DIÁRIO I N F O R M AT I V O D A S T U C A N O B A N C A D A S D O P S D B N º 1124, S E X T A – F E I R A , 15 D E A G O S T O N A C Â M A R A E N O S E N A D O D E 2 0 0 8 – EDIÇÃO ESPECIAL n Entrevista n Sensação é que não há controle sobre a polícia, diz FH Em entrevista à “Rádio Tucana”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que o Brasil vive hoje uma sensação de que não há controle sobre a polícia, de que tudo vale e de que existe corrupção. Para o tucano, isso representa um risco para a democracia. Na opinião do presidente do honra do PSDB, o uso de algemas, quando não há risco de fuga, é somente para desmoralizar. FH considerou uma provocação da Polícia Federal voltar a usar algemas depois de decisão contrária do Supremo Tribunal Federal. E disse ser um absurdo que haja 450 mil celulares grampeados sob o pretexto de que houve autorização judicial. INTERFERÊNCIA POLÍTICA Fernando Henrique comparou o governo Lula a um cupim que está deixando oco um arcabouço institucional deixado por seu governo em virtude da interferência política nas instituições. Exemplo disso, segundo o ex-presidente, são as agências reguladoras. Segundo FH, “elas estão aí mas são penetradas de interesses políticos, de nomeações partidárias”. FH comenta também que o próximo presidente pode herdar um país com muita dificuldade e ser obrigado a fazer um aperto nas contas públicas se o governo Lula continuar aumentando os gastos correntes. Com a expectativa de que o cenário econômico mundial pode piorar até lá, o tucano diz que Lula poderá deixar uma herança pesada para o próximo governo. Mas ressaltou: ainda dá tempo de se frear os gastos. Em relação ao futuro do PSDB e da oposição, Fernando Henrique acredita que ambos vão sair muito bem nas próximas eleições. E o número de prefeitos que o PSDB e o PT conseguirem eleger nas capitais do país será um bom indicador do pulso que os dois partidos terão nas eleições de 2010. E adverte: “Não convém cantar vitória antes da hora”. Veja a íntegra da entrevista: Que reflexo o senhor acha que a desaceleração da economia mundial pode ter para o Brasil a curto, médio e longo prazos? Espero que o Brasil sobreviva bem a essa crise que está ocorrendo Ampliação de no mundo porque ela é séria. gastos pode Algumas consequências nós levar próximo sofreremos. No curto prazo teremos presidente a reflexos com as oscilações nas herdar uma bolsas. Isso poderá afetar nosso equilíbrio na valorização das herança transações correntes. Significa que pesada, avisa. o Brasil já está no negativo, ou seja, todo recurso que entra no Brasil já está sendo gasto. A médio prazo, com a questão do valor das commodities, ou seja, com o aumento dos preços internacionais dos alimentos, a balança comercial dificilmente terá um superávit muito grande, o que agrava a situação das transações correntes. Isso implica que teremos em um futuro próximo dificuldades nas exportações em geral, com o real muito valorizado, devido à queda na taxa do câmbio. Além, é claro, de alguma pressão sobre a inflação. Que cenário o próximo presidente irá encontrar? Se o governo atual continuar ampliando muito os gastos públicos sem prestar atenção no que vai acontecer lá na frente, acho que o próximo presidente irá encontrar muitíssimas dificuldades. Terá que fazer um aperto nos gastos que este governo ainda não fez. Como o quadro geral mundial estará pior do que o atual, será uma herança pesada para o próximo governo. Ainda há tempo de se frear os gastos correntes. A taxa de investimento é baixa no Brasil, o investimento público continua baixo, apesar de todas as propagandas do PAC – que eu chamo de Plano de Aceleração da Comunicação, porque mais fala do que faz. Nós temos problemas de infra-estrutura, problemas nos portos e problemas de geração de energia, que já está atrasada. Enfim, o próximo governo encontrará muitas dificuldades. Mas como sou otimista, ainda tenho esperança de que algo seja feito nestes próximos dois anos e que a carga para o próximo governo não seja demasiadamente pesada. Durante o seu governo foram propostas e criadas várias leis que garantiram um arcabouço institucional e a estabilidade econômica do país, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Copom, o sistema de metas de inflação e as agências reguladoras. Na sua avaliação, o atual governo soube aproveitar estes instrumentos para garantir o crescimento do país? Precariamente. O atual governo aproveitou e soube surfar bem a onda de um bom momento da economia global e no início, sobretudo quando o [Antonio] Palocci era o ministro da Fazenda, houve uma política responsável do ponto de vista macroeconômico, mas não houve um avanço significativo nas reformas, que ficaram paralisadas. Então, acho que o governo surfou uma onda mas não criou outra. Quer dizer, terminada essa onda favorável ainda presente, não há nada que tenha sido preparado pelo atual governo que possa garantir um futuro mais tranqüilo. Por outra parte, se o arcabouço está aí, o governo atuou como um cupim. Ele foi deixando oco por dentro esse arcabouço. Veja o exemplo das agências regulatórias: elas estão aí, mas são penetradas de interesses políticos, de nomeações partidárias. Então, as instituições estão esvaziadas e isso será muito difícil para ser recomposto num futuro governo. Para tucano, governo Lula age como um cupim, deixando oco o arcabouço institucional. e-mail: [email protected] - site: www.psdb.org.br - blog do PSDB na Câmara: www.blogpsdb.com.br DIÁRIO TUCANO n 15 de agosto de 2008 2 n Entrevista/Fernando Henrique Cardoso (continuação) n as prisões feitas pela PF no Mato Grosso, onde muita gente saiu algemada. Isso foi necessário? O que ocorreu no Mato Grosso foi uma provocação. A Polícia Federal desrespeitou a decisão do Supremo Tribunal Federal quanto ao uso de algemas. O STF determinou que algemas sejam utilizadas apenas quando houver perigo de fuga. Não havendo isso, a utilização das algemas é somente para desmoralizar. Isto é inaceitável. Também acho um absurdo que haja 450 mil celulares grampeados sobre o pretexto de que foi com a autorização do judiciário. Isto realmente preocupa. Não quero caracterizar que haja no país um estado policialesco, mas há momentos em que ficamos com a sensação de que não há controle sobre a Polícia. Eu espero que as outras instituições estejam ativas para evitar que entremos de fato em qualquer estado As notícias de que o presidente Lula tem tentado policialesco. influenciar a condução da política de juros não demonstram A atuação da PF é importante e necessária. Diga-se de passagem uma interferência indevida? que o trabalho dela melhorou, está mais eficiente. Mas isto não é razão Sem dúvida alguma, demonstra interferência para que a PF apareça na televisão como um espetáculo indevida. O governo atual jamais aceitou as agências e que mostre sua eficiência muito mais para as câmaras Descrença regulatórias, que o Banco Central pudesse funcionar do que nos autos. Porque quando os autos não são bem popular nas de acordo com regras que lhe são próprias. É um feitos a Justiça anula os resultados. E daí vem o instituições governo que interfere, ou seja, a política cruza tudo. pensamento de que houve marmelada, mas a Justiça A política é muito importante, deve definir as muitas vezes anula um processo porque foi malfeito. representa um estratégias, os rumos do país, mas, no dia-a-dia, Acho que a PF precisa aumentar sua eficiência na prática risco para a quando a política cruza tudo, acaba havendo e não no espetáculo. democracia e interferência indevida. abre espaço para Estamos próximos às eleições municipais. Como arbitrariedades, Isso levaria o Banco Central ao descrédito? o senhor acha que o PSDB e a oposição, como um alerta FH. Qual o risco disso acontecer? todo, vão sair deste pleito? Até agora o Banco Central tem atuado com Acho que o PSDB e a oposição vão sair muito bem relativa autonomia apesar das pressões que vem, nas próximas eleições, principalmente nas capitais e sobretudo, não tanto do presidente Lula, mas do Ministério da grandes cidades, que é onde se forma uma opinião pública mais Fazenda. Espero que se mantenha, mas se não se mantiver, aí vamos independente. Vamos esperar. Não convém cantar vitória antes da hora. ter efetivamente quadro inflacionário mais perigoso. Aguardaremos os resultados e veremos quantos prefeitos de capital o PT irá fazer e quantos nós faremos. Aí sim será um bom indicador. E O senhor avalia que as agências reguladoras sofreram poderemos medir nosso pulso para as eleições de 2010. muita influência política neste governo. Mas elas estão cumprindo o papel a que foram destinadas? O senhor acha que há um desrespeito geral às instituições? Certamente, não. Elas foram destinadas a ter um papel de A população hoje tem uma sensação de que tudo vale, menos garantia do bem-estar do consumidor e também do contrato dos para o povo, para o pobre. Então, há uma sensação de impunidade, investidores. Elas estão sofrendo a influência direta dos ministérios, uma sensação de que existe corrupção. Isso é um risco sim porque o da Casa Civil, atropelando, colocando o carro na frente dos bois. maior risco para as instituições é a descrença popular. Quando o povo Veja o que está acontecendo no caso da Oi com a Telemar. Eu não não acredita que as instituições funcionem, eles descrêem da quero discutir se o negócio é bom ou é ruim. Pode ser até bom, democracia como forma de governo. E ao descrer da democracia, abre depende como você analisa. Mas agora se está modificando a lei espaço para mais arbitrariedades. Então, estamos num quadro do geral de comunicações já com o pressuposto de que vai ser possível ponto de vista institucional preocupante. diminuir a concorrência no território, houve uma interferência política clara, o que não me parece correto. A imprensa noticiou que o presidente Lula queria convidálo para um jantar. Este convite já foi feito? Ainda sobre as instituições, como o senhor vê a situação Nunca foi feito. Ele sempre diz isso, mas nunca concretiza. Como todo do país com as recentes prisões feitas pela Polícia Federal? O o Brasil sabe, tenho relações pessoais boas com o presidente Lula, normais. senhor acredita que este tipo de ação pode indicar que o Brasil Então, não acho que seja necessário que o jornal fique dizendo que vou está entrando num estado policialesco? Um exemplo disso foram almoçar ou vou jantar quando, na verdade, não existe convite algum. EXPEDIENTE E no que se refere à política de juros, como o senhor analisa a recente alta? Eu acho que a alta, no momento que foi tomada a decisão, era necessária. Agora ela foi necessária porque não houve contenção da expansão do gasto público, ficando só por conta do Banco Central o controle da inflação. O BC não tem outro instrumento senão aumentar os juros. É preciso que o governo colabore também reduzindo o gasto fiscal, e isso não está sendo feito. Agora como parece que a pressão inflacionária, sobretudo dos produtos de alimentação, ficou um pouco menor, quem sabe o Banco Central não impõe ainda mais altas taxas de juros, o que acarretará, evidentemente, redução da taxa de crescimento. Câmara dos Deputados - Anexo II, sala 130 CEP 70160-900 Brasília (DF) Telefone: (61) 3215-9351 Fax: (61) 3215-9350 Líder da bancada na Câmara: dep. José Aníbal (SP) Líder da bancada no Senado: sen. Arthur Virgílio (AM) Presidente do PSDB: sen. Sérgio Guerra (PE) Secretário-geral: dep. Rodrigo de Castro (MG) Presidente do Instituto Teotônio Vilela: dep. Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES) Assessoria de Imprensa: Juliana Alvim Jornalistas do Diário Tucano e da Agência Tucana: Ana Carolina Oliveira, Bruno Santa Maria, Gabriel Garcia, Marcos Côrtes e Rafael Secunho Diagramadores: Marco Caetano e Francisco Maia Produção: Beatriz Ramos (assessoria de plenário), Fernanda Azevedo e Eliane Oliveira A equipe do Diário Tucano é responsável pela Agência Tucana Fotos: Paula Sholl e-mail: [email protected] - site: www.psdb.org.br - blog do PSDB na Câmara: www.blogpsdb.com.br