GRUPO DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS: ESPAÇO PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES1 AOYAMA, Ana Lucia Ferreira. FERREIRA, Maria das Graças2. LENARDÃO, Edmilson. GOMIDE, Ângela Galizzi Vieira PERRUDE, Marleide Rodrigues da Silva.3 SOUZA, Márcia Rejânia, Xavier da O presente trabalho relata uma experiência vivenciada com 60 professores atuantes na Educação de Jovens e Adultos das Redes Estadual e Municipal, docentes e estagiários de diferentes licenciaturas. Trata-se de um projeto de extensão cujo objetivo visa discutir a formação do professores que atuam na educação de jovens e adultos. Identifica e reflete experiências e práticas educativas desenvolvidas na EJA4. Trata de questões teóricas e metodológicas sobre o processo de ensino e aprendizagem do aluno adulto, cujo entendimento é fundamental para melhorar a atuação de professores. Tem sua justificativa na necessidade de discutir com professores políticas para formação de professores, bem como, possibilitar a reflexão sobre propostas teóricas e metodológicas para o ensino na educação de jovens e adultos. Sabe-se que a formação e a construção da identidade de professores, principalmente dos que atuam na Educação de Jovens e Adultos, como objeto de pesquisa é tema relativamente 1 O resumo trata-se de um projeto de extensão em execução . 2 Professora do departamento de educação da Universidade Estadual de Londrina. Contato. [email protected] 043 3371 4069 – 99943822. Campus Universitário. Londrina /Pr. 3 Professora do departamento de educação, coordenadora do projeto de extensão. 4 EJA – Educação de Jovens e Adultos. 1 recente. Como aponta Pereira e Fonseca (2001), o tema identidade e profissionalização docente de modo geral é tema pouco explorado, destaca-se no campo das discussões emergentes nos últimos anos5 e abre perspectivas para outras questões de interesse, como a busca da identidade profissional, a relação do professor com as práticas culturais, questões de carreira, organização profissional e sindical, e questões de gênero6. No campo da Educação de Jovens e Adultos análises de produções acadêmicas sobre a formação docente no Brasil na década de 90 permitiram a Pereira e Fonseca (2001, p.54) evidenciar “o silencio quase total” em relação à formação do professor para a educação de jovens e adultos, ou para atuar nos movimentos sociais, ou com crianças em situação de risco, entre outros” A mesma lacuna evidencia-se no processo e formação destes profissionais. É sabido que os professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos não receberam formação nem orientação específica para tal tarefa. Vias de regra, são professores que atuaram ou atuam no ensino regular.7 Ressalta-se, neste sentido, a ausência de discussões e/ou reflexões a respeito da EJA nos cursos de formação de professores (licenciaturas), limitando-se a pequenas informações, por meio de conteúdos mínimos, ou à formação do antigo curso de magistério de 2º grau ou 5 No Brasil , alguns trabalhos sobre formação docente podem ser ( Feldens, 1983;1984; Candau,1987; Ludke,1994). (PEREIRA & FONSECA, 2001) 6 Pereira e Fonseca (2001) analisaram as pesquisas apresentadas no Grupo de Trabalho “Formação de Professores “ da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação ( ANPED) de 1992 a 1998. As temáticas apareceram nas últimas décadas com destaque nos grupos de trabalho. 7 Sabe-se que os cursos de licenciaturas não privilegiam espaços para as discussões de temáticas referentes diretamente à formação de professores para atuarem na Educação de Jovens e Adultos. Na sua forma geral, a formação dos professores da EJA é dada no cotidiano da sala de aula e/ou por poucos cursos oferecidos em serviço. Nos cursos de Pedagogia sabe-se que são oferecidas disciplinas cuja carga horária se restringe a discussões básica que não dão conta da formação para atuar na EJA 2 técnico em magistério. Esses professores raramente são envolvidos em cursos de atualização e/ou aperfeiçoamento pedagógico, que lhes permitam acompanhar a evolução das teorias, dos paradigmas em educação que dão suporte à construção de metodologias de ensino no âmbito da EJA. Tal lacuna reflete-se no cotidiano do processo de ensino e aprendizagem. Dessa forma, as salas de aulas de jovens e adultos, com raríssimas exceções, são ambientes "monótonos, frios, tristes, silenciosos" 8,como se no seu interior não existisse vida. Por sua vez, as ações implementadas para atualização dos professores, de modo geral, e de jovens e adultos, em especial, se inserem no mesmo contexto em que se dá a própria EJA, marcada pelo aligeiramento, já que não se constrói uma política para formação destes professores. O discurso atual sustenta-se na idéia de que não se pode ''perder tempo'' convencendo-se os educandos a aceitar passivamente a maneira de ensino com a qual são formados. Assim sendo, o aluno, após anos de reprovações ou de desistência do ensino regular, não tem outra opção a não ser freqüentar a Educação de Jovens e Adultos, aceitando o currículo que lhe é oferecido. Assim, o tempo minimizado permite o ensino fundamental em um semestre, nove meses ou até dois anos no máximo, e da mesma forma o ensino médio, cujo objetivo é a aprovação nos exames de equivalência ou obtenção de um certificado de conclusão de um nível.9 Obviamente, a formação dos professores segue a mesma lógica, tudo muito rápida; poucas horas de "treinamento", quando as há, são insuficientes. Na atualidade, busca-se a construção de uma política para a oferta da EJA, discute-se a 8 Comentário de uma aluna do 4º ano de Pedagogia da UEL em Colorado, sobre visita feita à sala de aula de adultos. 9 Para maiores informações sobre as características e o tempo de terminalidade da EJA nas suas diferentes perspectivas (presenciais ou semipresenciais à distância) ver Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos , 2000 . 3 proposição de um modelo de formação visivelmente diferente do que foi efetivado na última década. Busca-se ultrapassar o objetivo da certificação pura e simples, do descompromisso com o ensino de qualidade, com a natureza dos conteúdos, com o processo de avaliação, propõe-se a oportunidade para que o educando tenha um contato maior e mais consistente com o conteúdo próprio do nível de ensino freqüentado.10 Com esta perspectiva, a formação docente e a construção da identidade de educadores da Educação de Jovens e Adultos destacam-se como espaço de discussões e proposição de espaços para a formação. A própria Diretriz Curricular Nacional para EJA (2000, p17) cujo teor define a ação necessária e indispensável à formação dos sujeitos, alunos e professores envolvidos nessa modalidade de ensino, aponta para a necessidade de investimentos na formação de professores para atuarem na EJA, destacando a responsabilidade das instituições formadoras. “Cabe também às instituições formadoras o papel de propiciar uma profissionalização e qualificação de docentes dentro de um projeto pedagógico em que as diretrizes considerem os perfis destinatários da EJA’’. Neste sentido, a proposta de um Grupo de Estudo busca abrir espaços para um processo de formação docente em EJA, pautada em princípios teóricos e filosóficos consistentes, tendo como norte a construção de conhecimentos, fundados nas experiências, já presentes no cotidiano dos sujeitos que vivenciam a ação educativa no contexto escolar. Busca-se a reflexão da identidade deste profissional na relação com o outro, numa perspectiva integradora e coletiva. 10 Um exemplo deste esforço é o Estado do Paraná que desde 2003 vem discutindo as diretrizes estaduais para a EJA , numa perspectiva integradora que de fato priorize a qualidade da educação neste campo. Para conhecer a proposta consultar a Diretriz Curricular para a Educação de Jovens e Adultos no Estado do Paraná : versão preliminar, 2005 . 4 ( ...) a identidade profissional docente não é algo que pode ser adquirido de forma definitiva e externa. Ela é movediça e constitui-se num processo de construção/deconstrução/reconstrução permanente, pois cada lugar e cada tempo demandam redefinições na identidade deste profissional. Trata-se, assim, de um processo de produção do sujeito historicamente situado. Ela ocorre, portanto, em um determinado contexto social e cultural em constante transformação, refletindo um processo complexo de apropriação e construção que se dá na interseção entre a biografia do docente e a história das práticas sociais e educativas, contendo, deste modo, as marcas das mais variadas concepções pedagógicas. (CALDEIRA, apud PEREIRA e FONSECA, 2001, p.55) Dessa forma, acreditamos que o trabalho proposto deverá atender em boa parte, as necessidades delimitadas pelos educadores envolvidos no Projeto, com a perspectiva de que mais tarde possam contribuir, sobremaneira, com a melhoria da qualidade do ensino em EJA. Pretendemos então, considerando o processo de amadurecimento das discussões efetivadas ao longo da nossa experiência com o trabalho na EJA, iniciar um chamado efetivo à Universidade, por intermédio dos seus professores e alunos, para desempenhar o papel que lhe cabe na condição de formadora de professores, que incluindo também a formação de educadores para atuarem em Educação de Jovens e Adultos desde a alfabetização até o ensino médio. O caminho que nos parece mais favorável para a realização dessa tarefa é o da extensão que por si só já é um espaço de ensino e de aprendizagem, pertinente, portanto aos objetivos que desejamos alcançar. Exige-se que as instituições de ensino superior assumam a tarefa de produzir conhecimentos científicos tendo o ensino, a pesquisa e a extensão como eixos articuladores da produção destes conhecimentos. O esforço de tal articulação reflete-se na dimensão teórica e prática da formação dos educadores. Nesse sentido, buscando romper com a simples exigência de formação técnica é que propomos este grupo de estudo, com o objetivo de discutir questões teóricas e metodológicas com professores que já atuam na 5 Educação de Jovens e Adultos e também professores em formação das diferentes licenciaturas. Segundo Paulo Freire (1998 p. 43), "na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática". Portanto, busca-se a reflexão teórica sobre a prática em que os envolvidos possam apontar, ao longo dos estudos, as necessidades e possibilidades de construir um fazer pedagógico diferente, marcado substancialmente pela ação, reflexão, ação dos sujeitos envolvidos ( práxis) . As ações do projeto tem seu desenvolvimento com a presença dos professores quinzenalmente em grupos de estudos e oficinas pedagógicas. Os resultados do trabalho são acompanhados e avaliados pela equipe de apoio pedagógica Apontamos como resultado parcial a implementação de grupos de estudos pedagógicos caracterizado pela heterogeneidade de atuação dias participantes.. Apontamos ainda o envolvimento de estagiários das diferentes licenciaturas transformando o grupo de estudo em espaço de formação e troca de experiências. Destaca-se ainda a ampliação das discussões referentes a formação de professores da EJA no campo da Universidade. 6 Bibliografia AMÂNCI, Lázara Nanci de Barros. Cartilhas, para quê? Cuiabá: Ed.UFMT, 2002. AREALO E KRUPPA In OLIVEIRA, Romualdo Portela e ADRIÃO, Theresa (org) Organização do ensino no Brasil : níveis e modalidades na Constituição FederaL e na LDB. São Paulo: Xamã, 2002 BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais, 1996 BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, 2000. BEISEGEL, Celso de Rui. Política e educação popular : a teoria e a prática de Paulo Freire no Brasil / São Paulo : Àtica, 1982. DEMO, Pedro. Pesquisa como princípio científico e educativo. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1992 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – saberes necessários a pratica educativa. São Paulo : Paz e Terra, 1996. MOLL, Jaqueline Pinto. Alfabetização de Adultos; recuperando a totalidade para reconstruir a especificidade . Porto Alegre: Editora da URGS, 1993. PARANÁ, Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para a Educação de Jovens e Adultos: versão preliminar, 2005 . PEREZ, Francisco Carvajal e GARCIA, Joaquim Ramos Ensinar ou aprender a ler e escrever?. Artmed , 2001. PEREIRA, Júlio Emílio. FONSECA, Maria da Conceição Ferreira. Identidade Docente e Formação de professores de Jovens e Adultos. Revista Educação e Realidade, FACULDADE DE educação UFRGS, V.26, N. 2 , Jul/Dez, 2001 7 PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos . São Paulo: Loyola, 1987. SILVA, Adaitom. Histórias, Moriá Gráfica & Editora, 2003. SOARES, Leôncio José Gomes. Educação de Jovens e adultos . Rio de Janeiro: DP&A, 2002 8