Happiness It was almost nightfall. The whole day: rain, torrents of rain. Drenched to the bone, I arrived in a little Calabrian village. I had to find a hearth where I could dry out, a corner where I could sleep. The streets were deserted, the doors bolted. The dogs were the only ones to scent the stranger’s breath; they began to bark from within the courtyards. The peasants in this region are wild and misanthropic, suspicious of strangers. I hesitated at every door, extended my hand, but did not dare to knock. O for my late grandfather in Crete!, who took his lantern each evening and made the rounds of the village to see if any stranger had come. He would take him home, feed him, give him a bed for the night, and then in the morning see him off with a cup of wine and a slice of bread. Here in the Calabrian villages there were no such grandfathers. Suddenly I saw an open door at the edge of the village. Inclining my head, I looked in: a murky corridor with a lighted fire at the far end and an old lady bent over it. She seemed to be cooking. I crossed the threshold and entered. I reached the fire and sat down on a stool which I found in front of the hearth. The old lady was squatting on another stool, stirring the meal with a wooden spoon. I felt that 3she eyed me rapidly, without turning. But she said nothing. Taking off my jacket, I began to dry it. I sensed happiness rising in me like warmth, from my feet to my shins, my thighs, my breast. Hungrily, avidly, 1I breathed in the delicious smell of the steam rising from the pot. Once more I realized to what an extent earthly happiness is made to the measure of man. It is not a rare bird which we must pursue at one moment in heaven, at the next in our minds. 2Happiness is a domestic bird in our own courtyards. As soon as we finished, she prepared a bed for me on a bench to the right of the table. I lay down, and she lay down on the other bench opposite me. Outside the rain was falling by the bucketful. For a considerable time I heard the water cackle on the roof, mixed with the old lady’s calm, quiet breathing. She must have been tired, for 4she fell asleep the moment she inclined her head. Little by little, with the rain and the old lady’s respiration, I too slipped into sleep. When I awoke, I saw daylight peering through the cracks in the door. The old lady had already risen and placed a saucepan on the fire to prepare the morning milk. I looked at her now in the sparse daylight. Shriveled and hump, 5she could fit into the palm of your hand. Her legs were so swollen that she had to stop at every step and catch her breath. But her eyes, only her large, pitch-black eyes, gleamed with youthful, unaging brilliance. How beautiful she must have been in her youth, I thought to myself, cursing man’s fate, his inevitable deterioration. Sitting down opposite each other again, we drank the milk. Then I rose and slung my carpetbag over my shoulder. I took out my wallet, but the old lady colored deeply. “No, no,” she murmured, extending her hand. As I looked at her in astonishment, 6the whole of her wrinkled face suddenly gleamed. “Goodbye, and God bless you,” she said. “May the Lord repay you for the good you’ve done me. Since my husband died I’ve never slept so well.” NIKOS KAZANTZAKIS* http://grammar.about.com * Nikos Kazantzakis (1883-1957) was one of the most important Greek writers of the 20th century. 70. The old lady is presented by means of the description of her actions and looks. The passage from the text which best describes her bodily appearance is in: a) she eyed me rapidly, without turning. (ref. 3) b) she fell asleep the moment she inclined her head. (ref. 4) c) she could fit into the palm of your hand. (ref. 5) d) the whole of her wrinkled face suddenly gleamed. (ref. 6) 71. According to some authors, a memoir is how one remembers one’s own life; an autobiography is history, requiring research, dates and facts. In relation to the author’s life, the text Happiness can be characterized as a memoir especially because of the presence of: a) factual reports b) fictional recounts c) detailed descriptions d) personal recollections 72. The first paragraph describes the terrible weather, the physical state of the narrator and his unfavorable view of the village and its inhabitants. From this beginning, one can infer that the narrator did not expect the peasants to: a) suspect him of anything b) cause him any problems c) give him a warm welcome d) consider him a wild stranger 73. In the second paragraph, Kazantzakis introduces a flashback, an interruption in the telling of the major action to show an episode that happened at an earlier time. In this narrative, the flashback has the function of: a) achieving a surprise effect b) emphasizing the main event c) providing extra information d) creating a suspenseful mood 74. Happiness is a domestic bird in our own courtyards. (ref. 2) This fragment contains a figure of speech which is labeled as: a) irony b) simile c) metaphor d) metonymy 75. Vaso grego Esta, de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que a suspendia Então e, ora repleta ora esvazada, A taça amiga aos dedos seus tinia Toda de roxas pétalas colmada. Depois... Mas o lavor da taça admira, Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas Finas hás de lhe ouvir, canora e doce, Ignota voz, qual se da antiga lira Fosse a encantada música das cordas, Qual se essa a voz de Anacreonte fosse. Minha bela Marília, tudo passa; a sorte deste mundo é mal segura; se vem depois dos males a ventura, vem depois dos prazeres a desgraça. Estão os mesmos deuses sujeitos ao poder do ímpio fado: Apolo já fugiu do céu brilhante, já foi pastor de gado. (GONZAGA, Tomás António. Lira XIV. In: TUFANO, Douglas Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 77.) Em relação aos poemas, analise a veracidade (V) ou a falsidade (F) das proposições abaixo. ( ( Alberto de Oliveira. Poesias completas. In: Crítica. Marco Aurélio de Mello Reis. Rio de Janeiro: EDUERJ, 197, p.144. A partir da leitura do soneto Vaso grego, assinale a opção correta a respeito do tratamento estético conferido aos mitos antigos: a) A recorrência a temas mitológicos atraía o leitor comum e amenizava os efeitos de distanciamento impostos a ele pelo rebuscamento da linguagem. b) Os mitos antigos são atualizados nesse poema e recebem um significado poético novo, que promove a ruptura efetiva com o passado e a tradição mítica. c) O tratamento estético dos mitos gregos no poema aproxima o antigo mundo mitológico dos problemas imediatos e concretos da vida social brasileira. d) A referência ao instrumento lira, faz desse, um poema lírico. e) A presença de elementos da arte e da mitologia gregas no soneto apresentado está de acordo com uma máxima do Parnasianismo: a arte pela arte, ou seja, a arte de se fazer poesia para enaltecer todo tipo de arte. 76. As obras literárias marcam diferentes visões de mundo, não apenas dos autores, mas também de épocas históricas distintas. Reflita sobre isso e leia os fragmentos dos poemas de Gregório de Matos e de Tomás Antônio Gonzaga. Arrependido estou de coração, de coração vos busco, dai-me abraços, abraços, que me rendem vossa luz. Luz, que claro me mostra a salvação, a salvação pretendo em tais abraços, misericórdia, amor, Jesus, Jesus! (MATOS, Gregório. Pecador contrito aos pés do Cristo crucificado. In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 66.) ( ) O poema de Gregório de Matos apresenta um sujeito lírico torturado pelo peso de seus pecados e desejoso de aproximar-se do Divino. ) Tomás Antônio Gonzaga, embora pertença ao mesmo período literário de Gregório de Matos, revela neste poema um sujeito lírico consciente da brevidade da vida. ) Em relação às marcas de religiosidade, a visão antagônica que se coloca entre os dois poemas reflete, no Barroco, a influência do cristianismo e, no Arcadismo, a da mitologia grega. Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima para baixo. a) V – V – V b) V – F – F c) F – V – F d) F – F – F e) V – F – V 77. Cantiga de Amor Afonso Fernandes Senhora minha, desde que vos vi, lutei para ocultar esta paixão que me tomou inteiro o coração; mas não o posso mais e decidi que saibam todos o meu grande amor, a tristeza que tenho, a imensa dor que sofro desde o dia em que vos vi. Já que assim é, eu venho-vos rogar que queirais pelo menos consentir que passe a minha vida a vos servir (...) (www.caestamosnos.org/efemerides/118. Adaptado) Uma característica desse fragmento, também presente em outras cantigas de amor do Trovadorismo, é a) a certeza de concretização da relação amorosa. b) a situação de sofrimento do eu lírico. c) a coita de amor sentida pela senhora amada. d) a situação de felicidade expressa pelo eu lírico. e) o bem-sucedido intercâmbio amoroso entre pessoas de camadas distintas da sociedade. 78. TEXTO I - ADORMECIDA Uma noite, eu me lembro... Ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo E o pé descalço do tapete rente. ‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte, Via-se a noite plácida e divina. De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala, E de leve oscilando ao tom das auras, Iam na face trêmulos — beijá-la. Era um quadro celeste!... A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... Quando ela serenava... a flor beijava-a... Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia... Dir-se-ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... A brisa, que agitava as folhas verdes. Fazia-lhe ondear as negras tranças! E o ramo ora chegava ora afastava-se... Mas quando a via despeitada a meio. P’ra não zangá-la... sacudia alegre Uma chuva de pétalas no seio... Eu, fitando a cena, repetia Naquela noite lânguida e sentida: “Ó flor! – tu és a virgem das campinas! “Virgem! — tu és a flor da minha vida!...” CASTRO ALVES. Espumas flutuantes. In Obra completa Rio de Janeiro: Nova Aguar, 1986. p. 124-125. TEXTO II o amor, esse sufoco agora há pouco era muito, agora, apenas um sopro ah, troço de louco, corações trocando rosas, e socos. LEMINSKI, Paulo. Melhores poemas. S. Paulo: Global, 1996. p.119. Os poemas de Castro Alves e Paulo Leminski, respectivamente, exemplificam diferenças entre as estéticas romântica e contemporânea. Nas alternativas a seguir, apresentam-se oposições, em que a primeira afirmativa se refere ao Texto I e a segunda ao Texto II. Assinale a única alternativa inteiramente correta. a) Presença de pontuação excessiva e inadequada. / Presença de contenção verbal. b) Emprego de adjetivação abundante. / Emprego de expressões cerimoniosas e formais. c) Utilização de citações clássicas. / Utilização de recursos de humor. d) Olhar descrente sobre as relações amorosas. / Olhar irônico sobre as relações amorosas. e) Percepção do amor como desejo e expectativa. / Percepção do amor como contradição e incerteza. 79. Tanto de meu estado me acho incerto, Que em vivo ardor tremendo estou de frio; Sem causa, juntamente choro e rio; O mundo todo abarco e nada aperto. É tudo quanto sinto um desconcerto; Da alma um fogo me sai, da vista um rio; Agora espero, agora desconfio, Agora desvario, agora certo. Estando em terra, chego ao Céu voando; Numa hora acho mil anos, e é de jeito Que em mil anos não posso achar uma hora. Se me pergunta alguém por que assim ando, Respondo que não sei; porém suspeito Que só porque vos vi, minha Senhora. (www.fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm) A leitura do poema permite afirmar que o eu lírico se sente a) confuso, provavelmente pelo amor que tem por uma senhora. b) alegre, provavelmente porque seu amor é correspondido. c) triste, provavelmente porque não consegue amar ninguém. d) desconcertado, provavelmente porque a senhora o ama demais. e) perdido, provavelmente porque foi rejeitado pela amada. 80. Texto I Língua portuguesa Olavo Bilac Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela (...) Observação: Última flor do Lácio = Lácio é uma região na Itália central onde se falava latim. Muitas línguas derivam do latim, como o francês, o espanhol e o italiano; a última delas foi a língua portuguesa, conforme diz o poema, que também a caracteriza como inculta, ou seja, não lapidada, em comparação às outras também formadas a partir do latim. Vocabulário ganga = matéria inútil que se separa dos minerais vela = permanece de vigia (Olavo Bilac. Tarde. Disponível www.dominiopublico.gov.br. Adaptado) em: Texto II […] Fiquei pensando: “Mas o poeta disse sepultura?! O tal de Lácio eu não sabia onde ficava, mas de sepultura eu entendia bem, disso eu entendia!”, repensei baixando o olhar para a terra. Se eu escrevia (e já escrevia) pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a sepultura que esperava por esses meus escritos? Fui falar com meu pai. […] Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai pra debaixo da terra, desaparece! Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado. Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse-me encarando com severidade. Feio é isso, filha, isso de querer renegar a própria língua. Se você chegar a escrever bem, não precisa ser em italiano ou espanhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo, está me compreendendo? (Lygia Fagundes Telles. Durante aquele estranho chá: perdidos e achados. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. p. 109111. Adaptado) No texto II, percebe-se que a narradora entendera o poema de Bilac (texto I) como um alerta e uma ameaça. O verso/trecho em que ela visualizou tal perigo foi a) Última flor do Lácio, inculta e bela, b) A bruta mina entre os cascalhos vela c) Ouro nativo, que na ganga impura d) És, a um tempo, esplendor e sepultura: e) que na ganga impura 81. Leia o poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). 18 Não vês aquele velho respeitável, que à muleta encostado, apenas mal se move e mal se arrasta? Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo, o tempo arrebatado, que o mesmo bronze gasta! Enrugaram-se as faces e perderam seus olhos a viveza: voltou-se o seu cabelo em branca neve; já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo, nem tem uma beleza das belezas que teve. Assim também serei, minha Marília, daqui a poucos anos, que o ímpio tempo para todos corre. Os dentes cairão e os meus cabelos. Ah! sentirei os danos, que evita só quem morre. Mas sempre passarei uma velhice muito menos penosa. Não trarei a muleta carregada, descansarei o já vergado corpo na tua mão piedosa, na tua mão nevada. As frias tardes, em que negra nuvem os chuveiros não lance, irei contigo ao prado florescente: aqui me buscarás um sítio ameno, onde os membros descanse, e ao brando sol me aquente. Apenas me sentar, então, movendo os olhos por aquela vistosa parte, que ficar fronteira, apontando direi: — Ali falamos, ali, ó minha bela, te vi a vez primeira. Verterão os meus olhos duas fontes, nascidas de alegria; farão teus olhos ternos outro tanto; então darei, Marília, frios beijos na mão formosa e pia, que me limpar o pranto. Assim irá, Marília, docemente meu corpo suportando do tempo desumano a dura guerra. Contente morrerei, por ser Marília quem, sentida, chorando meus baços olhos cerra. (Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.) A leitura atenta desse poema do livro Marília de Dirceu revela que o eu lírico a) sente total desânimo perante a existência e os sentimentos. b) aceita com resignação a velhice e a morte amenizadas pelo amor. c) está em crise existencial e não acredita na durabilidade do amor. d) protesta ao Criador pela precariedade da existência humana. e) não aceita de nenhum modo o envelhecimento e prefere morrer ainda jovem. 82. O quadro produz um estranhamento em relação ao que se poderia esperar de um pintor que observa um modelo para sua obra. Esse estranhamento contribui para a reflexão principalmente sobre o seguinte aspecto da criação artística: a) perfeição da obra b) precisão da forma c) representação do real d) importância da técnica como seus vizinhos europeus, praticou durante séculos a escravidão em massa, e em sua colonização oprimiu povos e negou suas aspirações à emancipação. Há uma barbárie europeia cuja cultura produziu o colonialismo e os totalitarismos fascistas, nazistas, comunistas. Devemos considerar uma cultura não somente segundo seus nobres ideais, mas também segundo sua maneira de camuflar sua barbárie sob esses ideais. (Edgard Morin. Le Monde, 08.02.2012. Adaptado.) 83. No texto citado, o pensador contemporâneo Edgard Morin desenvolve a) reflexões elogiosas acerca das consequências do etnocentrismo ocidental sobre outras culturas. b) um ponto de vista idealista sobre a expansão dos ideais da Revolução Francesa na história. c) argumentos que defendem o isolamento como forma de proteção dos valores culturais. d) uma reflexão crítica acerca do contato entre a cultura ocidental e outras culturas na história. e) uma defesa do caráter absoluto dos valores culturais da Revolução Francesa. 85. Observe as charges Na tira do cartunista argentino Quino, utilizam-se recursos gráficos que lembram o cinema. A associação com a linguagem artística do cinema, que lida com o movimento e com o instrumento da câmera, é garantida pelo procedimento do cartunista demonstrado a seguir: a) ressaltar o trabalho com a vassoura para sugerir ação b) ampliar a imagem da mulher para indicar aproximação c) destacar a figura da cadeira para indiciar sua importância d) apresentar a sombra dos personagens para sugerir veracidade 84. Cada cultura tem suas virtudes, seus vícios, seus conhecimentos, seus modos de vida, seus erros, suas ilusões. Na nossa atual era planetária, o mais importante é cada nação aspirar a integrar aquilo que as outras têm de melhor, e a buscar a simbiose do melhor de todas as culturas. A França deve ser considerada em sua história não somente segundo os ideais de Liberdade-IgualdadeFraternidade promulgados por sua Revolução, mas também segundo o comportamento de uma potência que, As charges, respectivamente, dos cartunistas Henfil (1982) e Dalcio (2011) estão separadas por quase trinta anos de história, mas unidas na crítica a) ao preço, no mercado internacional, da madeira extraída das florestas brasileiras. b) à presença de capital estrangeiro na exploração de madeiras de florestas no país. c) à exportação ilegal, via países vizinhos, de madeira extraída das florestas brasileiras. d) ao desmatamento extensivo e indiscriminado das florestas brasileiras. e) ao uso recorrente de queimadas na eliminação de florestas no país. TEXTO PARA AS QUESTÕES 86 a 90 Sobre a origem da poesia (ARNALDO ANTUNES) A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, 1a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. 4 Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história. A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades − significante e significado. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras? 2 Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado. Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substantivos), 5não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica. 3 Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta). 6 No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. 7A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. (...) Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. 8Mas temos esses pequenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade. 86. Na coesão textual, ocorre o que se chama catáfora quando um termo se refere a algo que ainda vai ser enunciado na frase. Um exemplo em que o termo destacado constrói uma catáfora é: a) Como se ela restituísse, (ref.4) b) Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, (ref.2) c) não numa partícula verbal externa a elas, (ref.5) d) No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam (ref.6) 87. a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. (ref.1) A comparação entre a poesia e outros usos da linguagem põe em destaque a seguinte característica do discurso poético: a) revela-se como expressão subjetiva b) manifesta-se na referência ao tempo c) afasta-se das praticidades cotidianas d) conjuga-se com necessidades concretas 88. Mais perto do senso comum, (ref.3) A expressão que inicia o trecho transcrito acima introduz uma comparação em relação ao comentário anterior, feito por Décio Pignatari. O emprego da expressão comparativa revela que o autor considera o exemplo dos filmes de cowboy como algo que teria a seguinte caracterização: a) muito complexo b) menos elaborado c) pouco importante d) bastante diferente 89. A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. (ref.7) O vocábulo destacado estabelece uma relação de sentido com o que está enunciado antes. Essa relação de sentido pode ser definida como: a) explicação b) finalidade c) conformidade d) simultaneidade 90. Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, (ref.2) Neste fragmento, a expressão em destaque é empregada para formar um conhecido recurso da argumentação. Esse recurso pode ser definido como: a) admitir uma hipótese para depois discuti-la b) retomar uma informação para depois criticá-la c) relativizar um conceito para depois descrevê-lo d) apresentar uma opinião para depois sustentá-la e) apresentar uma opinião para depois sustentá-la