Estevão Xavier UDIP-HRAS/SES/DF www.paulomargotto.com.br Brasília, 29/10/2012 Definições Veneno: Qualquer tipo de substância tóxica, sólida, líquida ou gasosa, que possa produzir qualquer tipo de enfermidade ou lesão, ou alterar as funções do organismo ao entrar em contato com um ser vivo, por uma reação química com as moléculas do organismo. Definições ANIMAL PEÇONHENTO Possui veneno e um aparelho inoculador (presa ou ferrão) de veneno. Peçonhentos: são exclusivamente de origem animal ANIMAL VENENOSO Possui substância tóxica na sua constituição e intoxica quem o ingerir. Venenoso: pode ser de origem animal, vegetal ou mineral Serpentes Brasileiras Importância clínica: Família Viperidae ○ Gênero Bothrops (jararaca) ○ Gênero Crotalus (cascavel) ○ Gênero Lachesis (surucucu) Família Elapidae ○ Gênero Micrurus (coral) Peçonhenta ou Não? Não existe regra mundial para diferenciação; Todas as cobras BRASILEIRAS que possuem fosseta loreal são peçonhentas; Vamos identificar pela cabeça… Cauda Serpentes Brasileiras Serpentes Aparelho inoculador Não peçonhentas: ○ Dentição Áglifa (ausência de peçonha); Peçonhentas: ○ Dentição Opstóglifa (peçonha posterior); ○ Dentição Proteóglifa (peçonha anterior sulcada); ○ Dentição Solenóglifa (peçonha anterior canaliculada); Serpentes não peçonhentas Áglifas Dentes maciços sem diferenciação Áglifas Jibóia Sucuri Serpentes Peçonhentas Opstóglifas Par de dentes diferenciados e sulcados; Região posterior do maxilar superior; Serpentes Peçonhentas Opstóglifas Cobra cipó (Philodryas olfersii) ○ Veneno com atividade local semelhante ao botrópico; sem efeitos sistêmicos; ○ Acidentes raros. Sem soro específico. Serpentes Peçonhentas Proteóglifas Dentição anterior e superior não retrátil; Sulcos mais acentuado que as Opstóglifas; Todos da família Elapidae Proteóglifas Solenóglifas Peçonha anterior, móvel e canaliculada; Víboras; Solenóglifas Epidemiologia Cerca de 20000 acidentes anuais Sexo: masculino Idade: 15 a 49 anos Procedência: zona rural Local da picada: Membros inferiores Horário: Diurno Gênero: Bothrops Epidemiologia Tipo de acidente: Botrópico: mais frequente (80 a 90%) ○ Presente em todo território nacional; ○ Agressividade; Crotálico (aprox. 8%) ○ Presente em praticamente todo território; ○ Pouca agressividade (guizo - alerta); Laquético (1 a 2% - números duvidosos): ○ Mata fechada e atlântica; ○ Pouco contato com humanos; Micrúrico (aprox. 0,4%) ○ Não agressivos; ○ Dificuldade na mordedura; Área de cascavel Área de Jararaca Acidente Botrópico Acidente Botrópico Identificação da Cobra Toda jararaca tem um “V” invetido no corpo; Toda jararaca tem fosseta loreal; Toda jararaca tem cauda lisa; Acidente Botrópico Não consegui identificar a cobra… A cobra não veio… Quadro Clínico: Sintomas locais: ○ Dor e edema precoces ○ Equimoses, flictena, sangramentos ○ Síndrome compartimental (isquemia por edema) ○ Abscesso ○ Necrose Sintomas locais Acidente Brotópico Sintomas sistêmicos: Gengivorragia Hematêmese Choque Hematúria Insuficiência renal: ○ Ação direta do veneno nos rins; ○ Isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos capilares; ○ Choque CD: Não sei qual é a cobra, o paciente está “estável”, portanto não iniciei o tratamento… Opto por fazer um torniquete, analgesia e discutir com o staff amanhã de manhã… Acidente Botrópico Mecanismo de ação (veneno) Proteolítico (patogênese complexa) ○ Atividade de proteases, hialuronidases e fosfolipases ○ Liberação de mediadores da resposta inflamatória ○ Ação das hemorraginas no endotélio ○ Ação pró-coagulante Acidente Botrópico Mecanismo de ação (veneno) Coagulante ○ Converte o fibrinogênio em fibrina (não adianta usar vitamina K); Acidente Botrópico Mecanismo de ação Hemorrágico ○ Ação de hemorraginas (provocam lesão na membrana basal dos capilares); ○ Plaquetopenia (consumo); ○ Alterações na coagulação; ○ Mais comum em vítimas de jararaca jovem; Acidente Botrópico Não retarde o tratamento!!! Na dúvida, inicie o soro polivalente (botrópico/laquético); Avaliar necessidade de ATB Germe mais comum: ○ Morganella morganii (gram negativo) Vacinação antitetânica Ferimento punctório; Pior prognóstico: Chegada após 6h da picada. Acidente Botrópico Exames complementares Tempo de Coagulação (viés do examinador); Hemograma; Ur, creat, eletrólitos, CK, CKMB, DHL; EAS Acidente Botrópico Tratamento: Geral ○ Membro elevado ○ Analgesia ○ Hidratação Específico ○ Soro antibotrópico (SAB); ○ Soro antibotrópico-crotálico (SABC); ○ Antibotrópico-laquético (SABL) Tratar complicações locais ○ Sind. Compartimental: Faciotomia; ○ Drenar abscessos; ○ Debridar áreas necrosadas. Acidente Botrópico Drogas pré-soroterápicas (controverso) Aprox.15 minutos antes do início da soroterapia; Antagonistas H1; Antagonistas H2 (cimetidina 10mg/kg ou ranitidina 3mg/kg); Hidrocortisona 10mg/kg (máx 100mg); Questões… Se o TC permanece alterado no dia seguinte a infusão do Soro… Repetir 2 ampolas e reavaliar; Não adianta infundir vitamina K Diluição do Soro??? Se o paciente apresentar anafilaxia/choque anafilático durante a infusão do soro… Suspender infusão Tratar a anafilaxia Retornar o tratamento heterólogo após. Questões… Acidente crotálico Acidente crotálico Identificação da cobra Toda cascavel tem fosseta loreal Toda cascavel tem um guizo na cauda Apresenta “desenhos” de losangos escuros e cores claras na margem; Acidente Crotálico Não identifiquei a cobra…mas olha a cara do sujeito: Acidente Crotálico E ele urinou… Acidente crotálico Veneno Miotóxico (mioglobina) Neurotóxico ○ Ação pré-sináptica: inibe a liberação da acetilcolina bloqueio neuromuscular Coagulante Crotoxina – Crotamina – Convulxina – Enzima do “tipo trombina” Acidente Crotálico Quadro Clínico Local ○ Ausência ou discreta dor local ○ Sem edema ou equimoses; Geral ○ Mal estar, vômitos, sudorese, secura na boca; Neurológico ○ Face miastênica (fácies neurotóxica de Rosenfeld); ○ Oftalmoplegia ○ Diplopia ○ Paralisia velopalatina – dificuldade de deglutição Acidente Crotálico Manifestações sistêmicas Musculares ○ Mialgia ○ Rabdomiólise: Lesão direta da fibra (mioglobina – mioglobinúria) Distúrbios da Coagulação ○ Aumento do TC ○ Incoagulabilidade sanguínea Insuficiência renal aguda – necrose tubular nas primeiras 48h (ação direta do veneno ou da mioglobina) Acidente Crotálico Exames Complementares Hemograma TC (viés do examinador) CK, DHL TGO, TGP Uréia, creat, Eletrólitos EAS Acidente Crotálico Tratamento Geral ○ Hidratação adequada: prevenir IRA ○ A diurese osmótica pode ser induzida com manitol ○ Oligúria persistente: diuréticos de alça (furosemida) ○ Alcalinização da urina (NaHCO3 parenteral): evita precipitação intratubular de mioglobina; ○ Vacina anti-tetânica; Específico ○ Soro anticrotálico, antibotrópico-crotálico (SABC). ○ Pré-soroterapia Prognóstico ○ Bom nos leves e moderados e naqueles atendidos até 6h após picada. ○ Nos graves: depende do grau da IRA. Acidente Laquético Acidente Laquético Identificação da cobra: Toda Surucucu tem fosseta loreal Toda Surucucu tem escamas eriçadas na cauda, a qual termina com um anexo dérmico (“ponta de osso”) Maior cobra venenosa das américas (pode chegar a 3,4m). Possue “losangos escuros”, sem margem clara. Acidente Laquético Acidentes raros na literatura (pouco documentados); Serpente de grande porte: Não existe acidente leve: sempre moderado ou grave; Animal tende a “docilidade”; ataca se ameaçado; Acidente Laquético Quadro clínico Dor fortíssima e repercussão hemodinâmica (hipotensão) em 20 minutos!!! Local: Semelhante ao botrópico Sistêmico ○ Semelhante ao botrópico ○ Síndrome compartimental não é comum; ○ Tríade clássica (“síndrome vagal”) Hipotensão (bradicardia) Vômito Diarréia (dor abdominal); Acidente Laquético Veneno laquético (proteolítico, neurotóxico, hemorrágico): Atividade ativadora do plasminogênio Atividade coagulante do tipo trombina-simile Ação hemorrágica (hemorraginas); Ação inflamatória (Metaloproteinases); Ação proteolítica (proteases) Ação miotóxica (fosfolipases) Ação desfibrinante (geração de trombina ou ação direta sobre o fibrinogênio); Ação do tipo cininogenase (hipotensiva) Ação de peptídeos potenciadores da bradicinina (impedem a metabolização da bradicinina e a conversão da angiotensina I em II – choque) Ação neurotóxica (bloqueio neuromuscular): face miastênica, disfagia. Acidente Laquético Exames complementares Tempo de Coagulação (viés do examinador); Hemograma; Ur, creat, eletrólitos, CK, CKMB, DHL; EAS Acidente Laquético Tratamento Geral ○ Hidratação Venosa ○ Atropina: agente parassimpaticolítico bradicardias (FC < 60 bpm) sintomáticas BAVs sintomáticos Pode impedir a parada cardíaca (crianças 0,02 mg/kg até 5-5 minutos) ○ Drogas vasoativas; ○ Vacina anti-tetânica; Específico ○ Soro antilaquético (SAL) ou antibotrópico-laquético (SABL). ○ 10 a 20 ampolas. ○ Pré-soroterapia Acidente Laquético Acidente Micrúrico Acidente Micrúrico Identificação da cobra Não possui fosseta loreal Corpo ornado de anéis geralmente amarelo e preto e vermelho; Micrurus frontalis e Micrurus corallinus Difícil diferenciação entre “falsa”e “verdadeira” (algumas espécies de coral verdadeira são desprovidas de anéis vermelhos); Mesma família das Najas e da Taipan; Acidente Micrúrico Ditos populares “Vermelho com amarelo perto, fique esperto. Vermelho com preto ligado, pode ficar sossegado” “Anéis completos em volta do corpo: verdadeira...” Acidente Micrúrico Coral verdadeira: olho com diâmetro menor ou igual à distância entre o olho e a abertura bucal, e ausência da escama loreal Acidente Micrúrico Acidente Micrúrico Falsa coral: olho com diâmetro maior que a distância entre o olho e a bucal, e presença da escama loreal. Acidente Micrúrico Quadro clínico Local: ○ Parestesia Sistêmico ○ Vômitos ○ Facies miastênica: ptose palpebral, flacidez dos músculos da face, oftalmoplegia. ○ Turvação visual, diplopia, miose/midríase ○ Dificuldade para deglutição (paralisia do véu palatino). ○ Ausência de mialgias (diferente do crotálico); Acidente Micrúrico Acidente GRAVE!!!!! Complicação comum: Insuficiência respiratória Paralisia flácida da musculatura respiratória compromete a ventilação; Acidente Micrúrico Exames laboratoriais Inespecíficos Não há alteração no TC. Acidente Micrúrico Veneno: Neurotóxico Ação pós-sináptica ○ NTXs competem com Ach pelos receptores colinérgicos da junção neuromuscular: semelhante ao curare; ○ Responde a neostigmina (prolonga a vida média do neurotransmissor – melhora rápida da sintomatologia) ○ M. frontalis Acidente Micrúrico Veneno: Neurotóxico Ação pré-sináptica ○ Atuam na junção neuromuscular, bloqueando a liberação de Ach pelos impulsos nervosos, impedindo a deflagração do potencial de ação (presente na cascavel sulamericana); ○ Não é antagonizado pelas substâncias anticolinesterásicas. ○ M. coralliunus Recapitulando... Recapitulando… Recapitulando identificação... Recapitulando identificação... Erythrolamprus aesculapii