ASTM CODENT GAEDOW 30(SUPL.3):10-72 ISSN 0101-7772 Volume 30 - Suplemento n03 - Jul/Set, 2011 1 Reunião de Expertos em Carcinoma Hepatocelular E ditorial As Doenças Hepáticas no Brasil As doenças do Fígado são silenciosas como também foram as autoridades de saúde por longo tempo. Essas doenças evoluem durante anos sem sintomas até que, caso não identificadas precocemente, se instale a perda funcional do órgão. Exatamente o que aconteceu na Hepatologia Brasileira com a negligência dispensada a essas doenças. Estamos agora com sérias sequelas de prognóstico reservado, destarte os esforços recentes do Ministério da Saúde. Estima-se que 3.000.000 de brasileiros sejam portadores do vírus da hepatite B, C e D. Um estudo da Unifesp mostrou que em 11.000 exames de check up alguma alteração hepática foi encontrada em 32% dos indivíduos, na maioria das vezes relacionada à presença de gordura no fígado devido à obesidade e/ou alterações no colesterol. Doença alcoólica, toxicidade por chás/fitoterápicos/ medicamentos, obesidade, o câncer de fígado, outros nódulos hepáticos, doenças genéticas e autoimunes complementam o repertório dos agravos ao Fígado. Apesar de milhões de brasileiros padecerem de doenças hepáticas, poucos têm a chance de tratamento em serviços de alta complexidade em Fígado, mesmo na clínica privada. 2 Pior ainda, há escassez de profissionais habilitados para lidar com doenças do Fígado no país. Muitos dos nossos centros de referência em doenças do Fígado não possuem Hepatologistas, pois estes estão nas grandes cidades. Mais ainda, os transplantes hepáticos no Brasil mantêm-se concentrados no eixo Sul/Sudeste e em algumas Capitais Nordestinas, elitizando o sistema, reduzindo o acesso e privando muitos pacientes desta opção terapêutica. Por ser uma especialidade clínica e sem procedimentos, a Hepatologia segue o rumo das outras especialidades que possuem perfil semelhante. A medicina da consulta, do estetoscópio e da pura relação médico/paciente, encontra-se desvalorizada diante da medicina da tecnologia e dos procedimentos. Seja no SUS, seja na medicina suplementar, os procedimentos de alta tecnologia remuneram muito melhor. Por esta inversão de valores, os jovens médicos não se motivam por especialidades clínicas, condenando o sistema de saúde à escassez destes profissionais. Para piorar, a Hepatologia, em 2003, numa decisão difícil de entender, foi conduzida de especialidade para a área de atuação da Gastroenterologia. Como área de atuação, a Residência Médica em Hepatologia se tornou longa e complexa. Permeou-se de desvios desnecessários para a formação de um especialista em Fígado. Embora tenhamos algumas vagas de Residência Médica em Hepatologia no país, quase não existe procura no modelo atual. Recentemente, o Ministro da Saúde expressou preocupação prioritária com a formação de médicos para suprir as lacunas do SUS. Por isso, disponibilizará mais 2.000 bolsas de residência médica, contudo compreende que a formação do médico deve ser direcionada às necessidades do SUS, portanto não podemos ampliar o tempo e, sobretudo, desviar caminhos da formação em especialidades clínicas. Enquanto aguardamos as correções emergenciais, devemos encontrar soluções imediatas para suprir o SUS de médicos que tenham o mínimo de habilidade para lidar com essas complexas doenças. Resta-nos, rapidamente, capacitar no atendimento dos portadores de doenças hepáticas aqueles profissionais (Infectologistas, Clínicos, Gastroenterologistas) que se encontram na linha de frente do atendimento dos portadores de doenças do Fígado nas suas cidades. Estamos fazendo isso com este instrumento. A Sociedade Brasileira de Hepatologia busca discutir a fundo esta questão para encaminhar ao Ministério da Saúde e às entidades representativas de classe uma manifestação sobre estas distorções. Precisamos blindar a medicina para que ela não se curve aos apelos mercadológicos ou mesmo aos interesses corporativistas distanciados das necessidades dos usuários do SUS. Ou fazemos isso ou nos tornamos cúmplices dessas históricas distorções. Raymundo Paraná Ferreira Filho – Presidente da SBH Aécio Flávio Meirellez Souza – Editor SBH (Gestão 2009-2011) Gastroenterologia Endoscopia Digestiva A Revista GED – Gastrenterologia Endoscopia Digestiva é o órgão oficial de circulação trimestral da SOBED (Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva), da FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia), da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), do CBCD (Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva) e da SBMD (Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva). Fundada pelo Capítulo de São Paulo da SOBED em 1982, durante a gestão do Prof. Dr. Arnaldo José Ganc. Registrado na Lei de Imprensa em 19/11/1981, sob o no 1.870, Lv. A, no 5o Registro de Títulos e Documentos de São Paulo. Indexada nas seguintes bases de dados LILACS, SCOPUS, EMBASE/EXCERPTA MÉDICA, LATINDEX e ADSAÚDE Editor Chefe Paulo Roberto Arruda Alves (SP) Editores Responsáveis José Murilo Robilotta Zeitune (SP) – Gastroenterologia Nelson Adami Andreollo (SP) – Cirurgia Digestiva Paulo Roberto Arruda Alves (SP) – Endoscopia Digestiva Rimon Sobhi Azzam (SP) – Motilidade Digestiva Aécio Flávio Meirellez Souza (SP) – Hepatologia Editores Associados Arnaldo J. Ganc (SP) Jaime Natan Eisig (SP) Marcelo Averbach (SP) Sânzio S. Amaral (SP) Conselho Editorial – Brasil Admar Borges da Costa Jr. (PE), Ana Maria Pittella (RJ), Antonio Frederico N. Magalhães (SP), Artur Parada (SP), Bruno Zilberstein (SP), Claudio Coy (SP), Deborah Crespo (PA), Decio Chinzon (SP), Edmundo Pessoa Lopes (PE), Edna Strauss (SP), Edson Pedro da Silva (SC), Everson Artifon (SP), Flair Carrilho (SP), Flavio Quilici (SP), Henrique Coelho (RJ), Hugo Cheinquer (RS), Ismael Maguilnik (RS), João Carlos Andreolli (SP), João Galizzi Filho (MG), José Galvão Alves (RJ), Julio Cesar U. Coelho (PR), Lix A.R. Oliveira (SP), Lorete M.S. Kotze (PR), Lúcia Câmara Castro Oliveira (RJ), Luiz Gonzaga Vaz Coelho (MG), Luiz Pimenta Modena (SP), Luiz Roberto Lopes (SP), Márcio M. Tolentino (SP), Marcus Túlio Haddad (RJ), Mario Pessoa (SP), Martha Pedroso (SP), Maurício Fernando de Almeida Barros (SP), Orlando J.M. Torres (MA), Paulo Bittencourt (BA), Paulo R. Ott Fontes (RS), Paulo Roberto Savassi Rocha (MG), Paulo Sakai (SP), Ramiro Mascarenhas (BA), Raymundo Paraná (BA), Ricardo A. Refinetti (RJ), Roberto Dantas (SP), Sérgio Gabriel Barros (RS), Tomas Navarro Rodriguez (SP), Venâncio A.F. Alves (SP), Vera Lúcia Andrade (MG), Walton Albuquerque (MG) Editores Internacionais Daniel Sifrim (Bélgica), Dirk J. Gouma (Holanda), Helena Cortez Pinto (Portugal), Jorge Daruich (Argentina) Secretaria Coordenadora: Fátima Lombardi dos Santos Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.391, conj. 102 – 01452-000 São Paulo, SP Tel.: (11) 3813-1610 – Fax: (11) 3032-1460 E-mail: [email protected] Tiragem: 1.000 exemplares Periodicidade: trimestral Circulação: nacional para todos os associados da SOBED, FBG, SBH, CBCD e SBMD Números anteriores e separatas: [email protected] Editoração Eletrônica, Distribuição, Impressão e Publicidade E-mail: [email protected] Tel.: (11) 3186-5600 3 Diretoria das Sociedades Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED) Diretoria Executiva (2010-2012): Presidente: Sérgio Luiz Bizinelli (PR) • Vice-Presidente: Flávio Hayato Ejima (DF) • 1o Secretário: Jimi Izaques Bifi Scarparo (SP) • 2º Secretário: Afonso Celso da Silva Paredes (RJ) • 1o Tesoureiro: Thiago Festa Secchi (SP) • Sede: Rua Peixoto Gomide, 515 – cj. 14 – 01409-001 – São Paulo, SP – Tel./fax: (11) 3148-8200 e 3148-8201 - E-mail: [email protected] – Site: sobed.org.br Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) 4 Diretoria (2010-2012): Presidente: José Galvão Alves (RJ) • Vice-Presidente: José Roberto de Almeida (PE) • Secretário Geral: Sender Jankiel Mizsputen (SP) • 1o Secretário: Adávio de Oliveira e Silva (SP) • Diretor Financeiro: Rubens Basile (RJ) • Coordenador do FAPEGE: Maria do Carmo Friche Passos (MG) • Presidente Eleito (2012-2014): José Roberto de Almeida (PE) • Sede: Av. Brig. Faria Lima, 2.391, 10º andar – cj. 102 – 01452-000 – São Paulo, SP – Tel.: (11) 3813-1610/3813-1690. Fax: (11) 3032-1460 - E-mail: [email protected] – Site: www.fbg.org.br Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) Diretoria 2009-2011: Presidente: Raymundo Paraná Filho • 1º Vice-Presidente: Mário Guimarães Pessoa • Secretário Geral: Paulo Lisboa Bittencourt • Secretária Adjunta: Celina Maria Lacet • 1º Tesoureiro: Delvone Freire Gil Almeida • Presidente Eleito 2011-2013: Henrique Sérgio M. Coelho • Sede: Av. Brig. Faria Lima, 2.391, 10º andar – cj. 102 – 01452-000 – São Paulo, SP – Tel.: (11) 3812-3253 - E-mail: [email protected] – Site: www. sbhepatologia.org.br Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD) Diretoria - Gestão 2011-2012: Presidente: Cleber Dario Pinto Kruel • Vice-Presidente: Luis Augusto Carneiro D’Albuquerque • 1o Secretário: Cláudio José Caldas Bresciani • 2o Secretário: Nicolau Gregori Czezcko • 1o Tesoureiro: Bruno Zilberstein • Presidente Eleito (2013-2014: Ivan Cecconello • Sede: Av. Brig. Luiz Antonio, 278 – salas 10 e 11 – 01318-901 – São Paulo, SP – Tels.: (11) 3289-0741 / 3266-6201 / Fone/Fax: (11) 3288-8174 – E-mail: [email protected] – Site: www.cbcd.org.br Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva (SBMD) Diretoria - Gestão 2010-2011: Presidente: Eponina M. O. Lemme • Vice-Presidente: Sânzio Santos Amaral • Secretário Geral: Rosana Bihari Schechter • 1o Secretário: Luciana Dias Moretzsohn • 1o Tesoureiro: Luiz João Abrahão Junior • Sede: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2391, Conj. 102, Jardim Paulistano – 01452-000 – São Paulo, SP – Fone: (11) 3518-9117 – E-mail: [email protected] – Site: www.sbmd.org.br Informações aos Autores Modificado em outubro de 2007 A GED, órgão oficial da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – SOBED, da Federação Brasileira de Gastroenterologia – FBG, da Sociedade Brasileira de Hepatologia – SBH, do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva – CBCD e da Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva – SBMD, tem por objetivo a divulgação de trabalhos que contribuam para o progresso da Gastroenterologia, da Endoscopia Digestiva, da Hepatologia, da Cirurgia Digestiva e da Motilidade Digestiva. São publicáveis as colaborações que, enviadas à Secretaria da GED (Av. Brig. Faria Lima, 2.391 – 10o andar – cj. 102 –1452000 – São Paulo, SP, email [email protected]), forem aceitas pelo Conselho Editorial e não tenham sido previamente publicadas e nem o venham a ser, simultaneamente, em outros periódicos. Serão aceitos artigos escritos na língua portuguesa. A critério do Conselho Editorial, poderão ser considerados manuscritos em língua inglesa e castelhana. A GED adota as regras da Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals emitidas pelo International Committee for Medical Journal Editors, disponível na Internet (http:// www.icmje.org). Conteúdo da GED Editoriais Destinam-se à apresentação de temas de natureza polêmica, atual e de impacto, nos quais os editores da GED percebam a necessidade de manifestar de forma sintética a visão destes editores, abordando ou não artigos publicados na GED. Serão escritos pelos editores e/ou membros do Conselho Editorial ou, mediante convite, por outros especialistas. Artigos Originais De pesquisa clínica e/ou experimental, devem apresentar a aprovação da pesquisa pelo Conselho de Ética do hospital, serviço ou instituição onde o trabalho foi realizado. Devem ser estruturados com os seguintes itens: Resumo (e Unitermos), Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusões e Referências Bibliográficas (acompanhado de unitermos). Introdução – Em que se apresenta a justificativa para o estudo, com referências relacionadas ao assunto e o objetivo do artigo. Métodos – Em que se apresentam: a) descrição da amostra utilizada; b) mencionar se há consentimento informado; c) identificação dos métodos, aparelhos e procedimentos utilizados, de modo a permitir a reprodução dos resultados pelos leitores; d) breve descrição e referências de métodos publicados mas não conhecidos amplamente; e) descrição de métodos novos ou modificados; f) se for o caso, referir a análise estatística utilizada, bem como os programas empregados. Resultados – Em que serão apresentados os resultados em sequência lógica, em forma de texto, tabelas e ilustrações; recomenda-se evitar repetição excessiva de dados em tabelas ou ilustrações e no texto. No texto, números menores que 10 serão grafados por extenso; de 10 em diante, serão expressos em algarismos arábicos. Discussão – Em que serão enfatizados: a) os aspectos originais e importantes do artigo, evitando repetir dados já apresentados anteriormente; b) a importância e as limitações dos achados, confrontando com dados da literatura; c) a ligação das conclusões com os objetivos do estudo; d) as conclusões decorrentes do estudo. Referências – As referências bibliográficas devem ser numeradas na ordem em que são citadas primeiramente no texto. Elas devem seguir as regras do Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – http://www.icmje.org. Alguns exemplos mais comuns são apresentados a seguir. Exemplos: 1. Artigo padrão em periódico (devem ser listados todos os autores; se houver mais de seis, citar os seis primeiros, seguidos por et al.): Alper CA, Kruskal MS, MarcusBagle Y, Craven DE, Katz AJ, Brint SJ, et al.. Genetic prediction of response to hepatitis B vaccine. N Engl J Med. 1989;321:708-12. 2. Autor institucional: NHI Consensus Development Panel on Helicobacter pylori in Peptic Ulcer Disease. Helicobacter pylori in peptic ulcer disease. JAMA. 1994;272:65- 9. 3. Livro com autor(es) responsável(is) por todo o conteúdo: With TK. Bile pigments. New York: Academic Press, 1968. 4. L ivro com editor(es) como autor(es): Magrath I, editor. The non-Hodgkin’s limphomas. 2nd ed. London: Arnold, 1997. 5. Capítulo de livro: Warshaw AL, Rattner DW. Residual common duct stones and disorders of duodenal ampullae.`In: Ellis H, editor. Maingot’s abdominal operations. New York: Lange Publishers, 1990:1471-2 Os títulos dos periódicos devem ser abreviados de acordo com o Index Medicus (List of Journals Indexed). Se o periódico não constar dessa lista, grafar o nome por extenso. Tabelas – As tabelas devem possuir um título sucinto, com itens explicativos dispostos em seu pé. Devem ser numerados sequencialmente com algarismos arábicos. Figuras – Serão aceitas figuras em preto e branco. Figuras coloridas poderão ser publicadas quando forem essenciais para o conteúdo científico do trabalho; nesses casos, o ônus de sua publicação caberá aos autores. 5 Informações aos Autores Artigos de Revisão Direitos autorais Somente serão aceitos quando, a convite dos editores da publicação, fizerem parte da linha de pesquisa do autor, comprovada pela presença de artigos originais na bibliografia e citados no texto. Todas as declarações contidas nos artigos serão da inteira responsabilidade dos autores. Aceito o artigo, a GED passa a deter os direitos autorais do material. Assim, todos os autores dos artigos submetidos à GED devem encaminhar um Termo de Transferência de Direitos Autorais. O autor responsável pela correspondência receberá 20 separatas impressas do artigo e o arquivo correspondente em formato pdf. Relato de Caso Devem ser objetivos e precisos, contendo os seguintes itens: 1) Resumo (e Unitermos) e Summary (e keywords); 2) Introdução; 3) Relato objetivo; 4) Discussão; 5) Conclusões; 6) Referências bibliográficas. Cartas ao Editor Cartas endereçadas ao(s) editor(es) serão consideradas para publicação se promoverem discussão intelectual sobre determinado artigo de publicação recente. Devem conter título informativo e não mais que 500 palavras. Se aceita, uma cópia será enviada ao autor do trabalho que suscitou a discussão, com convite para submeter uma réplica que será publicada junto com a carta. Conflito de interesses 6 Conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (RDC 102/2000) e do Conselho Nacional de Saúde (196/96) o(s) autor(es) deve(rão) tornar explícito, por meio de formulário próprio (Divulgação de potencial conflito de interesses), qualquer potencial conflito de interesse relacionado ao artigo submetido. A presente exigência visa informar sobre relações profissionais e/ou financeiras (como patrocínios e participação societária) com agentes financeiros relacionados aos produtos farmacêuticos ou equipamentos envolvidos no artigo, os quais podem teoricamente influenciar as interpretações deste. A existência ou não de conflito de interesses declarado estará ao final de todos os artigos publicados. Bioética de experimentos com seres humanos Experimentos envolvendo seres humanos devem seguir resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (196/96), disponível na Internet (http://conselho.saúde.gov.br//docs/Resoluções/Reso/96de96.doc), incluindo a assinatura de um termo de consentimento informado e a proteção da privacidade dos voluntários. Bioética de experimentos com animais Experimentos envolvendo animais devem seguir resoluções específicas (Lei 6.638, de 8/5/1979, e Decreto 24.645, de 10/7/1934). Ensaios clínicos Artigos que contêm resultados de ensaios clínicos deverão possibilitar todas as informações necessárias à sua adequada avaliação, conforme previamente estabelecido. Os autores deverão refeir-se ao “CONSORT” (www.consort.statement.org). Revisão pelos pares Todos os artigos submetidos serão avaliados por dois revisores, os quais emitirão parecer fundamentado que servirá para o(s) editor(es) decidir(em) sobre sua aceitação. Os critérios de avaliação incluem originalidade, contribuição para corpo de conhecimento da área, adequação metodológica, clareza e atualidade. Os artigos aceitos para publicação poderão sofrer revisões editoriais para facilitar sua clareza e entendimento sem alterar seu conteúdo. Como enviar o artigo O(s) autor(es) deve(m) encaminhar: • Carta de apresentação assinada por todos os autores ou pelo primeiro autor em nome dos demais, contendo: 1) informação à respeito de submissão prévia ou dupla ou submissão de qualquer parte do artigo atual; 2) uma declaração de relações, financeiras ou não, que possam levar a conflito de interesses; 3) uma declaração de que o artigo foi lido e aprovado por todos os coautores e que os critérios necessários para a declaração de autoria (consultar Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals) foram alcançados por todos os autores e que cada autor afirma que os dados do manuscrito são verdadeiros; 4) nome, endereço, telefone e e-mail do autor para correspondência; ele será o responsável pela comunicação com os outros autores a respeito de revisões e provas gráficas. • Termo de Divulgação de Potencial Conflito de Interesses. • Termo de Transferência de Direitos Autorais. • Três cópias do artigo, digitado em espaço duplo, impressas em papel tamanho carta em somente um dos lados, com margens de 2,5cm e espaço 1,5, numerando as páginas no canto superior direito; as legendas das figuras, as figuras propriamente ditas e as tabelas devem vir ao final, anexadas a cada cópia; assinalar no texto os locais adequados para inserção de figuras e tabelas. • Três conjuntos de figuras em cópia fotográfica brilhante. • Um CD contendo somente um arquivo do texto, correspondente ao artigo, e os arquivos correspondentes a fotos ou figuras. Como preparar o CD • CD formatado compatível com IBM/PC; • Usar editor de texto Microsoft Word para Windows; • O arquivo de texto deve conter somente o texto, da página-título até as referências, e as tabelas; • As figuras não devem ser incluídas no mesmo arquivo do texto; • Colocar no CD a última versão do artigo, idêntica à versão impressa; • Etiquetar o CD informando o programa e a versão utilizados, bem como o nome do arquivo. A submissão do artigo pelo correio eletrônico (e-mail) possibilita maior agilidade no procedimento de revisão. Para isso, será necessário o envio dos arquivos contendo o texto e as figuras para o e-mail da GED ([email protected]). Mensagem aos editores com identificação dos autores deve ser enviada, acompanhada dos endereços convencional e eletrônico e de informações sobre o formato utilizado. O artigo deverá ser enviado em anexo, como attachment, no formato Word para Windows. As figuras deverão estar nos formatos jpg ou tif. Informations to Authors GED is the official journal of the Brazilian Society of Digestive Endoscopy – SOBED, the Brazilian Federation of Gastroenterology – FBG, the Brazilian Society of Hepatology – SBH, the Brazilian College of Digestive Surgery – CBCD, and of the Brazilian Society of Digestive Motility – SBMD, and the purpose of the journal is to publish papers that may contribute towards the progress of Gastroenterology, Digestive Endoscopy, Hepatology, Digestive Surgery and Digestive Motility. Papers sent to the GED Secretariat (Av. Brig. Faria Lima, 2.391 – 10o andar – cj. 102 –1452-000 – São Paulo, SP, Brazil, e-mail [email protected]), which are accepted by the Editorial Board, and which have not been previously or will not be concomitantly published in other journals may be published. Papers drafted in the Portuguese language will be accepted. At the discretion of the Editorial Board, papers in the Spanish and in the English language may also be accepted. GED adopts the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals of the International Committee for Medical Journal Editors, available in the Internet (http://www.icmje.org). GED Contents Editorials Intended to present polemic, current, and impacting topics whenever GED editors feel the need to present their view in a synthetic manner, whether or not such topics are presented in GEDpublished papers. Editorials are written by the editors and/or by Editorial Board members, or by invited specialists. Original Articles Clinical and/or experimental research papers should present the approval of the research given by the Ethics Committee of the hospital, clinic, or institution were the study was carried out. The following items must be included: Summary (and keywords), Introduction, Methods, Results, Conclusions, References, and Summary and Keywords. Introduction – Presents the justification for the study, with references related to the topic and the objective of the paper. Methods – Presenting: a) description of the sample used; b) mention whether or not an informed consent has been obtained; c) identification of methods, devices, and procedures used in order to permit reproduction of the results by the readers; d) brief description and references to methods that have been published but that are not broadly know; e) description of new methods or of modified methods; f) mention the statistical analysis or the software used, as the case may be. Results – Presenting results in a logical sequence, in text format with tables and illustrations; authors should avoid excessive information repetition in the tables and illustrations and in the text. In the text, numbers below ten will be written in full, whereas numbers 10 and beyond will be written in Arabic numbers. Discussion – Emphasis will be given to: a) original and major aspects of the paper, without repetition of the aspects previously presented; b) relevance and limitations of the findings, comparing them to information in the literature; c) connection of the conclusions to the objectives of the study; d) conclusions arising out of the study. References – Bibliographic references should appear in the order in which they are first quoted in the text. They should follow the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – http://www. icmje.org. Some of the more usual example are presented. Examples: 1. Standard paper in journals (all authors must be listed; if they are more than six, list the first six followed by et al.): Alper CA, Kruskal MS, Marcus-Bagle Y, Craven DE, Katz AJ, Brint SJ, et al.. Genetic prediction of response to hepati tis B vaccine. N Engl J Med. 1989;321:708-12. 2. Autor institucional: NHI Consensus Development Panel on Helicobacter pylori in Peptic Ulcer Disease. Helicobacter pylori in peptic ulcer disease. JAMA. 1994;272:65- 9. 3. Book with author(s) responsible for the full text With TK. Bile pigments: New York: Academic Press, 1968. 4. Book with editor(s) as author(s): Magrath I, editor. The non-Hodgkin’s limphomas. 2nd ed. London: Arnold, 1997. 5. Chapter of a book: Warshaw AL, Rattner DW. Residual common duct stones and disorders of duodenal ampullae. In: Ellis H, editor. Maingot’s abdominal operations. New York: Lange Publishers, 1990:1471-2. The titles of journal should be abbreviated according to the Index Medicus (List of Journals Indexed). If the journal is not included in such list, write the name in full. Tables – Tables should have a summarized title, with explanatory comments at the foot of the table. They should be sequentially numbered with Arabic numbers. Figures – Black and white figures will be accepted. Color figures may be published when they are essential for the scientific contents of the paper; in such case, the cost of publishing colored figures will be covered by the authors. 7 Informations to Authors Revision Articles Will be accepted only when the editors have invited the author to write such articles, when they are part of the research line of the author as evidenced by the presence of original articles in the bibliography and in the quotations in the text. Case Report Should be objective and precise, with the following items: 1) Summary (and keywords); 2) Introduction; 3) Objective Report; 4) Discussion; 5) Conclusions; 6) Bibliography. Letters to the Editor Letters sent to the editor(s) will be considered for publication if they carry an intellectual discussion regarding a recently published article. They should have an informative title and not more than 500 words. If accepted, a copy will be sent to the author of the paper that raised the discussion, with an invitation to submit a reply to be published together with the letter. Conflict of interests 8 As determined by the Sanitary Surveillance Agency (RDC 102/2000) and by the National Health Council (196/96) author(s) should inform explicitly in the adequate form (Disclosure of potential conflict of interests) about any potential conflict of interests related to the paper submitted. This requirement is intended to inform about professional and/or financial relations (with sponsorships and corporate interests) with financial agents related to medical drugs or equipment involved in the paper, which may theoretically influence the interpretation of the paper. The existence or non-existence of a declared conflict of interests shall be included at the end of all articles published. Bioethics of experiments involving human beings Experiments involving human beings shall follow the specific resolution of the National Health Council available in the Internet address (http://conselho.saúde.gov.br//docs/Resoluções/Reso/ 96de96.doc), including the signature of an informed consent and the protection to volunteer privacy. Bioethics of experiments involving animals Experiments involving animals shall follow specific resolutions (Law 6,638, of May 8, 1979, and Decree 24,645, of July 10, 1934). Clinical Assays Article containing results of clinical assays should disclose all information required for their proper evaluation, as previously established. Authors shall refer to the “CONSORT” (www. consort. statement.org). Review by peers All articles submitted shall be evaluated by two analysts, who shall issue a fundamented opinion to be used by the editors to decide whether or not the paper will be accepted. Evaluation criteria include originality, contribution to the body of knowledge in the area, methodological adequacy, clarity, and contemporaneity. Articles accepted for publication may have editorial revisions to improve clarity and understanding without changing its contents. Copyrights All statements contained in the articles will be under the full responsibility of the authors. After and article is accepted, GED becomes the owner of copyrights of the material. Thus, all authors of the articles submitted to GED should also send a Deed of Copyright Assignment. The author incharge of receiving letters from the readers will receive 20 printed copies of the article and the corresponding pdf file. How to send a paper The author(s) should send: • A letter of submission signed by all authors or by the first author to appear in the list on behalf of all authors, containing: 1) information regarding a prior or double submission of any part of the paper being submitted; 2) a declaration of relations, financial or otherwise, that could lead to a conflict of interests; 3) a declaration that the article has been read and approved by all coauthors and that the criteria to claim authorship (see Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals) have been met by all authors and that each author represents that the information in the manuscript is true; 4) name, address, telephone number, and e-mail of the author who will receive letters; this author will be responsible to communicate revisions and print proofs to the other authors. • Deed of Disclosure of a Potential Conflict of Interests. • Deed of Copyright Assignment. • Three copies of the paper typed in double space, printed in letter-sized paper only on the front (without printing on the back), margins of 2.5 cm and 1.5 space, with pages numbered in the upper right corner; figure legends, figures, and tables should be placed at the end, attached to each copy; indicate in the text the place to insert figures and tables. • Three sets of figures in shiny photographic copies. • A CD containing the text file only, with the paper text, and the files containing photographs or figures. How to prepare the CD • Formatted CD compatible with IBM/PC; • Use Microsoft Word for Windows text software; • The text file to contain only the text, from the title page to the references, and the tables; • Figures are not to be included in the text file; • P lace in the CD the lest version of the paper, identical to the printed version submitted; • L abel the CD informing the software and the version used, and the filed name. Submission of a paper by e-mail allows for greater efficiency of the revision procedures. For that purpose, the text and the figures files shall be sent to the GED e-mail ([email protected]). Messages to the editors with identification of the authors should be sent together with conventional and electronic addresses, and together with information about the format used. The paper shall be sent as an attachment, as a Word for Windows file. Figures shall be in the jpg or tif formats. ISSN 0101-7772 Índice Reunião de Expertos em Carcinoma Hepatocelular 27 de novembro de 2010 - São Paulo - SP Epidemiología del carcinoma hepatocelular en Brasil: ¿la literatura actual permite un análisis de la prevalencia e incidencia del CHC en Brasil? 10 Há indicação para critérios expandidos? Maurício Fernando de Almeida Barros (SP) Discutidor da Evidência Científica Gilmar Amorim de Souza (RN) Eduardo Fassio (Argentina) Rastreamento em pacientes portadores de doença crônica do fígado: proposta de rastreamento 13 Francisco Souto (MT) Tratamento paliativo do CHC - Resultados da quimioembolização. Proposta de indicação Gilmar Amorim de Souza (RN) Alcoolização percutânea no carcinoma hepatocelular: análise crítica da literatura e proposta de indicação do método Francisco Souto (MT) 16 17 Há evidências para associar quimioembolização à radiofrequência ou alcoolização? 20 Discutidor da Evidência Científica 26 Há Indicação para o sorafenib? Francisco Souto (MT) Fábio Marinho do Rego Barros (PE) Discutidor da Evidência Científica Edna Strauss (SP) Jorge A. de Segadas Soares (RJ) Discutidor da Evidência Científica Edna Strauss (SP) Biópsia para diagnóstico do carcinoma hepatocelular (CHC) - algoritmo da SBH 28 29 Há indicação de combinar quimioembolização e sorafenib? Agnaldo Soares Lima (MG) Discutidor da Evidência Científica Gilmar Amorim de Souza (RN) Rita de Cássia Martins Alves da Silva (SP) Tratamento do HCC - Resultados da ablação por radiofrequência. Proposta de indicação 32 Discutidor da Evidência Científica 35 Racional para os inibidores de angiogênese Discutidor da Evidência Científica Radiofrequência térmica versus injeção percutânea de etanol no tratamento do CHC O impacto do MELD para o carcinoma hepatocelular na realidade do Brasil Francisco Souto (MT) 49 50 51 52 53 54 58 60 61 Maurício F. Silva (RS) 36 Hepatocarcinoma: tratamento quimioterápico 65 Anelisa K. Coutinho (BA) Argemiro D´Oliveira Jr. (BA) Discutidor da Evidência Científica Critérios de Milão para indicação de transplante satisfazem a prática clínica? 45 Fábio Marinho do Rego Barros (PE) Guilherme Felga, Marcelo Bruno de Rezende, Ben-Hur Ferraz Neto (SP) Edna Strauss (SP) 42 Luciana Kikuchi (SP) Valéria Cardoso de Souza (SP) Discutidor da Evidência Científica Renato Ferreira da Silva (SP) Discutidor da Evidência Científica Denise Cerqueira Paranaguá Vezozzo (SP) Discutidor da Evidência Científica Há Indicações de downstaging para listar os pacientes? 39 38 Carcinoma hepatocelular - ressecção cirúrgica Paulo Herman (SP) 69 9 Epidemiología del Carcinoma Hepatocelular en Brasil: ¿la literatura actual permite un análisis de la prevalencia e incidencia del CHC en Brasil? E duardo F assio 1 10 El hepatocarcinoma (HCC) permanece como un problema de gran importancia en todo el mundo. Según datos del programa GLOBOCAN, de la Organización Mundial de la Salud, durante el año 2008 se han registrado 750.000 casos nuevos y 695.000 muertes por HCC, lo que demuestra que la sobrevida global sigue siendo muy pobre (relación casos nuevos/muertes: 0.9). El HCC es el quinto tumor sólido más frecuente en la población general pero, entre los hombres, asciende al tercer lugar como causa de muerte por cáncer. Sin embargo, la incidencia del HCC no es uniforme a través del mundo sino que es muy variable, dependiendo de la prevalencia de los principales factores etiológicos en cada región1,2. En particular, la incidencia de HCC tiene una relación directa con la prevalencia de portadores crónicos del HBV en los diferentes países. Por esta razón es que aproximadamente 75% de los casos nuevos se presentan en los países del sudeste asiático y del Africa subsahariana, que tienen alta endemicidad de hepatitis B. En estas 2 regiones, se considera que la incidencia de HCC es alta (>10 casos nuevos/100.000 habitantes/año); mientras que es clasificada como intermedia (5-10 casos nuevos/100.000 habitantes/año) en países de la Europa mediterránea, como Italia, Grecia y España. La incidencia de HCC es baja (<5 casos nuevos/100.000 habitantes/ año) en los países de Europa del norte, en Oceanía y en las Américas3. En algunos países de Oriente, donde la mayoría de casos de HCC responden a hepatitis crónica B, la incidencia ha estado disminuyendo en forma significativa, debido a la instauración de programas de vacunación universal anti-HBV en los recién nacidos4,5. En contraste, en los países occidentales de baja incidencia de HCC, donde las principales causas son la cirrosis por hepatitis C y la alcohólica, se ha registrado en años recientes un aumento significativo en la incidencia del mismo6-9. En Estados Unidos de Norteamérica, un estudio reciente mostró que la incidencia de HCC se triplicó entre los años 1975 y 200510; y análisis previos han mostrado que la mayor parte de dicho aumento está dado por casos asociados a hepatitis C11, reflejando lo que se ha dado en llamar un fenómeno de cohortes. Aunque las infecciones agudas por HCV han disminuido en años recientes como consecuencia de la mejoría en la bioseguridad de las transfusiones de sangre y de los procedimientos médicos en general, estamos en presencia de un aumento en la incidencia de cirrosis por HCV y de sus complicaciones, debido al gran número de infecciones que ocurrieron entre los años ’60 y ’80 y al curso natural de esta enfermedad, que progresa en forma lenta y silente a lo largo de décadas. Al tratar de analizar si la literatura actual permite conocer la prevalencia e incidencia del HCC en Brasil, el primer punto que deberíamos aclarar es cuál es la prevalencia de portadores crónicos del HBV. Estimaciones históricas situaban a Brasil como un país de prevalencia intermedia, aunque es reconocido que existe un área de alta endemicidad, en la cuenca del río Amazonas12. Sin embargo, dada la importante extensión del país, es esperable que haya diferencias entre las diversas regiones. En un estudio publicado en el año 2000, se observó una prevalencia de anti-HBc de 7.9% en una muestra de 3.879 individuos, pero con significativas diferencias regionales (1.2% en Fortaleza, 5.5% en Rio de Janeiro, 7.5% en Porto Alegre, 21% en Manaos)13. En esta publicación no están explicitados los rasgos demográficos (género, edad) de los sujetos estudiados ni los criterios de inclusión utilizados13. Más recientemente, una encuesta basada en la población general, analizó la presencia de marcadores de HBV en 7.881 personas de 13 a 69 años de edad, en 3 regiones: Noreste (en 9 ciudades capitales), Centro-Oeste (en 3 ciudades capitales) y el Distrito Federal14. La prevalencia de anti-HBc fue de 5.5%, 5.3% y 3.8% en las regiones Noreste, CentroOeste y Distrito Federal, respectivamente; y la de HBsAg en la población no vacunada de 13-69 años fue de 0.19%, 0.47% y 0.60% en las mismas regiones14. Este estudio más reciente y efectuado con una mejor metodología nos permite clasificar a estas poblaciones urbanas de las regiones Noreste, CentroOeste y del Distrito Federal de Brasil como de baja prevalencia de portadores crónicos del HBV y esto puede tener influencia en la incidencia de HCC. 1. Hospital Nacional Prof. Alejandro Posadas, El Palomar, Buenos Aires, Argentina GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 E. F assio En Brasil, la incidencia del cáncer hepático primario en el año 2008 fue de 4.9/100.000 habitantes (ambos sexos), siendo mayor en hombres (5.9/100.000 habitantes) que en mujeres (4.0/100.000 habitantes)15, de acuerdo a datos del programa GLOBOCAN 2008, de la International Agency for the Research on Cancer, de la Organización Mundial de la Salud. No se han publicado estudios que permitan analizar si se han producido cambios en la incidencia del HCC en Brasil. Tampoco es posible extraer conclusiones sobre este aspecto consultando la página web del Instituto Nacional de Câncer, ya que el número de Estados que reportaron sus casos ha sido muy variable entre los años 1997 y 2004 (oscilando entre 6 a 16 Estados por año). La figura 1 muestra el número de casos de HCC reportados por el Estado de Sao Paulo desde 1997 a 2004. Esta información parcial no permitiría hacer afirmaciones sobre cambios en la incidencia del HCC. crónico en el mismo porcentaje y hepatitis C en 28%, con importantes diferencias entre los Estados (como ejemplo, en Minas Gerais, HBV estaba presente en 38% y HCV en sólo 8%, mientras que en Rio de Janeiro, HCV presente en 34% y HBV en 25%)16. En la encuesta más reciente, de Carrilho et al, pacientes de las diversas regiones de Brasil fueron incluídos pero 77% de ellos pertenecían a la región Sudeste, 12% a la región Sur, 6% a la Noreste, 4% a la Norte y sólo 1% a la Medio-Oriente17. En 98% de los casos, los pacientes presentaban una cirrosis subyacente. El factor etiológico más frecuente fue HCV, presente en 746 pacientes (53.1%), en 200 de ellos (14.2%) asociado a alcoholismo crónico y en 30 a HBV. La hepatitis B fue demostrada en 253 pacientes (18%), en 47 de ellos asociada a alcohol, en 30 a HCV y en 17 a virus Delta. El alcoholismo crónico fue el único factor presente en 184 pacientes (13.1%)17. La prevalencia relativa de las diferentes etiologías de HCC en Brasil ha sido analizada en 2 estudios retrospectivos16,17. En el más antigüo de ellos, publicado en 1997, Gonçalves et al incluyeron a 287 pacientes con HCC de 19 centros, distribuidos en 8 Estados16. En el más reciente, publicado en 2010, Carrilho et al analizaron los datos de 1405 pacientes con HCC tratados en 29 diferentes centros17. Pese al tiempo transcurrido entre ambos estudios, los datos demográficos fueron similares, con edad mediana de 59 años en el momento del diagnóstico y 78% de los pacientes siendo de género masculino16,17. En el estudio de Gonçalves, por tratarse de una encuesta retrospectiva, los 3 principales factores etiológicos (HBV, HCV, alcoholismo crónico) no habían sido evaluados en todos los pacientes. Nuevamente, se observaron diferencias significativas entre las diversas regiones. En las regiones Sudeste y Sur, el predominio de la hepatitis C como causa de HCC fue mayor, representando más de 55% de los casos mientras que el HBV estaba presente en sólo 13-15%; en las regiones Noreste y Norte, la hepatitis C explicó 42% de los casos y la hepatitis B ascendió a 23-25% (p<0.0001)17. Entre aquellos pacientes que tenían estos 3 factores analizados, la hepatitis B estaba presente en 42%, alcoholismo En conclusión, la incidencia de HCC en Brasil es de aproximadamente 5 casos nuevos/100.000 habitantes/año y no se puede afirmar que se estén produciendo cambios en la misma, de acuerdo a la literatura disponible. La gran mayoría de los casos se presenta en pacientes con cirrosis, siendo la hepatitis C la causa más frecuente en la mayoría de las regiones. Sin embargo, persiste aún una insuficiencia de datos significativos de las regiones Centro-Oeste y Norte, donde podría haber una mayor prevalencia de la hepatitis B. Figura 1 - Incidencia de carcinoma hepatocelular de acuerdo los reportes al INCA desde el Estado de Sao Paulo Incidencia de carcinoma hepatocelular 200 n 150 100 50 0 1997 1998 1999 2000 2001 Año GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 2002 2003 2004 11 E pidemiología del C arcinoma H epatocelular en B rasil : ¿ la literatura actual permite un análisis de la prevalencia e incidencia del CHC en B rasil ? Referencias 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 12 9. Sherman M. Hepatocellular carcinoma: epidemiology, risk factors, and screening. Semin Liver Dis 2005;25:143-54. Bosch FX, Ribes J, Díaz M, Cléries R. Primary liver cancer: worldwide incidence and trends. Gastroenterology 2004;127:S5-S16. Sherman M. Hepatocellular carcinoma: epidemiology, surveillance, and diagnosis. Semin Liver Dis 2010;30:3-16. Chang MH, Chen CJ, Lai MS, et al. Universal hepatitis B vaccination in Taiwan and the incidence of hepatocellular carcinoma in children. Taiwan Childhood Hepatoma Study Group. 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GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Rastreamento em pacientes portadores de doença crônica do fígado: proposta de rastreamento D enise C erqueira P aranaguá V ezozzo 1 Segundo a Organização Mundial de Saúde, existem dez critérios já bem reconhecidos na comunidade científicomédico para que uma doença seja incluída num programa de rastreamento, e este, por sua vez, definido pela repetição de um teste diagnóstico em paciente de risco. Por exemplo, estes critérios também são aplicados no rastreamento do câncer de mama, de próstrata, cólon e aqui, particularmente, abordaremos o de fígado. Como o nosso foco é a doença crônica do fígado e tumor hepático de forma preventiva, com a proposta do rastreamento, vamos pinçar alguns destes seis requisitos, defendendo a tese da necessidade preemente do programa de rastreamento através da ultrassonografia (US) em nossos centros universitários e hospitais com serviço de transplante ou mesmo até centro terciário, mostrando a nossa experiência, com dados de incidência anual do carcinoma hepatocelular (CHC) em nosso meio. Com base na literatura atual demonstraremos a importância de cada tópico do rastreamento ou vigilância, pré-requisito de avaliação do hepatopatas, através da monitorização pela ultrassonografia, em busca da detecção precoce do tumor hepático, afim de se obter condições de tratamento curativo, reduzindo significativamente a mortalidade. Dentre estes requisitos destacamos: 1. A doença é um problema de saúde pública. É a 3ª. causa de morte de câncer no mundo, ou responsável por cerca de 600 mil mortes/ano. No Brasil é 8º causa de mortalidade de câncer. Atualmente, a incidência no Brasil é de 10 mil casos/ano e projeta-se para 2030 20 mil casos/ ano, segundo dados do Globocan1. No nosso ambulatório de hepatologia da Disciplina de Gastroenterologia do HCFMUSP, num estudo de coorte com 1037 pacientes cirróticos ao longo de 10 anos, quase 2/3 por VHC, a incidência anual de carcinoma hepatocelular (CHC) foi de 2,86%2, próxima à italiana, do grupo de Sangiovanni e cols. de 3,4%3, e inferior às populações japonesas e chinesas, cujas médias oscilam em valores de até 10%4. A maioria dos investigadores utiliza como medida a taxa de incidência ou densidade de incidência, que leva em conta a velocidade com que os eventos novos ocorrem no período do estudo. Um modelo de análise de decisão demonstrou que a taxa de incidência de 1,5% é suficiente para se iniciar o programa de rastreamento5. 2. Existe uma população alvo. Já é bem reconhecido que o grande ambiente para o desenvolvimento do CHC é a cirrose hepática, em que existe a inflamação com todos os seus componentes desencadeadores, melhores reconhecidos no processo da hepatocarcinogênese. Recente guideline publicado por Bruix e Sherman (tabela na pg. 14), recomendou 10 grupos distintos de pacientes para o rastreamento, baseando-se em evidências de incidência de CHC e limite de incidência de CHC por eficácia de rastreamento, considerando o custo efetivo da intervenção para cada ano adicional de vida ao redor de 50 mil dólares6. 3. O tratamento da doença oculta deve oferecer vantagem sobre a doença sintomática. O trabalho de Zhang, BH e cols.7 é o único na literatura randomizado controlado, que demonstrou uma redução da mortalidade em 37% no braço do rastreamento bianual. Outro importante trabalho de coorte, do grupo de Colombo e cols.3, demonstrou um aumento da sobrevida dos pacientes cirróticos com CHC detectado durante o rastreamento no terceiro quinquênio. Em ambos estudos, os pacientes puderam ser contemplados com um tratamento mais precoce e mais radical, e melhor sobrevida. No trabalho de revisão de Llovet e Bruix do Journal Hepatology de 2008 sobre Novos Avanços do Manejo do CHC8, eles realçam que “o sucesso do programa de rastreamento e a disponibilidade das terapias efetivas tem modificado o cenário clínico enfrentado pela comunidade científica. Atualmente, o CHC pequeno é diagnosticado em 30 a 40% dos casos em países desenvolvidos que, por sua vez, adotam tratamento curativo”. 4. O teste de screening deve justificar seu custo. 5. Possibilidade de reconvocação (recall). 6. O teste deve ter boa acuracidade (relacionada a random error ou não diferenciado: habilidade da medida estar correta, na média). Estes três itens foram agrupados de tal forma em responder focando a ultrassonografia, o atual melhor método do rastreamento segundo guidelines americano, europeu6 e japonês4. 1. Médica Pesquisadora da Disciplina de Gastroenterologia do Serviço de Gastroenterologia Clínica do HC da FMUSP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 13 R astreamento em pacientes portadores de doença crônica do fígado : P roposta de rastreamento . Tabela A Groups for whom HCC surveillance in recommended or in whom the risk of HCC is increased, but in whom efficacy of surveillance has not been demonstrade Surveillance recommended Population group Asian male hepatitis B carriers over age 40 Asian female hepatitis B carriers over age 50 Hepatitis B carrier with family history of HCC African/North American Blacks with hepatitis B Cirrhotic hepatitis B carriers Hepatitis C cirrhosis Stage 4 primary biliary cirrhosis Genetic hemachromatosis and cirrhosis Alpha 1-antitrypsin deficiency and cirrhosis Other cirrhosis Threshold incidence for efficacy of surveillance (> .25 LYG)(%/year) 0.2 0.2 0.2 0.2 0.2-1.5 1.5 1.5 1.5 1.5 1.5 0.4-0.6%/year 0.3-0.6%/year Incidence higher than without family history HCC occurs at a younger age 3-8%/yr 3-5%/yr 3-5%/yr Unknown, but probably > 1.5%/year Unknown, but probably > 1.5%/year Unknown 0.2 1.5 1.5 < 0.2%/yr < 1.5%/yr < 1.5%/yr Incidence of HCC Surveillance benefit uncertain Hepatitis B carriers younger than 40 (males) or 50 (females) Hepatitis C and stage 3 fibrosis Non-cirrhosis NAFLD 14 A ultrassonografia é a ferramenta mais versátil, atual, e com maior sensibilidade para o rastreamento, ainda que levando em conta a história do diagnóstico do CHC nos últimos 30 anos. É um método simples, de fácil acesso, baixo custo, sem irradiação, tem boa acurácia e evoluiu em alta tecnologia digital com aparelhos de última geração conhecidos como high ends que ganharam grandes definições de imagens. Em contrapartida, temos que considerar o fato de ser operador dependente, necessitando do conhecimento clínico para se potencializar os achados sonográficos. Abaixo o algoritmo para rastreamento de CHC em pacientes cirróticos (figura 1), a cada seis meses, a partir da ultrassonografia, segundo o guideline 2010. Um recente trabalho de metanálise de Marrero e cols.9 demonstrou que o pool de sensibilidade do US foi de 94% para a detecção dos CHC antes de manifestação clínica destes tumores e de 63% para os tumores precoces no rastreamento com US. Outra conclusão importante foi um aumento significativo na detecção precoce destes tumores pequenos ≤ 2 cm, em intervalos menores que 1 ano, e sem ganho adicional com a alfafeto proteína. Com relação a custo, temos na literatura trabalhos com modelos e resultados conflitantes sobre análises de custo eficácia, porém, a maioria, mostra que o rastreamento do US é custo efetivo6, diferentemente para Tomografia HCC Figura 1 - Algorithm for investigation of small nodules found on screening in patients at risk for HCC (MDCT = multidetector CT scna) < 1 cm > 1 cm Repeat US at 3 months 4-phrase MDCT / dynamic contrast enhanced MRI Growing/changing character Investigate according to size Stable Arterial hypervascularity AND venous or delayed phase washout Yes Other contrast enhanced study (CT or MRI) No HCC Arterial hypervascularity AND venous or delayed phase washout Biopsy Yes No GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 D. C. P. V ezozzo Computadorizada e Ressonância Nuclear Magnética. Temos também que lembrar que o custo eficácia é dependente da incidência do CHC cujo cut-off 1,5-2%/ ano, como já mencionamos anteriormente. A eficácia é definida como vida ganha por ano, por exemplo, qualidade ajustada (QUALY). Vale destacar que o custo eficácia é um instrumento para acessar o efeito potencial de uma intervenção na evolução de uma doença. É uma análise do custo efetividade (CEA); é a forma econômica de análise que compara o custo relativo e o efeito de duas ou mais ações em curso. É distinta da análise custo benefício que designa um valor monetário para medir o efeito. 60% como no ocidente, como na Europa6, ou bem superior que os níveis de 17% de rastreamento regular ou de 33% de rastreamento irregular como mostrou um recente trabalho de El-Serag e cols. nos EUA10. Referências 1. 2. Conclusões Embora a literatura tenha somente um único trabalho controlado randomizado controlado7, grau I de nível de evidência, que sustenta a importância para o rastreamento dos pacientes cirróticos para detecção precoce do CHC, existem na literatura excelentes trabalhos de coorte, grau II-2, citando pelo menos o do grupo de Colombo e cols.3 que prova novamente a necessidade desta prática na rotina clínica. É necessário o conhecimento dos níveis de incidência anual de CHC nos nossos centros. É necessário o envolvimento entre as disciplinas envolvendo os hepatologistas, cirurgiões, transplantadores, oncologistas, radiologistas intervencionistas, radiologistas oncologistas, ultrassonografistas. É preciso esforço de todos para que a aderência ao rastreamento seja de fato 100%, como no Japão, onde se tem altas taxas de diagnóstico precoce de CHC8, melhor que 3. 4. 5. 6. 7. 8. Table 1. Levels of Evidence According to Study Design Grade I Definition II-1 Controlled trials without randomization II-2 Cohort or case control analytic studies II-3 Multiple time series Dramatic uncontrolled experiments III 9. Randomized controlled trials 10. F erlay J, Shin HR, Bray F, Forman D, Mathers C and Parkin DM. GLOBOCAN 2008, Cancer Incidence and Mortality Worldwide: IARC CancerBase No.10 [Internet]. Lyon, France: International Agency for Research on Cancer, 2010. Avaible from: http://globocan.iarc.fr. Paranaguá-Vezozzo, DC, Ono-Nita, SK, Dias França, JI, Kikuchi, LOO, Chagas, AL, Alencar, RSSM, Melo, ES, Cunha-Silva, M, Rocha, LA, Alves, VA, Carrilho, FJ. 10 years Surveillance program for Hepatocellular Carcinoma in Cirrhotic patients in São Paulo, Brasil. EASL Special Conference: Hepatocellular Carcinoma: from Genomics to Treatment. Dubrovnik, Croatia. June 25-26, 2010. Sangiovanni A, DNinno E, Fasani P, De Fazio C, Rochi G, Romeo R, Morabito A, De Franchis R, Colombo M. 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(Aliment Pharmacol Ther 2009) utilizou as bases de dados Medline e Scopus, detectando 192 abstracts revistos. Ao final, 13 artigos preenchiam os critérios criados pelos autores, possibilitando análise estatística a respeito de dados de 3.548 pacientes. Conclui-se que o screening com ultrassonografia cada 6 meses foi superior ao screening anual, mas sensibilidade para detecção de CHC precoce foi de apenas 63%. A dosagem semestral de alfa-fetoproteína não acrescentou sensibilidade. O estudo de coorte retrospectivo de Davila et al. (Hepatology 2010) reuniu informação sobre 1873 pacientes com carcinoma hepatocelular, da base de dados do Medicare norte-americano (1994-2002), mas o foco deste trabalho não foi averiguar a melhor forma e periodicidade de rastreamento do CHC, mas sim, saber quão regularmente os pacientes sob risco estavam sendo reavaliados. Outro estudo retrospectivo, feito na Itália por Santi et al. (J Hepatol 2010), utilizou a base de dados ITA.LI.CA centers e compilou informações de 634 casos de CHC. Houve maior detecção por ultrassonografias realizadas semestralmente em comparação com periodicidade anual. A revisão de Bruix e Sherman (Hepatology 2010) também recomenda a mesma periodicidade e a utilização do ultrassom sem alfa-fetoproteína. Para a estratégia de rastreio com intervalo de screening de seis meses em vez de 12 meses, o nível de evidência é 1A e o grau de recomendação A. Este rastreamento deve ser feito com ultrassom, com grau de recomendação B, baseado em nível de evidência 2A, pois o exame tem sensibilidade baixa. Já a utilização de alfa-fetoproteína não tem sustentação razoável, com nível de evidência 3A (exame de sensibilidade e especificidade baixas). Referências 1. 2. 3. 4. ingal A, Volk ML, Waljee A, Salgia R, Higgins P, Rogers MA, S Marrero JA. Meta-analysis: surveillance with ultrasound for early-stage hepatocellular carcinoma in patients with cirrhosis. Aliment Pharmacol Ther. 2009;30(1):37-47. Davila JA, Morgan RO, Richardson PA, Du XL, McGlynn KA, El-Serag HB. Use of surveillance for hepatocellular carcinoma among patients with cirrhosis in the United States. Hepatology. 2010;52(1):132-41. Santi V, Trevisani F, Gramenzi A, Grignaschi A, Mirici-Cappa F, Del Poggio P, Di Nolfo MA, Benvegnù L, Farinati F, Zoli M, Giannini EG, Borzio F, Caturelli E, Chiaramonte M, Bernardi M; Italian Liver Cancer (ITA.LI.CA) Group. J Hepatol. 2010;53(2):291-7. Bruix J, Sherman M. Management of hepatocellular carcinoma: an update. Hepatology 2010. 1. Hepatologista e Professor de Metodologia Científica da Universidade Federal de Mato Grosso GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Tratamento paliativo do CHC - Resultados da quimioembolização. Proposta de indicação V aléria C ardoso de S ouza 1 A Incidência do carcinoma hepatocelular (CHC) está aumentando. Apesar dos programas de vigilância na população de risco, nem sempre o CHC é diagnosticado na fase inicial, quando o tratamento curativo com ressecção cirúrgica, ablação ou transplante hepático ainda é factível, restando como opção terapêutica a quimioembolização. somente em 2002, quando o grupo de Barcelona publicou no Lancet estudo randomizado comparativo da abordagem do CHC com tratamento conservador X embolização X quimioembolização2, que a quimioembolização demonstrou superioridade com aumento na sobrevida em 1 e 2 anos (63% e 27%, 75% e 50%, 82% e 63% respectivamente). A técnica de quimioembolização foi inicialmente descrita em 1981 por Kato e cols., e consiste na associação da infusão de quimioterápico à embolização do leito vascular tumoral1. O CHC é particularmente sensível ao tratamento com quimioembolização devido a sua intensa atividade neoangiogênica. Na última década observamos grande avanço na técnica de cateterismo e com o desenvolvimento de microcateteres, ficou possível o tratamento seletivo do CHC preservando o parênquima hepático não acometido pelo tumor. Em sua fase muito inicial, o CHC é pobremente vascularizado e seu suprimento sanguíneo vem da veia porta, porém à medida que o tumor cresce, o suprimento sanguíneo tornase progressivamente arterializado; mesmo tumores bem diferenciados são supridos predominantemente pela artéria hepática, sendo esta a base que justifique a eficácia terapêutica da quimioembolização. Apesar da grande utilização em todo o mundo da quimioembolização no CHC irresecável, foi A quimioembolização tornou-se mais segura, com menor incidência de feitos colaterais, podendo ser realizada em pacientes com doença hepática avançada e mesmo na presença de trombose da veia porta, até então considerada contraindicação formal ao tratamento. No período de janeiro de 2001 a julho de 2008 tratamos 179 pacientes com CHC utilizando a técnica de quimoembolização com cateterismo supersseletivo, e apesar da grande diversidade de pacientes, incluindo tumores avançados e trombose da veia porta, a incidência de efeitos colaterais maiores foi mínima (Figura. 1). Figuras 1: Paciente masculino, 38 anos, sem hepatopatia, apresentando CHC gigante, com anasarca, dor abdominal intensa e mal estado geral. Tratamento com quimioembolização seriada, havendo importante melhora clínica e sobrevida de 1 ano. a) MR PreTratamento: volumoso CHC infiltrativo acometendo todo o parênquima hepático, com compressão da veia cava inferior e trombo tumoral na veia porta; Figura 1a Figura 1d Figura 1b d) MR 1 mês apósquimioembolização: redução volumétrica e áreas de necrose do tumor, com liberação parcial da veia cava inferior; e b) Angiografia hepática mostra lesão hipervascular com padrão infiltrativo difuso; Figura 1e 1. Radiologista Vascular e Intervencionista - São Paulo – SP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Figura 1c c) Portografia arterial com amputação do ramo portal direito e volumosa hepatomegalia; e) Portografia arterial 2 meses após tratamento inicial e pré-terceira quimioembolização: redução significativa do volume hepático com liberação parcial do ramo direito da veia porta. 17 T ratamento P aliativo do CHC - R esultados da Q uimioembolização. P roposta de indicação Figuras 2: Paciente masculino, 87 anos, cirrose pelo vírus da hepatite C. CHC diagnosticado em exames de controle. Tratamento com quimioembolização com esferas carreadoras de quimioterápico apresentando bom resultado, porém aparecimento de “novo” CHC em 10 meses. CHC controlados somente com quimioembolização. Figura 2a Figura 2d a) RM pré-tratamento: CHC segmento VI; Figura 2b d) Tomografia de controle 10 meses após tratamento inicial: novo CHC no segmento IV-A; 18 Figura 2e b) Angiografia hepática mostra tumor hipervascular no segmento VI, tratamento com quimioembolização supersseletiva (DC Bead 100-300 micras + doxorrubicina 50mg); e) Angiografia hepática mostra o tumor hipervascular e cateterismo supersseletivo artéria segmento IV-A pré-quimioembolização (DC Bead 100-300 micras + doxorrubicina 50mg); Figura 2c Figura 2f c) R M 30 dias após tratamento: tumor avascular, indicando não viabilidade tumoral; f) Angiotomografia após-tratamento mostrando ausência de vascularização em CHC no segmento VI e IV-A. Mais recentemente, com o desenvolvimento das esferas carreadoras de quimioterápico (DC Bead – Biocompatibles UK Lda), a técnica de quimoembolização teve importante avanço. As esferas promovem liberação lenta e prolongada do quimioterápico, com aumento na intensidade e duração da isquemia assim como elevação da concentração do agente quimioterápico no interior do tumor e redução da passagem da droga para a circulação sistêmica. A quimioembolização com esferas carreadoras de quimioterápico, não somente apresentou melhor eficácia com aumento da necrose tumoral, como também mostrou redução significativa na incidência de efeitos adversos da quimioterapia. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 V. C. S ouza Em 2010 foi publicado o resultado do PRECISION V, estudo multicêntrico fase II, que compara a segurança e a resposta terapêutica da quimioembolização convencional com a da quimioembolização com esferas carreadoras de quimioterápico. Este estudo demonstrou redução significativa na toxidade hepática e sistêmica da doxorrubicina apesar da alta dose utilizada nos pacientes submetidos à quimioembolização com esferas carreadoras de quimioterápico. Pacientes de alto risco, com doença avançada tiveram vantagem significativa com controle da doença e boa tolerância ao tratamento, grupo este em que geralmente a indicação da quimioembolização é questionada3. No período de novembro de 2007 a novembro de 2009, realizamos 147 quimioembolizações com esferas carreadoras de quimioterápico em 94 pacientes com CHC. Tal qual o estudo PRECISION V, observamos melhor tolerância ao tratamento, especialmente em pacientes com doença avançada. Porém diferentemente do estudo PRECISION V, priorizamos a utilização de esferas de menor diâmetro, sendo nítido o aumento da necrose tumoral com a utilização de esferas 100-300 micras, funcionando em tumores menores como “ablação”. Embora ainda seja precoce a nossa análise, parece haver aumento na sobrevida com consequente aumento na incidência de doença metastática, comparativamente ao grupo de 179 pacientes tratados com quimioembolização convencional, achado este compatível com o do grupo de Barcelona que constatou sobrevida de 88,9% em 2 anos. Atualmente já se considera que a quimioembolização com esferas carreadoras de quimioterápico em “mãos hábeis” pode ser tratamento curativo no CHC, o que constatamos na prática. Em tumores menores o maior problema é o aparecimento de um novo tumor e não a recidiva local, tal como acontece com a ablação (Figura 2). Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Kato T. Arterial chemoembolization with microencapsulated anticancer drug. An approach to selective cancer chemotherapy with sustained effects. JAMA 1981; 245: 1123-1127. Llovet JM, et al Barcelona Clinic Liver Cancer Group. Arterial Embolization or chemoembolization versus symptomatic treatment in patients with unresecable HCC: a randomized controlled trial. Lancet 2002; 359: 1734-39 Varela M, Real MI, com. Chemoembolization of hepatocellular carcinoma with drug eluting beads: Efficacy and doxorubicin pharmacokinetivs. Journal of Hepatology 2007; 46: 474-481. Lammer J, Malagari K, col. Prospective Randomized Study of Doxorubicin-Eluting-Bead Embolization in the Treatment of HCC: results of the PRECISON V Study. Cadiovasc. Intervent.Radiol 2010; 33(1):41-52. Kamath PS, Wiesner RH, col. A model to predict survival in patients with end-stage liver disease. Hepatology 2001; 33(2):464-70. Bruix J, Sherman M. Management of Hepatocellular Carcinoma. AASLD Practice Guideline. Hepatology 2005; 42:1208-1236. Segundo o algoritmo de Barcelona, a quimioembolização seria indicada no CHC intermediário4,5, porém na nossa prática a sua indicação é maior. Sendo amplamente utilizada em pacientes com CHC em fila de transplante, em tumores maiores para downstage, no CHC multifocal e também em tumores avançados6. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 19 Discutidor da Evidência Científica Análise e comentários dos artigos Tratamento paliativo chc Resultados da quimioembolização. Proposta de indicação Jodi Bruix e Morris Sherman fizeram uma extensa revisão sobre a literatura deste assunto até 2005. Na ocasião eles concluem que: G ilmar A morim de S ousa 1 O tratamento do Carcinoma Hepatocelular está muito bem norteado com a classificação clínica de Barcelona, que transcrevemos em tabela abaixo: 1. TAE e TACE são indicadas para pacientes não cirúrgicos e não elegíveis para ablação percutânea. 2. Os efeitos colaterais são iguais aos da quimioterapia sistêmica. Estádio BCLC Padrão Referências (bases) 3. Metanálise cumulativa de todos os ensaios publicados indicam que pacientes apresentaram melhora significante. Precoce (BCLC A) PEI1 RF2 Lopez, PM, Aliment Pharmacol Ther, 2006 Bruix, J. Hepatology, 41,4, 2005 4. Até muito recentemente, o ganho de sobrevida relatado não apresentava significância estatística. Intermediário (BCLC B) TACE3 Llovet, JM, Hepatology, 37, 2, 2003 Lo, CM, Hepatology, 35,3, 2002 Llovet, JM, Lancet, 359 (9319), 2002 20 Avançado (BCLC C) sorafenib Llovet, JM, J Clin Oncol, 2007 5. Entretanto estudos de Barcelona e Hong Kong demonstraram um impacto significante na sobrevida, modificando este conceito negativo. 6. É preciso enfatizar que estes ensaios são heterogêneos em termos de perfis de pacientes, esquemas de tratamento e agentes usados. 7. A melhora de sobrevida varia de 20% a 60% em 2 anos. Na tabela acima, vê-se que a TACE está indicada no estádio intermediário do CHC. Há uma vasta literatura a respeito de TACE no tratamento de pacientes com CHC. Submetida a pergunta clínica às bases de pesquisa PUBMED, EMBASE, COCHRANE e outras, obtivemos um quantitativo números de artigos distribuídos conforme tabela abaixo: Tipo de estudo Número Metanálises 07 RCTS 12 Coortes 06 Caso-controle 00 Série de casos 02 Relato de casos 00 Opinião, Consenso, Guideline 03 Revisão não sistemática 01 Total 31 8. Está relacionada amplamente às características de base dos pacientes e do estágio do tumor, da função hepática e das condições gerais de saúde. Chung-Mau Lo2 e cols. em ensaio clínico controlado e randomizado de 40 pacientes grupo TACE e 40 pacientes controle, mostraram que a TACE prolonga a sobrevida de grupos selecionados de pacientes asiáticos portadores de CHC irresecáveis. Calogero Cammá3 realizou revisão bibliográfica no Medline e Cancerilit dos artigos publicados entre 1980 até 2000, utlizando-se da seguinte estratégia de busca: Hepatocellular carcinoma, liver cell carcinoma, randomized controlled trial and chemoembolization. Os autores concluem que em pacientes com CHC irresecáveis a TACE melhora significantemente a sobrevida por 02 anos, comparando com o não tratamento, porém a magnitude do efeito é pequena. Gerschwind J-F H e cols.4, em metanálise em 2003, estudaram a sobrevida aos 3 e 6 meses após TACE. Os dados mostraram vantagem 1. Professor do Departamento de Medicina Integrada da UFRN - Membro de Grupo de Medicina Baseada em Evidência da SBH GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 G. A. na sobrevida do grupo tratado com Tace versus cuidados paliativos. Entretanto os autores considerou que o total de 268 pacientes, em quatro ensaios clínicos, não foi suficiente para demonstrar superioridade na sobrevida no grupo tratado. Lovet J e Bruix J5, em metanálise de ensaios clínicos que foram publicados entre 1978 a maio de 2002, utilizandose das bases Medline, Cochrane e Cancerilit e tendo com endpoint sobrevida, identificaram 61 ensaios clínicos, dos quais 14 (quatorze) tinham critérios para realizar metanálises. Dos 14, 07 (sete) ensaios, com 545 pacientes, a intervenção foi TACE. Os autores demonstram que TACE melhorou a sobrevida de 2 anos comparando com grupo controle. Ferrari, FS6 em ensaio, clínico randomizado comparando TACE, PEI, LTA e terapia combinada, obteve 83% de necrose completa nos pacientes tratados e 83% de sobrevida com TACE., 69,6% aos 12 meses, 25,1% aos 36 meses e 9,8% aos 60 meses. Nesse estudo, entretanto autor conclui que a LTA (Laser Térmico Ablação) é mais efetiva para CHC com menos de 5,0 mm, desde que a completa necrose tenha sido obtida. Huang, JH7 em estudo prospectivo randomizado, realizado em 2007, estudou 50 pacientes comparando PSE mais TACE versus TACE sozinha. Concluiu que a terapia combinada é mais efetiva. Marelli, L8, em metanálise de 13 ensaios clínicos comparando TACE e outras terapias, concluiu que nenhum quimioterápico é melhor que outro, não há evidência de que o lipiodol é melhor; que o gelfoam é o mais usado; que a TAE parece ser tão efetiva quanto a TACE e que novas estratégias para reduzir riscos de complicações são necessárias. Doffoel, M e cols.9, em 2008, coordenaram estudo multicêntrico randomizado na França de 123 pacientes, comparando tace + tamoxifen versus tamoxifen. A conclusão dos autores é de que o estudo falhou em demonstrar superioridade da TACE na população francesa, cujos pacientes apresentam HCC de etiologia alcoólica. Nouso, K e cols.10, em estudo prospectivo, com objetivo de elucidar fatores prognósticos no tratamento de pacientes com CHC Child C, avaliaram 157 pacientes através de análise de regressão de Cox e análise multivarada. Encontraram que bilirrubina maior que 3, tumores maiores que 3 cm, alfa feto maior que 400 ng, e trombose da veia porta são fatores de pior prognóstico. TACE foi fator de bom prognóstico. A sobrevida dos que realizaram TACE foi superior a dos que não realizaram. Zhou, W-P e cols.11 em 2009 estudaram o efeito de S ouza da TACE no pós-operatório de pacientes CHC ressecáveis em estudo randomizado. De julho de 2001 a dezembro de 2003, foram selecionados 108 pacientes, dos quais 52 receberam TACE no pós-operatório. Não se observou diferenças significativas nos dois grupos quanto à perda sanguínea na operação, morbidade cirúrgica, mortalidade hospitalar. Os autores concluem que TACE pré-operatória não melhora o resultado da cirurgia. Mabbed, M e cols.¹², em 2009, realizaram ensaio clínico randomizado em 100 pacientes, em dois braços distintos, com TACE ou quimioterapia sistêmica, em grupos de 50 pacientes. Os autores concluíram que a sobrevida geral com TACE e doxorrubicina sistêmica são similares para pacientes com CHC irresecável. Li, M13 e cols. realizaram ensaio randomizado para testar a hipótese de que pacientes com CHC HBV relacionados poderiam se beneficiar com uso de interferon e TACE. Os autores selecionaram 216 pacientes, randomizados em dois grupos de 108 para TACE ou TACE + interferon. Os autores observaram que a taxa sobrevida no grupo TACE + INF foi maior do que no grupo TACE. Concluem afirmando que o interferon alfa reduz a recorrência e melhora a sobrevida de pacientes HBV relacionados após TACE, com aceitável toxicidade. Peng, B-G14 e cols. estudaram o valor da TACE para melhorar a eficácia da hepatectomia e remoção de trombo da veia porta em pacientes com CHC e trombose da veia porta. Dois grupos foram comparados. A estimativa de sobrevida foi melhor para o grupo TACE e os autores concluem que TACE pós-operatória melhora o efeito da ressecção. Meng, M-B15 e cols. comparam a eficácia e segurança da tradicional medicina chinesa (TCM) versus TACE, em metanálise de 37 ensaios clínicos, com 2653 pacientes, comparando melhora, sobrevida e qualidade de vida. Os autores informam que ensaios clínicos foram retirados por problemas metodológicos e que os dados podem ter viéses importantes e comprometer a magnitude do efeito; desta forma são necessários mais ensaios clínicos sobre a questão. Meng, M- B16 apresenta outra metanálise, desta feita para avaliar a eficácia e segurança da TACE + Radioterapia em pacientes CHC não ressecáveis. Resultados de 17 ensaios em 1476 pacientes • • • • 05 RCTS - grau B 12 NRTS - grau C terapia 1 - TACE + RD terapia 2 - TACE GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 21 D iscutidor da E vidência C ientífica - T ratamento paliativo CHC - R esultados da quimioembolização . P roposta Os autores concluem que TACE + RD (Terapia 1) é melhor que a 2, entretanto opinam que há necessidade de novos ensaios para confirmar a força da evidência. Em metanálise de 10 ensaios clínicos, Wang, W e cols.18 igualmente demonstram que a terapia combinada TACE mais radioablação é mais efetiva do que TACE sozinha. Zhong, C17, de janeiro de 2001 a março de 2004, realizaram ensaio clínico randomizado de 115 pacientes em estágio III A, para avaliar se a hepatectomia + TACE resulta em melhor sobrevida, quando comparada com a TACE sozinha. Os autores concluem que a intervenção combinada melhora a sobrevida e a eficácia. Os artigos acima comentados estão classificados quanto aos seus níveis de evidência e graus de recomendação, em tabelas abaixo, conforme a orientação da III Diretriz de Dislipidemia da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que tem fácil aplicabilidade à prática clínica. Tabela resumo 1 22 de indicação Autor / ano Periódico Tipo de estudo NE / GR Bruix, J, 2005 Bruix, J, 2004 Chung Mau Lo, 2002 Doffoel, 2008 Ferrari, FS 2004 Gerschwind, 2003 Graf, H, 2008 Grosso, 200819 Kulik, L, 201022 Hoffman, K20 Hepatology Gastroenterology Hepatology Eur J Cancer Radiol Med Am J Oncol Digestion Clinical investigation Radiol Hepatology BMC Cancer Guideline Revisão RCT RCT RCT Metanálise Coorte prospectiva Série de casos Opinião RCT 7/ 7/ 3/ 3/ 3/ 1/ 4/ 6/ 7/ 3/ Autor / anol periódico Tipo de estudo NE / GR Huang JH, 2007 Marelli, L; 2007 Maoqun, Li, 2009 Q Li, 2006 Llovet, JM, 2003 Llovet, JM, 2008 Mabbed, M, 2009 Meng, MB, 2009 Meng, MB, 2008 Murata, S, 200921 Cammá, C, 2002 World J Gastroenter Cardiov Int Radiol J Gastroenter Hepat World J Gastroewnt Hepatology Journal of Hepatology Eur J of Cancer Radiot and Oncol Journal Altern and Complementary Medicine Eur Radiol Interv Radiology RCT Metanálise RCT Coorte Metanálise Revisão NS RCT Metanálise Metanálise Coorte Metanálise 3/C 1/C 3/C 4/B 1/A 7/B 3/B 1/B 1/C 4/B 1/C Autor / anol periódico Tipo de estudo NE / GR * Nouso K, 2008 Peng BG, 2009 Tian Gen, 2009 Zhong C, 2009 Zhou PW, 2009 Gianini EG, 2010 Wang W, 2010 Lamer J, 2010 Okusaka T, 2009 Wang D, 2010 Wang Z, 2010 British J of Cancer Am J of Surgery Anti Cancer Drugs J Cancer Res C Oncol Annals of Surgery Alimentary Pharm T Liver International Cardiovasc Int Rad Journal of Hepat Journal of Magn Res Imaging Alimentary Pharm T Coorte Prospectiva RCT Prospectivo RCT RCT Retrospectivo Metanálise RCT RCT Série de casos Opinião 4/B 3/B 4/C 3/C 3/E 4/B 1/A 3/B 3/C 6/D 7/D B B B E C D C C D B Tabela resumo 2 Tabela resumo 3 *nível de evidência / grau de recomendação GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 G. A. As 10 perguntas para avaliar Metanálises 1. 2. 3. 4. 5. de S ouza 6. O resumo baseia-se em uma síntese que satifaz os critérios de inclusão predefinidos? 7. Qual a magnitude do efeito do tratamento? 8. O resultado é confiável? 9. Qual a semelhança entre os pacientes que serviram de base para a revisão sistemática e o seu paciente? 10. A revisão sistemática considerou todos os aspectos clínicos importantes? O problema foi claramente enunciado? O artigo é uma metanálise ou uma revisão sistemática? Como foi realizada a busca de artigos? Como foi feita a seleção de artigos? Os estudos incluídos são mutuamente congruentes? Metanálises que foram encontradas no tema proposto classificadas conforme nível de evidência e grau de recomendação: Autor / ano Nível de evidência Grau de recomendação Cammá, 2002 1 C Llovet, 2003 1 A Gerschwind, 2003 1 D Marelli, 2007 1 C Mao Bem Meng, 2008 1 C Mao Bem Meng, 2009 1 C Wei Wang, 2010 1 A 23 Avaliando as metanálises conforme escore Cochrane adaptado Autor/ano Randomização Alocação Cegamento Perdas Final Cammá, 2002 B A B A B Llovet, 2003 A A B B B Gersschwind, 2003 B B B B B Marelli, 2007 B A B B B M B Meng, 2008 B B B B B M B Meng, 2009 B B B B B Wei Wang, 2010 B B B B B Avaliação das metanálises conforme as 10 questões – Escore Grade Pergunta Cammá/2002 Llovet/2003 Gerschind/2003 Marelli/2007 Meng/2008 Meng/2009 Wang/2010 Problema A A A A A A A É metanálise? A A A A A A A Busca B B B B A A B Seleção B B B B A B B Congruência B B C C B C B Síntese – Ci A B B C B C B Efeito B B C B B B B Semelhança com meu paciente A A B B A B B Resultados A B C B B C B Aspectos clínicos A B B B A B B Final B B C C B C B GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 D iscutidor da E vidência C ientífica - T ratamento paliativo Conclusões 6. 1. TACE – primeira linha de tratamento não curativo para pacientes não cirúrgicos (largo ou multifocal) que não tenha disseminaçao extra-hepática ou invasão vascular (evidência 1, recomendação A); 2. Tamoxifen, drogas antiandrogênicas, octreotide, ligação ou embolização da artéria hepática não são recomendadas (evidência 1, grau D); 7. 8. 3. O utras opções - radio, ytrium, lipiodol, imunoterapia - não devem ser feitas fora de ensaios clínicos; 4. Q T Sistêmica ou intra-arterial não é recomendada e não deve ser usada como tratamento padrão; 24 9. 5. Estudos mais recentes apontam resultados promissores à indicação de TACE com DC Bead no mesmo perfil de paciente (evidência 1, grau A) que a TACE convencional; 6. Qualquer das formas de TACE está indicada para indivíduos assintomáticos com tumores multinodulares que não têm invasão vascular e não têm disseminação extra-hepática; 7. Este perfil é o melhor candidato, particularmente se estiver classificado como Child Pugh A; e 10. 11. 8. Pacientes com tumores avançados, com invasão vascular e envolvimento extra-hepático não se beneficiam desta forma de tratamento. 12. Referências 13. 1. 2. 3. 4. 5. ruix, J., Sherman, M (2005). “AASLD PRACTICE GUIB DELINE - Management of hepatocellular carcinoma.” Hepatology 42(5): 1208-36. Lo, C., Ngan H, Tso W-K, Liu C-L, Lam C-M, Poon R T-P, Fan S-T, Womg, J (2002). “Randomized controlled trial of transarterial lipiodol chemoembolization for unresectable hepatocellular carcinoma.” Hepatology 35(5): 1164-71. Cammá C, S. 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Os tratamentos ablativos estão indicados no estágio precoce do CHC, quando estiver contraindicada a ressecção do tumor ou na impossibilidade de realizar o transplante. Os métodos de ablação mais utilizados são: radiofrequência (ARF) e alcoolização percutânea (APC). Neste artigo apresentamos a análise crítica da literatura sobre a alcoolização percutânea no CHC e fazemos uma proposta de indicação deste método no Brasil. Mazzanti e colaboradores2 avaliaram a eficácia da APC em pacientes com CHC. Estudaram a sobrevida e fatores de prognóstico em 127 pacientes com um nódulo menor do que 3 cm ou com 2 nódulos cuja soma dos diâmetros fosse menor do que 5 cm. A necrose tumoral completa pós a APC, avaliada por TC um mês após o procedimento, foi obtida em todos os pacientes. Os resultados mostraram uma recorrência do CHC em 70% (89/127) dos pacientes, sendo que as recorrências mais frequentes foram novas lesões em áreas distantes do tumor primário alcoolizado, que surgiram em 81% (72/89) dos casos. A recidiva local ocorreu em 19% (17/89) dos casos. A recorrência local foi de apenas 15% nos tumores menores do que 3 cm, enquanto que foi de 32% nas lesões entre 3 e 5 cm. Os fatores prognósticos associados com uma maior sobrevida foram: diâmetro do CHC menor do que 3 cm (p= 0,048), presença de pseudocápsula na imagem (p=0,0008), valor de alfa feto proteína (AFP) menor do que 20 ng/ml (p=0,010), Child Pugh A (p<0,0001). A sobrevida em pacientes com fatores de prognóstico favoráveis foi de 61 meses. O autor conclui que a APC é um método seguro, eficaz e barato para tratar CHC com menos de 3 cm. Ebara e colaboradores3 avaliaram retrospectivamente a eficácia terapêutica da APC no tratamento do CHC ≤ 3 cm em 270 pacientes tratados entre 1983 e 2002. O diâmetro dos nódulos era menor do que 1 cm em 2% dos casos, entre 1 e 2 cm em 57% e entre 2,1 e 3,0 cm em 41%. A maioria (75%) dos pacientes apresentava apenas um nódulo, 22% com 2 nódulos e 4% com 3 tumores. A APC provocou necrose tumoral completa, avaliada por TC um mês após a alcoolização, em todos os pacientes. A taxa de recorrência local foi de 10% em 3 anos de seguimento. A sobrevida em 3 anos pós-tratamento foi de 82% e de 60% em 5 anos. As melhores taxas de sobrevida pós alcoolização foram encontradas nos pacientes Child A com um tumor único ≤ 2 cm (87% em 3 anos e 78% em 5 anos). Os fatores que influenciaram a sobrevida foram: função hepática (Child) e valor da alfa feto proteína (AFP). A recorrência de novas lesões em áreas distantes do tumor primário alcoolizado foi menor nos pacientes com CHC<2 cm e nos pacientes com nódulo único. Os autores concluem que a APC pode ser considerado um tratamento confiável em termos de eficácia e segurança em tumores pequenos. No início dos anos 2000 surge a ablação por radiofrequência (ARF) como um novo método terapêutico para o tratamento curativo do CHC em pacientes sem indicação de transplante ou de ressecção. As indicações de tratamento com ARF são muito semelhantes àquelas com APC e uma série de estudos comparativos entre os dois métodos terapêuticos foram publicados comparando as duas metodologias. Lin e colaboradores publicaram em 20044 um estudo, com 157 pacientes, comparando resultados entre ARF, APC e APC com alta dose álcool em tumores ≤4 cm. A necrose tumoral completa foi obtida em 88% dos pacientes com APC, 92% nos com APC com alta dose de álcool e 96% nos que foram submetidos à ARF. Após 2 anos de seguimento, nos pacientes em que foi obtida necrose completa do CHC, a progressão local do tumor foi de 35% na APC, 24% na APC com alta dose de álcool e de 14% na ARF. A sobrevida em 3 anos nos pacientes com CHC entre 1 e 2 cm foi de 78% nos tratados com ARF, 70% nos tratados com APC e de 71% no grupo APC com alta dose de álcool. No grupo de pacientes 1. Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ - Supervisor do Ambulatório de Hepatologia do HUCFF GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 J. A. com tumores entre 2,1 e 3,0 cm a sobrevida em 3 anos foi de 73% nos tratados com ARF, 62% nos tratados com APC e de 64% no grupo APC com alta dose de álcool. O aparecimento de novas lesões em áreas distantes do tumor primário foi de 36,5% no grupo tratado com APC, de 32% no grupo tratado com alta dose de álcool e de 30,7% no grupo da ARF. A análise multivariada mostrou que os fatores prognósticos foram: o tamanho do tumor, o método de tratamento (ARF melhor do que APC) e a diferenciação histológica. Os autores concluem que, em tumores menores do que 4 cm, o tratamento com ARF resulta em melhores desfechos clínicos do que alcoolização. Em 2009 foram publicadas duas metanálises comparando ARF e APC5,6 que mostraram uma superioridade da ARF sobre a APC em relação à eficácia. Em 2010, Germani7 e colaboradores publicaram uma metanálise comparando ARF e APC no tratamento do CHC. Foram incluídos na análise 6 estudos randomizados (3 da Europa e 3 da Ásia), totalizando 787 pacientes (396 ARF e 391 APC). Os autores analisaram sobrevida, recorrência local do tumor e à distância, necrose completa do tumor e complicações. Os resultados da comparação entre ARF e APC mostraram: a) Maior sobrevida para o grupo submetido à ARF (OR= 0,52 95% IC= 0,35-0,78; p=0,001), assim como maior redução no risco de morte para o grupo da ARF (hazard ratio= 0,53; 95% IC= 0,44–0,64; p < 0,00001); b) A ARF resultou em necrose completa do nódulo com mais frequência do que a APC (OR= 0,29; 95% CI= 0,16–0,53; p < 0,0001); S. S oares No editorial da revista8, Alexandro Forner e Jordi Bruix comentam o artigo e fazem uma excelente análise dos métodos ablativos. Reconhecem que a ARF é o melhor método, porém não descartam a APC como um tratamento ablativo eficaz em tumores menores do que 2 cm e nos casos em que a RFA represente um procedimento arriscado. Após a revisão da literatura, concluímos que a ablação por radiofrequência (ARF) é superior à alcoolização percutânea (APC) em relação à sobrevida global, recorrência local do tumor tratado e necrose completa do tumor. Em tumores menores do que 2 cm, os estudos não mostram diferenças significativas entre os 2 métodos. O Brasil, país com contrastes econômicos e tecnológicos acentuados, não dispõe da ablação por radiofrequência (ARF) na rede de saúde do SUS e com frequência este procedimento não está disponível na rede privada. A ARF é um método caro (acima de R$ 10.000,00 por sessão), necessita de equipamento especial e pessoal treinado, estando disponível apenas em centros avançados de hepatologia. A alcoolização percutânea é um método de tratamento eficaz, barato, com raros efeitos adversos graves e não necessita de equipamentos especiais. Na impossibilidade de empregarmos a ablação por radiofrequência, devemos optar pela alcoolização percutânea. Referências 1. 2. 3. c) Menor recidiva local do tumor no grupo da ARF (OR= 0,27; 95% CI 0,16–0,45; p < 0,00001) 4. d) Não houve diferença estatisticamente significativa no aparecimento de novos tumores longe do tumor primário tratado (OR= 0,87; 95% CI= 0,64–1.19; p = 0,38). 5. e) A ARF necessitou de um número menor de sessões para conseguir necrose completa do tumor. 6. Comparando a eficácia dos dois métodos ablativos no tratamento de tumores menores de 2 cm, os autores não encontraram diferenças significativas entre a ARF e a APC na taxa de mortalidade e de recorrência local do tumor. Na conclusão do estudo destacam a superioridade da ARF sobre a APC, em especial nos nódulos de CHC acima de 2 cm. de 7. 8. el Pozo, A. C. and P. Lopez (2007). “Management of D hepatocellular carcinoma.” Clin Liver Dis 11(2): 305-21. Mazzanti, R., U. Arena, et al. 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O bom senso e a ética não permitiram que se fizessem estudos de melhor evidência de eficácia terapêutica, nos quais se exige randomização, grupo controle sem tratamento ou ainda avaliação duplo-cega, impossível de ser realizada. 28 A avaliação de séries retrospectivas, entretanto, foi capaz de fornecer alguns ensinamentos. A recorrência do tumor no mesmo local variou de 6 a 20%, aumentando em proporção direta com o tamanho do nódulo tratado2. O surgimento de novas lesões em outros locais também foi frequente, atingindo 80%3. Por outro lado, a maior das séries com 270 pacientes referiu sobrevida de 60% dos pacientes em 5 anos4. Infelizmente, o método utilizado pelos autores não fornece grau de evidência ou recomendação fortes, ficando em 4C. Em estudo randomizado com casuística pequena foi realizada a comparação de PEI (26 casos) com a quimioembolização seletiva por via arterial, conhecida pela sigla inglês de TACE (26 casos). A recorrência do tumor em 3 anos foi de 39% na PEI e de 19,3% na TACE, com índices semelhantes de sobrevida6. O grau de evidência é 1B. Em conclusão, a PEI é técnica que oferece facilidade de execução, além das vantagens de preço e acesso. No entanto, os diferentes trabalhos demonstram que sua eficácia está restrita a nódulos únicos com menos de 3 cm. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Utilizando a ferramenta do grupo controle, alguns autores fizeram a comparação retrospectiva de 55 pacientes submetidos à PEI e 50 pacientes submetidos à ressecção cirúrgica do nódulo tumoral. Embora a sobrevida global do conjunto desses pacientes tenha sido semelhante, ela foi maior nos pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico, quando o tamanho do tumor foi maior que 3 cm5. Desta forma, os autores contraindicam o uso de PEI para tumores > 3 cm e o nível de evidência científica é 3B. 6. H, Okada S, Nose H, Okusaka T, Yoshimori M, Takayama Ishii T, Kosuge T, et al. 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Hepatologista do INCOR e orientadora de Pós-graduação na Faculdade de Medicina da USP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Biópsia para diagnóstico do carcinoma hepatocelular (CHC) Algoritmo da SBH R ita de C ássia M artins A lves da S ilva 1 Introdução A biópsia para diagnosticar o CHC está inserida no contexto do manejo clínico de nódulos hepáticos, que compreende um período de rastreamento para identificação de nódulos precoces e a utilização de exames radiológicos contrastados e dinâmicos para investigar hipervascularização arterial destes nódulos. A proposta de algoritmo para utilização da biópsia no diagnóstico do CHC em pacientes cirróticos, aqui apresentada, foi aprovada em fórum de discussão da SBH. Foram analisados os seguintes tópicos: 1. Quando indicar a biópsia para diagnosticar o CHC em pacientes cirróticos; 2. Risco-benefício e limitações da biópsia; e 3. Aspectos sobre o exame histopatológico do fragmento. 1 - Quando indicar biópsia para investigar nódulo hepático em pacientes cirróticos Os exames radiológicos contrastados dinâmicos como ressonância magnética (RM) e tomografia computadorizada (TC) são os métodos de escolha para confirmar o diagnóstico de carcinoma hepatocelular em pacientes cirróticos que apresentam imagem nodular no rastreamento de rotina1-4. Este diagnóstico é feito por imagens dinâmicas de múltiplas fases, tendo como base os conhecimentos sobre a carcinogênese do CHC que se torna hipervascular à custa de neovascularização arterial contrastando como o parênquima hepático, que tem vascularização predominantemente venosa portal5,6,7,8. A imagem típica que confirma o diagnóstico de CHC é representada por realce do nódulo por captação do contraste na fase arterial seguido de lavagem (wash-out) ou esvaziamento rápido do contraste na fase venosa1,2,3,4. Visando a aquisição de imagens fidedignas pelos métodos RM e TC, há recomendações para que sejam realizadas em centros de referência pela necessidade de especificações mínimas dos equipamentos, protocolos padronizados e expertise do examinador9,10. Inicialmente foi validada a utilização de dois métodos de imagem coincidentes, mostrando realce arterial do nódulo para confirmar CHC entre 1 e 2 cm de diâmetro3, e atualmente há evidências de que apenas um método de imagem pode fazer o diagnóstico de CHC pequeno a partir de 1 cm de diâmetro, desde que demonstre imagem típica com realce do nódulo na fase arterial seguido de wash-out na fase venosa4,11. A sensibilidade e especificidade dos métodos de imagem para diagnóstico CHC são relatadas em diferentes estudos respectivamente: 70 a 81% e 82 a 95% para RM e 50 a 68% e 66 a 95% para TC2,12,13,14. Portanto, na grande maioria dos pacientes cirróticos, o diagnóstico do CHC pode ser feito por métodos não-invasivos. Porém quando as imagens típicas não são demonstradas, biópsia dirigida deve ser indicada para definição da natureza do nódulo. Recomendação A biópsia deve ser indicada para nódulos hepáticos de diâmetro ≥ 1 cm, quando o diagnóstico com imagens dinâmicas for inconclusivo. 2 – Risco-benefício e limitações da biópsia A biópsia de nódulos hepáticos deve ser guiada por um método de imagem como ultrassonografia ou tomografia, na dependência dos recursos locais. Treinamento da equipe também é um fator importante especialmente em se tratando de nódulos pequenos e de localização difícil, podendo ser consideradas, excepcionalmente, laparoscopia ou laparotomia visando minimizar o erro amostral, que é uma das limitações do método. Os cuidados relacionados a distúrbios de coagulação, plaquetopenia, presença de dilatação de vias biliares, ascite e obtenção de consentimento informado não devem diferir daqueles já preconizados15. Cuidado adicional sobre o risco de sangramento é justificado pelos relatos de hemorragia mais frequente após biópsia de nódulos malignos em relação ao tecido não tumoral16,17. 1. Professora da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP – SP / Hepatologista da Unidade de Transplante de Fígado do Hospital de Base – FAMERP/FUNFARME-SP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 29 B iópsia Implante da neoplasia no trajeto da agulha de biópsia incide em 2,7% dos pacientes ou ocorre na taxa de 0,9% por ano, conforme resultado de revisão sistemática e metanálise de oito estudos incluindo um total de 1.340 pacientes biopsiados18. Outra revisão, incluindo 41 estudos e 9.783 pacientes submetidos à biópsia e/ou a tratamentos por via percutânea, mostrou risco global de implante semelhante, atingindo 2,29% (0 a11%)19. Adicionalmente este estudo descreve taxas de implante após tratamentos de ablação dos nódulos combinados ou não com biópsia: 1,4% (1,15 a 1,85%) para injeção percutânea de etanol e biópsia; 0,61% (0 a 5,56%) para radiofrequência sem biópsia; 0,95% (0 a 12,5%) para radiofrequência com biópsia e 0,72% (0 a 10%) após biópsia e ablação19. Estes dados indicam risco baixo, porém não desprezível, de implante no trajeto da agulha, podendo-se considerar não realizar biópsia quando houver a possibilidade de tratamento curativo. 30 Recomendação Quando houver indicação de tratamento curativo para nódulo hepático, deve-se considerar o risco de implante da neoplasia no trajeto da agulha, podendo a biópsia ser um procedimento opcional. 3 - Aspectos sobre o exame histopatológico de nódulos pequenos A biópsia dos nódulos pequenos com imagens inconclusivas mostra CHC pequeno na proporção de 33 a 67%, nódulos displásicos entre 12 e 27% e tumores benignos em 6 a 25%, conforme evidenciado em estudos realizados para validação de critérios diagnósticos do CHC3,4. A proporção de biópsia nãotumoral ocorreu em até 25% dos casos, em um dos estudos, indicando o erro amostral. A análise histopatológica destas biópsias pode apresentar grandes dificuldades especialmente quando se trata da distinção entre nódulos displásicos de alto grau de natureza pré-maligna, do CHC precoce. É descrito o desafio para o patologista em reconhecer a presença ou ausência de invasão celular estromal nos tratos portais em biópsias de nódulos, sendo este o critério histológico de fundamental importância para definir a natureza maligna do tumor de acordo com os critérios padronizados pelo Grupo do Consenso Internacional de Neoplasia Hepatocelular20. Por outro lado, conforme demonstrado em diferentes estudos, marcadores tumorais podem trazer grande contribuição para o diagnóstico histológico do CHC pequeno como: glypican 3,21,22,24 heat shock proteina (HSP) e glutamina sintetase24;citoqueratina CK725; CD3426. Portanto, para o diagnóstico histológico do CHC, além de patologistas especializados, são necessários para diagnóstico do C arcinoma H epatocelular (CHC) A lgoritmo da SBH marcadores teciduais específicos, em geral disponíveis apenas em centros de referência. Quando a biópsia mostra resultado negativo para CHC, especialmente se for identificado nódulo pré-maligno, não há dados que definam qual a melhor conduta diagnóstica a ser seguida. Entretanto, um estudo prospectivo de coorte com 154 pacientes cirróticos portadores de nódulos, mostrou índice anual de surgimento de CHC de 10% para nódulos displásicos de baixo grau e de 20% para os nódulos de alto grau. Além disso, o estudo demonstrou que os índices cumulativos de desenvolvimento do CHC em um, três e cinco anos foram respectivamente, para nódulos de regeneração 3,3%; 9,7% e 12,4%, para nódulos de baixo grau 2,6%, 30,2% e 36,6% e para nódulos displásicos de alto grau foram 46,2%, 61,5% e 80,8%. Os fatores identificados como preditores do surgimento de CHC foram o aumento do diâmetro dos nódulos e/ou modificação na imagem compatível com redução do fluxo porta detectado por tomografia computadorizada com portografia arterial27. Estes dados sugerem que mudanças de características das imagens de nódulos displásicos ou de regeneração poderão ter o seu papel no acompanhamento desses nódulos. Porém, devem ser levadas em consideração as limitações do método e a necessidade de mais estudos para confirmação desses dados. Recomendação Após biópsia negativa para CHC, a próxima avaliação do nódulo pode ser feita por nova imagem dinâmica ou nova biópsia. Referências 1. 2. 3. 4. 5. JS, Kim WK, Kim EK, Lee TJ, You SH. Contrast Yu Enhancedment of Small Hepatocellular Carcinoma: Usefulness of Three Successive Early Image Acquisitions During Multiphase Dynamic MR Imaging. AJR 1999;173:597. 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GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 31 Tratamento do HCC - Resultados da ablação por radiofrequência - Proposta de indicação G uilherme F elga , M arcelo B runo Abstract de R ezende, B en -H ur F erraz N eto 1 Among the potentially curative therapeutic modalities for hepatocellular carcinoma (HCC), radiofrequency ablation is an interesting option for patients with early disease. The current study reviews its indications, limitations and suggests who are the best candidates for this treatment. Resumo 32 Entre as modalidades terapêuticas potencialmente curativas para o carcinoma hepatocelular, a ablação por radiofrequência é uma opção interessante para indivíduos com doença inicial. O presente estudo revê suas indicações, limitações e sugere quais os melhores candidatos a este tratamento. A ablação por radiofrequência (RFA) é considerada, segundo a AASLD e EASL, uma modalidade de tratamento potencialmente curativa para o tratamento do carcinoma hepatocelular (CHC). Entre os métodos ablativos, sobretudo em comparação com a alcoolização percutânea e a ressecção cirúrgica, apresenta vantagens em termos de previsibilidade de seu efeito local e morbimortalidade1. Quando comparada diretamente com a injeção percutânea de etanol (PEI), a RFA apresenta como vantagens um efeito antitumoral mais previsível1. Tal superioridade resulta em maior tempo livre de doença e maior sobrevida global2,3. A taxa de recidiva tumoral nos nódulos tratados é superior na PEI em relação à RFA, particularmente em nódulos acima de 2 cm4. Em nódulos de até 2 cm, os métodos se equivalem5, porém a RFA necessita um menor número de sessões para a obtenção de necrose completa1. A RFA possui custo significativamente mais elevado que a PEI6, porém não há dados conclusivos a cerca de sua morbidade, risco de disseminação tumoral no trajeto da agulha e sua eficiência em nódulos de localização desfavorável, como aqueles subcapsulares, aqueles próximos à vesícula ou via biliar principal e aos grandes vasos hepáticos1. Assim sendo, uma vez indicado um método localmente ablativo, a RFA apresenta resultados superiores à PEI na maioria das situações, exceto nos nódulos inferiores a 2 cm, nos quais equivalem-se em termos de resposta oncológica. Como o diâmetro da ablação conseguido com a RFA é em torno de 3 cm, os nódulos acima deste tamanho podem ter necrose incompleta se tratados com este método. Idealmente, nódulos acima deste último tamanho não devem ser tratados com métodos localmente ablativos, pois é difícil que se consiga o tratamento uniforme da lesão, resultando em áreas de viabilidade tumoral. Graças à escassez de ensaios clínicos com delineamento apropriado, a qualidade da evidência científica comparando RFA e resseção cirúrgica é inferior àquela comparando os métodos localmente ablativos. Um único ensaio randomizado controlado e outros 9 ensaios não-randomizados efetuam a comparação entre os métodos7-16. A análise combinada dos dados de tais estudos permite concluir que a superioridade da resseção em relação à sobrevida em 3 anos e as taxas de recorência local. A sobrevida livre de doença em 1, 3 e 5 anos são melhores com a ressecção, enquanto a morbidade pós-operatória é menor com a RFA17. Esta diferença em termos de sobrevida possivelmente se deve à taxa mais elevada de recidiva local da doença uma vez que as taxas de recidiva à distância são semelhantes. Não houve diferença significativa entre RFA e ressecção cirúrgica para nódulos < 3 cm nos ensaios não-controlados17. Considerando-se que o efeito necrótico do probe de RFA é previsível dentro de uma área com até 3 cm de diâmetro, a ressecção parece ser inquestionavelmente superior em nódulos acima desta medida. Embora isto seja relativamente lógico, não há evidências sólidas que corroborem esta informação até o presente momento. Um ponto crucial no que tange à indicação da RFA é a seleção do paciente. Segundo Bruix et al.1, os pacientes que se beneficiam mais 1. Programa Integrado de Transplantes Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 G. F elga , M. B. R ezende, B. F. N eto do tratamento com RFA são aqueles com bom performance status, tumores únicos ou múltiplos (até 3 nódulos de 3 cm), com a hipertensão portal e as comorbidades clinicamente significativas. Tal seleção de pacientes sugere que os candidatos ideais ao procedimento são indivíduos com contraindicações à realização de transplante ou procedimentos de ressecção por comorbidades relevantes ou, entre os cirróticos, aqueles que não possuem indicação de transplante por ausência de insuficiência hepática e aqueles que possuem alguma contraindicação para a ressecção. A localização dos nódulos hepáticos também pode limitar a RFA, uma vez que não podem situar-se em posição subcapsular, próximos à vesícula biliar ou à via biliar principal e grandes vasos. Diante do exposto, a RFA deve ser considerada o método localmente ablativo de escolha. A cuidadosa seleção de candidatos é primordial. O candidato ideal para a RFA é aquele paciente que apresenta contraindicação à ressecção ou ao transplante, quer seja por apresentar doença hepática branda, quer seja por apresentar comorbidades clinicamente relevantes ou contraindicações técnicas que inviabilizem o transplante hepático convencional ou a ressecção. As lesões selecionadas devem ter tamanho inferior a 3 cm e localização favorável, isto é, não serem subcapsulares, não serem próximas à vesícula biliar ou à via biliar principal e distante de grandes vasos. deve ser a opção primordial em indivíduos com o diagnóstico do hepatocarcinoma dentro do critério de Milão19 que possuam qualquer um dos critérios listados, ou quando houver hipertensão portal severa ou inviabilidade técnica para a RFA, sobretudo pela localização do nódulo. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. A Resolução SS-151 da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, datada de 13 de agosto de 2010, propõe critérios de irressecabilidade para o paciente com CHC, e somente os indivíduos que apresentarem um destes critérios serão candidatos ao transplante de fígado (Tabela 1)18. Analogamente, tais critérios também podem ser utilizados para determinar quais indivíduos não devem ser submetidos à ressecção, restando como opções o tratamento localmente ablativo ou o transplante hepático. O transplante hepático 8. 9. Tabela 1 – Critérios de irressecabilidade para o carcinoma hepatocelular 10. MELD > 10 Classificação de Child-Pugh B-C Sódio sérico < 130 mEq/litro Necessidade de ressecção de mais de dois segmentos hepáticos Tumores múltiplos (múltiplos - mais de 1 nódulo em segmentos distintos) 11. Bruix J, Sherman M. Management of hepatocellular carcinoma. Hepatology 2005;42:1208-1236. Lencioni R, Allgaier HP, Cioni D, Olschewski M, Deibert P, CrocettiL, et al. 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A revisão sistemática confirmou que os índices de recaída local foram menores com a radiofrequência, assim como os índices de sobrevida em três anos. Embora a recomendação seja A, com nível de evidência 1 A, quando comparado com o processo de alcoolização, a radiofrequência é método de alto custo e portanto de mais difícil acesso. Além disso, sofre as mesmas restrições da PEI em termos do tamanho do tumor. Referências 1. 2. 3. 4. L in SM, Lin CJ, Lin CC, Hsu CW, Chen YC. Radiofrequency ablation improves prognosis compared with ethanol injection for hepatocellular carcinoma < or =4 cm. Gastroenterology 2004;127:1714-1723. Shiina S, Teratani T, Obi S, Sato S, Tateishi R, Fujishima T, Ishikawa T, et al. A randomized controlled trial of radiofrequency ablation with ethanol injection for small hepatocellular carcinoma. Gastroenterology 2005;129:122130. Brunello F, Veltri A, Carucci P, Pagano E, Ciccone G, Moretto P, Sacchetto P, et al. 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A, B, C, e D. O Grau de Recomendação A tem os Níveis de Evidência (NE): 1A, 1B, 1C. O Grau de Recomendação B: 2A, 2B, 2C, 3A e 3B, o Grau de Recomendação C: tem apenas um nível, 4 e o D igualmente um nível: 5. A melhor evidência é classificada como 1A. 36 Análise da Evidência: Comentários resumidos da evidência dos trabalhos apresentados. Orlando A, 2009, Itália;1 RS-M; NE: 1. Objetivo: Comparar a eficácia e a segurança da Radiofrequência Térmica (RF) com a Injeção Percutânea de Etanol (PEI) no tratamento do CHC. Metodologia: Pacientes cirróticos independentemente da causa. Utilizados os critérios de Milão. Foram analisados apenas ECR. Adotados para a análise da qualidade metodológica dos artigos analisados os seguintes critérios: randomização, sigilo na alocação, avaliação cega, intenção de tratamento. Viés de Publicação analisado segundo Klein S. foi utilizado a estatística Q de Cochrane para a análise de Heterogeneidade. Eventos primários: sobrevida geral; sobrevida em 1, 2 e 3 anos; recorrência local. Eventos secundários: sobrevida sem câncer em 1, 2, 3 anos e resposta tumoral. Resultados: Analisados cinco ECR; período avaliado: 1999/junho 2008. 701 pacientes; Intenção de Tratar: 01 estudo (Brunello F(2008). Diferença de Risco (DR) pró RF na sobrevida geral (DR 0,116; IC 95%: 0,173/0,060). DR pró RF em menor risco de recorrência local (DR -129; IC 95%:-0,079/-0,179) analisados em 4 ECR. DR pró RF na sobrevivência sem câncer (DR: 0,098;0,187;0,21) analisados 02 ECR com dados de 3 anos em 228 pacientes. DR pró RF na análise de necrose tumoral (DR: 0,091; IC95%: 0,143/0,038). Ocorrência de novas lesões: sem diferença entre RF e PEI. Comentários: Diferenças nas características metodológicas, critérios de inclusão e exclusão, objetivos primários e secundários dos trabalhos analisados e no tratamento, por exemplo: uma única sessão de PEI e diferenças no volume injetado de etanol. Em 03 ECR não há o número de pacientes rastreados. Em 03 ECR não há o número de pacientes perdidos. 20% e 30% dos pacientes, 2 ECR respectivamente, tinham etiologia não viral. Albumina sérica, plaquetas, alfa feto proteína, variavelmente sem dados. Dois estudos com tamanho tumoral:>3 - <4 cm. O trabalho de Brunello F, o único que apresenta os quatro critérios de qualidade metodológica entre os cinco analisados, mostra uma mortalidade semelhante entre os dois tratamentos: HR=0,82, IC 95%: 0,48-1,41; P=0,476, com acompanhamento de 26,5 meses. O método de Klein é uma adaptação de R. Rosenthal (1979)4, não há informação sobre validação. O número de participantes da RS-M é satisfatório para se tirar conclusões? Brok J, 20083 fez a análise de 79 RS-MT do Neonatal Group Review (The Cochrane Library) todas estatisticamente significantes valor P< 0,05, através do Trial Sequencial Analysis, 39 a 67% dessas MT significantes tinham Information Size (IS), número de participantes, insuficiente, requerendo de 1500 a 3000 pacientes adicionais em média para obter-se uma evidência forte. Bouza C, 2009, Espanha; RS-M; GR: A, NE: 1A Objetivos: Comparar a eficácia e a segurança da Radiofrequência Térmica (RF) com a Injeção Percutânea de Etanol (PEI) no tratamento do CHC. Metodologia: Eventos primários: sobrevida geral; taxa de recorrência local; efeitos adversos. Eventos secundários: sobrevida livre da doença; resposta tumoral completa; uso de recursos de saúde. O autor usa a estatística I² para analisar Inconsistência. Utiliza o National Cancer Institut Classification of Evidence. Não avalia viés de publicação. Os dados de Lencioni R 2003 estão somados aos de Olschewski M 2001, publicados como resumo. Resultados: 241 referências, utilizadas 6 publicações; RF (396 pacientes), PEI (391pacientes); média de seguimento: 25±11 meses; TT (tamanho do tumor), RF (2,62), PEI (2,47) (P=0,03); sobrevida geral e em 1,2,3 e 4 anos favorável a RF [ por exemplo: RR: 1,28 (IC 95%: 1,22-1,45) e RR: 1,24 (IC95%: 1,05-1,48) respectivamente para sobrevida de 3 e 4 anos; recorrência local, sobrevida livre da doença (1,2 e 3 anos) e resposta tumoral completa: favorável à RF; complicações gerais: favorável PEI (10,5% vs 19,2%), RR: 2,55 (IC95%: 1,8-3,35; P<0,001); tendência de complicações maiores mais fequentes na RF: PEI: 2,7%; RF:4,1%; P= 0,22. Comentários: IC amplos, indicando resultados não muito precisos; número de estudos variável para análise: somente 2 estudos foram utilizados para a análise de sobrevida em 4 anos; uso de quasiRCT (Livraghi T, 1999); não há dados de acompanhamento 1. Professor Associado da Faculdade de Medicina da Bahia - Universidade Federal da Bahia GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 A. D`O liveira J r . a longo prazo; não há informação adequada nos respectivos estudos sobre o tamanho tumoral; Brunello F (2008), único trabalho que analisa custo-efetividade, mostra que o custo médico direto por paciente foi 4.047,00 euros para o grupo de pacientes que usou PEI e 6.540,00 euros por paciente no grupo RF (P=<0,0001); custo extra por cada paciente para se conseguir resposta completa usando RF ao invés de PEI: 8.286,00 euros; TC não exequível para avaliação póstratamento segundo o grupo de Brunello. Para a análise da questão acima proposta, avaliamos duas RS-M, ambas com GR: A e NE: 1A. GR: Grau de Recomendação por tipo de estudo (Oxford Center for Evidence-based Medicine) NE: Nível de Evidência por tipo de estudo (Oxford Center for Evidence-based Medicine) RS: Revisão Sistemática RS-MT: Revisão Sistemática com Metanálise ECR: Ensaio Clínico Randomizado RR: Risco Relativo TC: Tomografia Computadorizada HR: Hazard Ratio Referências 1. 2. 3. 4. Orlando A, Leandro G, et al. Radiofrequency thermal ablation vs percutaneous ethanol injection for small hepatocellular carcinoma in cirrhosis: meta-analyses of randomized controlled trials. AM J Gastroenteerol 2009, 104:514-24. Bouza C, López-Cuadrado T, et al. Meta-analyses of percutaneous radiofrequency ablation versus ethanol injection in hepatocellular carcinoma. BMC Gastroenterology 2009, 9:31-39. Brok J, Thorlund K, et al. Trial sequencial analysis reveals insufficient information size and potencially false positive results in many meta-analyses. J Clinical Epidemiology 2008, 61: 763-69. R, Rosenthal. 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No estudo de coorte com N pequeno de Santoyo et al.3 (Transpl Proc 2009) foi demonstrada grande superioridade da sobrevida naqueles com critério de Milão. Há também uma revisão cuidadosa por Silva & Wigg4. (J Gastroenterol Hepatol 2010) que mostra que os trabalhos disponíveis são heterogêneos e observacionais, impedindo a realização de metanálises. O nível de evidência para este tema é 2B, pois os estudos são basicamente coortes históricos. O grau de recomendação é B, pois não estão bem definidas quais características podem beneficiar pacientes, estendendo os critérios de inclusão em lista além dos de Milão. Referências 1. 2. 3. 4. Mazzaferro V, Llovet JM, Miceli R, Bhoori S, Schiavo M, Mariani L, Camerini T, Roayaie S, Schwartz ME, Grazi GL, Adam R, Neuhaus P, Salizzoni M, Bruix J, Forner A, De Carlis L, Cillo U, Burroughs AK, Troisi R, Rossi M, Gerunda GE, Lerut J, Belghiti J, Boin I, Gugenheim J, Rochling F, Van Hoek B, Majno P; Metroticket Investigator Study Group. Predicting survival after liver transplantation in patients with hepatocellular carcinoma beyond the Milan criteria: a retrospective, exploratory analysis. Lancet Oncol 2009;10(1):35-43. Dudek K, Kornasiewicz O, Remiszewski P, Kobry K, Ziarkiewicz-Wróblewska B, Górnicka B, Zieniewicz K, Krawczyk M. Impact of tumor characteristic on the outcome of liver transplantation in patients with hepatocellular carcinoma. Transplant Proc. 2009;41(8):3135-7. Santoyo J, Sanchez B, de la Mata M, Fernández-Aguilar JL, Lopez-Ciller P, Pascasio JM, Suarez MA, Gomez MA, Nogueras F, Muffak K, Cuende N, Alonso M. Liver transplantation for hepatocellular carcinoma: results of a multicenter study with common priorization criteria. Transplant Proc. 2009;41(3):1009-11. Silva MF, Wigg AJ. Current controversies surrounding liver transplantation for hepatocellular carcinoma. J Gastroenterol Hepatol 2010;25:1217-26. 1. Hepatologista e Professor de Metodologia Científica da Universidade Federal de Mato Grosso GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Há indicação para critérios expandidos? M auricio F ernando de A lmeida B arros 1 Este texto tem a intenção de reproduzir fielmente, não de forma literal as palavras mas de forma consistente as ideias, emanadas na apresentação feita na Reunião de 27/11/2010, com o título em epígrafe. Dessa forma, incluiremos algumas imagens a título de ilustração. Quando se fala em transplante no carcinoma hepatocelular, toda a experiência mais recente com análise de resultados tem por base os Critérios de Milão1. Apenas para relembrar, tais critérios foram publicados há 15 anos, eram basicamente radiológicos e utilizavam uma tecnologia (dos exames de imagem) inferior àquela hoje disponível. A pergunta, objeto desta apresentação, se impõe: há lugar para expansão dos critérios? Numa resposta rápida, “sim”, pelo simples fato de que, sabidamente, nosso “não” estaria condenando à morte inúmeros pacientes com reais chances de cura e sobrevida em longo prazo. Numa resposta lenta ou “mais bem pensada”, o correto seria dizer “depende”. E depende de várias circunstâncias, que vem se alterando com o desenvolvimento da própria medicina, do transplante, enfim, do conhecimento. Critérios, mais liberais, têm sido empregados por diversos grupos ou serviços ao redor do mundo, tais como os Critérios da Universidade de São Francisco2, os Critérios de Barcelona3 e, mais recentemente, o chamado Critério até 74, protagonizado pelo mesmo autor dos famosos Critérios de Milão. E os resultados apresentados não são, de forma geral, inferiores. Transplante - Critérios Milão (1996) Mazzaferro V, Regalia E, Doci R, Andreola S, Pulvirenti A, Bozzeti F, et al. Liver transplantation for the treatment of small hepatocellular carcinomas in patients with cirrhosis. N Engl J Med 1996;334(11):693-9. UCSF (2001) Yao FY, Ferrel L, Bass NM, Watson JJ, Bacchetti P, Venook A, et al. Liver transplantation for hepatocellular carcinoma: expansion of the tumor size limits does not adversely impact survival. Hepatology 2001;33(6):1394-403. Barcelona (2004) Llovet JM, Fuster J, Bruix J. The Barcelona approach: diagnosis, staging, and treatment of hepatocellular carcinoma. Liver Transpl 2004;10(2 Suppl 1):S115-20 Até 7 (2007) Mazzaferro V, Schiavo M. Outcome of liver transplantation for HCC beyond conventional criteria: preliminary report on the “Metroticket survey”. Liver Transpl 2007;13(6):Abst 195 • 1 nódulo ≤ 5 cm • ≤ 3 nódulos, cada ≤ 3 cm 39 • 1 nódulo ≤ 6,5 cm • ≤ 3 nódulos, cada ≤ 4,5 cm Total ≤ 8 cm • 1 nódulo ≤ 7 cm, sem satélites • < 3 nódulos ≤ 5 cm ou < 5 nódulos ≤ 3 cm Downstaging = OK, ≥ 6 meses • 1 nódulo ≤ 7 cm • 2 nódulos ≤ 5 cm ou 3 nódulos ≤ 4 cm ou 4 nódulos ≤ 3 cm ou 5 nódulos ≤ 2 cm Na realidade, Mazzaferro já havia questionado em 20075 os próprios critérios à luz dos dados por ele obtidos numa abordagem bastante inteligente que se iniciou em 2005. A idéia foi investigar prospectivamente a evolução a longo prazo dos pacientes transplantados por carcinoma hepatocelular que ultrapassavam os Critérios de Milão. Foi, então, em 2005, aberto um site na Internet, em que “todos os transplantadores” estavam livres para inserir seus próprios resultados. Surgiu a ideia conhecida como “Paradigma do Metroticket”. Como um bilhete de metrô, conceituou-se um pagamento que é tão mais caro quanto mais se anda na estrada. 1. Médico do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do Hospital das Clínicas da FMUSP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Há O preço, neste caso, é uma maior incidência de recidiva da doença quanto mais se ultrapassa os Critérios de Milão. E os resultados por ele encontrados? Infelizmente, a enorme maioria dos dados inseridos ao redor do mundo refere-se a pacientes que se incluíam dentro dos Critérios de Milão, de tal forma que uma análise clara de critérios expandidos ficou de certa forma “deficiente em dados”. indicação para critérios expandidos ? Francisco, por exemplo, pacientes inicialmente “fora de critério” podem ser aceitos após redução tumoral (downstage). Mas essa aceitação não pode ser imediata, já que é exigido um tempo mínimo de seguimento para, somente então, ser o mesmo incluído em lista. Esse tempo permite separar pacientes de diferentes prognósticos, oferecendo o transplante somente àqueles que se mantenham dentro dos critérios por apresentar uma “biologia tumoral mais favorável”. 40 O que se questiona, então, neste momento? É a possibilidade de expansão dos Critérios de Milão respeitando-se os resultados ditos “aceitáveis” em termos de sobrevida e índice de recidiva? Se a resposta for sim, então se observe, por instantes, a próxima figura, onde os resultados obtidos pelo “Critério até 7” são semelhantes aos obtidos por aqueles que respeitaram os Critérios de Milão. O que se coloca, enfim, não é tão simples e direto, mas envolvem mais dados e informações. Envolve o conhecimento, por exemplo, da biologia do tumor. Na Universidade de São É possível (provável?) que o futuro não muito distante nos reserve alguma avaliação mais precisa dessa biologia, nos permitindo então uma maior precisão nesse tipo de decisão. Cabe, ainda, uma análise crítica final sobre as possíveis decisões sobre o tema: • Será que estamos analisando adequadamente os dados obtidos com os diferentes métodos de downstaging bem como os diversos critérios expandidos? • Qual seria o percentual “aceitável” de sobrevida? (70% ou 60% ou 50% em 5 anos?) GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 M. F. A. B arros Transplante de fígado praticamente não permite a realização de estudos prospectivos e randomizados. Não permite a constituição de grupos-controle por motivos óbvios. Assim, as diretrizes (ou guidelines) atualmente utilizadas raramente apresentam elevados graus de evidência. Carcinoma Hepatocelular que Ultrapassa os Critérios de Milão Referências 1. 2. Níveis de Evidência nos Algoritmos eGuidelines Atuais AASLD Guidelines (American Association for the Study of Liver Diseases) Nível A: 23% Nível B: 50% Nível C: 27% Guidelines NCCN (National Comprehensive Cancer Network) Nível A: 0% Nível B: 78% Nível C: 22% 3. 4. Metroticket e BCLC são, primariamente, baseados no nível B de evidência Então, pode-se concluir a “resposta lenta (bem pensada)”da pergunta original (título da apresentação) afirmando que “são necessários modelos de decisão”, que levem em conta não somente a possibilidade de tratamento e perspectiva de sucesso, mas o contexto em que esse tratamento está inserido, tais como a mortalidade em lista e a sobrevida dos transplantados, enfim, dados que permitam “comparar” esses pacientes conforme o “benefício de sobrevida6”. 5. 6. azzaferro V, Regalia E, Doci R, Andreola S, Pulvirenti A, M Bozzetti F, Montalto F, Ammatuna M, Morabito A, Gennari L. Liver transplantation for the treatment of small hepatocellular carcinomas in patients with cirrhosis. N Engl J Med 1996;334:693-9. Yao FY, Ferrell L, Bass NM, Watson JJ, Bacchetti P, Venook A, Ascher NL, Roberts JP. Liver transplantation for hepatocellular carcinoma: expansion of the tumor size limits does not adversely impact survival. Hepatology 2001;33:1394-403. Llovet JM, Fuster J, Bruix J. The Barcelona approach: diagnosis, staging, and treatment of hepatocellular carcinoma. Liver Transpl 2004;10:S115-20. Mazzaferro V, Llovet JM, Miceli R, Bhoori S, Schiavo M, Mariani L, Camerini T, Roayaie S, Schwartz ME, Grazi GL, Adam R, Neuhaus P, Salizzoni M, Bruix J, Forner A, De Carlis L, Cillo U, Burroughs AK, Troisi R, Rossi M, Gerunda GE, Lerut J, Belghiti J, Boin I, Gugenheim J, Rochling F, Van Hoek B, Majno P. Predicting survival after liver transplantation in patients with hepatocellular carcinoma beyond the Milan criteria: a retrospective, exploratory analysis. Lancet Oncol 2009;10:35-43. Mazzaferro V. Results of liver transplantation: with or without Milan criteria? Liver Transpl 2007;13:S44-7. Merion RM. When is a patient too well and when is a patient too sick for a liver transplant? Liver Transpl 2004;10:S69-73. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 41 Discutidor da Evidência Científica Há indicações para critérios expandidos? G ilmar A morim de S ousa 1 Esta importante questão enfrentada por todos os especialistas que lidam com os pacientes portadores de Carcinoma Hepatocelular foi submetida à avaliação da Evidência Científica pela Sociedade Brasileira de Hepatologia, em 27 de novembro de 2010, com vistas a se construir um norteamento ancorado nas publicações mais atuais. 42 A pergunta foi submetida ao PUBMED. Os artigos encontrados foram classificados utilizando-se as recomendações da III Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Diretriz de Prevenção da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2001, as quais são retratadas nas tabelas abaixo: Níveis de Evidência Nível Evidência 1 Múltiplos estudos randomizados 2 Poucos estudos randomizados, controlados (pequenos) 3 1 estudo randomizado de ótima qualidade 4 1 estudo coorte 5 1 estudo caso controle 6 1 estudo série de casos 7 Extrapolação A estratégia de busca identificou 19 artigos relacionados ao tema, com a seguinte distribuição: Comentários objetivos sobre os estudos Canter RJ, e cols,(2010)1 realizaram um estudo retrospectivo dos dados dos pacientes comparando pacientes tratados com TXH (transplante hepático) versus PHX (hepatectomia parcial). Os autores identificaram 92 pacientes entre 2002 e 2005. Durante o mesmo período 94 pacientes com tumores de igual tamanho foram alocados para PHX. Os dados foram analisados usando testes paramétricos e não paramétricos e Kaplan Méier. Os autores mostraram taxas de sobrevida similar entre os dois grupos: TXP – 66,6%, PHX – 66,%, P = 0,97. De forma muito interessante, os autores concluem: entre os pacientes em que se estendem os critérios de Milão, TXP e HPX apresentam sobrevida similar. Outro estudo interessante, foi produzido por Barakat, O e cols., (2010)2. Os autores selecionaram 32 pacientes em coorte retrospectiva com o objetivo de identificar prováveis fatores que apontassem sucesso na terapia para donwstage. O sucesso do downstage foi obtido em 14 pacientes. Os pacientes que não responderam tinham média de alfa feto significativamente mais alta e tumores infiltrativos. Os tumores não infiltrativos foi o que melhor respondeu à terapia. Graus de Recomendação Grau Recomendação A Sempre usar B Geralmente indicar C Usar ou não D Fraca. Não indicar E Conclusiva. Não indicar Os autores sugerem que características morfológicas do tumor podem predizer a uma boa resposta para o downstage e melhoria das consequências após o transplante de fígado. Tipo de estudo Número encontrado Retrospectivos 09 Revisões 04 Relato de casos 02 Série de casos 01 Opinião de especialista 03 Total 19 Koschny, R3 e cols., em 2009, em estudo de revisão discutem vantagens e desvantagens em estender critérios de inclusão para transplante ortotópico de fígado (TOF) e sinalizam para um modelo alternativo de predição e métodos de ponte para estes pacientes com CHC. Piardi, T, 20074 e cols., relatam o caso de um paciente de 47 anos, que, após 8 anos de sobrevida de TXH, desenvolveu metástase cervical, que foi tratada por cirurgia. Em abril de 2008, o HCC disseminou para linfonodos do pedículo hepático e uma extensa linfadenectomia foi realizada. O paciente apresentou boa evolução e sem recorrência. NN KK, LO, CM, 1. Professor do Departamento de Medicina Integrada da UFRN - Membro de Grupo de Medicina Baseada em Evidência da SBH GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 G. A. 20095 comenta sobre técnicas cirúrgicas que se desenvolvem na Ásia. Taketomi, A e cols.,6 2009, estudaram o impacto da Desgamma-Carboxy Prothrobin (DCP) e o tamanho do tumor na recorrência do CHC após o transplante de fígado. Em estudo retrospectivo analisaram 90 pacientes adultos, entre 1996 e 2007. Quarenta deles apresentaram recorrência. Dentre os fatores estudados, os autores encontraram que tumor menor que 5 cm e DCP menor que 300 foi de utilidade para selecionar pacientes para transplante. de S ousa Em 73% destes pacientes se beneficiaram com tratamento mais efetivo, contra 57% daqueles que não estavam em programa de vigilância. Soejima, Y e cols.11, 2007, relatam a experiência do serviço em pacientes que excederam os critérios de Milão. Foram selecionados 40 (quarenta) pacientes, sem manifestação extra-hepática e sem invasão vascular. Apresentaram média de follow up de 437 dias, sobrevida de 1 e 3 anos de 88,4 e 68,6%, respectivamente; e taxa de recorrência de 14,8%. A taca de DCP maior que 300Mau/Ml e tamanho do tumor maior que 5 cm estavam associados com maior recorrência. Os autores também apontam que a vigilância melhora a sobrevida de pacientes idosos com cirrose e expande o percentual de tratamentos efetivos. Toso, C e cols.,7, 2009, em estudo retrospectivo de banco de dados de 6478 pacientes, procuram demonstrar que os critérios de Milão podem ser expandidos. Mostram que TTV e alfa feto proteína poderiam ser utilizados como critérios para seleção dos pacientes por terem se demonstrado os mais efetivos preditores. Sauer, P8, 2005, em editorial, relata a experiência do serviço que coordena e opina a favor da expansão dos critérios, porém ressalta de que haverá maior taxa de recorrência. No período de 1987 a 2004, em 110 pacientes, a recorrência aconteceu em 28. Schwartz, M9, 2005, opina que com o uso dos critérios atuais e a informação de características biológicas dos tumores, a sobrevida tem melhorado. Os critérios para transplante hepático poderiam ser expandidos é o título da experiência relatada pelos que fazem o Serviço da UCLA, assentada em observações de 22 anos de funcionalidade e com um número de 467 pacientes transplantados12. Sauer, P13 demonstra a experiência do Hospital Universitário de Heidelberg em 110 pacientes transplantados no período de 1987 a 2004. Trevisa N10, 2004, em estudo retrospectivo de 1277 pacientes cirróticos, idosos, italianos, verificou o benefício da vigilância com USG e alfa feto proteína, quando comparados com pacientes cujos tumores foram descobertos incidentalmente. A taxa de recorrência foi menor nos pacientes que foram selecionados seguindo os critérios de Milão. Na tabela abaixo apresentamos diversos trabalhos com as suas classificações dos níveis de evidência e graus de recomendação: Autor / Ano Tipo de estudo Nível de Evidência / Grau de Recomendação Canter, RJ,2010 Retrospectivo 4, D Barakat, O,2010 Retrospectivo 4, D Koschov, R, 2004 Revisão 4, D Piarti, T, 2007 Relato de caso 7, E Ng kk Lo, 2009 Opinião de especialista 7, E Skagen, C, 2009 Revisão 7, D Taketomi, A, 2009 Retrospectivo 4, C Toso, C, 2009 Retrospectivo 4, C Heimback, JK, 2008 Revisão 7, D Aukwen, 2007 Retrospectivo 4, C Lee, HS, 2007 Opinião de especialista 7, D Duffy, JP, 2007 Série de casos 6, D Suh KS, 2006 Opinião de especialista 7, D Llovet, JM, Opinião de especialista 7, D Revisão 7, D Sauer, P, 2005 Retrospectivo 4, D Trevisan, F, 2004 Retrospectivo 4, C Shwartz, M, 2005 Retrospectivo 4. D Soejima, 2007 Retrospectivo 4, D Sutcliffe, R, 2006 14 GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 43 D iscutidor Conclusão No que se refere aos critérios expandidos no CHC, os estudos selecionados, a evidência e a recomendação, o parecer da reunião de experts da SBH em 27 de novembro de 2010 foi: 1. A literatura atual revela uma tendência prointervenção; 2. Os estudos atuais não permitem concluir no sentido da sua implementação como norma geral na rotina médica diária; e 3. Os casos devem ser avaliados segundo a experiência acumulada dos serviços e seus profissionais. 6. 7. 8. 9. Referências 1. 44 2. 3. 4. 5. anter, R., Patel SA, Kennedy T, D’Angelica MI, Jarnagin C WR, Fong Y, Blumgart LH, Freeman RB, Dematteo RP, Abt PL. (2010). “Comparative analysis of outcome in patients with hepatocellular carcinoma exceeding the Milan criteria treated with liver transplatation versus parcial hepatectomy.” Am J Clin Oncol. Barakat O, W. 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Ikegami T, Harada N, Yamashita Y, Sugimachi K, Kayashima H, Iguchi T, Maehara Y. (2009). “Impact of des-gammacarboxy prothrobin and tumor size on the recurrence of hepatocellular carcinoma after living donor transplatation.” Transplatation 87(4): 531-7. Toso, C. (2009). “Reassessing selection criteria prior to liver transplatation for hepatocellular carcinoma utilizing the Scientific Registry of Transplant Recipients database.” Hepatology 49(3): 832-8. Sauer P, K. T., Schemmer P, Mehrabi A, Stremmel W, Buechler MW, Encke J. (2005). “Liver Transplatation for hepatocellular carcinoma: is there evidence for expanding the selection criteria?” Transplatation 27(80 (Suppl1)): S 105-8. M, S. (2004). “Liver Transplatation for hepatocellular carcinoma.” Gastroenterology 127(5 (Suppl 1)): S 268-76. Trevisani F, C. M., Labate AM, De Notaris S, Rapaccini G, Farinati F, Del Poggio P, Di Nolfo MA, Benvegnú L, Zoli M, Borzio F, Bernardi M, Italian Liver Cancer (ITALICA) group. 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Como resultado, houve um desestímulo em alguns países, incluindo a proibição para a realização do transplante para o CHC nos EUA por alguns anos. Alguns autores, no entanto, observavam que pacientes transplantados por cirrose, mas que na análise histológica após o transplante observava-se a presença de CHC de determinado diâmetro, tinham sobrevida comparáveis às doenças benignas. Em 1996, Mazzaferro e colaboradores2 publicaram artigo seminal que demonstram que quando os pacientes eram transplantados, tendo tumor único com diâmetro ≤ 5cm ou dois ou três tumores com diâmetro ≤ 3 cm, sem doença extra-hepática ou invasão celular, tinham sobrevida de 70% em cinco anos, com aproximadamente 10% de recorrência. Estes critérios passaram então a ser chamados de critérios de Milão e foi validado por vários grupos nos EUA e na Europa e atualmente é aceito como gold standard 3. Há uma discussão na literatura se o paciente com diagnóstico de CHC fora dos critérios de Milão pode ser transplantado após obter redução do tumor por tratamento loco regional com quimioembolização, radiofrequência ou alcoolização (downstage). O conceito de DS foi recolocado em 2010 em conferência nos EUA como sendo a aplicação de qualquer técnica ablativa, incluindo a quimioembolização para reduzir o tumor tornando-o “viável” para transplante. Neste conceito a hepatectomia foi excluída deste critério. Os resultados com esta prática tem sido conflitantes na literatura4-10. Neste processo existem duas questões básicas a serem analisadas. A primeira delas é que muitos trabalhos não impõe limite de número ou tamanho do tumor para a realização do DS5-10. A segunda questão que é tão importante quanto a primeira é qual o critério de análise de boa resposta. Existem grupos que só realizam o transplante quando os tumores têm resposta que os colocam dentro dos CM10-11 e outros que avaliam a resposta pelo RECIST (Critério de avaliação de resposta em tumores sólidos)4,10-11. O primeiro trabalho na literatura de uso da quimioembolização transarterial (TACE) com o objetivo de DS para fazer ressecção hepática ou transplante foi realizado por Majno et al.,7 trabalho retrospectivo em que analisou 111 pacientes, dos quais 54 transplantados foram usados na TACE, doxorubicina 50 mg ou Cisplatina de 50 a 70mg, e no pós-operatório foi realizado quimioterapia sistêmica. Foram incluídos os pacientes que tiveram dois tumores, sendo que pelo menos um deles com diâmetro maior que 3cm. Foi usado o RECIST como parâmetro de resposta e a redução de 50% aceito com DS. Os autores observaram que a sobrevida nos grupos de pacientes transplantados com e sem TACE foram de 57% e 59% respectivamente. Observação importante foi apontada neste trabalho quando os autores analisaram a sobrevida dos pacientes em três níveis, os que tiveram resposta completa, incompleta e o grupo que não foi submetido à TACE, a sobrevida em 5 anos foi de 71%, 29% e 49% respectivamente. Estes dados sinalizaram que a sobrevida dos pacientes que tiveram resposta incompleta foi desfavorável em relação ao grupo que não foram submetidos à TACE. Roayaie, et al.,8 em estudo prospectivo, analisaram a terapia multimodal antes do transplante para pacientes com tumores maiores que 5 cm de diâmetro. Os fatores de exclusão deste trabalho foram: tumores maiores que 75% do parênquima hepático, infiltrativos, difuso e a doença bilobar, mas incluiu pacientes com tumores que tinham invasão do ramo portal e multicêntrico em um mesmo lobo. Na TACE uso a associação de doxorubicina, mitomicina C e cisplatina, no intra-operatório, imediatamente a reperfusão, foi infundido no paciente doxorubicina na dose de 10mg\ m2 e na primeira semana pós-transplante foi continuada na dose de 50 mg\m2 por seis ciclos. Estes autores definem 1. Livre Docente em Moléstias do Aparelho Digestivo, Doutor e Mestre em Cirurgia, Professor e Orientador da Pós-graduação da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)-SP, unidade de Transplante de Fígado HB - Funfarme/Famerp. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 45 H á I ndicações como resposta à TACE a redução de 50% do nível de alfa feto proteína ao contrário de Majno et al.7 que observam a redução do tumor. Dos 80 pacientes analisados, 37 tiveram progressão do tumor e foram excluídos da lista de espera e 43 foram transplantados; a sobrevida do grupo transplantado foi de 44% em cinco anos, mas quando estratificado pelo diâmetro do tumor, observou-se que os de diâmetro entre 5 e 7 cm tiveram 55% em cinco anos contra 34% nos pacientes que tiveram diâmetro maior que 7 cm. Graziadei et al.,12 em trabalho prospectivo, analisaram o resultado de TACE em tumores fora dos CM, 63 pacientes, sendo 48 dentro dos CM e 15 com tumor avançado; os tumores avançados foram elegíveis para o transplante quando houve regressão de pelo menos 50% do tumor inicial. 46 Quando foram analisar os resultados observando-se a intenção de tratamento, vê-se que os pacientes dentro dos CM tiveram sobrevida em 1, 2 e 5 anos de 97,8%, 97,8% e 94%, enquanto que o grupo do DS teve 93%, 78% e 31% com recorrência de 30%, enquanto os do CM tiveram 2,4%. Os autores concluem que, embora haja redução da massa tumoral, ela não se traduz em benefício para o paciente. Yao et al.9 realizam o primeiro estudo prospectivo para analisar o uso de terapias loco regional com a intenção de DS para pacientes que estão fora dos CM. Este trabalho tem protocolo rígido inclusão de paciente e impõe limite de diâmetro, não podendo a soma dos diâmetros de todos os tumores terem mais de 8 cm, e também é exigido um tempo mínimo de espera fora da lista entre o DS e a realização do transplante para que se observe o comportamento biológico dos tumores. Trinta pacientes foram analisados neste estudo e o DS foi alcançado em 70%, e destes, 53% foram transplantados. A sobrevida pela intenção de tratamento em 1 e 2 foi de 89,3 e 81,8% respectivamente . Embora este trabalho tenha protocolo claro, não se pode tirar conclusões mais fidedignas, pois faltou randomização e grupo controle, e também para a realização do DS foram usadas vários métodos (alcoolização, radiofrequência e TACE) isolados ou em combinação, além do curto tempo de segmento. Mas recentemente o mesmo grupo demonstrou resultados com um número maior de pacientes (61) e sobrevida em quatro anos analisadas pela intenção de tratamento de 69,3%4. Millonig et al.5, analisando resposta à TACE em pacientes dentro dos critérios de Milão, São Francisco e além dos critérios de São Francisco (DS), observaram que os índices dos pacientes que saíram da lista em cada grupo foi de 2,9%, de downstaging para listar os pacientes ? 12,1% e 26,7% respectivamente, e a sobrevida grupo de DS em 1, 2 e 5 anos foi de 80-66,7 e 25% respectivamente. Concluem os autores que o grupo DS teve pior evolução. Chapman et al.10 analisaram 17 pacientes transplantados com tumores bastantes avançados inclusive quatro deles com invasão vascular e sem limite de diâmetro; foram transplantados os pacientes que após a TACE estivessem dentro dos CM, excluindo apenas pacientes com doença extra-hepática e obtiveram sobrevida igual ao pacientes originalmente dentro dos CM. Cillo et al.,13 em trabalho prospectivo observacional, analisaram os resultados de 60 pacientes transplantados dentro dos CM e 40 que excediam estes critérios. Foram excluídos os pacientes que tiveram: invasão vascular, doença metastática e os que à biopsia eram indiferenciados, a realização da biopsia foi a regra, o diâmetro do tumor não foi fator de exclusão. Usaram agressiva terapia multimodal com alcoolização, radiofrequência e TACE. Quando analisado a intenção de tratamento em um e três anos, observou-se que os pacientes dentro dos CM e de São Francisco tiveram sobrevida de 84% e 69%, 95% e 85% respectivamente. Eles concluíram que tratamento agressivo deve ser feito em tumores fora dos critérios de Milão. Heckman et al.14 observaram bons resultados em 12 pacientes com tumor avançado que foram submetidos à DS com o uso de TACE e radiofrequência. Recentemente em revisão sistemática, o uso do Yttrrium-90 foi indicado para o DS, com sobrevida relatada em 1 e 3 anos de 82% - 82% e 80% - 80%, respectivamente em grupos de pacientes sem e com DS.15 Ravaioli et al.,16 em trabalho prospectivo analisando a intenção de tratamento em 88 pacientes dentro dos CM e 32 com tumor avançado com média de segmento de 2,5 anos, observaram sobrevida 62,8% no grupo dentro dos CM e 56,3% no grupo do DS, sem significância estatística. De Luna et al.17, analisando os seus resultados com dois grupos de pacientes, um com os pacientes dentro dos CM (n = 83) e o grupo de DS (n = 17), observaram mesma sobrevida em 50 meses, concluindo que DS foi efetivo na metade dos seus pacientes. Revisão da literatura baseada em evidências concluiu que não existem dados suficientes para indicar o DS como indicação de transplantes em tumores avançados18. Na mesma linha, Llovet et al.3, analisando também as publicações existentes, concluíram que o DS ainda não pode ser aplicado a prática clínica. Ao mesmo tempo Yao19 defende o uso do DS com a intenção de dar oportunidade de transplante aos pacientes. Analisando o estudo de Cillo et al.13 pode-se observar que os trabalhos publicados são incomparáveis, visto que os critérios de inclusão e exclusão, tipo de tratamento, números GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 R. F. S ilva e diâmetro dos tumores, são desiguais entre os artigos analisados. Volk et al.20, usando o modelo de Markov, demonstram que quando se opera um paciente com CHC com critérios expandidos, possivelmente se está criando a possibilidade de morte do próximo paciente em fila com DHC sem CHC em 44%, principalmente se este paciente tiver MELD acima de 20. Neuberger21, analisando o assunto, relembra que nos últimos anos várias opções de tratamento do CHC surgiram e comenta que o fígado doado é recurso da sociedade e, portanto, deve ser distribuído igualmente para todos. Nos EUA, em 2010, no relatório da conferência para alocação de fígados para o CHC ficou decidido que: a - Que não deverá haver mudança nos critérios de alocação para o CHC, inclusive nos critérios de exceção; b - Deve-se criar registro de recorrência tumoral; e c - Deve-se estimular acordos regionais visando ampliar os CM. Ficou decidido também que não se deveria estabelecer o DS como política nacional, mas ficou liberado para que a região possa discutir e implementar um programa de DS, porém este programa deverá fazer obedecendo rígido protocolo, o qual transcrevemos abaixo: A - Critérios de inclusão para DS 1. Tumor único > 5 cm, e com o maior diâmetro ≤ 8cm; 2. Dois a três tumores, sendo que cada um só pode ter no máximo o diâmetro ≤ 5 cm e ainda que a soma total de todos os tumores deve ter o diâmetro ≤ 8 cm; e 3. Sem evidência de invasão vascular comprovado por tomografia de múltiplas cortes ou por ressonância magnética. B – Critérios que indicam sucesso de DS 1. Os tumores residuais devem estar dentro dos critérios de Milão, demonstrado por tomografia ou ressonância; e 2. Em pacientes com alfa feto > 1.000ng\ml, para o sucesso do DS deve-se descer para < 500ng\ml e deve ser mantido assim até o transplante. C – Critérios para priorizar em lista após o sucesso DS 1. Os pacientes que alcançarem os CM, antes de serem listados, devem ser observados fora de lista pelo período mínimo de três meses; 2. No final dos três meses de observação fora da fila, o paciente deve fazer cintilografia óssea, provando não haver meta; e 3. Para manter a prioridade, deve o paciente em lista fazer tomografia ou ressonância a cada três meses, e as imagens devem permanecer iguais as que incluíram os pacientes em lista. Deve-se fazer a cada três meses também tomografia de tórax22. Portanto, baseado nas evidências disponíveis, não encontramos dados que justifiquem o uso do DS para viabilizar o transplante de fígado em pacientes que estão fora dos critérios de Milão pois, nos últimos 10 anos, várias opões de tratamento do CHC se firmaram como, por exemplo, a alcoolização, radiofrequência, TACE e, finalmente, existem dados demonstrando que existem mais pacientes com CHC que doadores de órgãos23, ou seja, os pacientes com doença hepática crônica estariam condenados à morte e não se beneficiariam do grande avanço da medicina que é o transplante de fígado, pois os órgãos doados seriam reservados aos privilegiados pacientes com câncer. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Pichlmayr R, Weimann A, Ringe B. Indications for liver transplantation in hepatobiliary malignancy. Hepatology 1994;20:33S-40S. Mazzaferro V, Regalia E, Doci R, Andreola S, Pulvirenti A, Bozzetti F, et al. 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Outcomes of neoadjuvant transarterial chemoembolization to downstage GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 47 Há 11. 12. 13. 14. 15. 48 16. hepatocellular carcinoma before liver transplantation. Ann Surg. 2008;248:617-625. Fisher RA, Maluf D, Cotterell AH, Stravitz T, Wolfe L, Luketic V, et al. Non-resective ablation therapy for hepatocellular carcinoma: effectiveness measured by intention-to-treat and dropout from liver transplant waiting list. Clin Transplant. 2004;18:502-512. Graziadei IW, Sandmueller H, Waldenberger P, Koengsrainer A, Nachbaur K, Jaschke W, et al. Chemoembolization followed by liver transplantation for hepatocellular carcinoma impedes tumor progression while on the waiting list and leads to excellent outcome. Liver Transpl. 2003;9:557-563. Cillo U, Vitale A, Grigoletto F, Gringeri E, D’Amico F, Valmasoni M, et al. Intention-to-treat analysis of liver transplantation in selected, aggressively treated HCC patients exceeding the Milan criteria. 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Yao et al.3 (Am J Transpl 2005), em um estudo retrospectivo, não-randomizado, com 168 participantes, mostraram melhor sobrevida proporcionada por downstaging em pacientes preenchendo os critérios de Milão ou mesmo extrapolando esses critérios. Fica evidente que faltam estudos prospectivos controlados randomizados bem desenhados. O nível de evidência é 2C, pois os estudos são apenas observações de resultados terapêuticos de séries de serviços. Sem controle ou sistematização, o Grau de Recomendação é B, pois aparentemente há melhora de sobrevida em determinados casos, necessitando melhor informação sobre em que situações estariam indicadas o downstaging. Referências 1. 2. 3. ajno PE, Adam R, Bismuth H, Castaing D, Ariche A, Krissat M J, Perrin H, Azoulay D. Influence of preoperative transarterial lipiodol chemoembolization on resection and transplantation for hepatocellular carcinoma in patients with cirrhosis. Ann Surg. 1997;226(6):688-701. Graziadei IW, Sandmueller H, Waldenberger P, Koenigsrainer A, Nachbaur K, Jaschke W, Margreiter R, Vogel W. Chemoembolization followed by liver transplantation for hepatocellular carcinoma impedes tumor progression while on the waiting list and leads to excellent outcome. Liver Transpl. 2003;9(6):557-63. Yao FY, Kinkhabwala M, LaBerge JM, Bass NM, Brown R, Jr., Kerlan R, Venook A, Ascher NL, Emond JC, Roberts JP. The Impact of Pre-Operative Loco-Regional Therapy on Outcome After Liver Transplantation for Hepatocellular Carcinoma. Am J Transpl 2005;5:795-804. 1. Hepatologista e Professor de Metodologia Científica da Universidade Federal de Mato Grosso GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 49 Há evidências para associar quimioembolização à radiofrequência ou alcoolização? L uciana K ikuchi1 O uso combinado das terapias locorregionais no tratamento do carcinoma hepatocelular (CHC) é realizado em diversos centros, com objetivo de promover uma área de necrose maior do tumor. A combinação de quimioembolização (TACE) seguida por radiofrequência (RF) visa diminuir a perda de calor e aumentar o efeito terapêutico da RF1. Por outro lado, o uso da TACE após a RF é utilizada para aumentar a necrose tumoral principalmente nas áreas periféricas do tumor, onde a temperatura alcançada pela RF é menor2. 50 Infelizmente, apesar de diversos estudos mostrarem resultados promissores, nenhum apresenta prova definitiva de eficácia clínica. Nenhum grande estudo randomizado controlado que compare a eficácia do tratamento combinado (transarterial + ablativo) versus cada tratamento isoladamente foi realizado. Um estudo com número significativo de pacientes que comparou a combinação TACE e RF sugeria que o tratamento combinado oferecia uma melhor sobrevida quando comparado à TACE ou RF sozinhos. Entretanto, houve uma retratação por parte da revista que o publicou por falhas em aspectos éticos3. Recentemente, uma metanálise4 sobre o tratamento combinado de TACE e terapias ablativas percutâneas em pacientes com CHC irressecável foi publicado. Este artigo analisou 10 estudos randomizados controlados publicados tanto na forma de artigos completos como na forma de resumo. Apesar da conclusão desta metanálise ser favorável ao tratamento combinado, a análise deste estudo mostra que a maioria dos trabalhos incluídos apresenta um número pequeno de pacientes em cada braço. Os dados também são muito heterogêneos em relação ao braço controle e ao tamanho do tumor. E apesar da maioria dos trabalhos não apresentar diferença estatisticamente significante em termos de sobrevida, há 2 trabalhos com resultados muito favoráveis em relação ao tratamento combinado, que pode ter influenciado na conclusão desta metanálise. Conclusões O tratamento combinado do CHC através da associação quimioembolização e terapias ablativas percutâneas (radiofrequência ou alcoolização) não é recomendado. Estudos randomizados controlados devem ser conduzidos para avaliar a eficácia desta abordagem. Referências 1. 2. 3. 4. ossi S, Garbagnati F, Lencioni R, Allgaier HP, Marchiano R A, Fornari F, et al. Percutaneous radio-frequency thermal ablation of nonresectable hepatocellular carcinoma after occlusion of tumor blood supply. Radiology 2000;217:119126. Lencioni R, Crocetti L, Petruzzi P, Vignali C, Bozzi E, Della Pina C, et al. Doxorubicin-eluting bead-enhanced radiofrequency ablation of hepatocellular carcinoma: a pilot clinical study. J Hepatol 2008;49: 217-222. DeAngelis CD, Fontanarosa PB. Retraction: Cheng B-Q, et al. Chemoembolization combined with radiofrequency ablation for patients with hepatocellular carcinoma larger than 3 cm: a randomized controlled trial. JAMA. 2008;299(14):16691677. JAMA. 2009 May 13;301(18):1931. Wang W, Shi J, Xie WF. Transarterial chemoembolization in combination with percutaneous ablation therapy in unresextable hepatocellular carcinoma: a meta-analysis. Liver International 2010;741-7. 1. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Discutidor da Evidência Científica Há evidências para associar quimioembolização à radiofrequência ou alcoolização? F rancisco S outo 1 Foram oito as citações apresentadas pela revisora, tratandose de uma metanálise, dois ensaios clínicos (e um comentário a respeito de um deles), uma série de 46 casos, três revisões ou opiniões de especialistas. A metanálise conduzida por Wang et al.1 (Liver Int 2010) encontrou 106 ensaios, sendo dez selecionados por preencherem critérios estabelecidos pelos autores. Apenas dois desses ensaios apresentavam classificação de Jadad acima de 2, caracterizando os oito restantes como ensaios de qualidade inferior. Foram aglutinados dados de 595 pacientes. A análise estatística apontou superioridade de sobrevida de 1, 2 e 3 anos para a combinação de quimioembolização ao tratamento ablativo sobre as abordagens isoladas. Esta metanálise usou como fontes o Medline, a base Cochrane, o Embase e o Web of Science. O ensaio clínico randomizado de Cheng et al.2 (JAMA 2008) comparou as abordagens isoladas com a associação de quimioembolização e radiofrequência. Incluiu 291 pacientes com CHC maior que 3 cm. O resultado da combinação foi superior. No entanto, denúncias de irregularidades éticas e falta de veracidade dos dados chegaram aos editores da revista (DeAngelis e Fontanarosa JAMA 2009)3 e foram confirmadas pelos dirigentes do instituto de pesquisa ao qual o pesquisador principal era ligado de modo que os resultados desse estudo foram completamente desconsiderados. O ensaio clínico controlado de Shibata et al.4(Radiology 2009) incluiu 46 casos tratados com terapia combinada vs. 43 com radiofrequência isolada. A sobrevida foi igual nos anos1-4. O relato de casos de Veltri et al.5 (Eur Radiol 2006) reúne 46 casos tratados com terapia combinada. Há bons resultados em dois terços dos mesmos, mas não há grupo controle. Considerações sobre a literatura consultada: uma metanálise com ensaios de qualidade questionável; um ensaio com N pequeno que não mostrou diferença; um ensaio com problemas éticos; um estudo não-comparativo. A valoração de evidências e grau de recomendação para esta questão precisa ser concentrada sobre a metanálise por ser o único trabalho com maior impacto a ser considerado. E isto geraria nível de evidência 1A e grau de recomendação A. No entanto, como os trabalhos que ela incluiu são muito heterogêneos, é difícil valorizar seus resultados sem mais estudos como base. A análise da literatura sobre este tema recomenda muita cautela na análise dos resultados até então obtidos, e a necessidade de realização de melhores estudos não controlados. Referências 1. 2. 3. 4. 5. ang W, Shi J, Xie WF. Transarterial chemoembolization W in combination with percutaneous ablation therapy in unresectable hepatocellular carcinoma: a meta-analysis. Liver Int. 2010;30(5):741-9. Cheng BQ, Jia CQ, Liu CT, Fan W, Wang QL, Zhang ZL, Yi CH. Chemoembolization combined with radiofrequency ablation for patients with hepatocellular carcinoma larger than 3 cm: a randomized controlled trial. 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Hepatologista e Professor de Metodologia Científica da Universidade Federal de Mato Grosso GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 51 Há indicação para o sorafenib? F abio M arinho do R ego B arros 1 O tratamento do carcinoma hepatocelular (CHC) foi sistematizado após o ano de 2003 com a publicação do algoritmo do Barcelona Clinic Liver Cancer (BCLC)1. Nele, pela primeira vez, havia a proposta de tratamento do CHC de acordo com o estágio em que o mesmo era encontrado associado ao status clínico do paciente. Havia, porém, duas lacunas a serem preenchidas: o tratamento do estágio avançado (BCLC C) e do estágio final (BCLC D). A partir do conhecimento de que os tumores, e em particular o CHC, apresentavam vias de sinalização que seriam responsáveis por várias características tumorais, como a sobrevida, a proliferação e a capacidade de desenvolvimento de metástases, percebeu-se que o bloqueio destas vias poderia ter fundamento terapêutico2. 52 O sorafenib é uma molécula que foi capaz de bloquear várias vias de sinalização no CHC em estudos clínicos de fase 1 e 23, quer na célula tumoral per se como na célula endotelial, bloqueando também a neoangiogênese observada no CHC. A principal via de sinalização bloqueada pelo sorafenib é a das serinas-treoninas RAS-RAF-MEK-ERK, seguida pelo bloqueio do receptor da VEGFR-2. A maior evidência da utilização do sorafenib no tratamento do CHC avançado vem da publicação do estudo SHARP (sorafenib HCC Assessment Randomized Protocol), publicado em 20084, um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, placebo-controlado com 600 pacientes divididos em dois grupos: um grupo que recebeu sorafenib e outro com placebo. Um fato importante deste estudo é que todos os pacientes eram cirróticos Child A. Este fato visava a evitar bias causado por mortalidade causada pela cirrose e não relacionada ao tumor. Os endpoints primários foram sobrevida geral e tempo de progressão sintomática. A sobrevida geral foi maior nos pacientes com sorafenib quando comparados com o placebo (10,7 versus 7,9 meses e p< 0,001). Quanto ao tempo de progressão sintomática não houve diferença estatisticamente significativa (4,9 versus 4,1 meses e p = 0,77), mas ocorreu diferença significativa no tempo de progressão radiológica (5,5 versus 2,8 meses e p< 0,001). Numa avaliação geral, o sorafenib demonstrou-se melhor que o placebo, independentemente da estratificação do paciente, quer com invasão macrovascular, quer com pior performance status. Os órgãos regulatórios da região da ÁsiaPacífico pediram que fosse então realizado um estudo naquela região para avaliação de resposta ao sorafenib naquela população específica, onde a maior parte dos casos de CHC são relacionados à infecção crônica pelo vírus da hepatite B. Daí surgiu o estudo Ásia-Pacífico5, cujos resultados foram favoráveis ao uso do sorafenib quando comparados ao placebo. Neste desenho foi feita randomização 2:1, com pacientes cirróticos Child A. Neste estudo os pacientes eram mais graves quando comparados aos pacientes do estudo SHARP, porquanto apresentavam mais invasão macrovascular e nível e alfafetoproteína mais elevado. Houve aumento da sobrevida geral no braço que utilizou o sorafenib quando comparado ao placebo (6,5 versus 4,2 meses e p = 0,014). Neste estudo, de forma semelhante ao estudo SHARP, houve favorecimento do braço do sorafenib em todos os quesitos analisados de estratificação de pacientes. Na pirâmide utilizada para análise dos estudos clínicos no topo surgem as revisões sistemáticas com ou sem metanálise. Em 2010 foi publicada a primeira metanálise6 evidenciando que o sorafenib melhora a sobrevida de paciente com CHC avançado, apesar de terem sido analisados dados de apenas três estudos. Isto eleva o nível de evidência para esta utilização para 1A. Nos próximos meses serão publicados dados do estudo que associam o sorafenib com a quimioembolização e poderemos saber se há melhora na sobrevida dos pacientes quando se utiliza os dois recursos terapêuticos em pacientes com CHC intermediário quando comparados ao uso da quimioembolização isolada, como preconizado atualmente. Outro estudo a ser publicado é o que utiliza o sorafenib na adjuvância, após tratamentos considerados curativos como a ressecção. Atualmente não foi evidenciado que qualquer intervenção nestes pacientes possa reduzir risco de recidiva tumoral. Em conclusão: no estágio atual do conhecimento, há evidências robustas para a recomendação do uso do sorafenib em pacientes com CHC avançado. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Llovet JM et al. Lancet 2003;362:1907-1917. Whittaker S et al. Oncogene. 2010;29:4989-500. Avila MA et al. Oncogene 2006;25:3866-3884. Llovet JM et al. N Eng J Med 2008;359:378-390. Chen AL et al. Lancet Oncol 2009;10:25-34. Zhang T et al. Anticancer Drugs. 2010 Mar;21:326-32. 1. Hepatologista. Hospital Português de Beneficência em Pernambuco e Hospital das Clínicas – UFPE. Recife, PE - Brasil GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Discutidor da Evidência Científica Há indicação para o sorafenib? E dna S trauss 1 Em casos de CHC mais avançados, no estadio C da classificação BCLC, aprovada e usada em nível internacional1, são propostos novos agentes terapêuticos, sendo o sorafenib o pioneiro dentre outros que virão. Existem dois estudos de lançamento da droga feitos no ocidente e no oriente. Em estudo multicêntrico randomizado duplo-cego com 602 pacientes procedentes dos Estados Unidos e Europa, sendo que 299 usaram sorafenib, foi demonstrada melhoria significativa da sobrevida dos pacientes com droga ativa, com menor progressão radiológica do tumor2. No segundo estudo com 226 pacientes procedentes da região pacífico-asiática, sendo que 150 usaram sorafenib, foram encontrados resultados semelhantes em termos de eficácia da droga3. Para os dois estudos, o grau de evidência é 1B e a droga está indicada, obedecidos os critérios de inclusão nos estudos iniciais, ou seja, apenas em cirróticos compensados na classe A de Child. Avaliação retrospectiva de 59 cirróticos que usaram sorafenib, estando alocados nas classes de A a C de Child, sugere que a eficácia é ausente no Child C, sendo questionável no Child B4. Outro estudo avalia por dados probabilísticos o uso do sorafenib como ponte para o transplante hepático. A probabilidade de transplante aumentaria em 5%, desde que realizado dentro de 6 meses5. Nesses dois estudos, o grau de evidência é 4C. Nesta linha de buscar outras indicações para o sorafenib, tanto em casos mais avançados como sua eventual utilidade em casos menos avançados, encontramos registrado um interessante protocolo de estudo (Hoffmann K et al. (BMC center, 2008). Planejando avaliar 208 pacientes com nódulo único < 8 cm ou até 3 nódulos ≤ 3 cm far-se-á a randomização em 2 grupos para TACE + sorafenib X TACE + placebo em avaliação duplo-cega. Enquanto não tivermos resultados dos estudos em andamento ou novas evidências comprovatórias, o uso do sorafenib deve restringir-se a cirróticos compensados, Child A, sem indicação de transplante hepático. Referências 1. 2. 3. 4. 5. L lovet JM, Burroughs A, Bruix J. Hepatocellular carcinoma. Lancet 2003;362:1907-1917. Llovet JM, Ricci S, Mazzaferro V, Hilgard P, Gane E, Blanc JF, de Oliveira AC, et al. sorafenib in advanced hepatocellular carcinoma. N Engl J Med 2008;359:378-390. Cheng AL, Kang YK, Chen Z, Tsao CJ, Qin S, Kim JS, Luo R, et al. Efficacy and safety of sorafenib in patients in the AsiaPacific region with advanced hepatocellular carcinoma: a phase III randomised, double-blind, placebo-controlled trial. Lancet Oncol 2009;10:25-34. Pinter M, Sieghart W, Graziadei I, Vogel W, Maieron A, Konigsberg R, Weissmann A, et al. sorafenib in unresectable hepatocellular carcinoma from mild to advanced stage liver cirrhosis. Oncologist 2009;14:70-76. Vitale A, Volk ML, Pastorelli D, Lonardi S, Farinati F, Burra P, Angeli P, et al. Use of sorafenib in patients with hepatocellular carcinoma before liver transplantation: a cost-benefit analysis while awaiting data on sorafenib safety. Hepatology;51:165-173. 1. Hepatologista do INCOR e orientadora de Pós-graduação na Faculdade de Medicina da USP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 53 Há indicação de combinar quimioembolização e sorafenib? A gnaldo S oares L ima 1 O carcinoma hepatocelular (CHC) é tumor agressivo, de incidência relativamente frequente. CHC é a sexta neoplasia mais comum no momento e a quinta entre homens. A letalidade associada ao CHC é elevada, constituindo a terceira causa de morte por câncer, após o câncer de pulmão e gástrico. Há nítida associação de seu aparecimento com o substrato de hepatopatias crônicas, o que constitui parte da explicação para o limitado sucesso alcançado em seu tratamento. Seu crescimento insidioso provoca, na maioria das vezes, um diagnóstico em estágio já avançado, especialmente naqueles cirróticos que não são acompanhados adequadamente por meio de métodos de imagem e marcadores tumorais1. 54 Atualmente, estima-se que apenas cerca de 15% dos pacientes portadores de CHC alcancem condições para tratamento cirúrgico de ressecção, que ainda é a forma de tratamento mais frequentemente associada à cura. Alguns pacientes com tumores de pequeno tamanho não são operáveis, devido ao grau de acometimento do parênquima hepático pela cirrose, mas podem ser tratados, com finalidade curativa, pelo transplante de fígado. O transplante, no entanto, alcança seus melhores resultados em tumores até o estágio T2, no qual há consenso em sua indicação. Outros limites para indicação do transplante para tratamento do CHC são discutidos atualmente, mas tal discussão não pertence ao escopo deste artigo. Aos pacientes sem condições para ressecção cirúrgica e sem indicação para o transplante hepático, restam tratamentos diretamente aplicados no tumor ou o tratamento medicamento sistêmico para combater a neoplasia. Os principais tipos de modalidade terapêutica disponíveis para aplicação diretamente no nódulo são a ablação por radiofrequência ou por injeção percutânea de álcool e a quimioembolização arterial. A finalidade destas modalidades terapêuticas pode variar da intenção curativa, usualmente em nódulos de pequeno tamanho (em torno de 3 cm ou menor), à intenção de reduzir o tamanho do tumor, viabilizando a ressecção ou trazendo de volta, para o estágio T2, um paciente previamente fora da indicação do transplante (downstaging). Em casos mais avançados, o tratamento pode, tão somente, almejar uma interrupção na progressão da doença. As indicações, taxas de sucesso, complicações e limitações da ablação percutânea do CHC por radiofrequência ou por injeção percutânea de álcool foram abundantemente apresentadas na literatura. A ablação por radiofrequência mostrou superioridade à injeção de álcool, mas a um custo mais elevado, sem acesso universal de todos os pacientes a esta modalidade terapêutica no nosso meio. A quimioembolização arterial, o tratamento medicamentoso com sorafenib e a associação de ambos, motivo principal deste trabalho, serão tratados separadamente. Quimioembolização arterial Quimioembolização arterial consiste na infusão de quimioterápico por ramo da artéria hepática nutridora do tumor, seguido da obstrução da artéria por material embolizante. A quimioembolização arterial é recomendada para pacientes com tumores grandes ou tumores multifocais, sem invasão vascular ou disseminação extra-hepática2. Com o tratamento por quimioembolização arterial, embora controles tomográficos possam atestar inatividade vascular do tumor, a recidiva local ocorre em taxas não desprezíveis. Desta forma, o tratamento “não-curativo” tem sido indicado para redução tumoral (downstaging), como ponte para o transplante hepático ou para a ressecção, ou como simples controle da progressão tumoral. Também há emprego do método em pacientes com grandes tumores, sem indicação clínica ao transplante e sem possibilidade de ressecção cirúrgica. Quimioembolização arterial demonstrou aumentar a sobrevida, em 1 e 2 anos, quando comparada a tratamentos sintomáticos. A sobrevida em 1 e 2 anos foi de 82% e 63% e de 63% e 27%, respectivamente, para pacientes submetidos à quimioembolização arterial e tratamento sintomático (p=0.009). Além disso, pacientes tratados por quimioembolização apresentaram menor taxa de invasão de veia porta que pacientes do grupo de tratamento conservador3,4. 1. Grupo de Transplante, Instituto Alfa de Gastroenterologia, Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 A. S. L ima Sorafenib Associação quimioembolização arterial e sorafenib Sorafenib, uma droga inibidora de várias quinases, tornou-se o primeiro agente a aumentar a sobrevida global de pacientes com CHC avançado. O CHC demonstra três características marcantes: angiogênese sustentada, autosuficiência em sinalização para crescimento e estresse mitótico. A angiogênese é orquestrada por múltiplos fatores; além do sistema VEGF/VEGFR, vários outros e seus receptores foram relacionados como alvos terapêuticos para o tratamento do CHC. Sorafenib é único em sua ação em diversos alvos, inibindo receptor de tirosina-quinases (RTK) do VEGFR2, VEGFR3, PDGFR-beta, c-kit, e Flt-35-8. A comprovação do efeito favorável do sorafenib sobre o CHC ocorreu em estudo randomizado, duplo-cego, controlado com placebo, denominado estudo SHARP (sorafenib Hepatocellular Carcinoma Assessment Randomized Protocol). Pacientes portadores de CHC avançado (n=299), com cirrose hepática Child A, foram tratados com sorafenib 400 mg BID ou placebo (n=303). Os objetivos primários do estudo eram comparar a sobrevida e o tempo até a progressão de sintomas. A mediana de sobrevida foi mais longa nos pacientes do grupo tratado com sorafenib (10,7 meses vs. 7,9 meses, p<0,001). Também a sobrevida em um ano foi significativamente mais longa nos pacientes que usaram o medicamento (44% vs 33%) quando comparado ao grupo placebo. A mediana do tempo até progressão da doença, do ponto de vista radiológico, foi maior no grupo sorafenib (5,5 vs 2,8 meses, p<0,001), assim como a taxa de controle da doença (43% vs. 32%, p=0,002). Não houve resposta completa em nenhum dos grupos9. CHC (máximo 2 sessões de quimioembolização arterial) Critério Elegibilidade • ECOG Performance Status 0-1 ChildPugh A Estratificação • ECOG Performance Status 0 vs 1 • Quimioembolização: resposta completa vs resposta não completa • 1 vs 2 sessões quimioembolização Redução tumoral ≥ 25% ou necrose total Ressaltados os efeitos benéficos individuais de quimioembolização arterial e sorafenib, resta discutir o valor da associação de ambos no tratamento do CHC. A avaliação histológica da periferia de carcinomas hepatocelulares, tratados por quimioembolização arterial, revelou maior tendência à persistência do tumor do que na região central da lesão. Na periferia, a presença de células viáveis, submetidas à hipóxia, induziria à produção de fatores angiogênicos (VEGF), com consequente estímulo ao crescimento tumoral e progressão da doença10. Tal achado constitui a justificativa racional para a associação de quimioembolização arterial e medicação anti-angiogênica. Sob tal premissa, foram realizados estudos não-controlados. Sinakos e colaboradores adicionaram sorafenib ao tratamento de 14 pacientes com CHC avançado, tratados por quimioembolização arterial11. A droga foi iniciada, em média, 4,5 meses após a quimioembolização (variação 0 a 20 meses), por um período médio de duração de 12,5 ± 5,8 meses. Este estudo grego incorporou pacientes classificados como B e C pela BCLC (Barcelona Clinic Liver Cancer). A mediana de sobrevida foi superior à relatada como monoterapia, tanto com sorafenib quanto com quimioembolização, sugerindo efeito sinérgico. A associação dos métodos foi demonstrada como segura neste estudo. A associação quimioembolização/sorafenib está sendo, atualmente, avaliada em trials. O chamado SPACE (sorafenib ou placebo em combinação com quimioembolização) é estudo fase III que pretende comparar a adição ou não R a n d o m i z a d o n = 207 Sorafenib 400 mg bid n = 207 Placebo Adaptado de Peck-Radosavljevic et al. 13 GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 Objetivos • 1o: Tempo até progressão tumoral • Sobrevida global • Biomarcadores 55 Há indicação de combinar quimioembolização e sorafenib ? Sorafenib / placebo TACE 1 Baseline + Imaging 56 Scheduled visits every 2 weeks TACE 2 Imaging TACE 3 Imaging TACE 4 Imaging LTx Outro estudo prospectivo, randomizado e de fase III, atualmente em curso, pretende verificar o possível efeito benéfico da associação de quimioembolização arterial e sorafenib nos pacientes com CHC que aguardam transplante hepático. Neste estudo, que compara o grupo de pacientes submetidos à quimioembolização arterial e sorafenib com pacientes que recebem apenas quimioembolização arterial, os objetivos incluem a influência sobre o “tempo-paraprogressão da doença”, o número de pacientes que alcançam o transplante, o controle da doença, a sobrevida global, a sobrevida livre de doença, a qualidade de vida, toxicidade da droga e a segurança em seu uso14. Na Ásia, o estudo fase II, denominado START, já publicou sua segunda análise interna parcial para relatar segurança e eficácia da associação de quimioembolização de lipiodol e doxorrubicina, seguido de embolização arterial e sorafenib, em pacientes portadores de CHC irressecável em estágio intermediário (BCLC B). Trata-se de estudo multicêntrico, aberto, braço único, realizado na Ásia. Neste estudo, sorafenib 400 mg BID é mantido continuamente (iniciado 4 dias antes 2 yr after LTx Imaging Re-evaluation: SD or downstaging - Continue Sorafenib / placebo Progression - End of study Scheduled visits every 4 weeks de sorafenib no tratamento por quimioembolização arterial, quando este resulta em redução tumoral de pelo menos 25%. Os objetivos do estudo são avaliar a influência sobre o tempo até a progressão do tumor e a sobrevida global12. 1 yr after LTx Scheduled visits every 4 weeks Imaging every 8 weeks Scheduled visits + Imaging after 3, 6 and 12 months telephone interview da quimioembolização e mantido depois). O tumor é reavaliado a cada 4 – 6 semanas. Sorafenib é mantido até progressão da doença ou toxicidade, mesmo se houver resposta completa após quimioembolização. Sessenta e três foram avaliados para segurança e 50 para eficácia: 20 pacientes (40%) não necessitaram mais que 2 sessões de quimioembolização, 18 pacientes alcançaram resposta completa e 2 progrediram a doença. Trinta pacientes evoluíram com resposta parcial ou estabilidade da doença15. Outros protocolos de pesquisa estão em andamento, associando também a radioterapia ao tratamento quimioembolizante e ao sorafenib. Trata-se de estudo ainda fase I/II16. Conclusão • • • E xiste um racional teórico válido para associação de sorafenib e quimioembolização. Não existem estudos randomizados concluídos, com nível de evidência capaz de apoiar a indicação de sorafenib em associação com quimioembolização arterial. Recomendações devem aguardar resultados para decidir pela indicação à luz dos estudos em andamento no momento. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 A. S. L ima Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 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GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 57 Discutidor da Evidência Científica concluem que o tratamento combinado pode ser oferecido aos pacientes. Há indicação de combinar Quimioembolização e Sorafenib? Kudo, M3 apresenta opinião sobre a posição do sorafenib em algoritmo no Japão e implicações sobre casos que apresentaram remissões. G ilmar A morim de S ousa 1 A pergunta título deste trabalho surge com a recente introdução do sorafenib ao arsenal terapêutico dos pacientes portadores de Carcinoma Hepatocelular avançado. Submetida às bases de pesquisa PUBMED, EMBASE E COCHRANE, conseguiu-se localizar 07 (sete) artigos, que estão comentados a seguir: 58 Dufor JF e cols.1, em estudo aberto de fase I, testaram a contínua administração de sorafenib 200 mg duas vezes ao dia, até 400 mg duas vezes ao dia, iniciados sete dias antes da administração prévia de quimioembolização transarterial (TACE) com doxirrubicina. De 21 pacientes inicialmente selecionados para o estudo, 14 (quatorze) receberam sorafenib e TACE. Os autores concluem que a intervenção conjunta foi bem tolerada pelos pacientes, quando comparáveis aos que receberam monoterapia, exceto por se verificar trombocitopenia com maior frequência. Li, Y e cols.2 mostram resultados de uma série de casos, constituída por 36 pacientes que receberam sorafenib após TACE. Vinte e dois pacientes sobreviveram, com mediana de 8,62 meses. Com base nesses resultados, os autores Biolato, M4, em revisão da literatura, conclui que TACE é o padrão para o tratamento do CHC em estágio intermediário. Welker, MW5, apresenta um relato de caso da intervenção combinada sorafenib e TACE em paciente com CHC em estágio intermediário. Zhao JD6, em estudo não concluído de fase I, inclui o sorafenib como terapia de manutenção após terapia de radioablação e TACE nos pacientes portadores de CHC avançado. Furuse, J7, em ensaio clínico randomizado e controlado, conclui que a eficácia e segurança do sorafenib em pacientes com moderada disfunção hepática não tem sido confirmada, o que restringe o uso desta terapia. Na tabela 1 listamos todos os artigos avaliados conforme o nível de evidência e o grau de recomendação. Conclusão Os estudos atuais não apresentam níveis de evidência que apontem benefícios aos pacientes ao se indicar esta forma de terapia. Tabela 1 AUTOR / ANO Tipo de estudo Evidência Recomendação Dufor, JF, 2010 Rct 3 C Li, Y, 2010 Série casos 6 D Kudo, M, 20109 Relato de caso 7 D Schwartz, R, 20108 Opinião 7 D Biolato, M, 2010 Revisão/opinião 7 D Welker, MW, 2010 Relato de caso 7 D Zhao, D, 2010 Rct 3 C 1. Professor do Departamento de Medicina Integrada da UFRN - Membro de Grupo de Medicina Baseada em Evidência da SBH GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 G. A. Referências 1. 2. 3. 4. 5. ufor JF, H. 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Atualmente há drogas que atuam no bloqueio da formação da neoangiogênese, quer no extracelular (os anticorpos monoclonais), quer no intracelular (os inibidores de tirosinaquinases). Em 1971 foi proposto3 que a célula tumoral induziria a formação de novos vasos através da liberação do que foi chamado de “fator angiogênico tumoral”, que mais tarde viria a ser o VEGF (Vascular Endothelial Growth Factor). Já naquela época o autor advogava que o bloqueio desta liberação poderia inibir o crescimento tumoral. Não há evidências robustas da utilização dos anticorpos monoclonais no tratamento do CHC, apenas da utilização de tirosinas-quinases, mas o racional para sua utilização existe. O que ocorre em um fígado que desenvolve CHC é um desequilíbrio entre os fatores indutores de neoangiogênese, como o VEGF e o TGF, e os inibidores endógenos de neoangiogênese como a endostatina4. A hipóxia central do tumor também funciona como potente indutor de neoangiogênese no CHC pelo aumento dos níveis séricos do fator induzido pela hipóxia-1 (HIF-1)5. O sorafenib faz parte da classe de drogas que agem intracelularmente. O bevacizumabe parece ter propriedades antiangiogênicas na medida em que antagoniza o receptor de VEGF como um anticorpo monoclonal. O problema desta droga mostrou-se estar relacionado a sangramentos por varizes de esôfago. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Llovet JM et al. N Eng J Med 2008;359:378-390. Chen AL et al. Lancet Oncol 2009;10:25-34. Folkaman J et al. N Eng J Med 1971;285:1182-1186. Ribatti D, Vacca A, Nico B, Sansonno D, Dammacco F. Angiogenesis and anti-angiogenesis in hepatocellular carcinoma. Cancer Treatment Reviews. 2006;32(6):437-444. Dufour JF. J Hepatol 2004;41:864-880. 1. Hepatologista. Hospital Português de Beneficência em Pernambuco e Hospital das Clínicas – UFPE. Recife, PE Brasil GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 O impacto do MELD para o carcinoma hepatocelular na realidade do Brasil M aurício F. S ilva 1 Introdução O carcinoma hepatocelular (CHC) é um importante problema de saúde pública, causando mais de 1 milhão de óbitos anualmente ao redor do mundo1. Está associado à cirrose hepática em até 95% dos casos, sendo este o seu principal fator de risco, fundamentalmente quando secundária à infecção crônica pelos vírus das hepatites B e C, ao uso abusivo de álcool e à hemocromatose hereditária2. Antes da década de 90, o transplante ortotópico de fígado (TOF) em pacientes com CHC apresentava resultados insatisfatórios devido à elevada probabilidade de recidiva tumoral, bem como à modesta sobrevida em longo prazo3,4. Diante desse contexto, esforços foram estabelecidos no intuito de identificar o subgrupo de pacientes que, a despeito de apresentar essa neoplasia, a sobrevida seria similar àquela encontrada em pacientes submetidos ao TOF devido a outras indicações. Em 1996, Mazzaferro et al. demonstraram que tal grupo de pacientes seria aquele com nódulos únicos com até 5 cm ou com até 3 nódulos de até 3 cm no seu maior diâmetro, sem evidência de invasão vascular ou metástases à distância5. Estas características ficaram conhecidas como Critérios de Milão e foram posteriormente endossadas pelos guidelines da American Association for Study of the Liver Diseases e European Association for the Study of the Liver6,7. Atualmente, o TOF é uma alternativa terapêutica bem definida para pacientes cirróticos que apresentam CHC. Critérios para alocação O desequilíbrio entre o número de pacientes que necessitam TOF e aqueles que efetivamente são submetidos a esse procedimento representa um importante desafio. Consequentemente, a necessidade de um critério objetivo no sentido de priorizar pacientes para TOF se faz oportuna. Nesse contexto, o Escore Moldel for End-Stage Liver Disease (MELD) merece considerações adicionais. Inicialmente descrito como um instrumento capaz de predizer a mortalidade em pacientes com hemorragia digestiva contemplados para o tratamento com Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt8,o MELD posteriormente demonstrou ser eficaz também em predizer a mortalidade em três meses entre pacientes cirróticos de acordo com o grau de disfunção hepatocelular9. Através de uma fórmula matemática complexa que contempla os valores séricos de bilirrubina total, índice de normatização internacional e creatinina, os pacientes recebem pontuação que se relaciona de modo diretamente proporcional com o grau de disfunção hepática e, consequentemente, menor sobrevida a curto prazo. Desse modo, a partir de fevereiro de 2002, os pacientes com MELD mais elevados passaram a ser priorizados para realizar TOF nos Estados Unidos da América, seguindo legislação estabelecida pela United Network for Organ Sharing (UNOS). Entretanto, os pacientes com CHC apresentam um risco de serem excluídos de lista de espera (LE) para o TOF não apenas por óbito relacionado a graus avançados de disfunção hepática. Tais doentes possuem um risco de progressão tumoral que ultrapassa os critérios estabelecidos para o procedimento. Com objetivo de tornar equiparável a probabilidade de um paciente com CHC ser submetido ao TOF em relação a um paciente sem essa neoplasia, foi estipulado que pacientes com CHC com nódulo único de até 2 cm (T1) receberiam 24 pontos, e pacientes com nódulo único entre 2 cm e 5 cm ou com até 3 nódulos, sendo o maior medindo até 3 cm (T2) receberiam 29 pontos10. Esse cálculo se baseava em uma estimativa de exclusão de LE de 15% e 30% em três meses, respectivamente. No ano de 2004, Sharma et al. publicaram os efeitos dessa modificação nos critérios de alocação de órgãos através de dados da UNOS11. Foi demonstrado que os pacientes com CHC apresentavam uma probabilidade de serem excluídos de LE nos primeiros cinco meses de 16,5% na era pré-MELD, contrastado com uma probabilidade de 8,5% após a implementação do escore MELD (p < 0,001). Adicionalmente, o tempo médio em LE em pacientes com CHC reduziu de 27 meses para sete meses após o escore MELD ser implementado (p < 0,001). A partir dessa análise inicial, ficou claro que os pacientes com CHC estavam recebendo uma pontuação extra que os privilegiava no sentido de ser efetivamente transplantados em relação aos pacientes que não apresentavam essa neoplasia. Diante dessa constatação, uma série de três modificações na pontuação extra para 1. Equipe de Transplante Hepático e Cirurgia Hepatobiliopancreática da Santa Casa de Porto Alegre GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 61 O pacientes com CHC foi realizada, sendo que, desde 2005, pacientes com tumores T1 não recebem pontuação adicional e tumores T2 recebem 22 pontos no momento da inclusão em LE, e um acréscimo trimestral de uma pontuação que confira probabilidade de exclusão de LE de 10%. Mesmo considerando esta diminuição na pontuação MELD nos casos de CHC, há evidências de que os pacientes sem essa neoplasia permanecem em desvantagem no que se refere à probabilidade de serem transplantados12. Freeman et al., demonstraram em 2008 que, uma vez incluídos em LE para o TOF, os pacientes com CHC apresentaram uma probabilidade de 53% de serem submetidos ao procedimento nos primeiros três meses. Esse dado foi comparável apenas ao grupo de pacientes sem CHC que apresentavam MELD maior que 30 no mesmo período (48%). Os casos com MELD entre 10 e 20 no momento de inclusão em LE apresentaram uma probabilidade de receberem TOF de 35% no mesmo período e, finalmente, 6% entre os pacientes sem CHC e com MELD menor que 10. 62 Adicionalmente, a probabilidade de exclusão de LE no mesmo período foi menor nos casos com CHC (5%), em relação aos casos sem CHC, mesmo quando comparada ao grupo de pacientes com MELD similar (13%). Em consequência desses achados, há evidências de que, mesmo no sistema atual de priorização, os casos de CHC permanecem sendo privilegiados, e é plausível que novos ajustes para esse desequilíbrio venham a ser instituídos em futuro breve. Com o intuito de ilustrar as incertezas relacionadas ao tema, a Figura 1 ilustra as recomendações de conceituados centros transplantadores e instituições norteadoras. Pode ser observada a ampla variação no sistema de pontual extra ao MELD nos diversos centros. Tal achado fortalece a falta de subsídio consistente sobre o assunto. Critérios para alocação no Brasil Antes do ano de 2006, o sistema para alocação de fígado cadavérico no Brasil se baseava fundamentalmente no critério cronológico. Entretanto, devido às inúmeras evidências que este critério para alocação de órgãos apresentava diversas limitações, a Portaria número 1.160 do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial da União no dia 29 de Maio de 2006, alterou tal sistema de priorização. Os pacientes passaram a ser alocados para TOF obedecendo ao escore MELD e este representa o sistema vigente. Além disso, os pacientes portadores de CHC dentro dos CM recebiam 20 pontos no momento de inclusão em LE, e, impacto do MELD para o carcinoma hepatocelular na realidade do B rasil após três e seis meses, 24 e 29 pontos, respectivamente. Desde a sua implementação, não foi encontrado em revisão feita no Pubmed, bem como através de pesquisa manual de tradicionais periódicos brasileiros, estudo que avaliou especificamente o impacto do referido sistema de pontuação extra para pacientes portadores de CHC em relação àqueles sem essa neoplasia. Após averiguação junto ao Sistema Estadual de Transplantes do Estado de São Paulo, houve a possibilidade de se realizar uma análise parcial com este objetivo específico. Figura 1 Hospital Paul-Brousse T1: zero; T2: tornar transplante factível em 6 meses Hospital Clínic y Provincial 1 nódulo ≥ 3cm; 2-3 nódulos ou AFP > 200: 20 pontos + 10% risco de óbito a cada 3 meses 3/3 meses Royal Free Hospital T1: zero; T2: UKELD, mínimo 49 pontos Toronto General Hospital Proposta da UNOS Província de Quebec T1: zero; T2: variação complexa entre 16 e 25 pontos T1: zero; T2: 18 pontos + 1 ponto a cada 3 meses UNOS 2005 T1: zero; T2: 22 + 10% risco de óbito a cada 3 meses AASLD guideline 2010 Sem recomendação específica EASL guideline 2001 Sem recomendação específica TSANZ guideline 2010 T1: zero; T2: 22 pontos + 2 pontos a cada 3 meses Hospital La Fe T1: zero; T2: 16 pontos + 1 ponto a cada mês Hospital Vall d`Hebron T1: zero; T2: 18 pontos + 1 ponto a cada 3 meses Recomendações para sistema de pontuação extra no escore MELD para pacientes com CHC em diferentes instituições. Abreviações: AFP, alfa fetoproteína; UNOS, United Network for Organ Sharing; AASLD, American Association for the Study of the Liver Diseases; EASL, European association for the Study of the Liver. Resultados Parciais Desde a introdução do sistema MELD no Brasil (maio de 2006) até agosto de 2010, 5254 pacientes foram listados para TOF. Após a exclusão de casos com idade inferior a 18 anos ou superior a 70 anos (n=791), insuficiência hepática fulminante (n=67), outras situações de pontuação extra (n=65), dados incompletos (n=94), re-TOF (n=29), etiologia da doença GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 M. F. S ilva O objetivo deste levantamento foi identificar o impacto do sistema atual de priorização para TOF no Brasil. Mais especificamente, ambicionou-se: (1) comparar probabilidade de casos com e sem CHC serem efetivamente submetidos à TOF; (2) comparar a probabilidade de os casos com e sem CHC serem excluídos de LE; e (3) comparar as curvas de sobrevida dos casos com e sem CHC de acordo com a análise de intenção de tratamento. Entre os 1000 pacientes analisados, 143 apresentavam CHC. Após um seguimento de três anos, a probabilidade de os pacientes com CHC serem submetido à TOF era maior do que os casos sem CHC (73% versus 22%, p < 0,001 – Figura 2). após um seguimento de cinco anos, a sobrevida de acordo com a análise de intenção de tratamento identificou-se que os pacientes com CHC apresentaram sobrevida similar aos casos sem CHC (58% versus 42%, p = 0,827 – figura 4). Figura 3 0,6 CHC Probabilidade de Exclusão de Lista de Espera hepática não definida (n=443), CHC expandindo o CM (n=30), transplante com doador vivo (n=68), transferência para outro estado (n=27), desistência por parte do paciente (n=11) e CHC fibrolamelar (n=1), 3628 pacientes foram selecionados para análise. Destes, avaliaram-se os primeiros 1000 casos incluídos em LE. p = 0,019 0,5 0,4 sem CHC 0,3 0,2 63 0,0 Figura 2 0 6 12 18 24 30 36 Meses Probabilidade de ser transplantado 1,0 p < 0,001 0,8 Probabilidade de um paciente após ser incluído em lista de espera para o transplante hepático ser excluído devido à progressão tumoral ou óbito. Abreviações: CHC, carcinoma hepatocelular. Dados fornecidos pelo Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo. CHC Probabilidade Figura 4 0,6 Probabilidade de ser transplantado 1,0 p = 0,827 0,4 0,8 0,2 CHC 0,0 0 6 12 18 24 30 36 Meses Probabilidade de um paciente após ser incluído em lista de espera para o transplante hepático ser efetivamente transplantado. Abreviações: CHC, carcinoma hepatocelular. Dados fornecidos pelo Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo. Sobrevida (%) sem CHC 0,6 sem CHC 0,4 0,2 0,0 0 Em relação à probabilidade de os pacientes com CHC serem excluídos de LE por óbito ou progressão tumoral no mesmo período, observou-se que esta era maior do que os casos sem CHC (58% versus 42%, p < 0,001 – Figura 3). Finalmente, 12 24 36 48 60 Meses Sobrevida de acordo com a análise de Intenção de Tratamento. Abreviações: CHC, carcinoma hepatocelular. Dados fornecidos pelo Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 O No que se refere ao tempo médio em LE, os pacientes portadores de CHC aguardaram o procedimento durante sete meses, contrastando com 27 meses entre os pacientes sem CHC (p < 0,001). Conclusões 64 Referências 2. 3. 4. Independentemente da pontuação extra no MELD que pacientes portadores de CHC devem receber, as seguintes considerações podem ser tecidas: • O sistema vigente para alocar pacientes com indicação de transplante hepático cadavérico “privilegia” os casos com o diagnóstico de carcinoma hepatocelular. • Não há consenso (ou subsídio científico consistente) relacionado à qual sistema de pontuação seria o ideal para ser adotado. • O sistema ideal seria aquele que contemplasse de modo equivalente a probabilidade de exclusão durante lista de espera, possibilidade de ser efetivamente transplantado, e similar sobrevida após o transplante. • Independentemente do sistema a ser adotado em nosso país, é fundamental que exista, na prática, um instrumento capaz de identificar os efeitos e resultados desde o momento em que o paciente for inserido em lista de espera. 1. impacto do 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. Parkin DM, Bray F, Ferlay J, Pisani P. Global cancer statistics 2002. 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Dentre as possibilidades terapêuticas, o transplante de fígado e a ressecção cirúrgica são as mais efetivas em termos de resultados. Terapias locais como a quimioembolização arterial hepática (QEAH) e ablação por radiofrequência (ARF) são opções úteis na doença não metastática e não elegível para cirurgia, entretanto com razoável índice de recidiva. Até muito pouco tempo, quando já não havia indicação de terapias locais cirúrgicas ou não cirúrgicas, as possibilidades terapêuticas eram ínfimas. Recentemente esta perspectiva mudou quando houve aprovação da primeira droga sistêmica para o tratamento do hepatocarcinoma avançado, com benefício em sobrevida. Trata-se do sorafenib, uma pequena molécula, inibidor de tirosinoquinases, que atua bloqueando a sinalização de PDGF, VEGF, c-kit e RAF tanto nas células tumorais quanto nas células endoteliais circundantes. Esta droga demonstrou aumento estatisticamente significativo de sobrevida de aproximadamente 3 meses em estudo que incluiu 602 pacientes, quando comparado com placebo3. A partir desta informação, esta se tornou a principal opção sistêmica de tratamento para pacientes não elegíveis ou com progressão após terapia local. O tratamento quimioterápico sistêmico surge após todas as outras opções ou quando não há outras opções. A indicação desta forma de tratamento passa por algumas prerrogativas nesta doença. É essencial que o paciente tenha performance status aceitável e uma classificação Child-Pugh, que permita o tratamento, uma vez que a maioria das drogas é metabolizada pelo fígado. Alguns fatores preditivos de resposta têm sido apontados com intenção de facilitar a indicação ou não do tratamento. Dentre eles, performance status na escala ECOG entre 0-1, ocupação de menos de 50% do fígado, e taxas de bilirrubinas < 2,0 mg/dl. Quando o paciente encontra-se fora destes parâmetros, deve-se considerar com muito critério a indicação da quimioterapia4. Várias drogas quimioterápicas vêm sendo estudados ao longo dos anos. O antimetabólito fluorouracil foi o primeiro agente testado no tratamento do hepatocarcinoma, entretanto a droga mais estudada nesta doença foi a doxorubicina. Esta droga é da família dos antracíclicos e amplamente utilizada no tratamento de vários tipos de câncer. Infelizmente os melhores resultados foram de um estudo de fase II, muito pequeno, com apenas 14 pacientes e taxa de resposta de 78% que não se repetiu em outros estudos posteriormente. Subsequentemente, estudos que avaliaram a doxorubicina mostraram taxas de resposta entre 10-30% (Tabela 1). Tabela 1: Estudos com doxorubicina em hepatocarcinoma Autor/ano n Fase RR Olweny/1975 14 II 78% Chlebowski/1984 157 II 11% Lai/1988 106 III 5% Sciarrino/1985 109 II 10% Um estudo de fase III que comparou a doxorubicina com terapia de suporte em 106 pacientes mostrou um beneficio estatisticamente significativo de sobrevida global mediana da ordem de apenas 3 semanas5-8. A doxorubicina também foi comparada em estudo de fase III que incluiu 188 pacientes, com uma combinação de drogas no esquema conhecido como PIAF, composto de cisplatino, interferon, doxorubicina e fluorouracil9. Apesar de uma tendência a melhores taxas de resposta no esquema PIAF, não houve diferença significativa nas taxas de sobrevida global, e sim maior toxicidade com a combinação, e então a doxorubicina como droga isolada continuou a ser a opção mais usada. Esquemas contendo combinações com derivados de platino ou fluoropirimidinas tornaram-se opções mais usadas nos 1. Oncologista Clínica - Clinica AMO – Assistência Multidisciplinar em Oncologia - Departamento de Tumores Gastrointestinais, Salvador – Bahia – Brasil GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 65 H epatocarcinoma: últimos anos por conta de boa tolerabilidade e taxas de eficiência mais animadoras, conquanto ainda em estudos de fase II apenas. A capecitabina, uma fluoropirimidina de administração oral, também foi avaliada e demonstrou algum benefício, com taxa de resposta de 11%, tempo mediano para progressão de 2,9 meses e sobrevida mediana de 10,1 meses nos 37 pacientes avaliados em um dos estudos10. Diversas outras drogas isoladas foram testadas ao longo dos anos, infelizmente com mínimas taxas de resposta e sem benefício de sobrevida demonstrado, dentre elas mitoxantrona, epirubicina, doxorubicina lipossomal, mitomicina, etoposide, irinotecano, interferon (Tabela 2). Tabela 2: Quimioterápicos isolados em hepatocarcinoma: taxas de resposta 66 tratamento quimioterápico A análise apresentada após 266 eventos demonstrou sobrevida global mediana superior no grupo Folfox, 6,4 meses versus 4,97 meses, entretanto não estatisticamente significativa naquele momento. Entretanto os dados de análise posterior após 305 eventos demonstraram uma diferença estatisticamente significativa em SG, favorecendo o braço da combinação, com p = 0,0425. A sobrevida livre de progressão foi significativamente maior no grupo Folfox, 2,93 versus 1,77 meses, assim como a taxa de resposta: 8% versus 3%. O esquema em estudo foi bem tolerado, tendo como maior toxicidade graus 3 e 4 e a neutropenia em 30% dos pacientes. Com o exposto conclui-se que o esquema Folfox é comparável à doxorubicina, com tendência a alguma superioridade, com perfil de toxicidade bastante razoável, porém com números ainda muito modestos no que tange a beneficio (Tabela 3). Tabela 3: Principais esquemas quimioterápicos atuais em hepatocarcinoma Drogas RR Doxorubicina 0-20% Esquema SG mediana Taxa de resposta Fase Mitoxantrona 8-17% Doxorubicina 10,6 semanas 03% III Epirubicina 10-25% GemOx 11,5 meses 18% II Doxo lipossomal 0-10% FOLFOX 06,4 meses 08% III Cisplatina 0-15% Capecitabina 10,1 meses 11% II Combinações com Cisplatina 15-27% Paclitaxel 0 VP-16 18% Capecitabina 13-25% Irinotecano 7% 5FU + IFN 18% 5FU + LV 28% Algumas combinações de drogas também despertaram interesse para investigação nesta doença. Uma destas foi o esquema GemOx. Este esquema é composto de gencitabina, droga pertencente ao grupo dos antimetabólitos, combinada à oxaliplatina, derivado da platina de terceira geração, ambas com perfil de toxicidade de fácil manejo. Este é um regime já previamente testado e usado em vários tipos de tumor como pâncreas, vias biliares e ovário. O estudo que incluiu este regime no arsenal terapêutico para o hepatocarcinoma foi um estudo de fase II, com apenas 34 pacientes, que demonstrou taxas de resposta de 18%, estabilidade de doença em 58% e uma sobrevida global mediana de 11,5 meses11. Recentemente outro esquema combinado de drogas chamado Folfox, composto por fluorouracil, leucovorin e oxaliplatina, foi comparado com a doxorubicina isolada12. Este estudo de fase III incluiu 371 pacientes, predominantemente Child A (87%) e B, e a maioria (> 80%) portadora de vírus da hepatite B. Atualmente vivemos a era das drogas biológicas ou terapias de alvo molecular na oncologia. Nos últimos anos uma série de novas moléculas vem sendo estudada em vários tipos de tumores. Algumas delas já com demonstração de benefício em outros tipos de câncer como é o caso do bevacizumabe, um anticorpo monoclonal recombinante, anti VEGFr – antifator de crescimento endotelial vascular, em câncer do cólon e reto, sistema nervoso central e pulmão, e o cetuximabe, um anti-EGFR, antirreceptor de fator de crescimento epitelial, droga também com benefício estabelecido em câncer de cabeça e pescoço, cólon e reto. Com o exemplo da indicação de uso do sorafenib, molécula biológica multialvo, única droga até o momento com comprovado benefício em aumento de sobrevida estatisticamente significativo em hepatocarcinoma, é muito lógico a avaliação de outras drogas biológicas nesta doença. O hepatocarcinoma é um tumor sabidamente hipervascular. A inibição de crescimento tumoral por mecanismo de antiangiogênese, portanto, seria um dos caminhos desejados para o tratamento. Neste sentido, alguns estudos avaliaram a combinação de quimioterápicos ao bevacizumabe. Em 2006 foram publicados os resultados de um estudo fase II que avaliou a combinação de GemOx com bevacizumabe em 33 pacientes portadores de hepatocarcinoma. A taxa de resposta observada neste estudo foi de 20% e 27% dos pacientes GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 A. K. C outinho que tiveram doença estável. A sobrevida global mediana foi de 9,6 meses neste estudo13. Dois outros esquemas foram testados em estudos pequenos incluindo bevacizumabe associado à quimioterapia. Um deles com capecitabina, fluoropirimidina oral associada ao bevacizumabe. Este esquema foi testado em 45 pacientes portadores de hepatocarcinoma e revelou taxa de resposta de 16%, com sobrevida global mediana de 10,7 meses14. O outro usou a combinação de Xelox com bevacizumabe. O Xelox é esquema composto de capecitabina e oxaliplatina. Dentre os 30 pacientes avaliados, observou-se resposta em 11% e doença estável em 78% dos pacientes15. Estudos também testaram a combinação de quimioterápicos com cetuximabe nesta doença. O esquema GemOx mais uma vez foi associado a um anticorpo monoclonal, desta vez o anti-EGFR, Cetuximabe. O estudo fase II que avaliou esta combinação incluiu 45 pacientes e utilizou as doses padrão para estas drogas. A taxa de resposta foi de 20% e sobrevida global mediana de 9,5 meses16. Por fim e recentemente publicado foi o estudo que comparou doxorubicina associada a sorafenib versus doxorubicina isolada. Este estudo randomizou 96 pacientes child A e demonstrou tempo mediano para progressão de 6,4 meses versus 2,8 meses; sobrevida global mediana de 13,7 meses versus 6,5 meses, além de sobrevida livre de progressão de 6,0 meses versus 2,7 meses, todos os índices favorecendo o grupo que recebeu a combinação com sorafenib17. As toxicidades mais importantes neste esquema foram gastrointestinal e hematológica, porém manejáveis. Estes resultados são bastante interessantes, porém não conclusivos em relação ao que se o benefício deve-se à combinação ou simplesmente à ação do sorafenib (Tabela 4). Com a intenção de esclarecer este ponto, atualmente está em andamento estudo de fase III comparando doxorubicina associado à sorafenib versus sorafenib isolado, e aguardamos ansiosamente os resultados. Tabela 4: Esquemas combinados: associação de quimioterápicos e anticorpos monoclonais em estudos fase II no tratamento do hepatocarcinoma Esquema SG mediana Em resumo, infelizmente o hepatocarcinoma é uma doença complexa, e com poucas perspectivas quando diagnosticado em fase avançada. O algoritmo de tratamento deve contemplar estadio, grau de comprometimento hepático pela doença de base, localização e extensão da tumoração, comprometimento ou não vascular hepático, além do performance status do paciente, comorbidades e tratamentos prévios. O tratamento quimioterápico sistêmico somente deve ser indicado nos casos em que o paciente não é elegível para nenhuma das formas de terapia local ou biológica isolada como o sorafenib, ou quando houve progressão de doença após qualquer destes tratamentos. Considerando a indicação em apenas um número muito restrito de pacientes, um dos itens de maior importância é a seleção adequada. É verdade que atualmente os índices de resposta com quimioterapia sistêmica nesta doença tem sido desanimadores e a maioria dos estudos incluiu um número pequeno de pacientes. Contudo, não se pode deixar de pensar e avaliar esta opção, uma vez que há referências a respostas, mesmo que pequenas, e benefício clínico com alguns dos esquemas de tratamento. Como sempre em oncologia deve imperar o bom senso na indicação desta forma de tratamento, a cuidadosa avaliação e potenciais riscos e benefícios da quimioterapia. A indicação e introdução do tratamento deve estar pautada nos dados da literatura existente, nos preceitos éticos, na vontade do paciente, e avaliações periódicas de resultado por especialista com experiência na área, tentando individualizar as decisões em meio a uma doença tão complexa. Referências 1. 2. 3. 4. Taxa de resposta GemOx + Bevacizumabe 9,6 meses 20% GemOx + Cetuximabe 9,5 meses 20% Xelox + Bevacizumabe --- 11% Capecitabina + Bevacizumabe 10,7meses 16% Doxorubicina + Sorafenib 13,7meses 4% 5. 6. J emal A, Siegel R, Xu J, Ward E. Cancer statistics 2010. Ca Cancer J Clin 2010; 60:277-300. Umemura T, Ichijo T, Yoshizawa K, Tanaka E, Kiyosawa K. Epidemiology of hepatocellular carcinoma in Japan. J Gastroenterol 2009; 44:102-107. Llovet J, Ricci S, Mazzaferro V, Hildgard P, Gane E, Blanc J-F, et al. Sorafenib in advanced hepatocellular carcinoma. N Engl J Med 2008; 359:378-390. Nagahama H, Okada S, Okusaka T, Ishii H, Ikeda H, Nakasuka H. 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Os programas de rastreamento do CHC com o emprego da ultrassonografia são atualmente amplamente empregados em pacientes considerados de risco (cirróticos ou com hepatopatia crônica), resultando em aumento da detecção de tumores numa fase precoce em que o tratamento pode ser curativo. O tratamento do carcinoma hepatocelular em pacientes com cirrose é um grande desafio. O transplante de fígado (TF) é teoricamente a melhor opção para o tratamento do CHC pois pode propiciar a cura tanto do tumor quanto da doença hepática subjacente (cirrose); no entanto, este procedimento é restrito para um pequeno número de casos pela limitada disponibilidade de enxertos. Em um contexto de escassez de órgãos e as altas taxas de recidiva tumoral que ocorreram no passado quando não havia grande seleção de receptores, critérios restritivos foram adotados para alocação de órgãos para pacientes com CHC. As indicações são limitadas em muitos centros pelos critérios de Milão (1 nódulo de até 5 cm ou 3 nódulos de até 3 cm cada), nos quais a taxa de sobrevida livre de doença em 5 anos pode atingir 70%2. No entanto, a escassez de órgãos é tal que o tempo de espera tem aumentado significativamente a um ponto onde a progressão do tumor leva à perda da indicação na lista de espera (drop out). Esta última situação leva à redução da eficiência do TF para o CHC quando se analisa a intenção de tratar (ou seja, a análise a partir da data em que o paciente foi listado e não a partir da data do TF)3,4. A ressecção hepática (RH) foi o tratamento de escolha por muitos anos mas era limitada pelas altas taxas de morbimortalidade e de recidiva hepática devido à doença hepática subjacente5. No entanto, as limitações do TF, e especialmente a melhora dos resultados nos últimos anos, levaram a um novo interesse na RH para o tratamento do CHC6,7,8,9. Atualmente, a ressecção do CHC pode ser realizada em centros especializados, com mortalidade inferior a 5% e índices globais de sobrevida em 5 anos comparáveis aos do transplante para tumores iniciais8,10. A ressecção hepática para o tratamento do CHC tem como vantagem ser rapidamente aplicável pois, ao contrário do transplante, não há lista de espera. Além disto, não há restrições em relação ao tamanho do nódulo a ser ressecado11. A ressecção hepática é o tratamento de escolha nos pacientes com CHC em fígados sem cirrose (cerca de 10% dos casos), independentemente do tamanho do nódulo. Nos pacientes com cirrose hepática, apesar das controvérsias, está indicada apenas nos casos com função hepática preservada (Child A) com nódulo único e na ausência de hipertensão portal relevante (gradiente venoso hepático < 10 mmHg; ausência de varizes de esôfago; número de plaquetas > 100.000/mm3)11. Pacientes portadores de mais de um nódulo podem ser submetidos à ressecção, no entanto, apresentam inquestionavelmente um pior prognóstico. Existe controvérsia na literatura sobre as margens ideais de ressecção cirúrgica, com trabalhos demonstrando que ressecções regradas segmentares/setoriais de todo o segmento ou setor onde o tumor está localizado, incluindo-se o seu pedículo portal, apresentam resultados superiores às nodulectomias (com margens livres) e trabalhos que não demonstram esta superioridade12,13. A ressecção está indicada e pode ser segura mesmo para tumores de grandes dimensões (> 10 cm) contanto que a função hepática esteja preservada (Child A) e o volume do parênquima remanescente hepático > 40%14,15. Em relação às grandes ressecções hepáticas, pode-se empregar a embolização portal pré-operatória do lobo a ser ressecado nos casos de grandes ressecções hepáticas (> 60%) para promover a hipertrofia do fígado remanescente. Esta hipertrofia torna a ressecção mais segura e com menores taxas de morbimortalidade. Além disto, pode ser utilizada 1. Professor Associado do Departamento de Gastroenterologia FMUSP - Diretor do Serviço de Cirurgia do Fígado HCFMUSP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 69 C arcinoma como uma prova de avaliação da capacidade funcional do fígado, pois pode demonstrar indiretamente a capacidade regenerativa do parênquima hepático. A presença de invasão vascular macroscópica, especialmente portal, tem sido considerada como uma contraindicação tanto para a ressecção como para o TF. A invasão vascular é sabidamente um fator de mau prognóstico e está associado a altas taxas de recidiva tumoral. Nestes casos, a ressecção se mostra muito pouco benéfica (índices de sobrevida global < 10%), sendo considerada contraindicada por muitos serviços8,16,17. 70 Nos últimos anos, alguns autores têm preconizado a via laparoscópica para a ressecção de tumores de pequenas dimensões (< 5 cm) localizados em regiões periféricas do fígado18. Nestes casos selecionados, o sangramento intraoperatório e a morbidade pós-operatória, especialmente a ocorrência de ascite, são menores. Trata-se de procedimento sabidamente factível e que não fere os princípios oncológicos, mas ainda precisa ser validado19,20. No entanto, vale ressaltar que este pode ser um procedimento muito útil para a abordagem inicial de pacientes com CHC único, em pacientes com função hepática preservada, tanto do ponto de vista de tratamento curativo como de uma ponte para o TF nos casos em que a avaliação histológica demonstre fatores prognósticos que favorecem a recidiva (p. ex. microinvasão vascular)18. Nos pacientes selecionados para a ressecção, a sobrevida em 5 anos varia entre 35 e 50% mas pode chegar a 70% quando o tumor se encontra dentro dos critérios de Milão9,10,12. Apesar da maioria dos estudos reportar taxas de sobrevida tardia superiores para o transplante quando comparado à ressecção, quando se analisa a sobrevida tardia em pacientes com tumores dentro dos critérios de Milão submetidos à ressecção, esta é semelhante à sobrevida reportada para pacientes listados para o transplante hepático (intenção de tratar), especialmente quando se leva em conta os pacientes que faleceram ou cujos tumores cresceram durante o longo tempo de espera na lista3. No entanto, uma das principais complicações da ressecção é a elevada taxa de recidiva tumoral, que pode chegar a 50%. A recidiva pode estar relacionada à metástase do tumor ressecado ou ao surgimento de novos focos de CHC (de novo). Deve-se ressaltar que o parênquima hepático remanescente permanece doente, estando associado a um risco de recidiva com o aparecimento de novos focos de CHC, acarretando hepatocelular - R essecção cirúrgica em menor sobrevida livre de doença do que nos pacientes submetidos ao TF. No entanto, a RH preserva a possibilidade de realização de um TF de resgate ou do emprego de técnicas de ablação ou até novas ressecções em casos de recidiva21,22. Finalmente, a avaliação histológica do espécime cirúrgico da RH têm sido proposta como um guia para a seleção de candidatos ao TF, considerando-se nestes casos a RH como um procedimento de ponte para o TF. Em uma época de escassez de órgãos, estudos mostram que a RH apresenta vantagens sobre o TF em pacientes com CHC solitário e doença hepática compensada. Algumas vantagens da RH que podem ser citadas são: (A) é imediatamente disponível quando em centro especializado; (B) carrega um baixo risco em pacientes bem selecionados; (C) livra o paciente do tumor e permite uma precisa avaliação histológica; (D) propicia taxas de sobrevida global comparáveis às da intenção de transplantar; (E) oferece a possibilidade de TF de resgate em casos de recidiva, desde que os pacientes sejam monitorados de perto para diagnosticar precocemente as recorrências; e (F) pode propiciar uma diminuição de custos sobre a economia global do TF. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Davila JA, Morgan RO, Shaib Y, McGlynn KA, El-Serag HB. Hepatitis C infection and the increasing incidence of hepatocellular carcinoma: a population-based study. Gastroenterology 2004;127:1372–1380. Mazzaferro V, Regalia E, Doci R, et al. Liver transplantation for the treatment of small hepatocellular carcinomas in patients with cirrhosis. N Engl J Med. 1996;334:693–699. 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