1 Alfabetização de adultos na UFMG: uma experiência que deu certo Marco Antônio de Oliveira UFMG – Deptº de Lingüística Introdução O título desta palestra, Alfabetização de adultos na UFMG: uma experiência que deu certo, tem a sua razão de ser. Em primeiro lugar pelo fato de que, pela primeira vez em sua história, a Faculdade de Letras da UFMG propunha um projeto de pesquisa numa área que, tradicionalmente, não é a sua. Ou seja, 6 professores e 23 alunos da Faculdade de Letras se envolveram, em momentos diferentes. com a questão da alfabetização pelo viés da lingüística (sem que, com isso, eu queira dizer que outros fatores envolvidos no processo fossem relegados a um segundo plano). Nossas perguntas iniciais eram: (a) de que forma o alfabetizando utiliza seu conhecimento lingüístico na construção de um sistema de representação escrita da língua? (b) como se dá o processo de leitura? Qual é a sua relação com o processo de aprendizado da escrita? (c) em que medida essa utilização dos conhecimentos lingüísticos pode nos orientar na preparação de um material adequado para a alfabetização? Além do envolvimento da Faculdade de Letras com a questão da alfabetização, envolvimento esse proporcionado, inicialmente, pelo projeto de alfabetização de adultos, outros fatores também apontam para o relativo sucesso da empreitada, tais como: apesar das limitações dos professores responsáveis pelo projeto, fato é que conseguimos alfabetizar os adultos; além disso, foi possível criar e sedimentar uma linha de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Lingüística, linha essa que foi, e continua sendo, bastante frutífera, tendo gerado vários trabalhos, dissertações e teses, tanto sobre escrita quanto sobre leitura. Em resumo, mesmo estando o projeto desativado a algum tempo, em sua forma inicial, podemos dizer que a experiência realmente “deu certo”. O trabalho de alfabetização de adultos na UFMG ocorreu em dois momentos diferentes. O primeiro momento teve seu início em agosto/1985 e perdurou até dezembro/1989; o segundo momento cobriu o período de 1994 até agosto de 1997, quando do falecimento prematuro do Prof. Daniel Alvarenga. Vou me referir, nesta palestra, ao primeiro momento do projeto, por duas razões: (a) foi nesse primeiro momento que a equipe pode refletir mais intensamente sobre os vários aspectos surgidos durante a nossa pesquisa, e (b) pelo fato de que participei diretamente da primeira fase, e não da segunda, uma vez que, a partir de 1994 o projeto havia migrado do âmbito da Faculdade de Letras para o âmbito da Faculdade de Educação, para onde o Prof. Daniel Alvarenga havia se transferido. Alguém pode estar se perguntando o seguinte: por que falar de uma experiência que já é parte da história? Por que retomar um projeto que já não mais existe? As razões para isso são as seguintes: (a) tenho hoje uma visão diferente daquela que eu tinha há 10 anos atrás sobre o quadro em que se deve desenvolver um trabalho de alfabetização e, (b) em função disso, penso que seria interessante rediscutir algumas das questões que apareceram anteriormente. Assim sendo, vejamos, inicialmente, como foi que decorreu a primeira fase do projeto de alfabetização de adultos. 2 Alfabetização de Adultos: Primeira Fase A primeira fase do projeto pode, e deve, ser dividida em 3 etapas. Essas três etapas se diferenciam, basicamente, pelo grau de refinamento das nossas propostas e pelo tratamento dado aos processos de leitura e de escrita, se concomitantes ou separados. É bom dizer, logo de início, que nenhum dos quatro professores inicialmente responsáveis pela implementação do projeto, Milton do Nascimento, Daniel Alvarenga, Eunice Nicolau e eu, tinha o menor conhecimento sobre alfabetização. Não tínhamos nenhum conhecimento e, naquele momento, achávamos melhor não seguir a trilha que outros, fora da lingüística, vinham seguindo porque pensávamos que essas propostas não esclareciam, devidamente, a questão do componente lingüístico do processo de alfabetização. Nosso interesse, como já disse, era o de examinar o papel do conhecimento lingüístico nesse processo e, enquanto lingüistas, pensávamos que teríamos alguma chance aí. Nessa ocasião, valemo-nos, principalmente, dos trabalhos de Cagliari (1987?), Kato (1986?), Lemle (1982, 1983 e 1987) e outros, que já vinham se dedicando às questões relativas aos processos de escrita e de leitura. Assim, nessas circunstâncias, o trabalho teve, até o final de 1987, um caráter um tanto laboratorial: íamos para a sala de aula, utilizávamos o material que havíamos preparado, verificávamos a eficácia, ou não, do trabalho e, principalmente, mantínhamos longas discussões sobre os resultados. Foi exatamente esse caráter laboratorial que marcou a primeira etapa desta primeira fase, o que nos deu a chance de focalizar melhor as questões que estávamos levantando, de tentar calibrar o material didático que estávamos produzindo, de perceber que o processo de aquisição de leitura apresenta grandes diferenças em relação ao processo de aquisição da escrita (muito embora se costume falar de lecto-escrita como se as duas vertentes fizessem parte de um mesmo processo), de perceber a relação estreita entre a fala e a escrita na construção da escrita alfabética e, principalmente, de perceber que a aquisição da escrita alfabética exige muito mais do que uma habilidade de fazer corresponderem sons e letras. Na verdade, conforme vou comentar mais adiante, a construção de uma escrita alfabética e o domínio das habilidades de leitura pressupõem a ampliação de padrões acentuais, silábicos e vocabulares, o que extrapola a simples relação entre sons e letras. Ou seja, há passos muito semelhantes envolvendo a aquisição da escrita e a aquisição da fala mas não se pode dizer que as habilidades já desenvolvidas na fala garantem essas mesmas habilidades na leitura e na escrita. É como se a cada novo aprendizado, falar, ler e escrever, o aluno repetisse os mesmos padrões de apropriação de conhecimento. De agosto/85 a junho/86 trabalhamos com as duas turmas iniciais, uma com 9 alunos e outra com 12, num total de 21 alunos. Ao final de 1986, com turmas novas, tínhamos 57 alunos, com idade entre 24 e 65 anos, todos eles funcionários da UFMG, onde exerciam a função de Auxiliares de Serviços Gerais. Essas turmas novas permaneceram conosco até o final de 1987, marcando, de certa forma, o final da primeira etapa1. Em 1988 recebemos mais 53 alfabetizandos, em várias unidades da UFMG, com idade entre 18 e 50 anos, sendo 29 homens e 24 mulheres. Vejamos, então, como se deu essa primeira etapa desta primeira fase. 1 O final da primeira etapa, i.e., as alterações efetuadas na proposta de trabalho, não se deu ao mesmo tempo para todas as turmas uma vez que elas haviam iniciado o processo de aprendizado em momentos diferentes. Portanto, o final de 1987 indica, apenas, que, a partir daí, nenhuma turma se guiava mais pela proposta inicial. 3 Primeira Etapa O que caracteriza essa 1ª etapa é, basicamente, o seguinte: (a)- Tratamento concomitante dos processos de leitura e escrita, e (b)- Ordenação do material lingüístico de acordo com os seguintes critérios: 1- Preocupação exclusiva com a relação fone-letra; 2- Na relação fone-letra, tentou-se preservar o modelo de Lemle (87), i.e., primeiro as relações monogâmicas, em seguida as relações poligâmicas e poliândricas e, finalmente, as relações marcadas pela concorrência. Conforme diz Lemle (1987: 38-39), “Analisamos os tipos de relações existentes na língua portuguesa entre os sons da fala e as letras do alfabeto. Descobrimos que há três tipos de relações. A primeira é a relação ideal, denominada monogâmica, em que uma letra corresponde a um som e um som é representado por uma só letra. A segunda é denominada poligamia e poliandria com restrições de posição, um tipo de situação em que uma mesma letra representa ora um tipo de som da fala, ora outro, dependendo do contexto no qual está colocada. A mesma situação é repetida no sentido do som para a letra: o mesmo som, num lugar, corresponde a uma letra; em outro lugar, corresponde a outra letra. A terceira relação, denominada situação de concorrência, é aquela em que um som, na mesma posição, pode ser ortograficamente representado por mais de uma letra”. O modelo de Lemle é uma resposta interessante para a seguinte questão: que tipo de princípios condiciona a correlação entre os sons da fala e a sua representação alfabética? Uma vez que nossa hipótese inicial de trabalho era a de que a construção de uma relação entre a realidade sonora da fala e sua representação alfabética seria mediada por um ‘processador’, ou seja, pela competência lingüística do alfabetizando, o modelo de Lemle nos fornecia uma resposta à nossa pergunta. Assim, com base nessas diretrizes, pudemos estabelecer uma ordenação dos elementos lingüísticos a serem trabalhados, num total de 24 pontos (V. ANEXO 1-A), a partir dos quais produzimos 22 textos (V. ANEXO 1-B), que constituíram o primeiro conjunto de textos que os alfabetizandos utilizaram. Nesta fase foi possível ver que 1- O modelo de Lemle não fazia as melhores previsões possíveis sobre a atuação do ‘processador’. P. ex., não parecia ser verdade que as relações mais imediatas entre os elementos mínimos da fala e os da escrita, i.e., os fones e as letras, fosse suficiente para explicar as facilidades e, principalmente, as dificuldades do alfabetizando durante seu processo de aprendizado. Isso pôde ser constatado, principalmente, nas dificuldades apresentadas na leitura e na escrita de palavras que continham encontros vocálicos, como lua, Lia, ia, etc, e na leitura e escrita de sílabas que continham apenas a vogal, como em Ida, uva, etc. Aqui a tendência dos alfabetizandos era a de inserir um segmento consonantal entre as vogais, em casos como lua, que eram lidos como luta/luva; ou a de inserir um segmento consonantal diante da vogal que constituía, sozinha, uma sílaba, como em Ida e uva, que eram lidas como tida/lida/vida ou luva. Que segmentos eram esses que, embora não estivessem escritos eram, mesmo assim, lidos pelos alfabetizandos? O que é que eles estavam lendo? Em resumo, parecia que na lógica do ‘processador’ (i.e., a lógica do aprendiz) as coisas estavam ocorrendo de modo diferente daquele em que ocorrem na lógica do sistema (que é o que o modelo de Lemle prevê). Ficou claro, portanto, que seria necessário incluir o tipo silábico como um dos elementos que pudessem controlar a escalada do aprendizado. 4 2- Salvo no caso de um aluno específico2, os 20 alunos restantes liam com muito mais facilidade e rapidez do que escreviam. A bem da verdade, uma das turmas lia melhor que a outra, mas em ambos os casos os alunos liam muito melhor do que escreviam. Ora, isso, por si só, já sugeria que há uma grande diferença entre os dois processos. E mais, sugeria, também, que as atividades de leitura3 deveriam ser diferenciadas das atividades de escrita em termos da quantidade e qualidade dos objetivos numa determinada fração de tempo. Além disso, pereceu-nos possível prever que as atividades de leitura pudessem, também, abrir caminho para as atividades de escrita4. 3- A qualidade textual do material era, no mínimo, duvidosa. A própria noção de texto com a qual trabalhávamos era extremamente primária, parecendo-se muito com aquela que pode ser encontrada/inferida em muitas cartilhas utilizadas ainda hoje. Já tivemos a oportunidade de ver isso nas lições que pudemos produzir a partir das diretrizes que nos havíamos imposto. Mas o pior era que isso acabava se refletindo nos textos produzidos pelos alunos. (V. ANEXO 1-C) Esses fatos, somados, nos levaram a fazer duas alterações profundas no andamento do projeto: 1- Desvinculamos o processo de leitura do processo de escrita, e 2- Refizemos a ordenação do material lingüístico, nele incluindo a tipologia silábica, e refizemos os textos. Chegamos, desta forma, à segunda etapa da primeira fase do projeto. Segunda Etapa Em 1987 recebemos turmas novas, que iniciaram seu aprendizado num novo quadro. O material lingüístico foi reordenado, numa nova concepção, e o material de leitura produzido constituiu o que chamamos de leitura inicial, marcada por textos do tipo narrativo. A reordenação do material lingüístico envolvia uma nova concepção: em vez de partir das características do sistema de escrita, focalizando as letras e estabelecendo com elas as relações com os fones, invertemos a mão de trânsito e partimos dos sons para, a partir deles, construir as representações. Estávamos, dessa forma, privilegiando o conhecimento lingüístico que o alfabetizando já possuía para permitir que, com base nesse conhecimento, ele fosse construindo o conhecimento que ainda não tinha. Como parte desse conhecimento que os alfabetizandos já tinham sobre sua própria língua incluímos a sílaba, ou, mais especificamente, o conhecimento de que há, em português, padrões silábicos preferenciais. A diferença entre a primeira ordenação do material lingüístico e essa segunda não é apenas quantitativa; ela é essencialmente qualitativa e implica numa alteração conceitual considerável. Note-se que, ao contrário do modelo de 2 Que nem lia, nem escrevia enquanto os demais já se saíam razoavelmente bem nessas tarefas. Nessa fase, apenas como decodificação. 4 Em conversa com Emília Ferreiro, nessa ocasião, ela se mostrou descrente da separação entre os dois processos mas admitiu que isso talvez fosse necessário no caso da alfabetização de adultos. Nunca soubemos o por quê disso. 3 5 Lemle, que é calcado nas características do sistema de escrita, invertemos o processo e partimos das características do sistema sonoro. Esta segunda ordenação do material lingüístico pode ser vista a seguir (ANEXO 2-A). Os textos que constituíam aquilo que chamamos de leitura inicial puderam ser consideravelmente melhorados a partir dessa segunda ordenação. Alguns exemplos desses textos podem ser vistos no ANEXO 2-B. Os ganhos imediatos obtidos a partir dessas alterações foram (a) uma maior rapidez e maior alcance no processo de leitura e, (b) a eliminação de vários dos problemas que vínhamos tendo no quadro anterior. Mesmo assim não ficamos livres de problemas. A maioria deles indicava uma operação um tanto curiosa: em vez de passarem direto da representação escrita para a fala concreta, os alfabetizandos tendiam a intermediar essa passagem com um nível de leitura de pura decodificação, no qual as letras tendiam a receber um único correspondente sonoro. Assim, alguns alfabetizandos liam toda letra ‘e’ como [e]; toda letra ‘o’ era lida como [o]; todas as vogais nasais ou nasalizadas eram lidas como vogais orais. Por exemplo, a ‘lerem’ a palavra colo como [´kolo] eles ficavam dizendo “[´kolo] , [´kolo] , o que é [´kolo] ? Ah, [kólu]...!”. Somente após perceberem que aquilo que tinha sido lido não estava fazendo sentido é que eles ‘traduziam’ desse nível intermediário para a fala concreta. Esse fato é bastante interessante e mostra que a leitura não pode ser concebida como mera capacidade de decodificar; ela envolve, antes de tudo, a capacidade de construir sentido. Havia ainda outros aspectos de leitura que foram, também, bastante reveladores. Por exemplo, vários alfabetizandos liam as letras ‘lh’ como [y], como em trabalho, lido como traba[y]o. Do mesmo modo, ditongos como [ow], [ey] e [ay] eram lidos como [o], [e] e [a], exatamente naqueles contextos onde a redução desses ditongos pode se dar. Também na sintaxe alguns fatos foram observados com relação à leitura: por exemplo, nomes próprios que, no texto, apareciam sem artigo eram lido com o artigo, como José, lido como O José. Casos como estes mostram que a leitura, ao atingir o nível da fala concreta, incorpora fatos do dialeto do aprendiz, estejam eles envolvendo um conjunto diferente de fones, estejam eles envolvendo a aplicação de processos fonológicos (como, p.ex., a redução de ditongos) ou estejam eles envolvendo fatos sintáticos. Ou, dito de outra forma, o aprendiz não lê de acordo com aquilo que está no papel mas de acordo com aquilo que está no conhecimento lingüístico que ele tem de sua própria língua. Conforme nos diz Cagliari, “o papel da escrita é permitir a leitura” e, neste sentido, os alfabetizandos estavam lendo. Só não conseguiam, ainda, ler no dialeto padrão. Além desses problemas apontados surgiram três outros que nos mostraram que precisávamos, ainda, controlar mais alguns aspectos de natureza estrutural na distribuição do material lingüístico a ser utilizado pelo aprendiz na sua escalada em termos do domínio da leitura e da escrita. O primeiro deles foi observado na dificuldade apresentada por vários alfabetizandos na leitura de sílabas travadas e sílabas com onset complexo. Ou seja, palavras do tipo porta e pasta ofereciam problemas de leitura que não se punham na leitura de palavras como bota e pata. A mesma dificuldade aparecia quando da leitura de palavras como prata e clube. O que casos como porta, pasta, prata e clube têm em comum é que todas elas fogem ao padrão silábico CV. Casos deste tipo foram retomados por Daniel Alvarenga, em sua tese de doutorado, onde se mostrou que palavras que fogem ao padrão CV realmente implicam num tempo maior de processamento e, portanto, oferecem dificuldades adicionais aos alfabetizandos. 6 O segundo problema surgido foi uma certa tendência por parte dos alfabetizandos de tratar palavras proparoxítonas e oxítonas como se fossem paroxítonas. Afinal, por que é que os alfabetizandos estavam ignorando as pistas gráficas que a escrita oferece para as proparoxítonas e as oxítonas? Aparentemente nosso conhecimento lingüístico inclui também um valor default para as palavras da língua, em termos da posição do acento, o que faz com que as palavras com acento forte na penúltima sílaba, as paroxítonas, sejam tratadas como canônicas. E, de fato, quando observamos alguns processos fonológicos que ocorrem em algumas variedades do português, verificamos que há, realmente, uma tendência a transformar proparoxítonas em paroxítonas: árvore > ‘arve’; música > ‘musga’; estômago > ‘istamo’; cócega > ‘cosca’, etc. E mesmo os falantes do dialeto padrão nem sempre são capazes de manter todas as sílabas intactas quando algumas palavras são colocadas no diminutivo: cócega > cosquinha ( coceguinha?); abóbora > abobrinha (aboborinha?). De qualquer forma, pudemos observar o seguinte: o padrão acentual também deve ser levado em conta quando da dosagem do material lingüístico a ser trabalhado pelo alfabetizador no ensino de leitura e escrita. O terceiro problema foi a maior charada de todas, até hoje não resolvida de modo satisfatório. Observamos que os alfabetizandos tinham muito mais facilidade em ler (e, eventualmente, escrever) uma palavra como mulata do que uma palavra como mula. Mas por quê? Se ambas são paroxítonas e se ambas são constituídas por sílabas do padrão CV, por que a palavra de três sílabas é ‘mais fácil’ do que a palavra de duas sílabas? Durante nosso projeto não fomos capazes de resolver essa charada. Mas numa pesquisa feita em 1994, por uma aluna de iniciação científica5, observou-se que a junção, na escrita, do artigo ao substantivo é consideravelmente maior quando o substantivo tem duas sílabas do que quando ele tem três ou mais sílabas! Isso sugere que palavras de três sílabas (e é isso que acontece em termos de palavra fonológica em casos de escrita como abola, orato, etc) são mais canônicas do que palavras que tenham um número diferente de sílabas. Esse caso, certamente, exige uma investigação mais detalhada. Esses fatos sugerem, em seu conjunto, que o processo de alfabetização, tanto em termos de leitura quanto de escrita, deve se contentar, num primeiro momento, em garantir que o aluno seja capaz de produzir e compreender textos pelo viés de seu dialeto. Somente depois é que poderemos concentrar os nossos esforços em garantir que este mesmo aluno seja capaz de ler e produzir textos no padrão culto. Esta seria, aliás, uma boa maneira de não se criar obstáculos desnecessários ao processo de aprendizado em sua fase inicial. Terceira Etapa Com base nessas novas observações, chegamos à terceira etapa da primeira fase do Projeto. Essa terceira etapa se caracteriza por: 1- Uma nova reformulação do material lingüístico a ser controlado no processo de aprendizagem, e 2- Enriquecimento do material de leitura, agora constituído por três grandes blocos: a- Leitura inicial (os textos produzidos pela equipe); 5 Arabie Bezri, que investigou casos de aglutinação do artigo ao substantivo na escrita de alunos em estágio inicial de aprendizado de leitura e escrita. 7 b- Leitura intermediária, e c- Leitura avançada. Quanto ao material lingüístico (V. ANEXO 3-A), pode-se perceber que ele se concentra, basicamente, na competência fonológica do aprendiz: tipo silábico, número de sílabas da palavra fonológica, padrão acentual e processos fonológicos (alçamento de vogais pretônicas, redução de ditongos, e outros). Deste modo, nós nos concentramos muito mais nas estratégias utilizadas pelos alfabetizandos na construção de seu conhecimento sobre a leitura e a escrita do que numa correlação estabelecida diretamente entre os elementos do sistema fonológico e os elementos do sistema ortográfico. Isso fez com que a terceira ordenação funcionasse muito mais como um parâmetro para a escolha e gradação do material a ser trabalhado do que como uma receita a ser seguida de forma rígida. Quanto aos textos produzidos para a leitura inicial, eles se tornaram mais flexíveis e com um maior grau de textualidade. Neles aparecem palavras e estruturas que servem ao professor como ponto de partida para se trabalhar o material lingüístico. Alguns exemplos desses textos são (V. ANEXO 3-B, LIÇÃO 1). Nesta etapa final os alfabetizandos continuaram, evidentemente, a apresentar problemas de leitura. Só que, agora, esses problemas se concentravam muito mais nos aspectos gráficos do texto, principalmente no estágio inicial do processo. Por exemplo, muitos alfabetizandos apresentavam problemas na discriminação de grafemas de aspecto semelhante (m/n, b/d, p/q, g/p); outros apresentavam dificuldade em aceitar que uma mesma letra pudesse aparecer sob formas diferentes (maiúsculas e minúsculas); outros, ainda, não identificavam funções específicas para o acento agudo e o circunflexo (vovó x vovô); outros tinham problemas na leitura de frases que terminavam com o ponto de interrogação, etc. Alguns dos problemas anteriores também voltaram à tona como, por exemplo, a leitura de palavras proparoxítonas como paroxítonas; uma certa dificuldade na leitura de encontros vocálicos (moeda = moda), de sílabas travadas e de encontros consonantais (principalmente aqueles constituídos por C + l). Essas dificuldades só foram sendo superadas ao longo do processo, o que não garantia, é bom que se diga, que a leitura fosse feita no dialeto padrão (p. ex., se alguém lia, num primeiro momento, placa como paca, num segundo momento poderia ler placa como praca). Conforme já disse antes, ao lado da leitura inicial, constituída pelos textos produzidos pela equipe, decidimos trabalhar, também, com um nível de leitura que chamamos de intermediário. A razão disso foi que observamos que os alfabetizandos não faziam uma passagem natural dos textos iniciais para outros tipos de texto. Assim, resolvemos facilitar essa passagem com um nível intermediário. O material utilizado para isso foi extraído da coletânea Casos de Minas, de Olavo Romano, um conjunto de crônicas em linguagem relativamente direta e simples. Esse material provou ser bastante eficaz, proporcionando um bom desenvolvimento das habilidades de leitura. Foi só então que os alunos foram expostos a outros gêneros textuais e passaram a ler, com proveito, revistas, jornais, poemas, etc, o que constituiu o nível de leitura avançada. Os problemas de leitura apresentados nos níveis intermediário e avançado foram bastante reveladores. Eles indicaram, novamente, que o texto escrito, conforme se coloca no papel que o aprendiz tem diante de si, é apenas um pretexto para que ele leia. A leitura se dá, na verdade, pelo viés do conhecimento lingüístico do aluno, aí incluídas as suas características estruturais! Se, por um lado, esses alunos não liam nada parecido com [ô bôlô dê côcô está quentê], por outro lado liam coisas como: 8 a- [os pobrema do pai...] para os problemas do pai; b- [João e Maria e o menino...] para João, Maria e o menino; c- [ele quer que eu faço...] por ele quer que eu faça; d- [a Maria...] por Maria; e- [para ver ela..] por para vê-la; f- [poliça] por polícia; g- [Ingraterra] por Inglaterra; h- [depende] por dependem i- [sistença] por assistência; j- [gratuíto/geriatríco/páis] por gratuito, geriátrico e país; l- [Arves] por Alves além de apresentarem dificuldade de leitura com palavras que apareciam divididas ao final da linha, com os sinais de exclamação e interrogação, com tempos verbais compostos, com o sujeito elíptico, entre outros. Esses fatos relativos à leitura sugerem, muito fortemente, que o alfabetizando toma como referência o seu desempenho lingüístico real, e não o dialeto que está sendo representado no texto a ser lido. E se as coisas são assim para a leitura, o que é que acontece na escrita? O Processo de Escrita Na terceira etapa, a escrita só era introduzida como atividade sistematizada no momento em que os alunos estivessem no estágio de leitura intermediária. Essa primeira atividade de escrita foi denominada escrita inicial. A atividade de escrita que se desenvolveu paralelamente à leitura avançada foi denominada escrita funcional. Nos dois momentos tínhamos como objetivo levar o aluno a produzir textos, a ler e comentar seus textos, a refazer seus textos em termos da ortografia oficial. Convém lembrar aqui que nossa expectativa era a de que as habilidades já desenvolvidas nas atividades de leitura pudessem influenciar positivamente na produção escrita. Mas isso não aconteceu. Embora os alunos já fossem capazes de ler com bastante fluência, ao iniciarem o processo de escrita agiam como se nada soubessem. Havia alunos que chegavam a utilizar uma escrita não-alfabética; outros faziam da escrita uma transcrição da própria fala, com pouquíssimo domínio dos critérios de segmentação da escrita, como se nunca tivessem observado a disposição gráfica de um texto. Esse fato, que a princípio nos frustrou, indica duas coisas: 1- O aprendizado da leitura e o aprendizado da escrita seguem caminhos razoavelmente diferentes; 2- Assim como na leitura, o aprendizado da escrita é pautado, em seus estágios iniciais, pelo desempenho lingüístico real do aprendiz. Mas, quais são as estratégias que o aprendiz utiliza na construção de um sistema de representação escrita? Em 1990, Milton do Nascimento e eu escrevemos um texto tentando responder essa pergunta. Com base num estudo quantitativo e qualitativo das dificuldades de escrita, observadas não apenas entre os adultos mas também entre crianças da escola regular, chegamos a propor uma taxionomia de "erros" que tinha um duplo objetivo: 1º- Classificar as dificuldades de escrita em termos de sua natureza, e 2º- Indicar como essas dificuldades aparecem, e se resolvem, no eixo do tempo. Confesso que essa taxionomia, conforme foi elaborada na ocasião, me parece hoje um 9 modelo bastante desajeitado, seja pela sua desnecessária complexidade, seja pela sua formulação extremamente técnica. Além disso, ela se refere unicamente às questões ortográficas e gramaticais, deixando de lado a questão textual. Confesso, também, que já estive tentado, várias vezes, a refazer essa geringonça e só não o fiz por não ver muita utilidade em maquiar um monstrengo, até porque há propostas mais claras do que a nossa, como aquela de Cagliari (1987). Acho, hoje, que os mecanismos ativados pelo aprendiz na construção de um sistema de escrita são relativamente simples na sua concepção (não, necessariamente, na sua implementação em sala de aula). Basicamente, penso que o aprendiz se move em três dimensões diferentes: 1ª Dimensão: A primeira dimensão tem a ver com a relação que o aprendiz estabelece entre a escrita e a fala. Conforme sugere Kato (1986), num primeiro momento o aprendiz considera a escrita como sendo um espelho da fala e, nesse sentido, ela depende da fala. Já num segundo momento ele é capaz de perceber que a escrita independe da fala. É assim que ele se move, no eixo do tempo, de uma escrita como bolu para uma escrita como bolo. 2ª Dimensão: A segunda dimensão é a dimensão do aprendizado da tecnologia apropriada para se escrever ortograficamente. Nessa dimensão o aprendiz passa por três momentos diferentes: no primeiro momento a escrita é derivada diretamente da fala. Assim, a relação que o aprendiz estabelece entre as letras a serem escritas e os sons produzidos é sempre direta: sons iguais > letras iguais; sons diferentes > letras diferentes - # x de sons > # x de letras. Esse primeiro momento justifica escritas como nosu, gera e coiu. Num segundo momento o aprendiz percebe que algumas relações devem ser intermediadas por convenções. É nesse momento que ele começa a rearranjar a sua escrita, grafando guerra, mundo, mole, etc. Num terceiro momento, que nunca se fecha, o aprendiz percebe que as convenções não são suficientes para resolver todos os casos de escrita: às vezes ele precisa ir ao dicionário para saber, por exemplo, se é sela ou cela, russo ou ruço, choque ou xoque. 3ª Dimensão: A terceira dimensão é a dimensão social. Aí o aprendiz percebe que a escrita e a fala são práticas sociais, conforme nos diz Marcuschi, gerenciadas por gêneros textuais que se colocam num continuum entre a fala e a escrita. (V. ANEXO 3C PARA UM EXEMPLO) Numa avaliação daquilo que pudemos fazer durante o andamento de nosso Projeto, posso dizer que foi possível justificar, com base na eficiência progressiva do processo como um todo, que qualquer atividade de ensino/aprendizagem de leitura e escrita precisa partir da realidade lingüística do aprendiz. Isto significa que precisamos levar em conta, na preparação do material a ser utilizado em sala de aula, as estruturas preferenciais que o aprendiz já domina. Assim, se limitarmos as nossas considerações às questões de natureza ortográfica, parece justificável partir das estruturas sonoras (aí incluídos não apenas os sons mas, também, as sílabas preferenciais, os padrões acentuais preferenciais, etc) para as letras, e não o inverso. Por outro lado, se não nos limitarmos às considerações puramente ortográficas, penso que a ordem a ser seguida na abordagem das questões de escrita e leitura deva ser: 1º o texto > 2º a frase > 3º a palavra. Até porque na nossa utilização da língua nos concentramos na produção e interpretação de textos, aqui entendidos, conforme Beaugrande, como eventos comunicativos, e não nos concentramos nas frases ou palavras isoladas. Se, na alfabetização, podemos constatar um movimento progressivo de estruturas canônicas para estruturas não canônicas, outros movimentos também devem ser esperados e considerados como normais. Por exemplo, é perfeitamente natural que os aprendizes apresentem uma maior variação de escrita nos estágios iniciais do que nos 10 estágios intermediários do processo. Isso se verifica tanto na produção de um aprendiz em relação a outro quanto na produção escrita de um mesmo aprendiz. Ou seja, se há uma tendência, nos estágios iniciais, a se tomar a própria fala como muleta para se escrever, as variações de fala vão conduzir a variações de escrita. Por outro lado, se a tecnologia da escrita ortográfica não está dominada nos estágios iniciais, é natural que o aprendiz apresente variações na sua própria escrita. Assim, podemos dizer que há também um movimento que vai do variável ao invariante. Mas é bom que se diga, também, que esse movimento não pode ser colocado em termos do produto apresentado; ele é muito mais o resultado de mudanças conceituais que o aprendiz faz ao longo do tempo, da troca de suas hipóteses sobre o que seja escrever. Ele é de natureza processual. Concluindo Penso que o título dado a esta palestra se justifica principalmente pelo fato de o Projeto em questão ter aliado teoria e prática. É bem verdade que na ocasião não exploramos tudo aquilo que poderia ter sido explorado. Acho que a grande lacuna é exatamente a dimensão textual da questão. Pois é exatamente aí que estamos concentrando nossos esforços ultimamente, no âmbito da Pós-Graduação na UFMG. ANEXO 1-A - Primeira Ordenação 01. v - d - t - l (início de sílaba); a - i - u 02. f – b – p 03. m – n (início de sílaba) 04. e – o ( tônicos ) (= / e, o, E, ç / 05. e – o ( átonos finais ) 06. ch – j 07. c – g ( antes de a, e, o ) 08. nh – lh 09. qu – gu ( antes de e, i ) 10. r inicial 11. s inicial 12. sílaba travada com r 13. sílaba travada com s 14. r – rr 15. sílaba travada com l 16. vogais nasais com m, n 17. vogais nasais com til 18. s intervocálico e z 19. ss 20. c – g ( antes de e, i ) 21. h inicial 22. ç 23. encontros consonantais 24. x 11 ANEXO 1-B - Textos - Primeira ordenação Texto 1 A Vida A vida é luta. A luta é válida. Divida a vida. Viva a vida. Texto 2 A viúva Paula via a viúva. Paula via a vida da viúva. A viúva vivia pálida, abafada. Paula avaliava a vida da viúva. Texto 3 A manada A manada é uma família. A manada é unida. Nila via a manada e falava: - A família é uma manada? - A família é unida? Texto 4 A vida na novela A novela muda a idéia da vida. A novela adota a mania da boa vida. Na novela, a vida é toda bonita. E na luta, a vida é feia ou bonita? Texto 5 A vida de Paulo O nome do menino é Paulo. Ele vive amolado. O pai dele vive bêbado. Paulo fala da luta pela vida. Nada de bola, nada de aula, nada de afeto. Ele leva uma vida nada mole. 12 ANEXO 1-C - TEXTOS DE APRENDIZES Texto 1 vanos acaba nosata Foga o engo anoteseo mu cafe e la tinha posõ be sugto setabos no cafe lenõ si levato e grito a niba ten par nuba tuco Foti pacaxo o lenõ bateo Texto 2 urateo da loterinha fi feto no Rio di Janero eu tenho u filinho qimiama ma não gota di estudo meu filo eu fali coele qi sinao estuda vose não vae podera ruma u empego e vose não poderá mixiganaba e não vai adiata Texto 3 a vida nunca será bola porque somus muito pobri e ainda esprorados sera porque nosu pais e tão rico tem tanto petrolho ouro e minerio e no Brasil tem tanta pessoa asalariados e desempregados Texto 4 Aminha Historia Eu quando garoto tive uma vida muito dura mais nunca me desanimei sempre pensei em ser um proficional. Seria ela qual foce aí então aprendi a profição de sapateiro, fiquei muito feliz - grassas a Deus e foi por intermedio desta profição e que eu conguistei boas amizades e consegui este este imprego. 13 ANEXO 2-A - SEGUNDA ORDENAÇÃO Elementos 01. v - d - a - i - u 02. t - l 03. m - n 04. p - b - f 05. ê - é - ô - ó 06. todos os anteriores 07. e - o (átonos finais) 08. r - s (iniciais); z (inicial e medial) 09. r - rr (intervocálicos) 10. ch - x (inicial)' 11. j - g (antes de e/i) 12. c - g (antes de a/o/u) - gu - qu (antes de e/i) 13. nh - lh 14. Encontros consonantais 15. r (em final de sílaba) 16. l (em final de sílaba) 17. Vogais nasais 18. s (intervocálico) - z (final) 19. ss - ç - c (diante de e/i) 20. h (inicial) - x (não inicial) - qü/gü Sílaba CV CV CV CV CV V - svV - Vsv CV - V - svV - Vsv CV - V - svV - Vsv CV - V - svV - Vsv CV - V - svV - Vsv CV - V - svV - Vsv CV - V - svV - Vsv CV - V - svV - Vsv CCV CVC - VC CVC - VC Todas Todas Todas Todas 14 ANEXO 2-B - TEXTOS - SEGUNDA ORDENAÇÃO Texto 1 Viva a vida. Texto 2 A Vida A vida é luta. A luta é válida. Divida a vida. Viva a vida. Texto 3 A mulata A mulata Divina é vivida. Divina luta e muda a vida. Texto 4 A mulata Bibi. A vida da mulata Bibi é danada. A papa de Bibi é fava, fubá, banana e batata. Texto 5 A novela Leda vê novela. A novela fala da moda. Leda topa a nova vida da novela. Leda fala: - Na novela, a vida é toda bonita. ANEXO 3-A - TERCEIRA ORDENAÇÃO PARÂMETROS Estrutura Silábica Acentuação ORDENAÇÃO CV > CCV > V > (C)(C)VC Paroxítonas > Oxítonas > Átonas > Proparoxítonas 15 # de Sílabas Trissílabos/Dissílabos > Polissílabos > Monossílabos Grafemas 01. p/b - t/d - f/v - l/m/n i/u (tônicos) - a 02. e/o (átonos finais e tônicos) 03. r - rr 04. c/g/j (diante de a/o/u) qu/gu (diante de e/i) s/z (iniciais, diante de a/o/u) 05. s - r (não finais, em coda) 06. nh - lh/le/li 07. s - z (finais) 08. r (final de palavra) 09. e/i - o/u átonos não finais (alçamento) 10. ai/ei/ou (redução de ditongos) 11. l/u em coda (vocalização) 12. i(s) - u(s) átonos finais 13. ch - x 14. g/j (diante de e/i) 15. s/c iniciais - s/c/ç/z/x/sc/sç/ss/xc (intervocálicos) 16. qü - gü ANEXO 3-B - TEXTOS - TERCEIRA ORDENAÇÃO Texto 1 Lula fala da vida Lula é um rapaz de 18 anos. Ele mora em Retiro, uma vila do interior de Minas Gerais. Ele fala que na vila não tem nada. Não tem emprego direito, não tem escola direito, não tem hospital, não tem nada. O único trabalho que existe é na roça: capinar e plantar. Mesmo assim, é uma dificuldade. Entra dia, sai dia; entra semana, sai semana; entra mês, sai mês. No final, o que se ganha não dá pra nada. Lula fala que a vida é uma luta. A vida é dura. Ele acha que, numa cidade grande, a vida pode ser melhor. Lula lembra da Divina, a sua colega de grupo, que mudou para Belo Horizonte com sua família. Na cabeça de Lula tem sempre uma voz que martela: - Lula, muda de vida! Vai pra Belo Horizonte, também! Muda a batida da vida! 16 Ao lado de Lula, seu irmãozinho Tita não pensa em nada disso. Tita pula e solta pipa. Ele ainda não pensa em seu futuro. Sua vida são, por enquanto, seus brinquedos. Afinal de contas, Tita é ainda um menino e só fala de fadas. ANEXO 3-C - TEXTOS DE UM APRENDIZ Jaci Moreira do Carmo Jaci Dia 27 de abril de 1989 O meo ponto de vista é assim O idoso precisa de Uma maneira de sobre viver melhor porque a idade não espera A condiçãos finaseira melhora. é aí que comprica proidoso. Mais não tem ploberema, vomos resolver esta que stão dos velhos idoso. Vamos brigar. Vamos denosiar. Vamos protestar com ntrario a sonegação aos velhos. Jaci Moreira do Carmo Dia 26 de Junho de 1989 Aqui eu quero dar meu recado de quiéu aproveitei do curço. Durante ese tempo de aula. nunca tinha estudado. Para me foi Um sonho ter esta oportunidade so não aprede mais. Porquê. Eo mesmo tinha dificuldade Para aprender. Devido aidade: Mais estou muito contente. Agora não paço omais vergonha. para acinar cheque mais: Grassa a vosseis. Professoras foram muito jentil. contra alguma coisa não tem nada contra so pesso muitas desculpas ta? DATA DE NACIMENTO 28144