UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL - PGDR A PECUÁRIA FAMILIAR UMA REALIDADE POUCO CONHECIDA: ESTUDO DE CASO SOBRE A CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA DA PECUÁRIA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE SANT´ANA DO LIVRAMENTO/RS JORGE EDUARDO HAMILTON TORRES PORTO ALEGRE RIO GRANDE DO SUL – BRASIL 2001 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL - PGDR A PECUÁRIA FAMILIAR UMA REALIDADE POUCO CONHECIDA: ESTUDO DE CASO SOBRE A CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA DA PECUÁRIA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE SANT´ANA DO LIVRAMENTO/RS Monografia apresentada como requisito para obtenção do título Especialista em Desenvolvimento Rural e Agroecologia, sob a orientação do professor Dr. Miguel Andrade Miguel. JORGE EDUARDO HAMILTON TORRES PORTO ALEGRE RIO GRANDE DO SUL – BRASIL 2001 Aos meus pais Grandenel e Ieda Torres Pelo seu grande exemplo de amor, dedicação, compreensão e de perseverança, por sempre acreditarem na nossa capacidade de superar limitações para vencermos os nossos desafios da vida. DEDICO À Cristina, esposa e companheira dedicada; devido ao estímulo, apoio e compreensão pela ausência na família. OFEREÇO AGRADECIMENTOS O autor expressa seus agradecimentos: A EMATER/RS, por possibilitar e viabilizar a participação no curso; Ao professor orientador Lovois, pelo profissionalismo e competência no compromisso com a educação e pela sua atenção e disponibilidade para a qualificação do presente trabalho; Aos colegas e amigos da EMATER/RS, municipais, regional e central pelo grande espírito de solidariedade, colaboração e ajuda em todos os momentos necessários; Aos colegas Engº Agrº José Romualdo Carvalho Ferrera e Claudio Marques Ribeiro pela sua solidariedade e seu espírito de colaboração e de profissionalismo; A gerencia regional Bagé pelo seu apoio e visão empreendedora; A todos os professores do IEPE / UFRGS, pelos educadores que são e amigos que se tornaram; Aos colegas do curso pelo companheirismo e amizade; A todos os funcionários administrativos, tanto da EMATER/RS, como do IEPE, pela atenção, dedicação e simpatia demonstrada que sempre nos acompanharam; Aos colegas Engenheiros Agrônomos, Companheiros, Funcionários da Biblioteca Publica e Entidades de Classe de Santana do Livramento / RS que ajudaram e contribuíram de distintas formas com este trabalho; 5 Aos agricultores e seus familiares que me acolheram e contribuíram de forma muito sincera para que este estudo pudesse tornar-se realidade; Aos amigos que apoiaram e deram força; A DEUS pela família e amigos que tenho, tornando tudo isto realidade. SUMÁRIO CAP.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10 CAP.2 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 15 2.1 Entendimento sobre Desenvolvimento Rural ...................................................... 15 2.2 Abordagem e Análise Sistêmica .......................................................................... 18 CAP.3 METODOLOGIA .............................................................................................. 21 3.1 Complexidade dos Sistemas Agrários ................................................................. 21 3.2 Referencial Teórico ............................................................................................. 22 3.3 O Enfoque Sistêmico Aplicado a Agricultura ..................................................... 23 3.3.1 Sistema Agrário ............................................................................................. 24 3.3.2 Sistema de Produção ...................................................................................... 24 3.3.3 Sistema de Cultivo ......................................................................................... 24 3.3.4 Sistema de Criação ........................................................................................ 25 3.3.5 Itinerário Técnico .......................................................................................... 25 3.3.6 Definição de Agricultura Familiar ................................................................. 26 3.3.7 Uma Definição e Caracterização Aproximada de Pecuária Familiar ........... 29 3.4 Indicadores de Desempenho Econômico e para Análise e Sistematização das Informações Obtidas no Decorrer da Pesquisa de Campo .................................. 30 3.4.1 Dimensão Econômica dos Sistemas de Produção ......................................... 30 3.4.2 Valor Agregado ............................................................................................. 30 3.4.3 Renda Agrícola .............................................................................................. 32 3.4.4 Renda Total .................................................................................................... 33 3.4.5 Indicadores Agro-econômicos Utilizados na Avaliação dos Sistemas de Produção ........................................................................................................ 34 3.5 Análise – Diagnóstico dos Sistemas Agrários do Município de Sant’Ana do Livramento ........................................................................................................... 38 3.5.1 Dados Secundários Coleta e Tratamento ....................................................... 38 3.5.2 Leitura da Paisagem do Município ................................................................ 39 7 3.6 Coleta e Sistematização dos Dados Primários para Elaboração da Caracterização dos Sistemas de Produção .................................................................................... 40 3.7 Caracterização e Tipologia dos Agricultores e dos Sistemas de Produção ......... 41 3.7.1 Dimensão Agronômica dos Sistemas de Produção ....................................... 43 CAP.4 RECONSTITUIÇÃO DA EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS SISTEMAS AGRÁRIOS ................................................................................... 45 4.1 Descrição do Meio Ambiente .............................................................................. 45 4.1.1 O Município de Sant’Ana do Livramento ..................................................... 45 4.1.2 Topografia e Geomorfologia ......................................................................... 46 4.1.2.1 Região 01 – Basalto ................................................................................ 47 4.1.2.2 Solos do Município de Sant’Ana do Livramento ................................... 48 4.1.3 Solos da Região 01 – Basalto ........................................................................ 49 4.1.3.1 Litólico Eutrófico ................................................................................... 49 4.1.3.2 Vertissolos .............................................................................................. 49 4.1.4 Solos da Região 02 – Arenito ........................................................................ 50 4.1.4.1 Podzólico vermelho-amarelo álico ......................................................... 51 4.1.4.2 Podzólico vermelho-escuro álico ............................................................ 51 4.1.5 Flora da Região 01 – Basalto ......................................................................... 52 4.1.6 Flora da Região 02 – Arenito ........................................................................ 54 4.1.7 Fauna ............................................................................................................. 56 4.1.7.1 Na Região 01 – Basalto .......................................................................... 58 4.1.7.2 Na Região 02 – Arenito .......................................................................... 59 4.1.8 Clima ............................................................................................................. 59 4.1.8.1 Na Região 01 – Basalto .......................................................................... 60 4.1.8.2 Na Região 02 – Arenito ........................................................................... 61 4.1.9 Hidrografia e Principais Microbacias ............................................................ 62 4.1.9.1 Na Região 01 – Basalto .......................................................................... 62 4.1.9.2 Na Região 02 – Arenito .......................................................................... 63 4.2.Evolução e Diferenciação dos Sistemas Agrários ............................................... 64 4.2.1 Sistema Agrário Indígena – até 1634 ........................................................... 64 8 4.2.2 Sistema Agrário das Missões I – de 1634 a 1682 ........................................ 66 4.2.2.1 Na Região 01 do Basalto ........................................................................ 67 4.2.2.2 Na Região 02 do Arenito ....................................................................... 67 4.2.3 Sistema Agrário das Missões II e da Colônia de Sacramento – de 1682 a 1814 ................................................................................................ 68 4.2.4 Sistema Agrário das Charqueadas - de 1814 a 1930 ..................................... 76 4.2.5 Sistema Agrário Moderno da Agropecuária – de 1930 a 2001 .................. 85 4.2.5.1 Na Região 01 do Basalto ....................................................................... 85 4.2.5.2 Na Região 02 do Arenito ........................................................................ 89 CAP.5 CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE AGRICULTORES DE PECUÁRIA FAMILIAR ...................................................................................................... 110 5.1 Pecuarista Familiar Tipo 01 com Área Maior que 100ha e Menor que 500ha e Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA) ......................................... 110 5.2 Pecuarista Familiar Tipo 1.2 com Área Maior que 100ha e Menor que 500ha e Inexistência de Renda de Outras atividades (ROA) .......................................... 115 5.3 Pecuarista Familiar Tipo 2.1 com Área Menor que 100ha e Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA) .................................................................. 122 5.4 Pecuarista Familiar Tipo 2.2 com Área Menor que 100ha e Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA) .................................................................. 126 5.5 Pecuarista Familiar Tipo 3.1 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras Atividades (ROA) – Aposentadoria .................................................................. 131 5.6 Pecuarista Familiar Tipo 3.2 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras Atividades (ROA) .............................................................................................. 137 5.7 Pecuarista Familiar Tipo 4.1 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras Atividades (ROA) – Venda de mão-de-obra ..................................................... 142 5.8 Pecuarista Familiar Tipo 4.2 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras Atividades (ROA) – Venda de mão-de-obra ..................................................... 148 CAP.6 CONCLUSÃO ................................................................................................ 162 9 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................. 176 ANEXOS ..................................................................................................................... 179 a. Mapa da Localização do Município de Sant’Ana do Livramento b. Mapa da Divisão das Regiões Homogêneas b 1. Mapa das Microbacias hidrográficas c. Corte Transversal das Regiões Homogêneas d. Mapa de Solos e. Questionário Semi-Estruturado para Pesquisa à Campo QUADROS: QUADRO 01 – Resumo da Evolução e Diferenciação dos Sistemas Agrários QUADRO 02 - Síntese dos Indicadores Sócios – Econômicos dos Sistemas de Produção QUADRO 03 - Síntese das Principais características apresentadas pelos pecuaristas familiares entrevistados. FOTOS: FOTO 01 - Relevo predominante na região 01 do basalto FOTO 02 - Relevo e solo predominante na região 02 do arenito FOTO 03 - Sistema de transporte de água FOTO 04 - Latrina típica da região FOTO 05 - Modelo de casa produtor - v. de mão-de-obra, <100 ha FOTO 06 - Modelo típico de instalações para bovinos agricultores, <100 ha FOTO 07 - Modelo típico de instalações para ovinos agricultores, < 100 há CAP.1 INTRODUÇÃO A economia brasileira, desde o seu descobrimento, esteve estruturada na agricultura e no extrativismo agrícola em grandes ciclos regionalizado exportadores, iniciando com a exploração do Pau Brasil, Cana de Açúcar, Café, Borracha e Pecuária. No Rio Grande do Sul, o ciclo do gado começou com a primeira tropa trazida pelos padres jesuítas em 1634 vindos de Corrientes da banda Ocidental do Rio Uruguai, com 1.500 reses entre ovelhas, cavalos, para alimentar os povos das Missões. Após a primeira fase das reduções jesuítas, que foram destruídas pelos bandeirantes para escravizar os silvícolas, o gado abandonado criou-se solto atingindo naquele período mais de um milhão de cabeças, chegando até o litoral do Atlântico e no limite das províncias do Uruguai. A principal atividade do período foi da preação do gado xucro. Este foi o primeiro grande ciclo econômico do couro e do sebo no Rio Grande do Sul sendo comercializado via Colônia de Sacramento para a Europa e os centros maiores do Brasil. Após este ciclo, inicia-se o período da pecuária na cadeia de produção do charque a partir de 1780, por todo o interior do estado, marcando uma época de prosperidade e de grande projeção econômica. Começam os cercamentos dos campos, a construção de estâncias e a pecuária como atividade principal das sesmarias. No início do século passado, com a chegada das instalações frigoríficas em 1917, é estabelecida na fronteira, através da técnica do frio, a promoção da reestruturação de toda a cadeia da pecuária para atender as suas necessidades. Provocando, então, a busca de animais para melhoria da qualidade genética para serem utilizadas nesse processo de industrialização que se mantém até os dias de hoje. Consolida-se a atividade econômica da pecuária, os campos são cercados, e as sesmarias começam a ser divididas em estâncias. 11 A região cresceu e se desenvolveu de forma pujante ao ser a grande fornecedora de carne e lã para Europa, a partir da II Guerra Mundial, provocando um reflexo direto na economia local. Logo em seguida nas décadas de 40 – 50, também inicia o ciclo do arroz com a entrada dos imigrantes de origem alemã e italiana, desencadeando outro período de destacado crescimento econômico e social gerando riqueza superior ao restante do estado. Ao contrário de hoje, conhecida como metade sul do estado do Rio Grande do Sul pobre por não ter modificado a sua estrutura histórica de produção baseada na pecuária extensiva, na lã e no arroz, a região enfrenta uma séria crise econômica, social e cultural. A fronteira oeste do estado, integrante desta região, seguiu o mesmo ritmo de crescimento trilhando no mesmo caminho das atividades pecuária de corte, lã e arroz como suas principais matrizes produtivas. A região fronteiriça é vista pelo restante do estado tão somente como terra de latifúndio, ignorando o pequeno estabelecimento rural, estruturado na atividade da pecuária, que enfrenta de forma mais aguda esta crise econômica com problemas de natureza social e de falta de políticas públicas específicas sem precedentes. O município de Santana do Livramento, situado nesta fronteira, fazendo divisa com o Uruguai, é um exemplo representativo de como se desenvolveu este crescimento econômico e de recessão dessas matrizes produtivas ao longo de sua história. O município enfrenta uma grave crise de mercado para os seus produtos, concorrendo diretamente em condições desiguais com o Mercosul, refletindo com isto na perda de sua importância no conjunto da sociedade estadual, na diminuição do poder aquisitivo e na qualidade de vida da população também, promovendo o êxodo rural para a cidade numa velocidade maior que esta consegue absorver, criando condições miseráveis de sobrevivência. 12 Os agricultores familiares dessa região têm a mesma lógica de reprodução social que os demais de outras regiões do estado, contudo possuem um diferencial nos seus sistemas de produção, tendo na pequena exploração da pecuária de corte, ovinocultura e pequenas plantações, inclusive o arroz, a sua principal fonte de subsistência e de renda. As suas origens étnicas são constituídas principalmente dos sesmeiros luso-ibéricos, dos mestiços de índios, que deram origem ao gaúcho, dos negros que serviram nos saladeiros, dos militares, agregados, posseiros, espanhóis, imigrantes alemães e italianos que aqui vieram e juntos constituíram uma sociedade diversificada, entre elas a do agricultor familiar denominado por estas características e peculiaridades de “pecuarista familiar". Embora a pecuária familiar seja pouco conhecida, das lideranças regionais, municipais e de suas entidades representativas, tem um importante papel para o desenvolvimento do município por representar uma quantidade significativa de estabelecimentos rurais existentes em Santana do Livramento. A extensão rural como agente de mudança, por ter adotado historicamente o sistema agropecuário hegemônico da revolução verde e exportador, não priorizou o atendimento ao longo dos anos deste agricultor familiar na região, mas de produtores rurais que respondiam a ela com a adoção e o uso de novos insumos e tecnologias, cujo principal objetivo era simplesmente a busca da produção e de produtividade por unidade de área. A extensão rural tem um enfoque diferenciado hoje, busca resgatar estes atores sociais esquecidos e pouco conhecidos das instituições e entidades que representam as forças vivas da região e do município, desenvolvendo trabalhos que contribuam para conhecer melhor esta realidade, a sua identidade cultural e a sua lógica de reprodução social. A falta de políticas públicas direcionadas e mais específicas a este público também é um fator importante do processo de exclusão e estagnação que atinge a 13 pecuária familiar. A maioria das políticas são estabelecidas com critérios que permitem enquadrar apenas os agricultores familiares do norte do estado. Das bibliografias que se tem conhecimento, poucos trabalhos abordam e fazem uma reflexão sobre as dificuldades enfrentadas pela pecuária familiar no município e na região, assim como sobre sua lógica, sua dinâmica sócio–econômica e como vive e sobrevive entremeada aos grandes estabelecimentos agropecuários. O presente trabalho é um estudo deste grupo de famílias que compõem esta complexidade social no município de Santana do Livramento, com objetivo geral de fazer uma caracterização com uma análise sócio–econômica e contribuir para a melhor compreensão de sua realidade e de suas origens. Este entendimento é importante para estabelecer futuros debates sobre o seu desenvolvimento, para definir políticas públicas que não excluam desse processo e promover uma melhor percepção sobre este público para os serviços de extensão rural. Objetivos específicos, 1) realizar uma análise sócio–econômica dos sistemas agrários e de produção dos pecuaristas familiares de Santana do Livramento, identificando as tipologias mais representativas e sua atual situação. 2) Entender a realidade compreendendo o passado desta categoria social e como ela surgiu, através do estudo da reconstituição da evolução histórica, identificando-se a gênese desta tipologia e dos seus sistemas agrários. 3) Analisar a lógica e as estratégias de reprodução social implementadas pelos pecuaristas familiares se fez necessário para conhecer as relações de troca que ocorrem entre os mesmos, a sua localidade, os agentes externos de comercialização (cadeia de produção) e o seu meio ambiente. 4) Caracterizar e analisar os diferentes sistemas de produção utilizados pelos pecuaristas familiares, com uma visão sistêmica de processo dinâmico e complexo evidenciando a contribuição e a influência das Rendas de Outras Atividades( R.O.A.).em sua economia e no seu trabalho no estabelecimento rural. Além desta introdução, é composto pelos seguintes capítulos: No capítulo dois, faz a revisão da literatura das teorias sobre o desenvolvimento rural e sobre a abordagem e análise sistêmica. O capitulo três apresenta a metodologia e o seu referencial teórico utilizada no trabalho, os indicadores de desempenho econômico para análise e sistematização das informações obtidas no decorrer da pesquisa de campo. O capítulo quatro é composto pela reconstituição da evolução e diferenciação dos sistemas agrários e a descrição do município de Santana do Livramento quanto à geomorfologia, solos, flora, fauna, clima e hidrografia. No capítulo cinco, é descrita a caracterização das principais tipologias dos pecuaristas familiares do município de Sant’Ana do Livramento conforme as suas regiões homogêneas. O capítulo seis apresenta as conclusões sobre a gênese e a tipologia dos pecuaristas familiares, uma análise sócio–econômica incluindo a influência das rendas de outras atividades e de suas relações no agroecossistema. CAP.2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Entendimento sobre Desenvolvimento Rural A compreensão de conceitos que estão sendo construídos sobre o desenvolvimento rural são importantes ferramentas para orientar o presente trabalho. Além destes, as definições teóricas de analise e abordagem sistêmica serão utilizadas como metodologia a ser aplicada no mesmo. O conceito de Desenvolvimento é um conceito que está continuamente sendo construído conforme o tempo e espaço a serem considerados, ou seja, é variável, está intimamente ligada à situação conjuntural complexa em que uma sociedade está inserida; portanto, não deve e nunca será algo estanque, ou imutável. Baseando-se nessas considerações, citaremos alguns conceitos atuais importantes que irão orientar o presente trabalho: Antes devemos ter claro: O conceito de crescimento difere do conceito de desenvolvimento, sendo este maior que aquele e englobando-o. O crescimento é o aumento de produto real de uma economia durante um determinado período de tempo, e o desenvolvimento é o crescimento da economia ao longo do tempo, com acompanhamento estrutural e melhorando os indicadores econômicos, sociais, políticos e culturais per capita, sem pontos de estrangulamento ( RESENDE, 1998). A compreensão de que o rural contribui com numerosos e diversos modos com os interesses da sociedade, obriga a busca de uma melhor compreensão das múltiplas funções do rural. No entanto, a própria agricultura tem dimensões sociais e ambientais 16 singulares, em que pese, a função primordial da agricultura continue sendo a de produzir alimentos e produtos básicos. Entretanto, ela gera também uma gama de produtos e serviços não primários, que configuram o meio ambiente, afetam os sistemas sociais e culturais, contribuindo para o crescimento econômico (FAO, 1999). Considerando o desenvolvimento rural segundo a Contag, 1997: O desenvolvimento rural envolve o crescimento da produção, da renda e dos vetores de sua distribuição, via ocupações produtivas, impostos e investimentos produtivos, que realimentam o processo. Implica uma melhoria generalizada das condições de vida e trabalho da população que habita o meio rural com acesso aos bens e serviços socais que devem ser garantidos aos cidadãos. Abrange ainda a formação e desenvolvimento da infra-estrutura econômica e social, pública e privada, de tal forma que os indicadores sociais de qualidade de vida sofrem continuas elevações. Um dos conceitos mais atuais que exige profundas modificações e inovações nas estruturas sociais existentes é o conceito de desenvolvimento sustentável, que além de abordar o econômico engloba a questão social, política cultural e do meio ambiente onde uma determinada comunidade está inserida. Desenvolvimento é um processo sistêmico mediante o qual uma economia consegue simultaneamente crescer, reduzir desigualdades sociais e preservar o meio ambiente. (VEIGA, 1998) Outro importante conceito sobre desenvolvimento rural sustentável que agrega a questão do conhecimento e da cultura camponês: O saber dos camponeses se desenvolve na sua heterogênea ligação ao grupo doméstico e ao grupo de trabalho e, portanto, a "conduta reprodutiva rural" é o resultado de urna acumulação de conhecimentos -uma epistemologia-- sobre o sistema de trabalho que não vem de livros e textos, mas sim da relação entre as pessoas, seu ambiente e as 17 interações resultantes destas relações. Nesta perspectiva, a busca de sustentabilidade na agricultura e no desenvolvimento rural implica reconhecer a existência deste saber construído mediante uma lógica indutiva-que vai sendo estabelecido na história dos grupos sociais na medida em que se vê fazer, se escuta para poder dizer, explicar e devolver este conhecimento. Sendo, pois, a agricultura uma atividade humana, ela é uma construção social que, além de ser ambientalmente determinada, está subordinada a determinados condicionantes socioculturais, entre os quais se destaca o conhecimento ou o saber local. ( ITURRA, 1993, apud Caporal, Costabeber). O conceito de desenvolvimento sustentável encaminha para outras duas questões relevantes sobre Espaço Local e Capital Social. O processo de construção de um "novo" projeto de desenvolvimento somente poderá ocorrer mediante uma combinação de mudanças das políticas governamentais (de âmbitos federal, estadual e municipal) e iniciativas da sociedade (mais de âmbito municipal e intermunicipal). Na verdade, o desenvolvimento rural é um fenômeno intrinsecamente microrregional ou local. E as regiões ou os locais que melhor conseguem se desenvolver são os que apresentam maior capacidade de organizar os fatores endógenos, direcionando - os para o fortalecimento da organização social, para o aumento da autonomia local na tomada de decisões, para o aumento na capacidade de reter e reinvestir capitais, para o aumento da inclusão social e para o aumento da capacidade de regenerar e conservar o meio ambiente. (VEIGA, 1997) E o autor ainda acrescenta sobre o espaço local como um território onde desenvolve uma determinada economia local e as suas relações entre os espaços urbano–rural: Desenvolvimento é um processo sistêmico inexistindo uma clara separação entre o desenvolvimento rural e economia urbana, sociedade rural e sociedade urbana. Mas falta de autonomia não impede que um projeto de desenvolvimento rural possa ser instrumento crucial da luta contra o viés urbano das políticas públicas. Um instrumento 18 que impulsione a sociedade a revalorizar a vida rural e mostra o quanto as oportunidades de cidadania rural podem reduzir a degradação das cidades. (VEIGA, 1998) Neste trabalho considerou-se o município, suas duas regiões homogêneas e a suas comunidades como o espaço local, aqui compreendido em seu sentido mais amplo – a sociedade e suas organizações representativas, o poder público (executivo e legislativo), as suas dinâmicas internas e externas (relações sociais, tipo de colonização, entorno sócio econômico etc.) É nesses espaços locais que podem ser promovidos os fatores endógenos que permitam avançar no aumento das escolhas das pessoas, no nível e na capacidade de organização que a comunidade possui. Que, enfim, poderão ajudar a melhorar a qualidade de vida e avançar na construção do desenvolvimento sustentável deste município. 2.2 Abordagem e Análise Sistêmica Esta abordagem surgiu após a partir da crise da ciência na década de 50 pela dificuldade de comunicação entre as diversas áreas da região que cada vez mais isolavam-se. O modelo convencional de interpretação e análise da realidade na agricultura, baseados nas evidências, no reducionismo, causalismo e na exaustividade passa através da teoria geral de sistemas para uma perspectiva holística e multidisciplinar. A abordagem sistêmica não veio para substituir integralmente a visão analítica, mas para que as duas possam com suas características ser aproveitadas. Abordagem sistêmica possui vários sinônimos como análise sistêmica, enfoque sistêmico, análise estrutural entre outros. 19 A palavra sistema permite diversas interpretações. Para efeitos de análise, neste artigo “um sistema é definido como um conjunto de componentes inter-relacionados e organizados dentro de uma estrutura autônoma, operando de acordo com objetivos determinados”. Entretanto, mais importante do que a definição é os princípios que o conceito de sistemas enfatiza, dentre os quais destacam-se os seguintes (Capra, 1996 apud Pinheiro 2000): • Visão do todo: A abordagem sistêmica visa o estudo do desempenho total de sistemas, ao invés de se concentrar isoladamente nas partes. • Interação e autonomia: São sistemas sensíveis ao meio ambiente com o qual eles interagem, geralmente variável, dinâmico e imprevisível. A fronteira do sistema estabelece os limites da autonomia interna, a interação entre os componentes do sistema e deste com o ambiente. • Organização e objetivos: Em um sistema imperfeitamente organizado, mesmo que cada parte opere o melhor possível em relação aos seus objetivos específicos, os objetivos do sistema como um todo dificilmente serão satisfeitos. • Complexidade: Este enfoque parte do princípio de que, devido as interações entre os componentes e entre o meio ambiente e o sistema como um todo, este é bem mais complexo e mais compreensivo do que a soma das partes individuais. • Níveis: Sistemas podem ser entendidos em diversos níveis, como por exemplo uma célula, uma folha, um animal, uma propriedade, uma região, o planeta e assim por diante. Um sistema em determinado nível pode ser entendido como um subsistema de outro nível. 20 Logo, o sistema pode ser definido como um conjunto de elementos em interação dinâmica, organizado em função de um objetivo. Para ( ROSNAY apud WUNSCH, 1995 ), o objetivo é atribuído pelo homem seu construtor e pela natureza, sendo o objeto constatado a posteriore. Portanto, é um conceito abstrato que está intimamente ligado percepção do pesquisador e de sua realidade. à lógica e à CAP.3 METODOLOGIA O capítulo apresenta os procedimentos metodológicos empregados nessa pesquisa que conduzem aos objetivos propostos. No enfoque sistêmico foi possível diagnosticar as diferenciações sociais existentes no meio rural para a pecuária familiar do município de Santana do Livramento. O enfoque permite uma abordagem para ver a diferenciação dos tipos de agricultores que praticam a pecuária familiar, ressaltando as suas peculiaridades e suas relações sócioeconômicas e como estas estão inseridas em seu agroecossistema que ocorreram distintamente ao longo tempo. Permitindo ao retroceder no passado, entender melhor o presente, analisar melhor os sistemas de produção que estão surgindo ou declinando para entender a lógica do agricultor. Com base no conceito de sistema, referido anteriormente, o estabelecimento rural pode ser considerado como um sistema básico dotado de diversidade e de inter-relações internas e externas, onde o agricultor e sua família constituem a parte central deste sistema. Além disso, elegeu-se a unidade de produção agropecuária como objetivo de observação e análise no presente trabalho, por ser este o local onde se realiza a atividade produtiva, por ser o universo de tomada de decisão dos produtores e por ser esta a base para proposta de intervenção. 3.1 Complexidade dos Sistemas Agrários: Na agricultura, o enfoque sistêmico tem se tornado cada vez mais necessário, devido à crescente complexidade de sistemas organizados e manejados pelo homem e da emergência do conceito de sustentabilidade o qual lançou novos desafios na área rural, sobretudo em relação á questão socio-ambiental. Neste contexto, a grande 22 maioria dos sistemas agropecuários tem requerido uma abordagem holística e multidisciplinar, a fim de melhor serem entendidos e analisados. ( Pinheiro, 2001) O diagnóstico de uma realidade rural deve captar a complexidade e a diversidade que, geralmente, caracterizam a atividade agrícola e o meio rural. Os agroecossistemas constituemse em um primeiro fator de complexidade, que representam potenciais ou que impõem limitações às atividades agrícolas. A forma como as sociedades utilizam o meio natural representa um esforço de adaptação ao ecossistema, buscando explorar da melhor maneira o seu potencial ou vencer os obstáculos. Este modo de utilização do espaço evoluiu ao longo da história em razão dos fatos que se relacionam entre si, sejam eles ecológicos, técnicos ou econômicos. (FERRERA, 2001) 3.2 Referencial Teórico: È importante descrever os conceitos básicos da metodologia utilizada no presente estudo, segundo os princípios e pressupostos básicos já enunciados, antes de descrever a seqüência da elaboração da análise-diagnóstico dos sistemas agrários da pecuária familiar no município de Santana do Livramento. Os conceitos empregados para a caracterização e análise da realidade agrária da região em estudo foram: A análise-diagnóstico de sistemas agrários tem por objetivo identificar e hierarquizar os elementos que condicionam a seleção e evolução dos sistemas de produção e compreender como eles interferem nas transformações da agricultura. Não se tratando apenas de identificar os fatores, mas também de conhecer como eles influem sobre os quais se podem pensar uma estratégia de ação visando ao desenvolvimento (DUFUMIER,1995). 23 3.3 O Enfoque Sistêmico Aplicado à Agricultura: A visão de sistemas emergiu na agricultura como uma forma de solucionar ou minimizar os problemas que o enfoque reducionista e disciplinar não estava resolvendo ( PINHEIRO, 2000) O enfoque sistêmico e a sustentabilidade da agricultura familiar: Uma oportunidade de mudar o foco de objetivos/ complexos sistemas vivos e as relações entre o ser humano e o ambiente ( PINHEIRO, 2001) A agricultura é um processo de artificialização do ecossistema realizada pelo trabalho humano por meio de espécies domesticadas e selecionadas, de ferramentas e técnicas para obter produtos agropecuários necessários principalmente para subsistência humana ( Mazoyer, 1985). Como processo, a agricultura é uma combinação finalizada dos seguintes elementos: um material biológico, o contexto econômico e o meio ambiente, as técnicas e as práticas, as ferramentas de trabalho, situados em relação às escalas de tempo e de espaço ( BONNEVIALE et alii, 1989, apud Wünsch, 1995) Godelier, citado por Santos ( 1993), afirma que, ao estudar um sistema agrário, o pesquisador enfrenta uma dupla tarefa: em primeiro plano, a tarefa de colocar em evidência o tempo de evolução desses sistemas; em segundo, como foram formados e como evoluíram os elementos que constituem esse sistema. Em resumo, essas duas dimensões em combinação tratam da análise dinâmica de um sistema. O resgate da história de vida dos agentes envolvidos pode se constituir numa variável importante do funcionamento do sistema, porque, através dela, podem aparecer as bases das mudanças do sistema. Essas transformações são graduais, e pode-se observar que os sistemas antigos continuam coexistindo com os novos. Caracterizando as diferenças, descrevendo os processos, pesquisando as relações entre elementos e evidenciando a representatividade das continuidades, é possível estabelecer as diferenciações entre os sistemas e compreender as razões que permitam compará-los. 24 3.3.1 Sistema Agrário: Um modo de exploração do meio historicamente constituído e durável é um sistema de forças de produção adaptado às condições bioclimáticas de um espaço determinado, respondendo às condições e às necessidades do momento (Mazoyer, 1985). Pode ser constituído por uma pequena ou grande região e se define pela combinação entre o meio cultivado; os instrumentos de produção (materiais e força de trabalho); o modo de artificialização do meio; a divisão social do trabalho entre a agricultura, o artesanato e a indústria; os excedentes agrícolas e as relações de troca com outros atores sociais; as relações de força e de propriedade que regem a repartição do produto do trabalho, dos fatores de produção e dos bens de consumo; e o conjunto de idéias e instituições que permitem assegurar a reprodução social. 3.3.2 Sistema de Produção: Conjunto de produções vegetais e animais, e de fatores de produção (terra, trabalho e capital), gerido pelo agricultor com vistas a satisfazer seus objetivos no estabelecimento agrícola (Mazoyer, 1985). Integra igualmente as atividades de transformação e conservação de produtos animais vegetais e florestais realizada pelo agricultor na unidade de produção. É a combinação mais ou menos coerente, no espaço e no tempo, de certas quantidades de força de trabalho (familiar, assalariado, etc.) e de distintos meios de produção (terra, máquinas, instrumentos, sementes, etc.) com a intenção de obter diferentes produções agrícolas, vegetais ou animais (Dufumier, 1996). 3.3.3 Sistema de Cultivo: É o conjunto das modalidades técnicas utilizadas sobre parcelas tratadas de maneira homogênea. Cada sistema de cultivo se define pela natureza das culturas e sua 25 ordem de sucessão, pelos itinerários técnicos aplicados a estas diferentes culturas, o que inclui a escolha das variedades para as culturas em consideração. (Sebillotte, 1990). É a combinação da força de trabalho e dos meios de produção utilizados para obter uma ou mais produções vegetais (Sebillotte, 1990). 3.3.4 Sistema de Criação: É definido como sendo um conjunto de elementos em interação dinâmica organizado pelo homem com a finalidade de transformar, por intermédio dos animais domésticos, determinados recursos em produtos, como carne, lã, couro, etc. ou para responder a determinadas necessidades, como tração, lazer, etc. (Landais et al, 1987). Os componentes deste sistema são o agricultor e suas práticas; os animais domésticos agrupados em lotes, tropas, ou em populações; e os recursos, como alimentos, espaços físicos, trabalho e capital, consumidos e transformados em produtos. O sistema de criação, em nível de rebanho, se caracteriza por um conjunto ordenado de intervenções nos setores de reprodução, de alimentação, de higiene, de saúde, etc. Essas ações se manifestam geralmente por deslocamentos de maior ou menor importância, por variações de efetivo mais ou menos regulares, e níveis de produção diferenciados ( Dufumier, 1996) 3.3.5 Itinerário Técnico: Constitui-se numa combinação lógica e ordenada de técnicas culturais que um agricultor aplica sobre determinada parcela com o propósito de atingir seus objetivos (Sebillotte, 1978). Podendo o conceito ser estendido à pecuária. 26 3.3.6 Definição de Agricultura Familiar: A definição de agricultura familiar assume grande importância na atualidade para respaldar o debate em torno do assunto. Para defini-la, deve-se observar alguns requisitos básicos envolvidos na sua caraterização que estão presentes em alguns conceitos mais utilizados recentemente por órgãos governamentais e autores que estudam o assunto. O manual de crédito do Programa nacional de agricultura familiar ( PRONAF) descreve para fins de financiamento a agricultura familiar da seguinte forma: 1) A renda familiar bruta prevista não pode ultrapassar a R$ 27.500,00, com rebate de 50% para atividades de avicultura, piscicultura e sericultura. Essa renda deverá ser de 80 % proveniente da exploração agrícola; 2) A propriedade não pode ter mais do que quatro módulos fiscais; 3) A propriedade deve manter, no máximo, dois empregados permanentes, sendo admitida ainda, como recurso eventual, a ajuda de terceiros quando a natureza sazonal da atividade exigir. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação - FAO - e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA (1996) definem a agricultura familiar com base em três características: a gerência da propriedade rural é feita pela família; o trabalho é desempenhado na sua maior parte pela família; os fatores de produção pertencem à família (exceção, às vezes, à terra) e são passíveis de sucessão em caso de falecimento ou aposentadoria dos gerentes. Agricultor familiar é todo aquele que tem na agricultura sua principal fonte de renda (+ 80 %) e cuja força de trabalho utilizada no estabelecimento venham fundamentalmente de membros da família. É permitido o emprego do terceiros 27 temporariamente, quando a atividade agrícola assim necessitar. Em caso de contratação de força de trabalho permanente externo a família, a mão-de-obra familiar deve ser igual ou superior a 75% do total utilizado no estabelecimento. A FAO e o INCRA (1996) delimitam o universo da agricultura familiar com base em quatro fatores: a) a direção dos trabalhos era exercida pelo agricultor; b) não foram realizadas despesas com serviços de empreitada, c) sem empregados permanentes e com número médio de empregados temporários menor ou igual a quatro ou com um empregado permanente e número médio de empregados temporários menor ou igual a três; d) com área total menor ou igual a quinhentos hectares para as regiões Sudeste e Sul e mil hectares para as demais regiões. Durante algum tempo o agricultor familiar foi caracterizado apenas como "pequeno" produtor. Esta definição se resumia ao volume de produção ou ao tamanho da terra, sendo um conceito insuficiente para definir o agricultor existente e sua lógica de produção. De acordo com Alencar e Moura Filho (1988), trata-se de uma análise unidimensional, que é aquela que "se baseia em uma única variável como terra (pequeno, médio ou grande) ou renda (baixa, média e alta)". Os autores afirmam ainda que a análise unidimensional possui "pouco valor analítico-descritivo" pois, por não ser relacional com outras variáveis, permite apenas colocar os produtores em posições relativas em relação a outros produtores. (Apud, RIBEIRO, 2001) Este tem sido um problema na interpretação da realidade da Metade Sul pois, por esta classificação, "pequeno" produtor é aquele que ocupa uma posição inferior ao padrão "médio" ou "grande" de determinada região em análise. Assim, se analisadas as 28 condições médias de determinada região, os "pequenos" são relativos em relação a outras diferentes regiões. Na região Sul, os dados mostram como "pequenos" um grupo de produtores com áreas superiores aos "pequenos" da parte Norte do Rio Grande do Sul, tida como predominantemente de agricultura familiar. Ou seja, o que é grande para a parte Norte do estado é pequeno para a parte Sul. Criou-se, e permanece até hoje, a idéia de que não há "pequenos" produtores na região Sul, muito menos agricultores familiares, e que por isso mesmo, não há necessidade de programas e políticas públicas para esse público que "não existe". ( RIBEIRO, 2001- versão preliminar) Molina Filho (1976) classifica as propriedades como latifúndio, empresa capitalista, empresa familiar e unidade produtiva camponesa. O latifúndio, segundo o autor, seria uma propriedade com grande extensão de terras, geralmente voltada ao mercado externo, mantida inexplorada ou com exploração extensiva e ineficiente e em cujos vastos domínios os proprietários residem, em princípio. A empresa capitalista é uma propriedade com trabalho assalariado que usa alta tecnologia (mecanização, insumos modernos), é especializada e totalmente voltada ao mercado; seus proprietários geralmente não moram em seus domínios. A empresa familiar baseia-se no trabalho da família, podendo ter empregados, desde que haja predominância do trabalho familiar; os proprietários residem na propriedade; usa insumos e tecnologia modernos, aproveitando totalmente suas terras com atividades de produção de valores de troca. A unidade produtiva camponesa é composta por pequenos produtores, com algum domínio sobre as terras; não é especializada, produzindo para a sua subsistência e comercializando o excedente; sua extensão é pequena ou minifundiária, e seu proprietário vive na propriedade; são propriedades que aplicam uma baixa tecnologia no processo de produção. Há vários outros critérios utilizados para definir agricultura familiar e para classificar a suas propriedade, mas, assim como estes, não caracterizam de forma clara e precisa as questões regionalizadas como no caso da pecuária familiar na fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Sendo necessário desenvolver estudos empíricos mais 29 aprofundados quanto a sua fundamentação sócio-econômica que caracterize melhor a agricultura familiar desta região. 3.3.7 Uma Definição e Caracterização Aproximada de Pecuária Familiar: Os agricultores familiares dessa região tem a mesma lógica de reprodução social que as demais de outras regiões do estado. Contudo possuem um diferencial nos seus sistemas de produção, tendo na pequena exploração da pecuária de corte, ovinocultura e pequenas plantações, inclusive o arroz, a sua principal fonte subsistência e de renda. Alguns complementam sua renda agrícola com fontes externas de renda (aposentadoria rural e/ou venda de mão-de-obra). Com relação a força de trabalho utiliza mão-de-obra familiar pode realiza troca de serviços com os vizinhos e/ ou contrata temporariamente mão-de-obra e algumas vezes usa pessoas agregadas a família com ou sem remuneração. O tamanho de suas propriedades é muito variável podendo chegar a 500 há, sendo uma característica que merece um estudo mais profundo, pois segundo diagnóstico realizado nessa pesquisa a maioria das propriedades estudadas encontram-se com seus registros de título de forma irregular, sem atualização após processo de divisão ou herança. A suas origens étnicas são constituídas principalmente dos sesmeiros luso- ibéricos, dos mestiços de índios, que deram origem ao gaúcho, dos negros que serviram nos saladeiros, dos militares, agregados, posseiros, espanhóis, imigrantes alemães e italianos que aqui vieram e juntos constituíram uma sociedade diversificada, entre elas a do agricultor familiar. Embora a pecuária familiar seja pouco conhecida, das lideranças regionais, municipais e de suas entidades representativas, tem um importante papel para o desenvolvimento do município por representar uma quantidade significativa de famílias existentes em Santana do Livramento. 30 3.4 Indicadores de Desempenho Econômico e a Sistematização das Informações Obtidas no Decorrer da Pesquisa de Campo. A análise-diagnóstico das características econômicas das propriedades agrícolas é um dos vários indicadores existentes, dentre os mais utilizados para esse fim que se pode citar ( DUFUMIER, 1996;Lima et.al,1995 ). 3.4.1 Dimensão Econômica dos Sistemas de Produção: A dimensão dos resultados econômicos dos sistemas de produção é uma fase importante do diagnóstico e análise. Esta etapa permite avaliar o processo de capitalização ou de descapitalização de cada categoria de produtor, aprofundar o estudo das relações sociais que caracterizam os sistemas de produção e do sistema agrário como um todo, e identificar a lógica econômica das associações de atividades e das práticas agrícolas empregadas pelos produtores. (DEFUMIER, 1996) 3.4.2 Valor Agregado: No processo produtivo, quando o produtor acrescenta trabalho aos insumos e ao capital fixo de que dispõe, ele gera nova riqueza, agrega valor a esta mercadoria. Assim, o valor agregado líquido (VA) do sistema de produção corresponde à diferença entre o valor produzido e o valor consumido, que pode ser representado pela seguinte expressão matemática: VA = PB - CI - D Onde: VA = o Valor Agregado Líquido PB = o Produto Bruto CI = o Consumo Intermediário D = a Depreciação 31 A medida da produção do estabelecimento rural, denominada Produto Bruto (PB), corresponde à valoração da totalidade do que é produzido (DUFUMIER, 1996; LINIA et al., 1995). Na determinação do PB, o valor recebido pelos produtores, e na avaliação da produção consumida pela família (autoconsumo), utilizou-se o preço de mercado, ou seja, o preço pago pelos produtores por aquele produto no mercado local. Os itens que compõem o PB são: A produção obtida nas culturas, Criações, Pomar, Horta Doméstica, Planta de baraço1, Florestamento, Produtos de transformação e objeto de artesanato produzidos no estabelecimento rural, A remuneração paga por terceiros a serviços prestados pela mão de obra familiar. A produção obtida na unidade agrícola destinada ao consumo dos animais e das culturas não compõe o PB, como, por exemplo, o milho produzido no estabelecimento rural e destinado à criação de aves, suínos e animais de tração e as sementes armazenadas de uma safra para outra. Uma vez que são considerados receita, como consumo intermediário se anulam. 32 1 " Planta de baraço é a denominação adotada neste trabalho para a gleba cultivada com mandioca, batata-inglesa, batata-doce, moganga melancia, melão, abóbora etc. Esta gleba de cultivo, geralmente, loc~-se próxima à lavoura anuas com áreas aproximadas de um ~ a um quarto de licctare. A produção obtida neste tipo de cultivo destma-se ao consumo da fan-úba ou dos wmnws domésti". Consumo Intermediário (CI) é o valor dos insumos e serviços adquiridos de outros agentes econômicos destinados ao processo de produção. São considerados intermediários porque, através do trabalho e dos demais meios de produção, vão agregar valor num produto final; (insumos agrícolas e para animais, manutenção de instalações e equipamentos e honorários pagos a terceiros). Depreciação (D) O capital fixo disponível é constituído por máquinas, instalações, benfeitorias, reservatórios de água, etc. Estes bens não são integralmente consumidos durante o ciclo produtivo, mas sofrem desgastes perdendo valor progressivamente a cada ano: D = ( Vo - Vr) / n Onde: Vo = o valor de aquisição do bem novo Vr = o valor residual do bem no final de sua vida útil n = aos anos de vida útil do bem 3.4.3 Renda Agrícola: Renda Agrícola (RA) É a principal forma de avaliar a capacidade de reprodução do estabelecimento rural familiar ao longo do tempo. È a parte do valor agregado (VA) que fica com o agricultor para remunerar o trabalho familiar e fazer investimentos. Sendo a (DVA) a parte Distribuída do Valor Agregado composta dos seguintes itens: valor pago por arrendamento da terra em valor monetário ou não, seguro, impostos e taxas, juros e mão de obra contratada fixa, ou temporária. No caso de perceber subsídios à atividade agrícola, este valor é acrescentado ao VA líquido na composição da renda agrícola. 33 RA = VA – Tc- I – J – Rt + Sb Onde: RA = Renda agrícola VA = Valor líquido agregado Tc = a mão–de– obra contratada I = os Impostos e taxas J= juros Rt = Arrendamento ou valor pago ao dono da terra e / ou parceria Sb = Subsídios recebidos 3.4.4 Renda Total: Renda total (RT) é o somatório da Renda Agrícola mais a Renda de Outras Atividades ( ROA), como por exemplo salários percebidos por um ou mais membros da família ( pedreiro, carpinteiro, alambrador, capataz, peão), aposentadoria rural e renda recebida de aluguéis e arrendamentos. RT = RA + ROA Onde: RT = Renda Total disponível na unidade de produção agrícola RA = Renda agrícola ROA = Renda de Outras Atividades A sistematização dos dados relativos às informações adquiridas no decorrer da pesquisa de campo facilitou a visualização e identificação dos sistemas de produção existentes em cada grupo social. Cabe ressaltar que, para a sistematização dos dados, foi utilizada a planilha do “Microsoft Excel” construída pelo Mestre em Economia Rural 34 (UFRGS ) Engº Agº. José Romulado C. Ferrera e adaptada à realidade estudada. Esta planilha é composta por uma área de entrada dos dados no formato idêntico a do questionário, uma área de cálculo que serve para conferir a consistência do processamento e uma área de indicadores. Assim, ao digitar as informações quantitativas do questionário, são calculadas todas as equações e gerados os indicadores descritos na seção seguinte. Como a planilha foi elaborada num aplicativo de fácil manipulação, é possível, no decorrer do trabalho de análise dos sistemas de produção, gerar novos indicadores para confirmar ou negar hipóteses. 3.4.5 Indicadores Agroe-conômicos Utilizados na Avaliação dos Sistemas de Produção. Os indicadores utilizados para analise econômica dos sistemas de produção através dos quais foi possível avaliar o potencial econômico de cada sistema de produção e comparálos, foram de suma importância no estudo mais aprofundado das relações sociais que caracterizam cada tipo de unidade de produção como também, o sistema agrário como um todo. Possibilitando conhecer os fundamentos e a lógica econômica das atividades agrícolas e não agrícolas dentro da pecuária familiar. Para aprofundar o estudo sobre a pluriatividade nesta região, foi considerado que pessoas com idade inferior a 10 anos não seriam contadas como unidade de trabalho / homem (UTH). Mas a partir dos 10 anos seria respeitada uma tabela de conversão (LIMA et al, 1995), a saber: - de 10 anos até 13 anos corresponde a 50% de uma UTH; - de 14 anos até 17 anos corresponde a 65% de urna UTH; - de 18 anos até 59 anos corresponde a100% de uma UTH; - acima de 60 anos corresponde a 65% de uma UTH. 35 Também foi considerada mão-de-obra as pessoas que realmente tinham alguma atividade produtiva, como também foi respeitado o período de duração despendido com a atividade (exemplo: um menino de 12 anos que estuda pela parte da manhã e ajuda o pai na parte da tarde, se ele trabalhasse o dia inteiro ele representaria 50% de uma UTH mas como estuda ele representa 25% de uma UTH). Cabe ressaltar que as pessoas impossibilitadas, por doença ou idade avançada, não foram computadas como mão-de- obra. Também foi separado por tipos a UTH, ou seja, se uma pessoa da família trabalha uma parte do dia na agricultura e a outra em uma atividade não-agrícola, esta mão-de-obra foi calculada sobre o tempo de dedicação à propriedade familiar descontando o tempo gasto em outras atividades (venda de mão de obra), possibilitando uma análise mais detalhada das propriedades familiares de Santana do Livramento. Os indicadores utilizados na caracterização e análise agroeconômica dos estabelecimentos rurais e dos sistemas de produção encontrados no município de Santana do Livramento são os seguintes (adaptado de DUFUNHER, 1996 para atender aos objetivos desta pesquisa): U T H = Unidade de Trabalho Homem: esta unidade mede a força de trabalho dos diversos tipos de trabalhadores da unidade de produção agrícola (por idade e tempo disponível). Uma UTH corresponde a 300 dias de oito horas de trabalho de um homem com idade entre 18 a 59 anos. U T H f = Unidade De Trabalho Homem Familiar: é a totalidade de UTH disponibilizada no estabelecimento rural pela mão de obra familiar. S T = Superfície Total: corresponde ao somatório das áreas utilizadas na produção e impróprias para o uso agrícola do estabelecimento rural, independentemente do sistema de posse da terra (pode ser proprietário, arrendatário, parceria, ou ocupante da área) 36 S.A U = Superfície Agrícola Útil.- é a área efetivamente utilizada para produção agrícola, ou seja, a ST menos a área imprópria para o uso agrícola. S.A U / UTH = Superfície Agrícola Útil Disponível por Unidade de Trabalho: este indicador mede a intensidade do emprego da mão-de-obra no estabelecimento rural, quanto maior for o seu valor menor será a intensidade do trabalho nesta unidade de produção. VAL / S.AU = Valor Agregado Produzido por Unidade de Área: este indicador mede a capacidade que o sistema de produção possui de gerar valor novo por hectare, ou seja, mede a produtividade da terra. VAL / UTH = Valor Agregado Produzido por Unidade de Trabalho: mede a capacidade que o estabelecimento possui de gerar valor novo por unidade de trabalho, isto é, mede a produtividade do trabalho obtida no estabelecimento rural. VAL / UTHf = Valor Agregado Produzido por Unidade de Trabalho Familiar: idem ao item anterior. RA / SAU = Renda agrícola por unidade de área útil: este indicador mede a rentabilidade (ou remuneração) do fator terra. RA / UTH = Renda Agrícola por Unidade de Trabalho = mede a rentabilidade (ou remuneração) do trabalho obtida no estabelecimento rural. RA / UTHf = Renda Agrícola por Unidade de Trabalho Familiar = mede a rentabilidade (ou remuneração) do trabalho familiar obtida no estabelecimento rural. RT / UTH = Renda Total por Unidade de Trabalho; mede a rentabilidade (ou a remuneração) do trabalho obtida no estabelecimento rural ou fora dele. 37 RT / UTHf = Renda Total por Unidade de Trabalho Familiar: mede a rentabilidade (ou a remuneração) obtida pela família rural no estabelecimento rural ou fora dele. Ki = Capital: este indicador é composto pelo somatório do valor atual de patrimônio colocado à disposição da produção (máquinas, equipamento, instalações, benfeitorias, efetivo médio dos rebanhos bovinos, ovino e eqüinos, e dos animais, domésticos), do consumo intermediário (CI) e da depreciação anual (D). TL = Taxa de Lucro (RA / Ki): este indicador mede o percentual de retorno do capital investido na atividade produtiva, ou seja, a taxa de lucro obtida no estabelecimento rural. Pbvegetal / PBt (%) = Relação do Produto Bruto Agrícola: mede o percentual da participação do valor bruto da produção agrícola em relação ao valor bruto total. PBanimal / PBt (%) = Relação do Produto Bruto Animal: mede o percentual da participação do valor bruto da produção gerado pela pecuária em relação ao valor bruto total. ROA / RT = Relação da Participação da Renda de Outras Atividades: mede o percentual da participação da Renda de Outras atividades pela Renda total do estabelecimento. RA / RT = Relação da participação da Renda Agrícola: mede o percentual da participação da Renda Agrícola pela Renda Total do estabelecimento. N R S = Nível de reprodução simples: constitui-se no indicador básico par a análise da capacidade de reprodução dos estabelecimentos rurais; ele mede a renda mínima necessária para a reprodução da família, ao longo do tempo. Este nível de 38 garantir um mínimo de renda para alimentação, habitação, saúde e educação para a família rural. Neste trabalho, considerou-se o nível de reprodução simples equivalente a R $ 3.240,00 por UTHf / ano (1,5 salário mínimo por UTHf / mês). O mesmo índice foi usado por outros autores. (FERRERA, 2000) (R / UTHf ) / (SAL / UTHf ) = Intensidade do Uso da Terra: este indicador representa uma unidade comum e estabelece a relação entre a renda agrícola por unidade de trabalho familiar e a área disponível por trabalhador familiar, permitindo comparar a intensidade do uso da terra dos diferentes sistemas de produção. Assim, quanto maior for essa relação, mais intensivo será o sistema de produção com relação ao uso da área disponível. Ver Tabela 1 3.5 Análise – Diagnóstico dos Sistemas Agrários do Município de Sant’Ana do Livramento 3.5.1 Dados Secundários Coleta e Tratamento. A Coleta e Tratamento dos dados secundários têm por objetivo obter as primeiras informações sobre o município em estudo através de uma pesquisa de documentos históricos, estatísticos e cartográficos. Resgataram-se informações referentes ao tipo de solo, clima, estrutura fundiária, flora e fauna, relevo, dados demográficos, limites, história passada e atual. Essas informações foram obtidas através de documentação da Biblioteca Municipal e da EMATER / RS, Fundação de Economia Estatística do Rio Grande do Sul - FEE e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE., assim como a partir de entrevistas realizadas nas seguintes entidades: Associação Rio-Grandense de Empreendimentos e Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER/RS, Inspetoria Veterinária da e Departamento de recursos Naturais renováveis / SAA do RS, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Associação e Sindicato Rural e dos seguintes Eng.º Agrônomos ( que possuem larga experiência na extensão e 39 assistência técnica por atuarem por muitos anos no município); L.E.R, V.B.M, O.R.P; além dos comerciantes de gado L.L.R e A.C.L. 3.5.2 Leitura da Paisagem do Município. A leitura da paisagem é uma metodologia utilizada para construir um diagnóstico, identificando as semelhanças e heterogeneidades da realidade agrária e ambiental, através de itinerários de deslocamentos pré-estabelecidos que contemplem com a maior abrangência possível a situação em estudo de uma ou mais regiões, permitindo distinguir os contrates que possam existir no meio rural assim como delinear as suas sub-regiões, zonas agrícolas e os seus agroecossistemas. As paisagens agrárias oferecem as primeiras informações relevantes para a elaboração do diagnóstico da realidade rural. Uma observação criteriosa pode fornecer mais informações do que por meio dos documentos existentes sobre as diversas formas de exploração e de manejo do meio ambiente, sobre as praticas agrícolas e suas condições ecológicas, além de permitir ao pesquisador questionar-se sobre as razões históricas dessas diferenciações (INCRA/FAO, 1999). A leitura da paisagem do município de Santana do Livramento foi realizada percorrendo a totalidade da região em estudo. Com a participação de 14 entidades e 31 participantes organizados pelo escritório Municipal, foram organizadas reuniões preparatórias, de planejamento das atividades e atividades de campo para execução dos itinerários de deslocamentos pelas equipes multidisciplinares, finalizando com uma reunião de organização das informações levantadas, definição das regiões homogêneas e o consenso do grande grupo a seu respeito. Como foi visto anteriormente, a diversidade do modo de exploração dos agroecossistemas pode ser explicada através da história das transformações ecológicas, das relações sociais, das técnicas agrícolas praticadas. É justamente essa história que configurou diferentes áreas geográficas homogêneas em contraste com as demais em 40 seu entorno. Assim, as hipóteses preliminarmente formuladas na leitura da paisagem foram verificadas através de entrevistas, informais e individuais, com informantes - chave (selecionam-se estas pessoas com base no seu conhecimento da região, geralmente os agricultores mais antigos) que, tendo em vista os seus conhecimentos, forneceram elementos capazes de explicar os fenômenos observados. Esta fase de entrevista foi complementada com o estudo de documentos e bibliografia sobre o tema. Com estas informações, foi possível resgatar a evolução e diferenciação dos sistemas agrários do município de Santana do Livramento. Concluindo-se sobre a existência de 02 regiões agroecológicas para a pecuária familiar que são: Região 01 do Basalto. Região 02 do Arenito. ( Ver Anexo B) 3.6 Coleta e Sistematização dos Dados Primários para Elaboração da Caracterização dos Sistemas de Produção. A unidade de análise do presente trabalho foi a pecuária familiar onde se buscou identificar os sistemas de produção desta tipologia sem representatividade estatística da amostra, por se tratar de um estudo de caso. No entanto, o enfoque foi para uma abrangência representativa da diversidade dos tipos e das variáveis dos sistemas de produção e renda existentes. Por essa razão, elegeram-se estabelecimentos rurais e sistemas de produção que explicitassem essa diversidade. A seleção destes produtores e dos sistemas de produção foi realizada com base nas informações obtidas nas fases anteriormente descritas e, gradativamente, aprofundada no decorrer da própria pesquisa durante as entrevistas e aplicação dos questionários. Assim, o conhecimento da realidade na qual está inserido o agricultor (entrevistado), juntamente com a apreensão deste conhecimento foi possível hierarquizar e determinar o tamanho da amostra e identificar quais produtores deveriam ser entrevistados. 41 Os dados primários foram obtidos utilizando-se um questionário semi-estruturado, fundamentado nas informações obtidas na primeira etapa (Anexo E). As questões do referido questionário foram elaboradas no formato abertas e fechadas para facilitar o processamento dos dados. Assim, as questões quantitativas e relativas aos aspectos econômicos são fechadas e as de cunho qualitativo abertas. Realizaram-se 08 entrevistas formais, com aplicação desse questionário a pecuaristas familiares, no mês de setembro / 2001. Sendo 04 na região homogênea 01 do Basalto e mais 04 produtores na região 02 do Arenito do município de Santana do Livramento. O processamento e sistematização dos dados primários, coletados através dos questionários, foi realizado através de uma planilha programada no aplicativo "Microsoft Excel 97" conforme anteriormente citado. Os preços referentes aos insumos, produtos (pagos e recebidos pelos produtores) e o valor do patrimônio foram obtidos através das entrevistas com os mesmos e no comércio local. Especificamente com relação às construções e instalações, utilizou-se o valor unitário elaborado por FERREIRA ; MIOGLIORIM (1998) para o Programa de Gestão Agrícola da EMATER-RS, corrigido para 2001. Estas fontes de preços foram confrontadas antes de serem utilizadas, com o objetivo de evitar valores extremos que poderiam produzir indicadores com viés. 3.7 Caracterização e Tipologia dos Agricultores e dos Sistemas de Produção: As categorias sociais dos agricultores foram definidas pelas suas relações sociais e de produção, de propriedade e de troca entre estes agricultores e os demais agentes que, direta ou indiretamente, atuam na produção agrícola. Assim, a categoria social à que pertence um determinado agricultor deve expressar o modo de acesso aos meios de produção disponíveis e o processo de repartição dos produtos gerados. Portanto, uma categoria social de agricultores resulta de um processo de acumulação social, 42 condicionado pelo acesso à terra, pela origem da mão-de-obra e do capital. Assim, realiza-se a análise de uma categoria social através do estudo da trajetória de acumulação, ou "desacumulação" de capital (DUFUMIFER, 1996). A compreensão desta dinâmica é que norteou a elaboração da tipologia dos agricultores do município de Santana do Livramento. Os diferentes tipos de agricultores podem adotar sistemas de produção diferenciados. Os fatores determinantes desta diferenciação são os recursos disponíveis e os limites que encontram para produzir, como, por exemplo às condições socioeconômicas destes agricultores e do meio ambiente (INCRA/FAO, 1999). Assim, a disponibilidade dos meios de produção mais as relações de produção configuram a lógica (racionalidade) socioeconômica dos sistemas de produção. Na caracterização e tipologia dos agricultores e sistemas de produção, a realidade pesquisada é que determinou e condicionou os critérios mais adequados para agrupar os agricultores. Igualmente não existe uma fronteira rígida dividindo cada tipo de agricultores. Na verdade, o que se encontra na realidade são agricultores em constante evolução que podem trocar seu sistema de produção ou passar de urna categoria social a outra. Para definir a tipologia dos pecuaristas familiares a ser estudada foi utilizado o seguinte padrão preestabelecido buscando a representatividade da maioria das situações que ocorrem no município e nas regiões homogêneas definidas: 1) Menor que 100 ha e menor que 500 ha – como principal sistema de produção a pecuária de bovinos de corte, ovinocultura e pequenas áreas de agricultura e sem renda de outras atividades. 2) Menor que 100 ha – Principal sistema de produção a pecuária de bovinos de corte, ovinocultura e pequenas áreas de agricultura e sem renda de outras atividades. 43 3) Menor que 100 ha – Principal sistema de produção a pecuária de bovinos de corte ovinocultura, pequenas áreas de agricultura e com renda de outras atividades ( aposentadoria ). 4) Menor que 100 ha – Principal sistema de produção a pecuária de bovinos de corte, ovinocultura e pequenas áreas de agricultura com renda de outras atividades ( a venda de mão de obra). Para cada tipologia foram entrevistados 02 produtores para cada sistema agrário, um na região do basalto e outro na região do arenito. Para que se pudesse realizar a caracterização dos sistemas de produção e elaborar uma tipologia destes sistemas e dos agricultores foi necessário entender a sua lógica e a sua racionalidade. Foi possível fazer isso aprofundando a pesquisa e investigando as práticas agrícolas (técnicas agrícolas, consórcios e sucessão de culturas), buscando relacioná-las aos recursos disponíveis e às condições sócio-econômicas e ambientais nas quais trabalham os agricultores. Além disso, realizou-se uma avaliação econômica, análise social com questões subjetivas sobre suas perspectivas e de sua família. 3.7.1 Dimensão Agronômica dos Sistemas de Produção: Através do estudo dos itinerários técnicos dos sistemas, de cultivo e de criação, foi possível identificar as operações colocadas em prática nestes sistemas. E posteriormente, realizar uma análise agronômica, quantitativa e qualitativa dos mesmos. Com a utilização do mesmo questionário semi-estruturado na realização das entrevistas e pela descrição dos agricultores, obtiveram-se as informações da sucessão cronológica das operações necessárias ao cultivo (preparo do solo, fertilização, plantio, 44 tratos culturais, e colheita), os recursos empregados (insumos) e os problemas encontrados. O mesmo ocorreu com relação aos sistemas de criação, observando-se nas entrevistas, principalmente, a forma de reprodução, melhoramento genético, tratamento sanitário, alimentação, e comercialização relativos a cada grupo de agricultores, assim como a cronologia destas práticas, os recursos mobilizados e os problemas enfrentados pelos produtores com este sistema de criação. CAP.4 RECONSTITUIÇÃO DA EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS SISTEMAS AGRÁRIOS. O presente capítulo reconstitui as principais características sócio-econômicas e ambientais assim como a evolução histórica dos diferentes sistemas agrários que se sucederam por região homogênea no município de Santana do Livramento. 4.1 Descrição do Meio Ambiente. O município de Santana do Livramento, quanto a sua localização, as características de seus solos, sua fauna e flora, hidrografia e clima conforme seus dois sistemas agrários do arenito e do basalto.( Anexo – C) 4.1.1 O Município de Sant’Ana do Livramento. O município de Santana do Livramento é originário de Alegrete, tendo sido emancipado em 10 / 02 / 1857, pela Lei Provincial N.º 351. Situa-se nas seguintes coordenadas geográficas: Ao N 30º 16’ de latitude norte ( Limite Rosário do Sul ) S 31º 17’ de latitude sul ( Limite República Oriental do Uruguai ) E 54º 58’ de longitude leste ( Limite Dom Pedrito ) O 56º 16’ de longitude oeste ( Limite Quaraí ) Com uma altitude média de 234 m acima do mar, o município esta situado em relação ao Brasil, na Mesorregião Geográfica do Sudoeste rio-grandense – 06 e, dentro 46 desta, da Microrregião Geográfica da Campanha Central – 03, composta de três municípios ( Sant’Ana do Livramento, Rosário do Sul e São Gabriel – Ver Anexo A ) Tem uma área de 7.001,00 km2 sendo dessa 6.943,51 km² rural e 57,49 Km² urbana , que corresponde a 0,40% da área total da Microrregião e 2,49% da área do estado do Rio Grande do Sul. Segundo o IBGE, em 1996 contava com 85.554 habitantes, com uma densidade demográfica de 12,29 hab/km2. A divisão administrativa do município segundo a lei n.º 2.555, de 29 de Novembro de 1989, estabelece como : 1º distrito – Livramento 2º distrito – Upamaroti 3º distrito – Ibicuí 4º distrito – Pampeiro 5º distrito – São Diogo 6º distrito – Espinilho 7º distrito – Cati 4.1.2. Topografia e Geomorfologia: O município de Santana do Livramento nessa região caracteriza-se por formas altas e planas em algumas áreas e em outras suavemente ondulada. Domina na área a Coxilha de Santana, que apresenta uma configuração, de modo geral, em semi-arco e corresponde à área considerada como reverso da “cuesta do Haedo”. Constitui-se de rochas efusivas básicas, interderrame da Formação Serra Geral. O arenito aflora no caimento da superfície, tanto para o Rio Ibicuí como para o Rio Quaraí. Ocorrem 47 freqüentes afloramentos rochosos na superfície na região do município principalmente no basalto que corresponde aproximadamente cinqüenta por cento da área do território. Na região do arenito as feições geomórficas são de duas categorias áreas de acumulação aluvial e modelado tipicamente e arenito, de forma tabulares, colinas com altitudes inferiores a 300 m e morros testemunhos.( Foto 02) 4.1.2.1 Região 01 – Basalto: As formas de relevo, nessa superfície monoclinal, referem-se a áreas de aplanamento retocadas, retratadas de formas bastante amplas, suborizontalizadas, ao longo de toda a superfície. A “Cuesta do Haedo” possui sua maior extensão em território uruguaio. Apesar de constituir-se inteiriça a sudoeste da cidade, o limite internacional faz-se no reverso da “cuesta”, restando, portanto, a linha de “cuesta” propriamente dita para o Uruguai. Possui uma orientação geral NE – SO e está balizada pelo alto curso do Rio Ibicuí, na unidade geomorfológica denominada depressão do Rio Ibicuí-Rio Negro, representada por seus afluentes rios Ibicuí da Faxina e Ibicuí da Cruz, que apresentam seus cursos, de modo geral, paralelos a essa escarpa. A partir das nascentes do Rio Ibirapuitã, a “cuesta” do Haedo encontra-se bastante erodida e descontínua, em conseqüência da erosão fluvial, e está traduzida por uma série de relevos residuais de topos planos ou suborizontalizados, registrados no mapa geomorfológico como uma superfície de aplanamento degradada, desnudada (Pru). Esses relevos residuais, que se constituem no limite oriental dessa unidade geomorfológica, possuem direção geral NE – SO, em continuidade à “cuesta” propriamente dita, observando-se seu recuo apenas a partir da coxilha da Cruz, mais próxima ao rio Ibicuí. As cotas mais elevadas encontram-se próximas às nascentes do Rio Quaraí, onde atingem 400m. 48 Na porção mais oriental da Coxilha de Santana, onde nascem os dois formadores do Rio Quaraí, rios Invernada e Espinilho, e seus afluentes, esses rios encontram-se bastante encaixados desde suas cabeceiras. A dissecação acentuada mostra, além dos marcados desníveis entre topo e vale, a ocorrência de rupturas de declive com bordas abruptas voltadas para as calhas dos rios. De modo geral, junto a esses canais fluviais, ocorre o desenvolvimento de uma série de pequenos cursos paralelos entre si, indicando uma retomada de erosão e individualizando este segmento como um relevo em condições de alta energia, que evidencia um “estágio de juventude”. A drenagem ocorre, seccionando uma superfície composta com formas de relevo bastante planas, suborizontalizadas, aplanadas (Pru), desenvolvidas sobre efusivas básicas, com ocorrência de solos rasos e vegetação Estepe Gramíneo-Lenhosa. 4.1.2.2. Solos do Município de Sant’Ana do Livramento: O município de Santana do Livramento nessa região caracteriza-se por formas baixas e planas em algumas áreas e em outras suavemente ondulada. É comum encontrar na região campos de arenito eólico ocorrentes entremeados nas lavas e mesmo interdigitado com derrames basais de formação da serra geral, e, apesar de semelhantes às rochas da formação Botucatu, são integrantes da unidade. Na área degradacional Oriental, que representa características transacionais, predominam as formas de dissecação homogêneas do tipo grosseira com aprofundamento dos vales fluviais entre 27 e 32 metros ( Dg2) associados a ocorrência de solos podzólicos. São resultados da alteração dos arenitos da formação botucatu e que estão recobertos pela savana estépica. Nessas áreas ocorrem as manchas que apresentam risco de arenização, voçorocamento e formação dos areais (desertos). 49 Atividade agrícola cíclica tem provocado degradação ambiental intensa principalmente onde as formações superficiais têm textura arenosa, com fenômenos de ¨desertificação¨ na Unidade Geomorfológica Planalto de Uruguaiana. 4.1.3 Solos da Região 01 – Basalto: É constituído de terrenos de topografia aplainada, provenientes do derrame basáltico (Juracretáceo) e de sedimentos permianos e triásicos Verifica-se, nesta área, menor densidade populacional, predominando a exploração da pecuária em médias e grandes propriedades. A potencialidade dos solos do basalto relacionase à deficiência hídrica, profundidade e capacidade de armazenamento de água e suscetibilidade à erosão.( Foto 01) Ocorrem na região 01 os seguintes tipos de solos: 4.1.3.1 Litólico Eutrófico. São solos desenvolvidos sobre as efusivas da formação Serra Geral, com relevo suave ondulado ou ondulado. Nesta área os solos ocorrem como unidades simples ou associados Brunizem Vértico e Vertissolos, sendo a vegetação tipo savana a cobertura original. Possuem boas propriedades químicas. Suas principais limitações dizem respeito à profundidade dos perfis e à presença de pedras e/ou afloramentos de rocha em alguns locais A principal utilização deste solo é com pastagem natural, em grandes propriedades rurais. 4.1.3.2 Vertissolos. São solos minerais argilosos que apresentam pronunciadas mudanças em volume decorrentes da variação do teor de umidade, fendas profundas em algumas épocas do 50 ano, bem como a presença de superfícies de fricção decorrentes da movimentação da massa do solo. As argilas predominantes são a montmorilonita e vermiculita, com expansividade do tipo 2:1. Ocorrem em relevo plano nas áreas deprimidas ou ao longo dos cursos d’água, sendo derivados do basalto. São solos de difícil mobilização, pois são muito duros quando secos e muito pegajosos quando molhados dificultando a mecanização e a utilização de implementos agrícolas; são moderadamente sujeitos a erosão requerendo cuidados de conservação quando cultivados. 4.1.4 Solos da Região 02 – Arenito. É constituído de áreas de topografia ondulada a suavemente ondulada e plana nas várzeas, originárias no período triásico, depositados sedimentos de natureza flúvio-lacustre da formação Santa Maria. No triásico inferior e no eojurássico, sob domínio de um clima desértico, iniciou-se a grande deposição de areias, em mantos de dispersão eólica, cujo resultado foi a formação do arenito Botucatu, estendendo-se até o eocretáceo . ( Foto 02 ) Há uma maior densidade populacional, predominando a exploração da pecuária e agricultura em pequenas e médias propriedades. Estes solos, muito permeáveis e friáveis, sustentam uma vegetação rasteira muito baixa cobertura, muito sensível ao pisoteio e ao sobrepastoreio. Utilização agrícola excessiva e sem preocupações conservacionistas provoca ocorrência generalizada de erosão por escoamento difuso e concentrado elementar, ocasionando lixiviação e truncamento dos solos, danos à malha rodoviária, assoreamento dos cursos e reservatórios d’água e também rebaixamento do lençol freático secando cisternas, fontes e aumentando o número de cursos de água temporários. Suertegaray ( 1998) a explicação para a existência dos areais está na fragilidade destes sistemas, ocorrendo na fronteira oeste desde o tempo das doações de sesmarias. No entanto, a autora levanta o fato de que os areais mais antigos não poderiam ser 51 explicados pelo efeito do gado bovino, dada a existência de areais anteriores aos cercamentos das propriedades. Devido à possível existência de grandes mamíferos com alta lotação vivendo a solto em grandes extensões de terra provocaram a substituição da savana arbustiva por uma savana herbácea e a tendência desses animais de formarem trilhas, a remoção da vegetação nas vertentes dando origem ao voçorocamento que resultou nos areais. Os solos do arenito têm as seguintes deficiências: pouca fertilidade com baixos teores de matéria orgânica e fósforo, excesso de água ( hidromorfismo) e grande suscetibilidade à erosão. Ocorrem na região 02 os seguintes tipos de solos: 4.1.4.1 Podzólico vermelho-amarelo álico. São solos profundos e medianamente profundos (raramente rasos), com coloração variável. Na sua grande maioria, são solos bem drenados e apresentam argila de atividade baixa. Ocorrem em áreas de relevo desde o suave ondulado até o forte ondulado. São utilizados com pastagens naturais, na maior parte da área, sendo também expressivos os cultivos anuais. 4.1.4.2 Podzólico vermelho-escuro álico. São solos profundos e também medianamente profundos, muito ácidos não hidromórficos, baixa fertilidade natural e altamente suscetíveis à erosão. Planossolo Eutróficos: são solos hidromórficos, de áreas baixas, onde ocorre excesso de água permanente ou temporária, ocasionando fenômenos de redução que resultam no desenvolvimento de perfis com cores cinzentas, característica de gleização. 52 Possui má drenagem ocorrendo sobre os depósitos aluvionários do Quartenário. Em algumas áreas, o horizonte A pode ser muito espesso, bastante arenoso, propiciando, nas enxurradas a possibilidade de erosão subsuperficial. São utilizados, basicamente, com pastagens naturais e cultivadas, com destaque para a pecuária de corte. Em escala menor, observam-se cultivos de trigo, arroz, milho e mandioca. Este solo, além da limitação por baixa fertilidade natural, possui alta suscetibilidade à erosão. Os cultivos anuais, quando efetuados, devem obedecer a rigorosas práticas de manejo, recomendando-se, principalmente, a calagem e a adubação, controle intensivo da erosão e, sempre que possível, incorporação de matéria orgânica, visando a aumentar a capacidade de retenção de cátions e água. (Anexo – D) 4.1.5 Flora da Região 01 – Basalto. Representada por formações Gramíneo - Lenhosas, a estepe reveste terrenos de topografia aplainada e suavemente ondulada, basálticos, em cotas altimétricas variando de 50 a 300m, com um tapete contínuo, geralmente baixo, desprovido de grupamentos arbóreos significativos. ( Foto 01) A estepe é subdividida em duas formações; Parque e Gramineo-lenhosa com as subformações com floresta de galeria e sem floresta de galeria. A vegetação de estepe gramineo-lenhosa sem floresta de galeria caracterizada por gramíneas cespitosas (hemicriptófitas) dos gêneros “Stipa” e “Agrostis”; gramíneas rizomatosas (geófitas) dos gêneros “Paspalum” e “Axonopus”; raras gramíneas anuais e oxilidáceas ( terófitas ), além de leguminosas e compostas ( caméfitas ). As fanerófitas são representadas por espécies espinhosas e decíduas dos gêneros “Acácia, Prosopis, Acanthosyris” e outros. 53 A composição florística apresenta uma variação espacial em função dos parâmetros ecológicos locais e das diferentes formas de manejo e das áreas submetidas a intensa lotação de gado. Dentre as inúmeras espécies de gêneros, merecem destaque a “Paspalum notatum” (grama-forquilha) e a “Axonopus fisifolius” (grama-jesuíta). A primeira é de grande importância forrageira e ocupa principalmente terrenos secos e bem drenados. A segunda ocorre preferencialmente em terrenos aplainados, úmidos e de solos profundos. Nas áreas de relevo suavemente ondulado ( coxilhas ), não submetidas a um pastoreio excessivo, a cobertura campestre apresenta uma composição florística mais diversificada, ocorrendo ali dois estratos graminosos distintos: um baixo e denso, dominado por “Paspalum notatum” ( grama-forquilha ), e outro alto e aberto, com altura variando entre 30cm e 1 metro, dominado por “Andropogon lateralis” ( capim-caninha ), “Andropogon sellowianus”, “Sporobolus indicus” (capim-touceirinha) e “Eragrostis baiensis”, além de inúmeras espécies dos gêneros “Stipa, Aristida, Panicum, Erianthus, Piptochaetium” e outros. Nos terrenos úmidos das baixadas, até as meias encostas das coxilhas, encontramos o “Erianthus clandestinus”( macega-estaladeira ). As compostas, de uma maneira geral, têm pequena representatividade na composição florística das formações estépicas, exceção feita às espécies “Eupatorium pinnatifidum” (chirca) e “Baccharis coridifolia” ( mio-mio ). Estas caméfitas dos campos abertos têm o seu alastramento favorecido pelo rebaixamento do tapete gramíneo-lenhoso mas, ao mesmo tempo, têm sua dispersão controlada, por competirem com as gramíneas e por serem tóxicas ao gado. A estepe gramineo-lenhosa com floresta de galeria tem seu extrato herbáceo com as mesmas características descritas para a subformação anterior. O caráter diferencial, são matas ciliares que podem mostrar fisionomias distintas, de acordo com a idade das 54 deposições dos cursos de água. Assim, em drenagens com deposição recente, têm-se formação arbórea descontinua e aberta com Erythrina crista-galli, Salix humboldtiana, Pouteria salicifolia, Sebastiania commersoniana e outras. Em drenagens encaixadas, sem deposição recente, ocorrem formações arbóreas xerófitas, com predominância de acacia caven, Gleditsis amorphoides ( coronda), parkinsonia aculeata ( cina-cian), Acanthosyris spinescens ( sombrade-touro0, Ruprechtia laxiflora e luehea divaricata. Áreas menores não incluídas nas formações já citadas, são indicadas por Texeira et al. (1986) como formação antrópicas provenientes da modificação da Estepe ( culturas anuais) e savana estépica ( cultivo de eucalipto). 4.1.6 Flora da Região 02 – Arenito. Nos terrenos de origem arenítica, com diferentes formas de relevo, revestidos por solos distróficos lixiviados, ocorrem as savanas estépicas.( Foto 02) O relevo varia de suavemente ondulado a dissecado, tendo como característica marcante a presença de morros com topos achatados e paredes abruptas, testemunhos de antigo mapeamento basáltico, hoje quase totalmente erodido. A cobertura vegetal é formada por três estratos: 1) Uma cobertura herbácea continua, denominada por gramineas hemicriptófitas ( Andropogon spp., Aristida spp., Sorghastrum spp.); 2) Estrato arbustivo composto por cactáceas (representadas por cereus hildmannianus e Opuntia spp.) leguminosas e compostas 3) Estrato arbóreo dominado pelas anacardiáccas Astronium balansae ( pau ferro ), Schinus lentiscifolius ( aroeira), S polygamus ( assobiadeira, Lithraea brasiliensis ( aroeirapreta) e Lithraea molleoides , ( aroira) e pela leguminosa Acacia 55 caven ( espinilho). A savana estépica é subdividida em três unidades fitofisiognômicas : Arbórea abreta, Parque e gramineo-lenhosas. A savana estépica parque ocorre nas cotas mais elevadas das serras e coxilhas presentes na área e também junto a alguns arroios, sempre ocorrendo com florestas de galeria. Apresentando apenas dois extratos: o herbáceo e o árboreo. A cobertura vegetal herbácea apresenta, como característica marcante, acentuada tomentosidade, que confere aos campos uma coloração cinzenta. Este caráter xerofítico é evidenciado pela gramínea “Paspalum notatum” (grama-forquilha), cujo ecotipo mostra ali uma pilosidade intensa. Além das gramíneas, ocorrem, com menor expressão, compostas, leguminosas anãs e verbanáceas (caméfitas), além de oxilidáceas e umbrelíferas (xerófitas). No extrato arbóreo aberto dominam, além das anacardiáceas e do espilho, celtis tala ( taleira) e Scutia buxifolia ( coronilha). Nas matas de galeria ocorrem principalmente Patagonula americana ( guajuvira), Ruprechtia laxiflora ( farinha seca), Luehea divaricata ( açoita –cavalo) e Pouteria salicifolia ( sarandi-mata-olho), entre outras. A savana estépica gramineo lenhosa com floresta de galeria apresenta um extrato herbáceo continuo, com predominância das mesmas gramineas já citadas . Nas matas de gaaleria ocorrem Erythrina crista-galli ( corticeira do banhado), Salix humboldtiana ( salseiro) e sbastania commersoniana ( branquiho), entre outras já citadas. Podem ocorrer ainda vassourais de compostas em locais de relevo ondulado e solo profundo e comunidades arbóreas xeromorfas na base dos morros, caracterizadas por Lithraea spp., Schinus spp., Scutia buxifolia, astronium balansae e Aloysia gratissima ( garupá). São comuns neste setor os afloramentos de rochosos distribuídos na forma de arquipélagos por toda a região e além dela, não aparentes nos mapeamentos porque ocupam pequenas áreas em cada lugar. Nestes sítios cresce uma flora bastante 56 particular, de aspecto xeromorfo, que guarda poucas similaridades com a matriz da vegetação dominante. Ocorrem ali espécies vegetais endêmicas ou de distribuição restrita Cactaceae Bromeliaceae. ds famílias Nos locais de relevo ondulado e solo profundo, ocorrem grupamentos de compostas, formando os vassourais (campo lenhoso). A floresta estacional decidual desta formação está associada aos solos dos terraços aluviais, onde a disponibilidade de água é maior. Foi praticamente erradicada na região, sendo substituída por culturas cíclicas, em especial ao arroz irrigado. As espécies mais freqüentes na floresta aluvial o jerivá ( Syagrus romanzoffiana), a corticeira-do-banhado ( Erythrina cristagalli), salseiro ( salix humboldtiana), branquilho ( Sebastiania commersoniana), o toropi ( Sapium sp.) e o Ingá ( inga uruguensis). Além destas, ocorrem na área várias espécies de interesse econômico, entre elas o açoita cavalo ( Luethea divaricata), o angico ( Parapiptadenia rigida, espécies localmente mais abundante), a cabriuva ( Myrocarpus frondosus), a guajuvira ( Patagonula americana), a coronilha ( Scutia buxifolia), a coronda ( Gleditsia amorphoides e o pau ferro ( astronium balansea). 4.1.7 Fauna: Sant’Ana do Livramento possuí uma grande área de preservação ambiental denominada de Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã / Rs ( APA), que abrange também mais três municípios Alegrete, Quaraí e Rosário do Sul, podendo afirmar que há uma quantidade e variedade representativa de espécies da fauna ainda preservada. O perímetro da APA circunscreve a porção central superior da bacia hidrográfica do rio Ibirapuitã, da qual ocupa cerca de 47 % da superfície. Seus limites chegam até a fronteira com o Uruguai. No município de Santana do Livramento a APA ocupa 1.810,86 Km² o equivalente a 56,81 % de um total de 318.767,07 há. 57 Sua localização no município é quase central, dividindo as duas regiões do basalto e do arenito. Pode-se considerar pela sua extensão no município e localização estratégica como um local de refugio da fauna e ao mesmo tempo de disseminação da mesma. Portanto, com raras exceções, as espécies que ocorrem no basalto também ocorreram no arenito. Na descrição deste trabalho sobre a fauna, o autor fará referência às espécies que ocorrem no município e uma observação posterior para cada região. Podendo ser encontradas de maneira geral em todo o município as seguintes espécies de animais mamíferos e répteis; capivara ( Hydrochaeris hydrochaeris), ratão do banhado ( Myocastor coypus), tatu ( Dasypus novemcinctus), mulita ( Dasypus hybridus), lebre ( Lepus capensis), gambá ( Didelphidae spp), veado ( Mazama spp), bugio ( Aloutta fusca), lobo guará ( Chrysocyon brachyurus), , morcegos ( Phyllostomidae spp) , ( Desmodus rotundus), graxains ( Dusicyon spp), Mão pelada ( Procyon cancrivorus), Zorrilho ( Coneppatus chinga), Furão ( Galictis cuja), Jaguatirica ( fellis pardalis), gato do mato pequeno ( felis tigrina). Prea ( Cavia aperea), ouriço cacheiro (Coendou villosus), tuco-tuco ( Ctenomys torquatus ), porco do mato ( tayassu pecari), jacaré ( Caiman spp), Sapos ( Bufo sp), pererecas ( Hyla sp), lagartixas ( liolaemus sp), lagarto ( tupinambis rufescens), cobra cega ( Amphisbaena sp), falsa coral ( Elapomorphus bilineatus),Cobra coral ( Micrurus sp.), Cruzeira ( Bothrops alternatus), jararaca ( Bothrops jararaca) e cascável ( Crolatus durissus terrificus). As seguintes aves também são encontradas: varias espécies de gaviões ( Accipiter striatus), ( Buteo magnirostris),falcão ( Polyborus plancus), Dorminhoco( Nycteria americana) ( Galinha d’água ( Gallinula chloropus) caturritas ( Myiopsita monachus), alma de Gato ( Guira guira), papagaios pequenos( Familia - Psittacidae ), corujas ( Speotyto cunicularia), pombas ( Columbina spp), Bem-Te –Vis ( Pitangus sulphuratus), Curruíras ( Familia Troglodytidae ), Garibaldi ( Agelius ruficapillus), Cardeal ( Padoaria coronata), Canário da Terra ( Sicalis flaveola), colero do brejo( Sporophila caerulescens), sabiá ( Turdus spp), ferreirinho (Turdus nigriceps), tico-tico ( 58 Zonotrichia caapensis), beija-flor ( Hylocharis chysura), pica-pau ( Familia Picidae ), Seriema ( Syrigma sibilatrix, Garça Vaqueira ) ( Bubulcus ibis ), marecas piadeira ( Dendrocygna viduata ), ( Marreca pardinha ( Anas flavirostris), marrecão ( Netta peposaca), Garça (Casmerodius albus), quero-quero ( Vanellus chilensis), Urubus ( Coragyps atratus), João-de– Barro ( Furnarius rufus ), pardal- ( Passer domesticus),Vira bosta ( Molothrus bonariensis), tesourinha ( Muscivora tyrannus),perdiz ( Nothura maculosa ), perdigão ( crypturellus sp,),Jacu-açu (Penelope abscura), Maçarico do campo ( Bartramia longicauda ), João grande ( Ciconia maguari) e ema ( Rhea americana). Os peixes lacustres mais encontrados são: Lambari ( Diapoma terofali), Traíra ( Hoplias malabaricus ), Pintado ( Pimelodus maculatus), Jundiá ( Rhamdia sp), muçum ( Synbranchus marmoratus) e o bagre ( Netuma barbus), Mandim ( Microglanis sp)cará ( Gymnogeophagus sp) e Joana ( Crenicichla scottii). 4.1.7.1 Na Região 01 – Basalto. Os répteis, em especial as cobras e lagartos, ocorrem com mais freqüência e em maior número de espécies. As lebres mais numerosas nessa região chegando a serem consideradas pragas. Espécies de hábitos subterrâneos como tuco-tuco e furão são de ocorrência rara nessa região. Exceção ao tatu e a mulita. Espécies de hábitos lacustres também ocorrem com menor freqüência, restringindo-se a alguns lugares das margens dos rios Ibirapuitã e Quaraí. 59 4.1.7.2 Na Região 02 – Arenito. Devido ao tipo de solo e substratos arbóreos, há uma diversificação de espécies, pois a vegetação de florestas lenhosas de galerias permite abrigar uma quantidade mais elevada de animais de maior porte. 4.1.8 Clima: O município de Santana do Livramento está submetido a um clima de dupla estacionalidade, provocada por um período frio (inverno), com temperaturas médias inferiores a 15ºC, com duração superior a 90 dias, durante o qual são freqüentes a formação de geadas e a penetração de frentes polares com ventos gelados de velocidade moderada ( minuano ), alternado por um período subúmido e quente ( verão). O clima sofre influência da latitude e de fatores geográficos como relevo, vegetação campestre, etc., apresentando, no verão, temperaturas elevadas e ondas de calor violentas e períodos de estiagens prolongadas. Ocorrem baixas temperaturas nos meses mais frios, as quais são responsáveis pela ocorrência de geadas nessas áreas. Por outro lado, todas as estações apresentam excedentes hídricos por mais de três meses, exceto no verão quando ocorre uma precipitação irregular e mal distribuída. Nos meses de maior precipitação no inverno e primavera, há uma drenagem imperfeita dos solos da região 01 – basalto pela pouca profundidade, prejudicando o desenvolvimento das plantas. Nessa região da Campanha são encontradas as maiores temperaturas médias anuais, pois ali o efeito da continentalidade, conjugado ao progressivo decréscimo das altitudes em direção ao Vale do Rio Uruguai, provoca o aumento de tais temperaturas.( região 01 – basalto) 60 As elevadas temperaturas no verão, apesar de coincidirem com a época de deficiência hídrica, interferem no suporte das pastagens naturais. O município tem uma altitude média de 234 metros e a distribuição do elemento hídrico faz-se da seguinte maneira: nos meses de dezembro a fevereiro ocorre uma deficiência hídrica por uma precipitação desuniforme ao longo do mês, com média de 132 mm, enquanto que o excedente se apresenta nos meses de maio e outubro, totalizando uma média de 257 mm. Segundo as análises do Projeto Radambrasil, o comportamento térmico e pluviométrico do município é o seguinte: • Temperatura média anual: 17,4ºC • Temperatura máxima absoluta anual: 40,5ºC • Temperatura mínima absoluta anual: - 4.1º C • Precipitação total anual média: 1.200 mm à 1.350 mm. • A temperatura média anual é de 17,9 °C, sendo a média do mês mais quente 24° C e do mais frio 12,5° C. • A umidade relativa do ar média varia entre 75% à 85%. • A luminosidade anual é de 2.430 hs de ensolação Segundo a classificação de W.Köppen, o município possui um clima subtropical ou virginiano, ( temperado chuvoso ), com temperatura média do mês mais quente superior a 22ºC e uma temperatura média anual inferior a 18ºC. 4.1.8.1 Região 01 – Basalto: O principal problema da região está relacionado aos meses de verão quando as precipitações são irregulares e de menor volume fazendo com que as plantas e culturas 61 sejam fortemente prejudicadas. È um solo que tem pouca capacidade de armazenamento de água por serem rasos. No caso dos vertissolos, o excesso de água e a sua falta prejudicam o seu manejo e o desenvolvimento das plantas pela presença de argilas 2:1 expansivas. A região apresenta com já descrito anteriormente temperaturas médias anuais mais elevadas pela continentalidade em direção oeste e pela superfície do solo de origem basáltica que reflete menos o calor. O excesso de precipitação provoca enxurradas pela pouca capacidade de percolação d’água. 4.1.8.2 Na Região 02 – Arenito: Possui menos problemas de déficit hídrico, pois as unidades de solo possuem uma boa capacidade de armazenamento de água. O excesso de precipitação é prejudicial aos solos hidromórficos que têm diminuída a sua capacidade de armazenamento de oxigênio. O número de horas de frio no inverno são ideais para o desenvolvimento da fruticultura, principalmente as rosáceas. A vitivinicultura encontra condições edafoclimáticas ideais, pois no verão há uma diminuição da precipitação o que eleva a concentração de açúcares atingindo graus Brix acima de 20 % em média. As culturas anuais como o milho e soja são pouco indicadas para o plantio sem um sistema eficiente de irrigação e sem um manejo do solo que não provoque perdas de água por evaporação. ( com cobertura verde ou palha). 62 4.1.9 Hidrografia e Principais Microbacias: O aqüífero local, considerado de excelente qualidade principalmente o subterrâneo, abastece toda a sede do município com poços artesianos. O município se localiza em um divisor de águas onde nascem os principais cursos de água que dão origem aos rios da região como: Rios Ibicuí, Ibirapuitã e Quaraí , que constituirão a bacia do Rio Uruguai. O período de maior descarga dos rios que compõem a bacia do Uruguai ocorrem, em geral na primavera ( setembro / outubro ), embora em outros possam ser registrados valores elevados. As 04 principias microbacias do município são: 1) Rio Quaraí no sentido Leste ( L), Oeste ( W) fazendo divisa com a Republica Oriental do Uruguai . 2) Rio Ibirapuitã e Ibirapuitã Chico dentro da região 01 irá constituir a divisa municipal com Alegrete, Quaraí e Rosário do Sul no sentido NNW / SSE. 3) Rio Ibicuí da Faxina e Passo da Cruz dentro da região 02 faz divisa como Município de Rosário do Sul. no sentido Sul (S), Norte (N) 4) Rio Ibicuí da Armada e Upamaroty dentro da região 02 faz divisa como Município de Dom Pedrito. no sentido Sul (S), Norte (N) 4.1.9.1 Na Região 01 – Basalto: Os rios dessa região basáltica são fortemente encaixados, porém os leitos foram escavados nas áreas de menor espessura do derrame de lavas, suavizando em parte, o encaixamento dos vales. 63 A configuração dos leitos, a partir do tipo de relevo, favorece um rápido aumento do nível das águas por ocasião das chuvas intensas sobre solos litólicos ( rasos) e favorecido pelo escorrimento superficial. São leitos apertados com passagens estreitas. São rios que em estiagens mais prolongadas no verão podem se cortar secando em alguns trechos. Condição esta que impediu o avanço da orizicultura na região 01. Na bacia do Rio Ibirapuitã pela condição de solos rasos, é ocupada predominantemente pela pecuária extensiva • Rio Quaraí é formado pelos seguintes afluentes: Arroios invernada, A. da Aroeira, A. dos Moirões, A. dos Trilhos, A. Espinilho , A. do Ingleses A. Passo da Lagoa, A. do Jeromita, Sanga da Tuna, A. de Gato e A. Sarandi, A. Caty e outros pequenos arroios e sangas. • Rio Ibirapuitã é formada pelos afluentes Ibirapuitã- Chico de maior volume, pelos arroios Sarandizinho, Passo do Cerrito, A. Sociedade, A. Lageado, A. Camelos, A. Funchal A. do Chapéu. A jusante da foz do Rio Ibirapuitã Chico, destacam-se os arroios: A. Lagoinha, A. Restinga Seca, A. Santo Eustáquio, A. do Peral, A. das Pedras, A. Mangueira de Pedra, A. dos Cardosos, A. Santo Agostinho e outros pequenos afluentes. 4.1.9.2 Na Região 02 – Arenito: A Bacia do Rio Ibicui é diferenciada em relação á anterior devido a natureza do relevo. O curso dos rios é feito em terrenos arenosos da bacia sedimentar da depressão central. O alagamento das margens na formação de restingas (banhados), várzeas e campos de pastagens é uma conseqüência do escoamento mais lento, decorrentes de um menor gradiente de declividade. 64 A orizicultura ocupa grandes extensões nas várzeas e próximos aos leitos dos afluentes que formam o Ibicuí da armada em toda a região 02. Ocasionando desmatamentos, drenagem de banhados e a utilização de práticas de manejo do solo não adaptadas que promovem alterações no volume hidrológico, agravando situações de conflito de uso da água. Rio Ibicuí da Armada tem por afluentes Sanga Funda, Rio e Arroio Upamaroti, Sanga e Banhado da Goiabeira, A. da Caneleira, A. do Gambeta, Banhado do Ibicui, A. Carolina, A. da Florentina, A. do ibicui da Faxina Pesqueira, A. Passo do Guedes, Restinga da Cruz, A. da Cruz, A. do Forno, Restinga da Tafona, A. Porteirinha, Sanga Preta, A.Tarumã, A. Vacaquá, A. Ibicui da Cruz, A. Vaqueiros, Restinga do Itaquatiá, Restinga da Pitangueira, Banhados do Campo Alto, Conceição e Marrecos e outros pequenos afluentes. (Anexo B1) 4.2 Evolução e Diferenciação dos Sistemas Agrários: Usando o método de entrevistas semi-estruturadas com informantes chaves e da pesquisa bibliografia disponível, pode-se identificar os 05 sistemas agrários que evoluíram e se sucederam ao longo do tempo do município de Santana do Livramento. 4.2.1 Sistema Agrário Indígena – até 1634. Subsistema – Extrativista e agricultura. As primeiras comunidades foram os indígenas Charruas, Bohanes, Chanás, Yarós e Minuanos que formaram a grande nação Charrua, pela semelhança de seus costume e linguagem. Vestiam –se de peles de animais, e alimentavam –se de carne de veado, avestruz, capivara, tatu e ratão do banhado, de pequenos roedores, aves e peixes. 65 Vindos da Amazônia, os guaranis ocuparam amplos espaços nos vales dos rios Paraguai, Paraná, Uruguai e Jacuí. Seu sistema sócio – econômico se baseava principalmente na agricultura da mandioca, milho, porongos e feijões, além da pesca, que dissecavam e defumavam. Os Charruas foram os primeiros a habitarem as pradarias ( Região 1 – Basalto ), onde podiam caçar e pescar, e os Guaranis, as beiras de rios, e próximo aos matos ( Região 02 – Arenito ), mais propícias à agricultura de subsistência. Ambos usam plantas silvestres na alimentação. Utilizam ferramentas manuais, o arco e flecha, lança com ponta de pedra e as boleadeiras, moravam em toldos de capim. O trabalho era realizado pela tribo como um todo onde havia castas. As mulheres cultivavam e os homens caçavam e pescavam. As relações de troca eram através do escambo e para o autoconsumo, apenas o excedente era trocado entre outros grupos de indígenas. Como na região 01 predomina o solo de basalto apenas em pequenas áreas eram praticadas agricultura geralmente próximas aos mananciais de água. Na maior parte da região, era destinada a farta caça de animais silvestres. Na região 02 o solo é originário do arenito mais favorável à prática da agricultura realizada com mais intensidade pelos índios Guaranis que habitavam em maior número essa área. A caça e a pesca também era farta, pois os maiores mananciais de água e as matas nativas estavam localizados nessa região. A agricultura praticada era de coivara em pequenas áreas que eram cultivadas com sementes próprias. 66 A produção tanto da agricultura, como a extrativista e artesanal destinava-se ao consumo próprio e ao escambo entre as famílias da tribo assim como de outras tribos. A transição para o sistema agrário seguinte ocorreu a partir da estâncias missioneiras dos padres jesuítas que se espalharam na região. O aculturamento dos índios pela catequização dos missionários provocou mudanças nos seus costumes e do modo de vida. Com o objetivo de alimentar os povos das reduções, os jesuítas foram os pioneiros em trazer gado para a região a partir de 1634, vindos da banda Ocidental do Rio Uruguai quando ocorreu a histórica tropeada do padre Cristovão de Mendonza e Pedro Romero, sendo os mesmos considerados os primeiros tropeiros do Rio Grande do Sul a trazer de Corrientes, gado Vacum, hoje província da república Argentina, calculada em 1.500 reses, ovelhas, cavalos e aves domesticadas. Dava-se assim início ao ciclo do gado. Data dessa época também a entrada de eqüinos que vieram juntos com a tropa de animais trazidos pelos jesuítas; no entanto, acredita-se que os Charruas e Minuanos pela sua condição de nômades já andassem a cavalo, conseguidos através do contato com algumas tribos do outro lado do rio Uruguai. Mudou assim de forma radical a maneira dos índios de explorarem o seu meio ambiente. A partir de desse momento passam a praticar uma agricultura mais intensiva com instrumentos trazidos pelos jesuítas e a criar o gado e outros animais. 4.2.2 Sistema Agrário das Missões I – 1634 / 1682. Subsistema – N a região 01 Basalto - Pecuária e agrícola. Subsistema – Na região 02 Arenito - Extrativista e agrícola. 67 4.2.2.1 Na Região 01 do Basalto: Nessa região encontram-se as pastagens de melhor qualidade. Ao longo dos mananciais dos cursos de água se instalaram as estâncias missioneiras praticando nas áreas propicias a agricultura nas partes baixas das coxilhas agricultura de subsistência como o milho, feijão a mandioca e a batata doce. O trigo também foi primeiramente cultivado por eles. A pecuária de corte é a principal atividade junto com a criação de pequenos animais, inclusive o rebanho ovino. Os jesuítas já introduziram além das ferramentas manuais de metal os equipamentos tracionados a boi e cavalo. O sistema de trabalho é organizado pelos missionários com a mão de obra indígena e dos próprios jesuítas. Os produtos são destinados ao autoconsumo, armazenados para o período de entresafra e escambo. Alguns excedentes como o sebo, couro e as crinas ( cabelos do animais) são comercializados pelos jesuítas. Os índios que ainda não foram catequizados continuam a usar o seu sistema tradicional de cultivo, o arco a flecha, a lança e as boleadeiras para caça e pesca de animais silvestres. 4.2.2.2 Na Região 02 do Arenito : Os índios que habitavam os campos e matos dessa região sofreram uma menor influência dos catequistas missionários em primeiro momento. As estâncias missioneiras não haviam se instalado nessa área. Os índios permaneceram com seu sistema extrativista e plantio de queimada ( coivara ), por mais tempo. 68 Os instrumentos permanecem os mesmos do período anterior, feitos de madeira, pedra e ossos. A canoa também é esculpida em tronco de árvores. A transição para o período seguinte ocorreu pelo contato mais intenso com outros índios já catequizados e pelos próprios missionários da região 1 das estâncias missioneiras. As duas regiões do Basalto e do Arenito sofreram com o ataque dos marchantes de indígenas organizados em grupos, denominados de bandeiras ( Companhia ), que se internavam pelos sertões a dentro na busca de ouro, pedras preciosas e silvícolas. Na capitania de São Vicente ( São Paulo), a mão de obra operária era escassa e deficiente, o que levou o colono a apelar para o braço cativo, começando por recrutar os índios, então abundantes e baratos. A primeira bandeira que penetrou no Rio Grande do Sul foi a de Antônio Raposo Tavares, atingiu as reduções jesuíticas em Julho de 1636. Os bandeirantes e mamelucos∗ destruíram quatorze reduções guaranis, calculando-se em cinqüenta mil pessoas, já cristianizadas, mortas ou escravizadas pelos caçadores de índios. Provocando a fuga dos jesuítas e dos índios que sobraram para a outra margem do Rio Uruguai onde ficaram sob a proteção dos espanhóis e próximos aos outros povos mais bem fortificados. Ficando aqui o gado em grandes rebanhos, proliferando-se pelos campos da região. O gado vacum, assim como o eqüino e também o ovino, tornou-se isento de qualquer título de propriedade. 4.2.3 Sistema Agrário das Missões II e da Colônia de Sacramento – 1682 /1814 Subsistema estruturado na Preação do gado. 69 ∗ mestiços: filhos de índios com brancos Os jesuítas quando aportaram no Rio Grande do Sul novamente encontraram um ambiente completamente modificado pelas condições impostas com a introdução do gado, que se esparramara pelas pradarias em todas as direções. As missões foram reorganizadas de onde surgiram os sete povos que foram transformados em grandes estâncias de gado. Não havia fronteiras, era uma grande região compreendida do rio Ibicuí até o Rio Arepeí no Uruguai. Os índios já tinham se transformados em cavaleiros e tinham aprendido a comer churrasco. Foram os primeiros a se aproveitar da gadaria solta para sua sobrevivência. Observando o sistema de abastecimento dos Índios Charruas, nota-se a enorme diferença havida entre os séculos XVI e XIX, em que os índios trocam toda sua alimentação, permanecendo apenas as avestruzes, brotos e juncos da dieta anterior. Para as toldoarias passam usar couro ao invés de palha, e o cavalo torna-se indispensável em suas vidas, tanto para caçar, como principalmente para prear gado e lutar. Aparecem as primeiras trocas de produtos de animais por tecidos e roupas e, num segundo momento, os charruas trocam, apropriam-se, fazem tudo para conseguir instrumentos metálicos, cachaça, erva mate e principalmente cavalos e bois. Também para os índios guaranis que viviam na região 02 do arenito o gado modificou totalmente os seus hábitos de vida. Contudo, continuavam a cultivar pelo sistema de coivara para a sua subsistência. “Sem o gado vacum e cavalar faltaria a base econômica principalmente das Reduções: não teria sido possível chegarem à altura que chegaram nas artes e ofícios ( ... ) nem na vida civil e religiosa ou na importância política e militar “ ( Pesavento, 1979). 70 “Verdadeiramente pode-se falar em geopolitica do gado na banda Oriental. Durante vários séculos a vida e história da banda Oriental se encaminha grandemente atrás do boi, que foi tenazmente implantando nela pela mão do antigo missionário jesuíta”. “A história do gado vai ser, de ora em diante, nesse meio em que se debatem dois povos (portugueses e espanhóis), por antagonismos político- econômico, a própria história do homem e da terra “(Albornoz , 2000). O gado, tendo à sua disposição as enormes e riquíssimas pastagens dos campos largos, abrigadas por suntuosas matarias esparsas e servidas por aguadas abundantes, chegou às praias do atlântico, nos limites da província do Uruguai. Só o rebanho bovino foi calculado, na época, superior a um milhão de cabeças e os outros tornaram-se inumeráveis. Os Minuanos inventaram as boleadeiras e o laço. Com estes instrumentos preavam no campo cavalos e bovinos. Os desgarroteadores também eram utilizados na caça ao gado equipamento em forma de “ U “ presos a cabo de lança e tendo sua parte interna afiada, que ao encostar da pata traseira do bovino provocava o rompimento do tendão de ligamento da pata ( Garrão ) dos bovinos fazendo com que esse perdesse o equilíbrio e caísse para ser apreendido para retirar-lhe o couro. Os paulistas vieram para levar tropas de gado para as Minas Gerais, onde se necessitava carne e transporte. Os espanhóis e seus descendentes mestiços, principalmente os da região de Santa Fé, que vinham atrás de couros, contrabandeados através da colônia, eram “aventureiros e elementos foragidos”. O primeiro grande ciclo econômico do território da margem esquerda do rio Uruguai foi a courama. Não se tratava de criar rebanhos, mas de caça ao gado (Preação) para retirarlhe o couro e o sebo. ( Viera, E. F.; Rangel, 1989 ) 71 Algumas tribos continuavam usando os seus instrumentos tradicionais, as toldarias e as canoas passaram a ser construídas com couro. As armas de fogo começam a ser utilizadas pelos portugueses e espanhóis. As plantações continuam a serem as mesmas do período anterior, somente o uso do trigo fica mais difundido entre os indígenas. Nas missões e nas estâncias missioneiras a agricultura é praticada com recursos da tração animal e as áreas de cultivo são ampliadas. Observa-se que nesse período havia duas maneiras da exploração dos bovinos. No caso das estâncias missioneiras e de algumas tribos, esses voltaram a domesticar animais inclusive bovinos para criação. Enquanto os portugueses, espanhóis e outras tribos de índios criam sua própria etnia, o gaúcho, um nômade errante de forte instinto militar, que vive da preação do gado. A extrema mobilidade da população, para quem a linha de Fronteira nunca foi um limite intransponível, era uma característica importante das populações. A história do gado passa a ser também o embate de dois povos ( português e espanhol), por antagonismos político-econômicos. E esse grande empório comercial foi que veio apurar as delimitações entre Portugueses e Espanhóis, através da linha seca que separa os dois povos. Desde São Vicente, seguindo o caminho de Laguna, desce o paulista, iniciando em 1725 sua entrada nas terras do sul. Luta e conquista o silvícola. Associa-se ao gaúcho platino. Juntos defendem os mesmos interesses, e nem as guerras entre dois povos puderam interromper essa clandestinidade. E têm início, em 1733, as grandes arriadas de mulas e tropas de gado Vacum, num constante vai e vem, para abastecer os carentes e ricos centros consumidores de São Paulo e Minas Gerais. 72 “A interação entre os portugueses, espanhóis e índios charruas e guaranis se baseava nos modos de produção –caça ao gado selvagem, roubo de gado das estâncias missioneiras e dos colonizadores ibéricos e criação de gado que se adaptava ao modo de vida, especialmente os charruas, que eram caçadores e não praticavam. Tornou-se fonte de renda fácil. São Charruas, Minuanos, Rio-Grandenses e Platinos. E essa terrível classe rural subdivide-se em charqueadores, gaudérios, tropeiros e changadores.” ( Albornoz, 2000 ) Nos quase cem anos em que durou a Colônia do Sacramento constituiu-se num entreposto comercial de importação e exportação, assim o contrabando deixou de ser delito de fronteiras, pois estava oficializado pelas autoridades de fronteiras portuguesas. Além do comércio havia o objetivo político de ocupar todo o Continente de Rio Grande de São Pedro, do qual se transformou numa ponta de lança. (Albornoz, 2000 ) Os espanhóis não assistiram tranqüilamente essa ocupação, reagindo de maneira violenta algumas vezes; de maneira pacífica, através de tratados e leis, noutras. Dom João V, de Portugal, e Dom Fernando, da Espanha, cansados de lutas estéreis na América, sentiram a necessidade de um novo tratado que pusesse fim às contendas coloniais, resultando então o célebre Tratado de Madri, de 13 de janeiro de 1750. (Figueiredo, 1993) A impressão causada por esse Tratado, a princípio, foi muito boa, porém, a sua execução foi cruel e desumana. Concordava que a Espanha entregaria os Sete Povos das Missões a Portugal e este lhe devolveria, em troca, a Colônia do Sacramento. (Figueiredo, 1993) Os jesuítas pediram três anos para darem cumprimento à ordem emanada da Corte, porém receberam apenas um ano. ( Figueiredo, 1993) "A Colônia do Sacramento se entregará por parte de Portugal, sem retirar dela 73 mais que a artilharia armas, pólvora e munições, e embarcações de serviço da mesma praça; e os moradores poderão ficar livremente nela". ( Figueiredo, 1993) Já o que determinava o famigerado art. XVI- "Das povoações e aldeias que cede SMC na margem oriental do Uruguai, sairão os missionários com todos os móveis e efeitos, levando consigo os índios para aldear em outras terras da Espanha; e os referidos índios poderão levar também todos seus bens móveis e semoventes e as armas, pólvora e munições que tiveram em cuja forma se entregarão as povoações à Coroa de Portugal com todas suas casas, igrejas e edifícios e a propriedade e posse do terreno". ( Figueiredo, 1993) Em 1777 com o tratado de S. Ildelfonso finalmente os espanhóis detém para si a Colônia de Sacramento e as Missões Orientais do rio Uruguai em troca da ilha de Santa Catarina e os territórios das bacias dos rios Jacuí e Camaquã. (Figueiredo, 1993) Portugal não conseguiu manter o Continente, mas a Espanha não ficou com a banda Oriental só para si. Nesse intercâmbio político, econômico e social de quase cem anos – 1680 a 1777 – em que as linhas de fronteira mudaram tantas vezes, os ibéricos dividiram o território entre si, e os índios foram os grandes perdedores. Talvez por isso os Charruas tenham se aliado aos Guaranis contra os exércitos de Portugal e Espanha, na Guerra guaranítica. Derrotados, integraram –se como peões ou soltados em qualquer lado da fronteira, preferindo muitas vezes a marginalidade dos roubos de gado e do contrabando. (Albornoz, 2000) Tanto pelo tratado de Madri como de S. Ildefonso, a área entre os rios Ibicuí e o Arapeí, afluentes do rio Uruguai, permaneceu em território espanhol, não tendo desenvolvimento urbano até o século XIX, constituindo-se numa região de povoamento tardio em relação a qualquer das forças expansionistas em choque. Em 1785 cinco caciques Minuanos, uma das parcialidade Charruas, pediram para passar o Rio Vacacaí, limite sul dos português. Alegavam que os espanhóis 74 queriam matá-los, enquanto os lusos lhes davam roupas. Era um grupo com 570 adultos e 420 crianças, que se mudaram com 1.460 cavalos e 2.600 cabeças de gado. (Albornoz, 2000) As padrarias entre os Rios Arapeí e Quaraí foram territórios de caça dos charruas, depois estâncias missioneiras e após local de preia ao gado que se desenvolvia, e se tornaria a característica mais marcante da região. (Albornoz, 2000 ) Com a execução do tratado de Madri e posteriormente de Ildelfonso, é decretada a decadência dos sete povos das missões e das estâncias. Passando a ser administrados por portugueses esses tratam os índios como escravos e acabam aos poucos abandonando as reduções em 1800. Com o fim das missões, a expulsão dos padres jesuítas, os índios que passaram a serem tratados como escravos, também fugiram das missões e passaram a trabalhar como peões ou como gaudérios. (FIGUEIREDO, 1993) Em 1811 um contigente militar se desloca para a fronteira e instala um quartel militar na localidade de São Diogo. Militares a medida que dão baixa começam a se instalar em estancias na região. Já a partir de 1814 são distribuídas as primeiras terras de sesmarias∗ da fronteira a famílias importantes, ligadas ao governo português. As sesmarias foi a forma mais eficiente de posse do território do que a praticada pelos espanhóis que instalavam agrovilas com infra-estrutura. Nesse período vieram as primeiras famílias de sesmeiros se instalar na região, descendentes de portugueses. Traziam com eles outras famílias de agregados que eram responsáveis pelo trabalho no sistema de compadrio e formar contingente militar para a defesa do território no caso de guerra com os espanhóis. A mão de obra escrava negra e de índios era utilizada por esses primeiros sesmeiros. Diferente dos senhores de 75 ∗ A sesmaria correspondia a três léguas por uma légua de terra ( 13.068 há ), que era concedida pela autoridade militar, geralmente a antigos soldados e oficiais. O titulo de propriedade de terra diferenciava socialmente quem o recebia, levando-o a defender, além da sua pátria, seus próprios interesses. (ALBORNOZ, 2000) engenho no nordeste, aqui os sesmeiros eram famílias de menos posse que trabalhavam na terra e com o gado. Como as sesmarias eram grandes extensões de terra, os sesmeiros costumavam arrendar as mesmas a outros ibéricos para a pecuária. Assim os campos foram se povoando. O gaúcho, o militar e os posseiros foram levantando suas casas e construindo suas estâncias Surgiu, então, a classe remediada ( média da sociedade Rio Grandense, de costumes rígidos, protegida pelas autoridades militares, por serem seus patriarcas oriundos das suas fileiras ou filhos deles). Os distúrbios na fronteira, no sul, continuavam se acentuando cada vez mais, estimulados por comércio clandestino, que se fazia por vários pontos. Com o consentimento dos portugueses e a despreocupação dos espanhóis, o contrabando era desenfreado. A expansão luso-brasileira atingia as raias dos campos neutrais, tantos eram os sesmeiros que aí iam se estabelecendo com concessões que lhes eram distribuídas pelos Comandantes Gerais e Vice rei do Rio de Janeiro. Enquanto se processava esse plano, por parte do luso– riograndeneses para acelerar a fixação da nossa fronteira, com a intenção de ultrapassá-la, os espanhóis permaneciam displicentes, com toda larga faixa demarcatória, desguarnecida, mais entretidos no contrabando que faziam abertamente. E assim iam cruzando a Coxilha divisória, tropas de gado, cavalhadas, couros, sebos, fumo em rolo, escravos e artigos da Índia. D. João, príncipe regente, ordenou ao Capitão Geral do Rio Grande de S. Pedro, D. Diogo de Souza, a invasão da banda oriental pelo autodenominado “ Exército Pacificador da Banda Oriental “. Esse exército dividia-se em duas colunas, sendo que uma delas acampou em território oriental, às margens do Rio Ibirapuitã, no atual município de Sant’Ana do Livramento recebendo a denominação de “ Acampamento de São Diogo “. ( Albornoz, 2000 ) Esse acampamento chegou a ser chamado de Cidadela, e chegou a ser dotado de grandes armazéns, um hospital , contando com 1.029 homens em armas. 76 Voltando à fronteira, após a invasão do Uruguai, a tropa acampou novamente em S. Diogo, ficando marcado o limite do Rio Quaraí pelo “uti possidetis“, valendo até hoje. As primeiras sesmarias começaram a ser distribuídas em 1814, a antigos oficiais e soldados do Exército dito Pacificador, bem como a civis ligados à Coroa ∗. Podendo ser considerada a primeira origem de Sant’Ana do Livramento, o acampamento militar da localidade de São Diogo em 1811. ( Caggiani, I, 1988) O ciclo do charque Inicia partir da instalação do Saladeiro de Pelotas em 1780, em seguida foram construídas outras unidades no interior da região, mudando o interesse do ciclo do couro para a carne ( charque). Estes fatores acima citados foram responsáveis pela troca do sistema agrário existente para o próximo período. 4.2.4 Sistema Agrário das Charqueadas - 1814 / 1930 Subsistema Pecuária de Corte Na região 01 das pradarias no basalto foram instaladas as primeiras estâncias de sesmarias para apreensão e criação do gado, a partir do quartel militar de são Diogo estratégico para a defesa das terras ibero-brasileiras. Na região 02 dos campos e matas, por ser uma zona de contínuo litígio com os índios e espanhóis que a dominavam, também foram instaladas estâncias de sesmarias e um grande número de pequenos produtores agregados e colonizadores para a defesa. 77 ∗ Somente em 1814, foi doada, pelo Governador da Capitania de São Pedro do Rio Grande, Conde da Figueira, a primeira sesmaria, com extensão de três léguas quadradas de campo, a Luciano Pinheiro, seguiram-se diversas outras: Antônio João de Menezes, Antônio Pinto de Azambuja, Belarmino Coelho da Silva, Salvador Lopes de Vargas, Manuel Alves Coelho de Morais, João da Costa Leite, Marcos Goulart Pinto e Custódio Teixeira Pinto (PIMENTEL, 1943, p. 6, 25). Nessa região iniciou o desmatamento para o plantio de lavouras comerciais e para o autoconsumo das estâncias. As sementes eram de origem próprias ( crioula ). Os principais produtos plantados eram o milho, o trigo e as plantas de subsistência como a mandioca, batata e o feijão. Estas culturas eram cultivadas em ambas regiões, a diferença estava na escala de plantio e no volume de produção. O manejo com queimadas e pousio continuavam como práticas comuns. Os instrumentos de produção, equipamentos e construções praticamente são os mesmos utilizados no período anterior. São construídos um maior número de casas, estâncias e instalações como mangueiras, bretes para o gado e cercas para divisão de terras. O que difere da região 01 do basalto para a 02 do arenito é o tipo de construção, enquanto na primeira as mangueiras e as divisas são feitas de pedra na segunda predomina a madeira e o arame. O cercamentos dos campos, melhoramento dos rebanhos pela mestiçagem, o incremento das pastagens, chegaram muito mais tarde ao norte do Uruguai e ao sudoeste do Brasil. O aramado, quando chegou, não significou melhorias técnicas no processo produtivo, mas diminuição de pessoal empregado – e conseqüentemente, queda nos salários. (Albornoz, 2000) Os rebanhos começam e continuam a ser apreendidos e domesticados. Nas duas regiões, a principal atividade é a pecuária de corte. Na região 02, por ter uma aptidão mais agrícola, esta é praticada em maior intensidade, quer pelos portugueses quer pelos descendentes dos espanhóis. Alguns insumos para o gado começam a ser utilizados, como o arsênico. E nas lavouras, o esterco passa a ser aplicado. O gado começa a ser manejado em rodeios, são feitas as marcações, cruzamentos com raças européias e o uso do touro junto a matrizes o ano inteiro. 78 A mão-de-obra e a força de trabalho é a mesma do período anterior. O escravo negro é liberado a partir de 1884 das estâncias e dos Saladeiros onde, nesses últimos, eram usados em grande número. Os agricultores agregados mantêm uma estreita relação de lealdade com os grandes sesmeiros que envolve troca de favores num primeiro momento e mais tarde na doação de pequenas áreas de terras por reconhecimento a serviços prestados, para mantê-los sob seu domínio econômico como mão de obra barata e posteriormente por interesses políticos. O arrendatário e os posseiros pecuaristas são personagens que surgem em grande número, devido a dificuldade da administração das grandes extensões das sesmarias e para fins militares. Com isto, há um aumento da caça e pesca predatória e a diminuição dos rebanhos de espécies nativas como o veado campeiro. As relações comerciais são dos produtos de origem animal: a carne, o couro e o sebo são vendidos e/ou trocados. Os bovinos são consumidos nas propriedades, vendidos em tropas para os Saladeiros, ou para fora do Estado. O charque, a língua em conserva e a carne congelada são os principais produtos industrializados a partir de 1920. Dentro das grandes propriedades, há uma relação de troca de produtos agrícolas de subsistência dos agregados com os sesmeiros. Assim como os excedentes agrícolas da região 02 são vendidos, como o trigo e o milho. Há importação de vários gêneros alimentícios, artigos vindos da índia como o fumo em corda . Do país vizinho, se podiam conseguir armas, mantimentos e dinheiro com a venda de tropas e dos couros. 79 A década de 1840 à 1850 foi marcada por várias revoluções de lutas armadas internas tanto do lado Uruguaio como do lado Brasileiro quando da Revolução Farroupilha. Nessa época Sant'Ana era uma já era uma vila, com dez mil habitantes. Sua principal atividade econômica era a pecuária, mas o comércio também era importante. Seu papel de entreposto comercial entre o norte do estado e Montevidéu continuava, embora um pouco prejudicado pela nova povoação uruguaia. Metade da população santanense era de estrangeiros, que preferiam o lado oriental, onde se pagavam impostos muito mais baixos, barateando o preço das mercadorias. (Albornoz, 2000 ) O Cel. João Francisco foi empossado pelo então governador Júlio de Catilhos, comandante supremo da fronteira com a Brigada Militar, como o 2º Reg. De Cavalaria provisória, com a missão de vigiar a zona compreendida entre Livramento, Quaraí e Alegrete.” Quando o quartel do Cati foi edificado dentro da melhor engenharia da época, com gás acetileno e água encanada, que não existia nas cidades da região. O pobrerio que vivia marginalizado depois dos cercamentos dos campos, sobrevivendo dos assaltos e saques, era controlado com mão de ferro. ( Caggiani, I,1988) Na campanha, nos ranchos do pobrerio, ficaram só as crianças e mulheres. Os homens tinham que entrar para a Brigada, como “voluntários“, ou fugir para bem longe. (CAGGIANI, I , 1988) O período foi marcado pela cadeia de carne para as charqueadas que influenciou de forma direta no sistema de produção dos estabelecimentos rurais. Com objetivo de contextualizar esta influência nesse sistema agrário forma resgatados os seguintes fatos históricos. A charqueada Anaya - lrigoyen para Sant'Ana, foi em decorrência dos seguintes motivos: por problemas políticos de seus proprietários no Uruguai, o aumento das taxas para proteger o produto gaúcho, a linha de trem na fronteira já existente entre 80 Rivera e Montevidéu e o apoio das autoridades de ambos os países. Como o Brasil era o maior mercado para o charque, seguido de Cuba, valia a pena instalar-se no país. As obras da fábrica saladeiril iniciaram em 1903, começou a produzir em 1904, e venderam o estabelecimento, já com a fábrica de conservas, em 1917 para a Companhia Armour. Pelotas se havia transformado na "Princesa do Sul" com as indústrias do charque, que forneciam grandes quantidades de gado, levados em tropas a grandes distâncias para as charqueadas, que chegaram a 38, no período áureo. Bagé também recebia as tropas da campanha, já que em 1884 havia trem para fazer a ligação com o porto de Rio Grande, e em 1897 inaugurou sua primeira charqueada - Santa Tereza - com cinqüenta operários. Dez anos depois, já tinha cinco indústrias saladeiras. ( Albornoz, 2000 ) Uruguaiana tinha charqueadas desde 1864, embora de pequenas proporções. Em 1887, com capital uruguaio, abriu um moderno saladeiro industrial na barra do Rio Quaraí. Hipólito Lesca fabricava charque, couros salgados e línguas em conserva, que eram remetidos para o Brasil através do porto de Montevidéu, utilizando também a estrada de ferro uruguaia. (Albornoz, 2000) Em 1894, seguindo o mesmo estilo, a firma anglo-uruguaia Dickinson Hermanos abriu o Saladeiro Novo Quaraí, nessa cidade fronteiriça, disputando com Uruguaiana, as safras de Livramento. ( Albornoz, 2000) Em 1904 ficou pronta a Charqueada Livramento, constituindo “ um verdadeiro complexo industrial “, onde além da preparação do charque, havia a “ fábrica de velas, e de sabão.”Foram instalados sete poços artesianos e construídos 12.000 metros quadrados, além de uma usina de luz elétrica.(Albornoz, 2000) O Saladeiro Livramento encontrava-se no centro da região da campanha, uma localidade onde a principal atividade econômica era a pecuária, com pradarias a perder 81 de vista, complementando a produção primária com a sua industrialização. As rendas do município pularam de 119 contos de réis em 1902, para 190 contos em 1905. Em 1907 já era a segunda maior firma do Rio Grande do Sul em valor de produção, contando com 410 trabalhadores. No mesmo censo, realizado pelo Centro industrial do Brasil, era considerada a 16º empresa industrial brasileira. (Albornoz,2000) Para as duas cidades Livramento e Rivera, foi um grande avanço poder industrializar a carne, sua principal produção. Apesar de o capital do Saladeiro ser uruguaio, o trem e a estrada de ferro também, o pessoal especializado ser de língua espanhola, não pareceu estranho a ninguém, dada a mentalidade aberta aos estrangeiros, típica da região. O progresso foi muito bem recebido, mesmo que as forças vivas das duas cidades tenham desempenhado um papel secundário na implantação e desenvolvimento do processo industrial. Além da pecuária ser uma atividade com pouca capitalização, principalmente sem nenhuma atividade transformadora, chegaram na fronteira com um atraso de dois séculos. Principalmente, não havia mentalidade empresarial. Os estancieiros preocupavam-se em aplicar seus recursos em compra de mais terra, despreocupando-se com a implementação de técnicas pecuárias modernas. Havia na fronteira uma mentalidade pré-capitalista, com costumes patriarcais. ( Albornoz, 2000) Em 1911 Livramento já tinha quatro grandes charqueadas, Sociedade Industrial e Pastoril, Charqueada São Paulo e Bela Vista, além da primeira Charqueada Livramento. Constitui-se no segundo maior centro da abate do estado, atrás apenas de Bagé, pois estava no centro da maior região de produção pecuária do estado e do Uruguai.( Albornoz, 2000) A maior charqueada continuava sendo a Anaya- Irigoyen, que matara nesse ano um terço do total santanense – 52.000 em 150. 799 cabeças de gado, sendo que em todo o estado foram abatidos 732. 852 cabeças. ( Albornoz, 2000 ) 82 Além do Saladeiro, funcionavam fábrica de velas, sabão, línguas em conserva, e do sebo que era vendido em pipas. Pouco antes da Guerra∗, foi instalada uma fábrica de carne em conservas, para produzir em grande escala. Além das máquinas para elaboração de latas, desde 250 gr até 3.000 gr, a produção principal passou a ser Corned-beef, Boilled- beef e extrato de carne. (Albornoz, 2000) O desenvolvimento industrial trouxe consigo um crescimento econômico de todos os setores da sociedade. Os estancieiros se capitalizaram, pois seus gados valiam mais, não tendo que deslocar-se até as cidades vizinhas, como Bagé, Pelotas, Uruguaiana ou Quaraí. O comércio vitalizou-se, pois havia mais dinheiro rodando. O setor de construções também foi estimulado. Além do trem, Rivera teve a vantagem de que os profissionais qualificados que viessem para a região norte do Uruguai, ficariam isentos de pagar impostos. Esta medida trouxe pessoal de construção habilitado, que trabalhava nas duas cidades, Em 1889 havia em Livramento 847 prédios, e em 1912, 1.627, quase o dobro em 23 anos. Em 1918, já havia 2.129, num aumento de 30% em apenas seis anos. (Albornoz, 2000) Assim como houve progresso urbano, houve também progresso na área rural. A maior capitalização dos pecuaristas levou-os a investir em casa na cidade e em beneficiamento na estância, que a proximidade com o sul do Uruguai e com a Argentina ajudou. A pecuária e a manufatura do charque foram, por longo tempo, as principais atividades econômicas do Rio Grande do Sul e da região. Mas o aumento da concorrência externa e interna levaram progressivamente à decadência da atividade ∗ "A primeira remessa de carne enlatada que saiu do Brasil para as forças aliadas, na primeira Guerra Mundial em 1914, foi a elaborada no Saladeiro',que a vendeu para o exército francês .” ( Albornoz, V, org, 2000) 83 charqueadora e, com ela, ao comprometimento da rentabilidade da pecuária. Entretanto, a expansão da demanda por carne, decorrente da Primeira Guerra Mundial∗, abriu a oportunidade para o ingresso, no Rio Grande do Sul, de empresas estrangeiras de beneficiamento da carne, voltadas principalmente ao setor externo. “Tal ocorrência possibilitou que os frigoríficos estrangeiros pudessem estabelecer-se em regiões do globo que possuíam rebanhos numerosos, mas não refinados, como no Brasil. “( Albornoz, 2000) Nessa conjuntura, estabeleceu-se em Santana do Livramento a Companhia Armour, empresa norte-americana que já operava no Uruguai e na Argentina. A partir da aquisição da firma Anaya e Irigoyen, em 27 defevereiro de 1917, e sob o nome de Frigorífico Livramento, produziu, a partir daquele ano, carne conservada e, a partir de 1920, passou a exportar carne congelada, corned-beef , couro, extrato de carne, graxa, etc. ( Albornoz, 2000) Também estabeleceu-se em Santana do Livramento o frigorífico da Companhia Wilson, de propriedade da “Wilson and Company Incorporation”, que beneficiava, ainda que em menor escala, carne bovina e ovina. Estabelecida a partir da aquisição da charqueada da Sociedade Industrial e Pastoril, a empresa iniciou suas atividades em 15 de agosto de 1918 (Pimentel, S.D., P. 120; Pesavento, 1980, p. 140). A união dos criadores descontentes com os valores pagos pelos frigoríficos e junto com o governo buscaram a instalação de um frigorífico de capital nacional, quando em setembro de 1917 o frigorifico Rio Grande instalou-se na cidade de Pelotas. ( Albornoz, 2000) Em 1920, quando começou a funcionar o frigorífico de capitais nacionais, que deveria ser uma barreira ao monopólio das empresas estrangeiras, estas já possuíam quatro grandes plantas industriais no estado. ∗ A conjuntura da Grande Guerra em 1914, aumentou a demanda de carne, especialmente para alimentação das tropas. A carne resfriada, que exigia novilhos selecionados, cedeu lugar à carne congelada, em que se utilizava rebanhos de mais baixa qualidade. ( Albornoz, V era, 2000 ) 84 Em 1922, em uma pesquisa realizada foram selecionados onze estancieiros da cidade. Esses empresários rurais escolhidos podiam não ser representativos dos demais, mas é significativo que todos criassem gado bovino das raças européias – Hereford, Durhan, Devon e Polled Angus, e ovinos – Roubouillet, Merino, Rommney- March e Lincoln. Desses onze, apenas um não tinha campo dividido em potreiros, com cercas de arame. ( Albornoz, 2000 ) No entanto, pode-se afirmar que o tamanho das invernadas variava de 174 a 1.016 ha, muitas vezes, do tamanho de uma estância. A grande propriedade predominava, sendo a maioria do criador extensivamente. Neste período, os banheiros sarnicidas e carrapaticidas, eram pouco difundidos o que indica que os cuidados sanitários eram poucos. Na cidade, a média do abate nos anos de guerra foi de 64.371 bovinos, por ano, para as charqueadas. O Armour em fase de construção manteve a produção de carne de conserva, charque, velas e sebo nos três primeiros anos. O frigorífico tinha uma abrangência regional comprando gado de toda a região da campanha. Esse gado chegava em tropas, constando o nome do tropeiro na ficha. Muitas vezes o próprio dono trazia seu gado. Aparecem muitas marcas em cada linha do apontamento porque os pequenos produtores, que mandavam poucas reses, incorporavam- nas em tropas de grandes fazendeiros. ( Albornoz, 2000 ) Trabalhavam em 1919 mais de mil operários, dos quais cinqüenta por cento eram brasileiros, quarenta por cento eram uruguaios e os outros dez por cento era constituídos de argentinos, americanos, ingleses, etc.( Albornoz, 2000) A transição para o sistema agrário seguinte se deu pela redução do rebanho bovino, abate indiscriminado de fêmeas, a primeira crise da pecuária devido a concorrência do charque Uruguaio. O cercamento dos campos promoveu a redução de 85 mão-de-obra e o desemprego; o baixo nível cultural da região. Tais fatores contribuiram para o desencadeamento de crise de ordem social, que promoveram as revoluções militares que ocorreram a partir da região de 1893 até 1923. Finalmente após o termino da I Guerra Mundial, a carne tem o seu preço reduzido no mercado internacional de forma violenta, contribuindo para a falência de muitos saladeiros e provocando uma crise econômica no setor agropecuário e da região que durou de 1920 a 1930. Nesse período começa a consolidar o complexo de frigoríficos da região. A partir de 1930 começa a chegada das primeiras famílias de italianos e alemães para o cultivo do arroz e do trigo em maior número na região 02 do arenito. 4.2.5 Sistema Agrário Considerado Moderno da Agropecuária – 1930 / 2001. 4.2.5.1 Na Região 01 do Basalto: Predominam as médias e grandes propriedades (estâncias), com estabelecimentos consolidados e mais antigos oriundos das sesmarias, onde as principais atividades atualmente são a pecuária extensiva de corte, a ovinocultura de lã e carne, e o arroz irrigado. Os instrumentos de produção praticamente permanecem os mesmos do sistema agrário anterior, sofrendo algumas modificações com o advento do motor á combustão e a energia elétrica. Os equipamentos tracionados por animal passam a ser mecanizados como o trator, automotrizes e veículos utilitários automotores. A esquila que era feita a martelo ( uso da tesoura manual ), passa a usar a maquina de esquila com motor e 86 tesouras mecânicas. As instalações de trabalho passam a ter mangueiras, tesouras e balanças para bovinos e ovinos. Sistema de Cultivo: As culturas de subsistência como o milho e o trigo que eram plantadas no inicio do século XX deixam de ser exploradas devido a problemas de adaptação das novas cultivares mais susceptíveis a estiagem e à mudança do sistema de produção onde os estabelecimentos passam a ocupar menos a mão de obra familiar. No entanto, o milho na região é utilizado para a alimentação animal tanto na forma de grão como de silagem. A cultura do sorgo é introduzida para substituir o milho, pelos freqüentes problemas de frustração de safra nas últimas duas décadas. A orizicultura é a principal atividade agrícola atualmente, sendo explorada por produtores arrendatários de origem italiana e alemã a partir da 2º metade do século XX O arroz entra na região tardiamente pela limitação dos solos e disponibilidade de água, logo, há um menor número de arrozeiros em relação a região 02 do arenito. Sistema de Criação: O sistema de produção da pecuária de corte continua a ser extensivo por área com produtores especializando-se em cria, recria, terminação ( invernadores ), ou fazendo o ciclo completo. Houve uma maior subdivisão dos campos em potreiros, para um melhor manejo dos rebanhos e dos próprios campos nativos. O período é marcado pela melhoria genética com a entrada de novas raças européias, e mais recentemente pelo gado de origem índica ( zebuínos ). Como conseqüência, instalaramse um grande número de cabanhas para a produção e 87 comercialização de reprodutores bovinos, ovinos e eqüinos, sendo uma forte característica dessa região. O controle sanitário de sarna e carrapatos dos animais torna-se mais efetivo, envolvendo o serviço estadual da Secretária da Agricultura do estado do Rio Grande do Sul. Os banheiros carrapaticidas começam a ser difundidos e instalados nos estabelecimentos. A mineralização começa a ser fornecida aos animais. No manejo das pastagens são adotadas as práticas de limpeza dos campos nativos; a implantação de espécies artificiais melhoradas começam a ser utilizadas com cultivo tradicional e posteriormente o uso do plantio direto na resteva do arroz das áreas de várzeas. É uma região onde predominam os campos ( pradarias ), com poucas matas nativas sem proteção para os animais, promovendo a necessidade de implantação de bosques de eucalipto para o fornecimento de sombra e proteção dos ventos frios ( Minuanos ) para aumentar o conforto animal. A ovinocultura para a produção de lã foi uma das principais atividades no seu período de maior prosperidade de 1940 até o inicio da década de 1980. A lã chegou a ter um papel muito importante na economia do município e dos estabelecimentos rurais chegando a custear todas as despesas anuais dos mesmos, propiciando que os recursos da comercialização dos bovinos pudessem ser aplicados em investimentos como na aquisição de mais terras. Os criadores de ovinos para aumentarem a produção, elevaram a lotação dos campos provocando a perda da qualidade de algumas pastagens nativas devido a característica destes animais de pastoreio seletivo, promovendo o aparecimento de plantas mais agressivas e de menor qualidade agrostológica . E mais recentemente está ocorrendo o contrário: com a diminuição dos rebanhos ovinos vem favorecendo o aparecimento de espécies forrageiras de baixa qualidade ( engrossando os campos). 88 Esta diminuição aconteceu de forma rápida, chegando o município a ter a metade do rebanho que tinha na década de 1980, devido ao baixo preço da lã e a redução da mão de obra nos estabelecimentos rurais de forma geral. Esta região é a melhor para criação de ovinos, onde encontravam-se os maiores e mais numerosos rebanhos do município. Atualmente os criadores de ovinos de lã estão cruzando os rebanhos para a produção de carne. Atividade leiteira também é realizada principalmente nos grandes estabelecimentos com um número elevado de animais de excelente qualidade genética, sendo uma característica da região a exportação de matrizes leiteiras. A força de trabalho que predomina é da mão de obra contratada, mas nas últimas décadas houve uma diminuição do número de empregados / estabelecimento. Os pequenos agricultores que vendem mão de obra aos estabelecimentos maiores estão ocupando parte das vagas deixadas pelos contratados pelo seu menor custo. Os proprietários rurais, na sua grande maioria, possuem suas famílias residindo na cidade. A diminuição do tamanho das propriedades originalmente sesmarias, tem ocorrido devido ao processo de herança, principalmente a partir da 3º geração dos sesmeiros que tiveram um grande número de herdeiros, em decorrência de três motivos: o primeiro como mão de obra barata; o segundo, as famílias deviam ser numerosas como estratégia militar; e o terceiro, pela alta mortalidade infantil da época. 89 Os principais problemas relacionados com o meio ambiente foram ocasionados pelas queimadas das pastagens, o uso indiscriminado de solos rasos com a cultura do arroz provocando a erosão laminar; os agrotóxicos utilizados nas lavouras e na pecuária sem controle de resíduos, causando a contaminação do meio ambiente. 4.2.5.2 Na Região 02 do Arenito: Onde encontram-se os campos de coxilhas e matas predominam as médias e pequenos estabelecimentos rurais. Nessa região do arenito há uma maior aptidão dos solos para agricultura. As principias atividades são mais diversificadas além da pecuária de corte de leite, a ovinocultura, é cultivado o arroz irrigado, o trigo, a soja, o milho, a fruticultura , o florestamento e a olericultura, que foram introduzidas primeiro que na região descrita anteriormente. Em conseqüência, a mecanização disponível é maior do que na região 01, além da patrulha agrícola da secretária municipal da agricultura prestar um serviço mais efetivo nessa região. A região do arenito é menos susceptível a estiagem, o que favoreceu a permanência da exploração da cultura do milho, soja e do trigo por mais tempo. A cultura que predominou foi a orizicultura que chegou ainda na década de 30 na região. Inicia-se nessa época, com os colonos italianos e alemães vindos principalmente da região central do estado. As áreas cedidas para o plantio do arroz eram as “ piores “ possíveis, pois se tratava de áreas consideradas perdidas para a pecuária, portanto de baixo valor comercial de arrendamento. Sendo este o principal atrativo para que mais famílias de colonos viessem para o município. Os estancieiros não viram no arroz uma alternativa econômica rentável no primeiro momento. Mas uma maneira de aproveitar melhor e ampliar suas áreas de pastagens, após o término da lavoura: o banhado desmatado e drenado, tronava-se uma 90 área excelente para o desenvolvimento das pastagens, principalmente nos períodos de estiagens do verão que não eram raros. Os lavoureiros faziam melhoramentos da infraestrutura dos estabelecimentos, como estradas, barragens e prestação de serviços com o uso de suas máquinas a um baixo custo. A lavoura de arroz, quando de sua instalação, utilizou equipamentos e máquinas rudimentares como tração animal, seguidos de máquinas a vapor; no final da década de 40 já era introduzido o trator na região. Estas lavouras eram exploradas basicamente com mão de obra familiar em pequenas áreas. As terras eram arrendadas dos estancieiros, que cediam glebas em troca de pagamento em produto, ou em dinheiro. As lavouras instalaram-se próximo aos mananciais de água (arroios, rios e várzeas ) na região 02,onde era mais fácil irrigar com um menor custo. Posteriormente foram subindo a encosta das coxilhas onde eram necessários investimentos em barragens, ou em sistemas de moto bombas para o levante hidráulico. Os solos de origem arenitica hidromórficos dessa região foram os primeiros a serem ocupados e somente mais tarde as áreas do basalto ( região 01 ) onde ocorrem as manchas de Vertissolos. Embora o solo para a cultura do arroz tenha menos restrições do que na região descrita anteriormente, há limitações quanto ao uso excessivo com mecanização para o preparo convencional da terra e quando o plantio atinge algumas áreas de maior declividade (As Coxilhas). O uso de fertilizantes químicos principalmente nas lavouras de arroz e do milho foi maior nessa região devido a baixa fertilidade de seus solos. A cultura do trigo também iniciou de forma mais intensa com a chegada dos imigrantes, embora fosse explorada anteriormente como cultura de subsistência. Assim começa a ser explorada a partir da década de 1940, como lavoura comercial. Logo em 91 seguida a cooperativa agrícola de Sant’Ana do Livramento é fundada em 1950, para receber as safras destes agricultores. O arroz, nas duas regiões, é vendido pela maioria dos agricultores em casca para engenhos do município, após o fechamento da unidade agrícola da cooperativa Santanense na década de 90. A capacidade de armazenamento de grãos no município sempre foi pequena. Logo há uma fuga significativa de produto para municípios vizinhos. A armazenagem a nível de propriedade cresceu pouco na últimas décadas. O trigo foi uma cultura cultivada até a metade da década de 1980, assim como a soja. Após o fim do crédito rural farto e barato, essas culturas, pelo seu alto risco na região, deixaram de ser exploradas comercialmente. O mesmo acontecendo com o milho, passando a ser explorado como uma cultura de subsistência e para a manutenção da propriedade, na alimentação dos animais em forma de grão ou silagem, ocupando a segunda maior área depois do arroz. O sorgo como na região 01 também foi cultivado, mas não substituiu o milho integralmente. Nesta região do Arenito foram feitos vários assentamentos em áreas de aproximadamente um módulo rural (28 ha), onde é praticada uma agropecuária diversificada a partir de 1990. O Florestamento teve seu incremento com a chegada da ferrovia nas localidades de Pampeiro e Santa Rita, localizadas dentro da região 02. Eram grandes áreas plantadas de eucalipto para o abastecimento das locomotivas com lenha e mais tarde, o fornecimento para os frigoríficos e a cidade ( padarias e restaurantes ). A fruticultura também é uma atividade que sempre foi explorada na região do Arenito e teve seu incremento com a chegada das grandes empresas vinícolas∗ a partir da década de ∗ Almadém e Santa Colina 1970 e posteriormente com a implantação de um projeto para exploração de espécies de rosáceas como a pêra, a ameixa e o pêssego. As condições edafo92 climáticas são uma das melhores do estado do Rio Grande do Sul para o desenvolvimento dessa cultura. A preservação do meio ambiente foi mais afetada na região devido a uma agricultura praticada com mais intensidade e por um período mais longo. As queimadas e o desmatamento junto com o uso intensivo de agrotóxicos está provocando danos irreparáveis ao meio ambiente. O preparo excessivo do solo e o cultivo sem práticas conservacionistas em solos arenosos, provocou erosão e aparecimento de voçorrocas. Sistema de Criação: O sistema de criação da pecuária de corte é igual ao da região 01. Difere quanto ao menor número de cabanhas e um maior número de criadores do que terminadores, devido principalmente à qualidade das pastagens e estrutura fundiária da região. As instalações de trabalho para a pecuária como as mangueiras e estruturas para contenção e manejo dos animais são mais simples e são em menor número, assim como os banheiros carrapaticidas. As pastagens são de qualidade inferior em relação a região 01 principalmente no período de inverno, quando se faz necessário, a implantação de espécies artificiais para suplementação do déficit alimentar do gado. Quanto à ovinocultura na região 02, há um maior número de criadores com rebanhos menores em contrate com a região 01. A ovinocultura é basicamente explorada para subsistência do estabelecimento como fonte de proteína. Com relação ao resgate histórico da comercialização lã, esta foi por um longo período realizada através da Coolãs ( cooperativa) e do Lanifício Thomas Albornoz dos pequenos e médios agricultores. Com o fechamento da cooperativa e o funcionamento parcial do lanifício, esta comercialização se dá a nível de barracas que também compram frutos ( peles de ovinos e couros ). 93 A atividade leiteira também está presente nas pequenas e médias propriedades em um grande número de agricultores familiares; no entanto, ao contrário da região 01, o número de animais por produtor é menor. No presente estudo, não se considerou o período do crédito rural farto e barato como uma nova época de um sistema agrário, no entanto reconhece que este trouxe conseqüências e transformações sociais e econômicas muito importantes nos sistemas já estabelecidos e organizados, sendo por isso necessário tecer algumas considerações ocorridas nas duas regiões de formas indistintas. O crédito rural promoveu a expansão da agricultura no município, tornando-a uma atividade atraente, economicamente rentável aos proprietários de terras que, mesmo sem ter tradição e máquinas para trabalharem na agricultura, investiram em lavouras atraídos pelos recursos financeiros disponíveis e a baixo custo, permitindo a capitalização de alguns e ao mesmo tempo decretando a falência de muitos outros que não souberam trabalhar com agricultura e administrar a elevação dos juros bancários. O mesmo ocorreu com os agricultores de origem alemã e italiana, mas como já tinham se capitalizado com a rentabilidade da lavoura arrozeira, acabaram, boa parte deles, adquirindo as terras que anteriormente eram exploradas como arrendatários, iniciando um processo de permuta de proprietários. O estancieiro tradicional, quer por interesse ou falta de habilidade para conduzir o seu patrimônio, acaba vendendo glebas, ou toda a sua propriedade a seu antigo arrendatário numa inversão de valores econômicos da pecuária em favor do arroz. A oferta de crédito farto provocou o aumento do custo dos arrendamentos para a lavoura arrozeira. Os agricultores arrendatários absorveram os mesmos enquanto os juros bancários eram baixos e o uso da mão de obra familiar era intensivo, característico da atividade. 94 Na década seguinte 80 / 90, inicia-se o período de aumento de juros, diminuição do crédito rural e o início dos planos econômicos (1984 Plano Cruzado), redução da rentabilidade da lavoura arrozeira e falta de recursos para investimentos principalmente em máquinas e equipamentos. Em conseqüência, inicia-se o processo de inviabilização econômica de alguns pecuaristas e arrozeiros levando-os a se desfazerem de seus patrimônios. Situação esta agravada no final da década. O custo de irrigação e a necessidade do aumento do uso de agrotóxicos, ( herbicidas ), devido às conseqüências do uso de insumos de baixa qualidade ( semente ), promoveu o inçamento e a inviabilidade técnica e econômica de muitas áreas no município para a cultura arrozeira. Assim como a diminuição do potencial hídrico em decorrência do açoriamento de arroios e rios devido desmatamento dos seus leitos. As primeiras a serem inviabilizadas foram as pequenas e médias lavouras arrozeiras dessa região, seguidas dos pecuaristas familiares. O Plano Collor em 1990, aliado ao atraso dos recursos de custeio, a significativa redução do volume de crédito, os altos juros, o elevado custo dos arredamentos e o Mercosul que atingiu diretamente o setor, promoveram a inviabilização da lavoura arrozeira e a quebra das poucas indústrias beneficiadoras de arroz, entre elas a cooperativa agrícola. Reduziram significativamente as áreas plantadas com a cultura, além de gerar um elevado índice de desemprego diretos e indiretos do setor orizícola. Os mesmos reflexos foram sentidos na atividade da pecuária somente de forma mais lenta. De 1990 à 2001 ocorreu a falência dos setores, devido ao agravamento do endividamento decorrido na década anterior. Nesta crise, a mão de obra contratada fixa ou temporária, incluindo a força de trabalho, da agricultura familiar que prestavam serviços às médias e grandes propriedades da região, que foram mais afetadas, causando o desemprego em massa e o êxodo rural para centros econômicos maiores. 95 Outro fator importante que deve ser resgatado foi o importante papel dos frigoríficos na cadeia de comercialização da carne no município neste período que também acarretou profundas transformações no setor. A comercialização dos animais para abate junto aos frigoríficos seguem três caminhos principais. O primeiro é a comercialização direta com o frigorifico quando há economia de escala e produto de qualidade no caso de grandes e médios produtores. O segundo é via representantes comissionados que compram gado para diversos frigoríficos, inclusive para os do município. E o terceiro é entre agricultores vizinhos que vendem ou trocam animais e posteriormente aquele de maior poder aquisitivo oferece ao frigorífico, ou a um representante comissionado para o abate ou remate, sendo esses comissionados os responsáveis pelo maior volume de compra e venda de animais no município. Quanto aos ovinos para abate, segue o mesmo processo. O diferencial é que a maior parte dos cordeiros é vendida para frigoríficos de outros municípios com destino para São Paulo. A produção de terneiros segue quase o mesmo caminho, são vendidos para municípios da região norte do estado onde são recriados, ou vendidos diretamente para agricultores paulistas. Alguns aspectos relevantes da história e da cadeia de produção dos frigoríficos no município: Em 1932 por exemplo Sant’Ana aparece em” terceiro lugar como parque de produção industrial depois de Porto Alegre e Rio Grande. (ALBORNOZ, 2000) O frigorífico Armour correspondia um capital de 89,59 % do total arrecadado no município. Quanto ao valor de produção, essa indústria produzia 83, 05 % do valor de toda produção industrial do municipio.Com 2.360 operários, 159 trabalhavam no Armour 85,6 % dos industriários da cidade. O frigorífico detinha uma parte importantíssima na industrialização da cidade, constituindo-se de fato num poder econômico paralelo ao poder político municipal.(Albornoz, 2000) 96 No meio rural os frigoríficos não exerceram sua influência apenas na comercialização, mas também sobre as famílias e os sistemas de produção. Muitos pequenos agricultores deixaram seus estabelecimentos e suas famílias para trabalharem na Swift-Armour e no Wilson. Sem dúvida foi o primeiro grande fluxo de êxodo para a cidade depois da fabrica saladeril. Serviu também para capitalizar algumas pequenas propriedades com a venda de sua mão de obra. No início da instalação do frigorifico e posteriormente na sua administração, vieram um grande número de técnicos estrangeiros uruguaios, argentinos e ingleses. Eram técnicos e operários qualificados que se fixaram em Sant’Ana do Livramento alguns investiram na agropecuária, ou exerceram influência na troca de conhecimento e experiências e na difusão de técnicas, manejos junto aos agricultores. Entre as tentativas de difusão de tecnologias e diversificação, estava a introdução da suinocultura que provavelmente pelo desapreço pela agricultura, o despreparo do homem do campo, e a falta de mentalidade progressista dos estancieiros que foram, talvez, responsáveis por esse insucesso. (Albornoz, 2000) Na tabela abaixo, encontram-se informações sobre o número de abate médio de cabeças de bovinos e ovinos por qüinqüênios, seguido da tabela de abate de cabeças de suínos. 97 Período BOVINOS Quinquênios Nº médio de cabeças abatidas / ano 1920 / 1924 57.845 1925 /1929 86.941 1930 / 1934 127.328 1935 / 1939 140.813 1940 / 1944 165.791 1945 / 1949 81.434 1950 / 1954 62.717 1955 / 1959 49.937 Período / OVINOS quinquenio 1923 18.185 1930 / 1934 65.542 Período SUÍNOS Número cabeças 1924 2.228 1925 11.284 1926 8.658 1929 50 1934 225 Fonte : Albornoz, Vera, 2000 Bovinos : *O qüinqüênio com a maior média anual da produção do frigorífico, coincide com os anos da II guerra mundial, em que havia necessidade de abastecimento de carne enlatada para os soldados. As médias dos quinquênios são menores após o final da guerra do que a produção das Charqueadas Livramento, no início do século, coincidindo também com o inicio do funcionamento do frigorífico e das cooperativas de criadores. 98 O maior vendedor de gado para o Armour vendeu mais de 50 mil cabeças, quase o dobro do segundo maior vendedor, correspondendo a um quarto da matança total desse ano, que foi de mais de 219 mil cabeças, "(185) pode-se inferir que Rivera e outros departamentos fronteiriços participaram diretamente do benefício trazido pelo frigorífico. (Albornoz, 2000) Sant'Ana teve grande participação nessa safra, com quase dois terços do gado abatido."' Claro que onde se escreve Sant'Ana, leia-se Sant'Ana e Rivera. (Albornoz, 2000 ) Em 1969 ocorreu a fusão da Swift e do Armour quando foi constituída a firma SwiftArmour S. A. Indústria e Comércio, que passou de mão em mão primeiro para o grupo Bordon em 1989, que entrou em concordata em 1994, posteriormente para empresa CICADE, e mais tarde para o grupo CORADINE passando a chamar-se de frigorifico 3C. Atualmente é denominado de General Meat Food, após um período curto de funcionamento, tornou a fechar deixando novamente um contigente grande de desempregados. Atualmente Sant’Ana sofre uma grande crise de desemprego e pobreza, motivados pelo fechamento de suas principais indústrias, em que o problema do Armour foi acrescido pela baixa cotação da lã no mercado mundial. Mas o Laníficio Albornoz empregava entre 200 e 400 pessoas, não tendo a importância regional do frigorífico – que chegou a empregar 3.000 pessoas. Na década de 80 representava 50 % da arrecadação de ICM, 314 e 55% da arrecadação total do município. (Albornoz, 2000) A coleção de recortes de jornais sobre a Swift-Armour, organizada pelo historiador Ivo Caggiani, bem demonstrava a preocupação da cidade pelo Frigorífico, numa crise intermitente desde 1981, e que se prolonga até os dias de hoje O maior problema, obviamente é o desemprego em massa, que traz reflexos econômicos e 99 sociais, tumultuando “a vida financeira de setores como o comércio e a indústria”, numa reação em cadeia.(Albornoz, 2000 ) A grande verdade é que os frigoríficos na região platina eram um “excelente negócio” , enquanto foi possível manter o monopólio, enquanto os sindicatos eram fracos, e o preço da mão de obra era muito baixa. “ O interesse de lucro excessivo” das empresas multinacionais entrou em choque, num dado momento, com a competição que tentaram fazer-lhe os produtores rurais, organizando cooperativas para fazer funcionar “ vários frigoríficos pequenos “ . Com frigoríficos no Sul, ao invés dos quatro do Cartel , o negócio de carne deixou de ser interessante.( Albornoz, 2000 ) A ausência de competição entre os frigoríficos, sendo que os preços eram cartelizados entre Swift, Wilson e Armour desde o início. Não havia concorrência nem especulação entre os compradores, apenas vinculação do produtor com determinado frigorÍfico, que fixava o preço a seu bel prazer. Só no final da década de 40 foram se formar as primeiras cooperativas, que organizaram frigoríficos pequenos em várias cidades vizinhas. ( Albornoz, 2000) A dificuldade de controlar a atividade comercial na fronteira fez com que, desde cedo, fossem estabelecidas em Santana do Livramento mesas de rendas pertencentes aos governos imperial e provincial. Dentre os impostos arrecadados na estação fiscal provincial / estadual, o imposto de exportação despontava como a principal fonte de receita, o que garantia a Santana do Livramento papel de destaque entre os municípios rio-grandenses. Em 1944, o município era responsável por aproximadamente 29% do imposto de exportação arrecadado no Rio Grande do Sul (Balanço Geral do Estado e Relatório da Secretaria da Fazenda, 1945). Devido à importância comercial do município e ao elevado movimento de exportaçãoimportação na fronteira, a mesa de rendas do Governo Federal foi, pelo Decreto Legislativo N.º 417, de 14 de novembro de 1896, transformada em alfândega, a qual foi instalada em 1.º de outubro de 1900 (Pimentel, 1943, p. 328). 100 A história de Sant’Ana do Livramento é um bom exemplo da trajetória da história riograndense, originada de disputas territoriais, vinculada desde cedo à pecuária e intimamente ligada aos vizinhos platinos principalmente com o Uruguai.( Segue Quadro 1 Resumo ) CAP.5 CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE AGRICULTORES DE PECUÁRIA FAMILIAR 5.1 Pecuarista Familiar Tipo 01 com Área Maior de 100ha e Menor de 500ha e Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA) a) Localização – Sistema Agrário (1) Basalto O sistema de produção do agricultor do tipo 1.1 situado sobre um solo de origem basáltica da unidade pedregal, no 6º distrito do Espinilho. A localidade denominada de Cerro Chato faz divisa ao norte com 5º distrito de São Diogo, ao leste, ao sul e oeste com a Republica Oriental do Uruguai ( ROU ) . O agricultor entrevistado tem sua paternidade brasileiro e uruguaio. Explora a propriedade em conjunto coma sua mãe há trinta anos. A origem do estabelecimento é de uma partilha recebida da herança após a divisão de 12 quadras de sesmarias, entre os dez herdeiros de parte paterna. Posteriormente foram adquiridas pequenas frações de terra dos mesmos herdeiros e de vizinhos. Com relação a mão de obra ocupada na propriedade é do agricultor, da mãe ( 1,45 UTHf) e de empregado contratado permanente ( 01 UTH ). A área total do estabelecimento é de 325 ha, sendo a S.AU de 322 ha; a diferença se constitui em 2 ha de área perdida, 01 ha de benfeitorias e uma pequena área de florestamento de eucalipto. Quanto à topografia, apresenta-se plana constituindo-se de solos rasos, os recursos hídricos são limitados a pequenos córregos de drenagem natural. Há seis pequenos açudes com finalidade de bebedouro para os animais. 111 As precipitações desuniformes provocam períodos de estiagem no verão de Dezembro a Janeiro. Ocorrem períodos de déficit hídrico geralmente relacionados ao fenômeno El Niño duas a três vezes a cada 10 anos, provocando a seca dos pastos e em alguns casos mais severos no próprio fornecimento de água para os animais. Os campos nativos possuem espécies de forrageiras de excelente qualidade como trevos, babosa, entre outras espécies invernais já citados. . O estabelecimento possui uma pequena horta, pomar, e tem criação de aves para subsistência. Não possuem motomecanização. A principal exploração é a pecuária corte extensiva e a criação de ovinos. Em ambos são realizados o ciclo completo de cria, recria e terminação (engorda) dos animais. A propriedade tem na terminação de bovinos de 2 a 3 anos de idade a sua atividade econômica mais importante. Os animais são comercializados diretamente aos frigoríficos do município a peso de boi em vários períodos do ano. Compra animais de reposição junto a vizinhos e em remates, principalmente. A produção da lã atinge um volume de quase uma 01 t/ ano comercializada nas barracas do município. A venda de couros e peles de animais abatidos para o consumo e que morreram, complementam a receita da propriedade. O estabelecimento possuía 312 bovinos de diferentes categorias, no ano de 2000. Os bovinos são colocados em reprodução de dezembro a março através de monta natural. A raça predominante é o Charolês, mas estão sendo introduzidos touros das raças Braford e Polled Angus. Os índices médios de natalidade são bons, 85% nas 112 fêmeas de primeira cria e 70% na repetição. O desmame dos terneiros é feito com um ano de idade. Os principais problemas sanitários estão na seguinte ordem: Mosca do Chifre, Vermes, e Carrapato nos bovinos. Para o controle sanitário são usados produtos convencionais, alguns conhecidos como avançados por serem sistêmicos, colocados no fio do lombo do animal, denominados de ( Pour On ). Controlam a Mosca do Chifre e conforme a dosagem usada atuam sobre o carrapato. O número de aplicações pode chegar a sete por ano no verão, além do uso corrente de ivermectinas, abavermectina injetáveis em duas aplicações anuais estratégicas. Não utiliza banho de imersão do gado, por usar os produtos acima descritos. Fornece sal com regularidade enriquecido com minerais. Possui 06 potreiros separados para o manejo dos animais e, devido à qualidade agrostologica dos mesmos, não faz pastagens. A produção de leite é feita somente para o consumo familiar de vacas mansas retiradas do gado geral. b) Ovinos: A ovinocultura na propriedade tem sua principal função de subsistência para o fornecimento de carne. A raça predominante do rebanho é a Corriedale, mas está sendo introduzida a Texel. Não comercializa os cordeiros, as fêmeas são utilizadas para reposição no rebanho e os machos são usados para o abate e consumo no estabelecimento. O manejo de reprodução dos ovinos tem época definida durante a 2ª quinzena de março ao final de abril. 113 Os principais problemas sanitários do rebanho ovino são a manqueira ( Foot Rot ), vermes, lágrima e miiase. Os tratamentos para o controle destas doenças são à base de abendasóis, ivermectinas injetáveis, intercalando outros vermífugos de princípios ativos diferentes, perfazendo de 05 a 06 aplicações por ano. c) Renda Agrícola: A renda total é 100 % composta pela renda da pecuária. O agricultor que implementa esse sistema de produção agrega por unidade de produção R$ 84,09 / S.AU e um a renda total de R$ 27.077,01. A rentabilidade do trabalho é de R$ 18.673,80 por UTHf, ou seja, de 8,65 S.M./ UTHF./mês. Este valor pode ser considerado bom por estar acima da média dos demais agricultores estudados e deve-se a produção de bovinos com sistema de engorda, estruturado em campos de excelente qualidade forrageira. A rentabilidade da terra atinge um valor médio de R$ 84,09 / há de S.AU/ ano sendo um valor baixo, mas compatível com a exploração da pecuária extensiva na região. Os recursos gerados são suficientes para novos investimentos além do imobilizados para a compra de animais magros de reposição dos vendidos e a reprodução social da família considerando o NRS de 1,5 salários mínimos/família. O estabelecimento possui uma casa de alvenaria em bom estado de conservação, com banheiro interno com fossa negra, água encanada, sem luz elétrica, refrigerador a gás e telefone celular. As instalações de trabalho são compostas de 02 galpões em bom estado de conservação, banho de ovinos de 2000 l, tronco, galinheiro com boas instalações, o 114 sistema de abastecimento de água é através de poço com motobomba movida por um motor 2 T. As mangueiras são de pedra e madeira desdobrada com moirões. As cercas recebem a manutenção adequada, estando em bom estado de conservação. Os equipamentos de serviço são arreios e ferramentas, simples manuais. Possui implementos agrícolas tracionados por animais que foram desativados. O número de eqüinos é elevado com um total de 18 animais. d) Aspectos sociais levantados: A idade média da força de trabalho é de 49 a 70 anos, com escolaridade dos proprietários até a 5ª série do primeiro grau. Os filhos não moram no estabelecimento e estudam na cidade. As principais dificuldades citadas pelo agricultor nos últimos 10 anos são: os juros altos; o preço do boi magro para reposição muito próximo ao do gordo; aumento do custo de produção em relação à receita deixada, aliado a problemas sanitários que não havia antes como a Mosca do Chifre; problema no controle de vermes dos ovinos; o alto índice de abigeato na localidade, devido a proximidade do seu estabelecimento com a fronteira; a estiagem que é sentida com freqüência; problemas na comercialização pela pouca idoneidade e carga tributária elevada dos frigoríficos; falta de linhas de crédito específicos, de energia elétrica, pelo seu alto custo de implantação na região, embora a distancia da sua sede seja pequena até a linha de transmissão. Quanto aos planos futuros, o produtor pretende continuar na atividade, investir em semi-confinamento . Devido aos períodos de estiagem e geadas, prefere o uso de ração para a engorda com a finalidade de abater os animais mais jovens, aumentar o número de ventres para ter auto-abastecimento de terneiros, buscar linhas futuras de financiamento para aquisição, retenção e custeio pecuário. 115 Quanto à criação de ovinos, o agricultor pretende investir mais na carne do que na lã, no entanto se manifestou inseguro com relação à manutenção da ovinocultura em seu estabelecimento. A família tem uma filha, mas não deseja seguir na atividade da pecuária, pois já se encontra estabelecida na cidade. Com relação à situação da sua localidade, verifica um movimento em direção à cidade, tanto dos jovens quanto dos mais idosos por falta de incentivos em infra-estrutura. Diminuição da oferta de terras como há 06 anos atrás, na implantação do plano real. 5.2 Pecuarista Familiar Tipo 1.2 com Área Maior que 100ha e Menor que 500ha e Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA). a) Localização – Sistema Agrário (2) Arenito. O sistema de produção do agricultor tipo 02, situado na região denominada Cerro dos Munhoz, no 1º distrito de Livramento, encontra-se sobre um solo de origem arenito onde se registram as ocorrências das seguintes unidades de solo mais comuns: São Pedro, Livramento, e Santa Maria (Podzólicos). O 1º distrito de Livramento faz divisa à oeste com o 5º distrito de São Diogo, a leste com o 3º distrito do Ibicuí, ao Sul com a ROU (República Oriental do Uruguai) e ao Norte com 4º distrito de Pampeiro. 116 b) Origem / Família: A família tem sua origem no meio rural, de outra localidade denominada de Itaquatiá, em S. do Livramento. Os pais do agricultor são de nacionalidade brasileira e uruguaia, como no caso anterior. O agricultor iniciou sua atividade como trabalhador assalariado de peão e esquilador, não possuía propriedade a não ser a dos seus pais. Sempre trabalhou com crédito rural desde os dezoitos anos. Através destes recursos adquiriu sua primeira fração de campo de 08 há em 1982, onde reside hoje. Suas terras foram sendo adquiridas em pequenas frações de várias sucessões, estando em localidades distintas. O produtor tem mais 03 irmãos que deixaram o meio rural e estão estabelecidos na cidade. No estabelecimento residem a esposa e 03 filhos. A mão de obra da propriedade é familiar com 2,24 UTHf e a idade da mesma varia de 11 a 51 anos. Não contrata mão-deobra, mas as vezes troca serviços com vizinhos. A área total da propriedade é de 211 há sendo desta 209,5 ha de S.AU, com 01 ha de florestamento, 6 ha de milho e 01 ha de plantas de baraço e 0,5 ha de benfeitorias, 29 ha arrendados de terceiros para pastoreio. A localidade dispõe de uma excelente quantidade e qualidade de água. A presença de mata nativa é quase inexistente, somente próximo a arroios e sangas foram áreas exploradas pela agricultura intensiva há muitos anos, a vegetação da pastagem nativa é de espécies gramíneas de baixa qualidade nutritiva, indicadoras de solos exauridos e campos pobres de fertilidade. Na região em que se situam as propriedades, predominam pequenos e médios estabelecimentos e assentamentos, onde a pecuária extensiva e as culturas do milho de 117 subsistência são as principais explorações agrícolas.Nos assentamentos há uma maior diversificação da agricultura. O agricultor planta nesse sistema 06 ha de milho 1,0 ha de Plantas de Baraço, usando implementos tracionados por animais, preparando solo no sistema convencional de lavração, gradagem e plantando em linha com semente de milho híbrido e adubo químico, fazendo rotação de culturas nessa área com milheto no ano seguinte. O milho é colhido seco no pé e guardado em um galpão de madeira sem qualquer proteção contra insetos e ratos. A maior parte é usada para o consumo próprio 8t em média e o restante é vendido na vizinhança com prestação de serviço debulhado ou triturado. Para o consumo próprio é usado na suplementação alimentar de terneiros desmamados durante 60 a 70 dias / ano. Plantas de baraço como abóbora cabutiá, batata doce, mandioca são comercializadas na cidade em feiras, armazéns e em casas de famílias. Outra parte é usada para o consumo familiar. O florestamento é próximo à casa sem fins econômicos apenas como área de proteção para a retira de lenha para uso doméstico. O leite é produzido para o consumo familiar com vacas mansas retiradas do gado geral. Há uma criação de pequenos animais como galinhas e suínos. O sistema de criação é de pecuária extensiva de bovinos e ovinos. Não faz o ciclo completo, mas somente cria, vende animais jovens e vacas de descarte, por quilo de bovino, ou troca diferentes categorias com os vizinhos. O estabelecimento possuía 201 bovinos de diferente categorias, no ano 2000. O produtor se especializou na comercialização de terneiros de ano destinados à recria comercializados para agricultores e intermediários no final de outubro. 118 A comercialização das vacas de descarte é feita a nível da localidade, para invernadores ou frigoríficos conforme a sua necessidade financeira. A receita da propriedade é complementada com a produção da lã, a venda de couros e peles de animais abatidos para o consumo próprio. Os animais usados para o consumo do estabelecimento são aves, ovelhas e bois. O período de reprodução dos bovinos é definido de dezembro a janeiro usando somente touros. Os índices de repetição de cria são próximos a 90 % em média. Nas vacas de cria é feito o controle de gestação as falhadas são encaminhadas ao abate. É realizado o desmame precoce nas matrizes em torno de 6 meses. Prática que aumentou significativamente o índice de repetição de cria e conseqüente aumento da produção de terneiros. Os reprodutores são adquiridos em estabelecimentos maiores, inclusive de cabanhas; não são animais de primeira linhagem, mas possuem uma boa genética. A raça predominante dos bovinos é Zebuína cruzado com o Charolês, mas está sendo introduzido o Red Angus. A alimentação do gado é de baixa qualidade em decorrência das espécies forrageiras existentes e da alta lotação dos campos, embora o agricultor faça pastagens de verão de milheto, de inverno com aveia mista ( branca e moura ) e azevém. As vacas geralmente são colocadas na resteva do milho para a engorda. O desmame precoce dos terneiros é feito com grão de milho triturado ( 2Kg / dia) mais um quilo de ração com 20% de proteína durante 60 dias. Os principais problemas e controles sanitários são os mesmos descritos no tipo anterior, modificado quanto ao uso de banho de imersão nos bovinos para o controle dos carrapatos e da Mosca do Chifre. O banheiro do gado é administrado em conjunto com outros agricultores, onde as despesas de manutenção são divididas entre todos. 119 Utiliza o sal e a mineralização como uma prática importante do manejo tanto para os bovinos como para os ovinos. No sistema de criação dos ovinos também é extensivo num total de 85 cabeças de diferentes categorias sendo 35 ventres. Não são comercializados, mas usados para o consumo na propriedade. A raça predominante é a ideal, cruzando com a texel atualmente. O encarneiramento é feito no inicio de março e os cordeiros começam a nascer no final de julho. Os ovinos produziram 240 Kg de lã no ano de 2000. Os problemas e o controle sanitário são os mesmos descritos no tipo anterior, apenas usa banho carrapaticida para o controle da sarna ovina. A renda total da propriedade é constituída da renda da agropecuária, sendo esta diversificada com agricultura que representa 26,40% da produção bruta total enquanto a pecuária representa 73,60 %. O agricultor tem um forte gerenciamento contido em relação às despesas da família e da sua produção. Recebe assistência técnica da EMATER /RS com regularidade. A rentabilidade da terra atinge um valor médio de R$ 82,97/ há de S.AU/ ano muito próximos do sistema anterior. O grande diferencial para o sistema anterior está na produção agrícola e na produção de terneiros. A renda total por unidade de trabalho homem-família é de R$ 7.766,66 equivalente à 3,6 S.M. / mês / UTHF, acima dos NRS de 1,5 salários mínimos/mês. 120 Com os recursos gerados consegue fazer sua manutenção e novos investimentos principalmente em pequenos equipamentos e ferramentas . c) Aspectos sociais levantados: A mão de obra desse tipo de agricultor é familiar. São os filhos que ajudam nas tarefas sem distinção de sexo, desde de cedo. A família reside no meio rural e os filhos estudam na escola da localidade, sendo um dos poucos casos encontrados no presente estudo. O principal problema enfrentado na pecuária foi o crescente aumento dos juros dos financiamentos a partir de 1990. Como proprietário nos últimos dez anos, conseguiu adquirir mais terras e aumentar sua produção em números de animais através dos recursos dos financiamentos que historicamente sempre teve acesso. Nos seus planos futuros, o agricultor pretende manter-se na atividade da pecuária com gado de cria, investir na agricultura aumentando sua área de plantio, vender a sede do estabelecimento e mudar para a sua fração de campo maior buscando melhorar a administração do seu estabelecimento. Com relação à agropecuária, pretende aumentar o número de animais e de terneiros desmamados precocemente e diversificar a produção para criação de peixes e suínos. Quanto aos filhos, há uma expectativa dos filhos permanecerem na atividade, um dos filhos trabalha de peão em um estabelecimento vizinho, a outra filha casou-se recentemente com vizinho que também é agricultor. 121 Sobre a situação de sua localidade, está havendo uma saída das pessoas de mais idade, uma maior subdivisão das propriedades, para herdeiros que vendem suas áreas que são em média menores que 20 há, ou 01 módulo rural. Segundo a declaração do agricultor em entrevista: “As principais causas da saída dos jovens está na impossibilidade de conseguir administrar as terras de sua herança por terem perdido a sua ligação com o campo há muito tempo, sendo necessário trabalhar na pecuária com um controle rigoroso de despesas, pois os recursos da atividade são escassos, não deve gastar tudo o que ganha ao mesmo tempo”. O estabelecimento tem uma casa de alvenaria simples sem forro, em bom estado de conservação com energia elétrica, alguns eletrodomésticos básicos, com banheiro interno, água encanada de poço artesiano de boa qualidade, sistema de esgoto com fossa negra. As suas instalações de trabalho encontram-se em estado razoável mas com pouca manutenção. Os investimentos são feitos em equipamentos elétricos e mecanizados de trabalho como triturador de milho, debulhador movido a motor de 2 t, plantadeira nova de milho tracionada por animal, sendo que estes equipamentos estão guardados em galpão em bom estado de conservação. Possui uma balança para animais de 1, 5 t. Ressalta-se que seus principais investimentos são em instrumentos de trabalho, a ponto de ter um freezer para guardar carne (o agricultor abate animais para comercializar junto a vizinhança), mas não ter geladeira. Esse é diferencial em relação ao tipo anterior por ter energia elétrica. Os potreiros são subdivididos em 03 na sede da propriedade que possui uma área de 20 ha. O casal estudou até a terceira série do primeiro grau. 122 Essa tipologia de produtor se mantém na atividade da pecuária com uma área supeiror a 100 num solo de origem arenítica apto à agricultura com restrições e de abaixa fertilidade, através dos recursos gerados da própria atividade e de sua especialização em produção de terneiros, da diversificação de culturas. Não usa a produção agrícola apenas para manutenção familiar, mas comercializa. È um agricultor que tem uma dedicação muito grande ao trabalho com uma noção de administração e perspicácia para os negócios, muito boa. 5.3 Pecuarista Familiar Tipo 2.1 com Área Menor que 100ha com Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA). a) Localização – Sistema Agrário (02) Basalto. O sistema de produção do agricultor do tipo 03 está situado sobre um solo de origem basaltíca da unidade pedregal nas partes altas e arenito nas baixas por ser uma área de transição. A localidade denominada de Cerro da Árvore no 4º distrito de Pampeiro faz divisa a oeste com o 5º distrito de São Diogo ao Leste com o 3º distrito do Ibicuí ao Sul com o 1º de Livramento ao Norte com o município de Rosário do Sul . A origem do estabelecimento é de uma partilha recebida de herança após a divisão da área com a mãe e os seus onze irmãos herdeiros. Posteriormente foram adquiridas frações menores de terra dos mesmos herdeiros. Alguns dos irmãos mantêm vinculo com a propriedade mas não a exploram por estarem residindo e estabelecidos na cidade. O agricultor entrevistado explora 26 ha da propriedade desde de 1977, sendo 06 de sua propriedade (03 há adquiridos de um dos irmãos) e os demais 14 ha em conjunto com a sua mãe num total de 40 ha. A parceria não envolve qualquer tipo de remuneração como pagamento de arrendamento. A área tem 37,5 ha de S.AU utilizada, 123 com pastagem nativa, 2 ha de Milho e 0,05 ha de plantas de baraço, 1,0 ha com benfeitorias e 0,5 ha de mata nativa. O agricultor é natural do Carcávio, uma localidade próxima; a sua esposa, do Ibicui. Moram sós, sem filhos e contratam empregado apenas no período de esquila. Assim a mão de obra é somente familiar e equivalente a 2 UTHf. Quanto à topografia, apresenta-se suavemente plana com alguns morros mais proeminentes, os recursos hídricos são bons. Na área do estabelecimento com basalto, há nascente de água, onde foi construído com recursos de financiamento um pequeno açude para bebedouro de animais e fornecimento de água para a casa. Os campos nativos possuem espécies de forrageiras de boa qualidade no basalto enquanto nas baixadas, onde predomina o arenito, passam a ser mais rústicas e de menor valor nutritivo. O agricultor tem culturas de subsistência com uma boa horta doméstica, plantas de baraço, milho e possuem um pomar de várias espécies. Tem vacas de leite mansas retiradas do rebanho geral e cria pequenos animais como galinhas e suínos. O sistema de cultivo é feito com preparo do solo convencional mecanizado pela patrulha agrícola do município, com uma lavração e uma gradagem seguidos do plantio à mão do milho conhecido pelo sistema da Bolcada (sistema de plantio feito a mão após a lavração e tampado com o pé em linha). Usa adubação de manutenção organo mineral industrializado, não usa adubação de cobertura. O milho fica no pé até secar no mês de junho / julho colhe sem palha, armazena em um galpão comum sem qualquer proteção. As pastagens de inverno são feitas com aveia moura também no sistema tradicional, semeadas a lanço e tapadas com uma grade. A área de pastagem é a mesma 124 há 05 anos consecutivos, usando adubação de manutenção. Os animais beneficiados estão na seguinte ordem de prioridade: as vacas de leite, as magras e as prenhas. O sistema de criação é a pecuária extensiva de corte e ovinos fazendo apenas a cria dos bovinos. Comercializa animais jovens: terneiros, novilhas e vacas de descarte na própria localidade, geralmente, para produtores maiores que os revendem para invernadores e criadores de outras localidades. Não possui volume suficiente para comercializar direto com frigoríficos. Compra ou troca de categoria de animais para reposição junto aos vizinhos. A produção da lã e a venda de couros e peles de animais abatidos para o consumo próprio e dos que morreram complementam a receita da propriedade. O estabelecimento possuía 35 bovinos de diferentes categorias no ano 2000. A raça predominante dos bovinos é o Charolês cruza com Zebu. A época de reprodução dos bovinos (entoure) é indefinida, pois reprodutores permanecem o tempo todo com as matrizes. As vacas de cria não repetem no ano seguinte pela alta lotação, baixo nível nutricional e do desmame dos terneiros em torno de um ano. Os principais problemas sanitários e seus controles são os mesmos descritos para os produtores anteriores, apenas que a cada 60 dias, no verão, da um banho de imersão com carrapaticida a base de Amintraz. Fornece sal ao rebanho geral numa média de 02 vezes por ano. Bem menos que nos demais tipos de agricultores pesquisados. 125 b) Ovinos; A ovinocultura no estabelecimento é usada para o consumo familiar, o rebanho é composto de 61 cabeças de diversas categorias. A raça predominante é a Ideal. Não há manejo reprodutivo, o carneiro passa o tempo todo com as matrizes. Os problemas sanitários são os mesmos descritos no agricultor tipo tipo 1.2. A produção de lã comercializada foi de 280 Kg. A renda total é composta 100 % do valor do produto bruto gerado pela agropecuária no estabelecimento. A rentabilidade da terra é de R$ 115,27 /há de S.AU/ ano . A renda total por unidade de trabalho homem familiar ( UTHf), ou seja, produtividade do trabalho nessa propriedade é de R$ 2.161,38 /UTHf/ Ano equivalente a um 1,0 S.M/ UTHf / mês, abaixo do nível de reprodução simples (NRS). c) Aspectos sociais levantados e qualidade de vida: O estabelecimento possui uma casa de alvenaria antiga com pouca manutenção, sem água encanada, sem luz elétrica, uma geladeira a gás somente. Possui dois banheiros, sendo que o interno possui apenas o chuveiro e no externo o WC ( latrina ), sem rede de esgoto. A água para o abastecimento é puxada a cavalo com um barril da fonte. ( Foto 3 e 4 ) A escolaridade dos proprietários, no caso o casal, é da 4ª até a 5ª série do primeiro grau. As instalações de trabalho e equipamentos compreendem 03 pequenos galpões de madeira, rústicos que servem de depósito para guardar utensílios de serviço como: arreios, remédios, ferramentas; outro é estrebaria, e o terceiro, depósito para o milho. Os equipamentos são simples, na maioria manuais. As mangueiras são de madeira desdobrada e moirões em péssimas condições de conservação ( Foto 06 ).As cercas 126 também, têm manutenção apenas quando rompem. O estabelecimento possuí apenas 02 divisões de potreiros de toda a área. Com relação as principais mudanças ocorridas no seu estabelecimento nos últimos 10 anos o produtor cita que conseguiu adquirir 03 ha de terra de um irmão seu pagando com 04 vacas. Ao seu ver, a pecuária acompanhou o custo de produção, pois conseguiu manter o mesmo número de animais desde que iniciou sua atividade como tropeiro. O casal não possui filhos, a expectativa da esposa é de ir morar na cidade, vender o que tem para adquirir uma casa e viver com a aposentadoria do esposo. O produtor quanto aos seus planos futuros é de continuar na atividade, conseguir uma linha de financiamento para instalar água e luz para obter mais conforto e conseguir se manter no campo. Com relação à situação da localidade, informou que está havendo um movimento em direção à cidade dos mais idosos, há algumas áreas que estão em sucessão onde os mais jovens não estão conseguindo conduzir pela falta de capacidade de administrativa, pois os recursos nessa época estão escassos; portanto, é necessário viver na pecuária com austeridade. 5.4 Pecuarista Familiar Tipo 2.2 com Área Menor que 100ha e Inexistência de Renda de Outras Atividades (ROA). a) Localização – Sistema Agrário (2) Arenito. O sistema de produção do agricultor do tipo 2.2 está situado sobre um solo de origem Arenítica. Também a localidade denominada Rincão de Palomas do 1º distrito de Livramento faz divisa a oeste com o 5º distrito de São Diogo. 127 ao leste com o 3º distrito do Ibicuí ao sul com a ROU e ao Norte com 4º distrito de Pampeiro . O agricultor entrevistado tem sua ancestralidade brasileira e uruguaia. Os seus pais vieram de outra localidade do município. A origem do estabelecimento é uma fração de campo que foi doada ao seu pai que era motorista de uma família abastada. A área original recebida era de 4 quadras de sesmaria foi dividida entre os quatros irmãos de seu pai. A parte que lhe coube foi vendida para adquirir onde é hoje o seu estabelecimento. No estabelecimento residem 02 pessoas com idade variando de 56 a 60 anos, os filhos estão estabelecidos na cidade. A mão-de-obra da propriedade é familiar do produtor e de sua esposa, equivalente a 1,34 UTHf, contrata temporariamente 0,2 UTH sendo o total de 1,54 UTH. O total da área do estabelecimento é de 56 ha sendo desta 51,5 ha de S.AU, com 02ha de florestamento, 0,5 ha de mata nativa, 02 de benfeitorias e o restante de campo nativo. Os recursos hídricos são bons, há um arroio que passa por toda a propriedade, possui um também um pequeno açude, bebedouro para os animais. O mato nativo é quase inexpressivo, são áreas exploradas pela agricultura intensiva há muitos anos, a vegetação e a pastagem nativa é formada de espécies predominante de gramineas e arbustivas de baixa qualidade nutritiva, indicadoras de solos exauridos. Na região em que se situa a propriedade, predominam pequenos e médios estabelecimentos, onde a pecuária extensiva, a cultura de plantas de baraço e do milho de subsistência são as principais atividades desenvolvidas. 128 Produz leite apenas para o consumo próprio como os demais entrevistados, tem uma criação de pequenos animais para consumo doméstico. No sistema de cultivo, o agricultor planta culturas anuais e de subsistência como milho 03 ha e 1,0 ha de plantas de baraço. O preparo do solo é realizado através dos serviços de mecanização da patrulha agrícola do município usando o sistema convencional de lavração, gradagem e plantio em linha. Não usa adubação química. O adubo utilizado na propriedade é o orgânico, usado somente nas culturas de baraço que são comercializadas na cidade e entre os vizinhos. Próxima à casa possuí uma área com florestamento com fins econômicos para produção de postes e moirões de cerca, serve também como área de proteção para os animais e de onde retira a lenha para o seu uso doméstico. A produção bruta total da agricultura representa 6,79% da produção bruta total do estabelecimento. O número de bovinos existente no ano de 2000 era de 22 cabeças de diferentes categorias. A principal exploração é a pecuária extensiva de corte com sistema de cria, vende animais jovens e vacas de descarte, por quilo de bovino, ou troca categorias diferentes com os vizinhos. A comercialização do gado e dos demais subprodutos é igual ao do agricultor anterior, tipo 2.1. O sistema de reprodução é igual ao descrito no tipo 2.1, os reprodutores não são separados, passam o ano todo juntos. Os índices de repetição de cria são próximos a zero. O período de desmama dos bovinos é tardio em torno de 1 ano. A raça predominante dos bovinos é o Zebu com Normando. Os reprodutores são adquiridos ou trocados por vizinhos, alguns são animais que foram descartados de propriedade 129 maiores ou de cabanhas. A alimentação do gado é de baixa qualidade em decorrência das espécies forrageiras existentes e da alta lotação do campo. Os principais problemas sanitários e o seu controle já foram descritos no agricultor tipo 2.1. A diferença é o não uso de banho de imersão. Os vermífugos utilizados e os produtos para o controle da mosca do chifre são os mais populares com preços mais acessíveis. Utiliza o sal e o mineral com uma média de 150 kg /ano. O sistema de criação dos ovinos também é extensivo com um total de 128 cabeças de diferentes categorias no ano 2000. A raça predominante é a Merina. Não tem manejo reprodutivo dos carneiros. Os problemas sanitários e os controles são os mesmos do agricultor tipo 02.1 variando conforme a qualidade e a quantidade dos produtos aplicados. A renda total da propriedade é constituída da renda agrícola e da renda de outras atividades (ROA) como da venda de moirões confeccionados com madeira de sua propriedade, que representam 33,98 % da renda total gerada no estabelecimento contra 66,02 % da renda agrícola, no ano de 2000. A produção bruta animal representa 93,21 % do produto bruto total e vegetal apenas 6,79%. A rentabilidade da terra atinge um valor de R$147,43/ha de S.AU/ano. A rentabilidade do trabalho é de R$ 5.666,32 / UTHf / ano equivalente a 2,6 S.M / UTHf / mês, acima portanto do NRS de 1,5 salários mínimos. Com os recursos gerados conseguem a sua sócio-econômica reprodução familiar e manter o sistema de produção. Não sendo suficientes os recursos gerados para novos 130 investimentos, pois são mobilizados para a compra de gado, para a reposição dos animais vendidos e a manutenção da família. É um agricultor como os demais. Não usa tecnologia no seu sistema de criação e de cultivo. b) Aspectos sociais e de qualidade de vida: O estabelecimento é composto por uma casa de madeira rústica em estado razoável de conservação, com banheiro externo, sem água encanada, um poço raso de boa qualidade sem sistema de esgoto, com energia elétrica e alguns eletrodomésticos básicos. As suas instalações de trabalho encontram-se em estado razoável com pouca manutenção que demonstra a falta de capacidade para investimento nas mesmas. Como no tipo 2.1 anterior possuí equipamentos simples e manuais para o trabalho. Com relação aos planos futuros, o produtor pretende manter-se na atividade da pecuária com gado de cria, fazer investimento em diversificação na piscicultura e artesanato em pele ovina. Com mais apoio da patrulha agrícola pensar aumentar a área de plantio de milho e explorar uma pequena área de arroz que tem em seu estabelecimento. Segundo depoimento do agricultor: “O principal problema enfrentado na pecuária foi o crescente aumento do custo de produção e estabilização do preço do gado. A diminuição da área de agricultura reduziu a sua renda, o número e a idade dos animais vendidos. Com a inflação alta, antigamente se perdia mais, pois não era possível definir o preço de animal em um negócio pela rápida desvalorização”. A escolaridade do casal vai até a quarta série do primeiro grau. 131 O agricultor tem 05 filhos sendo 03 moradores em Porto Alegre e 02 em S. do Livramento já estabelecidos com uma atividade econômica na cidade. Não tem perspectivas de assumirem a propriedade a médio prazo. A tipologia desse produtor, a exemplo do anterior, consegue se manter na atividade da pecuária com uma área inferior a 100ha em um solo de origem arenítica agricultável com restrições e de baixa fertilidade, através das rendas de outras atividades, da contenção de despesas, e de uma família já estabilizada, ou seja, os filhos têm sua independência. A renda da propriedade é somente para a manutenção do casal. Em relação a sua localidade, segundo o agricultor, houve uma diminuição do número de pessoas que foram embora para a cidade. Os motivos são os mais variados possíveis, mas os principais, a seu ver, foram a idade dos mais velhos pela falta de recursos de saúde e de alternativas econômicas para os mais jovens. Há um grande número de propriedades abandonadas na localidade, o que comprova a redução drástica da população. 5.5 Pecuarista Familiar Tipo 3.1 com Área Menor de 100ha com Renda de Outras Atividades (ROA) – Aposentadoria. a) Localização – Sistema Agrário (01) Basalto. O sistema de produção do agricultor do tipo 5 está situado sobre um solo de origem basáltica da unidade pedregal, no 6º distrito do Espinilho. A localidade denominada Cerro Chato faz divisa ao norte com 5º distrito de São Diogo ao leste, ao sul e oeste com a Republica Oriental do Uruguai ( ROU ) . O pai do produtor era tropeiro e comissionado do frigorifico Armour, comprava ovinos e bovinos. Adquiria animais na região e fazia tropas levando-as direto para o 132 frigorífico na década de 20. A sua mãe possuía uma pequena área que recebeu de herança. Posteriormente foi comprando com a remuneração de seu trabalho outras áreas de vizinhos e parentes chegando a ter 130 ha. O agricultor entrevistado tem sua paternidade brasileira e uruguaia, possuía 10 irmãos sendo que hoje apenas 4 mantêm algum vínculo de trabalho com o campo. Segundo depoimento do agricultor, ele e os seus irmãos trabalhavam na chácara (Horta ) e no plantio de milho. Mais tarde, por falta de alternativa, alguns dos irmãos se tornaram prestadores de serviço no meio rural e outros foram diretos para a cidade em busca de emprego. Hoje, o produtor possuí uma única filha formada em contabilidade. Com relação a mão de obra ocupada na propriedade, é do produtor, da esposa esporadicamente e de um parente sem remuneração correspondendo à 0,81UTH no total, sendo 0,54 relativo a UTHf. Não contrata empregado, apenas no período de esquila dos ovinos. A esposa e a filha não residem no estabelecimento, mas na cidade. O produtor, por ser aposentado e ter sua saúde debilitada, atende sua propriedade em média 02 dias por semana junto com um parente que leva da cidade e que regula de idade com a sua. O estabelecimento possui uma área de 57 ha, correspondendo a de 56 há de S.AU. A diferença se constitui em área de benfeitoria e um pequeno bosque de eucalipto para proteção dos animais, o restante é pastagem nativa. O número de animais bovinos existentes era de 44 machos em 2000. 133 Quanto à topografia, recursos hídricos e as pastagens nativas, clima são as mesmas descritas no agricultor tipo 01. A diferença é o menor número de pequenos açudes para bebedouro dos animais ( 02 unidades). Não é realizado nenhum tipo de cultura de subsistência, pois no estabelecimento não reside ninguém permanentemente. O sistema de criação principal é a exploração da pecuária extensiva de corte e ovinos, realizando somente a terminação ( engorda ), de bois de 03 a mais anos de idade, como a principal atividade econômica. A comercialização dos animais é diretamente ao frigorifico do município a peso de boi em um único período do ano. Vende um volume aproximado de 16 animais de 490 Kg. Compra animais de reposição junto aos vizinhos e em remates. A produção da lã, a venda de couros e peles de animais abatidos para o consumo próprio, e que morreram, complementam a receita da propriedade. A raça predominante dos bovinos é o Charolês cruza com Zebu . Os problemas sanitários e os controles são os mesmos descritos para o agricultor tipo 1.1. Não usa banho de imersão do gado. Como os agricultores possuem idades avançadas entre 65 e 72 anos e estado de saúde debilitado o controle sanitário com aplicações estratégicas de ivermectinas é mais freqüentemente usado para diminuir o número de tratamentos e o esforço de trabalho com o gado, condizente com as suas condições físicas. 134 b) Ovinos: No sistema de criação de ovinos o ciclo é completo, a raça predominante é a Ideal. A produção de lã foi de 550 Kg. O número de animais é de 260 cabeças de todas as categorias. Cabe ressaltar que dos tipos de agricultores entrevistados neste trabalho foi o que apresentou o maior rebanho, apesar de estar numa região onde o abigeato é elevado, tendo o mesmo perdido, recentemente, várias cabeças de bovinos e eqüinos. A principal função da ovinocultura é a manutenção familiar, mas as ovelhas de descarte e os capões são destinados à comercialização e os cordeiros são usados para reposição no rebanho. Diferente dos demais agricultores até aqui descritos que não comercializam animais adultos. A época de reprodução é de março a abril, o nascimento de cordeiros começa a partir do fim do mês de Julho. Os principais problemas sanitários e tratamentos são os mesmos do agricultor tipo 1.1. A renda total é composta pela renda de outras atividades 89,06% ( aposentadorias do casal ), e da renda agrícola que equivale a 10,94 % onde o produto bruto animal corresponde a 100% do produto bruto total gerado no estabelecimento. Na pecuária a rentabilidade da terra atinge um valor médio de R$ 10,97 / ha de S.AU/ ano. É o valor mais baixo de todos os tipos entrevistados, indicando a especialização da atividade de terminação com animais machos. O valor de reposição dos bovinos magros no mercado está muito próximo do valor do gordo, a diferença é basicamente o ganho de peso. Outro fator que contribui para baixa rentabilidade é 135 ausência de matrizes para a produção de terneiros que poderia, como no tipo 1.1, diminuir este custo de reposição. Com este sistema de criação baseado na engorda em um estabelecimento pequeno, o agricultor apenas mantém o seu capital (patrimônio), mas não obtém lucro, pois mesmo a diferença acaba se transformando em custo de manutenção. A rentabilidade do trabalho nessa propriedade é de R$ 9.731,21 / UTHf, equivalente a 4,5 S.M / UTHf / mês. Incluindo no cálculo a renda de outras atividades, como as duas aposentadorias, estando acima do NRS de 1,5 salários mínimos/mês. A insuficiência desse sistema de produção é a remuneração agrícola da mão-de-obra familiar (R.A/UTHf), onde um agricultor recebe mensalmente uma renda de R$10,27/há com uma média de 1,34 pessoa ativa na propriedade. Se não houvesse a aposentadoria, este agricultor disporia de uma renda mensal de R$ 48,00, muito aquém da renda necessária para atender 2 pessoas que é de 3,0 salários mínimos. As propriedades estudadas apresentam, com a aposentadoria, relevante participação, da renda total, de 45% a 89%. c) Aspectos sociais e de qualidade de vida: O estabelecimento possui uma casa de madeira construída junto com o galpão, sem água encanada, o banheiro é externo sem rede de esgoto, sem luz elétrica e uma geladeira à gás somente. As instalações de trabalho e equipamentos são poucos e rústicos, reduzem-se a um pequeno galpão que serve de depósito para guardar utensílios de serviço como arreios, remédios e ferramentas, Os equipamentos são simples na maioria manuais. As 136 mangueiras são de madeira desdobrada e moirões. As cercas recebem a manutenção apenas quando há dano; o número de potreiros ( divisões ) é pequeno, no caso 02. A escolaridade dos proprietários, no caso o casal, vai até a 5ª série do primeiro grau. A aposentadoria do casal é o recurso necessário para a sua manutenção mensal. A pecuária é uma atividade considerada de poupança onde os ganhos são sempre reinvestidos numa nova aquisição de animais magros para repor o que vendeu. Não há escala de produção, o que justifica o padrão modesto de vida da família desse tipo de produtor, do basalto, com uma área inferior a 100 há. Quanto à maior dificuldade nos últimos 10 anos, o produtor cita os juros altos, o preço do boi magro muito próximo ao do gordo e o problema do abigeato devido à situação de proximidade do seu estabelecimento com a fronteira. Como possuem uma única filha, essa não seguirá as atividades dos pais na pecuária, pois não é o desejo dos mesmos manter o seu estilo de vida para ela, uma vez que se encontra estabelecida na cidade. Quanto aos planos futuros, o produtor pretende continuar na atividade, no entanto manifestou uma insegurança com relação a manter a ovinocultura. Com relação à situação da localidade, informou que há um movimento em direção à cidade, principalmente dos pequenos produtores, enquanto nas áreas maiores há uma renovação com os jovens que assumem esses estabelecimentos. 137 5.6 Pecuarista Familiar Tipo 3.2 com Área Menor de 100ha com Renda de Outras Atividades (ROA) – Aposentadoria. a) Localização – Sistema Agrário (02) Arenito. O sistema de produção do agricultor do tipo 3.2 está situado sobre um solo de origem Arenítica. A localidade do denominada de Águas Boas no 4º distrito de Pampeiro faz divisa a oeste com o 5º distrito de São Diogo ao leste com o 3º distrito do Ibicuí ao Sul com o 1º de Livramento ao Norte com o município de Rosário do Sul. b) Origem / Família: O produtor entrevistado é de origem brasileira e uruguaia. A família é natural da localidade denominada de Passo das Pedras onde se localiza uma fração da propriedade. Vive no estabelecimento com a esposa e um agregado. Os filhos já estão estabelecidos em Livramento e outros municípios do estado. O agricultor trabalhou durante muitos anos de capataz de estância e como comerciante em armazém de sua propriedade no meio rural. A maior parte do estabelecimento foi recebida de uma herança do sogro e outra foi adquirida posteriormente, onde reside há 6 anos. Não são áreas contínuas mas estão em localidades vizinhas, afastadas em 26 Km. A mão-de-obra da propriedade familiar é do agricultor, de sua esposa ( 1,11 UTHf),e de uma pessoa considerada mais um agregado do que um empregado da família que representa 1 UTH, percebendo menos de um salário mínimo, sendo que a mão de obra totaliza 2,11 UTH. É composta de pessoas com idade variando de 33 (o agregado) e 68 anos dos proprietários. 138 O estabelecimento tem 99 ha sendo 81ha de S.AU, 08 de mato nativo, 01 de benfeitorias, 09 ha de área não aproveitável. A área útil é ocupada com 03 ha de florestamento, 07 ha com pastagem cultivada e o restante 71 há de pastagem nativa. Quanto à topografia, apresenta-se fortemente ondulada, correspondendo a uma faixa de transição do solo de origem arenítica com o basalto, com baixos a médios teores de fertilidade. Há uma boa disponibilidade de água, tem um açude como bebedouro de água para os animais. O mato nativo é representativo na região; a vegetação e a pastagem nativa é formada de espécies predominantes de gramíneas e de espécies arbustivas de baixa qualidade nutritiva, indicadoras de solos exauridos. Na região em que se situa a propriedade, predominam pequenos e médios estabelecimentos, onde a pecuária extensiva e as culturas do milho de subsistência são as principais atividades agrícolas. O agricultor não planta culturas anuais e de subsistência, possui um pequeno cercado (horta), pomar para o seu consumo familiar Planta pastagem de inverno e de verão, com auxilio de um vizinho, de quem aluga os serviços de mecanização para o preparo do solo convencional lavração, gradagem e semeadura a lanço. Faz consórcios de feijão miúdo e milheto no verão. A aveia moura é plantada consorciada com o azevém e a aveia branca é plantada em áreas separadas no inverno. Nas pastagens, utiliza adubos químicos de correção e de manutenção como a uréia. Utilizou o calcário para correção nas áreas de pastagens, aproveitando um programa municipal para compra conjunta desse produto, organizado pela S.M.A. Possuí uma área com florestamento próxima à casa sem fins econômicos apenas como área de proteção e retira lenha para o seu uso doméstico. O leite é produzido apenas para o consumo próprio como nos demais. A única criação de pequenos animais são as aves. 139 O principal sistema de criação é a exploração da pecuária extensiva de corte e a ovinocultura. Como os demais agricultores já citados do arenito, não termina os animais apenas cria. O produto vendido assemelha-se aos demais do arenito, vende animais jovens e vacas de descarte por quilo de bovino, ou troca categorias diferentes com os vizinhos. A comercialização do gado é feita na localidade, ou com escritórios de remate. Vende vacas de descarte e terneiros de ano, sendo esses últimos enviados para São Paulo por um comprador local que adquire pequenos lotes de animais dos produtores da região para formar uma carga de caminhão fechada. Complementa a receita da propriedade a produção da lã, a venda de couros e peles de animais abatidos para o consumo próprio. Os animais consumidos são galinhas, ovinos e bovinos . O sistema de criação já descrito é idêntico ao agricultor tipo 2.2. A raça predominante dos bovinos é o Zebu com Charlês e Normando,. Os reprodutores são adquiridos ou trocados por vizinhos, alguns são animais que foram descartados de propriedades maiores. Os principais problemas sanitários e os seus controles são os mesmos do agricultor tipo 2.2. O sistema de criação dos ovinos é igual ao agricultor tipo 2.2 já dscrito. Predominam ovinos da raça Corriedale cruza Ideal, com um total de 99 cabeças de várias categorias, produziu 378,4 Kg de lã no ano de 2000. Os ovinos entram em reprodução nos meses de março a abril. Os problemas sanitários e os seus controles são semelhantes aos já descritos anteriormente variando apenas quanto à qualidade e à quantidade de tratamentos. 140 A renda do estabelecimento é composta pela renda de outras atividades (02 aposentadoria), que equivalem a 45,07 % da renda total contra 54,93 % da renda agrícola. A rentabilidade do trabalho é de R$ 9.354,99 / Uthf / ano correspondente a 4,33 S.M /mês onde está incluída a aposentadoria rural. Cabe ressaltar que a esposa não trabalha em tempo integral no estabelecimento. Este sistema junto com o tipo 1.1 tem maior peso da mão-de-obra não familiar. (agregado) A rentabilidade da terra atinge um valor médio de R$ 70,42 / há de S.AU/ ano. O valor agregado líquido total por S.AU, ou seja, a produtividade da terra obtida pelo estabelecimento rural é de R$ 94,96/há, bem acima do valor encontrado no mesmo sistema de produção do basalto. O produto bruto animal representa 100 % do produto total gerado na propriedade. A lógica da sua reprodução social o agricultor tem a atividade agropecuária como uma poupança na qual lança mão da comercialização quando necessita de recursos, ou tem produção para vender. O custeio da manutenção familiar é feita através da renda de outras atividades (ROA) econômicas, da aposentadoria rural do casal e da produção gerada de subsistência na propriedade, durante o ano. c) Aspectos sociais e de qualidade de vida: O estabelecimento tem uma casa mista, rústica em estado razoável de conservação com energia elétrica alguns eletrodomésticos básicos, com banheiro interno, com água encanada de boa qualidade, abastecida por poço raso e com sistema de esgoto. As suas instalações de trabalho, galpões e mangueiras possuem pouca manutenção, demonstrando falta de capacidade para investimento. Como no caso anterior, possui equipamentos simples e manuais para o trabalho. 141 O principal problema na pecuária, segundo o agricultor, foi em relação ao crescente aumento do custo de produção e estabilização do preço do gado, pois na década de 70 / 80 considerou o melhor período para a pecuária. Hoje ser invernador, ao seu ver, é um bom negócio, mas não tem apoio para a retenção de fêmeas, pois exige capital de giro e maior imobilização de recursos de que não dispõe. Segundo informações do agricultor, há uma diminuição do número de pessoas que moram na localidade e algumas áreas estão tornando-se sítios de lazer, o que evidencia o êxodo rural, quer pela saída das pessoas mais idosas e, ou pela falta de jovens para a renovação dessa mão de obra rural. Com relação aos planos futuros, o produtor pretende manter-se na atividade da pecuária com gado de cria e investir em pastagens para invernar as vacas de descarte. A escolaridade do casal vai até a quinta série do primeiro grau. Quanto aos filhos não há uma expectativa de permanecerem na agropecuária por estarem já estabelecidos economicamente. A filha tem curso superior, é professora, enquanto o filho mora em outra cidade do estado trabalhando em uma multinacional. Este tipo de agricultor, a exemplo do anterior, consegue se manter na atividade da pecuária com uma área inferior a 100 ha, ou seja, 81 ha de S.A.U através dos recursos da aposentadoria do casal. Atividade da pecuária é uma forma de poupança da família. Os filhos já estão economicamente independentes, o que lhes permite um razoável nível de vida. O agricultor aposentado do basalto tipo 4.1 difere deste por explorar apenas a terminação de bovinos, enquanto este cria e tem auxílio de um agregado com mão-de-obra mais jovem. 142 Em ambos os casos, com renda de outras atividades, a aposentadoria é responsável pela manutenção e a permanência da família no meio rural. 5.7 Pecuarista Familiar Tipo 4.1 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras Atividades (ROA) – Venda de Mão-de-Obra. a) Localização – Sistema Agrário (01) Basalto. O sistema de produção do agricultor tipo 4.1 está situado sobre um solo de origem basáltica da unidade pedregal, no 6º distrito do Espinilho. A localidade denominada Capão do Inglês faz divisa , ao norte com 5º distrito de São Diogo ao leste, oeste e ao sul com a República Oriental do Uruguai ( ROU ) . O produtor entrevistado é de origem brasileira, a mãe é de nacionalidade Uruguaia. Reside na propriedade com a esposa e os filhos de forma esporádica. O estabelecimento foi recebido de herança de seus país 36 ha, administrado por ele desde então, mas é posse comum entre outros dois irmãos, totalizando 107 ha. Há uma área, no entanto, que está com processo de uso capião, não escriturada. O agricultor administra a sua área e a de seus irmãos, mas não percebe remuneração de seus parentes, senão um consumo ovino/mês. Presta serviços aos vizinhos em tempo parcial, para complementar a sua renda, recebendo salário, ou não, em troca de favores. 143 b) Mão de obra: A filha é professora, desempregada, trabalha junto com o pai no estabelecimento quando da ausência de sua mãe na cidade. O filho está estabelecido na cidade, mas trabalha alguns fins de semana no estabelecimento rural. Há um agregado de idade que reside na propriedade e auxilia nas atividades agropecuárias, mas não em tempo integral. Não percebe salário, recebe somente manutenção, casa e alimentação. A mão-de-obra familiar no estabelecimento é muito instável e descontinua onde participam várias pessoas. Logo a UTHf é baixa, equivalente a 1,03 Uthf enquanto o agregado com idade de aproximadamente 60 anos, representa 0,6 UTH. O estabelecimento possui 107 ha correspondendo a uma S.A.U de 61 ha, a redução deve-se a grande área de mata nativa, capoeiras e de afloramento de rochas existentes na área. Quanto à topografia, apresenta-se com relevo acidentado fortemente ondulada. O estabelecimento se localiza em um lugar baixo da região com presença significativa de mato em 30 ha, abundância de água com um arroio com boa vazão que margeia a propriedade no seu sentido longitudinal. c) Sistema de cultivo: Não são realizadas culturas de subsistência como o milho e horta, embora a propriedade possua implementos de tração animal. A pastagem cultivada todos os anos é feita com a ajuda de um proprietário vizinho que cede o trator e o tratorista para o preparo do solo e plantio de uma área de 144 1,5 ha. O sistema de plantio é o convencional, de uma lavração e duas gradagens, sendo o plantio feito a lanço junto com adubo químico. Não usa adubo de manutenção como a uréia, mas faz parcagem com antecedência de bovinos e ovinos. O único insumo adquirido pelo produtor para implantação da pastagem que envolve despêndio financeiro é a semente de azevém, os demais insumos são cedidos pelo o vizinho. Para o uso da pastagem, a prioridade é das vacas prenhas. O principal sistema de criação é a pecuária de corte extensiva e a exploração de ovinos. Não é realizado o ciclo completo, mas apenas a cria. O estabelecimento no ano de 2000 possuía 92 bovinos de diferentes categorias. A comercialização dos bovinos é semelhante à do agricultor tipo 3.2, obrigando a comercializar os animais jovens e as vacas para os invernadores por não ter espaço e nem oferta de alimento para a recria e engorda. A raça predominante dos bovinos é o charles cruza com Nelore. O período de reprodução dos bovinos é definido de novembro a janeiro, das novilhas de 2 3 anos. Há um baixo índice de repetição de cria, os ventres entram em reprodução a cada dois anos, o que está relacionado à alta lotação e ao estado nutricional deficiente do rebanho. O período de desmama é tardio em torno de 1 ano. Os principais problemas sanitários e os controles são semelhantes aos descritos anteriormente no agricultor tipo 2.1, variando a qualidade e a quantidade de tratamentos, pois segundo o agricultor a incidência de carrapato nos bovinos diminuiu muito nos últimos anos. 145 d) Ovinos: Os ovinos são utilizados para manutenção familiar; o estabelecimento possuia 187 ovinos de várias categorias no ano de 2000. A raça predominante é a Corriedale cruzada com Merino Australiano. As ovelhas de descarte os capões são destinados apenas para a manutenção da família, e os cordeiros para reposição no rebanho. O período de reprodução é definido de março a 1º de abril. A origem do carneiro é doação de um borrego do estabelecimento vizinho. Os problemas e os controles sanitários são os mesmos descritos anteriormente com destaque para a dificuldade de controle dos vermes. Como produto alternativo para controle da manqueira ( foot root ) e da lágrima nos ovinos, o agricultor cita o uso de sulfato de cobre junto com óleo queimado de motor com bons resultados. e) Renda agrícola: O agricultor possui renda de outras atividades diminuindo sensivelmente a UTHf que é 1,03 em sua propriedade, em detrimento de compromissos que complementam a sua renda familiar ( pluriatividade ). Estas atividades são todas realizadas nas proximidades de seu estabelecimento em grandes propriedades, sendo que algumas são realizadas por troca de remuneração e outras de favores. Caracterizando uma relação de compadrio, ou clientelismo onde há troca de mão de obra por insumos e ou serviços mecanizados com vizinhos. 146 O agricultor também é capataz de tropeada quando se ausenta por mais tempo e se desloca por maiores distancias de seu estabelecimento para uma outra localidade do município. Nas demais atividades, retorna sempre no final do dia para sua propriedade. O agregado que mora com a família passa a ter papel importante para o zelo do estabelecimento e das atividades diárias na ausência do agricultor. A renda total é composta pela renda agrícola 57,18 % desta e a da renda de outras atividades (R.O.A), equivalente à 42,82 % da total, oriundas de atividades como alambrador, tropeador, e serviços gerais de manutenção e administração em propriedades vizinhas. O produto bruto animal equivale à 100 % do produto bruto total gerado no estabelecimento. A rentabilidade da terra atinge um valor de R$ 81,91 / há de S.AU/ ano. A rentabilidade do trabalho é de R$ 8.842,06 / Uthf / ano correspondente a 4,0 S.M / UTHf /mês onde esta incluída a renda de outras atividades. Cabe ressaltar que a esposa não trabalha em tempo integral no estabelecimento o que diminui a UTHf. Parte da renda agrícola é transferida aos dois irmãos pelo uso em comum da terra, sendo que o produtor que administra a área recebe com a sua família um terço desta renda equivalente aos 36 há de sua propriedade, ou seja, R$ 1.735,77. f) Aspectos sociais e de qualidade de vida: O estabelecimento possui uma casa modesta de madeira, com água encanada por gravidade de uma fonte sem proteção e nenhum bem de luxo, inclusive geladeira. As instalações de trabalho e equipamentos são poucos e rústicos, reduzem-se a um galpão pequeno que serve de depósito para guardar utensílios de serviço como arreios, remédios e ferramentas. Os equipamentos são na maioria manuais estão expostos ao relento reduzindo sensivelmente sua vida útil. As mangueiras são de pedra 147 e de madeira desdobrada e de moirões. As cercas recebem a manutenção apenas quando rompem. A área é dividida em 4 potreiros. Segundo o agricultor: “Nos últimos dez anos, ele acha que a situação da pecuária melhorou por haver mais procura por animais o que elevou o preço. Quanto à maior dificuldade, o produtor cita a seca ocorrida há dois anos e o problema do abigeato pela proximidade do estabelecimento com a fronteira”. A tendência, segundo a sua expectativa, é continuar na atividade da pecuária, aumentar o número de cabeças exploradas com rebanho de cria e com ovinos. Ao seu ver a pecuária nos últimos 10 anos melhorou havendo uma maior procura de animais, melhorando os preços mais altos. Não tem planos de ir para a cidade. Com relação aos filhos, não é o seu desejo manter o seu estilo de vida para eles, e nem estes pela sua formação continuarão na atividade do pai. Com relação à situação de sua localidade, informou que há um movimento em direção a cidade principalmente dos pequenos produtores, pela falta de recursos financeiros e estruturais para se manterem na atividade. Nos estabelecimentos maiores, há uma continuidade por parte de jovens que herdam essas propriedades. A escolaridade do proprietários no caso o casal vai da 3ª à 5ª série do primeiro grau. O agricultor tipo 4.1 consegue se manter na atividade da pecuária sobre um solo de origem no basalto com uma área inferior a 100 há devido as atividades de prestação de serviços que realiza na vizinhança (pluriatividade rural). A oferta de trabalho na localidade é conseqüência de dois fatores: a escassez de mão de obra especializada devido ao êxodo rural, a diminuição de mão de obra nas grandes propriedades. A 148 relação de compadrio está presente, ainda hoje, entre a pequena propriedade e o grande estabelecimento rural como a troca de serviço por produtos ( carneiro, insumos e serviço de trator por exemplo). 5.8 Pecuarista Familiar Tipo 4.2 com Área Menor que 100ha com Renda de Outras Atividades – Venda de Mão-de-Obra. a) Localização – Sistema Agrário (02) – Arenito, O sistema de produção do agricultor do tipo 4.2 está situado sobre o sistema agrário do Arenito. A localidade denominada de Rincão de Palomas do 1º distrito de Livramento faz divisa à oeste com o 5º distrito de São Diogo ao leste com o 3º distrito do Ibicuí ao sul com a ROU e ao Norte com 4º distrito de Pampeiro. b) Origem / Família: O produtor entrevistado é de origem brasileira, reside no Rincão de Palomas há 72 anos na propriedade que herdou de seu pai. A sua família é natural da localidade do Itaquatiá. No estabelecimento reside a esposa e um filho de 15 anos que estuda na escola pólo rural próxima a sua casa. A filha tem nível de escolaridade superior e está estabelecida na cidade onde é professora. A mão de obra da propriedade é familiar, não contrata empregado. As atividades na propriedade são desenvolvidas pelo produtor, sua esposa e filho, quando não está na escola. A esposa, além das lidas domésticas, é servente na escola onde dedica aproximadamente 06 horas de trabalho / dia. 149 O agricultor outras atividades não agrárias como alambrador, pedreiro e marceneiro além de ser o barbeiro da localidade nos domingos pela manhã. Devido ao alto grau de comprometimento de trabalho externo à propriedade, a unidade de trabalho homem família é de apenas 0,85 UTHf, a segunda mais baixa de todos os entrevistados. A idade das pessoas que trabalham no estabelecimento varia de 15 do filho a 62 anos do casal. A propriedade tem 5,5 ha próprios mais uma de área de 13 há arrendada para pastoreio. O agricultor ainda tem alguns animais soltos no “ corredor “ ( estrada da localidade). Na região em que se situa a propriedade predominam pequenos estabelecimentos com as culturas do milho, trigo e após o arroz que historicamente foram muito explorados. A pecuária extensiva continua sendo a principal atividade, agravando a situação dos solos já comprometidos. A reposição e a recuperação desses é inviável pela descapitalização e baixa capacidade de investimento dos produtores que continuam a exportar a pouca fertilidade da sua terra através da pecuária criando um ciclo sócio – econômico de baixa reprodução social e estagnação. c) Sistema de cultivo: Embora os solos sejam aptos com restrições a manejo intensivo à agricultura, o produtor há dois anos não planta culturas de subsistência como horta e milho, embora possua implementos de tração animal na propriedade. A última lavoura de milho plantada foi através da secretaria da agricultura do município utilizando os serviços da patrulha agrícola que é atuante na região. 150 No plantio sempre usou semente própria de milho chamada de grão de ouro, variedade de origem na localidade com bons índices de produção, segundo o mesmo. Possuí uma área com florestamento, próxima à casa, sem fins econômicos apenas como área de proteção e de descanso para os animais. Produz leite apenas para o consumo próprio e uma de aves. d) Sistema de criação: A principal exploração é a pecuária extensiva de corte com sistema de criação, vende animais jovens e vacas de descarte, por quilo de bovino, ou troca categorias diferentes com os vizinhos. O número de bovinos existente no estabelecimento no ano de 2000 era de 26 cabeças de diferentes categorias. A comercialização do gado e dos demais subprodutos é igual a do agricultor tipo 2.2. Algumas vezes abate animais na propriedade e vende em partes por quilo na localidade. Na reprodução dos bovinos, os índices de repetição de cria, desmame são semelhantes ao descrito no produtor tipo 2.2. A raça predominante dos bovinos é o Zebu com Holandês. Os baixos índices de produtividade estão relacionados à pequena área de exploração e a um excesso de lotação de animais, chegando ao ponto do produtor criar ventres com terneiros ao pé, no corredor ( estrada ), agravando ainda mais a deficiência reprodutiva e alimentar de suas matrizes. 151 Os principais problemas sanitários e seus controles já foram descritos no agricultor tipo 2.2, variando a qualidade dos produtos e o número de tratamentos, além do uso banho por aspersão com bomba costal manual para o controle de carrapato. de e) Ovinos: O sistema de criação dos Ovinos também é extensivo. O estabelecimento contava com um total de 39 cabeças de diferentes categorias no ano 2000. A raça predominante é a Ideal. Não tem manejo reprodutivo dos carneiros e a produção de lã foi de 50 Kg. Os problemas sanitários e os controles são os mesmos do agricultor tipo 2.1, variando conforme a qualidade e a quantidade dos produtos aplicados. f) Renda Agrícola: A renda total é composta pela renda agrícola equivalente 32,67 % desta e a de outras atividades ( R. O. A ), equivalente à 67,33 % da total, oriundas de atividades como alambrador, pedreiro, carpinteiro e na administração em propriedades vizinhas etc. O produto bruto animal equivale à 100 % do produto bruto total gerado no estabelecimento. A rentabilidade da terra atinge um valor de R$ 231,89 / há de S.AU/ ano. Deve frisar o alto valor devido ao uso da estrada na criação dos animais que não esta incluído no cálculo da S.AU. A rentabilidade total do trabalho é de R$ 13.977,04 / UTHf / ano, correspondente a 6,5 S.M / UTHf /mês onde está incluída a renda de outras atividades. Cabe ressaltar que a esposa percebe um salário mínimo como servente da escola. Não trabalha em tempo integral no estabelecimento, o que diminui a UTHf, assim como os demais integrantes da família. 152 O valor agregado líquido total por S.AU, ou seja, a produtividade da terra obtido, pelo estabelecimento rural é de R$ 285,45 / há de S.AU/ ano, o maior de todos estudados. A comercialização de animais é considerada pela lógica da família como uma poupança sempre que há uma necessidade, extraordinária de doença ou por uma festividade. A manutenção familiar é feita através da produção de subsistência que tem um valor superior ao que é produzido para a venda, da renda de outras atividades econômicas. A única venda declarada pelo agricultor no ano passado foi de um boi manso para cobrir as despesas de formatura da filha que contribui também para aumentar a renda agrícola. Embora os índices da rentabilidade da terra e do trabalho aparentemente pareçam superiores aos entrevistados com menos de 100 há, deve-se à pequena área explorada ( uso da estrada), a baixa UTH disponível e o produto bruto gerado para o consumo do estabelecimento. Pode-se observar a falta de recursos para a manutenção do estabelecimento quer seja financeira, ou de mão de obra familiar disponível.. g) Aspectos sociais e de qualidade de vida: O estabelecimento tem uma casa mista, rústica em estado regular de conservação com energia elétrica, alguns eletrodomésticos básicos, com banheiro externo, sem água encanada e sem sistema de esgoto. As suas instalações de trabalho encontram-se em estado precário, sem manutenção que mostra a falta de capacidade para investimento nas mesmas. Como no caso anterior, possuí equipamentos manuais para o trabalho. Os implementos agrícolas encontramse na intempérie em estado de sucateamento. ( Foto5) Quanto ao seu principal problema enfrentado na pecuária nos últimos dez anos, cita o aumento do custo de produção e estabilização do preço do gado. 153 Com relação aos planos futuros o produtor pretende manter-se na atividade da pecuária sem perspectivas de mudanças e de diversificação, enquanto a saúde permitir, mas apenas de manutenção; gostaria de adquirir mais terra se houvesse financiamento. Quanto aos filhos, há uma expectativa do filho permanecer na atividade, pois está deixando de estudar, enquanto a filha já esta estabelecida na cidade. Destaca-se mais uma vez que a filha foi a primeira a deixar o campo enquanto o filho permanece junto com os pais. A vontade dos pais é de encaminharem os seus filhos para a cidade em busca de melhores condições e qualidade de vida, que eles não têm. A escolaridade do casal vai até a quinta série do primeiro grau. Há perspectivas de que o filho permaneça no campo se não voltar a estudar. Contudo, o produtor e sua esposa não têm uma definição muito clara de qual será o destino dele. Segundo informações e observações há na localidade um número expressivo de casas abandonadas (taperas), evidenciando um êxodo rural muito acentuado, quer pela saída das pessoas mais idosas e, ou pela falta de jovens para a renovação dessa mão de obra rural.( Tabela 02 Resumo das principais características dos pecuaristas famliares) 6 CONCLUSÃO Com o presente estudo, realizado através das entrevistas a informantes chaves, levantamento bibliográfico e leitura da paisagem, pode-se concluir na identificação de dois principais sistemas agrários distintos na sua maneira de ocupação, exploração agropecuária, na diferença de seus solos e a influência do clima nos mesmos para pecuária familiar. É o sistema agrário da região denominada de número um do basalto e a dois do arenito. O estudo da restituição da evolução histórica do município de Santana do Livramento, no Estado do Rio grande do Sul, permitiu identificar cinco períodos distintos e sucessivos que evoluíram e se diferenciaram no tempo. O primeiro sistema agrário dos indígenas, estruturado na caça, pesca, atividades extrativistas e na agricultura de coivara, ocorreram em ambas as regiões homogêneas. Uma diferença que merece destaque é quanto à forma preferencial de ocupação nestas regiões; os charruas e minuanos se estabeleceram na região 01 do basalto, enquanto as tribos Guaranis, na região 02 do arenito, próximos às margens de rios e restingas em terras mais apropriadas para agricultura. O sistema agrário das Missões Fase I ocorre com a chegada dos Jesuítas que introduziram o gado de corte e outros animais domesticados, a partir de 1634, configurandose uma agricultura mais tecnificada nas estâncias missioneiras junto aos rios Ibicui e Arepei no Uruguai, até 1682, quando foram destruídas pelos bandeirantes trazendo fortes reflexos sobre a região 01 Basalto, onde esta estrutura era predominava. Na região do arenito, os índios sofreram menos a influência dos catequistas mantendo-se com o seu sistema de produção praticamente inalterado nesse período. 163 O sistema agrário das Missões Fase II e da Colônia de Sacramento, caracterizouse com base na preação do gado nas duas regiões homogêneas, marcando o início da integração do estado às atividades econômicas do Brasil. O retorno dos Jesuítas às reduções destruídas, a partir de 1682, encontrou a região modificada pelos grandes rebanhos de bovinos, eqüinos e outros animais que se criaram soltos. Os índios, modificando de forma radical os seus hábitos, passaram a comer carne de rês em abundância e a utilizar o couro no seu dia-a-dia, inclusive para o escambo. Tornaramse excelentes cavaleiros para a preação do gado e a depender do cavalo para locomoção, trabalho e luta. A colônia de sacramento no Uruguai é fundada nesta mesma época e passa a ser um importante entreposto comercial para venda e troca de mercadorias e ferramentas por couro e sebo de toda região, inclusive a fronteira Brasil-Uruguai. O quarto sistema agrário do charque volta a ser estruturado na pecuária de corte extensiva explorada a partir da distribuição das sesmarias e a instalação das primeiras estâncias na região do basalto e no arenito. As áreas dessa região começam a ser subdivididas entre arrendatários e posseiros, caracterizando o surgimento de uma classe média emergente de agricultores. Após 1814, com a instalação do povoado de Santana do Livramento, inicia na região dois do arenito uma exploração um pouco mais intensa com agricultura que deixa de ser apenas de subsistência para ser de mercado também. A cadeia do charque é o sistema de comercialização desse período que inicia a partir de 1780 com a instalação do primeiro saladeiro em Pelotas. Posteriormente outras instalações são rapidamente construídas por toda fronteira oeste do estado, inclusive em Livramento, caracterizando um dos principais ciclos econômicos da carne do estado do Rio grande do Sul com projeção nacional. 164 O quinto sistema agrário considerado da modernização teve seu início em 1930, perdurando até os dias de hoje, marcado pela primeira grande crise da pecuária e a chegada dos primeiros imigrantes europeus no município para o cultivo do trigo e do arroz. Configuram-se dois sistemas agrários diferentes no município em estudo: O sistema da região do basalto com campos de excelente qualidade para a pecuária de corte e ovinocultura e do arenito com terras mais aptas à agricultura. No entanto, em ambos predominou a pecuária de corte como principal atividade, o diferencial foi o incremento da agricultura na região dois que foi a pioneira. Nessa região, após o advento da mecanização, o uso de insumos e do crédito rural abundante tornou a agricultura mais intensificada. No sistema agrário da região do basalto, a lavoura de arroz entrou mais tarde, quando diminuiu a oferta de terra para o arroz na região do arenito. No basalto, devido uma maior restrição de uso do solo e disponibilidade de água, as áreas destinadas a lavouras são menores do que na região dois. Nesse período a exploração da pecuária torna-se mais tecnificada através dos cruzamentos de raças e o uso de novos produtos veterinários. No sistema agrário da região do basalto, destaca-se um número maior de cabanhas para produção de matrizes e reprodutores tanto de ovinos como de bovinos. Na estrutura fundiária dessa região prevalece um maior número de grandes propriedades, enquanto no sistema agrário da região dois predominam os médios e pequenos estabelecimentos. A partir da instalação do frigorífico Armour em Santana do Livramento, ocorre um processo crescente de modificação no sistema de criação e de comercialização do gado e dos bovinos. Havendo necessidade de uma adaptação das carcaças dos animais à 165 conservação por frio e ao congelamento; torna-se necessário melhorar a qualidade genética do gado através do cruzamentos com o gado europeu. Durante a II grande guerra mundial, o período é marcado por um grande crescimento econômico quando inicia a exportação de grandes volumes de carne para os exércitos aliados na Europa. As conseqüências foram sentidas na melhoria da infra-estrutura das propriedades e nas cidades. A ovinocultura também tem uma grande expansão nesta época, sendo capaz de sozinha custear as despesas do ano dos estabelecimentos agropecuários, até quando o preço da lã no mercado internacional começa a declinar a partir de 1980. Conforme entrevistas, a lã possibilitou a capitalização dos grandes estabelecimentos, mas esta receita foi mais significativa a nível dos pecuaristas familiares para a sua manutenção que podiam contar com mais esta renda no ano. O primeiro movimento de êxodo rural ocorreu nesse período também quando os agricultores e seus familiares começam a ocupar postos de trabalho no frigorífico. Alguns com características de pluriatividade, pois continuavam a residir no seu estabelecimento rural. A partir da década de 1970, com o crédito rural abundante, houve uma diferenciação significativa entre as regiões dos dois sistemas agrários. A região um intensificou sua aptidão à pecuária e a região dois à lavoura. A partir da definição destes dois sistemas agrários atuais, da pré-tipologia, das entrevistas e do resgate histórico, foi possível identificar as tipologias principais dos pecuaristas familiares do município de Sant’Ana do Livramento nos dias de hoje, sendo 166 classificados em quatro tipologias de pecuaristas familiares conforme sua área de exploração e suas rendas∗. Conforme a presente tipologia foi entrevistado um tipo de pecuarista familiar para cada região homogênea ( Basalto 01 , Arenito 02 ); 1) Pecuaristas familiares tipo 01 com área maiores de 100 ha e menores de 500 ha – o principal sistema de produção é a pecuária de corte e a ovinocultura e a inexistência de rendas de outras atividades ( ROA), como base de sua reprodução sócio – econômica. Caracterizados por serem dinâmicos, buscam a especialização na agropecuária e na tecnificação. 1.1. No sistema agrário do basalto é um produtor que ocupa mão de obra familiar em mais de 50 % da UTH do estabelecimento. No máximo contrata um empregado fixo, sendo especializado na pecuária para terminação (engorda) de bois e na ovinocultura na produção de lã. A comercialização é feita diretamente com os compradores de gado ou frigoríficos. Não pratica agricultura, exceto pequena horta e pomar para subsistência. 1.2. No sistema agrário do arenito é um produtor que ocupa 100 % a mão de obra familiar ou troca de serviços com vizinhos. Não contrata empregados. O seu sistema de produção é a especialização na pecuária extensiva de criação para venda de terneiros e vacas de descarte gordas. A comercialização é feita para compradores de gado e terneiros, ou diretamente para os frigoríficos. A ovinocultura é somente para o consumo próprio, mas vende a lã. Faz uma agricultura diversificada de plantas de baraço para comercializar na cidade. Planta no sistema tradicional, pastagens artificiais e milho que é usado para o fornecimento aos animais e o excedente vende para os vizinhos. 167 ∗ Todas as rendas de outras atividades ( R.O.A ) são consideradas oriundas exclusivamente do meio rural ( aposentadoria e da venda de mão de obra). No caso da venda de Mão-de-Obra inclui atividades agrícolas ( lidas no campo em estabelecimento de terceiros) e atividades não agrícolas ( serviço de pedreiro, alambrador, carpinteiro e barbeiro). 2) O pecuarista familiar tipo 02 possui área com menos de 100 ha – e o principal sistema de produção é a pecuária extensiva de bovinos de corte e ovinocultura, a inexistência de rendas de outras atividades ( ROA), como base de sua reprodução sócio – econômica. São caracterizados por serem estagnados, com baixo nível tecnológico da atividade agropecuária e na ausência de aplicação de investimento nos estabelecimentos. 2.1. No sistema agrário do basalto é um tipo de produtor que ocupa 100 % da UTH com mão de obra familiar em seu estabelecimento. Não contrata empregado fixo, mas troca serviço com vizinhos. O seu sistema de produção é o mesmo anterior do tipo 1 do arenito. As receitas são oriundas da venda de terneiros e vacas para engordar (invernar) para os vizinhos. A ovinocultura é destinada para manutenção da família e a pouca lã produzida é comercializada. 2.2. No sistema agrário do arenito é um produtor que ocupa 100 % a mão de obra familiar, ou troca de serviços com vizinhos. Contrata empregados temporariamente para cultura milho. O sistema da pecuária é o mesmo do tipo 1.1 do arenito descrito anteriormente, mas sua comercialização é local com os vizinhos. O sistema de cultivo é tradicional sendo diversificado com plantas de baraço e milho para o consumo próprio e o excedente vende para vizinhança. Usa muito poucos insumos externos à propriedade para plantar. Obteve uma renda de outras atividades da venda de moirões feitos com madeira de sua propriedade, equivalente à 33,98 % da renda total. Tem uma pequena horta e pomar para subsistência. 3) O pecuarista familiar tipo 03 com área de menor de 100 ha – o principal sistema de produção é a pecuária de corte extensiva e a ovinocultura, tem na aposentadoria rural renda de outras atividades ( R.O.A.), para sua reprodução sócio – econômica. Caracterizados por serem intermediários com limitados investimentos na sua produção, com baixo nível tecnológico da atividade 168 agropecuária. Como possuem uma renda mínima das aposentadorias ( casal ) e tem sua saúde debilitada, priorizam atividades agropecuárias extensivas com pouco uso de mão de obra familiar. A baixa rentabilidade do estabelecimento não permite a contratação de mão de obra formal, por isto observa-se o uso da força de trabalho de um agregado nos dois tipos estudados. Sendo um com remuneração inferior a um salário mínimo e outro sem remuneração. 3.1. No sistema agrário do basalto, é um tipo de produtor que ocupa um pouco mais de 50 % da UTH com mão de obra de familiar no seu estabelecimento. Não contrata um empregado fixo, mas tem uma pessoa como agregado que não percebe salário. O seu sistema é especializado em terminação de animais adultos ( Bois gordos ). As receitas são oriundas da venda desses animais diretamente aos frigoríficos. A ovinocultura é destinada para produção de lã e a manutenção da família. A renda agrícola do sistema de criação é pequena, pois a maioria deste valor é reaplicado na compra de animais magros para reposição do sistema. A renda de outras receitas ( R.O.A.) representa 89 % da renda total do estabelecimento. Por ninguém residir fixo na propriedade não faz culturas de subsistência. 3.2. No sistema agrário do arenito é um tipo de produtor que ocupa mais de 50 % da mão de obra familiar. O sistema de criação é o mesmo do tipo 02 do arenito descrito anteriormente. O seu sistema de cultivo é tradicional com pouco uso de insumos externos, baseado no milho para o consumo no estabelecimento e nas pastagens. A renda de outras atividades ( R.O.A: aposentadoria) é significativa, pois representa 45 % da renda total do estabelecimento. 4) O pecuarista tipo 04 com área menor de 100 ha – o principal sistema de produção é a pecuária de corte e a ovinocultura com venda de mão de obra como renda de outras atividades ( R.O.A ), para sua reprodução sócio – econômica. Possuem as mesmas características da tipologia anterior (3). 169 Como a renda de outras atividades ( R.O.A.) é importante para complementar a renda total do estabelecimento priorizam atividades agropecuárias extensivas com pouco uso de mão de obra familiar, visando à liberação desta a atividades de prestação de serviços. 4.1. No sistema agrário do basalto é um tipo de produtor que ocupa mão de obra de familiar em mais de 50 % da UTH do estabelecimento. Não contrata um empregado fixo, mas tem uma pessoa como agregado que não percebe salário. O seu sistema é de cria, o mesmo do tipo 2.1 do arenito descrito anteriormente. A renda de outras receitas representa 42,8 % da renda total do estabelecimento. Constatou-se que a venda de mão de obra às vezes não implica uma remuneração monetária, mas como no início do século XIX, uma relação de compadrio, entre a grande propriedade e o pequeno estabelecimento da família dos agregados. O trabalho é troca por favores, ou produtos, como o empréstimo de uma máquina para um serviço, a doação de produtos veterinários, sementes etc. 4.2. No sistema agrário do arenito é um tipo de produtor que ocupa 100 % da mão de obra familiar. O sistema de criação é o mesmo do tipo 2.1 do arenito já descrito. A renda de outras atividades ( R.O.U. ), representa 67 % da renda total do estabelecimento. Como esta é a principal renda, explica o abandono das atividades agrícolas e a necessidade de membros da família se responsabilizarem por uma área maior. De todos os agricultores entrevistados, é o que tem menor área ( 16 há de S.AU ) para a exploração da pecuária. Devido à falta de terra e ao seu excesso de lotação, coloca animais na estrada (corredor). Assim os seus indicadores agroeconômicos relativos à produtividade e rentabilidade da terra são os mais altos dos grupos estudados. O presente estudo pode verificar que os pecuaristas familiares que têm renda de outras atividades com valores significativos sobre a renda agrícola pouco investem em tecnologia. Embora estas rendas sejam oriundas das atividades não agrícolas, são 170 gerenciadas pelos chefes da família e acabam sendo destinadas a manutenção das mesmas. No entanto, as rendas de outras atividades ( R.O.A.) com da venda de mão de obra, muitas vezes, representam uma remuneração temporária. Na lógica destes agricultores, os recursos oriundos da pecuária de corte são considerados como reserva de poupança. sendo utilizados apenas em momentos de necessidade para cobrir despesas não previstas e extraordinárias. As rendas de outras atividades ( R.O.A.) possibilitam uma melhor remuneração da mão de obra em relação às atividades agrícolas. Verificando-se os indicadores da remuneração da mão-de-obra familiar ( RT / UTHf ), os maiores valores são para os sistemas de produção que incorporam na renda outras atividades comparando-os com os sistemas que possuem somente renda agrícola. Inclusive no sistema de produção com áreas maiores de 100 há, ao compararmos este índice por unidade de área. O que caracteriza a baixa remuneração da pecuária. Constatou-se no grupo em estudo que, em ambos os sistemas com renda exclusivamente agrícola e com rendas de outras atividades, têm por objetivo a subsistência familiar. Há indicativos de três principais motivos da permanência da tipologia com área menor de 100 há no meio rural. O primeiro devido à renda de outras atividades como aposentadoria e venda de mão de obra. O segundo, a um gerenciamento empírico rigoroso. E o terceiro, à baixa aplicação de recursos em insumos externos à propriedade. Verificou-se que os sistemas de cultivo praticados nos tipos estudados não aplicam a totalidade dos insumos tidos como modernos recomendados pela agricultura convencional. Nos estabelecimentos que têm renda de outras atividades (R.O.A.), há uma menor disponibilidade de mão de obra familiar (UTHf) e por conseqüência uma maior depreciação das benfeitorias e equipamentos usados nas atividades agrícolas como pode 171 ser observada a campo, junto com o desinteresse por parte dos agricultores pelas inovações tecnológicas ligadas ao processo de produção. Para reduzir os efeitos destas conseqüências, a patrulha agrícola da secretária municipal é uma importante política para que o pecuarista familiar mantenha alguma atividade agrícola como o plantio do milho, de plantas de baraço e pastagens, conforme verificou-se com o depoimento de alguns agricultores entrevistados. Cabe salientar que os tipos de pecuaristas familiares entrevistados com renda exclusivamente agrícola (pecuária) tipo 02 encontram-se em uma situação de extrema fragilidade social o que permite concluir que estes agricultores têm sérias dificuldades de assegurar a sua reprodução social. O mesmo pode-se constatar para o tipologia 04 com venda de mão de obra. São agricultores que têm uma idade avançada, saúde fragilizada e estão prestes a encaminhar a sua aposentadoria. Os agricultores da tipologia 01 ( área maior de 100 ha e renda somente da agricultura) têm uma situação sócio - econômica estável com uma (V.A.L.) mais alta de todos os estudados, podendo-se concluir que têm capacidade de pequenos investimentos e de manter sua atividade produtiva. O pecuarista familiar tipo 1.2 foi dos poucos que sempre buscou e teve acesso ao crédito rural. Segundo seu depoimento: “Conseguiu comprar sua primeira fração de terra através deste recurso na década de 1970”. Outro fator importante para o seu desenvolvimento foi a sua capacidade de gerenciamento aliada ao seu interesse na adoção de novas tecnologias de baixo impacto financeiro. Como agricultor assistido da extensão rural local, desenvolveu um trabalho em seu rebanho de baixo custo, mas de alta repercussão nos índices de produtividade de suas matrizes o que alavancou sua produção de terneiros. Estes fatores são indicativos do sucesso de seu empreendimento o que pode ser observado nos índices agroeconômicos do seu estabelecimento. 172 O mesmo tipo 1.1 de pecuarista familiar do basalto também encontra-se numa situação estável, embora sua área seja maior que as demais pertence a duas economias, ou seja, a sua e de sua mãe. O sistema de criação com terminação (engorda) desse tipo de agricultor lhe permite ter renda agrícola em um curto espaço de tempo devido à qualidade forrageira das pastagens nativas de sua propriedade. Este sistema de criação se apresenta como um dos melhores indicadores agroeconômicos estudados. Mas tem uma capacidade de investimento limitada pela necessidade de mobilização do capital na compra de animais magros para reposição do sistema de produção. Esta condição é evidenciada, pela falta de rede elétrica no estabelecimento. Pode-se concluir que, mesmo com um dos melhores indicadores sócio – econômicos em relação aos demais do estudo, não lhe permite ter condições de acesso à infra-estrutura básica como a luz elétrica. Assim como outros agricultores pertencentes a este estudo, não tem saneamento básico também. A dificuldade da instalação da rede elétrica na região é histórica pelas grandes distâncias entre os estabelecimentos rurais, condenando os agricultores a um isolamento e tornando-os muitas vezes alienados, trazendo como conseqüência dificuldades na promoção de empreendimentos associativos. Verifica-se que no estabelecimento com área superior a 300 ha de S.AU, a renda total anual não supera o valor para o enquadramento das regras PRONAF de R$ 27.500,00 ( vinte e sete mil e quinhentos reais). Pode-se assim verificar a dimensão da baixa rentabilidade dos estabelecimentos de pecuária familiar com áreas superiores a 100 ha e menores de 500 há, podendo compará-los com agricultura familiar da região norte do estado com áreas menores. Na questão fundiária, constatou-se uma informalidade muito grande em relação ao titulo de posse da terra. A falta de transferência de titularidade, após um processo de 173 sucessão de herança, por exemplo, repercute em uma área maior que o agricultor possui. Com raras exceções, os agricultores entrevistados manifestaram uma situação de regularidade destes títulos junto aos cartórios. Tal condição implica a exclusão ao acesso de linhas de créditos em alguns dos casos estudados. Baseado no resgate histórico e nas entrevistas aos agricultores há indicativos de que a origem dos estabelecimentos da pecuária familiar iniciou no século XVIII. A partir das doações de sesmarias a nobres e militares lusos que trouxeram para região famílias de agregados. Esses, mais tarde, ao receberem terras doadas pelos sesmeiros como reconhecimento, tornam-se pequenos proprietários. Os militares de baixa patente se estabeleceram como pequenos agricultores, receberam terras por serviços prestados ao estado, ou por reconhecimento de seus superiores. Os sesmeiros lusos que não tinham condições de cuidar as suas grandes extensões de sesmarias arrendavam glebas de terras aos agricultores pecuaristas que mais tarde tornavamse pequenos agricultores familiares. Os posseiros, aproveitando-se das terras distantes das sedes das estâncias e de difícil acesso, tomavam posse de glebas e construíam seus ranchos. Algumas vezes com o consentimento dos proprietários, pois serviam como defesa de seus estabelecimentos principalmente junto à linha divisória da fronteira. Fazem parte desta gênese dos pecuaristas familiares os tropeiros, pequenos comerciantes, funcionários e técnicos que trabalhavam nos saladeiros e mais tarde nos frigoríficos que se instalaram em Santana do Livramento. Ao constituírem famílias com os habitantes do município acabavam recebendo de herança ou adquiriam glebas de terra dando origem a uma classe média rural. Neste processo, cabe ressaltar a influência oriental típica de fronteira onde a grande maioria dos agricultores entrevistados tem uma ancestralidade paterna ou materna uruguaia. 174 Recentemente os imigrantes de origem européia que chegaram a partir da década de 30 e o processo sucessivo de herança ao longo dos últimos anos, médios e grandes estabelecimentos transformam-se alguns em pecuaristas familiares. Há indicativos, pelas observações empíricas ao campo e pelas entrevistas realizadas junto aos agricultores, da redução do número de pecuaristas familiares nos dois sistemas agrários abrangidos pelo presente estudo. Constataram-se apenas 02 famílias residindo com os filhos menores de 20 anos de idade no meio rural. Verificou-se que os filhos dos demais agricultores entrevistados na pesquisa de todos os tipos estudados encontram-se estabelecidos e residindo no município ou em outras cidades.A faixa etária dos chefes de família é elevada, acima de 50 anos em média. Há ausência de filhos de moradores estudando em uma escola pólo rural na região 01 do basalto cuja abrangência atinge 03 dos quatro agricultores entrevistados. A infra-estrutura básica é deficiente em todos os tipos do presente estudo, seja por falta de saneamento básico, rede elétrica, ou acesso a transporte, saúde e educação. Situação esta que obriga aos pecuaristas familiares a enviarem seus filhos para a cidade na busca de um futuro melhor já que eles tiveram pouco acesso como cidadãos. Com relação ao meio ambiente, pode-se verificar que no sistema agrário do basalto há uma maior preservação deste por ter menor quantidade de atividades agrícolas com arroz e culturas anuais. No entanto, nas áreas onde essa cultura é explorada, os danos ambientais são mais elevados devido às características de seus solos muitas vezes rasos e poucos permeáveis, causando uma forte erosão laminar e o transporte mais rápido dos agrotóxicos para dentro dos mananciais de água. No sistema agrário dois do arenito, devido ao uso intensivo de seus solos, houve uma maior agressão ao meio ambiente, causando uma erosão com presença de voçorocas, desmatamentos de matas ciliares e assoreamentos dos rios e arroios. Em ambos os sistemas, o excesso de lotação bovina e ovina, principalmente nos 175 pecuaristas familiares, promove um processo erosivo e a eliminação de espécies forrageiras de melhor qualidade, o que pode ser verificado na pesquisa a campo e na leitura da paisagem. Para entender melhor a lógica desta tipologia de agricultores, o presente estudo se propôs, através desta pesquisa empírica, com uma metodologia de abordagem sistêmica, possibilitar uma melhor análise desta realidade agrária complexa. O presente estudo tentou contribuir de forma modesta para este grande debate sobre a realidade da pecuária familiar na região da fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul, há muito tempo esquecida de qualquer privilégio, mas de grande relevância pela sua representatividade em nível municipal e regional. Entender a lógica e dar o devido reconhecimento a estes atores sociais pela sua importância sócio – econômica é o primeiro passo no sentido de um desenvolvimento sustentável deste município. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALBORNOZ, V. do P. L.; Armour. Uma aposta no Pampa. Santana do Livramento /RS ;Ed. Samara, 2000. 158p. ASSOCIAÇÃAO RIOGRANDENSE DE EMPREENDIMENTOS DE ASSISTENCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL -EMATER/ RS Estudo Perspectivas da agropecuária: Município de Santana do Livramento. Ed. Edigraf editora gráfica Ltda. Santana do Livramento / RS. Agosto 1987.45p. ARAÚJO, A. A. de.; Melhoramento das pastagens; agrostologia rio-grandense. 5º ed. Porto Alegre, Sulina . 1978. 208 p. BELTON. W.; Aves Silvestres do Rio Grande do Sul. 2] ed. Porto alegre, Fundação Zoobotânica do Rio grande do Sul. 1986. 172.p., 105il. ( Publicação avulsas FZB, 6). 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Região 2 – Arenito – Campos e matos Próximos a margens de rios (Guaranis ) - pesca artesanal e pequenas plantações. Ferramentas, manuais, Arco e flecha, lança, Boleadeiras Toldos de capim Região 1 Basalto - Padrarias Nas coxilhas concentraram as Estâncias Missioneiras de melhores Pastagens Agricultura de queimada em áreas maiores para estâncias missionárias. Na região 02 Arenito Campos / Matas. permaneceu o índio com seu sistema extrativista e de plantio de queimada de subsistência, caça e pesca Ferramentas manuais e tracionados por bois e cavalos instrumentos metálicos, arco, flecha, lança, boleadeiras. Alguns instrumentos trazidos pelos missionários. Vários rebanhos de bovinos, ovinos e cavalares domesticados Arco, flecha, lança, boleadeiras instrumentos de paus e ossos utilizados pelos índios na região Canoa Milho, Porongos, Feijão, Mandioca DO GADO E AGRÍCOLA EXTRATIVISTA E AGRICOLA Milho, Porongos, Mandioca, batata Animais Plantas e Animais nativos Força de trabalho Mão de Obra familiar Indígena Modo de artificialização do meio: Agricultura em pequenas áreas de capoeira ( Coivara ) junto as matas caça e pesca. Extrativista Relação de troca Excedentes agropecuários Principais Produto Transição para o sistema agrário seguinte Autoconsumo Escambo Milho, Feijão, Mandioca, Trigo batata Organização missionária - índios e jesuítas Agricultura em áreas maiores, de queimada e pousio. pecuária e caça, extrativista Utilizando técnicas trazida pelos jesuítas Mão de obra familiar Indígena caça, pesca e extrativismo Agricultura de queimada e pousio de subsistência. Autoconsumo Autoconsumo Escambo Escambo Venda e troca de produtos vegetais e animais. Trocas entre grupos de indígenas Armazenado para períodos de Trocas entre grupos de escassez indígenas. Venda e trocas de excedentes trigo, feijão, milho, mandioca Venda e troca de couro e sebo. Região 01 – Caça e Pesca de Culturas como trigo, feijão batata, Plantas e animais nativos do animais silvestres. mandioca e animais exóticos bovinos, meio. Região 02- Plantas cultivadas e cavalares, ovinos etc animais silvestres, pesca extrativismo para subsistência Contato com a cultura – Destruição das missões. Contato com a cultura – Rebanhos de todas as espécies colonizadora. colonizadora. Catequização dos Missionários Jesuítas 1634 Introdução do gado e vários animais domesticados pelos jesuítas Fonte: Dados de pesquisa do autor, 2001 são abandonados se reproduzem livremente Preação do gado selvagem Catequização pelos missionários jesuítas. Preação do gado selvagem QUADRO 02 – EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS SISTEMAS AGRÁRIOS DO MUNICÍPIO DE SANTANA DO LIVRAMENTO 1682 - 1930 SISTEMA AGRÁRIO PERÍODO ITENS SUBSISTEMA EXPLORAÇÃO DO ECOSSISTEMA NATURAL, CULTIVADO E DE CRIAÇÃO DOS ANIMAIS INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO: EQUIPAMENTOS E CONSTRUÇÕES: MISSÕES II E COLÔNIA DE SACRAMENTO PREAÇÃO 1682 –1814 PREAÇÃO DO GADO A REGIÃO 1 E 2 ( Basalto e Arenito ) Reorganização das missões e o surgimento dos 7 povos missioneiros foram transformadas em grandes estancias de gado Do Rio Arapeí até o rio Ibicuí. Inicio do estabelecimento de Currais Algumas Tribos continuam fazendo agricultura Milho e mandioca Agricultura de queimada. Ferramentas manuais e tracionados por bois e cavalos como arados e carretas Instrumentos metálicos, faca, enxada pá.... CHARQUEADAS Industrialização da carne PECUÁRIA 1814 -1930 PECUÁRIA E AGRICULTURA Região 1 – Basalto - Pradarias – Instalação das primeiras sesmarias para criação do gado. Cercas de pedra para divisões de áreas. Região 2 – Predominou a criação do gado, mas propiciou a instalação de pequenas áreas para o plantio de culturas de Subsistencia. desmatamento Ferramentas manuais e tracionados por bois e cavalos. Arado e Instrumentos metálicos faca, enxada, machado, pá... Boleadeiras, laço, lança, Boleadeiras, laço desgarroteadores. Arco, Flecha, Lança, Armas de fogo Toldo e canoas de couro. PLANTAS, CULTURAS, ANIMAIS FORÇA DE TRABALHO Milho, porongos, feijão ,mandioca, trigo, batata Predomínio da exploração do gado bovino xucro e alguns já domesticados. Armas de fogo Ranchos e estancias Mangueiras, cercas de pedra e arame Produtos químicos p/ controle sanitário do gado arsênico. Plantas nativas. Uso do esterco bovino. Maioria dos rebanhos são domesticados. Região 1- Predomínio da exploração do gado bovino e culturas de subsistência em pequenas áreas. Região 2- Milho, Feijão, Mandioca Trigo, Batata em áreas maiores para o mercado. Pecuária de corte. Mão de Obra familiar de sesmeiros, escravos negros Explorada pelos índios / rio-grandenses e agregados contratada, tropeiros, charqueadores, gaúcho, platinos Mão de Obra familiar de colonizadores, contratados, agregados, posseiros, arrendatários. tropeiros, charqueadores, Agricultores de subsistência. Sesmeiros, familiar, Agregado, Estrutura missioneiras dos jesuítas e Mão de Obra assalariada, índios Tribo Escravos Negros até 1884 Escravos índios e Negros Posseiros pecuaristas Colonizadores Ibéricos Arrendatários pecuaristas Gaúcho Agricul. Subst. Propiretários Agricultores mercado Imigrantes espanhóis Região 1 – Basalto - Caça e MODO DE ARTIFICIALIZAÇÃO DO MEIO: apreensão do gado bovino e eqüinos domesticação e doma dos mesmos Região 2 – Arenito - Cultivo em pequenas áreas para subsistência em sistema de pousio e queimada de capoeiras e preação do gado. RELAÇÃO DE TROCA EXCEDENTES AGROPECUÁRIOS PRINCIPAIS PRODUTO criação do gado e Preia. Domesticação do gado Cercamentos dos Campos Cruzamento de bovinos raças europérias Touro ano inteiro Pastagens Rodeios, Marcação Agricultura Sobrevivência e mercado de pousio e queimada. Inicio das lavouras com venda excedentes trigo e milho, feiijão, mandioca etc. Intensificação da caça, pesca me desmatamento. Autoconsumo troca com agregado Comercialização, Contrabando, Roubo Autoconsumo Escambo Comercialização, Contrabando, Roubo Troca e venda de excedentes do couro, Comercialização dos excedentes da produção bovina, sebo peles de caça por roupa, cachaça, Culturas para autoconsumo na propriedade e venda de erva mate, bois e cavalos excedentes. Importação de vários gêneros alimentícios artigos da Índia como fumo em rolo... Plantio de culturas, milho e mandioca Bovinos e cavalos. tropas Animais nativos e exóticos para Charque, Sebo e couro salgados e línguas em subsistência conserva,. Couro / Sebo para troca e Produtos excedentes das lavouras TRANSIÇÃO PARA O SISTEMA AGRÁRIO SEGUINTE Fonte : Dados de pesquisa do autor, 2001 comercialização 1920 carne Congelada 1750 tratado de Madri Destruição dos Redução do rebanho abate indiscriminado de fêmeas. Crise do setor pecuário concorrência com o Uruguai. 7 povos das missões 1777 Tratado de Ildelfonso, entrega da Cercamentos dos campos diminuição dos empregos. Colônia de Sacramento para a Espanha. Revoluções armadas 1893 / 97 e contravenções em 1780- Inicio das Charqueadas em grande escala. Pelotas Confisco de animais. 1800 decadência dos 7 povos/ índios Crise do setor do Charque. I Guerra mundial. tratados como escravos pelos Portugueses. Ciclo dos Saladeiros no Interior do Inicio da Instalação dos frigoríficos em Santana do estado. Livramento 1811 Contigente Militar na Fronteira Quartel de São Diogo 1814 Inicio da distribuição das sesmarias na região QUADRO 03 - EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS SISTEMAS AGRÁRIOS DO MUNICIPIO DE SANTANA DO LIVRAMENTO 1930 - 2001 PERÍODO Sistema Agrário atual Sistema Agrário atual Agropecuária Considerada Tecnificada Agropecuária Considerada Tecnificada ITENS 1930 - 2001 Critérios Região 01- Basalto – Pradarias Exploração do ecossistema natural e cultivado e de criação dos animais Consolidação dos estabelecimentos rurais com cercamentos e subdivisões de pedras após o arame. Predominam médias e grandes propriedades. Que foram subdivididas posteriormente. Instrumentos de produção: Cavalo e o cachorro para o trabalho de campo. Tração a boi, mecanização à vapor, trator, Automotrizes a partir da metade do século XX. Carreta a boi, carroça, veículos utilitários Jeep, caminhão. Esquila à martelo / máquina de esquila Casas e galpões de alvenaria em maior número ( estancias ), poucas de madeiras, Mangueiras, brete, tesouras e balanças. instrumentos, equipamentos e construção: 1930 - 2001 Região 02 – Arenito – Campos e Matas Consolidação dos estabelecimentos rurais com cercamentos e subdivisões. Maior número de propriedades médias e pequenas próximas a sede do municipio. Exploração com arroz dos banhados e várzeas de arroios e rios.( maior presença de orizicultores ) Cavalo e o cachorro Tração a boi, colheitadeiras estacionárias, mecanização à vapor, trator, Automotrizes em maior número. Carreta a boi, Carroça, veículos utilitários, trem, Jeep, caminhão. Esquila à martelo / maquina de esquila. Mangueiras, brete, tesouras Instalação de banheiros carrapaticidas p/ ovinos e bovinos em menor número Instalação de banheiro p/ ovinos e bovinos Irrigação por açudagem para o arroz Plantas, culturas, Animais Força de trabalho Modo de artificialização do meio: Presença da patrulha agrícola. Subsistência, Trigo, Milho até a metade do século XX, Pecuária de corte, ovinocultura, gado de leite em posteriormente arroz e sorgo para o mercado. pequenos estabelecimentos Bovinos, Ovinos suínos e aves subsistência e comercial Gado leite em grandes estabelecimentos. Lavouras de Trigo e milho posteriormente arroz / soja /sorgo – comerciais. Suínos e aves de subsistência. Florestamento Fruticultura e olericultura. Vitivinicultura em grandes áreas empresariais. Mão de obra familiar, contratada capataz, peões, Mão de obra familiar e contratada capataz Peões, posteiros, agregados e contratos temporários. posteiros, agregados, contratos temporários Estancieiros - Militares, políticos, profissionais Estancieiros - Militares, políticos, profissionais liberais Lavoureiros arrendatários de origem italiana e alemã. liberais. Diminuição da venda de mão de obra e pequenos Diminuição da venda de mão de obra e pequenos negócios. negócios. Famílias agregadas / troca de serviço. Pecuáristas familiares Mão de obra temporária / tropeiros alambradores/ etc. Assentados Granjeiros de arroz / aguadores Mão de Obra permanente assalariada, capataz, peões, Pecuáristas familiares posteiros Famílias agregadas / troca de serviço Mão de obra temporária / tropeiros alambradores/ etc. Agricultores familiares de subsistência e de mercado, mutirão, venda e troca de mão de obra. Granjeiros de arroz / aguadores italianos e alemães Bovinos Bovinos Introdução do gado europeu / Indico Introdução do gado europeu / Indico Inicio do controle sanitários banhos carrapaticidas, minerlização, limpeza de campo Sistema de criação e de Invernar dos bovinos Grande número de cabanhas de bovinos e ovinos Ovinos Inicio da criação de ovinos e introdução de raças de lã / carne Aumento da pressão de pastejo pelo número elevado de ovinos Introdução do cavalo de raça inglesa / crioulo Culturas Agricultura comercial de grandes culturas ( Arroz ), em poucas áreas Incremento da utilização de pastagens artificias, adubação e correção do solo Introdução bosques de eucalipto. Pastagens em restevas de arroz Plantio direto Infra-estrutura Subdivisão das propriedades / processo de sucessão das sesmarias Construção de bebedouros para animais e açudes para irrigação. Meio ambiente Uso de agroquímicos nas lavouras e na pecuária. Desmatamento junto aos arroios e sangas. Queimada de campos mais grossos. Inicio do controle sanitários banhos carrapaticidas Sistema de criação e de Invernar dos bovinos Bovinos de leite em pequenos estabelecimentos. Número reduzido de cabanhas. Ovinos Inicio da criação de ovinos e introdução de raças de lã Aumento da pressão de pastejo pelo número elevado de ovinos. Introdução do cavalo de raça inglesa / crioulo. Controle sanitários Culturas Agricultura comercial de grandes culturas ( Arroz, soja e trigo ). Em toda a região. Uso de sementes melhorada Queimadas e desmatamento generalizadas. Introdução maciços de eucalipto em grandes áreas. Incremento da utilização de pastagens artificias, adubação correção. Irrigação através dos mananciais naturais. Infra-estrutura Sub- divisão das propriedades / processo de sucessão das sesmarias / estancias. Pequenas e médias propriedade / assentamentos. Ferrovia / estrada BR 158. Meio ambiente Uso de agroquímicos nas lavouras e na pecuária Desmatamento e queimada generalizada dos campos e restevas Relação de troca Comercialização de bovinos, ovinos e lã. Marchantes Sistema Cooperativo Arrendamento de terras em percentagem de arroz. Troca de serviços / temporários médio e pequenos pecuaristas Assalariamento Compra, venda e troca de animais entre vizinhos Excedentes agropecuários Gado / Saladeiros / frigoríficos da região e município. Lã ( barracas e cooperativas) Percentagem de arroz p/ engenhos e cooperativa ( até 1990 ) Ovinos / marchantes e frigoríficos Principais Produto Degradação dos solos de Coxilha e várzeas Controle da caça e pesca Comercialização de animais para os Saladeiros e frigoríficos da região e município. Marchantes Sistema Cooperativo Arrendamento de terras em percentagem de arroz. Troca de serviços / temporários médio e pequenos pecuaristas Assalariamento Compra e venda de animais entre vizinhos. Troca de serviços proprietários / granjeiros. Gado / Saladeiros / frigoríficos da região e município. Lã ( barracas e cooperativas) Trigo, soja, sorgo e arroz / engenhos e cooperativa Ovinos / marchantes e frigoríficos Frutas e verduras, leite/ mercado local. Uva vinifera exportação para outros estados. Sementes de forrageiras. Produção de Charque, Vela e sabão, couro salgado e Produção de Charque, Vela e sabão, couro salgado e conservas conservas Sebo em pipas. Conserva de carne em latas extratos de Sebo em pipas. Conserva de carne em latas extratos de carne. carne. Carne Congelada Carne Congelada Carne ovina e lã Carne ovina e lã Trigo, Arroz, sorgo Trigo, Soja, Sorgo Arroz, Frutas, olerícolas, Leite Final da cultura do trigo, soja / doenças / mudanças climáticas / solos exauridos, juros elevados, fim do crédito Transição para o sistema rural. agrário seguinte Crise na ovinocultura : redução drástica do valor da lã a partir de 1980, c/ conseqüente redução dos rebanhos Conseqüências da revolução verde – Êxodo, endividamento, degradação e contaminação do solo, desemprego rural, descapitalização, empobrecimento geral crise do sistema cooperativo. Há um processo de crise nas matrizes produtiva do arroz e da pecuária de corte, que caracterizando um momento de transição econômico / social, com a instalação do Mercosul e a Globalização. Fonte: dados de pesquisa do autor, 2001 157 Figura 1 – Produção bruta animal dos estabelecimentos rurais. Pec B PecA PecB* PecA* Após B Após A VMO B VMOA Pbanimal 120.000,00 100.000,00 B = Basalto A = Arenito * < 100ha 80.000,00 60.000,00 R$ 40.000,00 20.000,00 Pe c B Pe cA Pe cB * Pe cA Ap * ós B Ap ós A VM O B VM O A 0,00 Sist. Produção Fonte; dados de pesquisa do autor, 2001 Pode-se observar na figura 01 o que representa em termos econômicos a produção bruta animal ( pecuária) para os quatro sistemas de produção separados por cor. Figura 02 – Comparativo entre o Valor agregado liquido e o Consumo Intermediário. VAL X C.I % CI TOTAL VAL 100% 80% 60% B = Basalto A = Arenito 40% *< 100 ha 20% VM O A B VM O Pe cA * A pó s B A pó s A Pe cB * Pe cA Pe c B 0% Sist. Produção Fonte : Dados da pesquisa do autor, 2001. Destaca-se na figura acima o alto consumo intermediário do sistema agrário de pecuária de terminação ( Pec B e aposentadoria B ). 158 Figura – 3. Valor Agregado Liquido por Unidade de trabalho Homem dos sistemas produção da pecuária familiar. Após B Após A VMO B VMOA VAL / UTH B = Basalto A = Arenito A VM O VM Ap O B A ós B ós * Ap Pe cB cA * *< 100 ha Pe Pe c Pe PecA* cA PecA PecB* R$ 20.000,00 18.000,00 16.000,00 14.000,00 12.000,00 10.000,00 8.000,00 6.000,00 4.000,00 2.000,00 0,00 B Pec B Sist. Agrário Fonte; Dados de pesquisa do autor, 2001 Observa-se com este indicador acima a capacidade do estabelecimento possui de gerar valor novo por unidade de trabalho, conforme cada sistema produção separado por cor. Figura 04 – Valor agregado liquido por superfície de área útil conforme cada sistema produção. R$ Pec B PecA 300,00 PecB* 250,00 PecA* 200,00 50,00 VM O A B VM O * cA Pe cB c Pe * 0,00 B VMOA 100,00 Pe VMO B cA Após A *< 100 ha 150,00 Pe Após B B = Basalto A = Arenito VAL / S.AU Sist. Produção Fonte:Dados de pesquisa do autor, 2001 Observa-se com este indicador acima a capacidade do estabelecimento possui de gerar valor novo por unidade de área, conforme cada sistema de produção separado por cor. 159 Figura 05 – Comparativo entre Unidade de Trabalho Homem total do Nº de UTHs UTH UTHf 3 UTH x UTHf 2,5 2 1,5 B = Basalto A = Arenito * = < 100 ha 1 0,5 VM O A B VM O A Ap ós B Ap ós Pe cA * Pe cB * Pe c B Pe cA 0 Sist. Produção estabelecimento e a UTH familiar conforme cada sistema produção. Fonte: dados de pesquisa do autor 2001. Destaca-se a mão de obra contratada no sist, pec B e no uso da mão de obra de agregados no sistema com aposentadoria. Nas barras de mesmo tamanho predomina apenas mão de obra familiar. Figura 06 – Percentual de participação de Rendas de Outras Atividades ( R. O. A.) e a renda agrícola sobre a renda total do estabelecimento em percentual. R O A/R T % R A/R T % 100 90 80 70 60 % B = Basalto A = Arenito * = < 100 ha 50 40 30 20 10 B VM O A VM O A Ap ós B A* ós Ap Pe c B* Pe c cA Pe Pe c B 0 S ist. P rd o d u çã o Fonte: dados de pesquisa do autor 2001. Observa-se na figura acima a participação de R.O.A. por estabelecimento, destacando que no sistema PecA* a renda é agrícola da venda de moirões , nos demais pode-se analisar a importância da renda de outras atividades na formação da renda total. 160 Figura 07 – Renda Total por Unidade de Trabalho Homem familiar conforme cada sistema de produção. Pec B Pec A Pec B* Pec A* Após B 20.000,00 18.000,00 16.000,00 R$ 14.000,00 12.000,00 10.000,00 8.000,00 6.000,00 4.000,00 2.000,00 0,00 Após A VMO B VMO A RT / UTHf - R$ A* Ap ós B Ap ós A VM O B VM O A Pe c B* A Pe c Pe c Pe c B B = Basalto A = Arenito * = < 100 ha Sist. Produção Fonte: dados de pesquisa do autor, 2001 Observa-se na figura acima a rentabilidade obtida pela família rural no estabelecimento rural ou fora dele – R.O.A.- Com destaque para os sistemas que tem aposentadorias e venda de mão de obra principalmente VMO A. Figura 08 – Comparativo da entre a participação da produção bruta animal e vegetal pelo produto bruto total conforme cada sistema de produção. % PB animal X vegetal/ PB t B = Basalto A = Arenito * = < 100 ha Pe cA Pe cB * Pe cA * Ap ós B Ap ós A VM O B VM O A Pe c B 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 PB animal / PBt % Sist. Produção PBVegetal / PBt % Fonte : dados de pesquisa do autor, 2001. Observa-se na figura acima a pouca participação agrícola nos sistemas de produção, no presente estudo ocorreu em apenas 02. Evidencia uma diminuição desta atividade. 161 Figura 09 – Comparativo entre área total de cada sistema de produção e a lotação de animais total ( bovinos e ovinos ). Nº Áre a X Nº de Animais Bov inos/ O v inos 600 534 500 Á rea 400 304 286 300 200 289 Nº Anim ais 192 150 91 100 65 B = Basalto A = Arenito * = < 100 ha A O VM O B A VM Ap Ap ós B ós A* c Pe B* c Pe A c Pe Pe c B 0 S ist. Produçã o Fonte: dados de pesquisa do autor, 2001 Observa-se no sistema de produção do basalto pecuária > 100 há e Pec. + aposent. < 100 há um a maior número de animais em relação a área total. Há indicativos de um excesso de lotação de animais em ambos os sistemas agrários aos analisar o gráfico acima. Figura 10 – Comparativo entre todas renda total e as demais entradas de rendas por sistema de produção. R$ RT/ UTHF 20.000,00 18.000,00 16.000,00 14.000,00 12.000,00 10.000,00 8.000,00 6.000,00 4.000,00 2.000,00 0,00 RA/ UTHf ROA/ UTHf VM O A B VM O Pe cA * Pe cB * Pe cA Pe c B Rendas do Sistema de produção Sist. Produção Fonte: dados de pesquisa do autor, 2001. Destaque-se na figura acima a participação de Rendas de Outras Atividades sobre a renda total dos estabelecimento por sistemas de produção. Quadro 03 Principais características apresentados pelos pecuaristas familiares entrevistados de Santana do Livramento, segundo questionário semi – estruturado. Área Tipologia Sistema de produção > 100 há 1.1 Pecuária 1.2 Pecuária 2.1 Pecuária 2.2 Pecuária < 100 há 3.1 Pecuária + Aposentadoria 3.2 Pecuária + Aposentadoria Origem do solo Localização Área total Situação Fundiária Geomorfologia Basalto Cerro Chato Arenito Basalto Cerro dos Munhoz Cerro da Árvore 325 Própria/ Parceria ( Mãe) / Arrenda Plano Solos rasos 211 Própria / Arrenda 26 + 14 Própria / Parceria (Mãe ) Suavemente Ondulado Profundos > 50 anos / Contratada 2,45 Bras / Urug Da localidade Horta Consumo Pequenos animais Vacas de Leite MÃO DE Familiar / OBRA UTH Origem das famílias e sua localidade Atividades de Subsistência Arenito Águas Boas 4.1 Pecuária + V de M de obra Basalto Capão do Inglês 4.2 Pecuária + V de M de obra Arenito Rincão de Palomas 56 Própria Basalto Cerro Chato Própria / Parceria Própria Ondulada Solos rasos maior parte. Suavemente Ondulado S. Profundos Plano S. Rasos Fortemente Ondulados S. Profundos 36 + 71 Própria Parceria ( Irmãos) Fortemente ondulada S. Rasos Familiar > 50 anos Troca de Serviço Familiar > 50 anos Troca de Serviço Familiar > 50 anos Troca de Serviço Familiar > 70 anos / Agregado Familiar >60 anos / Agregado Familiar Familiar > 60 anos > 60 anos Troca de Serviço Troca de Serviço 2,38 Bras / Urug Se estabeleceu Horta Consumo Pl. de Baraço Comercial Pequenos animais 2,0 Bras Da localidade Horta Consumo Pl. de Baraço Consumo Pequenos animais 1,54 0,81 Bras / Urug Bras / Urug Da localidade Da localidade Horta Consumo Nihil Pl. de Baraço Consumo Pequenos 2,11 Bras / Urug Da localidade Pequenos animais e Vacas de leite 1,63 Bras/ Urug Da localidade Horta Consumo Pequenos animais Vacas de Leite 57 99 Arenito Rincão de Palomas 16,7 Própria Suavemente ondulada S. Rasos 0,85 Bras Da localidade Pequenos animais Vacas de Leite Pec. de corte Atividades Terminação de Agropecuária Comercial / mercado bois. Ovinos: capões / lã Pastagem N.º de Bovinos N.º de Ovinos Comercialização Não faz 312 222 Frigorifico Renda Agrária Pecuária 100% Asp. Sociais Não mora c/ a família Chefe de família quanto a residência rural Casa Alvenaria s/ luz c/ água Boa Infra-estrutura de trabalho mangueiras Galpão alvenaria / bretes e galpões etc. / madeira Banheiro Ovino Poucos e Maquinas/ Equipa. manuais S/ trator Vacas de Leite Vacas de Leite Pec. de corte Cria venda de terneiros e vacas de descarte. Pec. de corte Cria venda de vacas, novilhas e terneiros. Ovinos: consumo / Ovinos lã Consumo / lã animais Vacas de Leite Pec. de corte Cria venda de vacas de descarte, novilho. Ovinos: Consumo / lã Não faz 22 128 Intermediário Localidade Pecuária 77,39 % poste p/ cerca / 22,61 % Mora c/ a família Pec. de corte Terminação de bois. Pec. de corte Cria venda de terneiros e vacas de descarte Pec. de Corte Cria venda de terneiros e vacas de descarte. Pec. De Corte Cria venda de e vacas de descarte e um boi manso. Ovinos: Consumo / lã Ovinos: Consumo / lã Ovinos : Consumo / lã Não faz Faz Faz Não faz 44 260 Frigorifico 93 99 Intermediário 92 187 Intermediário 26 39 Intermediário Pecuária 68,64 % R.AO. 31,36 Não mora c/ a familia Pecuária 77,39 % R.OA/ 22,61 % Mora com a família Pecuária 68,96% R.OA 31,04 % Pecuária 58,59 % R.OA 19,69 % Mora com a família Ovinos: Consumo / lã Faz Faz 201 85 Intermediário Frigorifico Agropecuária 100 % 35 61 Intermediário Localidade Pecuária 100 % Mora com a família Mora c/ a família Alvenaria c/ água e luz Muito boa Galpão de Madeira Banho ovino Balança Alguns elétricos e mecaniz. S/ trator Alvenaria s/ luz s/ água Média Galpão de madeira Banheiro ovino Madeira c/ luz e água Ruim Galpão de madeira Madeira s/ luz e água Ruim Galpão de madeira Alvenaria c/ luz e água Média Galpão de madeira / alvenaria Madeira s/luz c/ água Ruim Galpão de madeira Madeira c/ luz s/ água Ruim Galpão de madeira Poucos manuais S/ trator Poucos manuais e mecânicos Poucos manuais S/ Trator Poucos manuais S/ trator Poucos Manuais S/ trator Poucos manuais S/ trator Mora com a família Filhos 1. Permanecerão no campo? 2. Residem com os pais ? Perspectiva do chefe de família continuar ou não no meio rural. Dúvida Continuarão Não tem Não moram e Estudam na Cidade Continuar Moram e Estudam Meio rural Não tem Continuar Deixar Fonte: dados da pesquisa do autor, 2001 1 Considera-se quando o agricultor se aposentar e não tiver mais condições de trabalhar os filhos como residem no município poderão assumir, ou quando herdarem S/ trator A longo prazo1 Continuar Não vai continuar A longo prazo A longo prazo A longo prazo Estabelecido na Estabelecido na cidade cidade Estabelecido na cidade Estabelecido na Cidade Deixar Continuar Continuar 01 Estuda e Mora no Meio rural e outra na cidade Continuar Deixar Quadro 02 - indicadores Socio-economicos dos sistemas de produção em estudo. Sistema de Produção PECUÁRIA Área Sistema agrário Tipologia Área total: S A U: UTH: UTHf V A B total V A L total R A total R T total V A B / S.AU V A L / SAU R A / SAU R T / SAU V A B / UTH V A L / UTH R A / UTH RT /UTHf R T / UTH PBv vegetal PECUÁRIA > 100 há Unid. há ha uth uthf R$ R$ R$ R$ R$/há R$/ há R$/ há R$/ há R$/ uth R$/ uth R$/ uth R$/uthf R$/ uth R$ Basalto 1.1 325,00 322,00 2,45 1,45 47.491,40 45.096,47 27.077,01 27.077,01 147,49 140,05 84,09 84,09 19.384,24 18.406,72 11.051,84 18.673,80 11.051,84 0,00 PECUÁRIA + PECUÁRIA + APOSENTADORIA V. DE M. DE OBRA < 100 há Arenito 1.2 211,00 209,50 2,24 2,24 20.970,45 19.727,78 17.381,78 17.381,78 100,10 94,17 82,97 82,97 9.370,17 8.814,92 7.766,66 7.766,66 7.766,66 6.600,00 Basalto 2.1 40,00 37,50 2,00 2,00 5.499,32 4.405,32 4.243,64 4.243,64 146,65 117,48 113,16 113,16 2.749,66 2.202,66 2.121,82 2.121,82 2.121,82 0,00 Arenito Basalto Arenito 2.2 3.1 3.2 56,00 57,00 99,00 51,50 56,00 81,00 1,54 0,81 2,11 1,34 0,54 1,11 6.514,61 2.619,05 8.767,28 5.590,02 1.845,19 7.691,42 5.012,86 1.324,86 5.704,04 7.592,86 6.004,86 10.384,04 126,50 46,77 108,24 108,54 32,95 94,96 97,34 23,66 70,42 147,43 107,23 128,20 4.230,26 3.233,40 4.155,11 3.629,88 2.278,01 3.645,22 3.255,11 1.635,62 2.703,34 5.666,32 11.120,10 9.354,99 4.930,43 7.413,40 4.921,35 600,00 0,00 0,00 Basalto 4.1 107,00 65,70 1,63 1,03 6.467,83 5.381,68 5.207,32 9.107,32 98,44 81,91 79,26 138,62 3.968,00 3.301,65 3.194,68 8.842,06 5.587,31 0,00 Arenito 4.2 18,50 16,70 0,85 0,85 5.076,55 4.766,98 3.872,53 11.852,53 303,99 285,45 231,89 709,73 5.986,50 5.621,44 4.566,67 13.977,04 13.977,04 0,00 PBa animal PBt total ROA PBvegetal/PBt C I total Capital total - Ki D V A total PBanimal / PBt ROA/RT RA/RT SAU/UTH Tx. de Lucro RA/ Ki 100.955,00 18.400,00 7.517,00 8.232,50 10.242,50 12.200,88 100.955,00 25.000,00 7.517,00 8.832,50 10.242,50 12.200,88 R$ 0,00 0,00 0,00 2.580,00 4.680,00 4.680,00 R$ % 0,00 26,40 0,00 6,79 0,00 0,00 52.123,60 3.149,05 1.213,18 1.860,90 7.334,45 2.523,80 R$ 146.220,89 103.165,55 38.669,41 36.338,56 43.705,51 56.863,03 R$ 18.019,46 2.346,00 161,69 577,16 520,34 1.987,38 R$ % 100,00 73,60 100,00 93,21 100,00 100,00 % 0,00 0,00 0,00 33,98 77,94 45,07 % 100,00 100,00 100,00 66,02 22,06 54,93 há/ uth 131,43 93,61 18,75 33,44 69,14 38,39 % 18,52 16,85 10,97 20,89 3,03 10,03 84,09 82,97 113,16 97,34 23,66 70,42 (RA/UTHF)/(S.AU/UTHf) Fonte: Dados de pesquisa do autor, 2001. R$ 8.663,75 8.663,75 3.900,00 0,00 1.656,92 43.705,82 174,36 100,00 42,82 57,18 40,31 11,91 79,26 5.640,00 5.640,00 7.980,00 0,00 444,05 17.769,67 894,45 100,00 67,33 32,67 19,69 21,79 231,89