Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Maria Fernanda da Cunha Franco Ferreira ANÁLISE DO DESEMPENHO DAS FUSÕES E AQUISIÇÕES ENTRE EMPRESAS BRASILEIRAS São Paulo 2015 Maria Fernanda da Cunha Franco Ferreira Análise do Desempenho das Fusões e Aquisições Entre Empresas Brasileiras Projeto de Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientadora: Profa. Dra. Adriana Bruscato Bortoluzzo – Insper São Paulo 2015 2 Ferreira, Maria Fernanda Análise dao desempenho das fusões e aquisições entre empresas brasileiras/ Maria Fernanda Ferreira. – São Paulo: Insper, 2015. 36 f. Monografia: Faculdade de Economia e Adminitração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientadora: Prof. Dra. Adriana Bruscato Bortoluzzo 1. Fusão e Aquisição 2.Criação de Valor 3.Desempenho Operacional 3 MARIA FERNANDA DA CUNHA FRANCO FERREIRA Análise do desempenho das fusões e aquisições entre empresas brasileiras Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. EXAMINADORES Prof. Dra. Adriana Bruscato Bortoluzzo Orientadora Prof. Dra. Maria Kelly Venezuela Examinadora Prof. Henrique M. Barros Examinadora 4 Dedicatória Gostaria de agradecer principalmente aos meus pais, que me apoiaram em todos os desafios da minha vida e tiveram papel muito importante nos meus anos de graduação. Sou muito grata também a todos os meus amigos e colegas que estiveram comigo durante estes 4 anos e sempre foram um dos meus grandes pilares de motivação. Em especial, gostaria de agradecer a professora Adriana Bruscato por ter sido muito paciente, atenciosa e dedicada a me apoiar no desenvolvimento deste estudo. 5 Agradecimento Agradeço primeiramente aos meus pais e minha irmã, que sempre foram motivo de orgulho pra mim e fonte de inspiração. Aos meus avós, que sempre estiveram ao meu lado e me ajudaram sempre que eu precisei. À professora e minha orientadora Adriana Bortoluzzo, que é um exemplo de profissional comprometido e por ter me ajudado a vencer todos os desafios que me deparei na elaboração deste estudo. Ao Insper, por ter contribuído com a minha formação acadêmica de forma exemplar. Aos meus colegas e amigos que sempre foram fonte de inspiração e leveza para a minha vida acadêmica e pessoal. 6 Resumo Ferreira, Maria Fernanda. Análise do desempenho das fusões e aquisições entre empresas brasileiras. São Paulo, 2014. 36p. Monografia – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Este artigo tem como objetivo analisar a eficácia das fusões e aquisições nacionais feitas por empresas brasileiras em resultar em uma melhora no desempenho das empresas adquirentes, considerando o período de 1995 a 2012. A investigação proposta neste trabalho ajuda tanto empresas em processo de planejamento estratégico a decidir se realizar uma F&A seria uma boa opção de alocação de ativos quanto a investidores a decidirem como melhor alocar seu capital. Através de uma organização de dados em cross section foram estimadas regressões, via MQO, nas quais as variáveis resposta são uma adaptação para o Return on Invested Capital (ROIC) e a Margem EBITDA (Earnings Before Interest Taxes Depreciation and Amortization), enquanto a variável explicativa é uma dummy que captura se a empresa realizou uma F&A nacional ou não, além da utilização de variáveis de controle como tamanho da empresa, período em que a aquisição foi feita e o setor em que a empresa atua para que pudesse ser captado o real impacto que se pretende estudar. Desta forma foi possível analisar se a ocorrência de uma F&A, em média, melhora a rentabilidade e/ou a eficiência operacional das empresas. Os resultados encontrados foram que, existem evidências estatísticas de que operações de F&A geram melhorias na eficiência operacional das empresas adquirentes mas que esta melhoria não ocorre pela perspectiva rentável da empresa. Palavras-chave: Fusões e Aquisições. Criação de valor. Desempenho operacional. 7 Abstract Ferreira, Maria Fernanda. Performance analysis of the mergers and acquisitions between Brazilian firms. São Paulo, 2015. 36p. Monograph – Economics and Business College. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. The goal of this study is to analyze the effectiveness of the national mergers and acquisitions, made by Brazilian firms, on resulting in an increase on the performance of acquirer firm, considering the Brazilian market from 1995 to 2012. The investigation proposed by this work helps both firms in deciding strategies and investors whitch search for the best options to allocate their money. Through a data organization in cross section, 2 main regressions were estimated, via OLS. The first one had as response variable the Return on Invested Capital (ROIC) and the second one the EBITDA Margin. The explanatory variable used is a dummy that captures if the firm held a national M&A or not. Besides that, some control variables were used in order to capture the real impact of interest. In this matter, it was possible to analyze if the M&A, on average, increases the profitability and/or the operational efficiency of the firms. The results found were that there are statistics evidences that engaging in a M&A operation results in a better operational efficiency for the acquiring firms but in terms of profitability this relation was not proven by the model. Keywords: Mergers and Acquisitions. Value Creation. Operational Performance. 8 Lista de Tabelas Tabela 1- Agrupamento dos anos utilizado no modelo econométrico e número de negócios por setor e ano...........................................................................................................................21 Tabela 2- Classificação dos setores das empresas brasileiras de capital aberto.......................24 Tabela 3- Divisão da amostra por setor e por grupo de 1995 até 2012....................................24 Tabela 4- Resumo estatístico das variáveis numéricas do modelo..........................................25 Tabela 5- Correlação entre as variáveis numéricas do modelo................................................28 Tabela 6- Resultados dos dois modelos econométricos para o DROIC...................................29 Tabela 7- Resultado dos dois modelos econométricos para o DMARGEM............................30 9 Lista de Imagens Figura 1- Quantidade de F&A realizadas entre empresas brasileiras de 1995 a 2014.............11 Figura 2- Média da variável DROIC por ano de cada grupo...................................................26 Figura 3- Média da variável DMARGEM por ano de cada grupo..........................................27 10 Sumário 1. Introdução ..................................................................................................................................... 11 2. Revisão bibliográfica..................................................................................................................... 14 3. Metodologia ...................................................................................................................................... 17 3.1. Base de Dados ............................................................................................................................ 17 3.2. Seleção das Variáveis ................................................................................................................. 18 3.3. Modelo Econométrico ................................................................................................................ 22 4- Resultados ......................................................................................................................................... 24 4.1. Análise Descritiva dos dados ..................................................................................................... 24 4.2- Análise Econométrica ................................................................................................................ 28 5. Conclusão .......................................................................................................................................... 32 11 1. Introdução O advento da globalização incitou no mundo corporativo uma maior transferência de conhecimentos e informações e, como consequência, o aumento da competitividade. Uma das estratégias amplamente utilizadas pelas corporações nas últimas décadas, com o propósito de gerar melhorias de performance, são as operações de fusões e aquisições (F&A). Uma comprovação disto são os dados da Thomson Reuters, que mostram que o volume de negócios ocorridos mundialmente, do início de 2014 até junho deste ano foi de US$ 1,75 trilhões, o que representa um aumento de 75% com relação ao mesmo período do ano anterior. Já o Brasil movimentou um volume de US$ 14,210 bilhões em negócios no primeiro trimestre de 2014, equivalendo a um aumento de 73% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Na figura 1 abaixo está representado do número de F&A realizadas entre empresas brasileiras, de janeiro 1995 até o final de 2014 e com adquirentes de capital aberto. 112 59 61 57 53 38 37 28 9 12 11 17 120 26 20 18 24 43 31 21 Número de deals Fonte: Thomson Reuters Figura 1 – Quantidade de F&A realizadas entre empresas brasileiras de 1995 a 2014 Estes movimentos positivos no volume de F&A no Brasil e no mundo podem ser entendidos em razão dos principais benefícios que este tipo de operação pode trazer, como caracterizados por Sherman e Hart (2005) em sendo: a possibilidade de acessar um novo mercado, a inserção de uma nova linha de produto e o aumento do alcance de distribuição dos produtos; acesso a capital humano de qualidade, já que muitas vezes novas empresas desfrutam de um capital humano mais inovador; benefícios operacionais para ambas as empresas (adquirente e adquirida), advindos de reduções nos custos; diversificação de risco; aumento de market share; possibilidade de balancear demandas cíclicas e compra da lealdade 12 dos clientes a uma marca já existente, além de muitas vezes ser a maneira mais rápida de se garantir saúde à empresa. Além disso, os autores consideram que os principais objetivos das empresas que realizam F&A são crescimento e consolidação no setor. Além disso, diversas vezes, empresas se encontram em situações de dificuldades financeiras ou têm suas operações prejudicadas, devido à conjuntura econômica do país onde operam, podendo resultar em uma baixa nos preços dos seus ativos e se tornando assim um bom investimento para empresas mais consolidadas. Este fenômeno ocorreu no Brasil nos anos de 2007 e 2008. Como podemos perceber na figura 1, houve um pico na quantidade de F&A entre empresas brasileiras nestes anos, a pesar do já aparente crescimento nos anos anteriores. Motivo disto foi a crise econômica mundial, que dificultou as operações de muitas empresas e assim criou oportunidades de aquisição por parte de outras firmas. Rani, Yadav e Jain (2012) julgam as F&A como uma importante alternativa para empresas de forma que possam crescer de forma inorgânica. O principal motivo desta afirmação e pelo qual existe um forte interesse por parte das companhias em realizarem F&A é o ganho de sinergia proveniente desta operação. Estes ganhos podem ser economias de escala, diminuindo a relação custo/receita da firma, economias de integração vertical, reduzindo os custos de transação incorridos pelas organizações ao tratarem com clientes e fornecedores, utilização de recursos complementares, reduzindo o número de departamentos das duas empresas somadas, transferência de tecnologia entre as empresas, aumentando assim a produtividade das firmas envolvidas, benefícios fiscais, diminuindo o total de imposto pago e a redução do custo de capital, minimizando as despesas financeiras. Assim, a análise da melhoria do desempenho das empresas, causada pelos ganhos gerados pela F&A tem grande importância tanto para acionistas quanto para gestores de empresas. Os acionistas estão sempre buscando informações sobre as atividades das empresas em que investem e/ou cogitam investir e avaliam as alocações de seus ativos de forma a inferir se a firma é eficiente ou não nas suas operações. Já os gestores precisam entender a eficácia das decisões de alocação de ativos da empresa de forma a garantir o melhor retorno aos acionistas e a melhor orientação para que a corporação expanda e/ou se consolide. Apesar de o Brasil estar inserido no grupo de países emergentes, investidores internacionais vêm gradativamente mostrando mais interesse nas atividades do país devido ao alto crescimento das atividades do país, que foi extraordinário nos anos do governo Lula e continuou se mostrando relativamente alto nos anos seguintes, além de ser considerado um dos melhores países da América Latina para se investir dada a sua riqueza natural, extensão territorial e por ser o país com menor centralização de renda da América Latina. 13 Assim, este trabalho contribui com a literatura sobre F&A no Brasil, ainda escassa até o momento, e tem o objetivo de inferir se as F&A resultam em uma melhoria operacional para as empresas adquirentes. Desta forma, será possível avaliar se as operações de F&A nacional são uma boa opção para as corporações, levando em consideração variáveis de desempenho e utilizando firmas que não realizaram F&A como grupo de controle. Para tanto, será feita a análise das aquisições realizadas por empresas brasileiras de capital aberto dos anos 1994 até 2012 que compraram empresas brasileiras, conjuntamente com o desempenho das companhias brasileiras de capital aberto que não realizaram F&A no período em questão. Para tanto serão utilizadas variáveis que capturam o desempenho das empresas como variáveis resposta, uma variável explicativa que captura a realização ou não da F&A e variáveis de controle que auxiliarão para que as estimações sejam as melhores possíveis com os dados existentes. 14 2. Revisão bibliográfica A literatura sobre o estudo dos ganhos operacionais das empresas que realizaram F&A é escassa, principalmente para países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, enquanto para países desenvolvidos existe uma maior quantidade de trabalhos acadêmicos sobre o assunto. Dessa forma é importante citar as principais contribuições da literatura nacional e internacional acerca do estudo da melhoria do desempenho gerado pelas F&A e é este o objetivo desta seção. Liu e Qiu (2013) estudaram a performance de empresas do setor industrial norte americano, antes e depois de terem realizado uma F&A e fizeram a comparação delas com firmas que não fizeram nenhuma F&A, contemplando o período entre 1991 e 2007. Para fazêlo os autores buscaram dados de negócios ocorridos no período, além de informações sobre as ações transacionadas, nações e indústria das firmas e informações financeiras e de mercado das empresas. Foi analisado tanto o comportamento das firmas adquirentes como das adquiridas por propósitos de comparação. Por fim, concluem que empresas adquirentes em operações de F&A possuem melhor desempenho que as não participantes e que as empresas adquirentes contam com maior melhoria de funcionamento operacional que as adquiridas tanto para F&A domésticas quanto cross border, ou seja, F&A com empresas estrangeiras. Além disso, ao comparar as firmas antes e depois das F&A terem ocorrido, concluem que tanto adquirentes quanto adquiridas melhoram seu desempenho após os negócios. Outro estudo sobre o tema em questão foi desenvolvido por Bortoluzzo, Garcia, Boehe e Sheng (2013). Neste artigo, é testada a hipótese de se as F&A cross-border melhoram o desempenho financeiro das empresas adquirentes brasileiras. Para tanto, foram utilizados dados de F&A cross-border, de 1994 a 2008. Foram consideradas apenas transações com empresas brasileiras como adquirentes e foi utilizada como variável resposta uma adaptação do Return on Invested Capital (ROIC), que capta o diferencial desta variável antes e depois do anúncio da F&A e a sua desigualdade em relação ao seu setor de atuação, de forma a mitigar possíveis efeitos macroeconômicos que possam impactar todas as empresas do setor. Além disso, a utilização do ROIC é a mais adequada por capturar no seu cálculo o capital investido, envolvendo, assim, o valor desembolsado para a aquisição de uma empresa. Já como variável explicativa foi utilizada apenas uma dummy que desempenha a função de distinguir se empresa fez ou não F&A cross-border. Ademais, foram incluídas quatro variáveis, que se não controladas podem influenciar o desempenho financeiro das empresas. Estas são o crescimento das vendas, o crescimento das despesas operacionais, o tamanho da 15 empresa e o excesso de caixa. Por fim, o resultado foi que as F&A cross-border, em média, geram um resultado positivo para as operações das empresas brasileiras. Camargos e Barbosa (2009) utilizaram três diferentes variáveis resposta como proxys para a criação de valor para o acionista. Estas são o Q de Tobin (QT), o Valor de Mercado dividido pelo Valor Patrimonial (VM/VP) e o Valor da Firma. Como proxys para o desempenho, utilizaram a média de medidas que capturam as sinergias operacionais como a Margem EBIT, o EBITDA, a Geração Bruta de Caixa e o Crescimento da Receita Líquida. A metodologia utilizada foi a comparação da média das supracitadas variáveis de criação de valor antes e depois do anúncio da F&A, para operações anunciadas de janeiro de 1996 até dezembro de 2004. Os resultados revelaram que houve criação de valor e melhoria no desempenho financeiro para todas as variáveis escolhidas com o acontecimento da F&A. Vale ressaltar, no entanto, que os autores não utilizaram nenhuma variável de controle para mitigar as possíveis interferências macroeconômicas na criação de valor das empresas em questão. Soni (2014) realizou uma análise exploratória com o uso do teste Shapiro-Wilk e teste T-pareado dos impactos nas performances financeiras de 7 empresas indianas que foram adquirentes em operações de F&A, a partir do ano 2000 até 2013. O estudo restringiu-se à análise dos seguintes indicadores financeiros e operacionais: Earnings Before Interest Taxes Depreciacion and Amortization (EBITDA), que traduzido para o português significa Lucro Antes dos Juros Depreciação e Amortização, Earnings Before Taxes (EBT), que em português significa Lucro Antes do Imposto de Renda, Lucro Líquido, Margem EBITDA, razão entre EBT e receita bruta, margem líquida, patrimônio líquido, capital investido, retorno sobre o capital líquido, índice de liquidez corrente, relação dívida sobre patrimônio líquido, índice de cobertura de juros e lucro por ação. Fizeram uma comparação dos seus níveis três anos antes e três anos após a aquisição. Os resultados encontrados foram que o EBITDA, o EBT, o lucro líquido, o patrimônio líquido e o capital investido progrediram para as empresas adquirentes. No entanto, a receita líquida não aumentou proporcionalmente dado que as margens diminuíram. Também, os índices de liquidez corrente e de cobertura de juros e a relação dívida sobre patrimônio líquido não sofreram alteração. Dessa forma, os autores consideraram os resultados inconclusivos, uma vez que a melhoria na eficiência operacional pode ter demorado mais tempo para se mostrar aparente. Outros estudos foram realizados utilizando como variável resposta o retorno anormal acumulado (CAR), como foi o caso de Koga (2014) que estudou as F&A entre empresas brasileiras e Dakessian e Fedmann (2013), que estudaram as F&A cross-border realizadas por 16 multilatinas. No estudo de Koga (2014) foi utilizado como grupo de controle um painel das empresas que não realizaram operações de F&A nacional no período analisado (1994 a 2011) e como grupo de tratamento as empresas que realizaram F&A domésticas. O autor utilizou como variável explicativa uma dummy que capturava se a empresa realizou ou não uma F&A, além de inserir no modelo o tamanho da empresa, setor de atuação e o ano em que a transação foi realizada. Já a variável resposta utilizada, o CAR, foi calculada através dos retornos acumulados da ação por um período que consiste de um mês antes até um ano após o anúncio da F&A. Por fim, o resultado encontrado foi que fusões e aquisições destroem valor para o acionista no curto e no longo prazo. Já Dakessian e Fedmann (2013) estudaram o comportamento de F&A cross-border realizadas por multiatinas, considerando empresas argentinas, brasileiras, chilenas, colombianas, mexicanas, peruanas e venezuelanas, no período de 1989 a 2011. Os autores testam a hipótese de que a média do retorno anormal acumulado (CAR) gerado pelo anúncio de uma F&A é positiva e significante, utilizando uma abordagem com dados em cross section, uma estimação por mínimos quadrados ordinários e controlando os resultados através das variáveis tamanho da empresa adquirente, performance financeira da adquirente, qualidade financeira da adquirente, tamanho relativo do negócio, câmbio, porcentagem detida pela adquirente após a operação e uma dummy que captura se a operação foi antes ou depois de 2000 . O resultado a que chegam é que, estatisticamente, o anúncio de um deal não cria valor aos acionistas das empresas. Como ficou claro na discussão desta sessão, a literatura acerca deste tema tem uma grande contribuição para as decisões de investimento tanto por parte dos acionistas quanto dos gestores. O objetivo deste trabalho é buscar uma junção das principais contribuições da literatura além da inclusão de novos tratamentos, buscando uma abordagem original para o tema, que foi a utilização de variações nas variáveis de desempenho 2 anos depois com 1 ano antes da operação de F&A como variáveis resposta, a inclusão de variáveis que controlam tamanho e setor da empresa, a elaboração de um grupo de controle que é constituído por todas as empresas de capital aberto, a cada ano, de 1995 até 2012 e uma dummy que captura se a empresa foi ou não adquirente de alguma outra empresa no período, considerando apenas F&A entre empresas brasileiras. Dessa forma foi possível observar se realizar uma F&A é benéfico para empresas adquirentes na perspectiva do seu desempenho operacional. 17 3. Metodologia 3.1. Base de Dados A amostra de empresas que realizaram F&A foi extraída da base de dados Mergers and Acquisitions Database (2015), disponibilizada pela Thomson Reuters. Nesta base estão representadas todas as fusões e aquisições de empresas brasileiras, de 1986 até os últimos dados de 2015. A partir desta fonte, foram extraídas as operações de F&A entre empresas brasileiras de 1995 até 2012. Foi determinado que o estudo começaria em 1995 devido às constantes mudanças de regime monetário e hiperinflação que marcaram a economia brasileira anteriormente, o que poderia trazer distorções ao estudo. A coleta destes dados se restringiu às operações completadas até o fim de 2012 ao invés de ser expandida para dados mais atuais em razão de algumas das variáveis explicativas terem sido calculadas em até dois anos após os negócios se consolidarem e as informações mais recentes necessárias para essa elaboração são de 2014. É importante ressaltar que foram excluídas da base, também, as operações nas quais a empresa adquirente deteve menos de 50% das ações da adquirida após a operação, garantindo o controle do sentido a ser tomado pela target. Da mesma forma, não foram consideradas todas as empresas adquirentes que não eram listadas na BMF&Bovespa na data da operação, dada a impossibilidade de obtenção dos dados contábeis de empresas fechadas. Por último, foram excluídos dados de empresas do setor financeiro de forma a mitigar possíveis investimentos estratégicos, de Private Equity, que é o investimento em empresas de médio porte com objetivo de estimular e acompanhar o crescimento delas e liquidar sua participação no futuro, ou investimentos cujos objetivos sejam especulativos. Além disso, foi necessário obter a amostra de empresas brasileiras de capital aberto que não realizaram F&A no período analisado para a construção do grupo controle. Para isso, foi montado um painel composto de todas as empresas listadas na bolsa de valores em cada ano, de 1995 até 2012. Desta série foram excluídas, a cada ano, as empresas que já haviam adquirido outras nos anos anteriores, considerados na base ou no ano em questão. Já os dados do ROIC, da Margem EBITDA e do tamanho da empresa (medida neste trabalho pelo preço da ação multiplicado pela quantidade de ações) foram coletadas a partir do software Economática. Com isso obtivemos uma base de dados com todas as empresas de capital aberto, de 1995 até 2012, das quais foi possível obter os dados necessários para a elaboração deste trabalho, 18 com suas respectivas variáveis explicativas, de controle e resposta. Esta base, no entanto, apresentava grande desvio padrão para as variáveis do grupo controle, o que levou à desconfiança de que o grupo controle e o grupo de tratamento não seriam similares, prejudicando assim as conclusões deste trabalho. Esta desconfiança foi confirmada na análise de resíduos que apresentou erros muito discrepantes. Desta forma, excluímos da base os 2,5% maiores e menores valores das variáveis resposta, do grupo controle, obtendo consequentemente categorias mais similares. 3.2. Seleção das Variáveis Com o objetivo de desenvolver o tema proposto para este estudo, pretende-se utilizar duas abordagens de forma a entender a efetividade das empresas envolvidas em operações de F&A em atingir suas intenções, uma utilizando uma medida de rentabilidade e outra de eficiência operacional. As variáveis utilizadas são: Variáveis Resposta Para entender se a realização de uma operação de F&A é benéfica para a rentabilidade e/ou para a eficiência operacional das empresas, foram selecionadas duas variáveis resposta. O principal motivo da escolha de variáveis de desempenho é que muitas vezes, medidas que envolvem preço das ações das companhias podem ser influenciadas por fatores externos à operação e que não necessariamente representam uma mudança no andamento das empresas. 1) Medida de rentabilidade: Return on Invested Capital (ROIC); o cálculo desta variável é feito através da divisão do Net Operating Profit After Tax (NOPAT), que é o lucro líquido operacional, pelo capital investido na empresa, de acordo com a seguinte fórmula: Onde, - é o ROIC da empresa i no período t, - é o EBIT da empresa i no período t, -tax é a alíquota de imposto de renda, - é a dívida líquida da empresa i no período t e preço das mesmas. é a quantidade de ações da empresa i no período t multiplicado pelo 19 A escolha desta variável para representar a rentabilidade das empresas se deu uma vez que é levada em consideração no seu cálculo a alocação de capital da firma e desta forma representa a taxa de retorno sobre o capital investido utilizado para a geração de resultados operacionais. Assim, é possível analisar a partir do ROIC se a alocação de capital da empresa resultou em investimentos rentáveis, beneficiando tanto a sua própria prosperidade quanto a dos seus investidores. Por este motivo, esta variável pode mostrar indícios de se a F&A gerou bons resultados ou não para a adquirente. Com a realização da F&A, é esperado que a alíquota de imposto de renda incidente sobre as atividades da empresa diminua, dado que ela deve obter benefícios do governo por empregar um maior número de funcionários e que muitas vezes, a expansão das empresas viabiliza que elas possam estender partes da sua produção para outras regiões do Brasil nas quais existem incentivos fiscais. Já o capital investido é esperado que aumente com a F&A, dado que ele passará a ser a soma desta variável das duas empresas. Neste estudo, para que possam ser capturadas as mudanças que ocorreram devido à operação, foi utilizada uma adaptação desta variável, a qual foi chamada de DROIC, e é a variação do ROIC um ano antes à operação e dois anos depois, da seguinte forma: Desta forma, a partir deste estudo será possível investigar se a aquisição de outra empresa resulta em uma alocação de capital mais eficiente para adquirentes em operações de F&A e sendo assim, que uma maior geração de resultados operacionais ultrapasse o aumento no capital investido total. 2) Medida de eficiência operacional: Margem EBITDA (Earnings Before Interest Taxes Depreciacion and Amortization). O cálculo desta variável é feito através da divisão do EBITDA pela receita total da companhia. Desta forma, quanto maior a margem EBITDA, menores são as despesas operacionais da empresa, resultado este de uma maior eficiência operacional. Sua fórmula é representada a seguir: Onde, é a Margem EBITDA da empresa i na data t, 20 éo da empresa i na data t e, é a receita bruta da empresa i na data t. Com relação a esta variável, é esperado que uma empresa, ao adquirir outra, passe a ter uma maior receita de vendas e que as suas despesas operacionais sejam relativamente menores já que acredita-se na expressividade das sinergias de custo. Da mesma forma, para este estudo foi utilizada uma adaptação desta variável, chamada de DMARGEM de forma a capturar as mudanças ocorridas nas empresas antes e depois das operações, da seguinte forma: Variável Explicativa Serão utilizados dois grupos de empresas, um contendo as firmas que realizaram F&A nacional e o outro com as que não realizaram F&A nacional. Dessa forma será construída uma variável dummy de forma a identificar as empresas que realizaram F&A nacional, e o grupo de referência serão as que não realizaram nenhuma F&A no ano. FEA: Esta variável será responsável por distinguir se a empresa realizou uma F&A nacional ou se ela não realizou F&A nacional no período. Assim, esta variável valerá 1 se a empresa em questão tiver realizado uma F&A nacional no período e 0 se não ocorrer este tipo de operação. A FEA será responsável por identificar se a aquisição de uma empresa tem efeito nas variáveis resposta selecionadas para a empresa adquirente e se sim qual a intensidade deste impacto. Variáveis de Controle Tamanho da Empresa: Será utilizado como proxy do tamanho das empresas o Market Cap, ou seja, o número de ações da empresa multiplicado pelo preço da ação. Esta é uma abordagem vastamente utilizada na literatura sobre o assunto por ser esta variável a melhor medida disponível da dimensão das firmas. A importância da utilização desta variável é que o tamanho da empresa pode influenciar no seu desempenho de forma que empresas maiores e mais maduras tendem a ter uma maior resiliência em períodos de crise econômica, além de ser esperado que elas tenham uma melhor eficiência, que possibilitou o alcance do porte conquistado. 21 Setor: Foram utilizadas três classificações para o setor em que a empresa está inserida, que são o setor industrial (Siderúrgica e Metalúrgica, Máquinas Industriais, Química, Veículos e Peças, Mineração, Têxtil, Eletroeletrônicos, Papel e Celulose, Minerais não metais e Petróleo e Gás), o de comércio e serviços (Telecomunicações, Alimentos e Bebidas) e outros (Energia, Transportes, Agropecuária e Pesca, Construção e Outros). Desta forma é possível capturar possíveis vantagens que empresas de alguns setores possam ter em termos de necessidade de alocação de capital, necessidade de investimentos, competição, entre outros. Ano em que ocorreu a transação: é necessário o controle pelo ano em que ocorreu a transação uma vez que os choques de mercado, as ondas de F&A e as condições econômicas do país mudam ao longo do tempo e são fatores externos ao funcionamento das empresas. Dessa forma, foram utilizadas dummys que permitiram a distinção do momento em que ocorreu a F&A. Se mostrou necessário, no entanto, o agrupamento de alguns anos dado que, de 1995 até 2006 a quantidade de negócios não foi significativa, dessa forma, as conclusões do modelo não seriam confiáveis se nele fossem considerados os anos de forma distinta. A ilustração de como os anos foram agrupados segue na Tabela 1. Tabela 1 – Agrupamento dos anos utilizado no modelo econométrico e número de negócios por setor e ano Dummys D_95-00 D_01-05 D_06-10 Referência Fonte: Autor Ano 1995 Número de Negócios 3 Comércio e Serviços Indústria Outros 1 2 0 1996 6 2 3 1 1997 7 6 0 1 1998 15 9 6 0 1999 6 5 1 0 2000 19 11 7 1 2001 6 2 2 2 2002 6 3 3 0 2003 9 3 5 1 2004 6 3 1 2 2005 12 7 3 2 2006 15 8 4 3 2007 63 39 9 15 2008 68 46 10 12 2009 30 19 8 3 2010 38 23 3 12 2011 37 19 5 13 2012 13 5 2 6 22 Observação: Para manter um padrão de agrupamento, foi necessário agrupar os anos de 2006 a 2010, a pesar de existir uma grande quantidade de dados em cada ano deste agrupamento. 3.3. Modelo Econométrico Com o objetivo de estudar os impactos das F&A na eficiência operacional e na rentabilidade das empresas, serão utilizados dois modelos de regressão. O primeiro deles terá como variável resposta a variação da Margem EBITDA, 2 anos após a transação em relação a um ano antes dela, como medida da variação na eficiência operacional, enquanto o segundo terá como variável resposta a variação do ROIC (Return on Invested Capital) 2 anos após a transação em relação a um ano antes dela como uma medida da oscilação na rentabilidade. A estimação será feita via Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e será feita uma análise de resíduos para verificação da validade das suposições dos modelos. É importante ressaltar que o estudo realizado é referente à empresa adquirente, consequência da impossibilidade de coletar dados das adquiridas que muitas vezes não são empresas listadas na bolsa de valores e para o caso do Brasil não existe um controle das atividades dessas empresas. O modelo de regressão linear múltipla utilizado é: Onde: = Variável resposta da i-ésima empresa = Dummy de F&A nacional para a i-ésima empresa = Matriz das Variáveis de Controle = Erros aleatórios A validade dos resultados obtidos a partir da estimação por MQO depende de 7 suposições. Primeiramente, o regressor tem que ser fixo, ou seja, a variável explicativa é um número conhecido e possui uma variação natural de valores num intervalo. Além disso, a média dos erros tem que ser igual a zero, deve ser garantida a homocedasticidade dos erros, ou seja, as variâncias dos erros têm que ser iguais, os erros devem ser não correlacionados, os 23 parâmetros do modelo são constantes, o modelo é linear nos parâmetros e os erros precisam seguir uma distribuição normal. 24 4- Resultados 4.1. Análise Descritiva dos dados Anteriormente à estimação do modelo econométrico, se mostrou útil a elaboração de uma análise descritiva dos dados, de forma a entender o comportamento das variáveis e formular expectativas com relação aos resultados que serão encontrados a partir das regressões. Primeiramente, foi necessário o agrupamento dos setores de forma a viabilizar o trabalho com apenas três setores mais amplos e dessa forma ter dados suficientes em cada classificação, obtendo-se os resultados resumidos na Tabela 2 a seguir. Tabela 2- Classificação dos setores das empresas brasileiras de capital aberto. Agrupamento por Setor Comércio e Serviços Indústria Outros Setor Alimentos e Bebidas Telecomunicações Eletroeletrônicos Comércio Software e Dados Transporte e Serviços Agro e Pesca Minerais não Metais Química* Máquinas Industriais Mineração Papel e Celulose Petróleo e Gás Siderurgia e Metalurgia Têxtil* Veículos e Peças Real Estate Energia Elétrica Holdings Diversificados Dessa forma, a separação das empresas tanto do grupo controle quanto do grupo de tratamento resultou na seguinte estrutura, demonstrada na Tabela 3: Tabela 3- Divisão da amostra por setor e por grupo de 1995 até 2012. Adquirente Adquirida Quantidade % do Total Quantidade % do Total Comércio e Serviços 211 58,77% 194 Indústria 74 20,61% 70 Outros 74 20,61% Total 359 100% Grupo Controle Quantidade % do Total 54,04% 896 35,81% 19,50% 1065 42,57% 95 26,46% 541 21,62% 359 100% 2502 100% A partir dos resultados acima apresentados, é notório que mais da metade das empresas brasileiras que se envolveram em alguma F&A no período analisado é do setor 25 de Comércio e Serviços (aproximadamente 59% das adquirentes e 54% das adquiridas), enquanto a maior parte das empresas do grupo controle faz parte do setor industrial (43%). Uma imaginável explicação para isso é que para o setor de Comércio e Serviços são baixas as barreiras à entrada de novos concorrentes nos mercados, o que muitas vezes leva as empresas a buscarem formas de crescimento inorgânico dentro do mercado, enquanto que firmas industriais normalmente têm vantagens, como de custos e acesso aos mercados, que impedem a entrada de novos concorrentes e assim proporciona uma maior possibilidade de crescimento orgânico sem a necessidade de realizar uma F&A. Tabela 4- Resumo estatístico das variáveis numéricas do modelo DROIC DMARGEM MKT CAP* Média Desvio Padrão Mínimo Máximo F&A -0,40 18,91 -86,40 219,80 Controle 0,19 9,77 -38,40 32,70 F&A 17,08 78,70 -133,00 707,70 Controle -0,10 15,88 -94,00 105,00 F&A 15.869,92 55.918,71 10,54 429.922,95 Controle 1.697,28 4.521,81 1,5 88.658,60 *em mil reais Podemos observar na Tabela 3 que, em média, o DROIC das empresas que realizaram F&A (-0,40) foi menor que do grupo controle (0,19), no período analisado, além de que esta média foi negativa, o que nos faz crer que é provável que as desconfianças de que uma F&A melhore a rentabilidade das empresas adquirentes seja negada neste trabalho. Com relação ao desvio padrão, o grupo de tratamento apresenta um valor maior para esta variável, o que nos leva a acreditar que este grupo deve ser mais heterogêneo que o grupo controle. Com relação aos valores máximos e mínimos, no grupo de tratamento temos os dois valores mais discrepantes. Estes dados levam à desconfiança de que algumas empresas que realizaram F&A podem ter tido muito sucesso e muito fracasso enquanto as do grupo controle se mantiveram mais estáveis. Já o DMARGEM apresenta uma média positiva para as empresas do grupo de tratamento e negativa para o grupo controle. Este dado nos leva a crer que as desconfianças deste trabalho de que as F&A melhoram a eficiência operacional das empresas serão confirmadas na análise econométrica. Já o maior desvio padrão e os valores máximo e mínimo mais discrepantes pertencem ao grupo de tratamento. Uma possível explicação para 26 isto é que a realização de uma F&A pode tanto aumentar muito como prejudicar a eficiência operacional das empresas. Com relação ao Market Cap é perceptível que a média para as empresas que realizaram F&A é muito maior em comparação com o grupo controle. O motivo para isto pode ser que muitas das empresas que decidem comprar outras são maiores ou já são até mesmo maduras, o que eventualmente pode leva-las a buscar outras formas de atuação como estratégia de crescimento. O desvio padrão do Market Cap é maior para as empresas do grupo de tratamento (aproximadamente 56 milhões) enquanto para o grupo controle esta medida chega a 4,5 milhões aproximadamente. Este resultado leva à desconfiança de que pode ser que as empresas adquirentes em operações de F&A não são substancialmente maiores, sendo assim possível que a compra de outra empresa possa ser uma estratégia também para empresas menores em busca de crescimento inorgânico. O valor máximo mais destoante pertence ao grupo de tratamento (430 milhões), o que pode ser consequência da falta de oportunidades de crescimento orgânico para empresas de grande porte pois muitas vezes elas já conquistaram uma parte muito grande do mercado e o crescimento assim depende da diversificação de atividades. Já o mínimo mais destoante pertence ao grupo controle (1,5 mil). Este dado é devido ao fato de que no grupo controle estão inseridas todas as empresas listadas em bolsa em cada ano, o que não significa que elas tenham um valor de mercado tão grande já que existem empresas que abrem capital para que possam crescer com ajuda de dinheiro de terceiros. 10 5 0 -5 -10 -15 Grupo Controle F&A Figura 2 – Média da variável DROIC por ano de cada grupo 27 Na Figura 2 acima podemos observar o comportamento da variável construída DROIC, ao longo do tempo, distinguido em grupo controle e grupo de tratamento, pela média da variável para todas as empresas de cada amostra, a cada ano. Através da análise deste gráfico, é evidente que o comportamento da média do DROIC das empresas do grupo controle ao longo dos anos é relativamente estável e que a partir de 2002 esta média vem sendo abaixo ou igual a zero. Esta observação leva à desconfiança de que, em média, as empresas deste grupo sofreram uma elevação no seu capital investido, seja através de uma maior dívida ou de uma elevação no seu Market Cap que não foi seguido de uma ascensão maior na sua receita operacional. Dentre os fatores que podem ter causado estes movimentos podem ser destacadas as seguidas mudanças no regime monetário brasileiro e as oscilações na economia mundial, que podem ter afetado a demanda por produtos nacionais. Já com relação ao comportamento desta variável para as empresas do grupo de tratamento, é perceptível que existe uma grande variância nas médias do DROIC ao longo do tempo. Desta forma, pode ser que as empresas se envolvam em operações de F&A buscando se desvincular da tendência negativa que as firmas do grupo controle enfrentam. No entanto, esta estratégia é mais arriscada de forma que pode piorar muito mais a rentabilidade da adquirente. 70 60 50 40 30 20 10 0 -10 -20 -30 Grupo Controle F&A Figura 3 – Média da variável DMARGEM por ano de cada grupo Ao observar o comportamento da média da variável DMARGEM ao longo dos anos discriminado por grupo, representado na Figura 3 acima, percebemos que para as empresas que compõem o grupo controle esta variável se manteve aproximadamente estável e próxima de zero. Já com relação ao grupo controle a média desta variável ao longo dos anos é 28 majoritariamente positiva e apresenta picos positivos em 2007 e 2010. A partir desta análise, passamos a desconfiar que muitas vezes a fusão ou aquisição de uma empresa gera melhorias operacionais para a empresa adquirente. Por fim, foi elaborada uma tabela de correlações entre as variáveis numéricas utilizadas no modelo, de acordo com a tabela 5 abaixo. Assim, foi encontrada uma baixa correlação entre a variável de controle Market Cap e as variáveis explicativas e uma correlação moderada entre as variáveis explicativas. Estes resultados levam à desconfiança de que, de alguma forma, as duas variáveis explicativas selecionadas têm uma tendência similar, ou que existem fatores que influenciam o comportamento de ambas as variáveis. Tabela 5 – Correlação entre as variáveis numéricas do modelo MKT CAP DROIC MKT CAP 1 DROIC -0,029 1 DMARGEM -0,006 0,328 DMARGEM 1 Fonte: Autor Nota: 0 a 0,3 positivo ou negativo: indica fraca correlação 0,3 a 0,7 positivo ou negativo: indica correlação moderada Acima de 0,7 positivo ou negativo: indica correlação forte 4.2- Análise Econométrica Com o objetivo de buscar evidencias estatísticas das desconfianças levantadas neste trabalho, de que a realização de uma F&A melhora o desempenho operacional e/ou a rentabilidade das empresas adquirentes, foi realizada uma análise econométrica, como explicado no ítem 3 da seção 3. Os resultados destas regressões se encontram nas tabelas 6 e 7 abaixo. Foram feitas quatro regressões. Duas delas tiveram como variável resposta o DROIC e para as outras duas a variável resposta foi o DMARGEM. O modelo 1 para ambos os casos é a regressão da variável resposta em função das variáveis de controle. Esta regressão foi feita para que fosse possível avaliar o grau de explicação das variáveis de controle selecionadas com relação à variável resposta. Já no modelo 2 foi adicionada à mesma regressão do modelo 1 a variável explicativa, que é a dummy que captura se a empresa realizou uma F&A ou não e, portanto, é a variável que ajuda a tirar as conclusões propostas neste estudo. Para possibilitar uma análise correta das regressões, foi feita uma análise dos resíduos a partir dos testes de homocedasticidade e normalidade dos erros. Para os modelos de variável 29 resposta DROIC o teste de White confirmou a homocedasticidade dos erros enquanto para os de variável resposta DMARGEM o teste mostrou evidências estatísticas de que os erros eram heterocedásticos. Por isso foi utilizada a correção de White e assim o modelo com a DMARGEM pode ser corretamente utilizado. No entanto, para todos os modelos o teste Jarque-Bera não confirmou a normalidade dos resíduos. Ao analisar o histograma dos erros pudemos perceber que a distribuição destes se assemelhava a uma distribuição t dado que a assimetria é estatisticamente igual a zero mas a curtose é estatisticamente maior do que 3, tendo assim maior peso nas caudas que a distribuição normal. Mesmo com este resultado, foi optado utilizar método de regressão MQO dado que não existe outro tratamento no qual seja suposto que os erros sigam uma distribuição t, além de que, o intuito do presente estudo é modelar a média do comportamento das variáveis, portanto não existem grandes falhas derivadas da aproximação adotada. Tabela 6- Resultados dos dois modelos econométricos para o DROIC DROIC Modelo 1 Modelo 2 Coeficiente Erro Padrão Coeficiente Erro Padrão Variáveis -3,343** 1,540 -3,314** 1,597 Constante 5,693*** 0,872 5,732*** 0,859 Dummy 1995-2000 3,788*** 0,859 3,832*** 0,848 Dummy 2001-2005 2,952*** 0,852 2,976*** 0,871 Dummy 2006-2010 0,341 0,580 0,325 0,604 Dummy Comércio e Serviços -0,427 0,573 -0,433 0,58 Dummy Indústria -0,037 0,087 -0,043 0,099 Log do Market Cap 0,148 0,876 Dummy de F&A 0,023 0,023 R² Fonte: Autor Nota: A significância está marcada com asteriscos: *p<0,1; **p<0,05; ***p<0,01 Os resultados das regressões em que a variável resposta utilizada foi o DROIC se encontram na tabela 6 acima. Através da análise dos resultados do modelo 1, é possível perceber que, estatisticamente, as variáveis de controle que capturam os anos em que as operações ocorreram são significantes, com 99% de confiança e as dummys que controlam o setor e o tamanho da empresa são estatisticamente insignificantes, até mesmo se considerarmos uma confiança de 90%. Assim temos que, as F&A completadas entre os anos de 1995 e 2000 geraram um aumento na rentabilidade das empresas adquirentes, em média, em 5,693 vezes, com relação às F&A ocorridas em 2011 e 2012, além disso, o fato de uma 30 F&A ter ocorrido entre os anos de 2001 e 2005 aumentou a rentabilidade das empresas analisadas, em média, em 3,788 vezes com relação às F&A ocorridas em 2011 e 2012 e, por fim, a ocorrência da F&A ter sido entre 2006 e 2010 aumentou a rentabilidade das empresas analisadas, em média, em 2,952 vezes com relação às F&A ocorridas em 2011 e 2012. A partir da análise dos resultados do modelo 2, representado na tabela 6, percebemos que o coeficiente da dummy de F&A é positiva porém é estatisticamente insignificante, o que impede a análise da intensidade deste coeficiente. Este resultado é contrário ao que era esperado dado que as desconfianças eram que as empresas adquirentes em operações de F&A conquistavam melhores rentabilidades. Tabela 7- Resultado dos dois modelos econométricos para o DMARGEM Variáveis Constante Dummy 1995-2000 Dummy 2001-2005 Dummy 2006-2010 Dummy Comércio e Serviços Dummy Indústria Log do Market Cap Dummy de F&A R² DMARGEM Modelo 1 Modelo 2 Coeficiente Erro Padrão Coeficiente Erro Padrão -0,114 2,678 -0,488 4,104 2,028 1,556 3,815 3,102 0,018 1,546 1,71 3,088 0,59 1,525 5,037 3,572 -0,567 0,856 0,457 1,698 -0,961 0,875 -2,284* 1.346 -0,018 0,137 -0,172 0,155 15,393*** 3,397 0,003 0,036 Fonte: Autor Nota: A significância está marcada com asteriscos: *p<0,1; **p<0,05; ***p<0,01 Já na tabela 7 temos os resultados das regressões em que o DMARGEM é a variável resposta. A partir da observação dos resultados do modelo 1, concluímos que nenhuma das variáveis de controle selecionadas explicam o comportamento da variável DMARGEM construída de forma a capturar as variações da Margem EBITDA. No entanto, no modelo 2 o coeficiente da dummy de F&A é estatisticamente significante, com 99% de confiança e, de acordo com o modelo utilizado, o fato de uma empresa ter sido adquirente em uma operação de F&A aumenta, em média, 15,393 vezes a sua eficiência operacional em comparação com as empresas que não foram adquirentes em F&A. 31 Desta forma, obtivemos evidências estatísticas de que a aquisição de uma empresa é benéfica para as operações da empresa, de forma que ela se torna mais produtiva e assim pode ter mais capacidade de diversificação e crescimento das atividades. 32 5. Conclusão No mercado brasileiro, as operações de F&A vêm tomando cada vez mais espaço e têm representado uma estratégia importante para diversas corporações. Em torno de 2007, principalmente, estas operações tiveram um alto crescimento, sendo este o principal motivo das indagações com relação à efetividade destas operações em gerar melhorias para as empresas brasileiras. A literatura sobre o assunto é vasta para os mercados desenvolvidos como Estados Unidos e Europa, no entanto, para países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, ainda existe uma lacuna que precisa ser preenchida. Desta forma, o presente estudo pretende contribuir para a literatura escassa sobre as melhorias no desempenho de F&A entre empresas brasileiras. Neste trabalho, com o intuito de investigar o impacto das F&A no desempenho das empresas brasileiras adquirentes nas operações, foi proposta uma metodologia que, através da elaboração de variáveis que capturaram a variação do ROIC e da Margem EBITDA, um ano antes e 2 anos depois da operação, foi possível determinar se houve um ganho de rentabilidade e/ou eficiência operacional após a empresa realizar uma aquisição nacional. A amostra utilizada contempla dados de 1994 até 2014, enquanto as operações estudadas são de 1995 até 2012. Assim foi possível a realização de 4 regressões. Os resultados encontrados foram que, a aquisição de outra empresa não interfere na rentabilidade das corporações, já que no modelo a variável resposta se mostrou insignificante. Já com relação à eficiência operacional, foi encontrado que a realização de uma F&A gera uma melhora neste quesito, resultando em um aumento na Margem EBITDA. Este resultado contribui para a tomada de decisão gerencial de forma que, a partir dele, gestores têm evidências da melhoria operacional gerada pela F&A. Ainda que não pode ser encontrada nenhuma relação entre o fato de a empresa ter realizado uma F&A e o comportamento da sua rentabilidade, não significa que o modelo tenha sido equivocado. O que ocorre é que o Market Cap das firmas é muito afetado por fatores externos como por exemplo a taxa de juros vigente no país ou a situação econômica mundial, fatores estes que não puderam ser precisamente controlados dado a escassez de dados que levou à necessidade de agrupamento dos anos em grupos mais abrangentes. 33 Inevitavelmente, este estudo contem certas limitações. A principal delas é que as F&A começaram a ocorrer no Brasil há pouco tempo e a quantidade de negócios ainda não é significativa, além de que o estudo se restringiu a empresas de capital aberto dada a impossibilidade de obtenção de dados de empresas de capital fechado, de forma que a amostra de dados utilizada ainda é pequena. Ademais, segundo Zollo e Meier (2008), devem ser utilizadas uma pluralidade de medidas de desempenho de forma a capturar as diversas dimensões teóricas que permeiam cada operacionalização. Dessa forma, a utilização de apenas duas variáveis de desempenho pode ter restringido o estudo. Posto isto, uma sugestão para futuros trabalhos sobre o assunto é a utilização de mais variáveis de desempenho, de forma a capturar diferentes dimensões operacionais das empresas e, desta forma, obter mais evidências de quais variáveis são afetadas pelas F&A. Outra recomendação para próximos trabalhos é a inclusão de variáveis micro da empresa que afetam seu desempenho financeiro, como foi elaborado por Bortoluzzo, Garcia, Boehe e Sheng (2013). 34 Referências Bibliográficas BORTOLUZZO, A.B.; GARCIA, M.P.S.; BOEHE, D.M.; SHENG, H.H. Desempenho de Fusões e aquisições cross border: análise empírica do caso brasileiro. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 54, n. 6, p. 659-671, 2014. CAMARGOS, M.A.; BARBOSA, F.V. Fusões e Aquisições de Empresas Brasileiras: Criação de Valor e Sinergias Operacionais. Revista de Administração de Empresas, v. 49, n. 2, p. 206-220, 2009. 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