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PRINCIPAIS IMPACTOS DO TRABALHO EM TURNOS: ESTUDO DE CASO
DE UMA SONDA DE PERFURAÇÃO MARÍTIMA
(*)
VALDO FERREIRA RODRIGUES
RESUMO
Este artigo inicialmente explora a literatura sobre os problemas de desempenho, produtividade, segurança, saúde
e distúrbios na vida familiar e social associados ao trabalho em turnos. Enfatiza-se o turno da noite, face à forte defasagem
entre o biorítmo natural humano e as demandas do trabalho noturno. Apresenta-se o regime de trabalho confinado em
plataformas marítimas de perfuração de poços de petróleo no Brasil. Finalmente, apresenta-se um breve estudo de caso de
uma plataforma marítima de perfuração de poços de petróleo, o qual constatou que o índice de acidentes no turno da noite,
embora baixo, é relativamente maior do que o diurno; não houve diferença significativa quanto a anormalidades operacionais
entre os turnos diurno e noturno; os trabalhadores optam ou submetem-se ao trabalho embarcado principalmente pelas
folgas adicionais em relação ao trabalho em escritório em terra; 60% dos trabalhadores consideram o turno da noite mais
penoso do que o turno do dia; 80% dormem menos quando trabalhando à noite; para 80% as dificuldades do trabalho em
turno têm aumentado com a idade e as entrevistas indicaram sintomas de sofrimento no trabalho.
DESCRITORES: Cronobiologia, sono, trabalho em turnos,
SUMMARY
MAIN SHIFTWORK IMPACTS : AN OFFSHORE DRILLING RIG CASE STUDY
This paper initially explores the literature on the performance, productivity, safety, health and social problems
related to shiftwork. The night shift is emphasized due to the contradictions between natural human biorhythms and the
night shift demands. The characteristics of the confined environment of an offshore drilling rig are presented. Finally, a
brief case study of a Brazilian offshore drilling rig is presented which main conclusions are: there are, relatively, more
personal accidents during night shifts; the occurrence of operational abnormalities is the same for both shifts, night and day;
the extra days off are the main reason for employees choosing shiftwork in the offshore drilling rig; 60% of the workers
perceive the night shift as more difficult than day shift; 80% sleep less when working at night; 80% perceive that it is
becoming more difficult to cope with shiftwork with age and the interviews revealed symptoms of suffering during work.
KEY WORDS: Chronobiology, shiftwork, sleep
1. INTRODUÇÃO
Durante milênios o Homos sapiens
desenvolveu-se no planeta Terra totalmente dependente
dos ciclos de luz solar diurna e de escuridão noturna.
Por volta de 7000 AC, o homem aprendeu a técnica
de acender e controlar o fogo, passando a se alimentar
com comidas quentes e a ter uma iluminação precária
à noite. Já na antiga Roma era intenso o trabalho
noturno de entregadores de mercadorias visando
minimizar o tráfego de pessoas pelas movimentadas
ruas da cidade durante o dia (Scherrer,1981 citado
por Monk e Folkard, 1992). A revolução industrial,
com a introdução das máquinas e a concentração de
pessoas em grandes centros urbanos, constituiu novo
passo marcante na extensão das atividades laborativas
para a noite. Em 1879, Thomas Edison inventou a
lâmpada incandescente e em 1882 foi instalada a
primeira usina elétrica, concretizando-se a maior
evolução singular da história do trabalho em turnos.
Durante a primeira guerra mundial houve grande êxodo
do campo para a cidade a fim de atender às operações
durante 24 horas por dia nas fábricas de munição. A
busca incessante de conforto material levou à criação
da sociedade 24 horas. O conforto e lucratividade
trazidos pelo progresso tecnológico da sociedade 24
horas têm contrapartidas negativas sobre os
trabalhadores. A vida natural, praticada por milênios,
desenvolveu nas pessoas ciclos biorítmicos naturais,
um dos quais é o ciclo cardiano. O trabalho em turnos,
como será visto, contraria este ciclo gerando algumas
conseqüências negativas. Tudo isto é muito agravado
nos regimes de confinamento.
Dentro da vastidão do tema qualidade de vida
no trabalho este texto focaliza o trabalho em turnos,
em ambiente confinado, em uma sonda de perfuração
marítima, face aos impactos adicionais deste regime
de trabalho em termos de desempenho, segurança,
saúde e vida familiar e social dos trabalhadores.
O trabalho em turnos é de estudo complexo
por lidar com variáveis de difícil mensuração, abranger
muitas variáveis que atuam fora do local de trabalho e
tratar de assuntos subjetivos e de caráter
multidisciplinar. O mesmo tem sido estudado através
(*) Engo Civil, Engo de Petróleo e Mestrando em Administração na UNIFENAS. C.P. 23 CEP 37130-000 Alfenas-MG
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
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V. F. RODRIGUES
2. REVISÃO DE LITERATURA
turnos de 12 h perfazendo 24 h por dia. Nas
plataformas marítimas de petróleo, face às longas
distância dos locais de trabalho aos centros urbanos,
trabalha-se geralmente 14 dias seguidos, 12 horas por
dia, e a seguir folga-se 14, 21 ou 28 dias, dependendo
do país (EUA, Brasil e Noruega, respectivamente);
d) Turno único pela tarde ou pela noite: garçons e
garçonetes, por exemplo, trabalham apenas no turno
vespertino. Alguns vigias trabalham apenas no turno
da noite ( overnight ou graveyard) (Rosa e Colligan,
1997); e) Turnos de fins de semana e feriados
(bridging shift): algumas empresas usam equipes
específicas para os fins de semana, aliviando as equipes
do revezamento normal do sacrifício familiar e social
do trabalho nos fins de semana. Uma escala praticada
na Europa e apreciada em particular pelas mulheres
mães e trabalhadoras é a de 12 h no sábado, 12 h no
domingo e 8 h em outro dia da semana perfazendo 30
h semanais (Wedderburn, 1998);
f) Turnos
intermediários (split shift): usados em indústrias com
picos de trabalho diários como catering e transporte
de passageiros; g) Turnos de sobreaviso (on call shift):
os trabalhadores permanecem à disposição da empresa
aguardando solicitações eventuais; h) Outros: para
atender a tendência nos EUA e Europa de menor carga
horária de trabalho e maior flexibilidade dos turnos
há uma variedade de turnos diferenciados, com
freqüência cumpridos por trabalhadores autônomos ou
de tempo parcial.
2.1. DEFINIÇÃO DE TRABALHO EM TURNOS
E TIPOS DE TURNOS
2.2. RAZÕES PARA A EXISTÊNCIA DE
TRABALHO EM TURNOS
Definição de trabalho em turnos (shiftwork):
há uma grande variedade de definições de trabalho em
turno. Considera-se neste artigo como horário normal
de trabalho o que ocorre á luz do dia, geralmente
iniciando de 06 às 08 horas da manhã e terminando de
16 às 18 h, com tempo de trabalho diário de 8 horas,
de segunda feira a sexta feira . Assim, todo trabalho
contínuo fora deste período é considerado como
trabalho em turno.
Os turnos caracterizam-se pelo número e
duração diária de cada jornada, pela velocidade de
rotação (número de dias seguidos em cada turno) e
pela direção da rotação. Na rotação para a frente os
trabalhadores mudam da manhã para a tarde e daí para
a noite. Na rotação para trás sucede o oposto. Os turnos
podem ser constituídos por trabalhadores de tempo
integral ou por empregados contratados por tempo
parcial.
Existe uma grande variedade de turnos no
mundo, como: a) sistema tradicional de três turnos de
8 horas cada por dia; b) Dois turnos perfazendo 16 h
quando não se trabalha no turno da noite; c) Dois
A moderna tecnologia viabilizou a realização
de muitas atividades produtivas durante todo o dia,
criando assim a chamada sociedade 24 horas (Rosa e
Colligan, 1997). Tal sociedade demanda, durante todo
o dia, serviços críticos como segurança pública policia e bombeiros- saúde, transporte, comunicação,
eletricidade, água canalizada, combustíveis,
comunicação, etc. Muitas indústrias por razões de
custos ou por características de processos devem
operar em jornadas estendidas ou 24 horas por dia
para sobreviverem . As redes de trabalho e a técnica
de produção just in time são novidades que forçam o
prolongamento das jornadas em manufaturas como
auto-peças e serviços como transporte. Para garantir
o estoque zero da empresa líder o fornecedor cria turnos
extras e coloca caminhões nas rodovias a qualquer
hora do dia e da noite. Os serviços e indústrias que
são “obrigados” a trabalhar em turnos forçam a
expansão de horário de outras atividades como
fornecimento de alimentação, postos de gasolina, etc.
A mera conveniência de uma população cada vez mais
distante da vida natural sustenta turnos em lojas de
de estudos de campo, pesquisas de opinião e sentimento
(survey) e experimentos em laboratório.
Os estudos de campo, que fornecem resultados
de grande importância por obter medidas em situações
muito próximas às da realidade do trabalho em turnos,
são raros, caros e de realização politicamente difícil.
Alguns exemplos são os trabalhos de Akerstedt (1988
– Suécia), Knauth e Rutenfranz (1976 – Alemanha
Ocidental), Tilley et al (1982 – Reino Unido) e
Reinberg et al (1984 – França), citado Monk e Folkard
(1992). Tais estudos tiveram como objeto a medição
de variáveis do ciclo cardiano, sono, desempenho e
humor. As pesquisas do tipo survey, que geralmente
fazem uso de questionários, entrevistas, dados de
saúde, absenteísmo e produção, são de obtenção menos
difícil e geralmente aplicadas antes e após uma
intervenção. Um exemplo é o trabalho de Czeisler et
al em uma mina de potássio, em 1982, antes e após
algumas mudanças introduzidas na escala de trabalho
(Monk e Folkard, 1992). Os estudos em laboratórios
isolados do ambiente externo ou em cavernas
aparelhadas para os registros necessários, apresentam
a vantagem de obtenção de registros claros e completos
de sono, ciclo cardiano, desempenho e humor. Como
desvantagem ignoram os fatores familiares e sociais
(Monk e Folkard, 1992).
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
PRINCIPAIS IMPACTOS DO TRABALHO EM TURNOS: ESTUDO DE CASO DE UMA... 201
conveniências, shopping centers, restaurantes, postos
de gasolina, chaveiros, etc. Já os trabalhadores,
geralmente optam ou submetem-se ao trabalho em
turnos por razões financeiras e razões pessoais como
disponibilidade durante o dia para cuidar dos filhos,
estudar ou dedicar-se a esportes ou “hobbies” à luz
do dia
2.3. BIORÍTMOS NATURAIS X TRABALHO
EM TURNOS
Durante milhares de anos a vida natural
desenvolveu nas pessoas processos fisiológicos e
psicológicos que seguem um relógio biológico, ou
ciclos biorítmicos. Por ter período de um dia, o ciclo
cardiano é o mais importante destes ciclos para os
trabalhadores em turno. Cientistas descobriram que
em sintonia com este relógio biológico o cérebro envia
sinais para vários centros de controle do organismo
humano, afetando a temperatura corporal, a liberação
de hormônios, as habilidades cognitivas e a
predisposição para dormir ou se manter em vigília.
O ciclo cardiano apresenta três características
principais: é endógeno, resiste a mudanças bruscas e
pode se adaptar lentamente. Pesquisas conduzidas em
cavernas e em laboratórios isolados do ambiente
externo, onde as pessoas em observação não tinham
noção do tempo, demonstraram que o ciclo cardiano
da temperatura corporal não se alterou, não importando
a hora em que as pessoas dormiam ou se mantinham
em vigília (Monk e Folkard, 1992). Por outro lado,
como o ciclo cardiano, endógeno, é de
aproximadamente 25 horas e a duração do dia é 24
horas, ocorre um ajuste diário pelas variáveis exógenas
do meio ambiente, das quais a luz é a mais importante.
A possibilidade de adaptação lenta foi demonstrada
em experiências, como as de Rutenfranz, onde apenas
após 14 dias de mudança de turno do dia para a noite
houve adaptação quase total à nova rotina (Monk e
Folkard, 1992). Cumpre ressaltar, que quando uma
pessoa é submetida a uma nova rotina de atividades e
descanso, muitas das funções afetadas como
batimentos cardíacos, pressão arterial, nível de
excreção de noradrenalina (hormônio de alerta) e outras
sofrem um ajuste relativamente fácil, enquanto outras
funções como a temperatura corporal e as excreções
de cortisol e melatomina sofrem um ajuste lento e
difícil. Este fenômeno é conhecido como
dessincronização interna, sendo, ao lado da privação
de sono, um dos grandes males do trabalho em turno.
2.4. AS CONSEQÜÊNCIAS NEGATIVAS DO
TRABALHO EM TURNO:
As três fontes principais de dificuldades
advindas do trabalho em turnos são: 1) a adaptação
dos rítmos biológicos às inversões dos períodos de
atividade e repouso, 2) as perturbações do sono, 3) os
fatores domésticos e sociais (Monk, 1988, citado por
Fisher, 1990) .Vários autores, a partir da análise de
dados empíricos, propuseram modelos teóricos que
explicam as interações entre as variáveis dependentes
e independentes que atuam nos processos de trabalho
em turnos e que podem resultar em doenças. Dentre
estes modelos reproduzimos aqui o de Knutsson,
Figura 1 ( Knutsson,1989, citado por Fisher, 1990):
TRABALH O EM TU RNOS
D es a ju ste d o s
R itim o s B io ló g ic o s
P e rtu b açõ e s d o
C ic lo S o n o -V ig ília
A u m en to n a
S u s c etib ilid ad e
M o d ific aç õ e s d o
C o m p o rta m en to
E x : D ieta, F u m o
D es sin cro n iza çã o
In tern a
DOENÇAS
Figura 1. Modelo de KNUTSSON
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
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V. F. RODRIGUES
Análise Sucinta das Principais Conseqüências
Negativas do Trabalho em Turnos:
a) Acidentes pessoais e industriais: acidentes de
grandes proporções como Three Mile Island
(trabalhadores cansados no meio do turno da noite
teriam permitindo a ocorrência do acidente nesta usina
nuclear) e maior taxa de acidentes no turno da noite
são indicadores de conseqüências negativas do trabalho
em turnos (De Vries Gneiver et al., 1978, citado por
Monk e Folkard, 1992). b) Desempenho e
produtividade: mesmo a realização de tarefas
rotineiras é mais difícil à noite, pois o tempo de reação
diminui e a capacidade de julgamento é reduzida. O
turno da noite é o crítico, tendo vários trabalhos
demonstrado seus piores índices: menor velocidade na
resposta a painéis de controle maior freqüência de erro
de leitura de medidas, maior freqüência de cochilos
ao dirigir, menor velocidade ao enroscar peças, maior
freqüência de não percepção de sinais de avisos por
maquinistas de trem, maior freqüência de pequenos
acidentes hospitalares (Folkard et al., 1978).
c) Custos: maiores absenteísmo e rotatividade e
processos judiciais movidos por trabalhadores em
turnos ou decorrentes de falhas destes são fontes de
grande dispêndio para as empresas (vide o caso da
Exxon com o acidente do Navio Exxon Valdez e o da
Union Carbide com uma subsidiária sua no caso de
Bhopal). d) Distúrbios psicossomáticos: os
trabalhadores em turnos apresentam maior incidência
de sintomas psicossomáticos, que tendem a se
intensificar com a idade (Koller, 1970 citado por
Fisher, 1990) e maior consumo de medicamentos como
aspirinas e anti-ácidos (Gersten e Tepas, 1987, citado
por Fisher, 1990), e) Obesidade: Dieta inadequada má alimentação, ingestão excessiva de cafeína e de
massas e gordura - e ansiedade acabam contribuindo
para a obesidade; f) Riscos à saúde. Coração: uma
pesquisa realizada com trabalhadores de uma fábrica
de papel na Suécia revelou o dobro de incidência de
doenças do coração para os trabalhadores em turnos,
em relação aos trabalhadores diurnos (Knutsson et al.,
1986, citado por Monk e Folkard, 1992). Outros
estudos reforçam a preocupação com o trabalho em
turnos para pessoas com propensão a doenças
cardíacas (Monk e Folkard, 1992). Mente: embora
não tenha sido provado com clareza que disfunções
no ciclo cardiano possam levar a doenças mentais, os
trabalhos com passageiros imediatamente após viagens
aéreas indicam que pessoas mais vulneráveis ao
trabalho em turnos podem sofrer conseqüências
mentais. Dois trabalhos afirmam não haver dúvida de
que o trabalho em turnos aumenta os sintomas
neuróticos e decresce o bem estar geral (Meers et al,
1978 e Bohle e Tilley, 1989, citado por Monk e
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
Folkard, 1992). Aparelho gastro-intestinal: não há
dúvida de que o trabalho em turnos acarreta problemas
de apetite, redução ou excesso, constipação, diarréia,
indigestão e em casos extremos úlcera péptica. (Monk
e Folkard, 1992). Slogan: O trabalho em turnos é
provavelmente ruim para o coração, quase certamente
ruim para a cabeça e definitivamente ruim para o
estômago e intestinos (Monk e Folkard, 1992).
g) Longevidade: a questão fundamental se os
desconfortos do trabalho em turnos têm impactos
apenas temporários ou se afetam a saúde a longo prazo
e a longevidade permanece pendente . h) Abuso de
drogas: há indicações de aumento do consumo de
álcool e tranqüilizantes (Gordon et al., 1986, citado
por Monk e Folkard, 1992). i) Problemas de sono:
distúrbios no sono, irritabilidade e mau humor ocorrem
com maior freqüência em trabalhadores em turnos.
j) Vida Familiar: o marido que trabalha em turnos
tem maior potencial de comprometer seus papéis de
companheiro social e parceiro sexual junto a mulher,
de mentor na educação dos filhos e de provedor familiar
no cuidado de tarefas como manutenção da casa e do
carro. Problemas semelhantes ocorrem com a mulher
que trabalha em turnos. k) Vida Social e Lazer: boa
parte do tempo de folga dos trabalhadores em turno é
pouco útil, sendo bastante valorizados os dias de folga
que correspondem a fins de semana e feriados. Há
indicações de maiores índices de problemas familiares,
incluindo divórcio, uso de álcool e outras drogas e
suicídios entre os trabalhadores de turnos, o que estaria
associado às dificuldades familiares e sociais.
2.5. AS VANTAGENS DO TRABALHO EM
TURNOS
No trabalho em turnos nem tudo são espinhos.
Dentre as vantagens podem ser citadas os adicionais
salariais, a possibilidade de se obter agenda mais
favorável para cuidar da família ou de projetos pessoais
como estudar, o trabalho com menor supervisão, o
uso de trajes mais confortáveis e menos formais, a
possibilidade de freqüentar estabelecimentos
comerciais, esportivos, artísticos, etc, em horários de
menor movimento e o espírito de grupo que desenvolvese em certos casos. Muitos trabalhadores preferem o
turno da noite pela maior liberdade em termos de
atitudes e rítmo de trabalho, sendo que alguns tornamse mais produtivos e criativos neste turno.
2.6. ESTUDO DO SONO
A privação do sono é apontada como o
impacto direto mais negativo do trabalho em turnos
que inclui o turno da noite, pois 60% a 70% dos
trabalhadores em turnos reclamam de distúrbios no
PRINCIPAIS IMPACTOS DO TRABALHO EM TURNOS: ESTUDO DE CASO DE UMA... 203
sono (Rutenfranz et al., 1982). A duração insuficiente
ou qualidade pobre do sono compromete a capacidade
física e cognitiva e a motivação do trabalhador,
podendo decorrer daí riscos à segurança e ao meio
ambiente e redução de produtividade e de qualidade
dos produtos e serviços no ambiente de trabalho e
degradação das relações nos ambientes familiar e
social.
Definição de Sono. Cientificamente, o sono
tem sido definido através de parâmetros fisiológicos
que se correlacionam com este, os quais permitem
inclusive identificar tipos e estágios diferentes de sono.
Três registros têm sido usados para definir o sono: o
eletroencefalograma (EEG), o eletrooculograma
(EOG) e o eletromiograma (EMG). O
eletroencefalograma registra diferenças de potencial
elétrico (diferenças de voltagem) entre eletrodos
colocados no couro cabeludo, as quais são originadas
de emissões elétricas, possivelmente emanadas das
membranas das células nervosas (Sleep Syllabus, Part
A, 1998). O eletrooculograma registra o movimento
dos olhos. Uma vez que o globo ocular funciona como
uma bateria, onde a retina é negativa em relação à
córnea, o movimento do olho pode ser detectado através
de eletrodo colocado na pele próximo a este. O
eletromiograma registra a atividade elétrica associada
à atividade muscular, a partir de eletrodos colocados
na pele em torno dos músculos. Nos seres humanos os
eletrodos são colocados abaixo do queixo, pois
ocorrem grandes variações de atividade muscular nesta
área ao longo do sono. A análise do registro simultâneo
de EEG, EOG e EMG permitiu distinguir dois tipos
de sono: o sono típo REM (Rapid Eye Movement) e o
sono tipo NREM (Non Rapid Eye Movement). O sono
tipo NREM por sua vez é subdividido em 4 estágios
em função das amplitudes e freqüências das ondas
registradas no EEG. A descoberta do sono tipo REM,
no qual ocorre rápidos movimentos dos olhos, alta
atividade em algumas áreas do cérebro e paralisação
dos músculos, provocou uma revolução no estudo do
sono, a ponto de ocorrer a divisão do sono em dois
tipos: o REM e o Não REM. A descoberta do sono
tipo REM derrubou o conceito intuitivo de que o sono
seria um estado de desligamento do cérebro para
descanso. O sono é um processo deflagrado e mantido
por mecanismos complexos. Falhas neste mecanismo
constituem distúrbios ou doenças do sono.
Sono Normal: o sono de um adulto jovem
saudável inicia-se no 1o estágio do tipo NREM, passa
pêlos estágios 2, 3 e 4 e retorna aos estágios 3 e 2, em
um tempo de aproximadamente 80 minutos, daí passa
ao tipo REM por 10 minutos, totalizando um ciclo de
90 minutos. A seguir este ciclo repete-se com pequena
diminuição do tempo NREM e pequeno aumento do
REM (Sleep Syllabus, Part C,1998). Observa-se que
nos primeiros ciclos os estágios 3 e 4 são dominantes
no sono NREM, tornando-se quase ausentes nos ciclos
finais. Cumpre ressaltar, que estes estágios,
caracterizados no EEG por ondas deltas de alta
amplitude (> 75 mV) são os estágios mais resistentes
aos estímulos desruptivos externos, ou seja são os
estágios de sono mais profundo.
Funções do Sono. Sabe-se que o sono é tão
vital para os seres humanos que diante de sua privação,
ao atingir certos limites as pessoas não conseguem
mais se manter acordadas, ainda que dormir signifique
a morte. As seguintes hipóteses têm sido aventadas
como função do sono: restauração e recuperação do
corpo e mente; conservação de energia; cobrevivência
na relação presa-predador; consolidação da memória;
crescimento
cerebral;
programação
de
comportamentos inatos; descarga de emoções; etc
(Sleep Syllabus, 1998). Porém, nenhuma destas
hipóteses se confirmou nas pesquisas, sendo a
descoberta das funções do sono um dos grandes
objetivos das pesquisas atuais.
Variáveis que afetam o Sono. O sono é
afetado pelas escalas irregulares do trabalho em turnos,
por viagens meridionais onde os fusos horários são
bastante diferentes, por disfunções do organismo e por
fatores familiares e sociais. A idade é a variável
independente que mais afeta o sono. Assim, ao longo
dos anos o tempo diário de sono reduz-se de 16 a 18
h/d para os recém nascidos para 6 a 7 h/d para os
idosos. O tempo de sono tipo REM que atinge 50% do
tempo de sono nos recém nascidos, cai para 20 a 25%
nos adultos e idosos. Como nos néo-natais o percentual
de sono REM é superior a 50%, especula-se que este
teria especial importância na maturação do córtex
cerebral e do sistema oculomotor e que assistiria à
programação dos circuitos neurológicos (Sleep
Syllabus, Part C, 1998). No início da vida o sono é
polifásico, vários episódios de sono por dia, tornandose monofásico nos adultos e voltando a ser polifásico
na velhice. Os estágios 3 e 4 do NREM passam a
ocorrer cada vez menos com a idade, o que explica a
facilidade com que o sono dos idosos é interrompido
por estímulos externos (sons, toques, etc). Acima dos
75 anos o estágio 4 pode não mais existir, sendo o
sentido funcional deste desaparecimento atribuído a
uma perda de plasticidade dos neurônios (Sleep
Syllabus, 1998). Assim, o declínio dos estágios 3 e 4
do sono NREM seria um dos principais indicadores
de envelhecimento do sistema nervoso central. Cumpre
ressaltar que uma série de disfunções que acometem
as pessoas idosas, como artrite, osteoporose e outras,
também provocam distúrbios no sono dos idosos.
Desordens do Sono. Pesadelos ou
sonambulismo atingem de 3% a 5% das crianças em
idade escolar, decrescendo na adolescência;
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
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V. F. RODRIGUES
Narcolepsia, sonolência irresistível durante o dia,
atinge um em cada 10000 indivíduos; Insônia é o
distúrbio do sono mais comum, atingindo em torno de
25% dos adultos com 30 anos de idade e mais de 50%
com 70 anos de idade; Apnéa, distúrbio respiratório
durante o sono, atinge de 20 a 30% das pessoas com
mais de 65 anos. A apnéa ocorre com mais freqüência
nos extremos da vida, sendo uma das prováveis causas
da Síndrome de Morte Súbita em crianças e de morte
“natural” em muitos idosos (Sleep Syllabus, 1998).
Várias outras doenças do sono foram descobertas nos
últimos anos sendo a especialidade da medicina do
sono uma clínica florescente nos países desenvolvidos.
gerenciado pela SS, que pratica revezamento de turno,
composto por uma média de 40 pessoas em cada
embarque. Assim, não participaram dos questionários
nem das entrevistas as áreas terceirizadas de hotelaria
e radiotelefonia (18 pessoas) e a equipe de engenharia
de poço, que varia de 10 a 30 pessoas, dependendo
dos serviços em andamento e trabalha em regime de
sobreaviso. Consideramos da maior importância
ampliar a pesquisa, em futuro próximo, incluindo as
equipes de serviços terceirizados e conduzir uma
pesquisa específica para a equipe de engenharia de
poço, cujo regime de trabalho, que alterna períodos de
ociosidade com períodos de intensas e estressantes
atividades, merece especial atenção.
3. MATERIAL E MÉTODOS
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste trabalho apresenta-se uma breve
pesquisa do tipo survey, de cunho exploratório, na qual
foram usados questionário e entrevistas com os
trabalhadores - operários, supervisores e gerentes- e
analisados relatórios de anormalidades operacionais e
de acidentes pessoais. O questionário, após caracterizar
os pesquisados (idade, tempo de empresa, tempo de
trabalho em turnos), apresentou questões visando
identificar as razões pelas quais os empregados optam
por este regime de revezamento de turnos em ambiente
confinado, a percepção dos trabalhadores em termos
de sono, cansaço e prontidão (alerta) nos turnos diurno
e noturno e a percepção dos trabalhadores quanto à
adaptação ou aumento da dificuldade do trabalho em
turnos ao longo dos anos. As entrevistas abertas
abriram espaço para que os trabalhadores se
manifestassem em termos de prazer e sofrimento no
trabalho. Os questionários foram respondidos por 24
trabalhadores, dos quais 12 participaram das
entrevistas, em três grupos de quatro.
O objeto desta pesquisa é uma Sonda
Semisubmersível (SS) de Perfuração de Poços de
Petróleo. Trata-se de uma SS que desloca-se de uma
locação para outra com auxílio de rebocadores e
mantém-se ancorada em cada locação através de 08
âncoras, em lâmina de água de até 700 m. A equipe
da SS é constituída pela gerência em terra, composta
por um gerente, dois engenheiros, três supridores e
um auxiliar administrativo e pela equipe embarcada,
composta de cinco turmas – duas trabalhando e três
folgando. A população embarcada, média de 110
pessoas, é distribuída pelas áreas administrativa,
almoxarifado, caldeiraria, elétrica, enfermaria,
serviços gerais, hotelaria, lastro, mecânica, perfuração,
radiotelefonia e segurança, lotados na SS, e por uma
equipe de engenharia de poço, que executa operações
especiais nos poços e representa os clientes, a bordo.
Este estudo de caso focaliza o pessoal diretamente
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
Trata-se de um regime de confinamento
peculiar, com limitações e constrangimentos bem mais
intensos do que os existentes em outros regimes de
confinamento, onde existe a possibilidade do
trabalhador deixar o sítio de trabalho e deslocar-se
com seus recursos próprios (Choueri, 1991). Nas
sondas de perfuração marítima, sem sequer a
possibilidade de se avistar a costa, os trabalhadores
estão confinados a um espaço exíguo (um prisma com
base retangular de aproximadamente 70 m x 90 m),
isolado por todos os lados pelo mar. Dentro deste
prisma há muitas limitações à movimentação,
constituídas por áreas de riscos onde só os
trabalhadores daquela área devem circular. Nas horas
de descanso a limitação torna-se mais presente, pois o
trabalhador deve permanecer no casario ou caminhar
pelo heliponto, quando as condições atmosféricas e a
movimentação de aeronaves permitem. Outro aspecto
relevante é a proximidade entre os locais de trabalho
(plataforma de perfuração, oficinas, convés, etc) e o
casario (camarotes, salas de TV, refeitório, etc). Isto
dificulta o desligamento dos trabalhadores, quando em
seus momentos de alimentação, repouso ou lazer, de
suas atividades de trabalho. Ruídos, movimentos,
vibrações, movimentações de barcos ou helicópteros,
treinamentos de combate a incêndio e de abandono de
plataforma, chamadas no sistema de alto-falantes,
conversas em voz alta nos corredores e outras
perturbações lembram aos trabalhadores, todo o
tempo, que os mesmos estão ali para trabalhar e
trabalhar. A grande distância entre a residência e o
local de trabalho – a maior parte dos trabalhadores
mora em outros estados – é uma variável que amplia
os impactos do afastamento da família e amigos. Se,
por um lado minimiza as solicitações de familiares e
amigos no período de descanso, por outro lado cria a
tensão advinda da impotência de auxiliar na resolução
PRINCIPAIS IMPACTOS DO TRABALHO EM TURNOS: ESTUDO DE CASO DE UMA... 205
das dificuldades cotidianas. Durante o período em
que o trabalhador está embarcado é sua companheira,
na maioria das vezes, que administra os assuntos
financeiros. Esta é uma fonte de conflitos que gera
preocupação para muitos. A não participação do pai
em eventos de grande efeito simbólico como festas de
aniversário, de formatura, de casamento e similares,
reveillon, natal, etc, constitui fonte de frustração para
os trabalhadores e seus entes queridos. Um aspecto
psicológico interessante é o fato de que, por medida
de segurança, o trabalhador deve estar sempre em um
local conhecido, o que associado à exiguidade de
espaço o impede de ter períodos de isolamento
(Choueri, 1991).
A compulsoriedade de
relacionamentos é mais um aspecto de forte
diferenciação em relação ao trabalho normal. O
trabalhador em seus momentos de folga dificilmente
pode escolher um grupo com maiores afinidades para
se relacionar, sob pena de isolar-se (Choueri, 1991).
O contingente de pessoas nas SS é constituído por uma
grande maioria (95% a 100%) do sexo masculino.
Portanto, são escassos os contatos diretos com
mulheres, daí decorrendo várias carências, sendo uma
dessas a sexual. Ora, uma vida sexual satisfatória é
considerada essencial para uma vida equilibrada e feliz
do ser humano. A abstinência forçada, aliada a uma
grande expectativa compensatória para o período de
folga, representa um grande desbalanceio, cujas
conseqüências merecem estudo. O vício de assistir
filmes pornográficos na sala de vídeo parece ser um
sintoma preocupante de carência sexual. A
preocupação dos trabalhadores com a fidelidade sexual
de suas companheiras manifesta-se, simbolicamente,
nas constantes brincadeiras sobre o tema e aparenta
constituir fonte de sofrimento dissimulado.
5.CONCLUSÕES
Nas conclusões não se apresenta valores de
médias e desvios padrões, mas apenas a comparação
dos mesmos entre os turnos do dia e da noite, a fim de
melhor preservar a confidencialidade dos dados.
O cálculo da média e desvio padrão das
anormalidades operacionais de 1995 a 1998
demonstrou não haver maior incidência de
anormalidades no turno da noite. Este item carece de
maior aprofundamento uma vez que uma anormalidade
ocorrida durante o dia pode ter tido sua origem em um
descuido cometido à noite e vice-versa.
O cálculo da média e desvio padrão de
acidentes pessoais de 1995 a 1998, tanto com
afastamento como sem afastamento do trabalhado,
revelou menor número de acidentes no turno da noite.
Porém, ao calcular as taxas de acidentes considerando
o menor número de trabalhadores expostos, verificou-
se que a taxa de acidentes no turno da noite é o dobro
da taxa no turno diurno. Este resultado está de acordo
com o apontado pelo referencial teórico.
A análise do questionário revelou:
a) As razões pelas quais os trabalhadores optam ou
submetem-se ao revezamento de turnos confinados
em alto mar por 14 dias apresentou média de 4,2
(escala de 0 a 5) para as folgas adquiridas; 3,4 para
razões econômicas e 2,4 por sentir-se melhor,
psicologicamente, neste tipo de regime. Logo, as folgas
adquiridas no chamado regime 14 x 21 e os adicionais
salariais são a moeda de troca que leva os trabalhadores
a optar pelo trabalho em turno neste caso.
b) Para 60% dos trabalhadores pesquisados o turno
da noite é mais penoso, sendo indiferente para os
demais 40%. Este resultado é idêntico ao da pesquisa
de Choueri realizada em 1990 (Choueri, 1991). Os
mesmos 60% declararam apresentar menor disposição
física e menor capacidade de concentração à noite. Os
demais 40% distribuíram-se em 30% que disseram ter
a mesma disposição em ambos os turnos e 10% que
disseram ter maior disposição no turno da noite. Estes
resultados são muito próximos aos da pesquisa de
Choueri (Choueri, 1991).
c) Apenas 20% declararam dormir normalmente pelo
dia, quando trabalhando à noite, enquanto 80%
declararam dormir menos do que o normal, não
havendo indiferentes. Neste item o percentual dos que
apresentam dificuldade de dormir pelo dia (80%) foi
bem maior do que o obtido na pesquisa de Choueri, o
qual foi de 50%. Embora seja prematuro concluir que
o aumento na dificuldade de dormir possa ter sido
causado pelo avanço na idade e experiência, este é um
dos pontos de grande interesse para aprofundamento.
d) Como 80% dormem menos pelo dia e apenas 60%
consideraram o turno da noite mais penoso, outro ponto
de aprofundamento seria a verificação de prováveis
medidas usadas pelos 20% que apesar de dormir menos
se adaptaram bem ao trabalho noturno.
e) Como 80% declararam dormir menos durante o
dia, quando trabalhando pela noite, pode-se concluir
que a adoção de medidas para melhoria do sono diurno
pode trazer grandes melhorias para os trabalhadores.
f) Para 80% dos trabalhadores o trabalho em turnos
tem se tornado mais penoso com o passar do tempo,
sendo que 20% declararam ter se adaptado melhor ao
revezamento com o tempo. É interessante observar que
não há um só caso de indiferença neste item. Este
item é de especial interesse para aprofundamento
visando identificar e implementar ações que minimizem
as dificuldades no turno da noite deste grande número
de trabalhadores experientes e de grande importância
para a empresa.
Nas entrevistas as questões relativas à comparação
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
206
V. F. RODRIGUES
entre os turnos diurno e noturno foram ofuscadas pela
preocupação dos trabalhadores com: a) uma possível
perda de folga com a extinção da quinta turma; b) a
perda de liberdade e iniciativa decorrente do aumento
da padronização de procedimentos.
No que se refere ao aumento da padronização,
fruto da introdução de normas internacionais e das
facilidades da tecnologia de informação, acreditamos
que esta caracteriza o confronto entre a tese da rotina
(os princípios físicos e químicos e os processos estão
perfeitamente sob controle) adotada pela administração
em terra e a organização real do trabalho, onde são
necessárias alterações dos procedimentos, ferramentas
e equipamentos para viabilização da propalada
tecnologia dominada (Dejours, 1994). Alguns
sintomas de sofrimento no trabalho e de defesas contra
o sofrimento são visíveis. Percebe-se uma forte
tendência ao individualismo, à descrença e ao
fatalismo, o que inviabiliza a transformação dos
sofrimentos individuais em uma demanda social
(Dejours, 1994).
5.1. SUGESTÕES RELATIVAS AO ESTUDO DE
CASO:
a) Como a taxa de acidentes pessoais, embora baixa
quando comparada com padrões internacionais, é
maior no turno da noite, recomendamos um
aperfeiçoamento no programa de prevenção de
acidentes para o turno da noite.
b) Como 80% dos pesquisados consideraram que o
trabalho em turnos tem se tornado mais penoso com o
passar dos anos é oportuno implementar um Programa
de Conscientização do Trabalho em Turnos, que
abranja educação, saúde e estratégias dentro e fora do
trabalho para melhor adaptação ao trabalho em turnos.
Tal programa deve contemplar a especialização de
médicos, psicólogos e assistentes sociais em trabalho
em turnos.
c) Sugerimos aos gerentes e à área de RH, com base
nas evidências do aumento das dificuldades do
revezamento de turnos com a idade e na valorização
do capital intelectual praticada pelas empresas
concorrentes da indústria de petróleo, que seja afastada
a ameaça interna de redução de folgas dos
trabalhadores embarcados.
d) Face aos sinais de sofrimento no trabalho e da
tendência ao individualismo, descrença e fatalismo,
sugerimos aos trabalhadores, gerentes e sindicato
recorrer à psicopatologia do trabalho (Dejours, 1994),
cujo referencial teórico permitiria uma tomada de
consciência das dificuldades contemporâneas porque
passam estes agentes do trabalho, e cuja metodologia
aplicada por especialistas capazes permitiria aos
próprios agentes diagnosticar as causas do sofrimento
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
e adotar medidas para erradicá-las.
Como temas de pesquisa sugere-se
a) Aprofundar a pesquisa incluindo as equipes
terceirizadas, as equipes de engenharia de poço e os
gerentes de terra.
b) Levantar o número de empregados que desistiram
do trabalho em turnos optando pelo trabalho em regime
administrativo e as causas desta desistência.
c) Levantar o número e tipo de queixas apresentadas
nos exames médicos periódicos anuais e o número de
afastamentos por motivo de doenças de trabalhadores
em turnos e em regime administrativo.
d) Efetuar levantamento de indicadores familiares e
sócio-econômicos como incidência de separação de
casais, dificuldades escolares dos filhos, qualidade de
moradia, dificuldades financeiras e outros, entre
trabalhadores em turnos e trabalhadores em regime
administrativo.
e) Obter a visão de aposentados e empregados que
trabalharam em turnos por pelo menos cinco anos e
que não mais trabalham neste regime, sobre os
impactos do trabalho em turnos em produtividade,
segurança, e particularmente sobre a saúde e os
distúrbios familiares e sociais.
f) Efetuar pesquisa que estime os benefícios do
aumento do contingente feminino a bordo das
plataformas de perfuração marítima;
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
CHOUERI, N. Jr. Equipes de Perfuração Marítima –
Uma Análise das Relações Sociais, das Condições
de Trabalho e de Produtividade, Campinas, 1991
(Dissertação de Mestrado, UNICAMP).142 p.
DEJOURS, C. et al, Psicodinâmica do Trabalho Contribuições da Escola Dejouriana à Análise
da Relação Prazer, Sofrimento e Trabalho.
São Paulo: Ed Atlas, 1994. 386 p.
FISCHER, M.F. Condições de Trabalho e de Vida em
Trabalhadores de Setor Petroquímico, São Paulo,
1990 (Tese de Livre Docência USP - Faculdade
de Saúde Pública) 1990. 342 p.
FOLKARD et al., A Cronobiologia e o trabalho em
Turnos: artigos recentes e tendências, 1985, São
Paulo. Atlas, 1985.
LARSON, M. Quality on the Night Shift, Quality
Magazine’s Home Page, June 1998.
PRINCIPAIS IMPACTOS DO TRABALHO EM TURNOS: ESTUDO DE CASO DE UMA... 207
ROSA, R.R e COLLIGAN, M.J. Plain Language
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1997.
RUTENFRANZ, J, Medidas de higiene do trabalho
para os trabalhadores em turnos e Trabalhadores
dos turnos noturnos, J.Human Ergon, 11, n.67
1982 - Tradução Carmen Penido Monteiro.
SLEEP SYLLABUS, 1998, http://bisleep.med.ucla.
edu/sleepsyllabus.
R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:199-207, 1998
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