Gêneros Textuais I Gêneros da ordem do RELATAR Gêneros Discursivos Segundo M. Bakhtin, os gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados produzidos pelas mais variadas esferas da atividade humana. Gênero e discurso consistem em esferas da linguagem verbal ou da comunicação verbal fundada na palavra. Gêneros Discursivos “A riqueza e a diversidade dos gêneros discursivos é imensa porque as possibilidades da atividade humana são inesgotáveis e porque em cada esfera da práxis existe todo um repertório de gêneros discursivos que se diferencia e cresce à medida que se complexifica a própria esfera.” (Bakhtin, M.) Gêneros discursivos Assim, existem diversas designações para os variados gêneros, podendo-se afirmar que são ilimitados. São exemplos de gêneros: carta comercial, editorial, artigo de opinião, romance, conto, resumo, relato, notícia, entrevista, e-mail, entre inúmeros outros. Gêneros Discursivos De acordo com Tzvetan Todorov, os gêneros originam-se simplesmente de outros gêneros. Um novo gênero é sempre a transformação de um ou de vários gêneros antigos. Um discurso é sempre um ato de fala e a diferença entre um ato de fala e outro e, consequentemente, de um gênero e outro situa-se em qualquer nível do discurso: semântico, temático, sintático, fonético etc. Gêneros Discursivos Todorov ensina que os gêneros provêm, como qualquer ato de fala, da codificação das propriedades discursivas. Exemplos da diferença entre gêneros e atos de fala: Rezar (ato) – prece (gênero) Contar (ato) – conto (gênero) Gêneros Discursivos Bakhtin leciona que os gêneros surgem da esfera prosaica da linguagem e incluem toda a sorte de diálogos cotidianos, bem como enunciações da vida privada, pública, artística, científica, filosófica etc O gênero se funda na capacidade de compreensão do homem na sua vida comunicativa e não pode ser pensado fora da dimensão espácio-temporal. RELATAR Estudaremos, a seguir, 2 gêneros da ordem do RELATAR: Apresentação pessoal e relato pessoal: requerem habilidade de relatar experiências pessoais, exigindo um posicionamento do sujeito frente ao mundo. Texto de apresentação pessoal Gênero textual em que o autor se apresenta ao leitor; Usa a narração como tipologia textual básica; Utiliza a primeira pessoa do discurso; Utilização linguagem culta, mas comum; Estrutura-se em apresentação, corpo e fechamento. (in Köche, V.S. et al : Estudo e produção de textos.) EXEMPLOS DE APRESENTAÇÃO PESSOAL Apresentação pessoal para um BLOG Olá pessoal, meu nome é Lilian moro em Jaú. Sou formada em Ciências Biológicas e Pedagogia, tenho especialização em "As questões ambientais e saúde pública", leciono há 14 anos as disciplinas de ciências, biologia, matemática, química e física. No segundo grau com as aulas de biologia descobri minha verdadeira paixão a biologia, foi então que decidi fazer faculdade de Ciências Biológicas. Como não tinha faculdade de Ciências Biológicas em Jaú optei por fazer em Bauru na Universidade do Sagrado Coração. Desde a minha graduação me interessei por lecionar e no terceiro ano de faculdade resolvi pegar algumas aulas de biologia e lecionar nas escolas estaduais de Bauru e então descobri minha outra paixão a de lecionar. (http://1234matematica.blogspot.com.br/2013/06/apresenta cao-pessoal-e-experiencias-com.html) Apresentação pessoal em discurso de posse DISCURSO DE POSSE DO DR. JOSÉ RIBAMAR SERRA NO CARGO DE JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO (18/11/2011) "Eminente Desembargador Presidente desta Corte, Excelentíssimos Senhores Desembargadores, Senhores Juízes, servidores, senhoras e senhores, hoje é dia de alegria e satisfação, vez que estamos registrando na página da justiça a vitória de uma luta travada há 08 anos. Sou filho de lavradores e pessoas que não tiveram a sorte de frequentarem os bancos escolares, no entanto, os meus pais sempre tiveram a preocupação em dar o saber para os seus 07 filhos. Em outubro de 1968 provocaram êxodo rural, onde saíram da roça e vieram para a cidade grande, para cá nada trouxeram e aqui nada tinham, mais trouxeram dentro do seu cofo a certeza que conduzia suas alfalias, a esperança de que dias melhores conseguiram pra os seus filhos. Aqui chegando meus pais fizeram de tudo para criarem os seus filhos, o meu pai por não ter profissão passou a ser trabalhador braçal, e minha mãe passou a trabalhar de lavadeira para contribuir com as despesas domésticas. Da mesma forma, desde pequeno passei a trabalhar para contribuir no orçamento domestico, bem como prover o próprio sustento, sempre estudei à noite, sendo inclusive aluno do MOBRAL. Trabalhei de tudo, fui vendedor de picolé, feirante, vendedor de carvão, até lavei sepulturas no cemitério do gavião para ganhar o sustento de forma digna e honesta. No ano de 1976 conheci uma pessoa que mudaria toda a minha vida, esta pessoa foi o Dr. Francisco de Assis Barros Carvalho, que nunca me deu nada de graça, mas me deu o que é de mais sagrado em uma pessoa humana, ou seja, me deu respeito, dignidade e oportunidade de emprego. Comecei a vida profissional como empregado doméstico na casa do Dr. Francisco Carvalho, depois fui promovido para o seu escritório como contínuo, e lá chegando, passei a cumprir as tarefas diárias, e estudando à noite. No primeiro dia de trabalho no escritório do Dr. Francisco Carvalho, este me apresentou para o seu colega de trabalho o Dr. João Batista Rodrigues, que nos honra com a vossa presença juntamente com a sua família, e me disse: “Seu Ribamar este escritório é uma escola, e você só sairá daqui doutor” Nobre amigo, colega, e por que não chamálo de pai, as suas palavras foram proféticas, vez que ao longo dos 33 (trinta e três) anos que trabalhei no seu escritório, este local realmente sempre se apresentou como uma escola não para mim, como também para outras pessoas que por lá passaram. Meu amigo Dr. Francisco Carvalho, estou saindo do seu escritório não como doutor, mas como uma pessoa com formação critica e superior, e um trabalhador de mão-deobra qualificada, preparado para exercer o sacerdócio da judicância. Estou entrando para a magistratura do Estado do Maranhão, com o propósito de prestar bons serviços aos jurisdicionados e a sociedade em geral. Estou com o coração partido em razão dos meus pais não poderem assistir a vitória dos seus sacrifícios, vez que o meu genitor já é falecido, e a minha mãe se encontra em estado vegetativo devido à enfermidade degenerativa. Se a minha aprovação tivesse ocorrido no ano de 2003, com certeza os meus pais teriam o direito assistir o resultado de um sacrifício feito desde o ano de 1968. Assim, fico na certeza de que estou preparado para exercer a espinhosa função de julgar os meus semelhantes dentro dos princípios da justiça e legalidade. Obrigado a todos.“ (www.forumconcurseiros.com) RELATO PESSOAL Narra uma experiência vivida; Utiliza a narração como tipologia textual de base; Emprega o pretérito perfeito, o imperfeito ou o presente histórico; Linguagem culta, porém comum normalmente; RELATO PESSOAL Divide-se em quatro partes: Apresentação: situa o leitor a respeito dos fatos que serão narrados no tempo, no espaço e apresentam-se as personagens; Complicação: apresenta um fato que quebra o equilíbrio no desenrolar das ações RELATO PESSOAL Resolução: revela o desfecho da complicação; Avaliação: expõe a avaliação do narrador a respeito dos fatos narrados e a repercussão desses fatos em sua vida. (Köche, textos.) IV. S. et al : Estudo e produção de Exemplo de Relato Pessoal Primeiras intenções, escrito por Fabrício Carpinejar (poeta e escritor) http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI6687 7-15563,00-POR+QUE+SOU+ESCRITOR.html Tenho pais escritores. O óbvio é deduzir que me tornei escritor para seguir o exemplo dos dois. Não é errado, mas também não é certo. Há alguém no meio que me aproximou da literatura. Meu irmão Rodrigo. Ele era letrista de uma banda de amigos e explorava a poesia com voracidade. Não sei se lia poesia para seduzir as mulheres ou a poesia o seduzia para seduzir as mulheres. A ordem dos fatores não alterava a cantada. Os entardeceres trocaram de cor. A campainha não parava de tocar. Transformou o escritório materno num quartelgeneral sentimental do rock: fumaça, Nescafé batido e maratonas sobre ritmo e filosofia. Fui tomando seus amigos emprestados: Celso, Alexandre, Caco. Fui tomando suas leituras emprestadas: Rimbaud, Baudelaire, Jim Morrison. Fui tomando seus LPs emprestados: Pink Floyd, Genesis. Fui tomando suas ideias emprestadas. Fui tomando sua insônia emprestada. Nunca devolvi nada. Inclusive tentei cortejar suas ex, mas não deu certo. Iniciava uma conversa, não a dominava para continuar. Sofria uma urgência de ser importante. Procurava o momento derradeiro para dizer algo no meio das discussões. Costumava falar gratuidades do tipo o muro branco do The Wall significava o rato da infância do vocalista Roger Waters. Todos me olhavam com compaixão e retomavam o tema anterior. O que fazia ali? Indeciso, ia ficando, ninguém me convidou para entrar, muito menos me mandou embora. Rodrigo era o poeta da família, o olhar oblíquo, de ressaca, um silêncio inconsequente. Comecei a escrever para seduzi-lo a gostar de mim, depois já gostava de escrever, depois escrevia porque gostava de gostar. Ele pegava sua caneta Bic e fazia setas, mostrando como poderia melhorar os poemas. Voltava para a máquina e logo entregava uma nova versão praticamente igual à anterior. Não suportava a hesitação do erro. Faltava-me a paciência, deixar o sangue esfriar com a tinta. Esqueci a vocação paterna e materna tão atento que estava com a dele. Admirava suas inversões, o estilo metafísico, o mergulho profundo igual ao do Jacques-Cousteau na TV. Batucava no teclado compulsivamente. O curioso é que digitava no escuro. Escuro é escuro mesmo. Batia-se o texto à máquina. Não havia a tela luminosa de um computador para banhar o rosto. Desde pequeno, ele desenhava e poetava. Colecionava cadernos com seus pensamentos e rimas. O cara nasceu para aquilo. Meio gênio, meio maldito, com um desleixo alinhado. A barba rala, o cheiro da noite, a incompreensão irreversível de sua natureza. Não desejava ser como ele, mas ser com ele. Até que numa manhã perto do Natal entrei no escritório e o vi chorando. Ele nem reparou que entrei, absorto em sua confusão. Havia se separado de um amor. Ele tomou a máquina elétrica no colo e atirou pela janela. O aparelho voou desengonçado como uma galinha preta, arrastou as asas do cabo e explodiu nas grades. Nunca mais retornou a escrever. Nunca mais. Eu queria amar daquele jeito: violentamente. Por isso, sou escritor. Ou esteja talvez simplesmente guardando lugar para meu irmão. Exemplo de relato pessoal 2 in http://dfechine.blogspot.com.br/2011/04/relatopessoal-prova-de-redacao.html Foi um dia à tarde. Um dia qualquer, uma sexta-feira quente e com um clima insuportável. Como de praxe, o cansaço era maior que eu, e do que todos nós juntos. Antes de tudo, eu estudei. Ou melhor, dei uma lida rápida e alta como se já soubesse de quase tudo. Bateu um sono, dormi um pouco. Acordei eram 15:25 e digamos que já estava na hora de sorrir. Coloquei uma roupa qualquer, um short folgado pra me sentir mais a vontade na hora de ser feliz. Melhorei o hálito, passei uma escova nos cabelos, calcei uns chinelos qualquer, busquei o filme que estava próximo ao DVD e parti para a esquina. Não pense muita besteira. É que a casa da minha amiga fica logo lá, então se eu chego na esquina, chego em sua casa. Deitei em um batente que tem no terraço, e com uma brisa deliciosa batendo no meu rosto, esperei por mais de uma hora os meus amigos que, pelo visto, demoraram para chegar. O primeiro deu o ar de sua graça, e uns minutos depois, chegou o outro, com suas desculpas de sempre por seus atrasos. Isso é tão comum, que agora eu só faço rir de tanto esperar. Não demorou nenhum segundo. Comecei a sorrir por qualquer esteira, por uma borboleta sequer que passava por mim, ou por algum tombo que eu mesmo levasse. Faltou pipoca, fomos comprar. E a cada passo que eu dava, era uma gargalhada diferente e cada vez maior. É a presença amigável ao meu lado que me torna assim. Assim lesa, assim alegre, assim assim. O filme? Um dos melhores e mais engraçados possíveis. Já deve imaginar o quanto eu ri não é mesmo? Exato. Exato. Sorri como uma criança ao ganhar um pirulito e como uma boba apaixonada. Sorri. Mas nem tudo dura pra sempre. Morguei. Entristeci. Talvez porque chegava a hora de ficar 'sozinha'. Talvez por que aquele momento estivesse chegando ao fim. Talvez porque eu tenha passado da conta nos sorrisos. Mas não. O problema estava na falta. Na falta de alguém. Na sua falta. Aquele momento, ia sim, ser o mais colorido possível. Mas no futuro eu iria encontrar falhas. Eu iria encontrar riscos em preto em branco. E tudo isso por conta de uma simples ausência. Tão simples que tomou uma complexidade incomparável. Foi um dia daqueles que a gente rir tanto que fica triste. Foi mais um dia que eu sorri e esqueci de você por umas horas. Foi mais um dia que eu adormeci e vi que faltava alguém muito importante, muito essencial e, de alguma forma, muito insubstituível. E naquele momento eu notei que é verdade quando alguém fala que ao lembrar de momentos inesquecíveis sorriu e chorou. Aquele riso de saudade e aquela lágrima de alguém que não sabe o que fazer. É porque era tão bom que sentimos falta. E saudade sempre vem acompanhada de lágrimas. Proposta de produção textual escrita Resgate um acontecimento marcante de sua vida, alegre ou triste, e produza um relato pessoal em primeira pessoa do discurso. É preciso que seu texto esteja estruturado de acordo com as partes constitutivas do relato pessoal: apresentação, complicação, resolução e avaliação. Bibliografia Beth (org.). Bakhtin:. Conceitos – chave. São Paulo: Contexto, 2005. COSTA, S.R. Dicionário de gêneros textuais.. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. FARACO, C.A. et al. Diálogos com Bakhtin: Ed. Da UFPR, 1996. KÖSHE, V. et al. Estudo e produção de textos. Petrópolis: Vozes, 2012. BRAIT, Bibliografia TODOROV, T. Os gêneros do discurso.São Paulo: Martins Fontes, 1980.