrega a
questão do conhecimento e da cultura camponês:
O saber dos camponeses se desenvolve na sua heterogênea ligação ao grupo doméstico
e ao grupo de trabalho e, portanto, a "conduta reprodutiva rural" é o resultado de urna
acumulação de conhecimentos -uma epistemologia-- sobre o sistema de trabalho que não vem
de livros e textos, mas sim da relação entre as pessoas, seu ambiente e as
17
interações resultantes destas relações. Nesta perspectiva, a busca de sustentabilidade na
agricultura e no desenvolvimento rural implica reconhecer a existência deste saber construído mediante uma lógica indutiva-que vai sendo estabelecido na história dos grupos
sociais na medida em que se vê fazer, se escuta para poder dizer, explicar e devolver este
conhecimento. Sendo, pois, a agricultura uma atividade humana, ela é uma construção social
que, além de ser ambientalmente determinada, está subordinada a determinados
condicionantes socioculturais, entre os quais se destaca o conhecimento ou o saber local. (
ITURRA, 1993, apud Caporal, Costabeber).
O conceito de desenvolvimento sustentável encaminha para outras duas questões
relevantes sobre Espaço Local e Capital Social.
O processo de construção de um "novo" projeto de desenvolvimento somente poderá
ocorrer mediante uma combinação de mudanças das políticas governamentais (de âmbitos
federal, estadual e municipal) e iniciativas da sociedade (mais de âmbito municipal e
intermunicipal). Na verdade, o desenvolvimento rural é um fenômeno intrinsecamente
microrregional ou local. E as regiões ou os locais que melhor conseguem se desenvolver são
os que apresentam maior capacidade de organizar os fatores endógenos, direcionando - os
para o fortalecimento da organização social, para o aumento da autonomia local na tomada de
decisões, para o aumento na capacidade de reter e reinvestir capitais, para o aumento da
inclusão social e para o aumento da capacidade de regenerar e conservar o meio ambiente.
(VEIGA, 1997)
E o autor ainda acrescenta sobre o espaço local como um território onde desenvolve
uma determinada economia local e as suas relações entre os espaços urbano–rural:
Desenvolvimento é um processo sistêmico inexistindo uma clara separação entre o
desenvolvimento rural e economia urbana, sociedade rural e sociedade urbana. Mas falta de
autonomia não impede que um projeto de desenvolvimento rural possa ser instrumento crucial
da luta contra o viés urbano das políticas públicas. Um instrumento
18
que impulsione a sociedade a revalorizar a vida rural e mostra o quanto as oportunidades de
cidadania rural podem reduzir a degradação das cidades. (VEIGA, 1998)
Neste trabalho considerou-se o município, suas duas regiões homogêneas e a suas
comunidades como o espaço local, aqui compreendido em seu sentido mais amplo – a
sociedade e suas organizações representativas, o poder público (executivo e legislativo), as
suas dinâmicas internas e externas (relações sociais, tipo de colonização, entorno sócio econômico etc.) É nesses espaços locais que podem ser promovidos os fatores endógenos que
permitam avançar no aumento das escolhas das pessoas, no nível e na capacidade de
organização que a comunidade possui. Que, enfim, poderão ajudar a melhorar a qualidade de
vida e avançar na construção do desenvolvimento sustentável deste município.
2.2 Abordagem e Análise Sistêmica
Esta abordagem surgiu após a partir da crise da ciência na década de 50 pela
dificuldade de comunicação entre as diversas áreas da região que cada vez mais isolavam-se.
O modelo convencional de interpretação e análise da realidade na agricultura,
baseados nas evidências, no reducionismo, causalismo e na exaustividade passa através da
teoria geral de sistemas para uma perspectiva holística e multidisciplinar.
A abordagem sistêmica não veio para substituir integralmente a visão analítica, mas
para que as duas possam com suas características ser aproveitadas.
Abordagem sistêmica possui vários sinônimos como análise sistêmica, enfoque
sistêmico, análise estrutural entre outros.
19
A palavra sistema permite diversas interpretações. Para efeitos de análise, neste artigo
“um sistema é definido como um conjunto de componentes inter-relacionados e organizados
dentro de uma estrutura autônoma, operando de acordo com objetivos determinados”.
Entretanto, mais importante do que a definição é os princípios que o conceito de sistemas
enfatiza, dentre os quais destacam-se os seguintes (Capra, 1996 apud Pinheiro 2000):
•
Visão do todo:
A abordagem sistêmica visa o estudo do desempenho total de
sistemas, ao invés de se concentrar isoladamente nas partes.
•
Interação e autonomia: São sistemas sensíveis ao meio ambiente com o qual eles
interagem, geralmente variável, dinâmico e imprevisível. A fronteira do sistema
estabelece os limites da autonomia interna, a interação entre os componentes do
sistema e deste com o ambiente.
•
Organização e objetivos: Em um sistema imperfeitamente organizado, mesmo que
cada parte opere o melhor possível em relação aos seus objetivos específicos, os
objetivos do sistema como um todo dificilmente serão satisfeitos.
•
Complexidade: Este enfoque parte do princípio de que, devido as interações entre os
componentes e entre o meio ambiente e o sistema como um todo, este é bem mais
complexo e mais compreensivo do que a soma das partes individuais.
•
Níveis: Sistemas podem ser entendidos em diversos níveis, como por exemplo uma
célula, uma folha, um animal, uma propriedade, uma região, o planeta e assim por
diante. Um sistema em determinado nível pode ser entendido como um subsistema de
outro nível.
20
Logo, o sistema pode ser definido como um conjunto de elementos em interação
dinâmica, organizado em função de um objetivo. Para ( ROSNAY apud WUNSCH, 1995 ), o
objetivo é atribuído pelo homem seu construtor e pela natureza, sendo o objeto constatado a
posteriore. Portanto, é um conceito abstrato que está intimamente ligado
percepção do pesquisador e de sua realidade.
à lógica e à
CAP.3 METODOLOGIA
O capítulo apresenta os procedimentos metodológicos empregados nessa pesquisa que
conduzem aos objetivos propostos.
No enfoque sistêmico foi possível diagnosticar as diferenciações sociais existentes no
meio rural para a pecuária familiar do município de Santana do Livramento.
O enfoque permite uma abordagem para ver a diferenciação dos tipos de agricultores
que praticam a pecuária familiar, ressaltando as suas peculiaridades e suas relações sócioeconômicas e como estas estão inseridas em seu agroecossistema que ocorreram distintamente
ao longo tempo. Permitindo ao retroceder no passado, entender melhor o presente, analisar
melhor os sistemas de produção que estão surgindo ou declinando para entender a lógica do
agricultor.
Com base no conceito de sistema, referido anteriormente, o estabelecimento rural
pode ser considerado como um sistema básico dotado de diversidade e de inter-relações
internas e externas, onde o agricultor e sua família constituem a parte central deste sistema.
Além disso, elegeu-se a unidade de produção agropecuária como objetivo de observação e
análise no presente trabalho, por ser este o local onde se realiza a atividade produtiva, por ser
o universo de tomada de decisão dos produtores e por ser esta a base para proposta de
intervenção.
3.1 Complexidade dos Sistemas Agrários:
Na agricultura, o enfoque sistêmico tem se tornado cada vez mais necessário,
devido à crescente complexidade de sistemas organizados e manejados pelo homem e da
emergência do conceito de sustentabilidade o qual lançou novos desafios na área rural,
sobretudo em relação á questão socio-ambiental. Neste contexto, a grande
22
maioria
dos
sistemas
agropecuários
tem
requerido
uma
abordagem
holística
e
multidisciplinar, a fim de melhor serem entendidos e analisados. ( Pinheiro, 2001)
O diagnóstico de uma realidade rural deve captar a complexidade e a diversidade que,
geralmente, caracterizam a atividade agrícola e o meio rural. Os agroecossistemas constituemse em um primeiro fator de complexidade, que representam potenciais ou que impõem
limitações às atividades agrícolas. A forma como as sociedades utilizam o meio natural
representa um esforço de adaptação ao ecossistema, buscando explorar da melhor maneira o
seu potencial ou vencer os obstáculos. Este modo de utilização do espaço evoluiu ao longo da
história em razão dos fatos que se relacionam entre si, sejam eles ecológicos, técnicos ou
econômicos. (FERRERA, 2001)
3.2 Referencial Teórico:
È importante descrever os conceitos básicos da metodologia utilizada no presente
estudo, segundo os princípios e pressupostos básicos já enunciados, antes de descrever a
seqüência da elaboração da análise-diagnóstico dos sistemas agrários da pecuária familiar no
município de Santana do Livramento.
Os conceitos empregados para a caracterização e análise da realidade agrária da região
em estudo foram:
A análise-diagnóstico de sistemas agrários tem por objetivo identificar e hierarquizar
os elementos que condicionam a seleção e evolução dos sistemas de produção e compreender
como eles interferem nas transformações da agricultura. Não se tratando apenas de identificar
os fatores, mas também de conhecer como eles influem sobre os quais se podem pensar uma
estratégia de ação visando ao desenvolvimento (DUFUMIER,1995).
23
3.3 O Enfoque Sistêmico Aplicado à Agricultura:
A visão de sistemas emergiu na agricultura como uma forma de solucionar ou
minimizar os problemas que o enfoque reducionista e disciplinar não estava resolvendo (
PINHEIRO, 2000)
O enfoque sistêmico e a sustentabilidade da agricultura familiar: Uma oportunidade de
mudar o foco de objetivos/ complexos sistemas vivos e as relações entre o ser humano e o
ambiente ( PINHEIRO, 2001)
A agricultura é um processo de artificialização do ecossistema realizada pelo trabalho
humano por meio de espécies domesticadas e selecionadas, de ferramentas e técnicas para
obter produtos agropecuários necessários principalmente para subsistência humana (
Mazoyer, 1985). Como processo, a agricultura é uma combinação finalizada dos seguintes
elementos: um material biológico, o contexto econômico e o meio ambiente, as técnicas e as
práticas, as ferramentas de trabalho, situados em relação às escalas de tempo e de espaço (
BONNEVIALE et alii, 1989, apud Wünsch, 1995)
Godelier, citado por Santos ( 1993), afirma que, ao estudar um sistema agrário, o
pesquisador enfrenta uma dupla tarefa: em primeiro plano, a tarefa de colocar em evidência o
tempo de evolução desses sistemas; em segundo, como foram formados e como evoluíram os
elementos que constituem esse sistema. Em resumo, essas duas dimensões em combinação
tratam da análise dinâmica de um sistema. O resgate da história de vida dos agentes
envolvidos pode se constituir numa
variável importante do funcionamento do sistema,
porque, através dela, podem aparecer as bases das mudanças do sistema. Essas transformações
são graduais, e pode-se observar que os sistemas antigos continuam coexistindo com os
novos. Caracterizando as diferenças, descrevendo os processos, pesquisando as relações entre
elementos e evidenciando a representatividade das continuidades, é possível estabelecer as
diferenciações entre os sistemas e compreender as razões que permitam compará-los.
24
3.3.1 Sistema Agrário:
Um modo de exploração do meio historicamente constituído e durável é um sistema de
forças de produção adaptado às condições bioclimáticas de um espaço determinado,
respondendo às condições e às necessidades do momento (Mazoyer, 1985). Pode ser
constituído por uma pequena ou grande região e se define pela combinação entre o meio
cultivado; os instrumentos de produção (materiais e força de trabalho); o modo de
artificialização do meio; a divisão social do trabalho entre a agricultura, o artesanato e a
indústria; os excedentes agrícolas e as relações de troca com outros atores sociais; as relações
de força e de propriedade que regem a repartição do produto do trabalho, dos fatores de
produção e dos bens de consumo; e o conjunto de idéias e instituições que permitem assegurar
a reprodução social.
3.3.2 Sistema de Produção:
Conjunto de produções vegetais e animais, e de fatores de produção (terra, trabalho e
capital), gerido pelo agricultor com vistas a satisfazer seus objetivos no estabelecimento
agrícola (Mazoyer, 1985). Integra igualmente as atividades de transformação e conservação
de produtos animais vegetais e florestais realizada pelo agricultor na unidade de produção.
É a combinação mais ou menos coerente, no espaço e no tempo, de certas quantidades
de força de trabalho (familiar, assalariado, etc.) e de distintos meios de produção (terra,
máquinas, instrumentos, sementes, etc.) com a intenção de obter diferentes produções
agrícolas, vegetais ou animais (Dufumier, 1996).
3.3.3 Sistema de Cultivo:
É o conjunto das modalidades técnicas utilizadas sobre parcelas tratadas de maneira
homogênea. Cada sistema de cultivo se define pela natureza das culturas e sua
25
ordem de sucessão, pelos itinerários técnicos aplicados a estas diferentes culturas, o que inclui
a escolha das variedades para as culturas em consideração. (Sebillotte, 1990).
É a combinação da força de trabalho e dos meios de produção utilizados para obter
uma ou mais produções vegetais (Sebillotte, 1990).
3.3.4 Sistema de Criação:
É definido como sendo um conjunto de elementos em interação dinâmica organizado
pelo homem com a finalidade de transformar, por intermédio dos animais domésticos,
determinados recursos em produtos, como carne, lã, couro, etc. ou para responder a
determinadas necessidades, como tração, lazer, etc. (Landais et al, 1987). Os componentes
deste sistema são o agricultor e suas práticas; os animais domésticos agrupados em lotes,
tropas, ou em populações; e os recursos, como alimentos, espaços físicos, trabalho e capital,
consumidos e transformados em produtos.
O sistema de criação, em nível de rebanho, se caracteriza por um conjunto ordenado
de intervenções nos setores de reprodução, de alimentação, de higiene, de saúde, etc. Essas
ações se manifestam geralmente por deslocamentos de maior ou menor importância, por
variações de efetivo mais ou menos regulares, e níveis de produção diferenciados ( Dufumier,
1996)
3.3.5 Itinerário Técnico:
Constitui-se numa combinação lógica e ordenada de técnicas culturais que um
agricultor aplica sobre determinada parcela com o propósito de atingir seus objetivos
(Sebillotte, 1978). Podendo o conceito ser estendido à pecuária.
26
3.3.6 Definição de Agricultura Familiar:
A definição de agricultura familiar assume grande importância na atualidade para
respaldar o debate em torno do assunto. Para defini-la, deve-se observar alguns requisitos
básicos envolvidos na sua caraterização que estão presentes em alguns conceitos mais
utilizados recentemente por órgãos governamentais e autores que estudam o assunto.
O manual de crédito do Programa nacional de agricultura familiar ( PRONAF)
descreve para fins de financiamento a agricultura familiar da seguinte forma:
1) A renda familiar bruta prevista não pode ultrapassar a R$ 27.500,00, com rebate de
50% para atividades de avicultura, piscicultura e sericultura. Essa renda deverá ser de 80 %
proveniente da exploração agrícola;
2) A propriedade não pode ter mais do que quatro módulos fiscais;
3) A propriedade deve manter, no máximo, dois empregados permanentes, sendo
admitida ainda, como recurso eventual, a ajuda de terceiros quando a natureza sazonal da
atividade exigir.
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação - FAO - e o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA (1996) definem a agricultura
familiar com base em três características: a gerência da propriedade rural é feita pela família;
o trabalho é desempenhado na sua maior parte pela família; os fatores de produção pertencem
à família (exceção, às vezes, à terra) e são passíveis de sucessão em caso de falecimento ou
aposentadoria dos gerentes.
Agricultor familiar é todo aquele que tem na agricultura sua principal fonte de renda
(+ 80 %) e cuja força de trabalho utilizada no estabelecimento venham fundamentalmente de
membros da família. É permitido o emprego do terceiros
27
temporariamente, quando a atividade agrícola assim necessitar. Em caso de contratação de
força de trabalho permanente externo a família, a mão-de-obra familiar deve ser igual ou
superior a 75% do total utilizado no estabelecimento.
A FAO e o INCRA (1996) delimitam o universo da agricultura familiar com base em
quatro fatores:
a) a direção dos trabalhos era exercida pelo agricultor;
b) não foram realizadas despesas com serviços de empreitada,
c) sem empregados permanentes e com número médio de empregados temporários
menor ou igual a quatro ou com um empregado permanente e número médio de empregados
temporários menor ou igual a três;
d) com área total menor ou igual a quinhentos hectares para as regiões Sudeste e Sul e
mil hectares para as demais regiões.
Durante algum tempo o agricultor familiar foi caracterizado apenas como "pequeno"
produtor. Esta definição se resumia ao volume de produção ou ao tamanho da terra, sendo um
conceito insuficiente para definir o agricultor existente e sua lógica de produção. De acordo
com Alencar e Moura Filho (1988), trata-se de uma análise unidimensional, que é aquela que
"se baseia em uma única variável como terra (pequeno, médio ou grande) ou renda (baixa,
média e alta)". Os autores afirmam ainda que a análise unidimensional possui "pouco valor
analítico-descritivo" pois, por não ser relacional com outras variáveis, permite apenas colocar
os produtores em posições relativas em relação a outros produtores. (Apud, RIBEIRO, 2001)
Este tem sido um problema na interpretação da realidade da Metade Sul pois, por esta
classificação, "pequeno" produtor é aquele que ocupa uma posição inferior ao padrão "médio"
ou "grande" de determinada região em análise. Assim, se analisadas as
28
condições médias de determinada região, os "pequenos" são relativos em relação a outras
diferentes regiões. Na região Sul, os dados mostram como "pequenos" um grupo de
produtores com áreas superiores aos "pequenos" da parte Norte do Rio Grande do Sul, tida
como predominantemente de agricultura familiar. Ou seja, o que é grande para a parte Norte
do estado é pequeno para a parte Sul. Criou-se, e permanece até hoje, a idéia de que não há
"pequenos" produtores na região Sul, muito menos agricultores familiares, e que por isso
mesmo, não há necessidade de programas e políticas públicas para esse público que "não
existe". ( RIBEIRO, 2001- versão preliminar)
Molina Filho (1976) classifica as propriedades como latifúndio, empresa capitalista,
empresa familiar e unidade produtiva camponesa. O latifúndio, segundo o autor, seria uma
propriedade com grande extensão de terras, geralmente voltada ao mercado externo, mantida
inexplorada ou com exploração extensiva e ineficiente e em cujos vastos domínios os
proprietários residem, em princípio. A empresa capitalista é uma propriedade com trabalho
assalariado que usa alta tecnologia (mecanização, insumos modernos), é especializada e
totalmente voltada ao mercado; seus proprietários geralmente não moram em seus domínios.
A empresa familiar baseia-se no trabalho da família, podendo ter empregados, desde que haja
predominância do trabalho familiar; os proprietários residem na propriedade; usa insumos e
tecnologia modernos, aproveitando totalmente suas terras com atividades de produção de
valores de troca. A unidade produtiva camponesa é composta por pequenos produtores, com
algum domínio sobre as terras; não é especializada, produzindo para a sua subsistência e
comercializando o excedente; sua extensão é pequena ou minifundiária, e seu proprietário
vive na propriedade; são propriedades que aplicam uma baixa tecnologia no processo de
produção.
Há vários outros critérios utilizados para definir agricultura familiar e para classificar a
suas propriedade, mas, assim como estes, não caracterizam de forma clara e precisa as
questões regionalizadas como no caso da pecuária familiar na fronteira Oeste do Rio Grande
do Sul. Sendo necessário desenvolver estudos empíricos mais
29
aprofundados quanto a sua fundamentação sócio-econômica que caracterize melhor a
agricultura familiar desta região.
3.3.7 Uma Definição e Caracterização Aproximada de Pecuária Familiar:
Os agricultores familiares dessa região tem a mesma lógica de reprodução social que
as demais de outras regiões do estado. Contudo possuem um diferencial nos seus sistemas de
produção, tendo na pequena exploração da pecuária de corte, ovinocultura e pequenas
plantações, inclusive o arroz, a sua principal fonte subsistência e de renda. Alguns
complementam sua renda agrícola com fontes externas de renda (aposentadoria rural e/ou
venda de mão-de-obra). Com relação a força de trabalho utiliza mão-de-obra familiar pode
realiza troca de serviços com os vizinhos e/ ou contrata temporariamente mão-de-obra e
algumas vezes usa pessoas agregadas a família com ou sem remuneração.
O tamanho de suas propriedades é muito variável podendo chegar a 500 há, sendo uma
característica que merece um estudo mais profundo, pois segundo diagnóstico realizado nessa
pesquisa a maioria das propriedades estudadas encontram-se com seus registros de título de
forma irregular, sem atualização após processo de divisão ou herança.
A suas origens étnicas são constituídas principalmente dos sesmeiros luso- ibéricos,
dos mestiços de índios, que deram origem ao gaúcho, dos negros que serviram nos saladeiros,
dos militares, agregados,
posseiros, espanhóis, imigrantes alemães e italianos que aqui
vieram e juntos constituíram uma sociedade diversificada, entre elas a do agricultor familiar.
Embora a pecuária familiar seja pouco conhecida, das lideranças regionais, municipais
e de suas entidades representativas, tem um importante papel para o desenvolvimento do
município por representar uma quantidade significativa de famílias existentes em Santana do
Livramento.
30
3.4 Indicadores de Desempenho Econômico e a Sistematização das Informações
Obtidas no Decorrer da Pesquisa de Campo.
A análise-diagnóstico das características econômicas das propriedades agrícolas é um
dos vários indicadores existentes, dentre os mais utilizados para esse fim que se pode citar (
DUFUMIER, 1996;Lima et.al,1995 ).
3.4.1 Dimensão Econômica dos Sistemas de Produção:
A dimensão dos resultados econômicos dos sistemas de produção é uma fase
importante do diagnóstico e análise. Esta etapa permite avaliar o processo de capitalização ou
de descapitalização de cada categoria de produtor, aprofundar o estudo das relações sociais
que caracterizam os sistemas de produção e do sistema agrário como um todo, e identificar a
lógica econômica das associações de atividades e das práticas agrícolas empregadas pelos
produtores. (DEFUMIER, 1996)
3.4.2 Valor Agregado:
No processo produtivo, quando o produtor acrescenta trabalho aos insumos e ao
capital fixo de que dispõe, ele gera nova riqueza, agrega valor a esta mercadoria. Assim, o
valor agregado líquido (VA) do sistema de produção corresponde à diferença entre o valor
produzido e o valor consumido, que pode ser representado pela seguinte expressão
matemática:
VA = PB - CI - D
Onde:
VA = o Valor Agregado Líquido
PB = o Produto Bruto
CI = o Consumo Intermediário
D = a Depreciação
31
A medida da produção do estabelecimento rural, denominada Produto Bruto (PB),
corresponde à valoração da totalidade do que é produzido (DUFUMIER, 1996; LINIA et al.,
1995).
Na determinação do PB, o valor recebido pelos produtores, e na avaliação da produção
consumida pela família (autoconsumo), utilizou-se o preço de mercado, ou seja, o preço pago
pelos produtores por aquele produto no mercado local.
Os itens que compõem o PB são:
A produção obtida nas culturas,
Criações,
Pomar, Horta Doméstica,
Planta de baraço1,
Florestamento,
Produtos de transformação e objeto de artesanato produzidos no estabelecimento
rural,
A remuneração paga por terceiros a serviços prestados pela mão de obra familiar.
A produção obtida na unidade agrícola destinada ao consumo dos animais e das
culturas não compõe o PB, como, por exemplo, o milho produzido no estabelecimento rural e
destinado à criação de aves, suínos e animais de tração e as sementes armazenadas de uma
safra para outra. Uma vez que são considerados receita, como consumo intermediário se
anulam.
32
1
" Planta de baraço é a denominação adotada neste trabalho para a gleba cultivada com mandioca, batata-inglesa, batata-doce, moganga
melancia, melão, abóbora etc. Esta gleba de cultivo, geralmente, loc~-se próxima à lavoura anuas com áreas aproximadas de um ~ a um
quarto de licctare. A produção obtida neste tipo de cultivo destma-se ao consumo da fan-úba ou dos wmnws domésti".
Consumo Intermediário (CI) é o valor dos insumos e serviços adquiridos de outros
agentes econômicos destinados ao processo de produção. São considerados intermediários
porque, através do trabalho e dos demais meios de produção, vão agregar valor num produto
final; (insumos agrícolas e
para animais, manutenção de instalações e equipamentos e
honorários pagos a terceiros).
Depreciação (D) O capital fixo disponível é constituído por máquinas, instalações,
benfeitorias, reservatórios de água, etc. Estes bens não são integralmente consumidos durante
o ciclo produtivo, mas sofrem desgastes perdendo valor progressivamente a cada ano:
D = ( Vo - Vr) / n
Onde:
Vo = o valor de aquisição do bem novo
Vr = o valor residual do bem no final de sua vida útil
n = aos anos de vida útil do bem
3.4.3 Renda Agrícola:
Renda Agrícola (RA) É a principal forma de avaliar a capacidade de reprodução do
estabelecimento rural familiar ao longo do tempo. È a parte do valor agregado (VA) que fica
com o agricultor para remunerar o trabalho familiar e fazer investimentos.
Sendo a (DVA) a parte Distribuída do Valor Agregado composta dos seguintes itens:
valor pago por arrendamento da terra em valor monetário ou não, seguro, impostos e taxas,
juros e mão de obra contratada fixa, ou temporária. No caso de perceber subsídios à atividade
agrícola, este valor é acrescentado ao VA líquido na composição da renda agrícola.
33
RA = VA – Tc- I – J – Rt + Sb
Onde:
RA = Renda agrícola
VA = Valor líquido agregado
Tc = a mão–de– obra contratada
I = os Impostos e taxas
J= juros
Rt = Arrendamento ou valor pago ao dono da terra e / ou
parceria
Sb = Subsídios recebidos
3.4.4 Renda Total:
Renda total (RT) é o somatório da Renda Agrícola mais a Renda de Outras
Atividades ( ROA), como por exemplo salários percebidos por um ou mais membros da
família ( pedreiro, carpinteiro, alambrador, capataz, peão), aposentadoria rural e renda
recebida de aluguéis e arrendamentos.
RT = RA + ROA
Onde:
RT = Renda Total disponível na unidade de produção agrícola
RA = Renda agrícola
ROA = Renda de Outras Atividades
A sistematização dos dados relativos às informações adquiridas no decorrer da
pesquisa de campo facilitou a visualização e identificação dos sistemas de produção existentes
em cada grupo social. Cabe ressaltar que, para a sistematização dos dados, foi utilizada a
planilha do “Microsoft Excel” construída pelo Mestre em Economia Rural
34
(UFRGS ) Engº Agº. José Romulado C. Ferrera e adaptada à realidade estudada. Esta planilha
é composta por uma área de entrada dos dados no formato idêntico a do questionário, uma
área de cálculo que serve para conferir a consistência do processamento e uma área de
indicadores. Assim, ao digitar as informações quantitativas do questionário, são calculadas
todas as equações e gerados os indicadores descritos na seção seguinte. Como a planilha foi
elaborada num aplicativo de fácil manipulação, é possível, no decorrer do trabalho de análise
dos sistemas de produção, gerar novos indicadores para confirmar ou negar hipóteses.
3.4.5 Indicadores Agroe-conômicos Utilizados na Avaliação dos Sistemas de
Produção.
Os indicadores utilizados para analise econômica dos sistemas de produção através
dos quais foi possível avaliar o potencial econômico de cada sistema de produção e comparálos, foram de suma importância no estudo mais aprofundado das relações sociais que
caracterizam cada tipo de unidade de produção como também, o sistema agrário como um
todo. Possibilitando conhecer os fundamentos e a lógica econômica das atividades agrícolas e
não agrícolas dentro da pecuária familiar. Para aprofundar o estudo sobre a pluriatividade
nesta região, foi considerado que pessoas com idade inferior a 10 anos não seriam contadas
como unidade de trabalho / homem (UTH). Mas a partir dos 10 anos seria respeitada uma
tabela de conversão (LIMA et al, 1995), a saber:
- de 10 anos até 13 anos corresponde a 50% de uma UTH;
- de 14 anos até 17 anos corresponde a 65% de urna UTH;
- de 18 anos até 59 anos corresponde a100% de uma UTH;
- acima de 60 anos corresponde a 65% de uma UTH.
35
Também foi considerada mão-de-obra as pessoas que realmente tinham alguma
atividade produtiva, como também foi respeitado o período de duração despendido com a
atividade (exemplo: um menino de 12 anos que estuda pela parte da manhã e ajuda o pai na
parte da tarde, se ele trabalhasse o dia inteiro ele representaria 50% de uma UTH mas como
estuda ele representa 25% de uma UTH). Cabe ressaltar que as pessoas impossibilitadas, por
doença ou idade avançada, não foram computadas como mão-de- obra. Também foi separado
por tipos a UTH, ou seja, se uma pessoa da família trabalha uma parte do dia na agricultura e
a outra em uma atividade não-agrícola, esta mão-de-obra foi calculada sobre o tempo de
dedicação à propriedade familiar descontando o tempo gasto em outras atividades (venda de
mão de obra), possibilitando uma análise mais detalhada das propriedades familiares de
Santana do Livramento.
Os indicadores utilizados na caracterização e análise agroeconômica dos
estabelecimentos rurais e dos sistemas de produção encontrados no município de Santana do
Livramento são os seguintes (adaptado de DUFUNHER, 1996 para atender aos objetivos
desta pesquisa):
U T H = Unidade de Trabalho Homem: esta unidade mede a força de trabalho dos
diversos tipos de trabalhadores da unidade de produção agrícola (por idade e tempo
disponível). Uma UTH corresponde a 300 dias de oito horas de trabalho de um homem com
idade entre 18 a 59 anos.
U T H f
= Unidade De Trabalho Homem Familiar: é a totalidade de UTH
disponibilizada no estabelecimento rural pela mão de obra familiar.
S T = Superfície Total: corresponde ao somatório das áreas utilizadas na produção e
impróprias para o uso agrícola do estabelecimento rural, independentemente do sistema de
posse da terra (pode ser proprietário, arrendatário, parceria, ou ocupante da área)
36
S.A U = Superfície Agrícola Útil.- é a área efetivamente utilizada para produção
agrícola, ou seja, a ST menos a área imprópria para o uso agrícola.
S.A U / UTH = Superfície Agrícola Útil Disponível por Unidade de Trabalho: este
indicador mede a intensidade do emprego da mão-de-obra no estabelecimento rural, quanto
maior for o seu valor menor será a intensidade do trabalho nesta unidade de produção.
VAL / S.AU = Valor Agregado Produzido por Unidade de Área: este indicador mede
a capacidade que o sistema de produção possui de gerar valor novo por hectare, ou seja, mede
a produtividade da terra.
VAL / UTH = Valor Agregado Produzido por Unidade de Trabalho: mede a
capacidade que o estabelecimento possui de gerar valor novo por unidade de trabalho, isto é,
mede a produtividade do trabalho obtida no estabelecimento rural.
VAL / UTHf = Valor Agregado Produzido por Unidade de Trabalho Familiar:
idem ao item anterior.
RA / SAU
= Renda agrícola por unidade de área útil: este indicador mede a
rentabilidade (ou remuneração) do fator terra.
RA / UTH = Renda Agrícola por Unidade de Trabalho = mede a rentabilidade (ou
remuneração) do trabalho obtida no estabelecimento rural.
RA / UTHf = Renda Agrícola por Unidade de Trabalho Familiar = mede a
rentabilidade (ou remuneração) do trabalho familiar obtida no estabelecimento rural.
RT / UTH = Renda Total por Unidade de Trabalho; mede a rentabilidade (ou a
remuneração) do trabalho obtida no estabelecimento rural ou fora dele.
37
RT / UTHf = Renda Total por Unidade de Trabalho Familiar: mede a
rentabilidade (ou a remuneração) obtida pela família rural no estabelecimento rural ou fora
dele.
Ki = Capital: este indicador é composto pelo somatório do valor atual de patrimônio
colocado à disposição da produção (máquinas, equipamento, instalações, benfeitorias, efetivo
médio dos rebanhos bovinos, ovino e eqüinos, e dos animais, domésticos), do consumo
intermediário (CI) e da depreciação anual (D).
TL = Taxa de Lucro (RA / Ki): este indicador mede o percentual de retorno do
capital investido na atividade produtiva, ou seja, a taxa de lucro obtida no estabelecimento
rural.
Pbvegetal / PBt (%) = Relação do Produto Bruto Agrícola: mede o percentual da
participação do valor bruto da produção agrícola em relação ao valor bruto total.
PBanimal / PBt (%) = Relação do Produto Bruto Animal: mede o percentual da
participação do valor bruto da produção gerado pela pecuária em relação ao valor bruto total.
ROA / RT = Relação da Participação da Renda de Outras Atividades: mede o
percentual da participação da Renda de Outras atividades pela Renda total do
estabelecimento.
RA / RT = Relação da participação da Renda Agrícola: mede o percentual da
participação da Renda Agrícola pela Renda Total do estabelecimento.
N R S = Nível de reprodução simples: constitui-se no indicador básico par a análise da
capacidade de reprodução dos estabelecimentos rurais; ele mede a renda mínima necessária
para a reprodução da família, ao longo do tempo. Este nível de
38
garantir um mínimo de renda para alimentação, habitação, saúde e educação para a família
rural. Neste trabalho, considerou-se o nível de reprodução simples equivalente a R $ 3.240,00
por UTHf / ano (1,5 salário mínimo por UTHf / mês). O mesmo índice foi usado por outros
autores. (FERRERA, 2000)
(R / UTHf ) / (SAL / UTHf ) = Intensidade do Uso da Terra: este indicador
representa uma unidade comum e estabelece a relação entre a renda agrícola por unidade de
trabalho familiar e a área disponível por trabalhador familiar, permitindo comparar a
intensidade do uso da terra dos diferentes sistemas de produção. Assim, quanto maior for essa
relação, mais intensivo será o sistema de produção com relação ao uso da área disponível. Ver
Tabela 1
3.5 Análise – Diagnóstico dos Sistemas Agrários do Município de Sant’Ana do
Livramento
3.5.1 Dados Secundários Coleta e Tratamento.
A Coleta e Tratamento dos dados secundários têm por objetivo obter as primeiras
informações sobre o município em estudo através de uma pesquisa de documentos históricos,
estatísticos e cartográficos. Resgataram-se informações referentes ao tipo de solo, clima,
estrutura fundiária, flora e fauna, relevo, dados demográficos, limites, história passada e atual.
Essas informações foram obtidas através de documentação da Biblioteca Municipal e da
EMATER / RS, Fundação de Economia Estatística do Rio Grande do Sul - FEE e Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE., assim como a partir de entrevistas realizadas nas
seguintes entidades: Associação Rio-Grandense de Empreendimentos e Assistência Técnica e
Extensão Rural - EMATER/RS, Inspetoria Veterinária da e
Departamento de recursos
Naturais renováveis / SAA do RS, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Associação e
Sindicato Rural e dos seguintes Eng.º
Agrônomos ( que possuem larga experiência na
extensão e
39
assistência técnica por atuarem por muitos anos no município); L.E.R, V.B.M, O.R.P; além
dos comerciantes de gado L.L.R e A.C.L.
3.5.2 Leitura da Paisagem do Município.
A leitura da paisagem é uma metodologia utilizada para construir um diagnóstico,
identificando as semelhanças e heterogeneidades da realidade agrária e ambiental, através de
itinerários de deslocamentos pré-estabelecidos que contemplem com a maior abrangência
possível a situação em estudo de uma ou mais regiões, permitindo distinguir os contrates que
possam existir no meio rural assim como delinear as suas sub-regiões, zonas agrícolas e os
seus agroecossistemas.
As paisagens agrárias oferecem as primeiras informações relevantes para a elaboração
do diagnóstico da realidade rural. Uma observação criteriosa pode fornecer mais informações
do que por meio dos documentos existentes sobre as diversas formas de exploração e de
manejo do meio ambiente, sobre as praticas agrícolas e suas condições ecológicas, além de
permitir ao pesquisador questionar-se sobre as razões históricas dessas diferenciações
(INCRA/FAO, 1999).
A leitura da paisagem do município de Santana do Livramento foi realizada
percorrendo a totalidade da região em estudo. Com a participação de 14 entidades e 31
participantes
organizados
pelo
escritório
Municipal,
foram
organizadas
reuniões
preparatórias, de planejamento das atividades e atividades de campo para execução dos
itinerários de deslocamentos pelas equipes multidisciplinares, finalizando com uma reunião de
organização das informações levantadas, definição das regiões homogêneas e o consenso do
grande grupo a seu respeito.
Como foi visto anteriormente, a diversidade do modo de exploração dos
agroecossistemas pode ser explicada através da história das transformações ecológicas, das
relações sociais, das técnicas agrícolas praticadas. É justamente essa história que configurou
diferentes áreas geográficas homogêneas em contraste com as demais em
40
seu entorno. Assim, as hipóteses preliminarmente formuladas na leitura da paisagem foram
verificadas através de entrevistas, informais e individuais, com informantes - chave
(selecionam-se estas pessoas com base no seu conhecimento da região, geralmente os
agricultores mais antigos) que, tendo em vista os seus conhecimentos, forneceram elementos
capazes de explicar os fenômenos observados. Esta fase de entrevista foi complementada com
o estudo de documentos e bibliografia sobre o tema. Com estas informações, foi possível
resgatar a evolução e diferenciação dos sistemas agrários do município de Santana do
Livramento. Concluindo-se sobre a existência de 02 regiões agroecológicas para a pecuária
familiar que são:
Região 01 do Basalto.
Região 02 do Arenito.
( Ver Anexo B)
3.6 Coleta e Sistematização dos Dados Primários para Elaboração da Caracterização
dos Sistemas de Produção.
A unidade de análise do presente trabalho foi a pecuária familiar onde se buscou
identificar os sistemas de produção desta tipologia sem representatividade estatística da
amostra, por se tratar de um estudo de caso. No entanto, o enfoque foi para uma abrangência
representativa da diversidade dos tipos e das variáveis dos sistemas de produção e renda
existentes. Por essa razão, elegeram-se estabelecimentos rurais e sistemas de produção que
explicitassem essa diversidade. A seleção destes produtores e dos sistemas de produção foi
realizada com base nas informações obtidas nas fases anteriormente descritas e,
gradativamente, aprofundada no decorrer da própria pesquisa durante as entrevistas e
aplicação dos questionários. Assim, o conhecimento da realidade na qual está inserido o
agricultor (entrevistado), juntamente com a apreensão deste conhecimento foi possível
hierarquizar e determinar o tamanho da amostra e identificar quais produtores deveriam ser
entrevistados.
41
Os dados primários foram obtidos utilizando-se um questionário semi-estruturado,
fundamentado nas informações obtidas na primeira etapa (Anexo E). As questões do referido
questionário foram elaboradas no formato abertas e fechadas para facilitar o processamento
dos dados. Assim, as questões quantitativas e relativas aos aspectos econômicos são fechadas
e as de cunho qualitativo abertas.
Realizaram-se 08 entrevistas formais, com aplicação desse questionário a pecuaristas
familiares, no mês de setembro / 2001. Sendo 04 na região homogênea 01 do Basalto e mais
04 produtores na região 02 do Arenito do município de Santana do Livramento. O
processamento e sistematização dos dados primários, coletados através dos questionários, foi
realizado através de uma planilha programada no aplicativo "Microsoft Excel 97" conforme
anteriormente citado.
Os preços referentes aos insumos, produtos (pagos e recebidos pelos produtores) e o
valor do patrimônio foram obtidos através das entrevistas com os mesmos e no comércio
local. Especificamente com relação às construções e instalações, utilizou-se o valor unitário
elaborado por FERREIRA ; MIOGLIORIM (1998) para o Programa de Gestão Agrícola da
EMATER-RS, corrigido para 2001. Estas fontes de preços foram confrontadas antes de serem
utilizadas, com o objetivo de evitar valores extremos que poderiam produzir indicadores com
viés.
3.7 Caracterização e Tipologia dos Agricultores e dos Sistemas de Produção:
As categorias sociais dos agricultores foram definidas pelas suas relações sociais e de
produção, de propriedade e de troca entre estes agricultores e os demais agentes que, direta ou
indiretamente, atuam na produção agrícola. Assim, a categoria social à que pertence um
determinado agricultor deve expressar o modo de acesso aos meios de produção disponíveis e
o processo de repartição dos produtos gerados. Portanto, uma categoria social de agricultores
resulta de um processo de acumulação social,
42
condicionado pelo acesso à terra, pela origem da mão-de-obra e do capital. Assim, realiza-se a
análise de uma categoria social através do estudo da trajetória de acumulação, ou
"desacumulação" de capital (DUFUMIFER, 1996).
A compreensão desta dinâmica é que norteou a elaboração da tipologia dos
agricultores do município de Santana do Livramento. Os diferentes tipos de agricultores
podem adotar sistemas de produção diferenciados. Os fatores determinantes desta
diferenciação são os recursos disponíveis e os limites que encontram para produzir, como, por
exemplo às condições socioeconômicas destes agricultores e do meio ambiente
(INCRA/FAO, 1999). Assim, a disponibilidade dos meios de produção mais as relações de
produção configuram a lógica (racionalidade) socioeconômica dos sistemas de produção.
Na caracterização e tipologia dos agricultores e sistemas de produção, a realidade
pesquisada é que determinou e condicionou os critérios mais adequados para agrupar os
agricultores. Igualmente não existe uma fronteira rígida dividindo cada tipo de agricultores.
Na verdade, o que se encontra na realidade são agricultores em constante evolução que podem
trocar seu sistema de produção ou passar de urna categoria social a outra. Para definir a
tipologia dos pecuaristas familiares a ser estudada foi utilizado o seguinte padrão
preestabelecido buscando a representatividade da maioria das situações que ocorrem no
município e nas regiões homogêneas definidas:
1)
Menor que 100 ha e menor que
500 ha – como principal sistema de
produção a pecuária de bovinos de corte, ovinocultura e pequenas áreas de agricultura e sem
renda de outras atividades.
2)
Menor que 100 ha – Principal sistema de produção a pecuária de bovinos de
corte, ovinocultura e pequenas áreas de agricultura e sem renda de outras atividades.
43
3)
Menor que 100 ha – Principal sistema de produção a pecuária de bovinos de
corte ovinocultura, pequenas áreas de agricultura e com renda de outras atividades (
aposentadoria ).
4)
Menor que 100 ha – Principal sistema de produção a pecuária de bovinos de
corte, ovinocultura e pequenas áreas de agricultura com renda de outras atividades ( a venda
de mão de obra).
Para cada tipologia foram entrevistados 02 produtores para cada sistema agrário, um
na região do basalto e outro na região do arenito.
Para que se pudesse realizar a caracterização dos sistemas de produção e elaborar uma
tipologia destes sistemas e dos agricultores foi necessário entender a sua lógica e a sua
racionalidade. Foi possível fazer isso aprofundando a pesquisa e investigando as práticas
agrícolas (técnicas agrícolas, consórcios e sucessão de culturas), buscando relacioná-las aos
recursos disponíveis e às condições sócio-econômicas e ambientais nas quais trabalham os
agricultores.
Além disso, realizou-se uma avaliação econômica, análise social com questões
subjetivas sobre suas perspectivas e de sua família.
3.7.1 Dimensão Agronômica dos Sistemas de Produção:
Através do estudo dos itinerários técnicos dos sistemas, de cultivo e de criação, foi
possível identificar as operações colocadas em prática nestes sistemas. E posteriormente,
realizar uma análise agronômica, quantitativa e qualitativa dos mesmos.
Com a utilização do mesmo questionário semi-estruturado na realização das
entrevistas e pela descrição dos agricultores, obtiveram-se as informações da
sucessão
cronológica das operações necessárias ao cultivo (preparo do solo, fertilização, plantio,
44
tratos culturais, e colheita), os recursos empregados (insumos) e os problemas encontrados. O
mesmo ocorreu com relação aos sistemas de criação, observando-se nas entrevistas,
principalmente, a forma de reprodução, melhoramento genético, tratamento sanitário,
alimentação, e comercialização relativos a cada grupo de agricultores, assim como a
cronologia destas práticas, os recursos mobilizados e os problemas enfrentados pelos
produtores com este sistema de criação.
CAP.4 RECONSTITUIÇÃO DA EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS SISTEMAS
AGRÁRIOS.
O presente capítulo reconstitui as principais características sócio-econômicas e
ambientais assim como a evolução histórica dos diferentes sistemas agrários que se
sucederam por região homogênea no município de Santana do Livramento.
4.1 Descrição do Meio Ambiente.
O município de Santana do Livramento, quanto a sua localização, as características de
seus solos, sua fauna e flora, hidrografia e clima conforme seus dois sistemas agrários do
arenito e do basalto.( Anexo – C)
4.1.1 O Município de Sant’Ana do Livramento.
O município de Santana do Livramento é originário de Alegrete, tendo sido
emancipado em 10 / 02 / 1857, pela Lei Provincial N.º 351.
Situa-se nas seguintes coordenadas geográficas:
Ao
N
30º 16’
de latitude norte ( Limite Rosário do Sul )
S
31º 17’
de latitude sul ( Limite República Oriental do
Uruguai )
E
54º 58’
de longitude leste ( Limite Dom Pedrito )
O
56º 16’
de longitude oeste ( Limite Quaraí )
Com uma altitude média de 234 m acima do mar, o município esta situado em relação
ao Brasil, na Mesorregião Geográfica do Sudoeste rio-grandense – 06 e, dentro
46
desta, da Microrregião Geográfica da Campanha Central – 03, composta de três municípios (
Sant’Ana do Livramento, Rosário do Sul e São Gabriel – Ver Anexo A )
Tem uma área de 7.001,00 km2 sendo dessa 6.943,51 km² rural e 57,49 Km² urbana ,
que corresponde a 0,40% da área total da Microrregião e 2,49% da área do estado do Rio
Grande do Sul. Segundo o IBGE, em 1996 contava com 85.554 habitantes, com uma
densidade demográfica de 12,29 hab/km2.
A divisão administrativa do município segundo a lei n.º 2.555, de 29 de Novembro de
1989, estabelece como :
1º distrito – Livramento
2º distrito – Upamaroti
3º distrito – Ibicuí
4º distrito – Pampeiro
5º distrito – São Diogo
6º distrito – Espinilho
7º distrito – Cati
4.1.2. Topografia e Geomorfologia:
O município de Santana do Livramento nessa região caracteriza-se por formas altas e
planas em algumas áreas e em outras suavemente ondulada. Domina na área a Coxilha de
Santana, que apresenta uma configuração, de modo geral, em semi-arco e corresponde à área
considerada como reverso da “cuesta do Haedo”. Constitui-se de rochas efusivas básicas,
interderrame da Formação Serra Geral. O arenito aflora no caimento da superfície, tanto para
o Rio Ibicuí como para o Rio Quaraí. Ocorrem
47
freqüentes afloramentos rochosos na superfície na região do município principalmente no
basalto que corresponde aproximadamente cinqüenta por cento da área do território.
Na região do arenito as feições geomórficas são de duas categorias áreas de
acumulação aluvial e modelado tipicamente e arenito, de forma tabulares, colinas com
altitudes inferiores a 300 m e morros testemunhos.( Foto 02)
4.1.2.1 Região 01 – Basalto:
As formas de relevo, nessa superfície monoclinal, referem-se a áreas de aplanamento
retocadas, retratadas de formas bastante amplas, suborizontalizadas, ao longo de toda a
superfície.
A “Cuesta do Haedo” possui sua maior extensão em território uruguaio. Apesar de
constituir-se inteiriça a sudoeste da cidade, o limite internacional faz-se no reverso da
“cuesta”, restando, portanto, a linha de “cuesta” propriamente dita para o Uruguai. Possui uma
orientação geral NE – SO e está balizada pelo alto curso do Rio Ibicuí, na unidade
geomorfológica denominada depressão do Rio Ibicuí-Rio Negro, representada por seus
afluentes rios Ibicuí da Faxina e Ibicuí da Cruz, que apresentam seus cursos, de modo geral,
paralelos a essa escarpa. A partir das nascentes do Rio Ibirapuitã, a “cuesta” do Haedo
encontra-se bastante erodida e descontínua, em conseqüência da erosão fluvial, e está
traduzida por uma série de relevos residuais de topos planos ou suborizontalizados,
registrados no mapa geomorfológico como uma superfície de aplanamento degradada,
desnudada (Pru). Esses relevos residuais, que se constituem no limite oriental dessa unidade
geomorfológica, possuem direção geral NE – SO, em continuidade à “cuesta” propriamente
dita, observando-se seu recuo apenas a partir da coxilha da Cruz, mais próxima ao rio Ibicuí.
As cotas mais elevadas encontram-se próximas às nascentes do Rio Quaraí, onde
atingem 400m.
48
Na porção mais oriental da Coxilha de Santana, onde nascem os dois formadores do
Rio Quaraí, rios Invernada e Espinilho, e seus afluentes, esses rios encontram-se bastante
encaixados desde suas cabeceiras. A dissecação acentuada mostra, além dos marcados
desníveis entre topo e vale, a ocorrência de rupturas de declive com bordas abruptas voltadas
para as calhas dos rios.
De modo geral, junto a esses canais fluviais, ocorre o desenvolvimento de uma série
de pequenos cursos paralelos entre si, indicando uma retomada de erosão e individualizando
este segmento como um relevo em condições de alta energia, que evidencia um “estágio de
juventude”.
A drenagem ocorre, seccionando uma superfície composta com formas de relevo
bastante planas, suborizontalizadas, aplanadas (Pru), desenvolvidas sobre efusivas básicas,
com ocorrência de solos rasos e vegetação Estepe Gramíneo-Lenhosa.
4.1.2.2. Solos do Município de Sant’Ana do Livramento:
O município de Santana do Livramento nessa região caracteriza-se por formas baixas e
planas em algumas áreas e em outras suavemente ondulada.
É comum encontrar na região campos de arenito eólico ocorrentes entremeados nas
lavas e mesmo interdigitado com derrames basais de formação da serra geral, e, apesar de
semelhantes às rochas da formação Botucatu, são integrantes da unidade.
Na área degradacional Oriental, que representa características transacionais,
predominam as formas de dissecação homogêneas do tipo grosseira com aprofundamento dos
vales fluviais entre 27 e 32 metros ( Dg2) associados a ocorrência de solos podzólicos. São
resultados da alteração dos arenitos da formação botucatu e que estão recobertos pela savana
estépica. Nessas áreas ocorrem as manchas que apresentam risco de arenização,
voçorocamento e formação dos areais (desertos).
49
Atividade agrícola cíclica tem provocado degradação ambiental intensa principalmente
onde as formações superficiais têm textura arenosa, com fenômenos de ¨desertificação¨ na
Unidade Geomorfológica Planalto de Uruguaiana.
4.1.3 Solos da Região 01 – Basalto:
É constituído de terrenos de topografia aplainada, provenientes do derrame basáltico
(Juracretáceo) e de sedimentos permianos e triásicos
Verifica-se, nesta área, menor densidade populacional, predominando a exploração da
pecuária em médias e grandes propriedades. A potencialidade dos solos do basalto relacionase
à deficiência hídrica, profundidade e capacidade de armazenamento de água e
suscetibilidade à erosão.( Foto 01)
Ocorrem na região 01 os seguintes tipos de solos:
4.1.3.1 Litólico Eutrófico.
São solos desenvolvidos sobre as efusivas da formação Serra Geral, com relevo suave
ondulado ou ondulado. Nesta área os solos ocorrem como unidades simples ou associados
Brunizem Vértico e Vertissolos, sendo a vegetação tipo savana a cobertura original. Possuem
boas propriedades químicas.
Suas principais limitações dizem respeito à profundidade dos perfis e à presença de
pedras e/ou afloramentos de rocha em alguns locais A principal utilização deste solo é com
pastagem natural, em grandes propriedades rurais.
4.1.3.2 Vertissolos.
São solos minerais argilosos que apresentam pronunciadas mudanças em volume
decorrentes da variação do teor de umidade, fendas profundas em algumas épocas do
50
ano, bem como a presença de superfícies de fricção decorrentes da movimentação da massa
do solo. As argilas predominantes são a montmorilonita e vermiculita, com expansividade do
tipo 2:1. Ocorrem em relevo plano nas áreas deprimidas ou ao longo dos cursos d’água, sendo
derivados do basalto. São solos de difícil mobilização, pois são muito duros quando secos e
muito pegajosos quando molhados dificultando a mecanização e a utilização de implementos
agrícolas; são moderadamente sujeitos a erosão requerendo cuidados de conservação quando
cultivados.
4.1.4 Solos da Região 02 – Arenito.
É constituído de áreas de topografia ondulada a suavemente ondulada e plana nas
várzeas, originárias no período triásico, depositados sedimentos de natureza flúvio-lacustre da
formação Santa Maria. No triásico inferior e no eojurássico, sob domínio de um clima
desértico, iniciou-se a grande deposição de areias, em mantos de dispersão eólica, cujo
resultado foi a formação do arenito Botucatu, estendendo-se até o eocretáceo . ( Foto 02 )
Há uma maior densidade populacional, predominando a exploração da pecuária e
agricultura em pequenas e médias propriedades.
Estes solos, muito permeáveis e friáveis, sustentam uma vegetação rasteira muito
baixa cobertura, muito sensível ao pisoteio e ao sobrepastoreio. Utilização agrícola excessiva
e sem preocupações conservacionistas provoca ocorrência generalizada de erosão por
escoamento difuso e concentrado elementar, ocasionando lixiviação e truncamento dos solos,
danos à malha rodoviária, assoreamento dos cursos e reservatórios d’água e também
rebaixamento do lençol freático secando cisternas, fontes e aumentando o número de cursos
de água temporários.
Suertegaray ( 1998) a explicação para a existência dos areais está na fragilidade destes
sistemas, ocorrendo na fronteira oeste desde o tempo das doações de sesmarias. No entanto, a
autora levanta o fato de que os areais mais antigos não poderiam ser
51
explicados pelo efeito do gado bovino, dada a existência de areais anteriores aos cercamentos
das propriedades. Devido à possível existência de grandes mamíferos com alta lotação
vivendo a solto em grandes extensões de terra provocaram a substituição da savana arbustiva
por uma savana herbácea e a tendência desses animais de formarem trilhas, a remoção da
vegetação nas vertentes dando origem ao voçorocamento que resultou nos areais.
Os solos do arenito têm as seguintes deficiências: pouca fertilidade com baixos teores
de matéria orgânica e fósforo, excesso de água ( hidromorfismo) e grande suscetibilidade à
erosão.
Ocorrem na região 02 os seguintes tipos de solos:
4.1.4.1 Podzólico vermelho-amarelo álico.
São solos profundos e medianamente profundos (raramente rasos), com coloração
variável. Na sua grande maioria, são solos bem drenados e apresentam argila de atividade
baixa. Ocorrem em áreas de relevo desde o suave ondulado até o forte ondulado.
São utilizados com pastagens naturais, na maior parte da área, sendo também
expressivos os cultivos anuais.
4.1.4.2 Podzólico vermelho-escuro álico.
São solos profundos e também medianamente profundos, muito ácidos não
hidromórficos, baixa fertilidade natural e altamente suscetíveis à erosão.
Planossolo Eutróficos: são solos hidromórficos, de áreas baixas, onde ocorre excesso
de água permanente ou temporária, ocasionando fenômenos de redução que resultam no
desenvolvimento de perfis com cores cinzentas, característica de gleização.
52
Possui má drenagem ocorrendo sobre os depósitos aluvionários do Quartenário. Em
algumas áreas, o horizonte A pode ser muito espesso, bastante arenoso, propiciando, nas
enxurradas a possibilidade de erosão subsuperficial.
São utilizados, basicamente, com pastagens naturais e cultivadas, com destaque para a
pecuária de corte. Em escala menor, observam-se cultivos de trigo, arroz, milho e mandioca.
Este solo, além da limitação por baixa fertilidade natural, possui alta suscetibilidade à
erosão. Os cultivos anuais, quando efetuados, devem obedecer a rigorosas práticas de manejo,
recomendando-se, principalmente, a calagem e a adubação, controle intensivo da erosão e,
sempre que possível, incorporação de matéria orgânica, visando a aumentar a capacidade de
retenção de cátions e água. (Anexo – D)
4.1.5 Flora da Região 01 – Basalto.
Representada por formações Gramíneo - Lenhosas, a estepe reveste terrenos de
topografia aplainada e suavemente ondulada, basálticos, em cotas altimétricas variando de 50
a 300m, com um tapete contínuo, geralmente baixo, desprovido de grupamentos arbóreos
significativos. ( Foto 01)
A estepe é subdividida em duas formações; Parque e Gramineo-lenhosa com as subformações com floresta de galeria e sem floresta de galeria.
A vegetação de estepe gramineo-lenhosa sem floresta de galeria caracterizada por
gramíneas cespitosas (hemicriptófitas) dos gêneros “Stipa” e “Agrostis”; gramíneas
rizomatosas (geófitas) dos gêneros “Paspalum” e “Axonopus”; raras gramíneas anuais e
oxilidáceas ( terófitas ), além de leguminosas e compostas ( caméfitas ). As fanerófitas são
representadas por espécies espinhosas e decíduas dos gêneros “Acácia, Prosopis,
Acanthosyris” e outros.
53
A composição florística apresenta uma variação espacial em função dos parâmetros
ecológicos locais e das diferentes formas de manejo e das áreas submetidas a intensa lotação
de gado.
Dentre as inúmeras espécies de gêneros, merecem destaque a “Paspalum notatum”
(grama-forquilha) e a “Axonopus fisifolius” (grama-jesuíta). A primeira é de grande
importância forrageira e ocupa principalmente terrenos secos e bem drenados. A segunda
ocorre preferencialmente em terrenos aplainados, úmidos e de solos profundos.
Nas áreas de relevo suavemente ondulado ( coxilhas ), não submetidas a um pastoreio
excessivo, a cobertura campestre apresenta uma composição florística mais diversificada,
ocorrendo ali dois estratos graminosos distintos: um baixo e denso, dominado por “Paspalum
notatum” ( grama-forquilha ), e outro alto e aberto, com altura variando entre 30cm e 1 metro,
dominado por “Andropogon lateralis” ( capim-caninha ), “Andropogon sellowianus”,
“Sporobolus indicus” (capim-touceirinha) e “Eragrostis baiensis”, além de inúmeras espécies
dos gêneros “Stipa, Aristida, Panicum, Erianthus, Piptochaetium” e outros.
Nos terrenos úmidos das baixadas, até as meias encostas das coxilhas, encontramos o
“Erianthus clandestinus”( macega-estaladeira ).
As compostas, de uma maneira geral, têm pequena representatividade na composição
florística das formações estépicas, exceção feita às espécies “Eupatorium pinnatifidum”
(chirca) e “Baccharis coridifolia” ( mio-mio ). Estas caméfitas dos campos abertos têm o seu
alastramento favorecido pelo rebaixamento do tapete gramíneo-lenhoso mas, ao mesmo
tempo, têm sua dispersão controlada, por competirem com as gramíneas e por serem tóxicas
ao gado.
A estepe gramineo-lenhosa com floresta de galeria tem seu extrato herbáceo com as
mesmas características descritas para a subformação anterior. O caráter diferencial, são
matas ciliares que podem mostrar fisionomias distintas, de acordo com a idade das
54
deposições dos cursos de água. Assim, em drenagens com deposição recente, têm-se formação
arbórea descontinua e aberta com Erythrina crista-galli, Salix humboldtiana, Pouteria
salicifolia, Sebastiania commersoniana e outras. Em drenagens encaixadas, sem deposição
recente, ocorrem formações arbóreas xerófitas, com predominância de acacia caven, Gleditsis
amorphoides ( coronda), parkinsonia aculeata ( cina-cian), Acanthosyris spinescens ( sombrade-touro0, Ruprechtia laxiflora e luehea divaricata.
Áreas menores não incluídas nas formações já citadas, são indicadas por Texeira et al.
(1986) como formação antrópicas provenientes da modificação da Estepe ( culturas anuais) e
savana estépica ( cultivo de eucalipto).
4.1.6 Flora da Região 02 – Arenito.
Nos terrenos de origem arenítica, com diferentes formas de relevo, revestidos por
solos distróficos lixiviados, ocorrem as savanas estépicas.( Foto 02)
O relevo varia de suavemente ondulado a dissecado, tendo como característica
marcante a presença de morros com topos achatados e paredes abruptas, testemunhos de
antigo mapeamento basáltico, hoje quase totalmente erodido.
A cobertura vegetal é formada por três estratos:
1) Uma cobertura herbácea continua, denominada por gramineas hemicriptófitas (
Andropogon spp., Aristida spp., Sorghastrum spp.);
2) Estrato arbustivo composto por cactáceas (representadas por cereus hildmannianus
e Opuntia spp.) leguminosas e compostas
3) Estrato arbóreo dominado pelas anacardiáccas Astronium balansae ( pau ferro ),
Schinus lentiscifolius ( aroeira), S polygamus ( assobiadeira, Lithraea brasiliensis ( aroeirapreta) e Lithraea molleoides , ( aroira) e pela leguminosa Acacia
55
caven ( espinilho). A savana estépica é subdividida em três unidades fitofisiognômicas :
Arbórea abreta, Parque e gramineo-lenhosas.
A savana estépica parque ocorre nas cotas mais elevadas das serras e coxilhas
presentes na área e também junto a alguns arroios, sempre ocorrendo com florestas de galeria.
Apresentando apenas dois extratos: o herbáceo e o árboreo.
A cobertura vegetal herbácea apresenta, como característica marcante, acentuada
tomentosidade, que confere aos campos uma coloração cinzenta. Este caráter xerofítico é
evidenciado pela gramínea “Paspalum notatum” (grama-forquilha), cujo ecotipo mostra ali
uma pilosidade intensa. Além das gramíneas, ocorrem, com menor expressão, compostas,
leguminosas anãs e verbanáceas (caméfitas), além de oxilidáceas e umbrelíferas (xerófitas).
No extrato arbóreo aberto dominam, além das anacardiáceas e do espilho, celtis tala (
taleira) e Scutia buxifolia ( coronilha). Nas matas de galeria ocorrem principalmente
Patagonula americana ( guajuvira), Ruprechtia laxiflora ( farinha seca), Luehea divaricata (
açoita –cavalo) e Pouteria salicifolia ( sarandi-mata-olho), entre outras.
A savana estépica gramineo lenhosa com floresta de galeria apresenta um extrato
herbáceo continuo, com predominância das mesmas gramineas já citadas . Nas matas de
gaaleria ocorrem Erythrina crista-galli ( corticeira do banhado), Salix humboldtiana ( salseiro)
e sbastania commersoniana ( branquiho), entre outras já citadas. Podem ocorrer ainda
vassourais de compostas em locais de relevo ondulado e solo profundo e comunidades
arbóreas xeromorfas na base dos morros, caracterizadas por Lithraea spp., Schinus spp.,
Scutia buxifolia, astronium balansae e Aloysia gratissima ( garupá).
São comuns neste setor os afloramentos de rochosos distribuídos na forma de
arquipélagos por toda a região e além dela, não aparentes nos mapeamentos porque ocupam
pequenas áreas em cada lugar. Nestes sítios cresce uma flora bastante
56
particular, de aspecto xeromorfo, que guarda poucas similaridades com a matriz da vegetação
dominante. Ocorrem ali espécies vegetais endêmicas ou de distribuição restrita
Cactaceae Bromeliaceae.
ds famílias
Nos locais de relevo ondulado e solo profundo, ocorrem grupamentos de compostas,
formando os vassourais (campo lenhoso).
A floresta estacional decidual desta formação está associada aos solos dos terraços
aluviais, onde a disponibilidade de água é maior. Foi praticamente erradicada na região, sendo
substituída por culturas cíclicas, em especial ao arroz irrigado. As espécies mais freqüentes na
floresta aluvial o jerivá ( Syagrus romanzoffiana), a corticeira-do-banhado ( Erythrina cristagalli), salseiro ( salix humboldtiana), branquilho ( Sebastiania commersoniana), o toropi (
Sapium sp.) e o Ingá ( inga uruguensis). Além destas, ocorrem na área várias espécies de
interesse econômico, entre elas o açoita cavalo ( Luethea divaricata), o angico (
Parapiptadenia rigida, espécies localmente mais abundante), a cabriuva ( Myrocarpus
frondosus), a guajuvira ( Patagonula americana), a coronilha ( Scutia buxifolia), a coronda (
Gleditsia amorphoides e o pau ferro ( astronium balansea).
4.1.7 Fauna:
Sant’Ana do Livramento possuí uma grande área de preservação ambiental
denominada de Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã / Rs ( APA), que abrange também
mais três municípios Alegrete, Quaraí e Rosário do Sul, podendo afirmar que há uma
quantidade e variedade representativa de espécies da fauna ainda preservada.
O perímetro da APA circunscreve a porção central superior da bacia hidrográfica do
rio Ibirapuitã, da qual ocupa cerca de 47 % da superfície. Seus limites chegam até a fronteira
com o Uruguai. No município de Santana do Livramento a APA ocupa 1.810,86 Km² o
equivalente a 56,81 % de um total de 318.767,07 há.
57
Sua localização no município é quase central, dividindo as duas regiões do basalto e
do arenito. Pode-se considerar pela sua extensão no município e localização estratégica como
um local de refugio da fauna e ao mesmo tempo de disseminação da mesma. Portanto, com
raras exceções, as espécies que ocorrem no basalto também ocorreram no arenito.
Na descrição deste trabalho sobre a fauna, o autor fará referência às espécies que
ocorrem no município e uma observação posterior para cada região.
Podendo ser encontradas de maneira geral em todo o município as seguintes espécies
de animais mamíferos e répteis; capivara ( Hydrochaeris hydrochaeris), ratão do banhado (
Myocastor coypus), tatu ( Dasypus novemcinctus), mulita ( Dasypus hybridus), lebre ( Lepus
capensis), gambá ( Didelphidae spp), veado ( Mazama spp), bugio ( Aloutta fusca), lobo
guará ( Chrysocyon brachyurus), , morcegos ( Phyllostomidae spp) , ( Desmodus rotundus),
graxains ( Dusicyon spp), Mão pelada ( Procyon cancrivorus), Zorrilho ( Coneppatus chinga),
Furão ( Galictis cuja), Jaguatirica ( fellis pardalis), gato do mato pequeno ( felis tigrina). Prea
( Cavia aperea), ouriço cacheiro (Coendou villosus), tuco-tuco ( Ctenomys torquatus ), porco
do mato ( tayassu pecari), jacaré ( Caiman spp), Sapos ( Bufo sp), pererecas ( Hyla sp),
lagartixas ( liolaemus sp), lagarto ( tupinambis rufescens), cobra cega ( Amphisbaena sp),
falsa coral ( Elapomorphus bilineatus),Cobra coral ( Micrurus sp.), Cruzeira ( Bothrops
alternatus), jararaca ( Bothrops jararaca) e cascável ( Crolatus durissus terrificus).
As seguintes aves também são encontradas: varias espécies de gaviões ( Accipiter
striatus), ( Buteo magnirostris),falcão ( Polyborus plancus), Dorminhoco( Nycteria americana)
( Galinha d’água ( Gallinula chloropus) caturritas ( Myiopsita monachus), alma de Gato (
Guira guira), papagaios pequenos( Familia - Psittacidae ), corujas ( Speotyto cunicularia),
pombas ( Columbina spp), Bem-Te –Vis ( Pitangus sulphuratus), Curruíras ( Familia Troglodytidae ), Garibaldi ( Agelius ruficapillus), Cardeal ( Padoaria coronata), Canário da
Terra ( Sicalis flaveola), colero do brejo( Sporophila caerulescens), sabiá ( Turdus spp),
ferreirinho (Turdus nigriceps), tico-tico (
58
Zonotrichia caapensis), beija-flor ( Hylocharis chysura), pica-pau ( Familia Picidae ), Seriema
( Syrigma sibilatrix, Garça Vaqueira ) ( Bubulcus ibis ), marecas piadeira ( Dendrocygna
viduata ), ( Marreca pardinha ( Anas flavirostris), marrecão ( Netta peposaca), Garça
(Casmerodius albus), quero-quero ( Vanellus chilensis), Urubus ( Coragyps atratus), João-de–
Barro ( Furnarius rufus ), pardal- ( Passer domesticus),Vira bosta ( Molothrus bonariensis),
tesourinha ( Muscivora tyrannus),perdiz ( Nothura maculosa ), perdigão ( crypturellus
sp,),Jacu-açu (Penelope abscura), Maçarico do campo ( Bartramia longicauda ), João grande (
Ciconia maguari) e ema ( Rhea americana).
Os peixes lacustres mais encontrados são: Lambari ( Diapoma terofali), Traíra (
Hoplias malabaricus ), Pintado ( Pimelodus maculatus), Jundiá ( Rhamdia sp), muçum (
Synbranchus marmoratus) e o bagre ( Netuma barbus), Mandim ( Microglanis sp)cará (
Gymnogeophagus sp) e Joana ( Crenicichla scottii).
4.1.7.1 Na Região 01 – Basalto.
Os répteis, em especial as cobras e lagartos, ocorrem com mais freqüência e em maior
número de espécies.
As lebres mais numerosas nessa região chegando a serem consideradas pragas.
Espécies de hábitos subterrâneos como tuco-tuco e furão são de ocorrência rara nessa
região. Exceção ao tatu e a mulita.
Espécies de hábitos lacustres também ocorrem com menor freqüência, restringindo-se
a alguns lugares das margens dos rios Ibirapuitã e Quaraí.
59
4.1.7.2 Na Região 02 – Arenito.
Devido ao tipo de solo e substratos arbóreos, há uma diversificação de espécies, pois
a vegetação de florestas lenhosas de galerias permite abrigar uma quantidade mais elevada de
animais de maior porte.
4.1.8 Clima:
O município de Santana do Livramento está submetido a um clima de dupla
estacionalidade, provocada por um período frio (inverno), com temperaturas médias inferiores
a 15ºC, com duração superior a 90 dias, durante o qual são freqüentes a formação de geadas e
a penetração de frentes polares com ventos gelados de velocidade moderada ( minuano ),
alternado por um período subúmido e quente ( verão).
O clima sofre influência da latitude e de fatores geográficos como relevo, vegetação
campestre, etc., apresentando, no verão, temperaturas elevadas e ondas de calor violentas e
períodos de estiagens prolongadas.
Ocorrem baixas temperaturas nos meses mais frios, as quais são responsáveis pela
ocorrência de geadas nessas áreas. Por outro lado, todas as estações apresentam excedentes
hídricos por mais de três meses, exceto no verão quando ocorre uma precipitação irregular e
mal distribuída. Nos meses de maior precipitação no inverno e primavera, há uma drenagem
imperfeita dos solos da região 01 – basalto pela pouca profundidade, prejudicando o
desenvolvimento das plantas.
Nessa região da Campanha são encontradas as maiores temperaturas médias anuais,
pois ali o efeito da continentalidade, conjugado ao progressivo decréscimo das altitudes em
direção ao Vale do Rio Uruguai, provoca o aumento de tais temperaturas.( região 01 –
basalto)
60
As elevadas temperaturas no verão, apesar de coincidirem com a época de deficiência
hídrica, interferem no suporte das pastagens naturais.
O município tem uma altitude média de 234 metros e a distribuição do elemento
hídrico faz-se da seguinte maneira: nos meses de dezembro a fevereiro ocorre uma
deficiência hídrica por uma precipitação desuniforme ao longo do mês, com média de 132
mm, enquanto que o excedente se apresenta nos meses de maio e outubro, totalizando uma
média de 257 mm.
Segundo as análises do Projeto Radambrasil, o comportamento térmico e
pluviométrico do município é o seguinte:
•
Temperatura média anual: 17,4ºC
•
Temperatura máxima absoluta anual: 40,5ºC
•
Temperatura mínima absoluta anual: - 4.1º C
•
Precipitação total anual média: 1.200 mm à 1.350 mm.
•
A temperatura média anual é de 17,9 °C, sendo a média do mês mais quente 24°
C e do mais frio 12,5° C.
•
A umidade relativa do ar média varia entre 75% à 85%.
•
A luminosidade anual é de 2.430 hs de ensolação
Segundo a classificação de W.Köppen, o município possui um clima subtropical ou
virginiano, ( temperado chuvoso ), com temperatura média do mês mais quente superior a
22ºC e uma temperatura média anual inferior a 18ºC.
4.1.8.1 Região 01 – Basalto:
O principal problema da região está relacionado aos meses de verão quando as
precipitações são irregulares e de menor volume fazendo com que as plantas e culturas
61
sejam fortemente prejudicadas. È um solo que tem pouca capacidade de armazenamento de
água por serem rasos.
No caso dos vertissolos, o excesso de água e a sua falta prejudicam o seu manejo e o
desenvolvimento das plantas pela presença de argilas 2:1 expansivas.
A região apresenta com já descrito anteriormente temperaturas médias anuais mais
elevadas pela continentalidade em direção oeste e pela superfície do solo de origem basáltica
que reflete menos o calor.
O excesso de precipitação provoca enxurradas pela pouca capacidade de percolação
d’água.
4.1.8.2 Na Região 02 – Arenito:
Possui menos problemas de déficit hídrico, pois as unidades de solo possuem uma boa
capacidade de armazenamento de água. O excesso de precipitação é prejudicial aos solos
hidromórficos que têm diminuída a sua capacidade de armazenamento de oxigênio.
O número de horas de frio no inverno são ideais para o desenvolvimento da
fruticultura, principalmente as rosáceas.
A vitivinicultura encontra condições edafoclimáticas ideais, pois no verão há uma
diminuição da precipitação o que eleva a concentração de açúcares atingindo graus Brix
acima de 20 % em média.
As culturas anuais como o milho e soja são pouco indicadas para o plantio sem um
sistema eficiente de irrigação e sem um manejo do solo que não provoque perdas de água por
evaporação. ( com cobertura verde ou palha).
62
4.1.9 Hidrografia e Principais Microbacias:
O aqüífero local, considerado de excelente qualidade principalmente o subterrâneo,
abastece toda a sede do município com poços artesianos.
O município se localiza em um divisor de águas onde nascem os principais cursos de
água que dão origem aos rios da região como: Rios
Ibicuí, Ibirapuitã e Quaraí , que
constituirão a bacia do Rio Uruguai.
O período de maior descarga dos rios que compõem a bacia do Uruguai ocorrem, em
geral na primavera ( setembro / outubro ), embora em outros possam ser registrados valores
elevados.
As 04 principias microbacias do município são:
1) Rio Quaraí no sentido Leste ( L), Oeste ( W) fazendo divisa com a Republica
Oriental do Uruguai .
2) Rio Ibirapuitã e Ibirapuitã Chico dentro da região 01 irá constituir a divisa
municipal com Alegrete, Quaraí e Rosário do Sul no sentido NNW / SSE.
3) Rio Ibicuí da Faxina e Passo da Cruz dentro da região 02 faz divisa como
Município de Rosário do Sul. no sentido Sul (S), Norte (N)
4) Rio Ibicuí da Armada e Upamaroty dentro da região 02 faz divisa como Município
de Dom Pedrito. no sentido Sul (S), Norte (N)
4.1.9.1 Na Região 01 – Basalto:
Os rios dessa região basáltica são fortemente encaixados, porém os leitos foram
escavados nas áreas de menor espessura do derrame de lavas, suavizando em parte, o
encaixamento dos vales.
63
A configuração dos leitos, a partir do tipo de relevo, favorece um rápido aumento do
nível das águas por ocasião das chuvas intensas sobre solos litólicos ( rasos) e favorecido pelo
escorrimento superficial. São leitos apertados com passagens estreitas. São rios que em
estiagens mais prolongadas no verão podem se cortar secando em alguns trechos. Condição
esta que impediu o avanço da orizicultura na região 01.
Na bacia do Rio Ibirapuitã pela condição de solos rasos,
é ocupada
predominantemente pela pecuária extensiva
•
Rio Quaraí é formado pelos seguintes afluentes: Arroios invernada, A. da
Aroeira, A. dos Moirões, A. dos Trilhos, A. Espinilho , A. do Ingleses A. Passo da Lagoa, A.
do Jeromita, Sanga da Tuna, A. de Gato e A. Sarandi, A. Caty e outros pequenos arroios e
sangas.
•
Rio Ibirapuitã é formada pelos afluentes Ibirapuitã- Chico de maior volume,
pelos arroios Sarandizinho, Passo do Cerrito, A. Sociedade, A. Lageado, A. Camelos, A.
Funchal A. do Chapéu. A jusante da foz do Rio Ibirapuitã Chico, destacam-se os arroios: A.
Lagoinha, A. Restinga Seca, A. Santo Eustáquio, A. do Peral, A. das Pedras, A. Mangueira de
Pedra, A. dos Cardosos, A. Santo Agostinho e outros pequenos afluentes.
4.1.9.2 Na Região 02 – Arenito:
A Bacia do Rio Ibicui é diferenciada em relação á anterior devido a natureza do
relevo. O curso dos rios é feito em terrenos arenosos da bacia sedimentar da depressão central.
O alagamento das margens na formação de restingas (banhados), várzeas e campos de
pastagens é uma conseqüência do escoamento mais lento, decorrentes de um menor gradiente
de declividade.
64
A orizicultura ocupa grandes extensões nas várzeas e próximos aos leitos dos afluentes
que formam o Ibicuí da armada em toda a região 02. Ocasionando desmatamentos, drenagem
de banhados e a utilização de práticas de manejo do solo não adaptadas que promovem
alterações no volume hidrológico, agravando situações de conflito de uso da água.
Rio Ibicuí da Armada tem por afluentes Sanga Funda, Rio e Arroio Upamaroti,
Sanga e Banhado da Goiabeira, A. da Caneleira, A. do Gambeta, Banhado do Ibicui, A.
Carolina, A. da Florentina, A. do ibicui da Faxina Pesqueira, A. Passo do Guedes, Restinga da
Cruz, A. da Cruz, A. do Forno, Restinga da Tafona, A. Porteirinha, Sanga Preta, A.Tarumã,
A. Vacaquá, A. Ibicui da Cruz, A. Vaqueiros, Restinga do Itaquatiá, Restinga da Pitangueira,
Banhados do Campo Alto, Conceição e Marrecos e outros pequenos afluentes. (Anexo B1)
4.2 Evolução e Diferenciação dos Sistemas Agrários:
Usando o método de entrevistas semi-estruturadas com informantes chaves e da
pesquisa bibliografia disponível, pode-se identificar os 05 sistemas agrários que evoluíram e
se sucederam ao longo do tempo do município de Santana do Livramento.
4.2.1 Sistema Agrário Indígena – até 1634.
Subsistema – Extrativista e agricultura.
As primeiras comunidades foram os indígenas Charruas, Bohanes, Chanás, Yarós e
Minuanos que formaram a grande nação Charrua, pela semelhança de seus costume e
linguagem. Vestiam –se de peles de animais, e alimentavam –se de carne de veado, avestruz,
capivara, tatu e ratão do banhado, de pequenos roedores, aves e peixes.
65
Vindos da Amazônia, os guaranis ocuparam amplos espaços nos vales dos rios
Paraguai, Paraná, Uruguai e Jacuí. Seu sistema sócio – econômico se baseava principalmente
na agricultura da mandioca, milho, porongos e feijões, além da pesca, que dissecavam e
defumavam.
Os Charruas foram os primeiros a habitarem as pradarias ( Região 1 – Basalto ), onde
podiam caçar e pescar, e os Guaranis, as beiras de rios, e próximo aos matos ( Região 02 –
Arenito ), mais propícias à agricultura de subsistência. Ambos usam plantas silvestres na
alimentação.
Utilizam ferramentas manuais, o arco e flecha, lança com ponta de pedra e as
boleadeiras, moravam em toldos de capim.
O trabalho era realizado pela tribo como um todo onde havia castas. As mulheres
cultivavam e os homens caçavam e pescavam.
As relações de troca eram através do escambo e para o autoconsumo, apenas o
excedente era trocado entre outros grupos de indígenas.
Como na região 01 predomina o solo de basalto apenas em pequenas áreas eram
praticadas agricultura geralmente próximas aos mananciais de água. Na maior parte da região,
era destinada a farta caça de animais silvestres.
Na região 02 o solo é originário do arenito mais favorável à prática da agricultura
realizada com mais intensidade pelos índios Guaranis que habitavam em maior número essa
área. A caça e a pesca também era farta, pois os maiores mananciais de água e as matas
nativas estavam localizados nessa região.
A agricultura praticada era de coivara em pequenas áreas que eram cultivadas com
sementes próprias.
66
A produção tanto da agricultura, como a extrativista e artesanal destinava-se ao
consumo próprio e ao escambo entre as famílias da tribo assim como de outras tribos.
A transição para o sistema agrário seguinte ocorreu a partir da estâncias missioneiras
dos padres jesuítas que se espalharam na região. O aculturamento dos índios pela
catequização dos missionários provocou mudanças nos seus costumes e do modo de vida.
Com o objetivo de alimentar os povos das reduções, os jesuítas foram os pioneiros em
trazer gado para a região a partir de 1634, vindos da banda Ocidental do Rio Uruguai quando
ocorreu a histórica tropeada do padre Cristovão de Mendonza e Pedro Romero, sendo os
mesmos considerados os primeiros tropeiros do Rio Grande do Sul a trazer de Corrientes,
gado Vacum, hoje província da república Argentina, calculada em 1.500 reses, ovelhas,
cavalos e aves domesticadas. Dava-se assim início ao ciclo do gado. Data dessa época
também a entrada de eqüinos que vieram juntos com a tropa de animais trazidos pelos
jesuítas; no entanto, acredita-se que os Charruas e Minuanos pela sua condição de nômades já
andassem a cavalo, conseguidos através do contato com algumas tribos do outro lado do rio
Uruguai.
Mudou assim de forma radical a maneira dos índios de explorarem o seu meio
ambiente. A partir de desse momento passam a praticar uma agricultura mais intensiva com
instrumentos trazidos pelos jesuítas e a criar o gado e outros animais.
4.2.2 Sistema Agrário das Missões I – 1634 / 1682.
Subsistema – N a região 01 Basalto - Pecuária e agrícola.
Subsistema – Na região 02 Arenito - Extrativista e agrícola.
67
4.2.2.1 Na Região 01 do Basalto:
Nessa região encontram-se as pastagens de melhor qualidade. Ao longo dos
mananciais dos cursos de água se instalaram as estâncias missioneiras praticando nas áreas
propicias a agricultura nas partes baixas das coxilhas agricultura de subsistência como o
milho, feijão a mandioca e a batata doce. O trigo também foi primeiramente cultivado por
eles.
A pecuária de corte é a principal atividade junto com a criação de pequenos animais,
inclusive o rebanho ovino.
Os jesuítas já introduziram além das ferramentas manuais de metal os equipamentos
tracionados a boi e cavalo.
O sistema de trabalho é organizado pelos missionários com a mão de obra indígena e
dos próprios jesuítas.
Os produtos são destinados ao autoconsumo, armazenados para o período de entresafra e escambo. Alguns excedentes como o sebo, couro e as crinas ( cabelos do animais) são
comercializados pelos jesuítas.
Os índios que ainda não foram catequizados continuam a usar o seu sistema
tradicional de cultivo, o arco a flecha, a lança e as boleadeiras para caça e pesca de animais
silvestres.
4.2.2.2 Na Região 02 do Arenito :
Os índios que habitavam os campos e matos dessa região sofreram uma menor
influência dos catequistas missionários em primeiro momento. As estâncias missioneiras não
haviam se instalado nessa área. Os índios permaneceram com seu sistema extrativista e
plantio de queimada ( coivara ), por mais tempo.
68
Os instrumentos permanecem os mesmos do período anterior, feitos de madeira, pedra
e ossos. A canoa também é esculpida em tronco de árvores.
A transição para o período seguinte ocorreu pelo contato mais intenso com outros
índios já catequizados e pelos próprios missionários da região 1 das estâncias missioneiras.
As duas regiões do Basalto e do Arenito sofreram com o ataque dos marchantes de
indígenas organizados em grupos, denominados de bandeiras ( Companhia ), que se
internavam pelos sertões a dentro na busca de ouro, pedras preciosas e silvícolas.
Na capitania de São Vicente ( São Paulo),
a mão de obra operária era escassa e
deficiente, o que levou o colono a apelar para o braço cativo, começando por recrutar os
índios, então abundantes e baratos. A primeira bandeira que penetrou no Rio Grande do Sul
foi a de Antônio Raposo Tavares, atingiu as reduções jesuíticas em Julho de 1636. Os
bandeirantes e mamelucos∗ destruíram quatorze reduções guaranis, calculando-se em
cinqüenta mil pessoas, já cristianizadas, mortas ou escravizadas pelos caçadores de índios.
Provocando a fuga dos jesuítas e dos índios que sobraram para a outra margem do
Rio Uruguai onde ficaram sob a proteção dos espanhóis e próximos aos outros povos mais
bem fortificados. Ficando aqui o gado em grandes rebanhos, proliferando-se pelos campos da
região. O gado vacum, assim como o eqüino e também o ovino, tornou-se isento de qualquer
título de propriedade.
4.2.3 Sistema Agrário das Missões II e da Colônia de Sacramento – 1682 /1814
Subsistema estruturado na Preação do gado.
69
∗
mestiços: filhos de índios com brancos
Os jesuítas quando aportaram no Rio Grande do Sul novamente encontraram um
ambiente completamente modificado pelas condições impostas com a introdução do gado, que
se esparramara pelas pradarias em todas as direções.
As missões foram reorganizadas de onde surgiram os sete povos que foram
transformados em grandes estâncias de gado. Não havia fronteiras, era uma grande região
compreendida do rio Ibicuí até o Rio Arepeí no Uruguai.
Os índios já tinham se transformados em cavaleiros e tinham aprendido a comer
churrasco. Foram os primeiros a se aproveitar da gadaria solta para sua sobrevivência.
Observando o sistema de abastecimento dos Índios Charruas, nota-se a enorme
diferença havida entre os séculos XVI e XIX, em que os índios trocam toda sua alimentação,
permanecendo apenas as avestruzes, brotos e juncos da dieta anterior. Para as toldoarias
passam usar couro ao invés de palha, e o cavalo torna-se indispensável em suas vidas, tanto
para caçar, como principalmente para prear gado e lutar.
Aparecem as primeiras trocas de produtos de animais por tecidos e roupas e, num
segundo momento, os charruas trocam, apropriam-se, fazem tudo para conseguir instrumentos
metálicos, cachaça, erva mate e principalmente cavalos e bois.
Também para os índios guaranis que viviam na região 02 do arenito o gado modificou
totalmente os seus hábitos de vida. Contudo, continuavam a cultivar pelo sistema de coivara
para a sua subsistência.
“Sem o gado vacum e cavalar faltaria a base econômica principalmente das Reduções:
não teria sido possível chegarem à altura que chegaram nas artes e ofícios ( ... ) nem na vida
civil e religiosa ou na importância política e militar “ ( Pesavento, 1979).
70
“Verdadeiramente pode-se falar em geopolitica do gado na banda Oriental. Durante
vários séculos a vida e história da banda Oriental se encaminha grandemente atrás do boi, que
foi tenazmente implantando nela pela mão do antigo missionário jesuíta”.
“A história do gado vai ser, de ora em diante, nesse meio em que se debatem dois
povos (portugueses e espanhóis), por antagonismos político- econômico, a própria história do
homem e da terra “(Albornoz , 2000).
O gado, tendo à sua disposição as enormes e riquíssimas pastagens dos campos largos,
abrigadas por suntuosas matarias esparsas e servidas por aguadas abundantes, chegou às
praias do atlântico, nos limites da província do Uruguai. Só o rebanho bovino foi calculado,
na época, superior a um milhão de cabeças e os outros tornaram-se inumeráveis.
Os Minuanos inventaram as boleadeiras e o laço. Com estes instrumentos preavam no
campo cavalos e bovinos. Os desgarroteadores também eram utilizados na caça ao gado
equipamento em forma de “ U “ presos a cabo de lança e tendo sua parte interna afiada, que
ao encostar da pata traseira do bovino provocava o rompimento do tendão de ligamento da
pata ( Garrão ) dos bovinos fazendo com que esse perdesse o equilíbrio e caísse para ser
apreendido para retirar-lhe o couro.
Os paulistas vieram
para levar tropas de gado para as Minas Gerais, onde se
necessitava carne e transporte. Os espanhóis e seus descendentes mestiços, principalmente os
da região de Santa Fé, que vinham atrás de couros, contrabandeados através da colônia, eram
“aventureiros e elementos foragidos”.
O primeiro grande ciclo econômico do território da margem esquerda do rio Uruguai
foi a courama. Não se tratava de criar rebanhos, mas de caça ao gado (Preação) para retirarlhe o couro e o sebo. ( Viera, E. F.; Rangel, 1989 )
71
Algumas tribos continuavam usando os seus instrumentos tradicionais, as toldarias e
as canoas passaram a ser construídas com couro. As armas de fogo começam a ser utilizadas
pelos portugueses e espanhóis.
As plantações continuam a serem as mesmas do período anterior, somente o uso do
trigo fica mais difundido entre os indígenas.
Nas missões e nas estâncias missioneiras a agricultura é praticada com recursos da
tração animal e as áreas de cultivo são ampliadas.
Observa-se que nesse período havia duas maneiras da exploração dos bovinos. No
caso das estâncias missioneiras e de algumas tribos, esses voltaram a domesticar animais
inclusive bovinos para criação. Enquanto os portugueses, espanhóis e outras tribos de índios
criam sua própria etnia, o gaúcho, um nômade errante de forte instinto militar, que vive da
preação do gado.
A extrema mobilidade da população, para quem a linha de Fronteira nunca foi um
limite intransponível, era uma característica importante das populações.
A história do gado passa a ser também o embate de dois povos ( português e
espanhol), por antagonismos político-econômicos.
E esse grande empório comercial foi que veio apurar as delimitações entre Portugueses
e Espanhóis, através da linha seca que separa os dois povos. Desde São Vicente, seguindo o
caminho de Laguna, desce o paulista, iniciando em 1725 sua entrada nas terras do sul. Luta e
conquista o silvícola. Associa-se ao gaúcho platino. Juntos defendem os mesmos interesses, e
nem as guerras entre dois povos puderam interromper essa clandestinidade. E têm início, em
1733, as grandes arriadas de mulas e tropas de gado Vacum, num constante vai e vem, para
abastecer os carentes e ricos centros consumidores de São Paulo e Minas Gerais.
72
“A interação entre os portugueses, espanhóis e índios charruas e guaranis se baseava
nos modos de produção –caça ao gado selvagem, roubo de gado das estâncias missioneiras e
dos colonizadores ibéricos e criação de gado que se adaptava ao modo de vida, especialmente
os charruas, que eram caçadores e não praticavam. Tornou-se fonte de renda fácil. São
Charruas, Minuanos, Rio-Grandenses e Platinos. E essa terrível classe rural subdivide-se em
charqueadores, gaudérios, tropeiros e changadores.” ( Albornoz, 2000 )
Nos quase cem anos em que durou a Colônia do Sacramento constituiu-se num
entreposto comercial de importação e exportação, assim o contrabando deixou de ser delito de
fronteiras, pois estava oficializado pelas autoridades de fronteiras portuguesas. Além do
comércio havia o objetivo político de ocupar todo o Continente de Rio Grande de São Pedro,
do qual se transformou numa ponta de lança. (Albornoz, 2000 )
Os espanhóis não assistiram tranqüilamente essa ocupação, reagindo de maneira
violenta algumas vezes; de maneira pacífica, através de tratados e leis, noutras.
Dom João V, de Portugal, e Dom Fernando, da Espanha, cansados de lutas estéreis na
América, sentiram a necessidade de um novo tratado que pusesse fim às contendas coloniais,
resultando então o célebre Tratado de Madri, de 13 de janeiro de 1750. (Figueiredo, 1993)
A impressão causada por esse Tratado, a princípio, foi muito boa, porém, a sua
execução foi cruel e desumana. Concordava que a Espanha entregaria os Sete Povos das
Missões a Portugal e este lhe devolveria, em troca, a Colônia do Sacramento. (Figueiredo,
1993)
Os jesuítas pediram três anos para darem cumprimento à ordem emanada da Corte,
porém receberam apenas um ano. ( Figueiredo, 1993)
"A Colônia do Sacramento se entregará por parte de Portugal, sem retirar dela
73
mais que a artilharia armas, pólvora e munições, e embarcações de serviço da mesma praça; e
os moradores poderão ficar livremente nela". ( Figueiredo, 1993)
Já o que determinava o famigerado art. XVI- "Das povoações e aldeias que cede SMC
na margem oriental do Uruguai, sairão os missionários com todos os móveis e efeitos,
levando consigo os índios para aldear em outras terras da Espanha; e os referidos índios
poderão levar também todos seus bens móveis e semoventes e as armas, pólvora e munições
que tiveram em cuja forma se entregarão as povoações à Coroa de Portugal com todas suas
casas, igrejas e edifícios e a propriedade e posse do terreno". ( Figueiredo, 1993)
Em 1777 com o tratado de S. Ildelfonso finalmente os espanhóis detém para si a
Colônia de Sacramento e as Missões Orientais do rio Uruguai em troca da ilha de Santa
Catarina e os territórios das bacias dos rios Jacuí e Camaquã. (Figueiredo, 1993)
Portugal não conseguiu manter o Continente, mas a Espanha não ficou com a banda
Oriental só para si. Nesse intercâmbio político, econômico e social de quase cem anos – 1680
a 1777 – em que as linhas de fronteira mudaram tantas vezes, os ibéricos dividiram o território
entre si, e os índios foram os grandes perdedores. Talvez por isso os Charruas tenham se
aliado aos Guaranis contra os exércitos de Portugal e Espanha, na Guerra guaranítica.
Derrotados, integraram –se como peões ou soltados em qualquer lado da fronteira, preferindo
muitas vezes a marginalidade dos roubos de gado e do contrabando. (Albornoz, 2000)
Tanto pelo tratado de Madri como de S. Ildefonso, a área entre os rios Ibicuí e o
Arapeí, afluentes do rio Uruguai, permaneceu em território espanhol, não tendo
desenvolvimento urbano até o século XIX, constituindo-se numa região de povoamento tardio
em relação a qualquer das forças expansionistas em choque.
Em 1785 cinco caciques Minuanos, uma das parcialidade Charruas, pediram para
passar o Rio Vacacaí, limite sul dos português. Alegavam que os espanhóis
74
queriam matá-los, enquanto os lusos lhes davam roupas. Era um grupo com 570 adultos e 420
crianças, que se mudaram com 1.460 cavalos e 2.600 cabeças de gado. (Albornoz, 2000)
As padrarias entre os Rios Arapeí e Quaraí foram territórios de caça dos charruas,
depois estâncias missioneiras e após local de preia ao gado que se desenvolvia, e se tornaria a
característica mais marcante da região. (Albornoz, 2000 )
Com a execução do tratado de Madri e posteriormente de Ildelfonso, é decretada a
decadência dos sete povos das missões e das estâncias. Passando a ser administrados por
portugueses esses tratam os índios como escravos e acabam aos poucos abandonando as
reduções em 1800. Com o fim das missões, a expulsão dos padres jesuítas, os índios que
passaram a serem tratados como escravos, também fugiram das missões e passaram a
trabalhar como peões ou como gaudérios. (FIGUEIREDO, 1993)
Em 1811 um contigente militar se desloca para a fronteira e instala um quartel militar
na localidade de São Diogo. Militares a medida que dão baixa começam a se instalar em
estancias na região. Já a partir de 1814 são distribuídas as primeiras terras de sesmarias∗ da
fronteira a famílias importantes, ligadas ao governo português. As sesmarias foi a forma mais
eficiente de posse do território do que a praticada pelos espanhóis que instalavam agrovilas
com infra-estrutura.
Nesse período vieram as primeiras famílias de sesmeiros se instalar na região,
descendentes de portugueses. Traziam com eles outras famílias de agregados que eram
responsáveis pelo trabalho no sistema de compadrio e formar contingente militar para a defesa
do território no caso de guerra com os espanhóis. A mão de obra escrava negra e de índios era
utilizada por esses primeiros sesmeiros. Diferente dos senhores de
75
∗
A sesmaria correspondia a três léguas por uma légua de terra ( 13.068 há ), que era concedida pela autoridade militar, geralmente a antigos
soldados e oficiais. O titulo de propriedade de terra diferenciava socialmente quem o recebia, levando-o a defender, além da sua pátria, seus
próprios interesses. (ALBORNOZ, 2000)
engenho no nordeste, aqui os sesmeiros eram famílias de menos posse que trabalhavam na
terra e com o gado. Como as sesmarias eram grandes extensões de terra, os sesmeiros
costumavam arrendar as mesmas a outros ibéricos para a pecuária. Assim os campos foram se
povoando. O gaúcho, o militar e os posseiros foram levantando suas casas e construindo suas
estâncias Surgiu, então, a classe remediada ( média da sociedade Rio Grandense, de costumes
rígidos, protegida pelas autoridades militares, por serem seus patriarcas oriundos das suas
fileiras ou filhos deles).
Os distúrbios na fronteira,
no sul, continuavam se acentuando cada vez mais,
estimulados por comércio clandestino, que se fazia por vários pontos. Com o consentimento
dos portugueses e a despreocupação dos espanhóis, o contrabando era desenfreado. A
expansão luso-brasileira atingia as raias dos campos neutrais, tantos eram os sesmeiros que aí
iam se estabelecendo com concessões que lhes eram distribuídas pelos Comandantes Gerais e
Vice rei do Rio de Janeiro. Enquanto se processava esse plano, por parte do luso–
riograndeneses para acelerar a fixação da nossa fronteira, com a intenção de ultrapassá-la, os
espanhóis permaneciam displicentes, com toda larga faixa demarcatória, desguarnecida, mais
entretidos no contrabando que faziam abertamente. E assim iam cruzando a Coxilha divisória,
tropas de gado, cavalhadas, couros, sebos, fumo em rolo, escravos e artigos da Índia.
D. João, príncipe regente, ordenou ao Capitão Geral do Rio Grande de S. Pedro, D.
Diogo de Souza, a invasão da banda oriental pelo autodenominado “ Exército Pacificador da
Banda Oriental “. Esse exército dividia-se em duas colunas, sendo que uma delas acampou em
território oriental, às margens do Rio Ibirapuitã, no atual município de Sant’Ana do
Livramento recebendo a denominação de “ Acampamento de São Diogo “. ( Albornoz, 2000 )
Esse acampamento chegou a ser chamado de Cidadela, e chegou a ser dotado de
grandes armazéns, um hospital , contando com 1.029 homens em armas.
76
Voltando à fronteira, após a invasão do Uruguai, a tropa acampou novamente em S.
Diogo, ficando marcado o limite do Rio Quaraí pelo “uti possidetis“, valendo até hoje. As
primeiras sesmarias começaram a ser distribuídas em 1814, a antigos oficiais e soldados do
Exército dito Pacificador, bem como a civis ligados à Coroa ∗. Podendo ser considerada a
primeira origem de Sant’Ana do Livramento, o acampamento militar da localidade de São
Diogo em 1811. ( Caggiani, I, 1988)
O ciclo do charque Inicia partir da instalação do Saladeiro de Pelotas em 1780, em
seguida foram construídas outras unidades no interior da região, mudando o interesse do ciclo
do couro para a carne ( charque).
Estes fatores acima citados foram responsáveis pela troca do sistema agrário existente
para o próximo período.
4.2.4 Sistema Agrário das Charqueadas - 1814 / 1930
Subsistema Pecuária de Corte
Na região 01 das pradarias no basalto foram instaladas as primeiras estâncias de
sesmarias para apreensão e criação do gado, a partir do quartel militar de são Diogo
estratégico para a defesa das terras ibero-brasileiras.
Na região 02 dos campos e matas, por ser uma zona de contínuo litígio com os índios
e espanhóis que a dominavam, também foram instaladas estâncias de sesmarias e um grande
número de pequenos produtores agregados e colonizadores para a defesa.
77
∗
Somente em 1814, foi doada, pelo Governador da Capitania de São Pedro do Rio Grande, Conde da Figueira, a primeira sesmaria, com
extensão de três léguas quadradas de campo, a Luciano Pinheiro, seguiram-se diversas outras: Antônio João de Menezes, Antônio Pinto de
Azambuja, Belarmino Coelho da Silva, Salvador Lopes de Vargas, Manuel Alves Coelho de Morais, João da Costa Leite, Marcos Goulart
Pinto e Custódio Teixeira Pinto (PIMENTEL, 1943, p. 6, 25).
Nessa região iniciou o desmatamento para o plantio de lavouras comerciais e para o
autoconsumo das estâncias. As sementes eram de origem próprias ( crioula ). Os principais
produtos plantados eram o milho, o trigo e as plantas de subsistência como a mandioca,
batata e o feijão. Estas culturas eram cultivadas em ambas regiões, a diferença estava na
escala de plantio e no volume de produção. O manejo com queimadas e pousio continuavam
como práticas comuns.
Os instrumentos de produção, equipamentos e construções praticamente são os
mesmos utilizados no período anterior.
São construídos um maior número de casas, estâncias e instalações como mangueiras,
bretes para o gado e cercas para divisão de terras. O que difere da região 01 do basalto para a
02 do arenito é o tipo de construção, enquanto na primeira as mangueiras e as divisas são
feitas de pedra na segunda predomina a madeira e o arame.
O cercamentos dos campos, melhoramento dos rebanhos
pela mestiçagem, o
incremento das pastagens, chegaram muito mais tarde ao norte do Uruguai e ao sudoeste do
Brasil. O aramado, quando chegou, não significou melhorias técnicas no processo produtivo,
mas diminuição de pessoal empregado – e conseqüentemente, queda nos salários. (Albornoz,
2000)
Os rebanhos começam e continuam a ser apreendidos e domesticados. Nas duas
regiões, a principal atividade é a pecuária de corte. Na região 02, por ter uma aptidão mais
agrícola,
esta é praticada em maior intensidade,
quer pelos portugueses quer pelos
descendentes dos espanhóis.
Alguns insumos para o gado começam a ser utilizados, como o arsênico. E nas
lavouras, o esterco passa a ser aplicado.
O gado começa a ser manejado em rodeios, são feitas as marcações, cruzamentos com
raças européias e o uso do touro junto a matrizes o ano inteiro.
78
A mão-de-obra e a força de trabalho é a mesma do período anterior. O escravo negro é
liberado a partir de 1884 das estâncias e dos Saladeiros onde, nesses últimos, eram usados em
grande número.
Os agricultores agregados mantêm uma estreita relação de lealdade com os grandes
sesmeiros que envolve troca de favores num primeiro momento e mais tarde na doação de
pequenas áreas de terras por reconhecimento a serviços prestados, para mantê-los sob seu
domínio econômico como mão de obra barata e posteriormente por interesses políticos.
O arrendatário e os posseiros pecuaristas são personagens que surgem em grande
número, devido a dificuldade da administração das grandes extensões das sesmarias e para
fins militares. Com isto, há um aumento da caça e pesca predatória e a diminuição dos
rebanhos de espécies nativas como o veado campeiro.
As relações comerciais são dos produtos de origem animal: a carne, o couro e o sebo
são vendidos e/ou trocados. Os bovinos são consumidos nas propriedades, vendidos em tropas
para os Saladeiros, ou para fora do Estado. O charque, a língua em conserva e a carne
congelada são os principais produtos industrializados a partir de 1920.
Dentro das grandes propriedades, há uma relação de troca de produtos agrícolas de
subsistência dos agregados com os sesmeiros. Assim como os excedentes agrícolas da região
02 são vendidos, como o trigo e o milho.
Há importação de vários gêneros alimentícios, artigos vindos da índia como o fumo
em corda . Do país vizinho, se podiam conseguir armas, mantimentos e dinheiro com a venda
de tropas e dos couros.
79
A década de 1840 à 1850 foi marcada por várias revoluções de lutas armadas internas
tanto do lado Uruguaio como do lado Brasileiro quando da Revolução Farroupilha.
Nessa época Sant'Ana era uma já era uma vila, com dez mil habitantes. Sua principal
atividade econômica era a pecuária, mas o comércio também era importante. Seu papel de
entreposto comercial entre o norte do estado e Montevidéu continuava, embora um pouco
prejudicado pela nova povoação uruguaia. Metade da população santanense era de
estrangeiros, que preferiam o lado oriental, onde se pagavam impostos muito mais baixos,
barateando o preço das mercadorias. (Albornoz, 2000 )
O Cel. João Francisco
foi empossado pelo então governador Júlio de Catilhos,
comandante supremo da fronteira com a Brigada Militar, como o 2º Reg. De Cavalaria
provisória, com a missão de vigiar a zona compreendida entre Livramento, Quaraí e
Alegrete.” Quando o quartel do Cati foi edificado dentro da melhor engenharia da época, com
gás acetileno e água encanada, que não existia nas cidades da região. O pobrerio que vivia
marginalizado depois dos cercamentos dos campos, sobrevivendo dos assaltos e saques, era
controlado com mão de ferro. ( Caggiani, I,1988)
Na campanha, nos ranchos do pobrerio, ficaram só as crianças e mulheres. Os homens
tinham que entrar para a Brigada, como “voluntários“, ou fugir para bem longe. (CAGGIANI,
I , 1988)
O período foi marcado pela cadeia de carne para as charqueadas que influenciou de
forma direta no sistema de produção dos estabelecimentos rurais. Com objetivo de
contextualizar esta influência nesse sistema agrário forma resgatados os seguintes fatos
históricos.
A charqueada Anaya - lrigoyen para Sant'Ana, foi em decorrência dos seguintes
motivos: por problemas políticos de seus proprietários no Uruguai, o aumento das taxas para
proteger o produto gaúcho, a linha de trem na fronteira já existente entre
80
Rivera e Montevidéu e o apoio das autoridades de ambos os países. Como o Brasil era o
maior mercado para o charque, seguido de Cuba, valia a pena instalar-se no país. As obras da
fábrica saladeiril iniciaram em 1903, começou a produzir em 1904, e venderam o
estabelecimento, já com a fábrica de conservas, em 1917 para a Companhia Armour.
Pelotas se havia transformado na "Princesa do Sul" com as indústrias do charque, que
forneciam grandes quantidades de gado, levados em tropas a grandes distâncias para as
charqueadas, que chegaram a 38, no período áureo.
Bagé também recebia as tropas da campanha, já que em 1884 havia trem para fazer a
ligação com o porto de Rio Grande, e em 1897 inaugurou sua primeira charqueada - Santa
Tereza - com cinqüenta operários. Dez anos depois, já tinha cinco indústrias saladeiras. (
Albornoz, 2000 )
Uruguaiana tinha charqueadas desde 1864, embora de pequenas proporções. Em 1887,
com capital uruguaio, abriu um moderno saladeiro industrial na barra do Rio Quaraí. Hipólito
Lesca fabricava charque, couros salgados e línguas em conserva, que eram remetidos para o
Brasil através do porto de Montevidéu, utilizando também a estrada de ferro uruguaia.
(Albornoz, 2000)
Em 1894, seguindo o mesmo estilo, a firma anglo-uruguaia Dickinson Hermanos abriu
o Saladeiro Novo Quaraí, nessa cidade fronteiriça, disputando com Uruguaiana, as safras de
Livramento. ( Albornoz, 2000)
Em 1904 ficou pronta a Charqueada Livramento, constituindo “ um verdadeiro
complexo industrial “, onde além da preparação do charque, havia a “ fábrica de velas, e de
sabão.”Foram instalados sete poços artesianos e construídos 12.000 metros quadrados, além
de uma usina de luz elétrica.(Albornoz, 2000)
O Saladeiro Livramento encontrava-se no centro da região da campanha, uma
localidade onde a principal atividade econômica era a pecuária, com pradarias a perder
81
de vista, complementando a produção primária com a sua industrialização. As rendas do
município pularam de 119 contos de réis em 1902, para 190 contos em 1905. Em 1907 já era
a segunda maior firma do Rio Grande do Sul em valor de produção, contando com 410
trabalhadores. No mesmo censo, realizado pelo Centro industrial do Brasil, era considerada a
16º empresa industrial brasileira. (Albornoz,2000)
Para as duas cidades Livramento e Rivera, foi um grande avanço poder industrializar a
carne, sua principal produção. Apesar de o capital do Saladeiro ser uruguaio, o trem e a
estrada de ferro também, o pessoal especializado ser de língua espanhola, não pareceu
estranho a ninguém, dada a mentalidade aberta aos estrangeiros, típica da região. O progresso
foi muito bem recebido, mesmo que as forças vivas das duas cidades tenham desempenhado
um papel secundário na implantação e desenvolvimento do processo industrial. Além da
pecuária ser uma atividade com pouca capitalização, principalmente sem nenhuma atividade
transformadora, chegaram na fronteira com um atraso de dois séculos. Principalmente, não
havia mentalidade empresarial. Os estancieiros preocupavam-se em aplicar seus recursos em
compra de mais terra, despreocupando-se com a implementação de técnicas pecuárias
modernas. Havia na fronteira uma mentalidade pré-capitalista, com costumes patriarcais. (
Albornoz, 2000)
Em 1911 Livramento já tinha quatro grandes charqueadas, Sociedade Industrial e
Pastoril, Charqueada São Paulo e Bela Vista, além da primeira Charqueada Livramento.
Constitui-se no segundo maior centro da abate do estado, atrás apenas de Bagé, pois estava no
centro da maior região de produção pecuária do estado e do Uruguai.( Albornoz, 2000)
A maior charqueada continuava sendo a Anaya- Irigoyen, que matara nesse ano um
terço do total santanense – 52.000 em 150. 799 cabeças de gado, sendo que em todo o estado
foram abatidos 732. 852 cabeças. ( Albornoz, 2000 )
82
Além do Saladeiro, funcionavam fábrica de velas, sabão, línguas em conserva, e do
sebo que era vendido em pipas. Pouco antes da Guerra∗, foi instalada uma fábrica de carne em
conservas, para produzir em grande escala. Além das máquinas para elaboração de latas,
desde 250 gr até 3.000 gr, a produção principal passou a ser Corned-beef, Boilled- beef e
extrato de carne. (Albornoz, 2000)
O desenvolvimento industrial trouxe consigo um crescimento econômico de todos os
setores da sociedade. Os estancieiros se capitalizaram, pois seus gados valiam mais, não tendo
que deslocar-se até as cidades vizinhas, como Bagé, Pelotas, Uruguaiana ou Quaraí. O
comércio vitalizou-se, pois havia mais dinheiro rodando. O setor de construções também foi
estimulado. Além do trem, Rivera teve a vantagem de que os profissionais qualificados que
viessem para a região norte do Uruguai, ficariam isentos de pagar impostos. Esta medida
trouxe pessoal de construção habilitado, que trabalhava nas duas cidades, Em 1889 havia em
Livramento 847 prédios, e em 1912, 1.627, quase o dobro em 23 anos. Em 1918, já havia
2.129, num aumento de 30% em apenas seis anos. (Albornoz, 2000)
Assim como houve progresso urbano, houve também progresso na área rural. A maior
capitalização dos pecuaristas levou-os a investir em casa na cidade e em beneficiamento na
estância, que a proximidade com o sul do Uruguai e com a Argentina ajudou.
A pecuária e a manufatura do charque foram, por longo tempo, as principais atividades
econômicas do Rio Grande do Sul e da região. Mas o aumento da concorrência externa e
interna levaram progressivamente à decadência da atividade
∗
"A primeira remessa de carne enlatada que saiu do Brasil para as forças aliadas, na primeira Guerra Mundial em 1914, foi a
elaborada no Saladeiro',que a vendeu para o exército francês .” ( Albornoz, V, org, 2000)
83
charqueadora e, com ela, ao comprometimento da rentabilidade da pecuária. Entretanto, a
expansão da demanda por carne, decorrente da Primeira Guerra Mundial∗, abriu a
oportunidade para o ingresso, no Rio Grande do Sul, de empresas estrangeiras de
beneficiamento da carne, voltadas principalmente ao setor externo.
“Tal ocorrência possibilitou que os frigoríficos estrangeiros pudessem estabelecer-se
em regiões do globo que possuíam rebanhos numerosos, mas não refinados, como no Brasil.
“( Albornoz, 2000)
Nessa conjuntura, estabeleceu-se em Santana do Livramento a
Companhia Armour, empresa norte-americana que já operava no Uruguai e na Argentina. A
partir da aquisição da firma Anaya e Irigoyen, em 27 defevereiro de 1917, e sob o nome de
Frigorífico Livramento, produziu, a partir daquele ano, carne conservada e, a partir de 1920,
passou a exportar carne congelada, corned-beef , couro, extrato de carne, graxa, etc. (
Albornoz, 2000)
Também estabeleceu-se em Santana do Livramento o
frigorífico da Companhia
Wilson, de propriedade da “Wilson and Company Incorporation”, que beneficiava, ainda que
em menor escala, carne bovina e ovina. Estabelecida a partir da aquisição da charqueada da
Sociedade Industrial e Pastoril, a empresa iniciou suas atividades em 15 de agosto de 1918
(Pimentel, S.D., P. 120; Pesavento, 1980, p. 140).
A união dos criadores descontentes com os valores pagos pelos frigoríficos e junto
com o governo buscaram a instalação de um frigorífico de capital nacional, quando em
setembro de 1917 o frigorifico Rio Grande instalou-se na cidade de Pelotas. ( Albornoz, 2000)
Em 1920, quando começou a funcionar o frigorífico de capitais nacionais, que deveria
ser uma barreira ao monopólio das empresas estrangeiras, estas já possuíam quatro grandes
plantas industriais no estado.
∗
A conjuntura da Grande Guerra em 1914, aumentou a demanda de carne, especialmente para alimentação das tropas. A carne resfriada, que
exigia novilhos selecionados, cedeu lugar à carne congelada, em que se utilizava rebanhos de mais baixa qualidade. ( Albornoz, V era, 2000 )
84
Em 1922, em uma pesquisa realizada foram selecionados onze estancieiros da cidade.
Esses empresários rurais escolhidos podiam não ser representativos dos demais, mas é
significativo que todos criassem gado bovino das raças européias – Hereford, Durhan, Devon
e Polled Angus, e ovinos – Roubouillet, Merino, Rommney- March e Lincoln. Desses onze,
apenas um não tinha campo dividido em potreiros, com cercas de arame. ( Albornoz, 2000 )
No entanto, pode-se afirmar que o tamanho das invernadas variava de 174 a 1.016 ha,
muitas vezes, do tamanho de uma estância. A grande propriedade predominava, sendo a
maioria do criador extensivamente.
Neste período, os banheiros sarnicidas e carrapaticidas, eram pouco difundidos o que
indica que os cuidados sanitários eram poucos.
Na cidade, a média do abate nos anos de guerra foi de 64.371 bovinos, por ano, para as
charqueadas. O Armour em fase de construção manteve a produção de carne de conserva,
charque, velas e sebo nos três primeiros anos.
O frigorífico tinha uma abrangência regional comprando gado de toda a região da
campanha. Esse gado chegava em tropas, constando o nome do tropeiro na ficha. Muitas
vezes o próprio dono trazia seu gado. Aparecem muitas marcas em cada linha do apontamento
porque os pequenos produtores, que mandavam poucas reses, incorporavam- nas em tropas de
grandes fazendeiros. ( Albornoz, 2000 )
Trabalhavam em 1919 mais de mil operários, dos quais cinqüenta por cento eram
brasileiros, quarenta por cento eram uruguaios e os outros dez por cento era constituídos de
argentinos, americanos, ingleses, etc.( Albornoz, 2000)
A transição para o sistema agrário seguinte se deu pela redução do rebanho bovino,
abate indiscriminado de fêmeas, a primeira crise da pecuária devido a concorrência do
charque Uruguaio. O cercamento dos campos promoveu a redução de
85
mão-de-obra e o desemprego; o baixo nível cultural da região. Tais fatores contribuiram para
o desencadeamento de crise de ordem social, que promoveram as revoluções militares que
ocorreram a partir da região de 1893 até 1923.
Finalmente após o termino da I Guerra Mundial, a carne tem o seu preço reduzido no
mercado internacional de forma violenta, contribuindo para a falência de muitos saladeiros e
provocando uma crise econômica no setor agropecuário e da região que durou de 1920 a
1930.
Nesse período começa a consolidar o complexo de frigoríficos da região.
A partir de 1930 começa a chegada das primeiras famílias de italianos e alemães para
o cultivo do arroz e do trigo em maior número na região 02 do arenito.
4.2.5 Sistema Agrário Considerado Moderno da Agropecuária – 1930 / 2001.
4.2.5.1 Na Região 01 do Basalto:
Predominam as médias e grandes propriedades (estâncias), com estabelecimentos
consolidados e mais antigos oriundos das sesmarias, onde as principais atividades atualmente
são a pecuária extensiva de corte, a ovinocultura de lã e carne, e o arroz irrigado.
Os instrumentos de produção praticamente permanecem os mesmos do sistema agrário
anterior, sofrendo algumas modificações com o advento do motor á combustão e a energia
elétrica. Os equipamentos tracionados por animal passam a ser mecanizados como o trator,
automotrizes e veículos utilitários automotores. A esquila que era feita a martelo ( uso da
tesoura manual ), passa a usar a maquina de esquila com motor e
86
tesouras mecânicas. As instalações de trabalho passam a ter mangueiras, tesouras e balanças
para bovinos e ovinos.
Sistema de Cultivo:
As culturas de subsistência como o milho e o trigo que eram plantadas no inicio do
século XX deixam de ser exploradas devido a problemas de adaptação das novas cultivares
mais susceptíveis a estiagem e à mudança do sistema de produção onde os estabelecimentos
passam a ocupar menos a mão de obra familiar. No entanto, o milho na região é utilizado para
a alimentação animal tanto na forma de grão como de
silagem. A cultura do sorgo é
introduzida para substituir o milho, pelos freqüentes problemas de frustração de safra nas
últimas duas décadas.
A orizicultura é a principal atividade agrícola atualmente, sendo explorada por
produtores arrendatários de origem italiana e alemã a partir da 2º metade do século XX O
arroz entra na região tardiamente pela limitação dos solos e disponibilidade de água, logo, há
um menor número de arrozeiros em relação a região 02 do arenito.
Sistema de Criação:
O sistema de produção da pecuária de corte continua a ser extensivo por área com
produtores especializando-se em cria, recria, terminação ( invernadores ), ou fazendo o ciclo
completo.
Houve uma maior subdivisão dos campos em potreiros, para um melhor manejo dos
rebanhos e dos próprios campos nativos.
O período é marcado pela melhoria genética com a entrada de novas raças européias, e
mais recentemente pelo gado de origem índica ( zebuínos ). Como conseqüência, instalaramse um grande número de cabanhas para a produção e
87
comercialização de reprodutores bovinos, ovinos e eqüinos, sendo uma forte característica
dessa região.
O controle sanitário de sarna e carrapatos dos animais torna-se mais efetivo,
envolvendo o serviço estadual da Secretária da Agricultura do estado do Rio Grande do Sul.
Os banheiros carrapaticidas começam a ser difundidos e instalados nos estabelecimentos. A
mineralização começa a ser fornecida aos animais.
No manejo das pastagens são adotadas as práticas de limpeza dos campos nativos; a
implantação de espécies artificiais melhoradas começam a ser utilizadas com cultivo
tradicional e posteriormente o uso do plantio direto na resteva do arroz das áreas de várzeas.
É uma região onde predominam os campos ( pradarias ), com poucas matas nativas
sem proteção para os animais, promovendo a necessidade de implantação de bosques de
eucalipto para o fornecimento de sombra e proteção dos ventos frios ( Minuanos ) para
aumentar o conforto animal.
A ovinocultura para a produção de lã foi uma das principais atividades no seu período
de maior prosperidade de 1940 até o inicio da década de 1980. A lã chegou a ter um papel
muito importante na economia do município e dos estabelecimentos rurais chegando a custear
todas as despesas anuais dos mesmos, propiciando que os recursos da comercialização dos
bovinos pudessem ser aplicados em investimentos como na aquisição de mais terras. Os
criadores de ovinos para aumentarem a produção, elevaram a lotação dos campos provocando
a perda da qualidade de algumas pastagens nativas devido a característica destes animais de
pastoreio seletivo, promovendo o aparecimento de plantas mais agressivas e de menor
qualidade agrostológica . E mais recentemente está ocorrendo o contrário: com a diminuição
dos rebanhos ovinos vem favorecendo o aparecimento de espécies forrageiras de baixa
qualidade ( engrossando os campos).
88
Esta diminuição aconteceu de forma rápida, chegando o município a ter a metade do
rebanho que tinha na década de 1980, devido ao baixo preço da lã e a redução da mão de obra
nos estabelecimentos rurais de forma geral.
Esta região é a melhor para criação de ovinos, onde encontravam-se os maiores e mais
numerosos rebanhos do município.
Atualmente os criadores de ovinos de lã estão cruzando os rebanhos para a produção
de carne.
Atividade leiteira também é realizada principalmente nos grandes estabelecimentos
com um número elevado de animais de excelente qualidade genética, sendo
uma
característica da região a exportação de matrizes leiteiras.
A força de trabalho que predomina é da mão de obra contratada, mas nas últimas
décadas houve uma diminuição do número de empregados / estabelecimento.
Os pequenos agricultores que vendem mão de obra aos estabelecimentos maiores estão
ocupando parte das vagas deixadas pelos contratados pelo seu menor custo.
Os proprietários rurais, na sua grande maioria, possuem suas famílias residindo na
cidade.
A diminuição do tamanho das propriedades originalmente sesmarias, tem ocorrido
devido ao processo de herança, principalmente a partir da 3º geração dos sesmeiros que
tiveram um grande número de herdeiros, em decorrência de três motivos: o primeiro como
mão de obra barata; o segundo, as famílias deviam ser numerosas como estratégia militar; e o
terceiro, pela alta mortalidade infantil da época.
89
Os principais problemas relacionados com o meio ambiente foram ocasionados pelas
queimadas das pastagens, o uso indiscriminado de solos rasos com a cultura do arroz
provocando a erosão laminar; os agrotóxicos utilizados nas lavouras e na pecuária sem
controle de resíduos, causando a contaminação do meio ambiente.
4.2.5.2 Na Região 02 do Arenito:
Onde encontram-se os campos de coxilhas e matas predominam as médias e pequenos
estabelecimentos rurais. Nessa região do arenito há uma maior aptidão dos solos para
agricultura. As principias atividades são mais diversificadas além da pecuária de corte de
leite, a ovinocultura, é cultivado o arroz irrigado, o trigo, a soja, o milho, a fruticultura , o
florestamento e a olericultura, que foram introduzidas primeiro que na
região descrita
anteriormente. Em conseqüência, a mecanização disponível é maior do que na região 01, além
da patrulha agrícola da secretária municipal da agricultura prestar um serviço mais efetivo
nessa região. A região do arenito é menos susceptível a estiagem, o que favoreceu a
permanência da exploração da cultura do milho, soja e do trigo por mais tempo.
A cultura que predominou foi a orizicultura que chegou ainda na década de 30 na
região. Inicia-se nessa época, com os colonos italianos e alemães vindos principalmente da
região central do estado.
As áreas cedidas para o plantio do arroz eram as “ piores “ possíveis, pois se tratava de
áreas consideradas perdidas para a pecuária, portanto de baixo valor comercial de
arrendamento. Sendo este o principal atrativo para que mais famílias de colonos viessem para
o município.
Os estancieiros não viram no arroz uma alternativa econômica rentável no primeiro
momento. Mas uma maneira de aproveitar melhor e ampliar suas áreas de pastagens, após o
término da lavoura: o banhado desmatado e drenado, tronava-se uma
90
área excelente para o desenvolvimento das pastagens, principalmente nos períodos de
estiagens do verão que não eram raros. Os lavoureiros faziam melhoramentos da infraestrutura dos estabelecimentos, como estradas, barragens e prestação de serviços com o uso
de suas máquinas a um baixo custo.
A lavoura de arroz, quando de sua instalação, utilizou equipamentos e máquinas
rudimentares como tração animal, seguidos de máquinas a vapor; no final da década de 40 já
era introduzido o trator na região.
Estas lavouras eram exploradas basicamente com mão de obra familiar em pequenas
áreas. As terras eram arrendadas dos estancieiros, que cediam glebas em troca de pagamento
em produto, ou em dinheiro.
As lavouras instalaram-se próximo aos mananciais de água (arroios, rios e várzeas ) na
região 02,onde era mais fácil irrigar com um menor custo. Posteriormente foram subindo a
encosta das coxilhas onde eram necessários investimentos em barragens, ou em sistemas de
moto bombas para o levante hidráulico. Os solos de origem arenitica hidromórficos dessa
região foram os primeiros a serem ocupados e somente mais tarde as áreas do basalto ( região
01 ) onde ocorrem as manchas de Vertissolos.
Embora o solo para a cultura do arroz tenha menos restrições do que na região descrita
anteriormente, há limitações quanto ao uso excessivo com mecanização para o preparo
convencional da terra e quando o plantio atinge algumas áreas de maior declividade (As
Coxilhas). O uso de fertilizantes químicos principalmente nas lavouras de arroz e do milho foi
maior nessa região devido a baixa fertilidade de seus solos.
A
cultura do trigo também iniciou de forma mais intensa com a chegada dos
imigrantes, embora fosse explorada anteriormente como cultura de subsistência. Assim
começa a ser explorada a partir da década de 1940, como lavoura comercial. Logo em
91
seguida a cooperativa agrícola de Sant’Ana do Livramento é fundada em 1950, para receber
as safras destes agricultores.
O arroz, nas duas regiões, é vendido pela maioria dos agricultores em casca para
engenhos do município, após o fechamento da unidade agrícola da cooperativa Santanense na
década de 90. A capacidade de armazenamento de grãos no município sempre foi pequena.
Logo há uma fuga significativa de produto para municípios vizinhos. A armazenagem a nível
de propriedade cresceu pouco na últimas décadas.
O trigo foi uma cultura cultivada até a metade da década de 1980, assim como a soja.
Após o fim do crédito rural farto e barato, essas culturas, pelo seu alto risco na região,
deixaram de ser exploradas comercialmente. O mesmo acontecendo com o milho, passando a
ser explorado como uma cultura de subsistência e para a manutenção da propriedade, na
alimentação dos animais em forma de grão ou silagem, ocupando a segunda maior área
depois do arroz. O sorgo como na região 01 também foi cultivado, mas não substituiu o milho
integralmente.
Nesta região do Arenito foram feitos vários assentamentos em áreas de
aproximadamente um módulo rural (28 ha), onde é praticada uma agropecuária diversificada
a partir de 1990.
O Florestamento teve seu incremento com a chegada da ferrovia nas localidades de
Pampeiro e Santa Rita, localizadas dentro da região 02. Eram grandes áreas plantadas de
eucalipto para o abastecimento das locomotivas com lenha e mais tarde, o fornecimento para
os frigoríficos e a cidade ( padarias e restaurantes ).
A fruticultura também é uma atividade que sempre foi explorada na região do Arenito
e teve seu incremento com a chegada das grandes empresas vinícolas∗ a partir da década de
∗
Almadém e Santa Colina
1970 e posteriormente com a implantação de um projeto para exploração de espécies de
rosáceas como a pêra, a ameixa e o pêssego. As condições edafo92
climáticas são uma das melhores do estado do Rio Grande do Sul para o desenvolvimento
dessa cultura.
A preservação do meio ambiente foi mais afetada na região devido a uma agricultura
praticada com mais intensidade e por um período mais longo. As queimadas e o
desmatamento junto com o uso intensivo de agrotóxicos está provocando danos irreparáveis
ao meio ambiente. O preparo excessivo do solo e o cultivo sem práticas conservacionistas em
solos arenosos, provocou erosão e aparecimento de voçorrocas.
Sistema de Criação:
O sistema de criação da pecuária de corte é igual ao da região 01. Difere quanto ao
menor número de cabanhas e um maior número de criadores do que terminadores, devido
principalmente à qualidade das pastagens e estrutura fundiária da região. As instalações de
trabalho para a pecuária como as mangueiras e estruturas para contenção e manejo dos
animais são mais simples e são em menor número, assim como os banheiros carrapaticidas.
As pastagens são de qualidade inferior em relação a região 01 principalmente no
período de inverno, quando se faz necessário, a implantação de espécies artificiais para
suplementação do déficit alimentar do gado.
Quanto à ovinocultura na região 02, há um maior número de criadores com rebanhos
menores em contrate com a região 01. A ovinocultura é basicamente explorada para
subsistência do estabelecimento como fonte de proteína.
Com relação ao resgate histórico da comercialização lã, esta foi por um longo período
realizada através da Coolãs ( cooperativa) e do Lanifício Thomas Albornoz dos pequenos e
médios agricultores. Com o fechamento da cooperativa e o funcionamento parcial do
lanifício, esta comercialização se dá a nível de barracas que também compram frutos ( peles
de ovinos e couros ).
93
A atividade leiteira também está presente nas pequenas e médias propriedades em um
grande número de agricultores familiares; no entanto, ao contrário da região 01, o número de
animais por produtor é menor.
No presente estudo, não se considerou o período do crédito rural farto e barato como
uma nova época de um sistema agrário, no entanto reconhece que este trouxe conseqüências e
transformações sociais e econômicas muito importantes nos sistemas já estabelecidos e
organizados, sendo por isso necessário tecer algumas considerações ocorridas nas duas
regiões de formas indistintas.
O crédito rural promoveu a expansão da agricultura no município, tornando-a uma
atividade atraente, economicamente rentável aos proprietários de terras que, mesmo sem ter
tradição e máquinas para trabalharem na agricultura, investiram em lavouras atraídos pelos
recursos financeiros disponíveis e a baixo custo, permitindo a capitalização de alguns e ao
mesmo tempo decretando a falência de muitos outros que não souberam trabalhar com
agricultura e administrar a elevação dos juros bancários.
O mesmo ocorreu com os agricultores de origem alemã e italiana, mas como já tinham
se capitalizado
com a rentabilidade da lavoura arrozeira, acabaram, boa parte deles,
adquirindo as terras que anteriormente eram exploradas como arrendatários, iniciando um
processo de permuta de proprietários. O estancieiro tradicional, quer por interesse ou falta de
habilidade para conduzir o seu patrimônio, acaba vendendo glebas, ou toda a sua propriedade
a seu antigo arrendatário numa inversão de valores econômicos da pecuária em favor do arroz.
A oferta de crédito farto provocou o aumento do custo dos arrendamentos para a
lavoura arrozeira. Os agricultores arrendatários absorveram os mesmos enquanto os juros
bancários eram baixos e o uso da mão de obra familiar era intensivo, característico da
atividade.
94
Na década seguinte 80 / 90, inicia-se o período de aumento de juros, diminuição do
crédito rural e o início dos planos econômicos
(1984
Plano Cruzado),
redução da
rentabilidade da lavoura arrozeira e falta de recursos para investimentos principalmente em
máquinas e equipamentos. Em conseqüência, inicia-se o processo de inviabilização
econômica de alguns pecuaristas e arrozeiros
levando-os a se desfazerem de seus
patrimônios. Situação esta agravada no final da década.
O custo de irrigação e a necessidade do aumento do uso de agrotóxicos, ( herbicidas ),
devido às conseqüências do uso de insumos de baixa qualidade ( semente ), promoveu o
inçamento e a inviabilidade técnica e econômica de muitas áreas no município para a cultura
arrozeira. Assim como a diminuição do potencial hídrico em decorrência do açoriamento de
arroios e rios devido desmatamento dos seus leitos. As primeiras a serem inviabilizadas foram
as pequenas e médias lavouras arrozeiras dessa região, seguidas dos pecuaristas familiares.
O Plano Collor em 1990, aliado ao atraso dos recursos de custeio, a significativa
redução do volume de crédito, os altos juros, o elevado custo dos arredamentos e o Mercosul
que atingiu diretamente o setor, promoveram a inviabilização da lavoura arrozeira e a quebra
das poucas indústrias beneficiadoras de arroz, entre elas a cooperativa agrícola. Reduziram
significativamente as áreas plantadas com a cultura, além de gerar um elevado índice de
desemprego diretos e indiretos do setor orizícola. Os mesmos reflexos foram sentidos na
atividade da pecuária somente de forma mais lenta. De 1990 à 2001 ocorreu a falência dos
setores, devido ao agravamento do endividamento decorrido na década anterior.
Nesta crise, a mão de obra contratada fixa ou temporária, incluindo a força de
trabalho, da agricultura familiar que prestavam serviços às médias e grandes propriedades da
região, que foram mais afetadas, causando o desemprego em massa e o êxodo rural para
centros econômicos maiores.
95
Outro fator importante que deve ser resgatado foi o importante papel dos frigoríficos
na cadeia de comercialização da carne no município neste período que também acarretou
profundas transformações no setor.
A comercialização dos animais para abate junto aos frigoríficos seguem três caminhos
principais. O primeiro é a comercialização direta com o frigorifico quando há economia de
escala e produto de qualidade no caso de grandes e médios produtores. O segundo é via
representantes comissionados que compram gado para diversos frigoríficos, inclusive para os
do município. E o terceiro é entre agricultores vizinhos que vendem ou trocam animais e
posteriormente aquele de maior poder aquisitivo oferece ao frigorífico, ou a um representante
comissionado para o abate ou remate, sendo esses comissionados os responsáveis pelo maior
volume de compra e venda de animais no município. Quanto aos ovinos para abate, segue o
mesmo processo. O diferencial é que a maior parte dos cordeiros é vendida para frigoríficos
de outros municípios com destino para São Paulo. A produção de terneiros segue quase o
mesmo caminho, são vendidos para municípios da região norte do estado onde são recriados,
ou vendidos diretamente para agricultores paulistas.
Alguns aspectos relevantes da história e da cadeia de produção dos frigoríficos no
município:
Em 1932 por exemplo Sant’Ana aparece em” terceiro lugar como parque de produção
industrial depois de Porto Alegre e Rio Grande. (ALBORNOZ, 2000)
O frigorífico Armour correspondia um capital de 89,59 % do total arrecadado no
município. Quanto ao valor de produção, essa indústria produzia 83, 05 % do valor de toda
produção industrial do municipio.Com 2.360 operários, 159 trabalhavam no Armour 85,6 %
dos industriários da cidade. O frigorífico detinha uma parte importantíssima na
industrialização da cidade, constituindo-se de fato num poder econômico paralelo ao poder
político municipal.(Albornoz, 2000)
96
No meio rural os frigoríficos não exerceram sua influência apenas na comercialização,
mas também sobre as famílias e os sistemas de produção. Muitos pequenos agricultores
deixaram seus estabelecimentos e suas famílias para trabalharem na Swift-Armour e no
Wilson. Sem dúvida foi o primeiro grande fluxo de êxodo para a cidade depois da fabrica
saladeril. Serviu também para capitalizar algumas pequenas propriedades com a venda de sua
mão de obra.
No início da instalação do frigorifico e posteriormente na sua administração, vieram
um grande número de técnicos estrangeiros uruguaios, argentinos e ingleses. Eram técnicos e
operários qualificados que se fixaram em Sant’Ana do Livramento alguns investiram na
agropecuária, ou exerceram influência na troca de conhecimento e experiências e na difusão
de técnicas, manejos junto aos agricultores.
Entre as tentativas de difusão de tecnologias e diversificação, estava a introdução da
suinocultura que provavelmente pelo desapreço pela agricultura, o despreparo do homem do
campo, e a falta de mentalidade progressista dos estancieiros que foram, talvez, responsáveis
por esse insucesso. (Albornoz, 2000)
Na tabela abaixo, encontram-se informações sobre o número de abate médio de
cabeças de bovinos e ovinos por qüinqüênios, seguido da tabela de abate de cabeças de
suínos.
97
Período
BOVINOS
Quinquênios
Nº médio de cabeças
abatidas / ano
1920 / 1924
57.845
1925 /1929
86.941
1930 / 1934
127.328
1935 / 1939
140.813
1940 / 1944
165.791
1945 / 1949
81.434
1950 / 1954
62.717
1955 / 1959
49.937
Período /
OVINOS
quinquenio
1923
18.185
1930 / 1934
65.542
Período
SUÍNOS
Número cabeças
1924
2.228
1925
11.284
1926
8.658
1929
50
1934
225
Fonte : Albornoz, Vera, 2000
Bovinos :
*O qüinqüênio com a maior média anual da produção do frigorífico, coincide com os
anos da II guerra mundial, em que havia necessidade de abastecimento de carne enlatada para
os soldados. As médias dos quinquênios são menores após o final da guerra do que a
produção das Charqueadas Livramento, no início do século, coincidindo também com o
inicio do funcionamento do frigorífico e das cooperativas de criadores.
98
O maior vendedor de gado para o Armour vendeu mais de 50 mil cabeças, quase o
dobro do segundo maior vendedor, correspondendo a um quarto da matança total desse ano,
que foi de mais de 219 mil cabeças, "(185) pode-se inferir que Rivera e outros departamentos
fronteiriços participaram diretamente do benefício trazido pelo frigorífico. (Albornoz, 2000)
Sant'Ana teve grande participação nessa safra, com quase dois terços do gado
abatido."' Claro que onde se escreve Sant'Ana, leia-se Sant'Ana e Rivera. (Albornoz, 2000 )
Em 1969 ocorreu a fusão da Swift e do Armour quando foi constituída a firma SwiftArmour S. A. Indústria e Comércio, que passou de mão em mão primeiro para o grupo
Bordon em 1989, que entrou em concordata em 1994, posteriormente para empresa CICADE,
e mais tarde para o grupo CORADINE passando a chamar-se de frigorifico 3C.
Atualmente é denominado de General Meat Food, após um período curto de
funcionamento,
tornou a fechar
deixando novamente um contigente grande de
desempregados.
Atualmente Sant’Ana sofre uma grande crise de desemprego e pobreza, motivados
pelo fechamento de suas principais indústrias, em que o problema do Armour foi acrescido
pela baixa cotação da lã no mercado mundial. Mas o Laníficio Albornoz empregava entre 200
e 400 pessoas, não tendo a importância regional do frigorífico – que chegou a empregar 3.000
pessoas. Na década de 80 representava 50 % da arrecadação de ICM, 314 e 55% da
arrecadação total do município. (Albornoz, 2000)
A coleção de recortes de jornais sobre a Swift-Armour, organizada pelo historiador
Ivo Caggiani, bem demonstrava a preocupação da cidade pelo Frigorífico, numa crise
intermitente desde 1981, e que se prolonga até os dias de hoje O maior problema, obviamente
é o desemprego em massa, que traz reflexos econômicos e
99
sociais, tumultuando “a vida financeira de setores como o comércio e a indústria”, numa
reação em cadeia.(Albornoz, 2000 )
A grande verdade é que os frigoríficos na região platina eram um “excelente negócio”
, enquanto foi possível manter o monopólio, enquanto os sindicatos eram fracos, e o preço da
mão de obra era muito baixa. “ O interesse de lucro excessivo” das empresas multinacionais
entrou em choque, num dado momento, com a competição que tentaram fazer-lhe os
produtores rurais, organizando cooperativas para fazer funcionar “ vários frigoríficos
pequenos “ . Com frigoríficos no Sul, ao invés dos quatro do Cartel , o negócio de carne
deixou de ser interessante.( Albornoz, 2000 )
A ausência de competição entre os frigoríficos, sendo que os preços eram cartelizados
entre Swift, Wilson e Armour desde o início. Não havia concorrência nem especulação entre
os compradores, apenas vinculação do produtor com determinado frigorÍfico, que fixava o
preço a seu bel prazer. Só no final da década de 40 foram se formar as primeiras cooperativas,
que organizaram frigoríficos pequenos em várias cidades vizinhas. ( Albornoz, 2000)
A dificuldade de controlar a atividade comercial na fronteira fez com que, desde cedo,
fossem estabelecidas em Santana do Livramento mesas de rendas pertencentes aos governos
imperial e provincial. Dentre os impostos arrecadados na estação fiscal provincial / estadual, o
imposto de exportação despontava como a principal fonte de receita, o que garantia a Santana
do Livramento papel de destaque entre os municípios rio-grandenses. Em 1944, o município
era responsável por aproximadamente 29% do imposto de exportação arrecadado no Rio
Grande do Sul (Balanço Geral do Estado e Relatório da Secretaria da Fazenda, 1945).
Devido à importância comercial do município e ao elevado movimento de exportaçãoimportação na fronteira, a mesa de rendas do Governo Federal foi, pelo Decreto Legislativo
N.º 417, de 14 de novembro de 1896, transformada em alfândega, a qual foi instalada em 1.º
de outubro de 1900 (Pimentel, 1943, p. 328).
100
A história de Sant’Ana do Livramento é um bom exemplo da trajetória da história riograndense, originada de disputas territoriais, vinculada desde cedo à pecuária e intimamente
ligada aos vizinhos platinos principalmente com o Uruguai.( Segue Quadro 1 Resumo )
CAP.5 CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE AGRICULTORES DE PECUÁRIA
FAMILIAR
5.1 Pecuarista Familiar Tipo 01 com Área Maior de 100ha e Menor de 500ha e
Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA)
a) Localização – Sistema Agrário (1) Basalto
O sistema de produção do agricultor do tipo 1.1 situado sobre um solo de origem
basáltica da unidade pedregal, no 6º distrito do Espinilho. A localidade denominada de Cerro
Chato faz divisa ao norte com 5º distrito de São Diogo, ao leste, ao sul e oeste com a
Republica Oriental do Uruguai ( ROU ) .
O agricultor entrevistado tem sua
paternidade brasileiro e uruguaio. Explora a
propriedade em conjunto coma sua mãe há trinta anos. A origem do estabelecimento é de uma
partilha recebida da herança após a divisão de 12 quadras de sesmarias, entre os dez herdeiros
de parte paterna. Posteriormente foram adquiridas pequenas frações de terra dos mesmos
herdeiros e de vizinhos.
Com relação a mão de obra ocupada na propriedade é do agricultor, da mãe ( 1,45
UTHf) e de empregado contratado permanente ( 01 UTH ).
A área total do estabelecimento é de 325 ha, sendo a S.AU de 322 ha; a diferença se
constitui em 2 ha de área perdida, 01 ha de benfeitorias e uma pequena área de florestamento
de eucalipto.
Quanto à topografia, apresenta-se plana constituindo-se de solos rasos, os recursos
hídricos são limitados a pequenos córregos de drenagem natural. Há seis pequenos açudes
com finalidade de bebedouro para os animais.
111
As precipitações desuniformes provocam períodos de estiagem no verão de Dezembro
a Janeiro. Ocorrem períodos de déficit hídrico geralmente relacionados ao fenômeno El Niño
duas a três vezes a cada 10 anos, provocando a seca dos pastos e em alguns casos mais
severos no próprio fornecimento de água para os animais.
Os campos nativos possuem espécies de forrageiras de excelente qualidade como
trevos, babosa, entre outras espécies invernais já citados. .
O estabelecimento possui uma pequena horta, pomar, e tem criação de aves para
subsistência.
Não possuem motomecanização.
A principal exploração é a pecuária corte extensiva e a criação de ovinos. Em ambos
são realizados o ciclo completo de cria, recria e terminação (engorda) dos animais. A
propriedade tem na terminação de bovinos de 2 a 3 anos de idade a sua atividade econômica
mais importante.
Os animais são comercializados diretamente aos frigoríficos do município a peso de
boi em vários períodos do ano. Compra animais de reposição junto a vizinhos e em remates,
principalmente.
A produção da lã atinge um volume de quase uma 01 t/ ano comercializada nas
barracas do município. A venda de couros e peles de animais abatidos para o consumo e que
morreram, complementam a receita da propriedade.
O estabelecimento possuía 312 bovinos de diferentes categorias, no ano de 2000.
Os bovinos são colocados em reprodução de dezembro a março através de monta
natural. A raça predominante é o Charolês, mas estão sendo introduzidos touros das raças
Braford e Polled Angus. Os índices médios de natalidade são bons, 85% nas
112
fêmeas de primeira cria e 70% na repetição. O desmame dos terneiros é feito com um ano de
idade.
Os principais problemas sanitários estão na seguinte ordem: Mosca do Chifre, Vermes,
e Carrapato nos bovinos.
Para o controle sanitário são usados produtos convencionais, alguns conhecidos como
avançados por serem sistêmicos, colocados no fio do lombo do animal, denominados de (
Pour On ). Controlam a Mosca do Chifre e conforme a dosagem usada atuam sobre o
carrapato. O número de aplicações pode chegar a sete por ano no verão, além do uso corrente
de ivermectinas, abavermectina injetáveis em duas aplicações anuais estratégicas. Não utiliza
banho de imersão do gado, por usar os
produtos acima descritos. Fornece sal com
regularidade enriquecido com minerais.
Possui 06 potreiros separados para o manejo dos animais e, devido à qualidade
agrostologica dos mesmos, não faz pastagens.
A produção de leite é feita somente para o consumo familiar de vacas mansas retiradas
do gado geral.
b) Ovinos:
A ovinocultura na propriedade tem sua principal função de subsistência para o
fornecimento de carne. A raça predominante do rebanho é a Corriedale, mas está sendo
introduzida a Texel.
Não comercializa os cordeiros, as fêmeas são utilizadas para reposição no rebanho e
os machos são usados para o abate e consumo no estabelecimento.
O manejo de reprodução dos ovinos tem época definida durante a 2ª quinzena de
março ao final de abril.
113
Os principais problemas sanitários do rebanho ovino são a manqueira ( Foot Rot ),
vermes, lágrima e miiase.
Os tratamentos para o controle destas doenças são à base de abendasóis, ivermectinas
injetáveis, intercalando outros vermífugos de princípios ativos diferentes, perfazendo de 05 a
06 aplicações por ano.
c) Renda Agrícola:
A renda total é 100 % composta pela renda da pecuária. O agricultor que implementa
esse sistema de produção agrega por unidade de produção R$ 84,09 / S.AU e um a renda
total de R$ 27.077,01. A rentabilidade do trabalho é de R$ 18.673,80 por UTHf, ou seja, de
8,65 S.M./ UTHF./mês. Este valor pode ser considerado bom por estar acima da média dos
demais agricultores estudados e deve-se a produção de bovinos com sistema de engorda,
estruturado em campos de excelente qualidade forrageira.
A rentabilidade da terra atinge um valor médio de R$ 84,09 / há de S.AU/ ano sendo
um valor baixo, mas compatível com a exploração da pecuária extensiva na região.
Os recursos gerados são suficientes para novos investimentos além do
imobilizados
para a compra de animais magros de reposição dos vendidos e a reprodução social da família
considerando o NRS de 1,5 salários mínimos/família.
O estabelecimento possui uma casa de alvenaria em bom estado de conservação, com
banheiro interno com fossa negra, água encanada, sem luz elétrica, refrigerador a gás e
telefone celular.
As instalações de trabalho são compostas de 02 galpões em bom estado de
conservação, banho de ovinos de 2000 l, tronco, galinheiro com boas instalações, o
114
sistema de abastecimento de água é através de poço com motobomba movida por um motor 2
T. As mangueiras são de pedra e madeira desdobrada com moirões. As cercas recebem a
manutenção adequada, estando em bom estado de conservação.
Os equipamentos
de serviço são arreios e ferramentas, simples manuais. Possui
implementos agrícolas tracionados por animais que foram desativados.
O número de eqüinos é elevado com um total de 18 animais.
d) Aspectos sociais levantados:
A idade média da força de trabalho é de 49 a 70 anos, com escolaridade dos
proprietários até a 5ª série do primeiro grau. Os filhos não moram no estabelecimento e
estudam na cidade.
As principais dificuldades citadas pelo agricultor nos últimos 10 anos são: os juros
altos; o preço do boi magro para reposição muito próximo ao do gordo; aumento do custo de
produção em relação à receita deixada, aliado a problemas sanitários que não havia antes
como a Mosca do Chifre; problema no controle de vermes dos ovinos; o alto índice de
abigeato na localidade, devido a proximidade do seu estabelecimento com a fronteira; a
estiagem que é sentida com freqüência; problemas na comercialização pela pouca idoneidade
e carga tributária elevada dos frigoríficos; falta de linhas de crédito específicos, de energia
elétrica, pelo seu alto custo de implantação na região, embora a distancia da sua sede seja
pequena até a linha de transmissão.
Quanto aos planos futuros, o produtor pretende continuar na atividade, investir em
semi-confinamento . Devido aos períodos de estiagem e geadas, prefere o uso de ração para a
engorda com a finalidade de abater os animais mais jovens, aumentar o número de ventres
para ter auto-abastecimento de terneiros, buscar linhas futuras de financiamento para
aquisição, retenção e custeio pecuário.
115
Quanto à criação de ovinos, o agricultor pretende investir mais na carne do que na lã,
no entanto se manifestou inseguro com relação à manutenção da ovinocultura em seu
estabelecimento.
A família tem uma filha, mas não deseja seguir na atividade da pecuária, pois já se
encontra estabelecida na cidade.
Com relação à situação da sua localidade, verifica um movimento em direção à cidade,
tanto dos jovens quanto dos mais idosos por falta de incentivos em infra-estrutura.
Diminuição da oferta de terras como há 06 anos atrás, na implantação do plano real.
5.2 Pecuarista Familiar Tipo 1.2 com Área Maior que 100ha e Menor que 500ha e
Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA).
a) Localização – Sistema Agrário (2) Arenito.
O sistema de produção do agricultor tipo 02, situado na região denominada Cerro dos
Munhoz, no 1º distrito de Livramento, encontra-se sobre um solo de origem arenito onde se
registram as ocorrências das seguintes
unidades de solo mais comuns: São Pedro,
Livramento, e Santa Maria (Podzólicos).
O 1º distrito de Livramento faz divisa à oeste com o 5º distrito de São Diogo, a leste
com o 3º distrito do Ibicuí, ao Sul com a ROU (República Oriental do Uruguai) e ao Norte
com 4º distrito de Pampeiro.
116
b) Origem / Família:
A família tem sua origem no meio rural, de outra localidade denominada de Itaquatiá,
em S. do Livramento. Os pais do agricultor são de nacionalidade brasileira e uruguaia, como
no caso anterior.
O agricultor iniciou sua atividade como trabalhador assalariado de peão e esquilador,
não possuía propriedade a não ser a dos seus pais. Sempre trabalhou com crédito rural desde
os dezoitos anos. Através destes recursos adquiriu sua primeira fração de campo de 08 há em
1982, onde reside hoje. Suas terras foram sendo adquiridas em pequenas frações de várias
sucessões, estando em localidades distintas.
O produtor tem mais 03 irmãos que deixaram o meio rural e estão estabelecidos na
cidade.
No estabelecimento residem a esposa e 03 filhos. A mão de obra da propriedade é
familiar com 2,24 UTHf e a idade da mesma varia de 11 a 51 anos. Não contrata mão-deobra, mas as vezes troca serviços com vizinhos.
A área total da propriedade é de 211 há sendo desta 209,5 ha de S.AU, com 01 ha de
florestamento, 6 ha de milho e 01 ha de plantas de baraço e 0,5 ha de benfeitorias, 29 ha
arrendados de terceiros para pastoreio.
A localidade dispõe de uma excelente quantidade e qualidade de água. A presença de
mata nativa é quase inexistente, somente próximo a arroios e sangas foram áreas exploradas
pela agricultura intensiva há muitos anos, a vegetação da pastagem nativa é de espécies
gramíneas de baixa qualidade nutritiva, indicadoras de solos exauridos e campos pobres de
fertilidade.
Na região em que se situam as propriedades, predominam pequenos e médios
estabelecimentos e assentamentos, onde a pecuária extensiva e as culturas do milho de
117
subsistência são as principais explorações agrícolas.Nos assentamentos há uma maior
diversificação da agricultura.
O agricultor planta nesse sistema 06 ha de milho 1,0 ha de Plantas de Baraço, usando
implementos tracionados por animais, preparando solo no sistema convencional de lavração,
gradagem e plantando em linha com semente de milho híbrido e adubo químico, fazendo
rotação de culturas nessa área com milheto no ano seguinte. O milho é colhido seco no pé e
guardado em um galpão de madeira sem qualquer proteção contra insetos e ratos. A maior
parte é usada para o consumo próprio 8t em média e o restante é vendido na vizinhança com
prestação de serviço debulhado ou triturado. Para o consumo próprio é usado na
suplementação alimentar de terneiros desmamados durante 60 a 70 dias / ano.
Plantas de baraço como abóbora cabutiá, batata doce, mandioca são comercializadas
na cidade em feiras, armazéns e em casas de famílias. Outra parte é usada para o consumo
familiar.
O florestamento é próximo à casa sem fins econômicos apenas como área de proteção
para a retira de lenha para uso doméstico. O leite é produzido para o consumo familiar com
vacas mansas retiradas do gado geral. Há uma criação de pequenos animais como galinhas e
suínos.
O sistema de criação é de pecuária extensiva de bovinos e ovinos. Não faz o ciclo
completo, mas somente cria, vende animais jovens e vacas de descarte, por quilo de bovino,
ou troca diferentes categorias com os vizinhos. O estabelecimento possuía 201 bovinos de
diferente categorias, no ano 2000.
O produtor se especializou na comercialização de terneiros de ano destinados à recria
comercializados para agricultores e intermediários no final de outubro.
118
A comercialização das vacas de descarte
é feita a nível da localidade, para
invernadores ou frigoríficos conforme a sua necessidade financeira.
A receita da propriedade é complementada com a produção da lã, a venda de couros e
peles de animais abatidos para o consumo próprio. Os animais usados para o consumo do
estabelecimento são aves, ovelhas e bois.
O período de reprodução dos bovinos é definido de dezembro a janeiro usando
somente touros. Os índices de repetição de cria são próximos a 90 % em média. Nas vacas de
cria é feito o controle de gestação as falhadas são encaminhadas ao abate. É realizado o
desmame precoce nas matrizes em torno de 6 meses. Prática que aumentou significativamente
o índice de repetição de cria e conseqüente aumento da produção de terneiros.
Os reprodutores são adquiridos em estabelecimentos maiores, inclusive de cabanhas;
não são animais de primeira linhagem, mas possuem uma boa genética.
A raça predominante dos bovinos é Zebuína cruzado com o Charolês, mas está sendo
introduzido o Red Angus. A alimentação do gado é de baixa qualidade em decorrência das
espécies forrageiras existentes e da alta lotação dos campos, embora o agricultor faça
pastagens de verão de milheto, de inverno com aveia mista ( branca e moura ) e azevém. As
vacas geralmente são colocadas na resteva do milho para a engorda. O desmame precoce dos
terneiros é feito com grão de milho triturado ( 2Kg / dia) mais um quilo de ração com 20%
de proteína durante 60 dias.
Os principais problemas e controles sanitários são os mesmos descritos no tipo
anterior, modificado quanto ao uso de banho de imersão nos bovinos para o controle dos
carrapatos e da Mosca do Chifre. O banheiro do gado é administrado em conjunto com outros
agricultores, onde as despesas de manutenção são divididas entre todos.
119
Utiliza o sal e a mineralização como uma prática importante do manejo tanto para os
bovinos como para os ovinos.
No sistema de criação dos ovinos também é extensivo num total de 85 cabeças de
diferentes categorias sendo 35 ventres. Não são comercializados, mas usados para o consumo
na propriedade.
A raça predominante é a ideal, cruzando com a texel atualmente. O encarneiramento é
feito no inicio de março e os cordeiros começam a nascer no final de julho.
Os ovinos produziram 240 Kg de lã no ano de 2000. Os problemas e o controle
sanitário são os mesmos descritos no tipo anterior, apenas usa banho carrapaticida para o
controle da sarna ovina.
A renda total da propriedade é constituída da renda da agropecuária, sendo esta
diversificada com agricultura que representa 26,40% da produção bruta total enquanto a
pecuária representa 73,60 %.
O agricultor tem um forte gerenciamento contido em relação às despesas da família e
da sua produção.
Recebe assistência técnica da EMATER /RS com regularidade.
A rentabilidade da terra atinge um valor médio de R$ 82,97/ há de S.AU/ ano muito
próximos do sistema anterior. O grande diferencial para o sistema anterior está na produção
agrícola e na produção de terneiros. A renda total por unidade de trabalho homem-família é de
R$ 7.766,66 equivalente à 3,6 S.M. / mês / UTHF, acima dos NRS de 1,5 salários
mínimos/mês.
120
Com os recursos gerados consegue fazer sua manutenção e novos investimentos
principalmente em pequenos equipamentos e ferramentas .
c) Aspectos sociais levantados:
A mão de obra desse tipo de agricultor é familiar. São os filhos que ajudam nas
tarefas sem distinção de sexo, desde de cedo. A família reside no meio rural e os filhos
estudam na escola da localidade, sendo um dos poucos casos encontrados no presente estudo.
O principal problema enfrentado na pecuária foi o crescente aumento dos juros dos
financiamentos a partir de 1990.
Como proprietário nos últimos dez anos, conseguiu adquirir mais terras e aumentar
sua produção em números de animais através dos recursos dos financiamentos que
historicamente sempre teve acesso.
Nos seus planos futuros, o agricultor pretende manter-se na atividade da pecuária com
gado de cria, investir na agricultura aumentando sua área de plantio, vender a sede do
estabelecimento e mudar para a sua fração de campo maior buscando melhorar a
administração do seu estabelecimento.
Com relação à agropecuária, pretende aumentar o número de animais e de terneiros
desmamados precocemente e diversificar a produção para criação de peixes e suínos.
Quanto aos filhos, há uma expectativa dos filhos permanecerem na atividade, um dos
filhos trabalha de peão em um estabelecimento vizinho, a outra filha casou-se recentemente
com vizinho que também é agricultor.
121
Sobre a situação de sua localidade, está havendo uma saída das pessoas de mais
idade, uma maior subdivisão das propriedades, para herdeiros que vendem suas áreas que são
em média menores que 20 há, ou 01 módulo rural.
Segundo a declaração do agricultor em entrevista:
“As principais causas da saída dos jovens está na impossibilidade de conseguir
administrar as terras de sua herança por terem perdido a sua ligação com o campo há
muito tempo, sendo necessário trabalhar na pecuária com um controle rigoroso de
despesas, pois os recursos da atividade são escassos, não deve gastar tudo o que
ganha ao mesmo tempo”.
O estabelecimento tem uma casa de alvenaria simples sem forro, em bom estado de
conservação com energia elétrica, alguns eletrodomésticos básicos, com banheiro interno,
água encanada de poço artesiano de boa qualidade, sistema de esgoto com fossa negra.
As suas instalações de trabalho encontram-se em estado razoável mas com pouca
manutenção. Os investimentos são feitos em equipamentos elétricos e mecanizados de
trabalho como triturador de milho, debulhador movido a motor de 2 t, plantadeira nova de
milho tracionada por animal, sendo que estes equipamentos estão guardados em galpão em
bom estado de conservação. Possui uma balança para animais de 1, 5 t. Ressalta-se que seus
principais investimentos são em instrumentos de trabalho, a ponto de ter um freezer para
guardar carne (o agricultor abate animais para comercializar junto a vizinhança), mas não ter
geladeira. Esse é diferencial em relação ao tipo anterior por ter energia elétrica.
Os potreiros são subdivididos em 03 na sede da propriedade que possui uma área de
20 ha.
O casal estudou até a terceira série do primeiro grau.
122
Essa tipologia de produtor se mantém na atividade da pecuária com uma área supeiror
a 100 num solo de origem arenítica apto à agricultura com restrições e de abaixa fertilidade,
através dos recursos gerados da própria atividade e de sua especialização em produção de
terneiros, da diversificação de culturas. Não usa a produção agrícola apenas para manutenção
familiar, mas comercializa. È um agricultor que tem uma dedicação muito grande ao trabalho
com uma noção de administração e perspicácia para os negócios, muito boa.
5.3 Pecuarista Familiar Tipo 2.1 com Área Menor que 100ha com Inexistência de
Renda de Outras Atividades (ROA).
a) Localização – Sistema Agrário (02) Basalto.
O sistema de produção do agricultor do tipo 03 está situado sobre um solo de origem
basaltíca da unidade pedregal nas partes altas e arenito nas baixas por ser uma área de
transição. A localidade denominada de Cerro da Árvore no 4º distrito de Pampeiro faz divisa
a oeste com o 5º distrito de São Diogo ao Leste com o 3º distrito do Ibicuí ao Sul com o 1º de
Livramento ao Norte com o município de Rosário do Sul .
A origem do estabelecimento é de uma partilha recebida de herança após a divisão da
área com a mãe e os seus onze irmãos herdeiros. Posteriormente foram adquiridas frações
menores de terra
dos mesmos herdeiros. Alguns dos irmãos mantêm vinculo com a
propriedade mas não a exploram por estarem residindo e estabelecidos na cidade.
O agricultor entrevistado explora 26 ha da propriedade desde de 1977, sendo 06 de sua
propriedade (03 há adquiridos de um dos irmãos) e os demais 14 ha em conjunto com a sua
mãe
num total de 40 ha. A parceria não envolve qualquer tipo de remuneração como
pagamento de arrendamento. A área tem 37,5 ha de S.AU utilizada,
123
com pastagem nativa, 2 ha de Milho e 0,05 ha de plantas de baraço, 1,0 ha com benfeitorias e
0,5 ha de mata nativa.
O agricultor é natural do Carcávio, uma localidade próxima; a sua esposa, do Ibicui.
Moram sós, sem filhos e contratam empregado apenas no período de esquila. Assim a mão de
obra é somente familiar e equivalente a 2 UTHf.
Quanto à topografia, apresenta-se suavemente plana com alguns morros mais
proeminentes, os recursos hídricos são bons. Na área do estabelecimento com basalto, há
nascente de água, onde foi construído com recursos de financiamento um pequeno açude para
bebedouro de animais e fornecimento de água para a casa.
Os campos nativos possuem espécies de forrageiras de boa qualidade no basalto
enquanto nas baixadas, onde predomina o arenito, passam a ser mais rústicas e de menor
valor nutritivo.
O agricultor tem culturas de subsistência com uma boa horta doméstica, plantas de
baraço, milho e possuem um pomar de várias espécies. Tem vacas de leite mansas retiradas do
rebanho geral e cria pequenos animais como galinhas e suínos.
O sistema de cultivo é feito com preparo do solo convencional mecanizado pela
patrulha agrícola do município, com uma lavração e uma gradagem seguidos do plantio à
mão do milho conhecido pelo sistema da Bolcada (sistema de plantio feito a mão após a
lavração e tampado com o pé em linha). Usa adubação de manutenção organo mineral
industrializado, não usa adubação de cobertura. O milho fica no pé até secar no mês de junho /
julho colhe sem palha, armazena em um galpão comum sem qualquer proteção.
As pastagens de inverno são feitas com aveia moura também no sistema tradicional,
semeadas a lanço e tapadas com uma grade. A área de pastagem é a mesma
124
há 05 anos consecutivos, usando adubação de manutenção. Os animais beneficiados estão na
seguinte ordem de prioridade: as vacas de leite, as magras e as prenhas.
O sistema de criação é a pecuária extensiva de corte e ovinos fazendo apenas a cria
dos bovinos.
Comercializa animais jovens: terneiros, novilhas e vacas de descarte na própria
localidade, geralmente, para produtores maiores que os revendem para invernadores e
criadores de outras localidades. Não possui volume suficiente para comercializar direto com
frigoríficos. Compra ou troca de categoria de animais para reposição junto aos vizinhos. A
produção da lã e a venda de couros e peles de animais abatidos para o consumo próprio e dos
que morreram complementam a receita da propriedade.
O estabelecimento possuía 35 bovinos de diferentes categorias no ano 2000. A raça
predominante dos bovinos é o Charolês cruza com Zebu.
A época de reprodução dos bovinos (entoure) é indefinida, pois
reprodutores
permanecem o tempo todo com as matrizes. As vacas de cria não repetem no ano seguinte
pela alta lotação, baixo nível nutricional e do desmame dos terneiros em torno de um ano.
Os principais problemas sanitários e seus controles são os mesmos descritos para os
produtores anteriores, apenas que a cada 60 dias, no verão, da um banho de imersão com
carrapaticida a base de Amintraz.
Fornece sal ao rebanho geral numa média de 02 vezes por ano. Bem menos que nos
demais tipos de agricultores pesquisados.
125
b) Ovinos;
A ovinocultura no estabelecimento é usada para o consumo familiar, o rebanho é
composto de 61 cabeças de diversas categorias. A raça predominante é a Ideal. Não há manejo
reprodutivo, o carneiro passa o tempo todo com as matrizes. Os problemas sanitários são os
mesmos descritos no agricultor tipo tipo 1.2. A produção de lã comercializada foi de 280 Kg.
A renda total é composta 100 % do valor do produto bruto gerado pela agropecuária
no estabelecimento. A rentabilidade da terra é de R$ 115,27 /há de S.AU/ ano . A renda total
por unidade de trabalho homem familiar ( UTHf), ou seja, produtividade do trabalho nessa
propriedade é de R$ 2.161,38 /UTHf/ Ano equivalente a um 1,0 S.M/ UTHf / mês, abaixo do
nível de reprodução simples (NRS).
c) Aspectos sociais levantados e qualidade de vida:
O estabelecimento possui uma casa de alvenaria antiga com pouca manutenção, sem
água encanada, sem luz elétrica, uma geladeira a gás somente. Possui dois banheiros, sendo
que o interno possui apenas o chuveiro e no externo o WC ( latrina ), sem rede de esgoto. A
água para o abastecimento é puxada a cavalo com um barril da fonte. ( Foto 3 e 4 )
A escolaridade dos proprietários, no caso o casal, é da 4ª até a 5ª série do primeiro
grau.
As instalações de trabalho e equipamentos compreendem 03 pequenos galpões de
madeira, rústicos que servem de depósito para guardar utensílios de serviço como: arreios,
remédios, ferramentas; outro é
estrebaria,
e o terceiro, depósito para o milho. Os
equipamentos são simples, na maioria manuais. As mangueiras são de madeira desdobrada e
moirões em péssimas condições de conservação ( Foto 06 ).As cercas
126
também, têm manutenção apenas quando rompem. O estabelecimento possuí apenas 02
divisões de potreiros de toda a área.
Com relação as principais mudanças ocorridas no seu estabelecimento nos últimos 10
anos o produtor cita que conseguiu adquirir 03 ha de terra de um irmão seu pagando com 04
vacas. Ao seu ver, a pecuária acompanhou o custo de produção, pois conseguiu manter o
mesmo número de animais desde que iniciou sua atividade como tropeiro.
O casal não possui filhos, a expectativa da esposa é de ir morar na cidade, vender o
que tem para adquirir uma casa e viver com a aposentadoria do esposo. O produtor quanto aos
seus planos futuros é de continuar na atividade, conseguir uma linha de financiamento para
instalar água e luz para obter mais conforto e conseguir se manter no campo.
Com relação à situação da localidade, informou que está havendo um movimento em
direção à cidade dos mais idosos, há algumas áreas que estão em sucessão onde os mais
jovens não estão conseguindo conduzir pela falta de capacidade de administrativa, pois os
recursos
nessa época estão escassos; portanto, é necessário viver na pecuária com
austeridade.
5.4 Pecuarista Familiar Tipo 2.2 com Área Menor que 100ha e Inexistência de Renda
de Outras Atividades (ROA).
a) Localização – Sistema Agrário (2) Arenito.
O sistema de produção do agricultor do tipo 2.2 está situado sobre um solo de origem
Arenítica. Também a localidade
denominada Rincão de Palomas
do 1º distrito de
Livramento faz divisa a oeste com o 5º distrito de São Diogo.
127
ao leste com o 3º distrito do Ibicuí ao sul com a ROU e ao Norte com 4º distrito de Pampeiro .
O agricultor entrevistado tem sua ancestralidade brasileira e uruguaia. Os seus pais
vieram de outra localidade do município. A origem do estabelecimento é uma fração de
campo que foi doada ao seu pai que era motorista de uma família abastada. A área original
recebida era de 4 quadras de sesmaria foi dividida entre os quatros irmãos de seu pai. A parte
que lhe coube foi vendida para adquirir onde é hoje o seu estabelecimento.
No estabelecimento residem 02 pessoas com idade variando de 56 a 60 anos, os filhos
estão estabelecidos na cidade.
A mão-de-obra da propriedade é familiar do produtor e de sua esposa, equivalente a
1,34 UTHf, contrata temporariamente 0,2 UTH sendo o total de 1,54 UTH.
O total da área do estabelecimento é de 56 ha sendo desta 51,5 ha de S.AU, com 02ha
de florestamento, 0,5 ha de mata nativa, 02 de benfeitorias e o restante de campo nativo.
Os recursos hídricos são bons, há um arroio que passa por toda a propriedade, possui
um também um pequeno açude, bebedouro para os animais. O mato nativo é quase
inexpressivo, são áreas exploradas pela agricultura intensiva há muitos anos, a vegetação e a
pastagem nativa é formada de espécies predominante de gramineas e arbustivas de baixa
qualidade nutritiva, indicadoras de solos exauridos.
Na região em que se situa a propriedade, predominam pequenos e médios
estabelecimentos, onde a pecuária extensiva, a cultura de plantas de baraço e do milho de
subsistência são as principais atividades desenvolvidas.
128
Produz leite apenas para o consumo próprio como os demais entrevistados, tem uma
criação de pequenos animais para consumo doméstico.
No sistema de cultivo, o agricultor planta culturas anuais e de subsistência como
milho 03 ha e 1,0 ha de plantas de baraço. O preparo do solo é realizado através dos serviços
de mecanização da patrulha agrícola do município usando o sistema convencional
de
lavração, gradagem e plantio em linha. Não usa adubação química. O adubo utilizado na
propriedade é o orgânico, usado somente nas culturas de baraço que são comercializadas na
cidade e entre os vizinhos.
Próxima à casa possuí uma área com florestamento com fins econômicos para
produção de postes e moirões de cerca, serve também como área de proteção para os animais
e de onde retira a lenha para o seu uso doméstico. A produção bruta total da agricultura
representa 6,79% da produção bruta total do estabelecimento.
O número de bovinos existente no ano de 2000 era de 22 cabeças de diferentes
categorias.
A principal exploração é a pecuária extensiva de corte com sistema de cria, vende
animais jovens e vacas de descarte, por quilo de bovino, ou troca categorias diferentes com os
vizinhos.
A comercialização do gado e dos demais subprodutos é igual ao do agricultor anterior,
tipo 2.1.
O sistema de reprodução é igual ao descrito no tipo 2.1, os reprodutores não são
separados, passam o ano todo juntos. Os índices de repetição de cria são próximos a zero. O
período de desmama dos bovinos é tardio em torno de 1 ano. A raça predominante dos
bovinos é o Zebu com Normando. Os reprodutores são adquiridos ou trocados por vizinhos,
alguns são animais que foram descartados de propriedade
129
maiores ou de cabanhas. A alimentação do gado é de baixa qualidade em decorrência das
espécies forrageiras existentes e da alta lotação do campo.
Os principais problemas sanitários e o seu controle já foram descritos no agricultor
tipo 2.1. A diferença é o não uso de banho de imersão. Os vermífugos utilizados e os
produtos para o controle da mosca do chifre são os mais populares com preços mais
acessíveis.
Utiliza o sal e o mineral com uma média de 150 kg /ano.
O sistema de criação dos ovinos também é extensivo com um total de 128 cabeças de
diferentes categorias no ano 2000. A raça predominante
é a Merina. Não tem manejo
reprodutivo dos carneiros.
Os problemas sanitários e os controles são os mesmos do agricultor tipo 02.1 variando
conforme a qualidade e a quantidade dos produtos aplicados.
A renda total da propriedade é constituída da renda agrícola e da renda de outras
atividades (ROA) como da venda
de moirões confeccionados com madeira de sua
propriedade, que representam 33,98 % da renda total gerada no estabelecimento contra 66,02
% da renda agrícola, no ano de 2000.
A produção bruta animal representa 93,21 % do produto bruto total e vegetal apenas
6,79%.
A rentabilidade da terra atinge um valor de R$147,43/ha de S.AU/ano. A rentabilidade
do trabalho é de R$ 5.666,32 / UTHf / ano equivalente a 2,6 S.M / UTHf / mês, acima
portanto do NRS de 1,5 salários mínimos.
Com os recursos gerados conseguem a sua sócio-econômica reprodução familiar e
manter o sistema de produção. Não sendo suficientes os recursos gerados para novos
130
investimentos, pois são mobilizados para a compra de gado, para a reposição dos animais
vendidos e a manutenção da família.
É um agricultor como os demais. Não usa tecnologia no seu sistema de criação e de
cultivo.
b) Aspectos sociais e de qualidade de vida:
O estabelecimento é composto por uma casa de madeira rústica em estado razoável de
conservação, com banheiro externo, sem água encanada, um poço raso de boa qualidade sem
sistema de esgoto, com energia elétrica e alguns eletrodomésticos básicos. As suas instalações
de trabalho encontram-se em estado razoável com pouca manutenção que demonstra a falta
de capacidade para investimento nas mesmas. Como no tipo 2.1 anterior possuí equipamentos
simples e manuais para o trabalho.
Com relação aos planos futuros, o produtor pretende manter-se na atividade da
pecuária com gado de cria, fazer investimento em diversificação na piscicultura e artesanato
em pele ovina. Com mais apoio da patrulha agrícola pensar aumentar a área de plantio de
milho e explorar uma pequena área de arroz que tem em seu estabelecimento.
Segundo depoimento do agricultor:
“O principal problema enfrentado na pecuária foi o crescente aumento do
custo de produção e estabilização do preço do gado. A diminuição da área de
agricultura reduziu a sua renda, o número e a idade dos animais vendidos. Com a
inflação alta, antigamente se perdia mais, pois não era possível definir o preço de
animal em um negócio pela rápida desvalorização”.
A escolaridade do casal vai até a quarta série do primeiro grau.
131
O agricultor tem 05 filhos sendo 03 moradores em Porto Alegre e 02 em S. do
Livramento já estabelecidos com uma atividade econômica na cidade. Não tem perspectivas
de assumirem a propriedade a médio prazo.
A tipologia desse produtor, a exemplo do anterior, consegue se manter na atividade da
pecuária com uma área inferior a 100ha em um solo de origem arenítica agricultável com
restrições e de baixa fertilidade, através das rendas de outras atividades, da contenção de
despesas, e de uma família já estabilizada, ou seja, os filhos têm sua independência. A renda
da propriedade é somente para a manutenção do casal.
Em relação a sua localidade, segundo o agricultor, houve uma diminuição do número
de pessoas que foram embora para a cidade. Os motivos são os mais variados possíveis, mas
os principais, a seu ver, foram a idade dos mais velhos pela falta de recursos de saúde e de
alternativas econômicas para os mais jovens. Há um grande número de propriedades
abandonadas na localidade, o que comprova a redução drástica da população.
5.5 Pecuarista Familiar Tipo 3.1 com Área Menor de 100ha com Renda de Outras
Atividades (ROA) – Aposentadoria.
a) Localização – Sistema Agrário (01) Basalto.
O sistema de produção do agricultor do tipo 5 está situado sobre um solo de origem
basáltica da unidade pedregal, no 6º distrito do Espinilho. A localidade denominada Cerro
Chato faz divisa ao norte com 5º distrito de São Diogo ao leste, ao sul e oeste com a
Republica Oriental do Uruguai ( ROU ) .
O pai do produtor era tropeiro e comissionado do frigorifico Armour, comprava
ovinos e bovinos. Adquiria animais na região e fazia tropas levando-as direto para o
132
frigorífico na década de 20. A sua mãe possuía uma pequena área que recebeu de herança.
Posteriormente foi comprando com a remuneração de seu trabalho outras áreas de vizinhos e
parentes chegando a ter 130 ha.
O agricultor entrevistado tem sua paternidade brasileira e uruguaia, possuía 10 irmãos
sendo que hoje apenas 4 mantêm algum vínculo de trabalho com o campo. Segundo
depoimento do agricultor, ele e os seus irmãos trabalhavam na chácara (Horta ) e no plantio
de milho. Mais tarde, por falta de alternativa, alguns dos irmãos se tornaram prestadores de
serviço no meio rural e outros foram diretos para a cidade em busca de emprego.
Hoje, o produtor possuí uma única filha formada em contabilidade.
Com relação a mão de obra ocupada na propriedade, é do produtor, da esposa
esporadicamente e de um parente sem remuneração correspondendo à 0,81UTH no total,
sendo 0,54 relativo a UTHf. Não contrata empregado, apenas no período de esquila dos
ovinos.
A esposa e a filha não residem no estabelecimento, mas na cidade.
O produtor, por ser aposentado e ter sua saúde debilitada, atende sua propriedade em
média 02 dias por semana junto com um parente que leva da cidade e que regula de idade
com a sua.
O estabelecimento possui uma área de 57 ha, correspondendo a de 56 há de S.AU. A
diferença se constitui em área de benfeitoria e um pequeno bosque de eucalipto para proteção
dos animais, o restante é pastagem nativa.
O número de animais bovinos existentes era de 44 machos em 2000.
133
Quanto à topografia, recursos hídricos e as pastagens nativas, clima são as mesmas
descritas no agricultor tipo 01. A diferença é o menor número de pequenos açudes para
bebedouro dos animais ( 02 unidades).
Não é realizado nenhum tipo de cultura de subsistência, pois no estabelecimento não
reside ninguém permanentemente.
O sistema de criação principal é a exploração da pecuária extensiva de corte e ovinos,
realizando somente a terminação ( engorda ), de bois de 03 a mais anos de idade, como a
principal atividade econômica.
A comercialização dos animais é diretamente ao frigorifico do município a peso de boi
em um único período do ano. Vende um volume aproximado de 16 animais de 490 Kg.
Compra animais de reposição junto aos vizinhos e em remates. A produção da lã, a venda de
couros e peles de animais abatidos para o consumo próprio, e que morreram, complementam a
receita da propriedade.
A raça predominante dos bovinos é o Charolês cruza com Zebu .
Os problemas sanitários e os controles são os mesmos descritos para o agricultor tipo
1.1. Não usa banho de imersão do gado.
Como os agricultores possuem idades avançadas entre 65 e 72 anos e estado de saúde
debilitado o controle sanitário com aplicações estratégicas de ivermectinas é mais
freqüentemente usado para diminuir o número de tratamentos e o esforço de trabalho com o
gado, condizente com as suas condições físicas.
134
b) Ovinos:
No sistema de criação de ovinos o ciclo é completo, a raça predominante é a Ideal. A
produção de lã foi de 550 Kg. O número de animais é de 260 cabeças de todas as categorias.
Cabe ressaltar que dos tipos de agricultores entrevistados neste trabalho foi o que
apresentou o maior rebanho, apesar de estar numa região onde o abigeato é elevado, tendo o
mesmo perdido, recentemente, várias cabeças de bovinos e eqüinos.
A principal função da ovinocultura é a manutenção familiar, mas as ovelhas de
descarte e os capões são destinados
à comercialização e os cordeiros são usados para
reposição no rebanho. Diferente dos demais agricultores até aqui descritos que não
comercializam animais adultos.
A época de reprodução é de março a abril, o nascimento de cordeiros começa a partir
do fim do mês de Julho.
Os principais problemas sanitários e tratamentos são os mesmos do agricultor tipo 1.1.
A renda total é composta pela renda de outras atividades 89,06% ( aposentadorias do
casal ), e da renda agrícola que equivale a 10,94 % onde o produto bruto animal corresponde
a 100% do produto bruto total gerado no estabelecimento.
Na pecuária a rentabilidade da terra atinge um valor médio de R$ 10,97 / ha de
S.AU/ ano. É o valor mais baixo de todos os tipos entrevistados, indicando a especialização
da atividade de terminação com animais machos. O valor de reposição dos bovinos magros no
mercado está muito próximo do valor do gordo, a diferença é basicamente o ganho de peso.
Outro fator que contribui para baixa rentabilidade é
135
ausência de matrizes para a produção de terneiros que poderia, como no tipo 1.1, diminuir
este custo de reposição.
Com este sistema de criação baseado na engorda em um estabelecimento pequeno, o
agricultor apenas mantém o seu capital (patrimônio), mas não obtém lucro, pois mesmo a
diferença acaba se transformando em custo de manutenção.
A rentabilidade do trabalho nessa propriedade é de R$ 9.731,21 / UTHf, equivalente a
4,5 S.M / UTHf / mês. Incluindo no cálculo a renda de outras atividades, como as duas
aposentadorias, estando acima do NRS de 1,5 salários mínimos/mês.
A insuficiência desse sistema de produção é a remuneração agrícola da mão-de-obra
familiar (R.A/UTHf), onde um agricultor recebe mensalmente uma renda de R$10,27/há com
uma média de 1,34 pessoa ativa na propriedade.
Se não houvesse a aposentadoria, este agricultor disporia de uma renda mensal de R$
48,00, muito aquém da renda necessária para atender 2 pessoas que é de 3,0 salários mínimos.
As propriedades estudadas apresentam, com a aposentadoria, relevante participação,
da renda total, de 45% a 89%.
c) Aspectos sociais e de qualidade de vida:
O estabelecimento possui uma casa de madeira construída junto com o galpão, sem
água encanada, o banheiro é externo sem rede de esgoto, sem luz elétrica e uma geladeira à
gás somente.
As instalações de trabalho e equipamentos são poucos e rústicos, reduzem-se a um
pequeno galpão que serve de depósito para guardar utensílios de serviço como arreios,
remédios e ferramentas, Os equipamentos são simples na maioria manuais. As
136
mangueiras são de madeira desdobrada e moirões. As cercas recebem a manutenção apenas
quando há dano; o número de potreiros ( divisões ) é pequeno, no caso 02.
A escolaridade dos proprietários, no caso o casal, vai até a 5ª série do primeiro grau.
A aposentadoria do casal é o recurso necessário para a sua manutenção mensal. A
pecuária é uma atividade considerada de poupança onde os ganhos são sempre reinvestidos
numa nova aquisição de animais magros para repor o que vendeu. Não há escala de produção,
o que justifica o padrão modesto de vida da família desse tipo de produtor, do basalto, com
uma área inferior a 100 há.
Quanto à maior dificuldade nos últimos 10 anos, o produtor cita os juros altos, o preço
do boi magro muito próximo ao do gordo e o problema do abigeato devido à situação de
proximidade do seu estabelecimento com a fronteira.
Como possuem uma única filha, essa não seguirá as atividades dos pais na pecuária,
pois não é o desejo dos mesmos manter o seu estilo de vida para ela, uma vez que se encontra
estabelecida na cidade.
Quanto aos planos futuros, o produtor pretende continuar na atividade, no entanto
manifestou uma insegurança com relação a manter a ovinocultura.
Com relação à situação da localidade, informou que há um movimento em direção à
cidade, principalmente dos pequenos produtores, enquanto nas áreas maiores há uma
renovação com os jovens que assumem esses estabelecimentos.
137
5.6 Pecuarista Familiar Tipo 3.2 com Área Menor de 100ha com Renda de Outras
Atividades (ROA) – Aposentadoria.
a) Localização – Sistema Agrário (02) Arenito.
O sistema de produção do agricultor do tipo 3.2 está situado sobre um solo de origem
Arenítica. A localidade do denominada de Águas Boas no 4º distrito de Pampeiro faz divisa
a oeste com o 5º distrito de São Diogo ao leste com o 3º distrito do Ibicuí ao Sul com o 1º de
Livramento ao Norte com o município de Rosário do Sul.
b) Origem / Família:
O produtor entrevistado é de origem brasileira e uruguaia. A família é natural da
localidade denominada de Passo das Pedras onde se localiza uma fração da propriedade. Vive
no estabelecimento com a esposa e um agregado. Os filhos já estão estabelecidos em
Livramento e outros municípios do estado.
O agricultor trabalhou durante muitos anos de capataz de estância e como comerciante
em armazém de sua propriedade no meio rural.
A maior parte do estabelecimento foi recebida de uma herança do sogro e outra foi
adquirida posteriormente, onde reside há 6 anos. Não são áreas contínuas mas estão em
localidades vizinhas, afastadas em 26 Km.
A mão-de-obra da propriedade familiar é do agricultor, de sua esposa ( 1,11 UTHf),e
de uma pessoa considerada mais um agregado do que um empregado da família
que
representa 1 UTH, percebendo menos de um salário mínimo, sendo que a mão de obra
totaliza 2,11 UTH. É composta de pessoas com idade variando de 33 (o agregado) e 68 anos
dos proprietários.
138
O estabelecimento tem 99 ha
sendo 81ha de S.AU, 08 de mato nativo, 01 de
benfeitorias, 09 ha de área não aproveitável. A área útil é ocupada com 03 ha de
florestamento, 07 ha com pastagem cultivada e o restante 71 há de pastagem nativa.
Quanto à topografia, apresenta-se fortemente ondulada, correspondendo a uma faixa
de transição do solo de origem arenítica com o basalto, com baixos a médios teores de
fertilidade. Há uma boa disponibilidade de água, tem um açude como bebedouro de água para
os animais. O mato nativo é representativo na região; a vegetação e a pastagem nativa é
formada de espécies predominantes de gramíneas e de espécies arbustivas de baixa qualidade
nutritiva, indicadoras de solos exauridos.
Na região em que se situa a propriedade, predominam pequenos e médios
estabelecimentos, onde a pecuária extensiva e as culturas do milho de subsistência são as
principais atividades agrícolas.
O agricultor não planta culturas anuais e de subsistência, possui um pequeno cercado
(horta), pomar para o seu consumo familiar Planta pastagem de inverno e de verão, com
auxilio de um vizinho, de quem aluga os serviços de mecanização para o preparo do solo
convencional lavração, gradagem e semeadura a lanço. Faz consórcios de feijão miúdo e
milheto no verão. A aveia moura é plantada consorciada com o azevém e a aveia branca é
plantada em áreas separadas no inverno.
Nas pastagens, utiliza adubos químicos de correção e de manutenção como a uréia.
Utilizou o calcário para correção nas áreas de pastagens, aproveitando um programa
municipal para compra conjunta desse produto, organizado pela S.M.A.
Possuí uma área com florestamento próxima à casa sem fins econômicos apenas como
área de proteção e retira lenha para o seu uso doméstico.
O leite é produzido apenas para o consumo próprio como nos demais. A única criação
de pequenos animais são as aves.
139
O principal sistema de criação é a exploração da pecuária extensiva de corte e a
ovinocultura. Como os demais agricultores já citados do arenito, não termina os animais
apenas cria. O produto vendido assemelha-se aos demais do arenito, vende animais jovens e
vacas de descarte por quilo de bovino, ou troca categorias diferentes com os vizinhos.
A comercialização do gado é feita na localidade, ou com escritórios de remate. Vende
vacas de descarte e terneiros de ano, sendo esses últimos enviados para São Paulo por um
comprador local que adquire pequenos lotes de animais dos produtores da região para formar
uma carga de caminhão fechada.
Complementa a receita da propriedade a produção da lã, a venda de couros e peles de
animais abatidos para o consumo próprio. Os animais consumidos são galinhas, ovinos e
bovinos .
O sistema de criação já descrito é idêntico ao agricultor tipo 2.2. A raça predominante
dos bovinos é o Zebu com Charlês e Normando,. Os reprodutores são adquiridos ou trocados
por vizinhos, alguns são animais que foram descartados de propriedades maiores.
Os principais problemas sanitários e os seus controles são os mesmos do agricultor
tipo 2.2.
O sistema de criação dos ovinos é igual ao agricultor tipo 2.2 já dscrito. Predominam
ovinos da raça Corriedale cruza Ideal, com um total de 99 cabeças de várias categorias,
produziu 378,4 Kg de lã no ano de 2000. Os ovinos entram em reprodução nos meses de
março a abril.
Os problemas sanitários e os seus controles são semelhantes aos já descritos
anteriormente variando apenas quanto à qualidade e à quantidade de tratamentos.
140
A renda do estabelecimento é composta pela renda de outras atividades (02
aposentadoria), que equivalem a 45,07 % da renda total contra 54,93 % da renda agrícola. A
rentabilidade do trabalho é de R$ 9.354,99 / Uthf / ano correspondente a 4,33 S.M /mês onde
está incluída a aposentadoria rural. Cabe ressaltar que a esposa não trabalha em tempo integral
no estabelecimento. Este sistema junto com o tipo 1.1 tem maior peso da mão-de-obra não
familiar. (agregado)
A rentabilidade da terra atinge um valor médio de R$ 70,42 / há de S.AU/ ano.
O valor agregado líquido total por S.AU, ou seja, a produtividade da terra obtida pelo
estabelecimento rural é de R$ 94,96/há, bem acima do valor encontrado no mesmo sistema de
produção do basalto.
O produto bruto animal representa 100 % do produto total gerado na propriedade.
A lógica da sua reprodução social o agricultor tem a atividade agropecuária como uma
poupança na qual lança mão da comercialização quando necessita de recursos, ou tem
produção para vender. O custeio da manutenção familiar é feita através da renda de outras
atividades (ROA) econômicas, da aposentadoria rural do casal e da produção gerada de
subsistência na propriedade, durante o ano.
c) Aspectos sociais e de qualidade de vida:
O estabelecimento tem uma casa mista, rústica em estado razoável de conservação
com energia elétrica alguns eletrodomésticos básicos, com banheiro interno, com água
encanada de boa qualidade, abastecida por poço raso e com sistema de esgoto. As suas
instalações de trabalho, galpões e mangueiras possuem pouca manutenção, demonstrando
falta de capacidade para investimento. Como no caso anterior, possui equipamentos simples e
manuais para o trabalho.
141
O principal problema na pecuária, segundo o agricultor, foi em relação ao crescente
aumento do custo de produção e estabilização do preço do gado, pois na década de 70 / 80
considerou o melhor período para a pecuária. Hoje ser invernador, ao seu ver, é um bom
negócio, mas não tem apoio para a retenção de fêmeas, pois exige capital de giro e maior
imobilização de recursos de que não dispõe.
Segundo informações do agricultor, há uma diminuição do número de pessoas que
moram na localidade e algumas áreas estão tornando-se sítios de lazer, o que evidencia o
êxodo rural, quer pela saída das pessoas mais idosas e, ou pela falta de jovens para a
renovação dessa mão de obra rural.
Com relação aos planos futuros, o produtor pretende manter-se na atividade da
pecuária com gado de cria e investir em pastagens para invernar as vacas de descarte.
A escolaridade do casal vai até a quinta série do primeiro grau.
Quanto aos filhos não há uma expectativa de permanecerem na agropecuária por
estarem já estabelecidos economicamente. A filha tem curso superior, é professora, enquanto
o filho mora em outra cidade do estado trabalhando em uma multinacional.
Este tipo de agricultor, a exemplo do anterior, consegue se manter na atividade da
pecuária com uma área inferior a 100 ha, ou seja, 81 ha de S.A.U através dos recursos da
aposentadoria do casal. Atividade da pecuária é uma forma de poupança da família. Os filhos
já estão economicamente independentes, o que lhes permite um razoável nível de vida.
O agricultor aposentado do basalto tipo 4.1 difere deste por explorar apenas a
terminação de bovinos, enquanto este cria e tem auxílio de um agregado com mão-de-obra
mais jovem.
142
Em ambos os casos, com renda de outras atividades, a aposentadoria é responsável
pela manutenção e a permanência da família no meio rural.
5.7 Pecuarista Familiar Tipo 4.1 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras
Atividades (ROA) – Venda de Mão-de-Obra.
a) Localização – Sistema Agrário (01) Basalto.
O sistema de produção do agricultor tipo 4.1 está situado sobre um solo de origem
basáltica da unidade pedregal, no 6º distrito do Espinilho. A localidade denominada Capão do
Inglês faz divisa , ao norte com 5º distrito de São Diogo ao leste, oeste e ao sul com a
República Oriental do Uruguai ( ROU ) .
O produtor entrevistado é de origem brasileira, a mãe é de nacionalidade Uruguaia.
Reside na propriedade com a esposa e os filhos de forma esporádica.
O estabelecimento foi recebido de herança de seus país 36 ha, administrado por ele
desde então, mas é posse comum entre outros dois irmãos, totalizando 107 ha. Há uma área,
no entanto, que está com processo de uso capião, não escriturada.
O agricultor administra a sua área e a de seus irmãos, mas não percebe remuneração de
seus parentes, senão um consumo ovino/mês.
Presta serviços aos vizinhos em tempo parcial, para complementar a sua renda,
recebendo salário, ou não, em troca de favores.
143
b) Mão de obra:
A filha é professora, desempregada, trabalha junto com o pai no estabelecimento
quando da ausência de sua mãe na cidade. O filho está estabelecido na cidade, mas trabalha
alguns fins de semana no estabelecimento rural.
Há um agregado
de idade que reside na propriedade e
auxilia
nas atividades
agropecuárias, mas não em tempo integral. Não percebe salário, recebe somente manutenção,
casa e alimentação.
A mão-de-obra familiar no estabelecimento é muito instável e descontinua onde
participam várias pessoas. Logo a UTHf é baixa, equivalente a 1,03 Uthf enquanto o agregado
com idade de aproximadamente 60 anos, representa 0,6 UTH.
O estabelecimento possui 107 ha correspondendo a uma S.A.U de 61 ha, a redução
deve-se a grande área de mata nativa, capoeiras e de afloramento de rochas existentes na área.
Quanto à topografia, apresenta-se com relevo acidentado fortemente ondulada. O
estabelecimento se localiza em um lugar baixo da região com presença significativa de mato
em 30 ha, abundância de água com um arroio com boa vazão que margeia a propriedade no
seu sentido longitudinal.
c) Sistema de cultivo:
Não são realizadas culturas de subsistência como o milho e horta, embora
a
propriedade possua implementos de tração animal.
A pastagem cultivada todos os anos é feita com a ajuda de um proprietário vizinho que
cede o trator e o tratorista para o preparo do solo e plantio de uma área de
144
1,5 ha. O sistema de plantio é o convencional, de uma lavração e duas gradagens, sendo o
plantio feito a lanço junto com adubo químico.
Não usa adubo de manutenção como a uréia, mas faz parcagem com antecedência de
bovinos e ovinos. O único insumo adquirido pelo produtor para implantação da pastagem que
envolve despêndio financeiro é a semente de azevém, os demais insumos são cedidos pelo o
vizinho. Para o uso da pastagem, a prioridade é das vacas prenhas.
O principal sistema de criação é a pecuária de corte extensiva e a exploração de
ovinos. Não é realizado o ciclo completo, mas apenas a cria.
O estabelecimento no ano de 2000 possuía 92 bovinos de diferentes categorias.
A comercialização dos bovinos é semelhante à do agricultor tipo 3.2, obrigando a
comercializar os animais jovens e as vacas para os invernadores por não ter espaço e nem
oferta de alimento para a recria e engorda.
A raça predominante dos bovinos é o charles cruza com Nelore.
O período de reprodução dos bovinos é definido de novembro a janeiro, das novilhas
de 2 3 anos. Há um baixo índice de repetição de cria, os ventres entram em reprodução a cada
dois anos, o que está relacionado à alta lotação e ao estado nutricional deficiente do rebanho.
O período de desmama é tardio em torno de 1 ano.
Os principais problemas sanitários e os controles são semelhantes aos descritos
anteriormente no agricultor tipo 2.1, variando a qualidade e a quantidade de tratamentos, pois
segundo o agricultor a incidência de carrapato nos bovinos diminuiu muito nos últimos anos.
145
d) Ovinos:
Os ovinos são utilizados para manutenção familiar; o estabelecimento possuia 187
ovinos de várias categorias no ano de 2000. A raça predominante é a Corriedale cruzada com
Merino Australiano.
As ovelhas de descarte os capões são destinados apenas para a manutenção da família,
e os cordeiros para reposição no rebanho. O período de reprodução é definido de março a 1º
de abril. A origem do carneiro é doação de um borrego do estabelecimento vizinho.
Os problemas e os controles sanitários são os mesmos descritos anteriormente com
destaque para a dificuldade de controle dos vermes.
Como produto alternativo para controle da manqueira ( foot root ) e da lágrima nos
ovinos, o agricultor cita o uso de sulfato de cobre junto com óleo queimado de motor com
bons resultados.
e) Renda agrícola:
O agricultor possui renda de outras atividades diminuindo sensivelmente a UTHf que
é 1,03 em sua propriedade, em detrimento de compromissos que complementam a sua renda
familiar ( pluriatividade ).
Estas atividades são todas realizadas nas proximidades de seu estabelecimento em
grandes propriedades, sendo que algumas são realizadas por troca de remuneração e outras de
favores. Caracterizando uma relação de compadrio, ou clientelismo onde há troca de mão de
obra por insumos e ou serviços mecanizados com vizinhos.
146
O agricultor também é capataz de tropeada quando se ausenta por mais tempo e se
desloca por maiores
distancias de
seu estabelecimento para uma outra localidade do
município. Nas demais atividades, retorna sempre no final do dia para sua propriedade.
O agregado que mora com a família passa a ter papel importante para o zelo do
estabelecimento e das atividades diárias na ausência do agricultor.
A renda total é composta pela renda agrícola 57,18 % desta e a da renda de outras
atividades (R.O.A),
equivalente
à
42,82 % da total, oriundas de atividades como
alambrador, tropeador, e serviços gerais de manutenção e administração em propriedades
vizinhas. O produto bruto animal equivale à 100 % do produto bruto total gerado no
estabelecimento.
A rentabilidade da terra atinge um valor de R$ 81,91 / há de S.AU/ ano. A
rentabilidade do trabalho é de R$ 8.842,06 / Uthf / ano correspondente a 4,0 S.M / UTHf /mês
onde esta incluída a renda de outras atividades. Cabe ressaltar que a esposa não trabalha em
tempo integral no estabelecimento o que diminui a UTHf.
Parte da renda agrícola é transferida aos dois irmãos pelo uso em comum da terra,
sendo que o produtor que administra a área recebe com a sua família um terço desta renda
equivalente aos 36 há de sua propriedade, ou seja, R$ 1.735,77.
f) Aspectos sociais e de qualidade de vida:
O estabelecimento possui uma casa modesta de madeira, com água encanada por
gravidade de uma fonte sem proteção e nenhum bem de luxo, inclusive geladeira.
As instalações de trabalho e equipamentos são poucos e rústicos, reduzem-se a um
galpão pequeno que serve de depósito para guardar utensílios de serviço como arreios,
remédios e ferramentas. Os equipamentos são na maioria manuais estão expostos ao relento
reduzindo sensivelmente sua vida útil. As mangueiras são de pedra
147
e de madeira desdobrada e de moirões. As cercas recebem a manutenção apenas quando
rompem. A área é dividida em 4 potreiros.
Segundo o agricultor:
“Nos últimos dez anos, ele acha que a situação da pecuária melhorou por haver
mais procura por animais o que elevou o preço. Quanto à maior dificuldade, o
produtor cita a seca ocorrida há dois anos e o problema do abigeato pela proximidade
do estabelecimento com a fronteira”.
A tendência, segundo a sua expectativa, é continuar na atividade da pecuária, aumentar
o número de cabeças exploradas com rebanho de cria e com ovinos. Ao seu ver a pecuária nos
últimos 10 anos melhorou
havendo uma maior procura de animais, melhorando os preços
mais altos. Não tem planos de ir para a cidade.
Com relação aos filhos, não é o seu desejo manter o seu estilo de vida para eles, e nem
estes pela sua formação continuarão na atividade do pai.
Com relação à situação de sua localidade, informou que há um movimento em direção
a cidade principalmente dos pequenos produtores, pela falta de recursos financeiros e
estruturais para se manterem na atividade. Nos estabelecimentos
maiores, há uma
continuidade por parte de jovens que herdam essas propriedades.
A escolaridade do proprietários no caso o casal vai da 3ª à 5ª série do primeiro grau.
O agricultor tipo 4.1 consegue se manter na atividade da pecuária sobre um solo de
origem no basalto com uma área inferior a 100 há devido as atividades de prestação de
serviços que realiza na vizinhança (pluriatividade rural). A oferta de trabalho na localidade é
conseqüência de dois fatores: a escassez de mão de obra especializada devido ao êxodo rural,
a diminuição de mão de obra nas grandes propriedades. A
148
relação de compadrio está presente, ainda hoje, entre a pequena propriedade e o grande
estabelecimento rural como a troca de serviço por produtos ( carneiro, insumos e serviço de
trator por exemplo).
5.8 Pecuarista Familiar Tipo 4.2 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras
Atividades – Venda de Mão-de-Obra.
a) Localização – Sistema Agrário (02) – Arenito,
O sistema de produção do agricultor do tipo 4.2 está situado sobre o sistema agrário do
Arenito. A localidade denominada de Rincão de Palomas do 1º distrito de Livramento faz
divisa à oeste com o 5º distrito de São Diogo ao leste com o 3º distrito do Ibicuí ao sul com a
ROU e ao Norte com 4º distrito de Pampeiro.
b) Origem / Família:
O produtor entrevistado é de origem brasileira, reside no Rincão de Palomas há 72
anos na propriedade que herdou de seu pai. A sua família é natural da localidade do Itaquatiá.
No estabelecimento reside a esposa e um filho de 15 anos que estuda na escola pólo
rural próxima a sua casa. A filha tem nível de escolaridade superior e está estabelecida na
cidade onde é professora.
A mão de obra da propriedade é familiar, não contrata empregado. As atividades na
propriedade são desenvolvidas pelo produtor, sua esposa e filho, quando não está na escola.
A esposa, além das lidas domésticas, é servente na escola onde dedica
aproximadamente 06 horas de trabalho / dia.
149
O agricultor outras atividades não agrárias como alambrador, pedreiro e marceneiro
além de ser o barbeiro da localidade nos domingos pela manhã.
Devido
ao alto grau de comprometimento de trabalho externo à propriedade, a
unidade de trabalho homem família é de apenas 0,85 UTHf, a segunda mais baixa de todos os
entrevistados. A idade das pessoas que trabalham no estabelecimento varia de 15 do filho a 62
anos do casal.
A propriedade tem 5,5 ha próprios mais uma de área de 13 há arrendada para
pastoreio. O agricultor ainda tem
alguns animais soltos no “ corredor “ ( estrada
da
localidade).
Na região em que se situa a propriedade predominam pequenos estabelecimentos com
as culturas do milho, trigo e após o arroz que historicamente foram muito explorados.
A pecuária extensiva continua sendo a principal atividade, agravando a situação dos
solos já comprometidos. A reposição e a recuperação desses é inviável pela descapitalização e
baixa capacidade de investimento dos produtores que continuam a exportar a pouca fertilidade
da sua terra através da pecuária criando um ciclo sócio – econômico de baixa reprodução
social e estagnação.
c) Sistema de cultivo:
Embora os solos sejam aptos com restrições a manejo intensivo à agricultura, o
produtor há dois anos não planta culturas de subsistência como horta e milho, embora possua
implementos de tração animal na propriedade.
A última lavoura de milho plantada foi através da secretaria da agricultura do
município utilizando os serviços da patrulha agrícola que é atuante na região.
150
No plantio sempre usou semente própria de milho
chamada de grão de ouro,
variedade de origem na localidade com bons índices de produção, segundo o mesmo.
Possuí uma área com florestamento, próxima à casa, sem fins econômicos apenas
como área de proteção e de descanso para os animais.
Produz leite apenas para o consumo próprio e uma de aves.
d) Sistema de criação:
A principal exploração é a pecuária extensiva de corte com sistema de criação, vende
animais jovens e vacas de descarte, por quilo de bovino, ou troca categorias diferentes com os
vizinhos.
O número de bovinos existente no estabelecimento no ano de 2000 era de 26 cabeças
de diferentes categorias.
A comercialização do gado e dos demais subprodutos é igual a do agricultor tipo 2.2.
Algumas vezes abate animais na propriedade e vende em partes por quilo na localidade.
Na reprodução dos bovinos, os índices de repetição de cria, desmame são semelhantes
ao descrito no produtor tipo 2.2. A raça predominante dos bovinos é o Zebu com Holandês.
Os baixos índices de produtividade estão relacionados à pequena área de exploração e
a um excesso de lotação de animais, chegando ao ponto do produtor criar ventres com
terneiros ao pé, no corredor ( estrada ), agravando ainda mais a deficiência reprodutiva e
alimentar de suas matrizes.
151
Os principais problemas sanitários e seus controles já foram descritos no agricultor
tipo 2.2, variando a qualidade dos produtos e o número de tratamentos, além do uso
banho por aspersão com bomba costal manual para o controle de carrapato.
de
e) Ovinos:
O sistema de criação dos Ovinos também é extensivo. O estabelecimento contava com
um total de 39 cabeças de diferentes categorias no ano 2000. A raça predominante é a Ideal.
Não tem manejo reprodutivo dos carneiros e a produção de lã foi de 50 Kg.
Os problemas sanitários e os controles são os mesmos do agricultor tipo 2.1, variando
conforme a qualidade e a quantidade dos produtos aplicados.
f) Renda Agrícola:
A renda total é composta pela renda agrícola equivalente 32,67 % desta e a de outras
atividades ( R. O. A ), equivalente à 67,33 % da total, oriundas de atividades como
alambrador, pedreiro, carpinteiro e na administração em propriedades vizinhas etc. O produto
bruto animal equivale à 100 % do produto bruto total gerado no estabelecimento.
A rentabilidade da terra atinge um valor de R$ 231,89 / há de S.AU/ ano. Deve frisar o
alto valor devido ao uso da estrada na criação dos animais que não esta incluído no cálculo da
S.AU.
A rentabilidade total do trabalho é de R$ 13.977,04 / UTHf / ano, correspondente a 6,5
S.M / UTHf /mês onde está incluída a renda de outras atividades. Cabe ressaltar que a esposa
percebe um salário mínimo como servente da escola. Não trabalha em tempo integral no
estabelecimento, o que diminui a UTHf, assim como os demais integrantes da família.
152
O valor agregado líquido total por S.AU, ou seja, a produtividade da terra obtido, pelo
estabelecimento rural é de R$ 285,45 / há de S.AU/ ano, o maior de todos estudados.
A comercialização de animais é considerada pela lógica da família como uma
poupança sempre que há uma necessidade, extraordinária de doença ou por uma festividade.
A manutenção familiar é feita através da produção de subsistência que tem um valor superior
ao que é produzido para a venda, da renda de outras atividades econômicas. A única venda
declarada pelo agricultor no ano passado foi de um boi manso para cobrir as despesas de
formatura da filha que contribui também para aumentar a renda agrícola.
Embora os índices da rentabilidade da terra e do trabalho aparentemente pareçam
superiores aos entrevistados com menos de 100 há, deve-se à pequena área explorada ( uso da
estrada), a baixa UTH disponível e o produto bruto gerado para o consumo do
estabelecimento. Pode-se observar a falta de recursos para a manutenção do estabelecimento
quer seja financeira, ou de mão de obra familiar disponível..
g) Aspectos sociais e de qualidade de vida:
O estabelecimento tem uma casa mista, rústica em estado regular de conservação com
energia elétrica, alguns eletrodomésticos básicos, com banheiro externo, sem água encanada e
sem sistema de esgoto. As suas instalações de trabalho encontram-se em estado precário, sem
manutenção que mostra a falta de capacidade para investimento nas mesmas. Como no caso
anterior, possuí equipamentos manuais para o trabalho. Os implementos agrícolas encontramse na intempérie em estado de sucateamento. ( Foto5)
Quanto ao seu principal problema enfrentado na pecuária nos últimos dez anos, cita o
aumento do custo de produção e estabilização do preço do gado.
153
Com relação aos planos futuros o produtor pretende manter-se na atividade da
pecuária sem perspectivas de mudanças e de diversificação, enquanto a saúde permitir, mas
apenas de manutenção; gostaria de adquirir mais terra se houvesse financiamento. Quanto aos
filhos, há uma expectativa do filho permanecer na atividade, pois está deixando de estudar,
enquanto a filha já esta estabelecida na cidade.
Destaca-se mais uma vez que a filha foi a primeira a deixar o campo enquanto o filho
permanece junto com os pais.
A vontade dos pais é de encaminharem os seus filhos para a cidade em busca de
melhores condições e qualidade de vida, que eles não têm.
A escolaridade do casal vai até a quinta série do primeiro grau.
Há perspectivas de que o filho permaneça no campo se não voltar a estudar. Contudo,
o produtor e sua esposa não têm uma definição muito clara de qual será o destino dele.
Segundo informações e observações há na localidade um número expressivo de casas
abandonadas (taperas), evidenciando um êxodo rural muito acentuado, quer pela saída das
pessoas mais idosas e, ou pela falta de jovens para a renovação dessa mão de obra rural.(
Tabela 02 Resumo das principais características dos pecuaristas famliares)
6 CONCLUSÃO
Com o presente estudo, realizado através das entrevistas a informantes chaves,
levantamento bibliográfico e leitura da paisagem, pode-se concluir na identificação de dois
principais sistemas agrários distintos na sua maneira de ocupação, exploração agropecuária,
na diferença de seus solos e a influência do clima nos mesmos para pecuária familiar. É o
sistema agrário da região denominada de número um do basalto e a dois do arenito.
O estudo
da restituição da evolução histórica do
município de Santana do
Livramento, no Estado do Rio grande do Sul, permitiu identificar cinco períodos distintos e
sucessivos que evoluíram e se diferenciaram no tempo.
O primeiro sistema agrário dos indígenas, estruturado na caça, pesca, atividades
extrativistas e na agricultura de coivara, ocorreram em ambas as regiões homogêneas. Uma
diferença que merece destaque é quanto à forma preferencial de ocupação nestas regiões; os
charruas e minuanos se estabeleceram na região 01 do basalto, enquanto as tribos Guaranis,
na região 02 do arenito, próximos às margens de rios e restingas em terras mais apropriadas
para agricultura.
O sistema agrário das Missões Fase I ocorre com a chegada dos Jesuítas que
introduziram o gado de corte e outros animais domesticados, a partir de 1634, configurandose uma agricultura mais tecnificada nas estâncias missioneiras junto aos rios Ibicui e Arepei
no Uruguai, até 1682, quando foram destruídas pelos bandeirantes trazendo fortes reflexos
sobre a região 01 Basalto, onde esta estrutura era predominava. Na região do arenito, os
índios sofreram menos a influência dos catequistas mantendo-se com o seu sistema de
produção praticamente inalterado nesse período.
163
O sistema agrário das Missões Fase II e da Colônia de Sacramento, caracterizouse com base na preação do gado nas duas regiões homogêneas, marcando o início
da
integração do estado às atividades econômicas do Brasil.
O retorno dos Jesuítas às reduções destruídas, a partir de 1682, encontrou a região
modificada pelos grandes rebanhos de bovinos, eqüinos e outros animais que se criaram
soltos.
Os índios, modificando de forma radical os seus hábitos, passaram a comer carne de
rês em abundância e a utilizar o couro no seu dia-a-dia, inclusive para o escambo. Tornaramse excelentes cavaleiros para a preação do gado e a depender do cavalo para locomoção,
trabalho e luta.
A colônia de sacramento no Uruguai é fundada nesta mesma época e passa a ser um
importante entreposto comercial para venda e troca de mercadorias e ferramentas por couro e
sebo de toda região, inclusive a fronteira Brasil-Uruguai.
O quarto sistema agrário do charque volta a ser estruturado na pecuária de corte
extensiva
explorada a partir da distribuição das sesmarias e a instalação das primeiras
estâncias na região do basalto e no arenito. As áreas dessa
região
começam a ser
subdivididas entre arrendatários e posseiros, caracterizando o surgimento de uma classe
média emergente de agricultores. Após 1814, com a instalação do povoado de Santana do
Livramento, inicia na região dois do arenito uma exploração um pouco mais intensa com
agricultura que deixa de ser apenas de subsistência para ser de mercado também.
A cadeia do charque é o sistema de comercialização desse período que inicia a partir
de 1780 com a instalação do primeiro saladeiro em Pelotas. Posteriormente outras instalações
são rapidamente construídas por toda fronteira oeste do estado, inclusive em Livramento,
caracterizando um dos principais ciclos econômicos da carne do estado do Rio grande do Sul
com projeção nacional.
164
O quinto sistema agrário considerado da modernização teve seu início em 1930,
perdurando até os dias de hoje, marcado pela primeira grande crise da pecuária e a chegada
dos primeiros imigrantes europeus no município para o cultivo do trigo e do arroz.
Configuram-se dois sistemas agrários diferentes no município em estudo:
O sistema da região do basalto com campos de excelente qualidade para a pecuária de
corte e ovinocultura e do arenito com terras mais aptas à agricultura. No entanto, em ambos
predominou a pecuária de corte como principal atividade, o diferencial foi o incremento da
agricultura na região dois que foi a pioneira. Nessa região, após o advento da mecanização, o
uso de insumos e do crédito rural abundante tornou a agricultura mais intensificada.
No sistema agrário da região do basalto, a lavoura de arroz entrou mais tarde, quando
diminuiu a oferta de terra para o arroz na região do arenito. No basalto, devido uma maior
restrição de uso do solo e disponibilidade de água, as áreas destinadas a lavouras são menores
do que na região dois.
Nesse período a exploração da pecuária torna-se mais tecnificada através dos
cruzamentos de raças e o uso de novos produtos veterinários. No sistema agrário da região do
basalto, destaca-se um número maior de cabanhas para produção de matrizes e reprodutores
tanto de ovinos como de bovinos. Na estrutura fundiária dessa região prevalece um maior
número de grandes propriedades, enquanto no sistema agrário da região dois predominam os
médios e pequenos estabelecimentos.
A partir da instalação do frigorífico Armour em Santana do Livramento, ocorre um
processo crescente de modificação no sistema de criação e de comercialização do gado e dos
bovinos. Havendo necessidade de uma adaptação das carcaças dos animais à
165
conservação por frio e ao congelamento; torna-se necessário melhorar a qualidade genética do
gado através do cruzamentos com o gado europeu.
Durante a II grande guerra mundial, o período é marcado por um grande crescimento
econômico quando inicia a exportação de grandes volumes de carne para os exércitos aliados
na Europa. As conseqüências foram sentidas na melhoria da infra-estrutura das propriedades e
nas cidades.
A ovinocultura também tem uma grande expansão nesta época, sendo capaz de
sozinha custear as despesas do ano dos estabelecimentos agropecuários, até quando o preço da
lã no mercado internacional começa a declinar a partir de 1980. Conforme entrevistas, a lã
possibilitou a capitalização dos grandes estabelecimentos, mas esta receita foi mais
significativa a nível dos pecuaristas familiares para a sua manutenção que podiam contar com
mais esta renda no ano.
O primeiro movimento de êxodo rural ocorreu nesse período também quando os
agricultores e seus familiares começam a ocupar postos de trabalho no frigorífico. Alguns
com características de pluriatividade, pois continuavam a residir no seu estabelecimento rural.
A partir da década de 1970, com o crédito rural abundante, houve uma diferenciação
significativa entre as regiões dos dois sistemas agrários. A região um intensificou sua aptidão
à pecuária e a região dois à lavoura.
A partir da definição destes dois sistemas agrários atuais, da pré-tipologia, das
entrevistas
e do resgate histórico, foi possível identificar
as tipologias principais dos
pecuaristas familiares do município de Sant’Ana do Livramento nos dias de hoje, sendo
166
classificados em quatro tipologias de pecuaristas familiares conforme sua área de exploração
e suas rendas∗.
Conforme a presente tipologia foi entrevistado um tipo de pecuarista familiar para
cada região homogênea ( Basalto 01 , Arenito 02 );
1) Pecuaristas familiares tipo 01 com área maiores de 100 ha e menores de 500 ha – o
principal sistema de produção é a pecuária de corte e a ovinocultura e a
inexistência de rendas de outras atividades ( ROA), como base de sua reprodução
sócio – econômica. Caracterizados por serem dinâmicos, buscam a especialização
na agropecuária e na tecnificação.
1.1. No sistema agrário do basalto é um produtor que ocupa mão de obra familiar em
mais de 50 % da UTH do estabelecimento. No máximo contrata um empregado fixo, sendo
especializado na pecuária para terminação (engorda) de bois e na ovinocultura na produção
de lã. A comercialização é feita diretamente com os compradores de gado ou frigoríficos. Não
pratica agricultura, exceto pequena horta e pomar para subsistência.
1.2. No sistema agrário do arenito é um produtor que ocupa 100 % a mão de obra
familiar ou troca de serviços com vizinhos. Não contrata empregados. O seu sistema de
produção é a especialização na pecuária extensiva de criação para venda de terneiros e vacas
de descarte gordas. A comercialização é feita para compradores de gado e terneiros, ou
diretamente para os frigoríficos. A ovinocultura é somente para o consumo próprio, mas
vende a lã. Faz uma agricultura diversificada de plantas de baraço para comercializar na
cidade. Planta no sistema tradicional, pastagens artificiais e milho que é usado
para o
fornecimento aos animais e o excedente vende para os vizinhos.
167
∗
Todas as rendas de outras atividades ( R.O.A ) são consideradas oriundas exclusivamente do meio rural ( aposentadoria e da venda de mão
de obra). No caso da venda de Mão-de-Obra inclui atividades agrícolas ( lidas no campo em estabelecimento de terceiros) e atividades não
agrícolas ( serviço de pedreiro, alambrador, carpinteiro e barbeiro).
2) O pecuarista familiar tipo 02 possui área com menos de 100 ha – e o principal
sistema de produção é a pecuária extensiva de bovinos de corte e ovinocultura, a
inexistência de rendas de outras atividades ( ROA), como base de sua reprodução
sócio – econômica. São caracterizados por serem estagnados, com baixo nível
tecnológico da atividade agropecuária e na ausência de aplicação de investimento
nos estabelecimentos.
2.1. No sistema agrário do basalto é um tipo de produtor que ocupa 100 % da UTH
com mão de obra familiar em seu estabelecimento. Não contrata empregado fixo, mas troca
serviço com vizinhos. O seu sistema de produção é o mesmo anterior do tipo 1 do arenito. As
receitas são oriundas da venda de terneiros e vacas para engordar (invernar) para os vizinhos.
A ovinocultura é destinada para manutenção da família e a pouca lã produzida é
comercializada.
2.2. No sistema agrário do arenito é um produtor que ocupa 100 % a mão de obra
familiar, ou troca de serviços com vizinhos. Contrata empregados temporariamente para
cultura milho. O sistema da pecuária é o mesmo do tipo 1.1 do arenito descrito anteriormente,
mas sua comercialização é local com os vizinhos. O sistema de cultivo é tradicional sendo
diversificado com plantas de baraço e milho para o consumo próprio e o excedente vende
para vizinhança. Usa muito poucos insumos externos à propriedade para plantar.
Obteve uma renda de outras atividades da venda de moirões feitos com madeira de sua
propriedade, equivalente à 33,98 % da renda total. Tem uma pequena horta e pomar para
subsistência.
3) O pecuarista familiar tipo 03 com área de menor de 100 ha – o principal sistema
de produção é a pecuária de corte extensiva e a ovinocultura, tem na aposentadoria
rural renda de outras atividades ( R.O.A.), para sua reprodução sócio – econômica.
Caracterizados por serem intermediários com limitados investimentos na sua
produção, com baixo nível tecnológico da atividade
168
agropecuária. Como possuem uma renda mínima das aposentadorias ( casal ) e tem sua
saúde debilitada, priorizam atividades agropecuárias extensivas
com pouco uso de
mão de obra familiar. A baixa rentabilidade do estabelecimento não permite a
contratação de mão de obra formal, por isto observa-se o uso da força de trabalho de
um agregado nos dois tipos estudados. Sendo um com remuneração inferior a um
salário mínimo e outro sem remuneração.
3.1. No sistema agrário do basalto, é um tipo de produtor que ocupa um pouco mais
de 50 % da UTH com mão de obra de familiar no seu estabelecimento. Não contrata um
empregado fixo, mas tem uma pessoa como agregado que não percebe salário. O seu sistema
é especializado em terminação de animais adultos ( Bois gordos ). As receitas são oriundas da
venda desses animais diretamente aos frigoríficos. A ovinocultura é destinada para produção
de lã e a manutenção da família. A renda agrícola do sistema de criação é pequena, pois a
maioria deste valor é reaplicado na compra de animais magros para reposição do sistema. A
renda de outras receitas ( R.O.A.) representa 89 % da renda total do estabelecimento. Por
ninguém residir fixo na propriedade não faz culturas de subsistência.
3.2. No sistema agrário do arenito é um tipo de produtor que ocupa mais de 50 % da
mão de obra familiar. O sistema de criação é o mesmo do tipo 02 do arenito descrito
anteriormente. O seu sistema de cultivo é tradicional com pouco uso de insumos externos,
baseado no milho para o consumo no estabelecimento e nas pastagens.
A renda de outras atividades ( R.O.A: aposentadoria) é significativa, pois representa
45 % da renda total do estabelecimento.
4) O pecuarista tipo 04 com área menor de 100 ha – o principal sistema de produção é
a pecuária de corte e a ovinocultura com venda de mão de obra como renda de
outras atividades ( R.O.A ), para sua reprodução sócio – econômica. Possuem as
mesmas características da tipologia anterior (3).
169
Como a renda de outras atividades ( R.O.A.) é importante para complementar a renda
total do estabelecimento priorizam atividades agropecuárias extensivas com pouco uso
de mão de obra familiar, visando à liberação desta a atividades de prestação de
serviços.
4.1. No sistema agrário do basalto é um tipo de produtor que ocupa mão de obra de
familiar em mais de 50 % da UTH do estabelecimento. Não contrata um empregado fixo, mas
tem uma pessoa como agregado que não percebe salário. O seu sistema é de cria, o mesmo do
tipo 2.1 do arenito descrito anteriormente. A renda de outras receitas representa 42,8 % da
renda total do estabelecimento.
Constatou-se que a venda de mão de obra às vezes não implica uma remuneração
monetária, mas como no início do século XIX, uma relação de compadrio, entre a grande
propriedade e o pequeno estabelecimento da família dos agregados. O trabalho é troca por
favores, ou produtos, como o empréstimo de uma máquina para um serviço, a doação de
produtos veterinários, sementes etc.
4.2. No sistema agrário do arenito é um tipo de produtor que ocupa 100 % da mão de
obra familiar. O sistema de criação é o mesmo do tipo 2.1 do arenito já descrito. A renda de
outras atividades ( R.O.U. ), representa 67 % da renda total do estabelecimento. Como esta é a
principal renda, explica o abandono das atividades agrícolas e a necessidade de membros da
família se responsabilizarem por uma área maior. De todos os agricultores entrevistados, é o
que tem menor área ( 16 há de S.AU ) para a exploração da pecuária. Devido à falta de terra e
ao seu excesso de lotação, coloca animais na estrada (corredor). Assim os seus indicadores
agroeconômicos relativos à produtividade e rentabilidade da terra são os mais altos dos grupos
estudados.
O presente estudo pode verificar que os pecuaristas familiares que têm renda de outras
atividades com valores significativos sobre a renda agrícola pouco investem em tecnologia.
Embora estas rendas sejam oriundas das atividades não agrícolas, são
170
gerenciadas pelos chefes da família e acabam sendo destinadas a manutenção das mesmas.
No entanto, as rendas de outras atividades ( R.O.A.) com da venda de mão de obra, muitas
vezes, representam uma remuneração temporária. Na lógica destes agricultores, os recursos
oriundos da pecuária de corte são considerados como reserva de poupança. sendo utilizados
apenas em momentos de necessidade para cobrir despesas não previstas e extraordinárias.
As rendas de outras atividades ( R.O.A.) possibilitam uma melhor remuneração da
mão de obra em relação às atividades agrícolas. Verificando-se os indicadores da
remuneração da mão-de-obra familiar ( RT / UTHf ), os maiores valores são para os sistemas
de produção que incorporam na renda outras atividades comparando-os com os sistemas que
possuem somente renda agrícola. Inclusive no sistema de produção com áreas maiores de 100
há, ao compararmos este índice por unidade de área. O que caracteriza a baixa remuneração
da pecuária.
Constatou-se no
grupo em estudo que, em ambos os sistemas com renda
exclusivamente agrícola e com rendas de outras atividades, têm por objetivo a subsistência
familiar.
Há indicativos de três principais motivos da permanência da tipologia com área menor
de 100 há no meio rural. O primeiro devido à renda de outras atividades como aposentadoria
e venda de mão de obra. O segundo, a um gerenciamento empírico rigoroso. E o terceiro, à
baixa aplicação de recursos em insumos externos à propriedade.
Verificou-se que os sistemas de cultivo praticados nos tipos estudados não aplicam a
totalidade dos insumos tidos como modernos recomendados pela agricultura convencional.
Nos estabelecimentos que têm renda de outras atividades (R.O.A.), há uma menor
disponibilidade de mão de obra familiar (UTHf) e por conseqüência uma maior depreciação
das benfeitorias e equipamentos usados nas atividades agrícolas como pode
171
ser observada a campo, junto com o desinteresse por parte dos agricultores pelas inovações
tecnológicas ligadas ao processo de produção. Para reduzir os efeitos destas conseqüências, a
patrulha agrícola da secretária municipal é uma importante política para que o pecuarista
familiar mantenha alguma atividade agrícola como o plantio do milho, de plantas de baraço e
pastagens, conforme verificou-se com o depoimento de alguns agricultores entrevistados.
Cabe salientar que os tipos de pecuaristas familiares entrevistados com renda
exclusivamente agrícola (pecuária) tipo 02 encontram-se em uma situação de extrema
fragilidade social o que permite concluir que estes agricultores têm sérias dificuldades de
assegurar a sua reprodução social. O mesmo pode-se constatar para o tipologia 04 com venda
de mão de obra. São agricultores que têm uma idade avançada, saúde fragilizada e estão
prestes a encaminhar a sua aposentadoria.
Os agricultores da tipologia 01 ( área maior de 100 ha e renda somente da agricultura)
têm uma situação sócio - econômica estável com uma (V.A.L.) mais alta de todos os
estudados, podendo-se concluir que têm capacidade de pequenos investimentos e de manter
sua atividade produtiva.
O pecuarista familiar tipo 1.2 foi dos poucos que sempre buscou e teve acesso ao
crédito rural. Segundo seu depoimento: “Conseguiu comprar sua primeira fração de terra
através deste recurso na década de 1970”. Outro fator importante para o seu desenvolvimento
foi a sua capacidade de gerenciamento aliada ao seu interesse na adoção de novas tecnologias
de baixo impacto financeiro. Como agricultor assistido da extensão rural local, desenvolveu
um trabalho em seu rebanho de baixo custo, mas de alta repercussão nos índices de
produtividade de suas matrizes o que alavancou sua produção de terneiros.
Estes fatores são indicativos do sucesso de seu empreendimento o que pode ser
observado nos índices agroeconômicos do seu estabelecimento.
172
O mesmo tipo 1.1 de pecuarista familiar do basalto também encontra-se numa situação
estável, embora sua área seja maior que as demais pertence a duas economias, ou seja, a sua e
de sua mãe.
O sistema de criação com terminação (engorda) desse tipo de agricultor lhe permite ter
renda agrícola em um curto espaço de tempo devido à qualidade forrageira das pastagens
nativas de sua propriedade. Este sistema de criação se apresenta como um dos melhores
indicadores agroeconômicos estudados. Mas tem uma capacidade de investimento limitada
pela necessidade de mobilização do capital na compra de animais magros para reposição do
sistema de produção. Esta condição é evidenciada, pela falta de rede
elétrica no
estabelecimento.
Pode-se concluir que, mesmo com um dos melhores indicadores sócio – econômicos
em relação aos demais do estudo, não lhe permite ter condições de acesso à infra-estrutura
básica como a luz elétrica. Assim como outros agricultores pertencentes a este estudo, não
tem saneamento básico também.
A dificuldade da instalação da rede elétrica na região é histórica pelas grandes
distâncias entre os estabelecimentos rurais, condenando os agricultores a um isolamento e
tornando-os muitas vezes alienados, trazendo como conseqüência dificuldades na promoção
de empreendimentos associativos.
Verifica-se que no estabelecimento com área superior a 300 ha de S.AU, a renda total
anual não supera o valor para o enquadramento das regras PRONAF de R$ 27.500,00 ( vinte e
sete mil e quinhentos reais). Pode-se assim verificar a dimensão da baixa rentabilidade dos
estabelecimentos de pecuária familiar com áreas superiores a 100 ha e menores de 500 há,
podendo compará-los com agricultura familiar da região norte do estado com áreas menores.
Na questão fundiária, constatou-se uma informalidade muito grande em relação ao
titulo de posse da terra. A falta de transferência de titularidade, após um processo de
173
sucessão de herança, por exemplo, repercute em uma área maior que o agricultor possui. Com
raras exceções, os agricultores entrevistados manifestaram uma situação de regularidade
destes títulos junto aos cartórios. Tal condição implica a exclusão ao acesso de linhas de
créditos em alguns dos casos estudados.
Baseado no resgate histórico e nas entrevistas aos agricultores há indicativos de que a
origem dos estabelecimentos da pecuária familiar iniciou no século XVIII. A partir das
doações de sesmarias a nobres e militares lusos que trouxeram para região famílias de
agregados. Esses, mais tarde, ao receberem terras doadas pelos sesmeiros como
reconhecimento, tornam-se pequenos proprietários.
Os militares de baixa patente se estabeleceram
como pequenos agricultores,
receberam terras por serviços prestados ao estado, ou por reconhecimento de seus superiores.
Os sesmeiros lusos que não tinham condições de cuidar as suas grandes extensões de
sesmarias arrendavam glebas de terras aos agricultores pecuaristas que mais tarde tornavamse pequenos agricultores familiares.
Os posseiros, aproveitando-se das terras distantes das sedes das estâncias e de difícil
acesso, tomavam posse de glebas e construíam seus ranchos. Algumas vezes com o
consentimento dos proprietários, pois serviam como defesa de seus estabelecimentos
principalmente junto à linha divisória da fronteira.
Fazem parte desta gênese dos pecuaristas familiares os tropeiros, pequenos
comerciantes, funcionários e técnicos que trabalhavam nos saladeiros e mais tarde nos
frigoríficos que se instalaram em Santana do Livramento. Ao constituírem famílias com os
habitantes do município acabavam recebendo de herança ou adquiriam glebas de terra dando
origem a uma classe média rural. Neste processo, cabe ressaltar a influência oriental típica de
fronteira onde a grande maioria dos agricultores entrevistados tem uma ancestralidade paterna
ou materna uruguaia.
174
Recentemente os imigrantes de origem européia que chegaram a partir da década de 30
e o processo sucessivo de
herança ao longo dos últimos anos, médios e grandes
estabelecimentos transformam-se alguns em pecuaristas familiares.
Há indicativos, pelas observações empíricas ao campo e pelas entrevistas realizadas
junto aos agricultores, da redução do número de pecuaristas familiares nos dois sistemas
agrários abrangidos pelo presente estudo. Constataram-se apenas 02 famílias residindo com
os filhos menores de 20 anos de idade no meio rural. Verificou-se que os filhos dos demais
agricultores entrevistados na pesquisa de todos os tipos estudados encontram-se estabelecidos
e residindo no município ou em outras cidades.A faixa etária dos chefes de família é elevada,
acima de 50 anos em média. Há ausência de filhos de moradores estudando em uma escola
pólo rural na região 01 do basalto cuja abrangência atinge
03 dos quatro agricultores
entrevistados.
A infra-estrutura básica é deficiente em todos os tipos do presente estudo, seja por
falta de saneamento básico, rede elétrica, ou acesso a transporte, saúde e educação. Situação
esta que obriga aos pecuaristas familiares a enviarem seus filhos para a cidade na busca de um
futuro melhor já que eles tiveram pouco acesso como cidadãos.
Com relação ao meio ambiente, pode-se verificar que no sistema agrário do basalto há
uma maior preservação deste por ter menor quantidade de atividades agrícolas com arroz e
culturas anuais. No entanto, nas áreas onde essa cultura é explorada, os danos ambientais são
mais elevados devido às características de seus solos muitas vezes rasos e poucos permeáveis,
causando uma forte erosão laminar e o transporte mais rápido dos agrotóxicos para dentro dos
mananciais de água.
No sistema agrário dois do arenito, devido ao uso intensivo de seus solos, houve uma
maior agressão ao meio ambiente, causando uma erosão com presença de voçorocas,
desmatamentos de matas ciliares e assoreamentos dos rios e arroios.
Em ambos os sistemas, o excesso de lotação bovina e ovina, principalmente nos
175
pecuaristas familiares, promove um processo erosivo e a eliminação de espécies forrageiras
de melhor qualidade, o que pode ser verificado na pesquisa a campo e na leitura da paisagem.
Para entender melhor a lógica desta tipologia de agricultores, o presente estudo se
propôs, através desta pesquisa empírica, com uma metodologia de abordagem sistêmica,
possibilitar uma melhor análise desta realidade agrária complexa.
O presente estudo tentou contribuir de forma modesta para este grande debate sobre a
realidade da pecuária familiar na região da fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul, há
muito tempo esquecida de qualquer privilégio, mas de grande relevância pela sua
representatividade em nível municipal e regional. Entender a lógica e dar o devido
reconhecimento a estes atores sociais pela sua importância sócio – econômica é o primeiro
passo no sentido de um desenvolvimento sustentável deste município.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALBORNOZ, V. do P. L.; Armour. Uma aposta no Pampa. Santana do Livramento /RS
;Ed. Samara, 2000. 158p.
ASSOCIAÇÃAO RIOGRANDENSE DE EMPREENDIMENTOS DE ASSISTENCIA
TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL -EMATER/ RS Estudo Perspectivas da agropecuária:
Município de Santana do Livramento. Ed. Edigraf editora gráfica Ltda. Santana do
Livramento / RS. Agosto 1987.45p.
ARAÚJO, A. A. de.; Melhoramento das pastagens; agrostologia rio-grandense. 5º ed.
Porto Alegre, Sulina . 1978. 208 p.
BELTON. W.; Aves Silvestres do Rio Grande do Sul. 2] ed. Porto alegre, Fundação
Zoobotânica do Rio grande do Sul. 1986. 172.p., 105il. ( Publicação avulsas FZB, 6).
CAGGIANI, I.; Santana do Livramento – 150 anos de história; Santana do Livramento /
RS; Edição da Associação Santanense Pró- Ensino Superior , ASPES, 1983.v.1. 192 p.
CAGGIANI, I.; Município de Livramento – História; Santana do Livramento / RS;
1952.215p.
CAGGIANI, I.; Santana do Livramento – 150 anos de história; Santana do Livramento /
RS; Edição da Associação Santanense Pró- Ensino Superior , ASPES, 1984. v.2.215p
COSTA, R. H. da Latifúndio e identidade regional. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1988.
104p ( série Documenta; 25)
DUFUMIER, M. Les projets de développement agricole: manual d’expertide. Paris:
Karthala et CTA, 1996. 354p.
EMATER. Rio grande do Sul. Acompanhamento dos preços pagos e recebidos pelos
produtores. Porto Alegre: SEDAC, 1999. Planilha.
FERRERA, J. R. C.; Evolução e diferenciação dos Sistemas agrários do Município de
Camaquã – RS: Uma análise da agricultura e suas perspectivas de desenvolvimento.RS 2001. 181 p. Dissertação ( Mestrado em Economia Rural ) – UFRGS, Porto Alegre.
177
FIALHO, M. A. V. Agricultura familiar e as rendas não agrícolas na região
metropolitana de Porto Alegre: um estudo de caso dos municípios de Dois Irmãos e Ivoti
– RS 2000. 194 p. Dissertação ( Mestrado em Economia Rural) – UFRGS, Porto Alegre.
FONSECA, V. P. DA SILVEIRA,;A hegemonia do latifúndio pastoril e sua relação com a
pequena propriedade na fronteira Oeste do Rio grande do Sul. A contradição do
camponês fronteiriço e sua concepção de mundo estancieira. UFSM. / Santa Maria / RS.
1994. 140 p.
FUNDAÇÃO ZOOBOTANICA DO RIO GRANDE DO SUL. Preceituação ecológica para
a preservação de recursos naturais na região da Grande Porto Alegre. Porto Alegre,
Fundação Zoobotânica do rio grande do Sul, Liv. Sulina, 1976. 153p ( Publicação FZB nº 1)
IBAMA E SECRETÁRIA ESTADUAL DE AGRICULTURA / DRNR. Plano de Gestão da
Área de proteção ambiental de Ibirauitã / RS. Oficina de Planejamento.Rosário do Sul.
Dezembro . 1998. 111p.
INCRA / FAO. Guia metodológico: diagnóstico de sistemas agrários. Brasília: INCRA /
FAO – Projeto de Cooperação Técnica, 1999. 58 p.
KAGEYAMA, A & LEONE, E.T. Uma tipologia dos municípios paulistas com base em
indicadores sócios-demográficos. Campinas, instituto de economia, 1999. ( texto para
discussão 66 )
LIMA, A. J. P.; BASSO, N; NEUMZNN, P.S.; SANTOS, A. C.; MULLER, A. G.
Administração da unidade de produção familiar: modalidades de trabalho com
agricultores. Ijuí: UNIJUÍ, 1995. 176 P.
MAESTRI, M.; O escravo gaúcho resistência e trabalho. Porto Alegre.. Ed. Da
Universidade / UFRGS, 1993. 87.p. ( Síntese Universitária 31).
MAZOYER, M. Ciência e tecnologia a serviço do desenvolvimento agrícola: impasses e
perspectivas. Rio de janeiro: AS-PTA, 1991. 18p. ( Texto para debate 37).
MIGUEL, L. de A. A pesquisa- desenvolvimento na França e sua contribuição para o
estudo do rural. Porto alegre: UFRGS PROGRAMAA DE PÓS GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO RURAL, 1991. 14f. Apresentado no Seminário sistemas de
produção: conceitos, metodologia e prática. Curitiba: 1999. ( Não publicado).
OSÓRIO S. F.; História de são Gabriel. São Gabriel / RS. 1993. 323 p.
PASAVENTO, S. J.; Republica velha gaúcha; charqueadas, frigoríficos, criadores. Porto
alegre, Movimento, 1980. 305 p.
178
PASAVENTO, S. J.; História do Rio Grande do Sul. 7º ed. Porto Alegre, Mercado Aberto,
1994. 142p..
PINHEIRO, S. l. G.; O enfoque sistêmico e desenvolvimento rural sustentável; uma
oportunidade de mudança da abordagem hard- systems para experiências com softsystems. Agroecologia e desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre; EMATER / RS,
v.1, n.2, Abr. / Jun. 2000.
RIBEIRO , C.M. ; “ Pecuária familiar “ na região da campanha do Rio Grande do Sul:
definições e estratégias. Bagé / RS, ( versão preliminar). – Porto Alegre: EMATER / RS,
2001. ( não publicado).
RIO GRANDE DO SUL. SECRETARIA DA AGRICULTURA. Manual de conservação do
Solo. 2. Ed. Atualizada. Porto Alegre. 1983. 228 p.
SAINT- HILARE A. de. 1779 – 1859.; Viagem ao Rio Grande do Sul. Tradução de
Adroaldo Mesquita da Costa. Ed. Martins Livreiro. Porto Alegre, RS. 1987. 496 p.
SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e pluriatividade. Porto alegre, tese ( Doutorado em
sociologia). Programa de pós graduação em sociologia. Instituto de Filosofia de Ciência
Humanas. UFRGS, 1999b. 470p.
SILVA, F. Mamíferos Silvestres – Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Fundação Zoobotânica
do Rio grande do Sul. 1984. 246. P. ( publicações avulsas FZB, 7 ).
SOUTO, J.J. P.; Deserto , uma ameça? Estudo dos Núcleos de desertificação na fronteira
Sudoeste do RS, Porto alegre, DRNR Diretoria Geral, Secretária da Agricultura. 1984. 172p.
TEDESCO, J. C,( org ); Agricultura familiar realidades e perspectivas. Passo Fundo.
Universidade de Passo Fundo / UPF , Faculdade de economia e Admistração. p. 56 – 101 e
147 – 173 p. 1999.
Zero Hora; Origens do Rio grande do Sul, reportagens. Porto Alegre. Companhia Estadual
de Energia Elétrica – CEEE. Dezembro / 1996
VEIGA, J.E. da,; A face do desenvolvimento rural, natureza, território e agricultura.
Porto alegre. Ed. Universidade / UFRGS. 2000. 193 p.
VIEIRA, E.F. E RANGEL, R. S. ; Rio grande do Sul: geografia física e vegetação. Porto
Alegre R. S. Sagra 1984.184p.
WUNSCH,J. A. Diagnóstico e tipificação de produção: procedimentos para ações de
desenvolvimento regional. 1995. 179p. Dissertação ( Mestrado) – ESALQ. Universidade de
São Paulo. Piracicaba.
ANEXOS
QUADRO 1 - EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS
SISTEMAS AGRÁRIOS DO MUNICIPIO DE SANTANA
DO LIVRAMENTO
DE 1634 À 1682
SISTEMA AGRÁRIO
INDIGENA
PERÍODO
SUBSISTEMA
Exploração do ecossistema
natural e do ecossistema
cultivado e de criação dos
animais
Instrumentos de produção:
e
equipamentos:
Plantas, culturas,
SISTEMA AGRÁRIO DAS MISSÕES I
Até 1634
1634 -1682
EXTRATIVISTA E
AGRICULTURA
PREAÇÃO
Região 1 - Basalto - Pradarias
(Charruas) - caça e pesca e
atividades extrativista.
Região 2 – Arenito – Campos e
matos Próximos a margens de rios
(Guaranis ) - pesca artesanal e
pequenas plantações.
Ferramentas, manuais,
Arco e flecha, lança,
Boleadeiras
Toldos de capim
Região 1 Basalto - Padrarias
Nas coxilhas concentraram as
Estâncias Missioneiras de melhores
Pastagens
Agricultura de queimada em áreas
maiores para estâncias missionárias.
Na região 02 Arenito Campos / Matas.
permaneceu o índio com seu
sistema extrativista e de plantio
de queimada de subsistência,
caça e pesca
Ferramentas manuais e
tracionados por bois e cavalos
instrumentos metálicos, arco, flecha,
lança, boleadeiras.
Alguns instrumentos trazidos
pelos missionários.
Vários rebanhos de bovinos,
ovinos e cavalares domesticados
Arco, flecha, lança,
boleadeiras instrumentos de
paus e ossos utilizados pelos
índios na região
Canoa
Milho, Porongos, Feijão,
Mandioca
DO
GADO
E
AGRÍCOLA
EXTRATIVISTA E
AGRICOLA
Milho, Porongos, Mandioca,
batata
Animais
Plantas e Animais nativos
Força de trabalho
Mão de Obra familiar Indígena
Modo de artificialização do
meio:
Agricultura em pequenas áreas
de capoeira ( Coivara ) junto as
matas caça e pesca.
Extrativista
Relação de troca
Excedentes agropecuários
Principais Produto
Transição para o sistema
agrário seguinte
Autoconsumo
Escambo
Milho, Feijão, Mandioca, Trigo
batata
Organização missionária - índios
e jesuítas
Agricultura em áreas maiores, de
queimada e pousio.
pecuária e caça, extrativista
Utilizando técnicas trazida pelos
jesuítas
Mão de obra familiar
Indígena
caça, pesca e extrativismo
Agricultura de queimada e
pousio de subsistência.
Autoconsumo
Autoconsumo
Escambo
Escambo
Venda e troca de produtos
vegetais e animais.
Trocas entre grupos de indígenas
Armazenado para períodos de
Trocas entre grupos de
escassez
indígenas.
Venda e trocas de excedentes
trigo, feijão, milho, mandioca
Venda e troca de couro e sebo.
Região 01 – Caça e Pesca de
Culturas como trigo, feijão batata,
Plantas e animais nativos do
animais silvestres.
mandioca e animais exóticos bovinos, meio.
Região 02- Plantas cultivadas e cavalares, ovinos etc
animais silvestres, pesca
extrativismo para subsistência
Contato com a cultura –
Destruição das missões.
Contato com a cultura –
Rebanhos de todas as espécies
colonizadora.
colonizadora.
Catequização dos Missionários
Jesuítas
1634 Introdução do gado e
vários animais domesticados pelos
jesuítas
Fonte: Dados de pesquisa do autor, 2001
são abandonados se reproduzem
livremente
Preação do gado selvagem
Catequização pelos
missionários jesuítas.
Preação do gado selvagem
QUADRO
02
–
EVOLUÇÃO
E
DIFERENCIAÇÃO DOS SISTEMAS AGRÁRIOS DO
MUNICÍPIO DE SANTANA DO LIVRAMENTO
1682 - 1930
SISTEMA AGRÁRIO
PERÍODO
ITENS
SUBSISTEMA
EXPLORAÇÃO DO ECOSSISTEMA
NATURAL, CULTIVADO E DE
CRIAÇÃO DOS ANIMAIS
INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO:
EQUIPAMENTOS E
CONSTRUÇÕES:
MISSÕES II
E
COLÔNIA DE SACRAMENTO
PREAÇÃO
1682 –1814
PREAÇÃO DO GADO
A REGIÃO 1 E 2 ( Basalto e
Arenito )
Reorganização das missões e o
surgimento dos 7 povos missioneiros
foram transformadas em grandes estancias
de gado Do Rio Arapeí até o rio Ibicuí.
Inicio do estabelecimento de Currais
Algumas Tribos continuam fazendo
agricultura Milho e mandioca Agricultura
de queimada.
Ferramentas manuais e tracionados por
bois e cavalos como arados e carretas
Instrumentos metálicos, faca, enxada
pá....
CHARQUEADAS
Industrialização da carne
PECUÁRIA
1814 -1930
PECUÁRIA E AGRICULTURA
Região 1 – Basalto - Pradarias –
Instalação das primeiras sesmarias para criação do
gado. Cercas de pedra para divisões de áreas.
Região 2 – Predominou a criação do gado, mas
propiciou a instalação de pequenas áreas para o plantio de
culturas de Subsistencia.
desmatamento
Ferramentas manuais e tracionados por bois e cavalos.
Arado e Instrumentos metálicos faca, enxada,
machado, pá...
Boleadeiras, laço, lança,
Boleadeiras, laço desgarroteadores.
Arco, Flecha, Lança,
Armas de fogo
Toldo e canoas de couro.
PLANTAS, CULTURAS,
ANIMAIS
FORÇA DE TRABALHO
Milho, porongos, feijão ,mandioca,
trigo, batata
Predomínio da exploração do gado
bovino xucro e alguns já domesticados.
Armas de fogo
Ranchos e estancias
Mangueiras, cercas de pedra e arame
Produtos químicos p/ controle sanitário do gado
arsênico.
Plantas nativas.
Uso do esterco bovino.
Maioria dos rebanhos são domesticados.
Região 1- Predomínio da exploração do gado bovino
e culturas de subsistência em pequenas áreas.
Região 2- Milho, Feijão, Mandioca Trigo, Batata em
áreas maiores para o mercado.
Pecuária de corte.
Mão de Obra familiar de sesmeiros, escravos negros
Explorada pelos índios / rio-grandenses e
agregados contratada, tropeiros, charqueadores, gaúcho,
platinos Mão de Obra familiar de
colonizadores, contratados, agregados, posseiros, arrendatários.
tropeiros, charqueadores,
Agricultores de subsistência. Sesmeiros, familiar,
Agregado,
Estrutura missioneiras dos jesuítas e
Mão de Obra assalariada,
índios
Tribo
Escravos Negros até 1884
Escravos índios e Negros
Posseiros pecuaristas
Colonizadores Ibéricos
Arrendatários pecuaristas
Gaúcho
Agricul. Subst. Propiretários
Agricultores mercado
Imigrantes espanhóis
Região 1 – Basalto - Caça e
MODO DE ARTIFICIALIZAÇÃO DO
MEIO:
apreensão do gado bovino e eqüinos
domesticação e doma dos mesmos
Região 2 – Arenito - Cultivo em
pequenas áreas para subsistência em
sistema de pousio e queimada de
capoeiras e preação do gado.
RELAÇÃO DE TROCA
EXCEDENTES AGROPECUÁRIOS
PRINCIPAIS PRODUTO
criação do gado e Preia.
Domesticação do gado
Cercamentos dos Campos
Cruzamento de bovinos raças europérias
Touro ano inteiro
Pastagens
Rodeios, Marcação
Agricultura Sobrevivência e mercado de pousio e
queimada.
Inicio das lavouras com venda excedentes trigo e
milho, feiijão, mandioca etc.
Intensificação da caça, pesca me desmatamento.
Autoconsumo troca com agregado
Comercialização,
Contrabando, Roubo
Autoconsumo
Escambo
Comercialização,
Contrabando, Roubo
Troca e venda de excedentes do couro,
Comercialização dos excedentes da produção bovina,
sebo peles de caça por roupa, cachaça,
Culturas para autoconsumo na propriedade e venda de
erva mate, bois e cavalos
excedentes.
Importação de vários gêneros alimentícios artigos da
Índia como fumo em rolo...
Plantio de culturas, milho e mandioca
Bovinos e cavalos. tropas
Animais nativos e exóticos para
Charque, Sebo e couro salgados e línguas em
subsistência
conserva,.
Couro / Sebo para troca e
Produtos excedentes das lavouras
TRANSIÇÃO PARA O SISTEMA
AGRÁRIO SEGUINTE
Fonte : Dados de pesquisa do autor, 2001
comercialização
1920 carne Congelada
1750 tratado de Madri Destruição dos
Redução do rebanho abate indiscriminado de fêmeas.
Crise do setor pecuário concorrência com o Uruguai.
7 povos das missões
1777 Tratado de Ildelfonso, entrega da
Cercamentos dos campos diminuição dos empregos.
Colônia de Sacramento para a Espanha.
Revoluções armadas 1893 / 97 e contravenções em
1780- Inicio das Charqueadas em
grande escala.
Pelotas
Confisco de animais.
1800 decadência dos 7 povos/ índios
Crise do setor do Charque.
I Guerra mundial.
tratados como escravos pelos Portugueses.
Ciclo dos Saladeiros no Interior do
Inicio da Instalação dos frigoríficos em Santana do
estado.
Livramento
1811 Contigente Militar na Fronteira
Quartel de São Diogo
1814 Inicio da distribuição das
sesmarias na região
QUADRO 03 - EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS
SISTEMAS AGRÁRIOS DO MUNICIPIO DE SANTANA DO
LIVRAMENTO
1930 - 2001
PERÍODO
Sistema Agrário atual
Sistema Agrário atual
Agropecuária Considerada Tecnificada
Agropecuária Considerada Tecnificada
ITENS
1930 - 2001
Critérios
Região 01- Basalto – Pradarias
Exploração do ecossistema
natural e cultivado e de
criação dos animais
Consolidação dos estabelecimentos rurais com
cercamentos e subdivisões de pedras após o arame.
Predominam médias e grandes propriedades. Que
foram subdivididas posteriormente.
Instrumentos de produção:
Cavalo e o cachorro para o trabalho de campo.
Tração a boi, mecanização à vapor, trator,
Automotrizes a partir da metade do século XX.
Carreta a boi, carroça, veículos utilitários Jeep,
caminhão.
Esquila à martelo / máquina de esquila
Casas e galpões de alvenaria em maior número
( estancias ), poucas de madeiras,
Mangueiras, brete, tesouras e balanças.
instrumentos, equipamentos
e construção:
1930 - 2001
Região 02 – Arenito – Campos e Matas
Consolidação dos estabelecimentos rurais com
cercamentos e subdivisões. Maior número de
propriedades médias e pequenas próximas a sede do
municipio.
Exploração com arroz dos banhados e várzeas de arroios e
rios.( maior presença de orizicultores )
Cavalo e o cachorro
Tração a boi, colheitadeiras estacionárias, mecanização
à vapor, trator, Automotrizes em maior número.
Carreta a boi, Carroça, veículos utilitários, trem, Jeep,
caminhão.
Esquila à martelo / maquina de esquila.
Mangueiras, brete, tesouras
Instalação de banheiros carrapaticidas p/ ovinos e
bovinos em menor número
Instalação de banheiro p/ ovinos e bovinos
Irrigação por açudagem para o arroz
Plantas, culturas,
Animais
Força de trabalho
Modo de artificialização do
meio:
Presença da patrulha agrícola.
Subsistência, Trigo, Milho até a metade do século XX,
Pecuária de corte, ovinocultura, gado de leite em
posteriormente arroz e sorgo para o mercado.
pequenos estabelecimentos
Bovinos, Ovinos
suínos e aves subsistência e comercial
Gado leite em grandes estabelecimentos.
Lavouras de Trigo e milho posteriormente arroz / soja
/sorgo – comerciais.
Suínos e aves de subsistência.
Florestamento
Fruticultura e olericultura.
Vitivinicultura em grandes áreas empresariais.
Mão de obra familiar, contratada capataz, peões,
Mão de obra familiar e contratada capataz Peões,
posteiros, agregados e contratos temporários.
posteiros, agregados, contratos temporários
Estancieiros - Militares, políticos, profissionais
Estancieiros - Militares, políticos, profissionais liberais
Lavoureiros arrendatários de origem italiana e alemã.
liberais.
Diminuição da venda de mão de obra e pequenos
Diminuição da venda de mão de obra e pequenos
negócios.
negócios.
Famílias agregadas / troca de serviço.
Pecuáristas familiares
Mão de obra temporária / tropeiros alambradores/ etc.
Assentados
Granjeiros de arroz / aguadores
Mão de Obra permanente assalariada, capataz, peões,
Pecuáristas familiares
posteiros
Famílias agregadas / troca de serviço
Mão de obra temporária / tropeiros alambradores/ etc.
Agricultores familiares de subsistência e de mercado,
mutirão, venda e troca de mão de obra.
Granjeiros de arroz / aguadores italianos e alemães
Bovinos
Bovinos
Introdução do gado europeu / Indico
Introdução do gado europeu / Indico
Inicio do controle sanitários banhos carrapaticidas,
minerlização, limpeza de campo
Sistema de criação e de Invernar dos bovinos
Grande número de cabanhas de bovinos e ovinos
Ovinos
Inicio da criação de ovinos e introdução de raças de lã
/ carne
Aumento da pressão de pastejo pelo número elevado
de ovinos
Introdução do cavalo de raça inglesa / crioulo
Culturas
Agricultura comercial de grandes culturas ( Arroz ),
em poucas áreas
Incremento da utilização de pastagens artificias,
adubação e correção do solo
Introdução bosques de eucalipto.
Pastagens em restevas de arroz
Plantio direto
Infra-estrutura
Subdivisão das propriedades / processo de sucessão
das sesmarias
Construção de bebedouros para animais e açudes para
irrigação.
Meio ambiente
Uso de agroquímicos nas lavouras e na pecuária.
Desmatamento junto aos arroios e sangas.
Queimada de campos mais grossos.
Inicio do controle sanitários banhos carrapaticidas
Sistema de criação e de Invernar dos bovinos
Bovinos de leite em pequenos estabelecimentos.
Número reduzido de cabanhas.
Ovinos
Inicio da criação de ovinos e introdução de raças de lã
Aumento da pressão de pastejo pelo número elevado
de ovinos.
Introdução do cavalo de raça inglesa / crioulo.
Controle sanitários
Culturas
Agricultura comercial de grandes culturas ( Arroz, soja
e trigo ). Em toda a região.
Uso de sementes melhorada
Queimadas e desmatamento generalizadas.
Introdução maciços de eucalipto em grandes áreas.
Incremento da utilização de pastagens artificias,
adubação correção.
Irrigação através dos mananciais naturais.
Infra-estrutura
Sub- divisão das propriedades / processo de sucessão
das sesmarias / estancias.
Pequenas e médias propriedade / assentamentos.
Ferrovia / estrada BR 158.
Meio ambiente
Uso de agroquímicos nas lavouras e na pecuária
Desmatamento e queimada generalizada dos campos e
restevas
Relação de troca
Comercialização de bovinos, ovinos e lã.
Marchantes
Sistema Cooperativo
Arrendamento de terras em percentagem de arroz.
Troca de serviços / temporários médio e pequenos
pecuaristas
Assalariamento
Compra, venda e troca de animais entre vizinhos
Excedentes agropecuários
Gado / Saladeiros / frigoríficos da região e município.
Lã ( barracas e cooperativas)
Percentagem de arroz p/ engenhos e cooperativa ( até
1990 )
Ovinos / marchantes e frigoríficos
Principais Produto
Degradação dos solos de Coxilha e várzeas
Controle da caça e pesca
Comercialização de animais para os Saladeiros e
frigoríficos da região e município.
Marchantes
Sistema Cooperativo
Arrendamento de terras em percentagem de arroz.
Troca de serviços / temporários médio e pequenos
pecuaristas
Assalariamento
Compra e venda de animais entre vizinhos.
Troca de serviços proprietários / granjeiros.
Gado / Saladeiros / frigoríficos da região e município.
Lã ( barracas e cooperativas)
Trigo, soja, sorgo e arroz / engenhos e cooperativa
Ovinos / marchantes e frigoríficos
Frutas e verduras, leite/ mercado local.
Uva vinifera exportação para outros estados.
Sementes de forrageiras.
Produção de Charque, Vela e sabão, couro salgado e
Produção de Charque, Vela e sabão, couro salgado e
conservas
conservas
Sebo em pipas. Conserva de carne em latas extratos de
Sebo em pipas. Conserva de carne em latas extratos de
carne.
carne.
Carne Congelada
Carne Congelada
Carne ovina e lã
Carne ovina e lã
Trigo, Arroz, sorgo
Trigo, Soja, Sorgo Arroz,
Frutas, olerícolas,
Leite
Final da cultura do trigo, soja / doenças / mudanças climáticas / solos exauridos, juros elevados, fim do crédito
Transição para o sistema
rural.
agrário seguinte
Crise na ovinocultura : redução drástica do valor da lã a partir de 1980, c/ conseqüente redução dos rebanhos
Conseqüências da revolução verde – Êxodo, endividamento, degradação e contaminação do solo, desemprego rural,
descapitalização, empobrecimento geral crise do sistema cooperativo.
Há um processo de crise nas matrizes produtiva do arroz e da pecuária de corte, que caracterizando um momento
de transição econômico / social, com a instalação do Mercosul e a Globalização.
Fonte: dados de pesquisa do autor, 2001
157
Figura 1 – Produção bruta animal dos estabelecimentos rurais.
Pec B
PecA
PecB*
PecA*
Após B
Após A
VMO B
VMOA
Pbanimal
120.000,00
100.000,00
B = Basalto
A = Arenito
* < 100ha
80.000,00
60.000,00
R$ 40.000,00
20.000,00
Pe
c
B
Pe
cA
Pe
cB
*
Pe
cA
Ap *
ós
B
Ap
ós
A
VM
O
B
VM
O
A
0,00
Sist. Produção
Fonte; dados de pesquisa do autor, 2001
Pode-se observar na figura 01 o que representa em termos econômicos a
produção bruta animal ( pecuária) para os quatro sistemas de produção separados
por cor.
Figura 02 – Comparativo entre o Valor agregado liquido e o Consumo
Intermediário.
VAL X C.I
%
CI TOTAL
VAL
100%
80%
60%
B = Basalto
A = Arenito
40%
*< 100 ha
20%
VM
O
A
B
VM
O
Pe
cA
*
A
pó
s
B
A
pó
s
A
Pe
cB
*
Pe
cA
Pe
c
B
0%
Sist. Produção
Fonte : Dados da pesquisa do autor, 2001.
Destaca-se na figura acima o alto consumo intermediário do sistema agrário de
pecuária de terminação ( Pec B e aposentadoria B ).
158
Figura – 3. Valor Agregado Liquido por Unidade de trabalho Homem dos
sistemas produção da pecuária familiar.
Após B
Após A
VMO B
VMOA
VAL / UTH
B = Basalto
A = Arenito
A
VM
O
VM
Ap
O
B
A
ós
B
ós
*
Ap
Pe
cB
cA
*
*< 100 ha
Pe
Pe
c
Pe
PecA*
cA
PecA PecB*
R$
20.000,00
18.000,00
16.000,00
14.000,00
12.000,00
10.000,00
8.000,00
6.000,00
4.000,00
2.000,00
0,00
B
Pec B
Sist. Agrário
Fonte; Dados de pesquisa do autor, 2001
Observa-se com este indicador acima a capacidade do estabelecimento possui de
gerar valor novo por unidade de trabalho, conforme cada sistema produção
separado por cor.
Figura 04 – Valor agregado liquido por superfície de área útil conforme
cada sistema produção.
R$
Pec B
PecA
300,00
PecB*
250,00
PecA*
200,00
50,00
VM
O
A
B
VM
O
*
cA
Pe
cB
c
Pe
*
0,00
B
VMOA
100,00
Pe
VMO B
cA
Após A
*< 100 ha
150,00
Pe
Após B
B = Basalto
A = Arenito
VAL / S.AU
Sist. Produção
Fonte:Dados de pesquisa do autor, 2001
Observa-se com este indicador acima a capacidade do estabelecimento possui de
gerar valor novo por unidade de área, conforme cada sistema de produção
separado por cor.
159
Figura 05 – Comparativo entre Unidade de Trabalho Homem total do
Nº de UTHs
UTH
UTHf
3
UTH x UTHf
2,5
2
1,5
B = Basalto
A = Arenito
* = < 100 ha
1
0,5
VM
O
A
B
VM
O
A
Ap
ós
B
Ap
ós
Pe
cA
*
Pe
cB
*
Pe
c
B
Pe
cA
0
Sist. Produção
estabelecimento e a UTH familiar conforme cada sistema produção.
Fonte: dados de pesquisa do autor 2001.
Destaca-se a mão de obra contratada no sist, pec B e no uso da mão de obra de
agregados no sistema com aposentadoria. Nas barras de mesmo tamanho
predomina apenas mão de obra familiar.
Figura 06 – Percentual de participação de Rendas de Outras Atividades ( R.
O. A.) e a renda agrícola sobre a renda total do estabelecimento em
percentual.
R O A/R T %
R A/R T %
100
90
80
70
60
%
B = Basalto
A = Arenito
* = < 100 ha
50
40
30
20
10
B
VM
O
A
VM
O
A
Ap
ós
B
A*
ós
Ap
Pe
c
B*
Pe
c
cA
Pe
Pe
c
B
0
S ist. P rd o d u çã o
Fonte: dados de pesquisa do autor 2001.
Observa-se na figura acima a participação de R.O.A. por estabelecimento,
destacando que no sistema PecA* a renda é agrícola da venda de moirões , nos
demais pode-se analisar a importância da renda de outras atividades na formação
da renda total.
160
Figura 07 – Renda Total por Unidade de Trabalho Homem familiar
conforme cada sistema de produção.
Pec B
Pec A
Pec B*
Pec A*
Após B
20.000,00
18.000,00
16.000,00
R$ 14.000,00
12.000,00
10.000,00
8.000,00
6.000,00
4.000,00
2.000,00
0,00
Após A
VMO B
VMO A
RT / UTHf - R$
A*
Ap
ós
B
Ap
ós
A
VM
O
B
VM
O
A
Pe
c
B*
A
Pe
c
Pe
c
Pe
c
B
B = Basalto
A = Arenito
* = < 100 ha
Sist. Produção
Fonte: dados de pesquisa do autor, 2001
Observa-se na figura acima a rentabilidade obtida pela família rural no
estabelecimento rural ou fora dele – R.O.A.- Com destaque para os sistemas que
tem aposentadorias e venda de mão de obra principalmente VMO A.
Figura 08 – Comparativo da entre a participação da produção bruta animal e
vegetal pelo produto bruto total conforme cada sistema de produção.
%
PB animal X vegetal/ PB t
B = Basalto
A = Arenito
* = < 100 ha
Pe
cA
Pe
cB
*
Pe
cA
*
Ap
ós
B
Ap
ós
A
VM
O
B
VM
O
A
Pe
c
B
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
PB animal / PBt %
Sist. Produção
PBVegetal / PBt %
Fonte : dados de pesquisa do autor, 2001.
Observa-se na figura acima a pouca participação agrícola nos sistemas de
produção, no presente estudo ocorreu em apenas 02. Evidencia uma diminuição
desta atividade.
161
Figura 09 – Comparativo entre área total de cada sistema de produção e a
lotação de animais total ( bovinos e ovinos ).
Nº
Áre a X Nº de Animais Bov inos/ O v inos
600
534
500
Á rea
400
304
286
300
200
289
Nº Anim ais
192
150
91
100
65
B = Basalto
A = Arenito
* = < 100 ha
A
O
VM
O
B
A
VM
Ap
Ap
ós
B
ós
A*
c
Pe
B*
c
Pe
A
c
Pe
Pe
c
B
0
S ist. Produçã o
Fonte: dados de pesquisa do autor, 2001
Observa-se no sistema de produção do basalto pecuária > 100 há e Pec. +
aposent. < 100 há um a maior número de animais em relação a área total. Há
indicativos de um excesso de lotação de animais em ambos os sistemas agrários
aos analisar o gráfico acima.
Figura 10 – Comparativo entre todas renda total e as demais entradas de
rendas por sistema de produção.
R$
RT/ UTHF
20.000,00
18.000,00
16.000,00
14.000,00
12.000,00
10.000,00
8.000,00
6.000,00
4.000,00
2.000,00
0,00
RA/ UTHf
ROA/ UTHf
VM
O
A
B
VM
O
Pe
cA
*
Pe
cB
*
Pe
cA
Pe
c
B
Rendas do Sistema de produção
Sist. Produção
Fonte: dados de pesquisa do autor, 2001.
Destaque-se na figura acima a participação de Rendas de Outras Atividades
sobre a renda total dos estabelecimento por sistemas de produção.
Quadro 03 Principais características apresentados pelos
pecuaristas familiares entrevistados de Santana do
Livramento, segundo questionário
semi – estruturado.
Área
Tipologia
Sistema de produção
> 100 há
1.1
Pecuária
1.2
Pecuária
2.1
Pecuária
2.2
Pecuária
< 100 há
3.1
Pecuária +
Aposentadoria
3.2
Pecuária +
Aposentadoria
Origem do solo
Localização
Área total
Situação Fundiária
Geomorfologia
Basalto
Cerro Chato
Arenito
Basalto
Cerro dos Munhoz Cerro da Árvore
325
Própria/
Parceria ( Mãe) /
Arrenda
Plano
Solos rasos
211
Própria /
Arrenda
26 + 14
Própria /
Parceria (Mãe )
Suavemente
Ondulado
Profundos
> 50 anos /
Contratada
2,45
Bras / Urug
Da localidade
Horta Consumo
Pequenos
animais
Vacas de Leite
MÃO DE Familiar /
OBRA
UTH
Origem das famílias
e sua localidade
Atividades de
Subsistência
Arenito
Águas Boas
4.1
Pecuária +
V de M de
obra
Basalto
Capão do Inglês
4.2
Pecuária +
V de M de obra
Arenito
Rincão de
Palomas
56
Própria
Basalto
Cerro Chato
Própria /
Parceria
Própria
Ondulada
Solos rasos maior
parte.
Suavemente
Ondulado
S. Profundos
Plano
S. Rasos
Fortemente
Ondulados
S. Profundos
36 + 71
Própria
Parceria
( Irmãos)
Fortemente
ondulada
S. Rasos
Familiar
> 50 anos
Troca de Serviço
Familiar
> 50 anos
Troca de Serviço
Familiar
> 50 anos
Troca de
Serviço
Familiar
> 70 anos /
Agregado
Familiar
>60 anos /
Agregado
Familiar
Familiar
> 60 anos
> 60 anos
Troca de Serviço Troca de Serviço
2,38
Bras / Urug
Se estabeleceu
Horta Consumo
Pl. de Baraço
Comercial
Pequenos animais
2,0
Bras
Da localidade
Horta Consumo
Pl. de Baraço
Consumo
Pequenos animais
1,54
0,81
Bras / Urug
Bras / Urug
Da localidade
Da localidade
Horta Consumo Nihil
Pl. de Baraço
Consumo
Pequenos
2,11
Bras / Urug
Da localidade
Pequenos animais
e Vacas de leite
1,63
Bras/ Urug
Da localidade
Horta Consumo
Pequenos
animais
Vacas de Leite
57
99
Arenito
Rincão de Palomas
16,7
Própria
Suavemente
ondulada
S. Rasos
0,85
Bras
Da localidade
Pequenos animais
Vacas de Leite
Pec. de corte
Atividades
Terminação de
Agropecuária
Comercial / mercado bois.
Ovinos: capões /
lã
Pastagem
N.º de Bovinos
N.º de Ovinos
Comercialização
Não faz
312
222
Frigorifico
Renda Agrária
Pecuária 100%
Asp. Sociais
Não mora c/ a
família
Chefe de família
quanto a residência
rural
Casa
Alvenaria s/ luz
c/ água
Boa
Infra-estrutura de
trabalho mangueiras Galpão alvenaria
/ bretes e galpões etc. / madeira
Banheiro Ovino
Poucos e
Maquinas/ Equipa.
manuais
S/ trator
Vacas de Leite
Vacas de Leite
Pec. de corte
Cria venda de
terneiros e vacas
de descarte.
Pec. de corte
Cria venda de
vacas, novilhas e
terneiros.
Ovinos: consumo / Ovinos
lã
Consumo / lã
animais
Vacas de Leite
Pec. de corte
Cria venda de
vacas de
descarte,
novilho.
Ovinos:
Consumo / lã
Não faz
22
128
Intermediário
Localidade
Pecuária
77,39 %
poste p/ cerca /
22,61 %
Mora c/ a
família
Pec. de corte
Terminação de bois.
Pec. de corte
Cria venda de
terneiros e vacas
de descarte
Pec. de Corte
Cria venda de
terneiros e vacas
de descarte.
Pec. De Corte
Cria venda de e
vacas de descarte e
um boi manso.
Ovinos:
Consumo / lã
Ovinos:
Consumo / lã
Ovinos :
Consumo / lã
Não faz
Faz
Faz
Não faz
44
260
Frigorifico
93
99
Intermediário
92
187
Intermediário
26
39
Intermediário
Pecuária
68,64 %
R.AO.
31,36
Não mora c/ a
familia
Pecuária
77,39 %
R.OA/
22,61 %
Mora com a
família
Pecuária 68,96%
R.OA
31,04 %
Pecuária
58,59 %
R.OA
19,69 %
Mora com a
família
Ovinos:
Consumo / lã
Faz
Faz
201
85
Intermediário
Frigorifico
Agropecuária 100
%
35
61
Intermediário
Localidade
Pecuária
100 %
Mora com a
família
Mora c/ a família
Alvenaria c/ água e
luz
Muito boa
Galpão de Madeira
Banho ovino
Balança
Alguns elétricos e
mecaniz.
S/ trator
Alvenaria s/ luz s/
água
Média
Galpão de madeira
Banheiro ovino
Madeira c/ luz
e água
Ruim
Galpão de
madeira
Madeira s/ luz e
água
Ruim
Galpão de madeira
Alvenaria c/ luz e
água
Média
Galpão de madeira
/ alvenaria
Madeira s/luz c/
água
Ruim
Galpão de
madeira
Madeira c/ luz s/
água
Ruim
Galpão de madeira
Poucos manuais
S/ trator
Poucos
manuais e
mecânicos
Poucos manuais
S/ Trator
Poucos manuais
S/ trator
Poucos Manuais
S/ trator
Poucos manuais
S/ trator
Mora com a
família
Filhos
1. Permanecerão
no campo?
2. Residem com os
pais ?
Perspectiva do chefe
de família continuar
ou não no meio rural.
Dúvida
Continuarão
Não tem
Não moram e
Estudam na
Cidade
Continuar
Moram e Estudam
Meio rural
Não tem
Continuar
Deixar
Fonte: dados da pesquisa do autor, 2001
1
Considera-se quando o agricultor se aposentar e não tiver mais condições
de trabalhar os filhos como residem no município poderão assumir, ou
quando herdarem
S/ trator
A longo prazo1
Continuar
Não vai continuar
A longo prazo
A longo prazo
A longo prazo
Estabelecido na Estabelecido na
cidade
cidade
Estabelecido na
cidade
Estabelecido na
Cidade
Deixar
Continuar
Continuar
01 Estuda e Mora
no Meio rural e
outra na cidade
Continuar
Deixar
Quadro 02 - indicadores Socio-economicos dos sistemas de produção em estudo.
Sistema de
Produção
PECUÁRIA
Área
Sistema agrário
Tipologia
Área total:
S A U:
UTH:
UTHf
V A B total
V A L total
R A total
R T total
V A B / S.AU
V A L / SAU
R A / SAU
R T / SAU
V A B / UTH
V A L / UTH
R A / UTH
RT /UTHf
R T / UTH
PBv vegetal
PECUÁRIA
> 100 há
Unid.
há
ha
uth
uthf
R$
R$
R$
R$
R$/há
R$/ há
R$/ há
R$/ há
R$/ uth
R$/ uth
R$/ uth
R$/uthf
R$/ uth
R$
Basalto
1.1
325,00
322,00
2,45
1,45
47.491,40
45.096,47
27.077,01
27.077,01
147,49
140,05
84,09
84,09
19.384,24
18.406,72
11.051,84
18.673,80
11.051,84
0,00
PECUÁRIA +
PECUÁRIA +
APOSENTADORIA V. DE M. DE OBRA
< 100 há
Arenito
1.2
211,00
209,50
2,24
2,24
20.970,45
19.727,78
17.381,78
17.381,78
100,10
94,17
82,97
82,97
9.370,17
8.814,92
7.766,66
7.766,66
7.766,66
6.600,00
Basalto
2.1
40,00
37,50
2,00
2,00
5.499,32
4.405,32
4.243,64
4.243,64
146,65
117,48
113,16
113,16
2.749,66
2.202,66
2.121,82
2.121,82
2.121,82
0,00
Arenito Basalto Arenito
2.2
3.1
3.2
56,00
57,00
99,00
51,50
56,00
81,00
1,54
0,81
2,11
1,34
0,54
1,11
6.514,61 2.619,05 8.767,28
5.590,02 1.845,19 7.691,42
5.012,86 1.324,86 5.704,04
7.592,86 6.004,86 10.384,04
126,50
46,77
108,24
108,54
32,95
94,96
97,34
23,66
70,42
147,43
107,23
128,20
4.230,26 3.233,40 4.155,11
3.629,88 2.278,01 3.645,22
3.255,11 1.635,62 2.703,34
5.666,32 11.120,10 9.354,99
4.930,43 7.413,40 4.921,35
600,00
0,00
0,00
Basalto
4.1
107,00
65,70
1,63
1,03
6.467,83
5.381,68
5.207,32
9.107,32
98,44
81,91
79,26
138,62
3.968,00
3.301,65
3.194,68
8.842,06
5.587,31
0,00
Arenito
4.2
18,50
16,70
0,85
0,85
5.076,55
4.766,98
3.872,53
11.852,53
303,99
285,45
231,89
709,73
5.986,50
5.621,44
4.566,67
13.977,04
13.977,04
0,00
PBa animal
PBt total
ROA
PBvegetal/PBt
C I total
Capital total - Ki
D V A total
PBanimal / PBt
ROA/RT
RA/RT
SAU/UTH
Tx. de Lucro RA/ Ki
100.955,00 18.400,00 7.517,00 8.232,50 10.242,50 12.200,88
100.955,00 25.000,00 7.517,00 8.832,50 10.242,50 12.200,88
R$
0,00
0,00
0,00 2.580,00 4.680,00 4.680,00
R$
%
0,00
26,40
0,00
6,79
0,00
0,00
52.123,60 3.149,05 1.213,18 1.860,90 7.334,45 2.523,80
R$
146.220,89 103.165,55 38.669,41 36.338,56 43.705,51 56.863,03
R$
18.019,46 2.346,00 161,69 577,16
520,34 1.987,38
R$
%
100,00
73,60 100,00
93,21
100,00
100,00
%
0,00
0,00
0,00
33,98
77,94
45,07
%
100,00
100,00 100,00
66,02
22,06
54,93
há/ uth
131,43
93,61
18,75
33,44
69,14
38,39
%
18,52
16,85
10,97
20,89
3,03
10,03
84,09
82,97 113,16
97,34
23,66
70,42
(RA/UTHF)/(S.AU/UTHf)
Fonte: Dados de pesquisa do autor, 2001.
R$
8.663,75
8.663,75
3.900,00
0,00
1.656,92
43.705,82
174,36
100,00
42,82
57,18
40,31
11,91
79,26
5.640,00
5.640,00
7.980,00
0,00
444,05
17.769,67
894,45
100,00
67,33
32,67
19,69
21,79
231,89
Download

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL