1 Erika Maria Bastos de Assis Programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria da Câmara dos Deputados: um estudo sobre representação, cidadania, participação e democracia Projeto de pesquisa para elaboração de tese de doutorado a ser apresentada ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro - Iuperj Brasília 2008 2 SUMÁRIO 1 PROBLEMA ......................................................................................................... 3 1.1 Introdução .......................................................................................................... 3 1.2 Objetivos ............................................................................................................ 6 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 6 1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 6 1.3 Justificativa ........................................................................................................ 7 1.4 Marco Teórico-Metodológico ........................................................................... 13 1.5 Algumas Hipóteses ............................................................................................. 21 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 22 3 DISTRIBUIÇÃO DOS CAPÍTULOS ................................................................ 26 4 CRONOGRAMA ................................................................................................. 28 5 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 29 3 1 PROBLEMA 1.1 Introdução Este projeto organiza informações e estratégias para a abordagem dos programas “Carta-Resposta”, “Fale com o Deputado” e “Fale com a Ouvidoria” da Câmara dos Deputados. Pretende-se avaliar as concepções sobre essa Casa e, por extensão, sobre o Legislativo e a esfera pública nacionais, bem como captar e discutir crenças e valores sobre relações entre representantes e representados, participação e cidadania, por meio da análise das ações empreendidas no âmbito desses programas. A Central de Comunicação Interativa da Câmara, criada em 2003, disponibiliza aos cidadãos canais de acesso por e-mail (“Fale com o Deputado” e “Fale Conosco”)1. A Ouvidoria Parlamentar, instituída em 2001, oferece também a possibilidade de interação com a sociedade civil via correio eletrônico (“Fale com a Ouvidoria”). Além desses instrumentos, em julho de 2003, foi criado o Programa Carta-Resposta com o intuito de ampliar os canais de participação ofertados pela Casa à população que não dispusesse de recursos materiais necessários para o uso de correio eletrônico e telefone e para a postagem de correspondências2. Todos esses mecanismos de estímulo à comunicação fundamentam-se no incentivo à colaboração dos cidadãos nas três áreas fins de atuação do Poder Legislativo: a ação legiferante, a fiscalização e o fortalecimento da democracia. A adesão da população a esses mecanismos ofertados pela Câmara é considerável. No que concerne ao Programa Carta-Resposta, no período compreendido entre junho de 2003 e dezembro de 2005, foram enviadas à Casa 113146 cartas (BRASIL, 2005). Todo o material recebido foi encaminhado aos órgãos – Ouvidoria Parlamentar, Presidência, Comissões e Lideranças Partidárias – e parlamentares destinatários que se 1 Além desses mecanismos, o Portal da Câmara dos Deputados oferece outros recursos de interação com os cidadãos, tais como: o acesso por telefone via “Dique Câmara”, o acompanhamento de proposições via email, os fóruns e chats sobre temáticas em discussão no Parlamento, o sítio Plenarinho destinado ao público infantil e a possibilidade de apresentação de sugestões de projetos de lei via Comissão de Legislação Participativa. 2 Organizado por intermédio de uma parceria entre a Presidência da Casa e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, o Programa Carta-Resposta concretizou-se na oferta de formulários, disponíveis nas agências dos Correios, para o envio de correspondências sem custo de postagem. 4 responsabilizaram pelas respostas a serem datas3. Com relação aos números relativos aos programas Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria, em 2006, foram enviadas 4.739.777 mensagens eletrônicas àquele e, entre janeiro de 2005 e julho 2006, foram remetidos 6.994 e-mails a este (BRASIL, 2008). Essa sucinta exposição sobre os programas Fale com o Deputado, Fale com a Ouvidoria e Carta-Resposta permite que se estabeleçam os principais eixos de questionamento a nortear a consecução do trabalho proposto neste projeto. Há duas perguntas que se pretendem respondidas. A primeira delas relaciona-se ao conhecimento dos programas e buscará reunir informações sobre o perfil geográfico, socioeconômico e de escolaridade dos remetentes, determinar os principais assuntos tratados nas correspondências e identificar os destinatários. O conhecimento desses aspectos é relevante, na medida em que permite a contraposição das características dos usuários dos programas com os objetivos de seus idealizadores, viabiliza o mapeamento dos temas de tratamento mais freqüente nas correspondências – se, por exemplo, assuntos de interesse pessoal ou coletivo e temas de interesse nacional, regional ou local –, bem como possibilita a verificação dos destinatários mais procurados, se órgãos da Câmara ou parlamentares, e de seu interesse em retornar as correspondências recebidas. A segunda questão que se quer respondida prioriza a interpretação dos conteúdos das cartas e das mensagens eletrônicas enviadas à Câmara por intermédio dos programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria e, ainda, do material de divulgação e dos textos institucionais relativos a esses programas - em especial, os processos administrativos a eles relacionados. Pretende-se, com isso e considerando-se as categorias usadas pelos próprios agentes, conhecer os valores e as crenças de remetentes e destinatários das correspondências sobre o universo político, expressos em temas como Parlamento, interação de representantes e representados, accountability, cidadania, participação e democracia e tendo-se, como “pano de fundo” – em especial, no que concerne à abordagem dos textos institucionais –, a percepção do ideal de modernização subjacente a esses discursos. 3 Embora tenha sido relevante o número de correspondências remetidas à Casa, ao final de 2005, não houve renovação da parceria com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, fato que impossibilitou a continuidade do Programa Carta-Resposta. 5 Expostas as duas principais perguntas que norteiam a consecução deste projeto, faz-se necessário salientar que o caráter descritivo e interpretativo do trabalho proposto impede que se estabeleçam hipóteses rígidas a serem comprovadas com o empreendimento da pesquisa, como se espera das produções inseridas no campo das hard sciences. Não se pode, contudo, negligenciar algumas considerações sobre o principal eixo de tensão que, acredita-se, explicará as ações que se desenvolvem no âmbito dos programas aqui abordados, inclusive, aquelas que motivaram a desativação do Programa Carta-Resposta em 2005. Como já mencionado, o uso, na Câmara dos Deputados, das novas tecnologias de informação e comunicação tem como um de seus motivadores o interesse em se facilitar o intercâmbio entre cidadãos e Parlamento. A constituição do Programa Carta-Resposta apresenta-se também como um mecanismo de alargamento da interação da Casa com a população, na medida em que se justifica como uma tentativa de suprir lacunas oriundas da falta de acesso a recursos tecnológicos. Assim, pode-se compreender os programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria como meios para a universalização do ideal moderno pertinente a valores relacionados, entre outros elementos, à democracia, à participação, à cidadania e à reciprocidade entre representantes e representados. O envio de correspondências a autoridades é, todavia, uma prática utilizada, tradicionalmente e de maneira informal, pela população para expressar demandas pessoais a representantes da esfera pública, atitude que se viabiliza por uma naturalização da lógica clientelista4. Sendo assim, é possível que se conjecture que a análise dos programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria desvelará a tensão entre os valores da impessoalidade, da igualdade, da separação entre público e privado e a lógica pertinente à hierarquia, à apropriação do público pelo privado, à pessoalização, ao favor. 4 Não se pode desconsiderar aqui, contudo, a existência de uma inversão da direção da constituição das clientelas. Em geral, estas são formas de dominação ligadas ao que se chama de “máquinas políticas”, iniciativas “de cima para baixo”. No caso da naturalização do clientelismo que as cartas e os e-mails poderiam indicar, tratar-se-ia do oferecimento de subordinação pelos clientes aos patrões potenciais. 6 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Realizar estudo sobre os programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria da Câmara dos Deputados, considerando-se os perfis de remetentes e destinatários, os conteúdos comunicados, bem como as crenças e os valores sobre o universo político, expressos em temas como Parlamento, interação de representantes e representados, cidadania, participação e democracia. 1.2.2 Objetivos Específicos a) observar a progressão das cartas remetidas e respondidas no ano de 2004 e das mensagens eletrônicas remetidas e respondidas no ano de 2008; b) conhecer o percentual de cartas enviadas, em 2004, a cada destinatário por meio de uma quantificação proporcional (parlamentares, Comissões, Ouvidoria, Presidência e Lideranças Partidárias) e o percentual de e-mails enviados, em 2008, a cada deputado e à Ouvidoria; c) ordenar os remetentes quanto: - à localização geográfica, a fim de se identificar a distribuição da participação por região e pela dicotomia capital/interior, - ao sexo, com o objetivo de se ordenar a distribuição das correspondências quanto a critérios de gênero e observar se essa variável interfere nos valores expressos nas cartas e mensagens eletrônicas, - à escolaridade, a fim de se observarem possíveis relações entre distintos níveis de formação acadêmica e variações nos valores presentes nas correspondências, - à inserção social, com o objetivo de se relacionar nível socioeconômico a representações expressas nos conteúdos das cartas; d) ordenar as cartas e as mensagens eletrônicas quanto aos tipos de temas tratados; 7 e) interpretar os conteúdos presentes nas cartas e nos e-mails enviados à Casa, buscandose a apreensão de crenças e valores sobre o universo político, expressos em temas como Parlamento, interação de representantes e representados, cidadania, participação e democracia; f) realizar a análise do discurso das correspondências enviadas à Câmara dos Deputados, observando-se as estratégias de enunciação e de interdiscurso; g) considerando o material informativo produzido sobre os programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria interpretar os textos oficiais (de circulação interna, em especial, os processos administrativos – mais argumentativos – e de circulação externa – mais expositivos) e de divulgação (de autoria dos agentes políticos e administrativos da Casa), bem como realizar a análise do discurso dessas construções textuais, a fim de se captar concepções sobre Parlamento, interação de representantes e representados, cidadania, participação e democracia. 1.3 Justificativa Este trabalho justifica-se pela perspectiva de desenvolvimento de saberes a respeito dos programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria da Câmara dos Deputados e, por extensão, das crenças e valores sobre um dos espaços institucionais da política, o Parlamento, e sobre as relações entre representantes e representados. A apreensão dessas percepções privilegiará a interpretação das representações dos agentes expressas no âmbito desses e sobre esses programas, ou seja, serão tomadas, para análise, as correspondências enviadas à Câmara dos Deputados, bem como os dados informativos – em especial, os textos institucionais – produzidos por essa Casa. Abordagens direcionadas a avaliações subjetivas do fenômeno político estão presentes nos estudos de cultura política, realizados no campo da sociologia política, e nas construções elaboradas no domínio disciplinar da antropologia da política. Embora haja afinidades entre as perspectivas culturalista e antropológica ao optarem pelo olhar sobre as crenças e valores a respeito do político, em detrimento das explicações oriundas 8 das teorias da escolha racional, as diferenças entre elas salientam-se quando considerados aspectos teóricos e metodológicos (KUSCHNIR; CARNEIRO, 1999). A peculiaridade da antropologia traduz-se nos recursos de método relacionados à abordagem etnográfica e à perspectiva de análise comparativa; na opção teóricometodológica que concebe a dimensão política não isoladamente, mas em relação a outras esferas da vida social e, conseqüentemente, amplia a noção de poder para além das fronteiras da noção ocidental de um Estado institucionalizado; e nas preocupações com a relativização do olhar sobre a alteridade. Os estudos de cultura política, por sua vez, expressam suas particularidades por meio de composições metodológicas diversificadas – combinando estratégias distintas, como análises estatísticas, abordagens históricas e práticas etnográficas – que permitam maior poder de generalização dos resultados; da associação conceitual de “cultura política” aos sistemas políticos democráticos; e da conciliação entre micro e macro políticas na busca de elos entre normas, valores e ordenamentos institucionais (KUSCHNIR; CARNEIRO, 1999). O trabalho que aqui se propõe aproxima-se da perspectiva antropológica na medida em que pressupõe a desnaturalização de categorias como prática cidadã, participação e representação política e procura o entendimento por intermédio da apreensão das visões dos agentes envolvidos sobre as relações entre representantes e representados e sobre o Parlamento; porém, do ponto de vista metodológico, será utilizada uma composição entre abordagem quantitativa e qualitativa e, em lugar da prática de campo e da observação participante, será privilegiada, em especial, a análise de fontes documentais5. Não são poucos os estudos sobre representações sociais; todavia, aqueles cujo foco direciona-se para o fenômeno político e/ou cujo material de interpretação são correspondências têm um número reduzido. Como não se busca, neste projeto, uma reunião mais ampla e acurada da bibliografia produzida sobre o assunto – à moda de um 5 É preciso esclarecer que não se negligencia que, no campo da antropologia, há vários trabalhos que se utilizam de análises documentais; entretanto, toma-se aqui como parâmetro de comparação o Núcleo de Antropologia da Política (NUAP) que, a partir dos anos 90, vem desenvolvendo, no Brasil, uma série de estudos na área da antropologia da política que, em sua maioria, privilegiam a abordagem do fenômeno político por intermédio de práticas etnográficas e comparativas (PALMEIRA, 1998). 9 “estado da arte” –, serão sucintamente apresentadas, a seguir, quatro produções que, por afinidades temáticas e metodológicas e utilizando-se de um exercício de aproximação e distanciamento, permitirão o delineamento de uma justificativa para o trabalho que se pretende realizar. Inserido no campo de discussão da psicologia social em composição com a Teoria das Representações Sociais, o trabalho de Sandra Jovchelovitch (2000), Representações sociais e esfera pública: a construção simbólica dos espaços públicos no Brasil, discute o espaço público brasileiro considerando as formas pelas quais é concebido por “cidadãos comuns” – operários, profissionais liberais, estudantes, motoristas de táxi e crianças de rua –, por parlamentares e pela mídia. Privilegiando uma composição interdisciplinar que concilia as idéias de, entre outros autores, Piaget, Gilberto Freyre, Habermas e Phillipe Ariès, a autora busca traçar um perfil das representações sobre os espaços públicos disseminadas na sociedade brasileira. O trabalho de Jovchelovitch apresenta afinidades e distinções com relação às propostas deste projeto. As aproximações revelam-se na intenção geral de se captar representações sociais sobre a esfera pública nacional. Os distanciamentos expõem-se na forma de recorte e abordagem do objeto, bem como na especificidade dos temas tratados. Jovchelovitch, tendo como assunto motivador o impeachment de Collor, busca as expressões de “cidadãos comuns” e parlamentares sobre a esfera pública e, selecionando artigos de periódicos cujos conteúdos referiam-se às ruas e à política, traça um retrato das imagens sobre o público expressas na mídia. Tal perspectiva diferencia-se do foco temático privilegiado neste trabalho o qual se delimita na apreensão das imagens sobre o Parlamento e sobre a relação entre representantes e representados6. Além disso, a escolha dos programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria como instrumentos de observação expõe a peculiaridade de “olhares” que se encontram em relação de reciprocidade (MAUSS, 1974) e, na medida em que se posicionam em oposição e complementação – representante/representado, Parlamento/cidadão –, permitem que sejam problematizadas as “obrigações de dar e receber”, ou seja, 6 Jovchelovitch (2000) utiliza o conceito de esfera pública delineado por Habermas, ou seja, não restrito à dimensão institucional da política. 10 possibilitam que se construam questões sobre como se estabelece a reciprocidade: se, por exemplo, pela reivindicação institucional do cumprimento de direitos ou se pelo uso de estratégias clientelistas (CARVALHO, 1997). As diferenças com relação ao trabalho de Jovchelovitch salientam-se, ainda, na medida em que este projeto toma os programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria não apenas como canais para a apreensão de crenças sobre o universo político, o Parlamento e as relações entre representantes e representados, mas também como um objeto que permite a análise factual de como uma parcela da população orienta-se em direção ao Legislativo e como este responde àquela. Ou seja, ao focalizar um contexto de diálogo institucionalmente estabelecido pela Câmara dos Deputados, o estudo aqui proposto busca respostas para questões sobre os temas abordados nas correspondências, sobre as origens – geográfica e socioeconômica – dos remetentes e sobre os destinatários escolhidos – se órgãos do Parlamento, privilegiando-se seu caráter institucional; se parlamentares, salientando-se a figura personalizada do “político”; se Lideranças, destacando-se os partidos políticos. Outro campo do qual se aproxima este projeto encontra-se nos trabalhos dedicados ao estudo de correspondências como fonte de conhecimento do fenômeno do clientelismo. Historiadores e cientistas sociais têm se dedicado ao tema; dentre eles, destacam-se os trabalhos de Elisa Pereira Reis, Opressão burocrática: o ponto de vista do cidadão (1990), Luciana Quillet Heymann, As obrigações do poder: relações pessoais e vida pública na correspondência de Filinto Müller (1997), e José Murilo de Carvalho, Rui Barbosa e a razão clientelista (2000)7. Uma das primeiras produções acadêmicas dedicadas à análise de pedidos dirigidos a políticos, o trabalho de Reis (1990) discute valores e crenças sobre a burocracia pública, expressos nas correspondências enviadas, entre 1980 e 1982, ao Ministro Hélio Beltrão, responsável pelo Programa Nacional de Desburocratização, bem como nos discursos e declarações sobre o Programa por ele realizados no período de 1979 a 1983. Pela análise 7 Como informa Carvalho (2000), são poucos os trabalhos que utilizam correspondências como fonte documental para tratar do clientelismo. Além dos estudos de Heymann e Reis, o autor identifica apenas o trabalho de Richard Graham (1997), que analisou os pedidos dirigidos a quatro políticos imperiais na obra Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX. 11 desse diálogo entre cidadãos e autoridade política, a autora constata uma percepção negativa da burocracia pública em contraste com uma imagem de benevolência da autoridade política, responsável pela distribuição de “favores” aos cidadãos. O trabalho de Heymann (1997) também se dedica à percepção de valores e crenças subjacentes à correspondência enviada por populares a políticos. Estudando as cartas enviadas à Filinto Müller entre 1933 e 1942 – período em que foi chefe de polícia do Distrito Federal –, a autora aborda as táticas discursivas utilizadas na formulação de “cartas de pedidos”, buscando a percepção das estratégias empregadas pelos missivistas a fim de legitimar o ato de pedir e de impor ao destinatário o dever de atender à comunicação. Em conformidade com Reis e Heymann, Carvalho (2000) aborda os valores associados à lógica clientelista expressa na correspondência enviada a Rui Barbosa à época em que ocupava o cargo de Ministro da Fazenda. Como demostra o autor, do total de ofícios, cartas, cartões e telegramas que compõem o arquivo pessoal de Rui Barbosa, 40% são dedicados à demanda por favores. Analisando os sujeitos dos pedidos e a linguagem e razão de sua formulação, Carvalho desvela a extensão do fenômeno clientelista na passagem do Império para a República e discute as crenças sobre as quais se sustenta. Ainda que os três trabalhos acima mencionados guardem grande afinidade com uma das temáticas que se propõem neste projeto – a percepção de valores e crenças expressos em correspondências enviadas a representantes do poder público –, há alguns distanciamentos concernentes às características e motivações de remetentes e destinatários. Os estudos de Heymann e Carvalho abordam arquivos constituídos por cartas enviadas, espontaneamente, pela população a autoridades. O trabalho de Reis dedica-se à análise de correspondências remetidas em resposta à demanda de participação de um representante institucional, o ministro da desburocratização. Este projeto, por sua vez, direciona-se ao estudo de cartas e mensagens eletrônicas enviadas em reação a um apelo também institucional – os programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria estabelecidos pela Câmara dos Deputados –, mas não associado a uma autoridade específica. Tal particularidade permite a observação das escolhas dessa 12 população quanto aos destinatários, ou seja, possibilita que se verifique se serão privilegiados, mais marcadamente, critérios institucionais, expressos, por exemplo, no interesse pelas Comissões cuja identificação está associada a aspectos temáticos, ou se a personalização, manifesta na figura do deputado, será mais acentuada8. A motivação por parte do poder público para o envio de correspondências permite, por outro lado, certa afinidade entre este projeto e o estudo de Reis, na medida em que, em ambos, há a possibilidade de observação dos posicionamentos dos representantes políticos quanto às temáticas em questão. No caso de Reis, privilegia-se a análise das representações do ministro da desburocratização sobre as relações entre cidadãos e Estado e sobre a burocracia pública, por intermédio da interpretação de seus pronunciamentos. Neste projeto, por meio da abordagem dos textos divulgadores e oficiais sobre o Programa, propõe-se a verificação de como a instituição Câmara dos Deputados concebe a relação de representantes e representados e quais crenças e valores expressa sobre a participação. Há outras produções que poderiam ser apresentadas com o objetivo de salientar as contribuições que o trabalho aqui proposto poderá dar para o desenvolvimento do campo de saberes acerca das relações entre cidadãos e poder público e das crenças e valores sobre o Parlamento, todavia as limitações que se impõem à dimensão de um projeto impedem um desenvolvimento mais extenso. Resta, então, a constatação da relevância social desta proposta: a produção de conhecimento acerca das relações entre representantes e representados bem como sobre as concepções a respeito da Câmara dos Deputados e de seus agentes é um caminho para que se iluminem as tensões e dificuldades da prática da cidadania e de uma maior reciprocidade entre população e poder público. 1.4 Marco Teórico-Metodológico Os elementos teóricos de suporte deste trabalho serão expostos, a seguir, a partir 8 Não se quer, com esse comentário, assumir postura ingênua que desconsidere a literatura, não diminuta, sobre o predomínio da razão clientelista, da lógica das relações pessoalizadas e da tênue e, muitas vezes, subvertida fronteira entre público e privado na interação da população com o poder público. 13 de uma sucinta apresentação acerca do uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na atuação de governos democráticos, da delimitação do conceito de representações sociais e da perspectiva interpretativa, da abordagem de alguns pressupostos relativos à antropologia da política, bem como da apresentação de um instrumental sociológico que viabilize suporte para compreensão dos debates em torno dos valores e condições sócio-históricas da modernidade e de suas peculiaridades no contexto brasileiro. Os debates pertinentes à utilização das TIC como um recurso para a ação governamental relacionam-se ao tema proposto neste projeto, considerando-se que os programas Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria apóiam-se nessas tecnologias e que o Programa Carta-Resposta é caracterizado como uma tentativa de se preencher uma lacuna deixada pela exclusão social (DEMO, 2002) e, por extensão, digital 9. Nesse sentido, as motivações para a realização desses programas encontram afinidades em valores comuns àqueles que subjazem a aposta no uso das TIC na Câmara dos Deputados no que concerne à interação com os cidadãos. Grosso modo, as discussões em torno do uso das TIC na ação governamental referem-se às possibilidades apresentadas quanto à implementação de alternativas que, por um lado, atendam aos critérios de economia, eficiência e eficácia (SUBIRATS, 2002) e, por outro, permitam a intensificação das relações entre cidadãos e poder público (KINGHMAN, 2003). Assim, Subirats (2002) propõe uma categorização em que se distinguem: ações direcionadas à facilitação da prestação de serviços públicos; projetos voltados para a ampliação das possibilidades de interação de cidadãos e esfera governamental; redes temáticas que permitam o intercâmbio entre sociedade civil, Estado e mercado; e ações que possibilitem uma renovação da lógica da participação, ampliando-se os mecanismos de expressão direta da população. As duas primeiras categorizações não pressupõem alterações nas formas vigentes de relação entre elites representativas e representados, mantendo-se as posições hierárquicas tradicionais; as duas últimas, por sua vez, subentendem a consideração da qualidade da participação e a maior implicação da população nos assuntos coletivos, 9 Segundo Eisenberg (2000), apenas três milhões de pessoas acessavam a Internet no Brasil no ano de 2000. 14 relativizando-se a concepção de que os mecanismos representativos sejam a única base de uma democracia possível. No trabalho proposto neste projeto, a utilização dos pressupostos acima mencionados viabilizará suporte teórico para a reflexão a respeito dos valores que norteiam o uso das TIC na Câmara dos Deputados e que, indireta e ironicamente, motivaram a oficialização de um canal de correspondência utilizado, tradicionalmente e de maneira informal, pela população para expressar demandas pessoais a representantes da esfera pública, conforme se pode verificar, por exemplo, em Heymann (1997) e Carvalho (2000). A opção teórica aqui proposta requer, também, a delimitação dos conceitos de representação social e interpretação. A idéia de representações sociais é, comumente, associada, nas ciências sociais, a categorias de pensamento que permitem um dado olhar sobre o mundo. Diversos são os autores em cujas obras essa noção é apresentada: em Durkheim, “representações coletivas”; em Weber, “idéias”, “espírito”, “concepções”, “mentalidade”; em Schultz, “senso comum”; em Gramsci, “senso comum” e “bom senso” (MINAYO, 2003)10. Dentre os vários autores que se utilizaram dessa noção, Durkheim foi aquele historicamente apropriado como o “teórico das representações”. Embora não houvesse desprezado a esfera da ação ao considerar os rituais “atos de sociedade”, Durkheim, em seus estudos sobre o fenômeno religioso, apontou para a dimensão simbólica da natureza humana; para os objetos sagrados como manifestações de aspectos não empíricos da realidade, associados à expressão de idéias e valores; e para as possibilidades de estudo e sistematização desses fenômenos. Ao tomar a religião como referência, esse autor viabilizou a elaboração de uma teoria do conhecimento que sustentava a eficácia das representações (PEIRANO, 1998). É relevante salientar, também, a centralidade do estudo das representações em duas disciplinas: a psicologia social e a antropologia. Na psicologia social, a elaboração e 10 O estudo das representações pode ser encontrando em diversas ciências humanas e sociais. Não há, entretanto, consenso quanto ao conceito a ser utilizado. Variados são os termos empregados: representações coletivas, sociais, culturais, simbólicas; signos; significações; saberes; crenças; valores; mitos. (SPERBER, 2001). 15 o debate em torno de uma teoria das representações sociais, a partir das formulações de Serge Moscovici, têm gerado um conjunto de produções cuja questão de maior relevância encontra-se nos limites e possibilidades de conciliação das esferas individual e social. Assumidamente influenciado por Durkheim, Moscovici (2003) apresenta a teoria das representações sociais como um modo de se compreender a psicologia social que requer o intercâmbio entre ciências psicológicas e sociais. Na antropologia, disciplina que se constitui a partir do “encontro com a diferença” e em cujo campo teórico a noção de representações ocupa lugar privilegiado e porta o status de objeto principal (SPERBER, 2001), o foco de discussões desloca-se da dicotomia indivíduo/sociedade e direciona-se aos questionamentos acerca dos limites da compreensão da alteridade. Nesse sentido, ganha relevância o conceito de interpretação em que se consideram observador e observado produtores de representações em processo de tradução. Assim, interpretar pressupõe a apreensão dos significados – das representações – que determinados atores sociais expressam sobre suas ações, costumes, instituições (GEERTZ, 1989, 2006) e, ao mesmo tempo, a tradução desses significados por intermédio da elaboração de outras representações de conteúdos similares (SPERBER, 2001), considerando-se sempre o lugar sociocultural e teórico do observador intérprete. É, justamente, a relevância dada aos limites e possibilidades abertos pelo encontro com a alteridade que determina a postura assumida pela antropologia ao lidar com a política moderna. Assim, na agenda de uma antropologia da política, há a preocupação com o questionamento de definições “familiares” (PEIRANO, 1998; VELHO, 1999), como Estado, participação e cidadania, e, ao mesmo tempo, o interesse pela captação das relações entre valores e poder (PEIRANO, 1998). Nesse sentido, privilegia-se a apreensão dos fenômenos políticos em sua complexidade, considerando-se “diferentes modos de se pensar e viver o político” (GOLDMAN; SANT'ANNA, 1996, p. 30). A abordagem dos programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria proposta neste projeto toma como referência esse interesse pela percepção das representações “nativas” sobre o fenômeno político para, a partir dos valores e crenças identificados, estabelecer um diálogo com os recursos teóricos disponíveis. Sendo assim, 16 não se escolherá um único e apriorístico modelo explicativo para temas como participação e representação política; ao contrário, buscar-se-á compreender como os atores sociais interpretam e vivenciam as suas instituições políticas e, a partir daí, rever alguns dos constructos teóricos relacionados a esses temas11. Finalmente, é preciso mencionar as contribuições do instrumental sociológico para a compreensão da noção de modernidade e das peculiaridades e contradições de suas aplicações ao caso brasileiro. Esse campo de discussão mostra-se relevante ao trabalho aqui proposto, na medida em que fornece subsídios interpretativos para a hipótese de que os programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria desvelarão a tensão entre os valores da impessoalidade, da igualdade, da separação entre público e privado e a lógica pertinente à hierarquia, à apropriação do público pelo privado, à pessoalização, ao favor. Elemento recorrente na história do pensamento social brasileiro, a busca por compreensão da modernidade nacional tem recebido atualizações a partir da primeira metade dos anos 1990. Assim, questões ligadas ao status da modernidade no Brasil e à existência de uma modernidade brasileira – e, por extensão, à construção e naturalização do modelo moderno de “indivíduo”, relacionado às noções de liberdade, igualdade, autonomia, autodeterminação e singularidade, e sua convivência com outro modo de construção da "pessoa", associado a critérios relacionais, composições hierárquicas e aparatos segregativos – vêm sendo tratadas de forma renovada por abordagens que, dentre outros recursos, utilizam-se de um diálogo crítico com teóricos representantes das principais perspectivas do pensamento social brasileiro sobre o tema. Nesse diálogo, os pressupostos que norteiam as construções sociológicas em torno do argumento da herança patriarcal-patrimonial e os referenciais que motivam a elaboração interpretativa da “sociologia da dependência” são identificados por alguns autores, tais como Souza (2000) e Tavolaro (2005), como elaborações teóricas que atribuem à sociedade brasileira o status de uma modernidade imperfeita12. Para Tavolaro (2005), os autores cuja sociologia constrói-se em torno dos 11 Como, por exemplo, a literatura sobre representação política. 12 Souza (2000) denomina tal perspectiva de “sociologia brasileira da inautenticidade”. 17 argumentos da herança patriarcal-patrimonial – especialmente, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Roberto DaMatta – e os teóricos da dependência – representados por Caio Prado Jr., Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Otávio Ianni –, ao transformarem aspectos historicamente localizados em “variáveis independentes”, capazes de explicar um padrão de sociabilidade brasileira não sujeito a contextualizações, e ao construírem um discurso a respeito da modernidade cuja fundamentação cognitiva assenta-se sobre as noções de diferenciação/complexificação social, secularização e separação entre esferas pública e privada, tendem, por um lado, a negligenciar possibilidades de variações em sociedades modernas consideradas centrais e, por outro, a contribuir para a construção de um discurso que atribui à experiência moderna no Brasil marcas de incompletude e distorção. A fim de propor uma abordagem alternativa para o tema, Tavolaro combina o uso de três pressupostos: a noção de “modernidades múltiplas” que, mesmo nas ditas sociedades centrais, implicaria a consideração de padrões variados de diferenciação/complexificação social, de variações nas formas de secularização da normatividade e de modelos diversificados de separação entre esferas pública e privada; a pressuposição de que as formas de sociabilidade que se estabelecem em diferentes contextos modernos são resultantes do confronto entre distintos interesses, concepções de mundo e projetos sociais; e a necessidade de se localizarem as discussões sobre a modernidade do Brasil contemporâneo no campo temático dos debates a respeito das dinâmicas do processo de globalização13. Tal é perspectiva adotada por Domingues (1999) ao salientar a necessidade de consideração da centralidade da contingência histórica nas discussões a respeito da modernidade – sempre entendida em sua dimensão processual –, buscando-se, por intermédio de abordagens empíricas, a percepção dos fluxos de homogeneização e diferenciação nos processos multifacetados de mundialização de composições modernas. A partir de tal pressuposição, as idéias de modernização e tradição, ainda que marcadas 13 A concepção de uma modernidade multifacetada e contingente e a percepção da necessidade de inserção dos debates sobre os processos de globalização e mundialização na elaboração de uma sociologia da modernidade são motivadas, em Tavolaro (2005), pelos trabalhos de, respectivamente, Domingues (1999) e Ortiz (1994). 18 as suas diferenças, não se estabelecem de forma excludente tendo-se reificado um dado referencial de ocidentalização, mas compõem-se em especifidades a partir da “seleção” de determinados traços na construção empírica (DOMINGUES, 1992). Como afirma Domingues (2004), no Brasil, os processos em direção a uma maior modernidade, que se intensificam ao longo do século XX, enfraquecem, aos poucos, a lógica da modernização conservadora (MOORE Jr., 1983), determinando maior liberdade para indivíduos e coletividades. Para isso, contribui a urbanização por que passa o País no decorrer desse século, ocasionando a diminuição das relações de subordinação pessoal e controle dos trabalhadores pela elite agrária. Em consonância com esse processo, despontam novas subjetividades coletivas (DOMINGUES, 1999) – ainda mais “desencaixadas” –, que se afirmam durante o período da ditadura militar e abrem novos “espaços” de expressão como, por exemplo, no campo pessoal, com a maior liberdade para opções sexuais e religiosas e para questões relativas a gênero. Embora o formato institucional contemporâneo do Brasil também se afaste, em muito, do ordenamento comum à lógica da modernização conservadora e se assemelhe àquele predominante nos países centrais do sistema global, não se podem desconsiderar suas especificidades14. No campo econômico, por exemplo, mostra-se presente “uma economia capitalista não poliárquica”, sustentada sobre um individualismo que, em sua expressão pejorativa, situa o sujeito acima das normas e determina uma competição predatória (DOMINGUES, 2004, p. 201). Na dimensão pertinente à cidadania, ainda que as estratégias de controle e “doação” estatais, típicas do modelo ibérico, não mais predominem nem, tampouco, mantenham-se generalizadas as relações sustentadas pelo “favor”, o individualismo anômico mantém-se presente. Nesse sentido, emergem questionamentos acerca da conciliação entre o universalismo institucional e uma postura de ação que privilegie a transgressão quando a regra não atenda a interesses pessoais. Na caracterização da modernidade contemporânea brasileira, ainda segundo Domingues (1999, 2004), somam-se a esses aspectos, a intensificação do pluralismo social e o aumento da reflexividade e dos processos de desencaixe e reencaixe, 14 Não se pode negar a existência de um ordenamento institucional em consonância com os critérios da “poliarquia”, conquanto não se desconsidere a presença de um “hobbesiano social poliforme”, que configura a recusa às instituições poliárquicas. Conforme Santos (1988) apud Domingues (2004). 19 resultantes, em especial, da ampliação dos “deslocamentos” – reais, relativos à intensificação das possibilidades de ação na dimensão espaço-temporal, e simbólicos, relacionados à multiplicidade de referenciais nos processos de significação e interpretação (GEERTZ, 2001) – e da agilidade comunicativa. Tal cenário associa-se, por um lado, a uma afirmação da diversidade das liberdades individuais – em detrimento do tema da igualdade e da universalização de direitos que cede lugar à “filantropia estatal”, embora não se desconsidere a demanda crescente por direitos sociais – e, por outro, à presença de práticas e discursos em que se pode perceber a conciliação entre tradição e modernidade 15. Nesse processo em que se manifestam, por meio de tensões e conciliações, aspectos da modernidade, da reflexividade e da tradição, avultam-se composições que se podem apreender como contraditórias quando, em verdade, são a própria expressão empírica desses elementos que, conquanto distintos, não se excluem. Assim, para o entendimento das relações entre Estado e sociedade civil, tomam-se também como referência as interpretações a respeito de uma cidadania que se organiza não em referência às idéias de indivíduo e contrato social, mas em relação à pressuposição de um Estado concessor que impõe uma ética determinada “de cima para baixo” embora norteado pelo discurso liberal (DOMINGUES, 1995) ou ainda de uma cidadania cujas relações entre elites políticas, sociedade civil e coisa pública orientam-se pela lógica do neopatrimonialismo e do clientelismo (BEZERRA, 1995, 1999) Nessas construções, encontra-se pressuposta a idéia de que a retomada do processo democrático no Brasil, ainda que orientada por um esforço das elites e do Estado em prol da modernização, mantém muito dos tradicionais conservadorismo e autoritarismo característicos da política nacional (AVRITZER, 1996). Com relação à temática proposta neste projeto, essa linha de discussão teórica servirá de suporte para a interpretação dos contextos de estímulo à constituição dos programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria como, por exemplo, a influência do recente processo de democratização do Brasil nas ações 15 Como a recuperação reflexiva de discursos relativos à “escolha de uma dada tradição”, por mais contraditória soe tal expressão (DOMINGUES, 1999). 20 institucionais de motivação à participação e a tendência global de utilização de recursos oferecidos pelas novas tecnologias da informação e comunicação para a ampliação dos canais institucionais de comunicação com a sociedade civil – prática já bastante disseminada nas democracias centrais e reforçada por projetos de intercâmbio entre parlamentos como a International Parliamentarians Association for Information Technology (Ipait)16. É preciso salientar, ainda, que esse recorte teórico servirá também de referência para a abordagem, via programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria17, dos critérios oficiais de expressão de relações pautadas em um ideal de igualdade e das formas tradicionais por intermédio das quais se revelam os valores da desigualdade. Nesse sentido, levantar-se-ão questões pertinentes à convivência – ou tensão – entre a lógica clientelista da população em direção ao aparato institucional e as relações entre representantes e representados segundo os critérios da impessoalidade, bem como à conciliação – ou tensão – entre uma possível abertura das elites políticas por meio de um movimento institucional de estímulo à participação – e conseqüente democratização – e uma provável reprodução da lógica autoritária em que a vivência democrática dá-se por intermédio da concessão de instrumentos de participação e não enquanto mobilização, mais ou menos organizada, da sociedade civil. Finalmente, ressalta-se que as imagens de cidadania aqui pressupostas, ao revelarem uma composição de elementos críticos e reflexivos típicos da lógica que caracteriza o ideal de impessoalidade e universalidade com elementos que distinguem modelos relacionais comuns à lógica tradicional e comunitária, darão subsídios empíricos para um diálogo com a literatura mais contemporânea acerca da modernidade no Brasil – bem como para uma revisão mais geral de uma perspectiva normativa da modernidade, como mencionado acima – em que não se pressupõe a idéia de imperfeição ou desvio de um modelo pautado não exclusivamente nos ditames da impessoalidade e da universalidade. 16 A terceira assembléia geral da Ipait aconteceu em Brasília, na Câmara dos Deputados, entre 6 e 8 de junho de 2005. 17 Canais de expressão de subjetividades coletivas que, embora possuidoras de “baixo grau de centramento e intencionalidade”, interferem na conformação da modernidade (DOMINGUES, 1999, p. 149). 21 1.5 Algumas Hipóteses A partir da pressuposição de que a análise dos programas Fale com o Deputado, Fale com a Ouvidoria e Carta-Resposta descortine processo de tensão entre uma lógica clientelística-patrimonial e uma lógica de expressão da cidadania formal, podem-se detalhar algumas hipóteses: − embora se revelem demandas por satisfação de necessidades e interesses pessoais, haverá a presença da lógica reflexiva por meio da qual se expressam valores modernos associados à noção de indivíduo e à conseqüente idéia de generalização de direitos e obrigações via formalização do aparato público; − as duas lógicas apresentadas não aparecerão apenas separadamente nas correspondências, mas poderão ser encontradas, de forma entremeada, em um mesmo discurso, como, por exemplo, na possibilidade de se ter como argumento de um pedido pessoal a justificativa de cumprimento dos “deveres” da cidadania; − não haverá total coincidência entre os discursos sobre cidadania, representação e participação fundadores e mantenedores dos programas estudados e aqueles encontrados nos conteúdos das correspondências a serem analisadas; − o número de correspondências remetidas a deputados será proporcionalmente maior ao número enviado aos órgãos da Câmara; − nas correspondências direcionadas a deputados individualmente, haverá o predomínio da lógica pessoalizada; − nas correspondências direcionadas a grupos de deputados ordenados por partidos e gênero, à Ouvidoria e demais órgãos da Casa, haverá maior impessoalidade. 22 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Os recursos metodológicos a serem empregados neste trabalho caracterizam-se pelo hibridismo. Buscar-se-á uma complementação entre opções de abordagem quantitativa e qualitativa, bem como utilizar-se-ão conceitos de natureza interdisciplinar. Nessa mistura de gêneros (GEERTZ, 2006), a conciliação de distintas tradições intelectuais configura-se como opção estratégica de tratamento do objeto de pesquisa. Superando as disputas que marcam, historicamente, as oposições entre métodos quantitativos e qualitativos – e que, por extensão, refletem os contrastes entre hard e soft sciences e as discussões sobre os limites da objetividade científica (SPINK, 2003) –, as estratégias de mensuração a serem empregadas no tratamento do objeto auxiliarão o processo de seleção do corpus qualitativo a ser interpretado (GEERTZ, 1989), ou seja, a opção quantitativa permitirá o mapeamento dos agentes (BOURDIEU, 1972) e temas envolvidos, enquanto a qualitativa possibilitará a captação das crenças, dos sentidos elaborados por esses agentes. Assim, a utilização complementar de tais métodos facilitará o planejamento da pesquisa, a coleta de dados e a análise das informações encontradas. A abordagem quantitativa será utilizada no conhecimento da progressão das cartas remetidas no decorrer de 2004 e dos e-mails enviados durante o ano de 200818; do percentual de correspondências enviadas a cada destinatário (parlamentares, Comissões, Ouvidoria, Presidência e Lideranças Partidárias); dos remetentes quanto à localização geográfica, ao sexo, à escolaridade (a ser determinada pela análise gramatical, textual e discursiva, tendo-se por referência os descritores utilizados no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB/MEC19) e à inserção social (a ser identificada pela observação dos dados relativos a posses materiais presentes nos textos enviados, tomando-se por referência critérios de categorização estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – no tratamento de perfis socioeconômicos); das cartas e mensagens eletrônicas remetidas quanto aos tipos de temas tratados; e do 18 Esses anos foram escolhidos por serem momentos de realização de eleições municipais. Esse recurso será utilizado com relação às fontes do programa Carta-Resposta. Quanto aos programas Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria, considerando-se que há, nos formulários, campos obrigatórios para preenchimento de informação concernente à escolaridade, serão utilizadas as declarações feitas pelos remetentes. 19 23 número de correspondências respondidas pelos diversos destinatários. O empreendimento de tal investigação demandará o tratamento de todo o universo de cartas enviadas ao programa Carta-Resposta no ano de 2004 e aos programas Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria em 2008, bem como a determinação de uma amostra selecionada a partir dessas populações. A perspectiva censitária mostra-se adequada, na medida em que se devem conhecer a progressão de cartas e e-mails enviados à Câmara dos Deputados, o total de correspondências remetidas a cada um de seus órgãos, aos parlamentares e às Lideranças e, ainda, o conjunto de cartas e mensagens eletrônicas respondidas. Esses números serão determinados por intermédio de consulta aos protocolos de registro do trânsito de correspondências na Casa. A seleção da amostra, por sua vez, dar-se-á a partir dos resultados obtidos por meio do mapeamento censitário inicial que funcionará como “marco de referência” (RICHARDSON, 1999, p. 162). Considerando-se que esse universo a ser estudado configura-se grande para a realização de uma amostragem aleatória simples20, para a qual se recomenda que o tamanho da amostra corresponda, no mínimo, a 10% da dimensão do próprio universo, a solução será o ordenamento de “estratos subconjuntos homogêneos da população” (RICHARDSON, 1999, p. 163), ou seja, será reunido para estudo um conjunto com grupos de correspondências retirados de cada destinatário (parlamentares, Ouvidoria, Presidência, Comissões e Lideranças Partidárias). Assim, realizar-se-á uma “amostragem estratificada” (RICHARDSON, 1999, p. 163) em que se selecionam, como objeto de estudo, elementos pertencentes a cada uma das estruturas que compõem o universo. A partir dos resultados obtidos pelo tratamento quantitativo das correspondências enviadas à e respondidas pela Câmara e da reunião de material informativo – textos oficiais e de divulgação – produzido pela Casa sobre os programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria, será selecionado um corpus para a abordagem qualitativa. Por intermédio desta perspectiva, pretende-se interpretar as informações 20 Segundo dados registrados pela Ouvidoria Parlamentar, no período compreendido entre 12 de agosto de 2003 e 23 de dezembro de 2004, foram enviadas a esse órgão 6979 cartas. Se consideradas as cartas remetidas a deputados e a outros órgãos da Câmara bem como os e-mails, tem-se a dimensão, ainda mais clara, da impossibilidade de se selecionar uma amostra aleatória simples. 24 coletadas, privilegiando-se a análise das estratégias discursivas e das representações dos agentes sobre o político. Assim, o estudo das cartas e das mensagens eletrônicas remetidas e respondidas permitirá a abordagem das percepções dos interlocutores sobre temas como: Parlamento, agentes políticos e relações entre cidadãos e parlamentares 21. Os textos informativos e oficiais produzidos pela Casa sobre os programas, por sua vez, possibilitarão, respectivamente, a percepção das representações institucionais e de autoridades (REIS, 1990) sobre esses mesmos assuntos. Faz-se necessário esclarecer que a opção interpretativa acima mencionada encontra afinidades na tradição teórico-metodológica da antropologia, mais especificamente, da antropologia da política, na medida em que se concretiza pela proposta de captação das representações “nativas” (GOLDMAN, PALMEIRA, 1996, p. 8) sobre o universo político e, ainda, pelo “estranhamento” e pela desnaturalização de definições “familiares” (PEIRANO, 1998, p. 3; VELHO, 1999) a esse universo, tais como, Estado, política e cidadania. Assim, a noção de interpretação é aqui caracterizada como uma maneira de explicação que privilegia a apreensão do significado que “[...] instituições, ações, imagens, elocuções, eventos, costumes – ou seja, todos os objetos que normalmente interessam aos cientistas sociais – têm para seus ‘proprietários’ [...]”, isto é, a idéia de interpretação é tomada como uma atitude direcionada à percepção de como os atores sociais “fazem sentido para si mesmos”. (GEERTZ, 2006, p. 36, 37) Além disso, a opção por uma abordagem interpretativa não pode desconsiderar os debates em torno dos limites e possibilidades da atividade científica de pendor hermenêutico. Neste trabalho, a ação de interpretar expõe a suposição de um “olhar possível” sobre o objeto (SPINK, 2003, p. 141), mediado pelo recorte teórico proposto e, por isso, construído por uma intertextualidade de discursos socioculturais em que intersubjetividade e objetividade não se encontram segmentadas, mas em diálogo constante (MORIN, 2002, p. 16, 17). 21 Os conteúdos das cartas e mensagens eletrônicas enviadas em resposta aos correspondentes serão avaliados, ainda que não se desconsidere seu caráter formalizado e padronizado. Além disso, será computado o número de respostas encaminhadas pelos órgãos da Câmara e por parlamentares. Tem-se aqui, como referência, a idéia de que as respostas representam o valor simbólico dado ao diálogo (REIS, 1990). 25 É necessário mencionar, ainda, que a interpretação do material selecionado para a análise qualitativa buscará captar as representações sociais dos agentes, considerando-se também as estratégias discursivas, por eles, empregadas. Nesse sentido, será dada atenção aos termos por meio dos quais se estabelece a comunicação, buscando-se depreender dos recursos discursivos utilizados pelos interlocutores – em especial, aqueles de maior recorrência, relacionados à atividade semântica e interacional – as crenças e valores sobre o político. Finalmente, é preciso esclarecer que as cartas, os e-mails e os textos oficiais e de divulgação sobre os programas Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria serão considerados não apenas instrumentos expressivos para sujeitos em interação, mas também modos de ação, uma vez que o fazer político não é aqui dissociado dos espaços de discussão e, por extensão, da linguagem (CHARAUDEAU, 2006). Assim, esses atos de comunicação não serão concebidos apenas como instrumentos para a formulação de demandas, sugestões, questionamentos, informações, mas, levando-se em conta sua dimensão dialógica, como atividades políticas de intercâmbio discursivo que intentam produzir, além de valores, crenças e cognições, efeitos empíricos (REIS, 1990). 26 3 DISTRIBUIÇÃO DOS CAPÍTULOS - Pequena introdução com apresentação do tema e mapeamento dos capítulos da tese. - Capítulo para a apresentação dos programas a serem analisados - Carta-Resposta, Fale com o Deputado e Fale com a Ouvidoria. Abordagem das crenças e dos valores institucionais que motivam e sustentam a criação e manutenção de tais programas. Como fontes, serão utilizados os textos institucionais relativos a esses programas - em especial, os processos administrativos a eles relacionados - bem como os textos de divulgação. Além disso, será realizada uma discussão sobre o uso da Internet como "ferramenta de cidadania". - Capítulo teórico cujo tema central são as discussões sobre modernidade/modernização. Dentro dessa discussão, desenvolvem-se os temas da representação política, da cidadania, do clientelismo, da participação, da accountability. - Capítulo teórico-metodológico: basicamente, explicação sobre as motivações para os recortes quantitativo e qualitativo e discussão teórica sobre a perspectiva de abordagem interpretativa. - Capítulo de análises quantitativas: os e-mails serão coletados neste ano de 2008, em virtude da alteração do formulário com informações mais detalhadas dos remetentes e em função da possibilidade de recorte de momento anterior e posterior ao período de eleições municipais. Quantos às cartas, considerando que o Programa Carta-Resposta não mais existe, será selecionado um ano eleitoral, 2004, para que se tenham parâmetros similares. - Capítulo análise qualitativa 1: programa Carta-Resposta - Capítulo análise qualitativa 2: programas Fale com a Ouvidoria e Fale com o Deputado. - Capítulo análise qualitativa 3: respostas - Capítulo conclusivo: será um capítulo de conclusão comparativa, ou seja, apresentará resultados mostrando como as imagens de cidadania encontradas – nos distintos meios, cartas e mensagens eletrônicas – respondem/dialogam com a teoria sobre modernidade apresentada e com os discursos fundadores e mantenedores dos programas estudados. 27 4 CRONOGRAMA 1 2008 sem. 2 2008 sem. 1 2009 sem. 2 2009 sem. 1 2010 sem. 2 2010 sem. 28 Revisão da Literatura __ Coleta de Dados __ __ Análise dos Dados __ __ Redação da Tese __ __ __ __ __ 5 REFERÊNCIAS AVRITZER, Leonardo. A moralidade da democracia. 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