painel
deresultados
resulados
painel de
Por Maria Clara de Maio, colaborou Edson Martinho
Fotos: Rubens Campo
ANÁLISE DE UMA INSTALAÇÃO
ELÉTRICA RESIDENCIAL
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Uma instalação elétrica mal dimensionada, mal projetada e malfeita, que utiliza produtos de
baixa qualidade, pode causar mais danos do que se pode imaginar. Mas como a energia elétrica – indispensável
à vida moderna – é conduzida sempre de maneira invisível, poucos conhecem os perigos de uma sobrecarga,
dos curtos-circuitos, de choques elétricos mais violentos e do risco à integridade da vida e do patrimônio. E
somente se preocupam com o que acontece dentro das paredes quando o que poderia ser evitado já aconteceu.
Há que se compreender a posição leiga da maioria dos usuários, principalmente os residenciais, mas é imperativo
mostrar aos profissionais do setor a sua responsabilidade e fomentar a sua competência, disponibilizando cada
vez mais informações que o qualifiquem e o abasteçam para a execução de um trabalho eficiente. A valorização
da mão-de-obra qualificada é o primeiro passo para alertar e para estabelecer um novo quadro no setor, prestes
a conviver com a certificação compulsória das instalações elétricas.
De “carona” na pesquisa realizada pelo Procobre em parceria com universidades e entidades vinculadas ao setor
elétrico, que revelou as péssimas condições das instalações elétricas residenciais (informações adicionais na “Entrevista” desta
edição), mostramos neste painel de resultados a análise de
uma delas.
A residência selecionada para esta reportagem fica na
cidade de São Paulo, num bairro de classe média. O
edifício tem 27 anos e o apartamento 110m². Na
pesquisa do Procobre foram as residências com
mais de 20 anos que acusaram os maiores
problemas: 50% delas não passaram por nenhum tipo de reforma nas instalações elétricas, 48,7% apresentam freqüentes desarmes de disjuntores ou queima de fusíveis,
sendo 42% referentes a sobrecargas no
circuito.
Veja a seguir os erros e os acertos, os pontos
fracos e os aceitáveis desta instalação, que
contempla algumas exigências da NBR 5410,
a norma das instalações elétricas de baixa
tensão, mas que é passível de um retrofiting
– um serviço que profissionais capacitados e
atualizados podem oferecer.
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Revista Lumière, 07/02
QUADRO DE
DISTRIBUIÇÃO
O quadro de distribuição é de chapa de ferro. Antigo, mas adequado por não propagar
fogo (segundo a pesquisa do Procobre, 52,8% das residências desrespeitam a NBR
5410 utilizando quadros de material combustível, especialmente madeira). De forma
geral, é um quadro de distribuição “quase bom”: possui proteção das partes vivas, identificação dos circuitos
e um barramento de neutro. Mas apresenta um aquecimento e oxidação que indica a presença de harmônicas
(veja detalhe na foto). Apesar da existência do barramento, não há instalação do fio terra.Trata-se de uma falha
comum e que indica a possibilidade de o edifício não ter aterramento. Os fios são apenas vermelhos, mas de
bitolas satisfatórias (2,5mm). O número de disjuntores e suas capacidades de corrente são satisfatórios (chave
geral 60A, por exemplo), mas não há dispositivo diferencial residual (DR). Os circuitos de tomadas de uso geral
e de iluminação estão juntos.
COMO ESTÁ
COMO DEVE SER
FIO TERRA: No caso de o edifício estar
aterrado, é necessário subir o fio terra
do quadro geral até o apartamento (veja pág 132).
CONDUTORES: As cores dos fios estão erradas. Deve-se seguir a
norma (azul-claro para o neutro, verde para o terra e demais cores
para o condutor fase). Pela idade do edifício, os fios não são
certificados, o que não significa necessariamente que não sejam bons.
No caso de um retrofiting, toda a fiação deve ser trocada utilizando
condutores certificados.
DR: É obrigatório o uso do Dispositivo Diferencial Residual desde
1997, segundo a NBR 5410. Para esta residência serão necessários
dois DRs – um para a cozinha e a área de serviço e outro para os
banheiros. Como o espaço no quadro não comportaria o número
de disjuntores e DRs, uma possibilidade é a instalação do Disjuntor
Diferencial Residual, um dispositivo que conjuga as duas funções:
a do disjuntor termomagnético (protege os fios do circuito contra
sobrecarga e curto-circuito) e a do DR (protege as pessoas contra
choques elétricos provocados por contatos direto e indireto).
proteção
fase
neutro
retorno
disjuntor
geral
(F+N+PE)
(2F+PE)
neutro
CIRCUITOS: É necessário separar os circuitos de tomadas de uso
geral e de iluminação, bem como criar circuitos para tomadas de
uso específico (chuveiros, torneiras elétricas, lava-louças, etc.)
è
Custo estimado para uma reforma nesta instalação
(incluindo mão-de-obra): entre R$ 1.500,00 e R$ 2.000,00
(F+N)
fases
proteção
(PE)
quadro de
distribuição
(F+N+PE)
(F+N+PE)
(2F+PE)
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Revista Lumière, 07/02
COMO ESTÁ
UTILIZAÇÃO DE TUGs
(TOMADAS DE USO GERAL)
Na sala, está instalado um filtro de linha com 6 tomadas,
que possui proteção com fusível. Nele estão ligados dois
aparelhos de telefone e um abajur, restando ainda quatro
tomadas. A instalação está adequada, uma vez que as
cargas são pequenas, lembrando-se que a soma das
cargas não deve ultrapassar 10A. O uso de filtros de linha é sempre
mais adequado do que o uso de “benjamins”, que anulam o terra.
Aparentemente o microondas está ligado numa
tomada exclusiva. Trata-se de uma ilusão: é comum
que uma solução estética mascare a carga
excessiva, pois o mesmo circuito está recebendo
as potências elevadas do microondas e do freezer
ao lado (veja que da tomada sai um fio utilizado para
a instalação de uma tomada não visível para o freezer).
Na cozinha, outra tomada mostra claramente que os
circuitos de iluminação e tomadas estão juntos e além
disso, foi feita uma extensão a partir do interruptor. Mais
uma vez a solução estética não atende a segurança: a
carga da torradeira e da cafeteira, somadas, é de 1.300W,
portanto, alta para uma TUG. Ligar os dois aparelhos juntos pode provocar
danos ao circuito elétrico e aos próprios eletrodomésticos.
Na cabeceira da cama, numa única tomada, estão conectados com
o uso de um benjamim: uma luminária, um rádio-relógio e um
aquecedor. A seção de 2,5mm para as tomadas próximas aos
criados-mudos está correta, mas o circuito não suporta a ligação do
aquecedor, que é de alta potência.
COMO DEVE SER
O correto é a instalação de uma tomada para cada equipamento a partir do quadro de
distribuição. Em banheiros, cozinhas, copas, copas-cozinhas, áreas de serviço, lavanderias e locais semelhantes deve-se atribuir, no mínimo, 600VA por tomada, até 3 tomadas, e 100VA para os
excedentes. Vale lembrar também que, no caso, algumas tomadas estão embutidas nos móveis de madeira. De
maneira geral, se há bom dimensionamento de fios e tomadas, o fato não oferece risco. Mas, nas condições em
que se encontram, com possibilidade de sobrecarga e sendo a madeira um material combustível, não é recomendável
a utilização. No caso do dormitório, é necessária a instalação de uma tomada exclusiva para o aquecedor. Vale
lembrar que é obrigatória a utilização de seção de no mínimo 2,5mm em todas as tomadas de uso geral, incluindo as
das cabeceiras de camas e próximas aos criados-mudos, uma vez que elas comumente são utilizadas para secadores
de cabelos, microcomputadores e outros aparelhos eletroeletrônicos.
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Revista Lumière, 07/02
UTILIZAÇÃO DE TUEs
(TOMADAS DE USO ESPECÍFICO)
COMO ESTÁ
Na torneira elétrica instalada na cozinha, o fio terra está ligado no
parafuso da caixa. Trata-se, infelizmente, de um erro comum,
principalmente quando não existe a presença do fio terra. Esta é
uma medida perigosíssima e uma falha no equipamento pode
provocar choque elétrico.
COMO DEVE SER
Uma torneira elétrica deve estar ligada a uma tomada de uso específico
(TUE), que parte diretamente do quadro de distribuição. Há necessidade da
ligação do fio terra a partir do quadro geral do edifício. Isto soluciona grande parte dos problemas
encontrados, protegendo e garantindo a integridade do patrimônio e da vida das pessoas.
COMO ESTÁ
Na instalação deste chuveiro, não há o fio terra. É possível
observar o afinamento de seção dos fios: a seção dos fios do
chuveiro não é a mesma da ligação do circuito, que é menor.
Há um subdimensionameto do circuito.
Num outro chuveiro da residência, de aproximadamente
8.000W de potência, há uma conexão simples do fio terra.
Porém, como não há o fio terra instalado no apartamento, este
suposto fio terra não protege o usuário do chuveiro contra
choques.
COMO DEVE SER
Instalar o terra e utilizar os condutores nas seções adequadas
no caso do chuveiro que apresentou subdimensionamento.
Observe a ilustração ao lado.
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Revista Lumière, 07/02
PRESENÇA DO FIO TERRA
Segundo a pesquisa do Procobre (veja também a “Entrevista” desta
edição), 68% das residências não acusam a presença do fio terra
em suas instalações elétricas. Após a análise desta residência, o
zelador do edifício revelou que há cerca de 9 anos o prédio foi
aterrado. Ou seja, o prédio disponibiliza o fio terra na entrada, mas
não era do conhecimento do morador sua existência. Segundo o
zelador, é comum os moradores considerarem o neutro como terra.
Apenas um apartamento – de um total de 32 – realizou uma reforma
nas instalações elétricas e levou o fio terra até o apartamento. Na
foto é possível observar o barramento do terra e a ligação de um
único apartamento. Além disso, na garagem do edifício, estão
marcados os locais de aterramento de 3 hastes. Cabe, portanto, ao
profissional do ramo, ao analisar uma instalação para um diagnóstico
e possível reforma, checar com a zeladoria ou a administração do
prédio, se ele dispõe de aterramento.
As ilustrações desta matéria foram extraídas do livro “Instalações Elétricas
Residenciais”, edição condensada 1, 2 e 3 (publicação viabilizada pela
Pirelli Cabos, Elektro e Procobre).
Anote cod. 51196
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Revista Lumière, 07/02
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