ORIGENS DA EDUCAÇÃO PROTESTANTE EM SERGIPE 1884-1913 ESTER FRAGA VILAS-BÔAS Professora da Rede Estadual de Ensino e Mestranda em Educação da Universidade Federal de Sergipe As produções referentes à prática educativa protestante na historiografia educacional brasileira ainda são tímidas, algumas vezes carregadas nas tintas do espírito teológico e religioso, privilegiando mais a região sudeste, o que surpreende pelo fato do protestantismo ter estado presente quase simultaneamente em grande parte do território nacional. Autores como Fernando de Azevedo e Jorge Nagle1, apesar de terem analisado demoradamente a educação brasileira, são tímidos no que se refere à educação protestante. Um estudo mais específico foi desenvolvido por Jether Pereira Ramalho2, onde tratou em profundidade sobre a temática e sua relação com a ideologia. Dentre outras pesquisas, destacam-se as obras de Peri Mesquida, Osvaldo Henrique Hack e Leda Rejane A . Sellaro3. A historiografia sergipana, quando trata especificamente da educação no Estado, sequer faz referência a presença de instituições educacionais protestantes, como foi o caso da “História da Educação em Sergipe”, de autoria da professora Mª Thetis Nunes4, e do livro do professor José Antonio Nunes Mendonça intitulado “A Educação em Sergipe”5. O único que fez alusão à Escola Americana foi o Padre Philadelpho em seus livros “História de Laranjeiras” e “Registros de Fatos Históricos de Laranjeiras”6, levando-me a concluir que ele retirara aquelas informações dos Livros de Tombo da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Laranjeiras. No entanto, esta característica não é privilégio da historiografia educacional sergipana. A maior parte dos trabalhos sobre educação produzidos no Brasil, a partir da década de 60 deste século, prioriza o período republicano, ignorando quase que completamente a presença protestante no contexto educacional do país. Boa parte das pesquisas desenvolvidas sob a perspectiva da História Nova, principalmente a partir da década de 80, têm revisitado as leituras feitas na História da Educação Brasileira sobretudo com os pioneiros da pedagogia da Escola Nova. Porém, poucos têm levado em consideração a importância da implementação da pedagogia escolanovista nas escolas protestantes. Para Sergipe, o presente trabalho coloca-se como um primeiro debruçar sobre a questão. 1 AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. NAGLE, Jorge. A educação na Primeira República In FAUSTO, Boris (Org.). História geral da civilização brasileira, Tomo III, 2º ed., RJ/SP.DIFEL, 1978. 2 RAMALHO, Jether P. Prática educativa e sociedade. Rio de Janeiro, ZAHAR, 1976. 3 MESQUIDA, Peri. Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil. Juiz de Fora, EDUFJ, 1994. HACK, Osvaldo H. Protestantismo e educação brasileira. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1985.SELLARO, Leda Rejane A .Educação e religião. Dissertação de Mestrado, UFPE, 1987. 4 NUNES, Mª Thetis. História da educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Aracaju: Universidade Federal de Sergipe, 1984. 5 MENDONÇA, José A . Nunes. A educação em Sergipe. Aracaju, Livraria Regina, 1958. 6 OLIVEIRA, Vig. Philadelpho J. de. História de Laranjeiras. Aracaju, Segrase, 2ª ed., 1981. Registro de fatos históricos de Laranjeiras. Aracaju, Casa Ávila, 1942. Numa perspectiva historiográfica, analisarei de que maneira o projeto educacional proposto pelos presbiterianos – primeira denominação a instalar-se em Sergipe – funcionou como elemento modificador da realidade educacional sergipana entre 1884 a 1913 – período em que o trabalho protestante foi exclusivamente dessa denominação. Os questionamentos suscitados pelo estudo conduziram-me sobretudo à documentação institucional presbiteriana – Livros de Ata da Igreja de Laranjeiras e da Missão Central do Brasil _, uma vez que as fontes oficiais revelaram-se insuficientes. Assim, além da busca de documentos manuscritos e impressos, foi necessário recorrer às fontes iconográficas e orais. Me vali de FEBVRE quando afirma que “Onde faltam os monumentos escritos, deve a história demandar às línguas mortas os seus segredos... (...) Onde o homem passou, onde deixou qualquer marca da sua vida e da sua inteligência, aí está a história. (...) A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com tudo o que a habilidade do historiador lhe permitir fabricar o seu mel, na falta de flores habituais. Logo, com palavras. Signos. Paisagens e telhas (...). Numa palavra, com tudo o que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve do homem, exprime o homem, demonstra a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem”7. Durante todo o período colonial brasileiro, foi impossível a implantação do protestantismo no Brasil, pois, como acontecia na metrópole, aqui o catolicismo romano _ seguindo o modelo ibérico e expandindo-se nos moldes da Contra-Reforma _ tinha o domínio no setor religioso. Era a religião do homem brasileiro, inserida no seu cotidiano. Aceitar os princípios da crença protestante implicava em mudança de padrões culturais e valores éticos não condizentes com seu sistema valorativo. O protestantismo precisou esperar o surgimento de condições históricas favoráveis para sua definitiva inserção. O século XIX chegaria trazendo consigo as mudanças históricas que estavam ocorrendo no mundo; as lutas e anseios dos séculos precedentes que culminaram com as aspirações postas pela Revolução Francesa. Os avanços da ciência e da tecnologia e, juntamente os ideais liberais, invadiriam o Brasil através do chamado “espírito da civilização moderna” que exigia a secularização progressiva da sociedade, pois o avanço científico reclamava a separação da Igreja do Estado. Naquele momento, o segmento liberal da sociedade brasileira acreditava que o país precisava entrar “ no esquema das nações mais avançadas” e o caminho era uma educação “voltada mais para a ciência e a técnica”8. Ajustar, pois, o Brasil à modernidade capitalista foi tarefa que a “intelligentsia” nacional pretendeu consolidar, tendo na educação o mecanismo inconteste para elevar o país à condição de nação desenvolvida, disseminando o ensino público no país. Após um primeiro momento da penetração de imigrantes anglo-saxões, a implantação da nova religião só veio se efetivar no Brasil na segunda metade do século XIX com a chegada de imigrantes norte-americanos oriundos de missões das chamadas denominações históricas – metodistas, congregacionais, presbiterianos e batistas. Estes 7 FEBVRE, Lucien Apud LE GOFF. Jacques. Documento/Monumento. In Enciclopédia Einaudi. Vol. I, p. 98. 8 PAIVA, Vanilda. Educação popular e educação de adultos, p. 74. instalaram-se e organizaram no país igrejas e escolas com o objetivo de por em prática principalmente um projeto de expansão cultural na visão de Weber, “um estilo de vida normativo, baseado e revestido de um ética”9 individualista, conversionista e excludente. Naquele período, tensões internas provocadas pela questão da escravidão dividiram a nação norte-americana também no campo da religião. Em 1837, os presbiterianos dividiram-se em Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos (PCUSA) e em Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos (PCUS), estabelecendo posteriormente missões no Brasil. Em 1871, foi formado o primeiro núcleo de missionários presbiterianos no nordeste vinculados à “Brazil Mission” da Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos, com escritório em Nova Iorque. Em 1897 a “Brazil Mission” dividiu-se em “South Brazil Mission” compreendendo os Estados do sul do país, e em “Central Brazil Mission”, responsável pela ocupação dos campos da Bahia e Sergipe, estabelecendo-se em Salvador. Vinte anos depois dessas missões mandarem seus primeiros representantes para o Brasil, existiam em todos os principais centros do país colégios protestantes e uma rede de escolas “paroquiais” – escolas primárias ao lado da igreja _ não só para sua clientela como para aqueles que professavam outras religiões. Sob a liderança do reverendo William Alfred Waddell, os missionários da Junta de Nova Iorque organizaram mais de quarenta escolas paroquiais e alguns colégios na Bahia e em Sergipe. Na visão dos educadores norte-americanos, o ensino confessional e público naquele momento, com exceção das escolas privadas, caracterizavam-se por uma prática educativa essencialmente memorizadora, pois de acordo com Maria Cecília C. C. de Souza, “No ambiente contra-reformista em que o catecismo foi instituído, a repetição mecânica era necessária – não se podia aceitar que o catecúmeno reproduzisse com suas próprias palavras e desenvolvesse idéias próprias sobre aquilo que era dogma da fé, sob o risco da heresia.”10 Essa realidade favoreceria a irradiação das escolas protestantes não só nas principais cidades do Império como também na zona rural. Para AZEVEDO, essas instituições 9 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo, p.37. SOUZA, Maria Cecília C. C. de. Decorar, lembrar e repetir: o significado de práticas escolares na escola brasileira do final do século XIX. In: SOUZA, Cyntia P. (Org.). História da educação: processos, práticas e saberes, p. 83. 10 “ provocaram um choque em nosso mundo pedagógico por implicarem uma ruptura com a tradição escolar do país. Onde imperava a intolerância religiosa, ergueu-se o princípio de liberdade de consciência: as escolas estariam abertas a todos sem discriminação de crenças e de culto. Em lugar de separação de meninos e meninas por classes, quando não por escolas diferentes, o que se procurou estabelecer, foi o regime da co-educação. Métodos que faziam mais apelo à inteligência do que à memória, tomavam o lugar às práticas habituais de estudo em voz alta e da decoração que convidavam ao sono nas escolas.(...) Em vez de uma organização rígida baseada na autoridade e na disciplina, uma organização fundada no princípio de liberdade, de compreensão mútua e de colaboração”11. As tentativas das ações implementadas na área educacional pelos Presidentes da Província e a ampliação do número de escolas particulares no espaço educacional sergipano facultariam a organização da primeira escola protestante. Acompanhando o sistema semelhante ao de “franquia” de seus estabelecimentos escolares, dois anos após a Missão organizar a primeira igreja presbiteriana em Sergipe, em 1886 inicialmente instalou a Escola Americana na cidade de Laranjeiras, organizando posteriormente escolas paroquiais em Aracaju, Estância, Simão Dias, Urubutinga e Frei Paulo. Sob a direção do baiano e presbiteriano professor Manoel Nunes da Motta, inicialmente a escola funcionou na andar térreo do “Sobrado dos Protestantes”12, e, além de oferecer os cursos Primário e Secundário para ambos os sexos, recebia também alunos não crentes e possuía internatos masculino e feminino. Como as mensalidades eram baixas, as crianças menos favorecidas podiam frequentá-la. As aulas eram ministradas por professoras; das disciplinas oferecidas no Secundário constava Aritmética, Geografia, Inglês, Português, Francês, Prendas e Música (a escola possuía um piano)13. Na época, os jornais não se reportaram à existência da escola, dando ênfase só aos polêmicos embates travados entre os católicos e os convertidos à nova fé. Este fato reportou-me à música que é construída por símbolos, dentre eles notas e pausas. As primeiras representam os sons que ouvimos e as pausas, os espaços de silêncio, formando assim uma melodia. Não só o som, mas sua ausência também é música. Como na música, é preciso aprender a ler na história o propósito da formação e utilização dos testemunhos escritos, e a ausência deles. O que pode ser lido no silenciamento da imprensa no que se refere à Escola Americana foi que as investidas feitas pelos 11 AZEVEDO, Fernando de. “Uma interpretação do Instituto Mackenzie”. In: Revista da FLEP (Faculdade de Letras, Educação e Psicologia). Universidade Mackenzie, Ano I, nº 1, novembro de 1997, p. 13. 12 Termo como ficou conhecida na cidade a casa alugada pelos missionários. 13 Livro de Matrícula do Ensino Particular – 1900, p. 08, Arquivo Público do Estado de Sergipe. missionários na área educacional sergipana provavelmente incomodaram as elites religiosa, cultural e política. Uma carta da sra. Lily Finley, esposa do missionário Woodward Edmund Finley, falava “do esforço do padre para desviar os alunos da escola”14. Já o quase silenciamento por parte das instituições oficiais do Estado, talvez tenha se dado pelo fato de que geralmente os estabelecimentos particulares não apresentavam quase nenhuma exposição de suas atividades aos inspetores literários. A partir de alguns casos localizados por esta pesquisa, é possível afirmar que a presença das escolas presbiterianas contribuiu para o aperfeiçoamento da oferta de ensino em Sergipe, com suas práticas pedagógicas escolanovistas e um quadro de professores tecnicamente preparado além de uma infra-estrutura semelhante às escolas presbiterianas de São Paulo. A exemplo do que ocorria em outras escolas sob sua jurisdição, a Missão investiu em dois sergipanos. O primeiro foi Penélope Magalhães (14/08/1886 – 1982), laranjeirense, futura professora e pianista. Como a Escola Americana oferecia aulas de música, a menina Penélope logo se interessou a aprender piano15. Em 1898, convidaram-na para estudar na Califórnia onde fez o curso regular pedagógico e o de teologia, retornando em 1910 para ensinar no Instituto Ponte Nova, na Bahia16. Caso semelhante foi o do reverendo Antônio Almeida (1879-1969). A Missão mandou-o para o Colégio 15 de Novembro, em Garanhuns, e após concluir o curso de Bacharelado em Teologia, em 1920, ingressou no Union Seminary of Richmond, nos Estados Unidos, onde especializou-se em Hebraico17. Outro exemplo, também fruto do trabalho dos missionários presbiterianos, foi a ex-aluna da Escola Americana em Aracaju Gregória do Prado Dantas (09/05/1884-20/09/1975). Provavelmente, em 1915, abriu uma escola particular para ambos os sexos, oferecendo o Curso Primário. Em 1934, o prefeito de Simão Dias, Marcos Ferreira de Jesus, reuniu 14 FERREIRA, Júlio A . História da igreja presbiteriana do Brasil, vol. I, p. 474. Sobre ela a professora Mª Ritta Soares de Andrade escreveu: (...) D. Penélope trouxe para o seu Estado um vasto cabedal, que aqui transfunde altruisticamente a quantos buscam ensinamentos no seu talento e na sua cultura. (...) É um espírito summamente adeantado, e maneja com habilidade o português, o francês, e o inglês – idioma em que é a mestra dos mestres.” ANDRADE, Mª Ritta S. de. A mulher na literatura, pp. 153-154. 16 No início dos anos 30, em Sergipe, o Jardim de Infância Augusto Maynard Gomes foi o primeiro estabelecimento educacional a ser construído em Aracaju seguindo o modelo de educação infantil mais moderno da época e implantando o método de alfabetização mais atual que existia. A professora Penélope foi designada pelo governador Augusto Maynard Gomes para ir a São Paulo e ao Rio de Janeiro verificar a legislação e currículos que se adequariam ao projeto do Jardim, de acordo com os padrões técnicos do Ministério de Educação, sendo sua fundadora e diretora durante vários anos. 17 Ao regressar ao Brasil um ano depois, Antônio Almeida assumiu a direção da Escola Teológica em Recife e, posteriormente, foi um dos fundadores do Seminário Presbiteriano do Norte. Além de professor foi escritor e músico. FERREIRA, E. L. O presbiterianismo em Lagarto, pp. 32-34. 15 todas as escolas municipais num só local, convidando-a para assumir a direção do Agrupamento Municipal Escolas Reunidas Augusto Maynard18. Durante os quatorze anos de funcionamento em Laranjeiras, a Escola Americana foi frequentada pelos filhos dos donos de engenho. No entanto, em decorrência da seca que se abatera em Sergipe naquele período muitos deles quebraram, impedindo-os de mandarem seus filhos para a escola. Este fato contribuiu na decisão da Missão em transferi-la para Aracaju, e já em 1900, funcionando na Rua Aurora, nº 7, sob a direção do reverendo Finley, a escola contava com 50 alunos matriculados e dois professores19, oferecendo internato e externato para ambos os sexos. Foi considerado pelo Diretor da Instrução Pública, juntamente com o Colégio Brasil, os melhores estabelecimentos particulares de ensino na época20. Naquele ano, o reverendo Finley publicou no jornal a lista dos aprovados e dentre eles estavam seu próprio filho e Jackson de Figueiredo, futuro paladino do pensamento católico, aluno da escola até 190521. No ano letivo de 1901, a escola tinha um corpo docente de seis professores (incluindo e uma professora de Prendas e um professor de Música) “pronta a dar uma educação segundo os últimos métodos pedagógicos a todos os alunos que forem confiados a seu cuidado”22. Os novos professores eram sergipanos, pois a direção tinha descartado a hipótese de contratar professores do sul do país, para racionalizar as despesas, pois, como a crise financeira também se abatera na Missão Central desde 1900, dois anos depois, pessoas das próprias comunidades foram preparadas pelos missionários para assumirem o ensino de suas escolas paroquiais. Exemplo disso foi a incoporação do reverendo Walter Cameron Donald (06/01/1883-06/03/1967) no quadro educacional da Missão a partir de 190423. Ainda em 1903, os missionários foram novamente remanejados. Finley continuou em Aracaju e Cassius Bixler foi transferido 18 Entrevista feita com sua filha, a sra. Olda do Prado Dantas em 18/07/2000. Minutes of the Meetings of the Central Brazil Mission (1897-1912) – 07/07/1900 – Reunião em São Félix-BA. 20 As anuidades dos curso Primário, Intermediário e Secundário eram, respectivamente, 80$000 réis , 100$000 réis e 120$000 réis. Já o internato, a pensão e o ensino custavam 500$000 réis, sem a lavagem de roupa e a música instrumental, podendo ser efetuados em quatro prestações. O Estado de Sergipe, ano III, nº 418, 10/01/1900. 21 Sobre ele sua filha escreveu: “Quando voltou a Aracaju vindo de Estância, continuou seus estudos com D. Etelvina Amália Siqueira; depois foi para o Colégio Americano, do pastor protestante W. E. Finley. Ali assimilou e decorou trechos inteiros da Bíblia.”. FERNANDES, Cléa A . de F. Jackson de Figueiredo: uma trajetória apaixonada, p. 51. 22 O Estado de Sergipe, nº 672, 30/11/1900, p. 03. 23 Foi professor nas escolas paroquiais das cidades de Aracaju, Laranjeiras, Riachuelo, Estância e Simão Dias. Na década de 1930, lecionou a disciplina Inglês no Colégio Atheneu Sergipense, onde adotava o livro “The English Gymnasial Grammar, Méthod Direct-Expository by Hubert C. Bethel”. Como tinha 19 de Laranjeiras para Estância, ficando durante dez anos responsável pela expansão do trabalho no sul do Estado e pela organização de uma escola paroquial naquela cidade24. Para Nora, com as constantes transformações do mundo moderno, as instituições sociais para escaparem das ameaças do esquecimento geraram “a obsessão pelos registros, pelos traços, arquivos, museus, cemitérios, coleções, festas, comemorações, aniversários, tratados, processos verbais, monumentos – santuários, associações; processos que dão ilusões de eternidade”25. Entretanto, o que ocorreu com o trabalho educacional presbiteriano em Sergipe foi o inverso. As atas descreveram os choques internos travados entre os missionários sobre o tema “educação versus evangelização”, que, para uma grande parte deles, a primeira era uma estratégia missionária e não um fim em si. Outra questão foi a avaliação feita pela Missão sobre o empreendimento educacional no Estado, dando a entender que os resultados não justificavam o investimento feito, não explicitando as causas da decadência e do posterior fechamento da escola. A partir de 1904, a Missão começou a retirar seus representantes de Sergipe. Com a saída do reverendo Finley e da professora Elizabeth Williamson os internatos da Escola Americana foram fechados, oferecendo só o Primário. As atas demonstravam o desequilíbrio do trabalho educacional entre Sergipe e Bahia, denotando a decisão da Missão em concentrá-lo neste último Estado. Exemplo disso foi a organização de colégios em Cachoeira, São Félix, Ponte Nova (atual cidade de Wagner) e, posteriormente, uma escola em Salvador. Paulatinamente os anúncios sobre a escola de Aracaju começaram a desaparecer dos jornais e, a partir de 1913, tanto ela como a de Estância deixaram de ser registradas nos orçamentos da Missão Central do Brasil. É possível que o processo de fechamento do colégio foi tão conflituoso que não houve um maior cuidado com sua memória, pois a documentação da instituição presbiteriana a que tive acesso não registrou as causas que levaram a Missão a desistir do projeto educacional em Sergipe. “Origens da Educação Protestante em Sergipe” busca refletir e provocar debates em torno da trajetória e da contribuição das instituições educacionais protestantes no contexto educacional brasileiro, particularmente em Sergipe. Na reconstituição do dupla nacionalidade também foi convidado para ser Vice-Cônsul em Sergipe na época da Segunda Guerra Mundial. Entrevista realizada com a sra. Ivonete dos Santos Donald em 04/05/2000. 24 Minutes of the Meetings of the Central Brazil Mission (1904–1938) – 19/12/1904 – Reunião da Missão Central em Estância-SE. 25 NORA, Pierre. Apud FÉLIX, Loiva Otero. História e memória: a problemática da pesquisa, p. 53. trabalho educacional presbiteriano em terras sergipanas, foi possível dar vida a personagens que dele fizeram parte através dos vestígios deixados no tempo e no espaço e assim, projetando-os na tela da história, fazer o pretérito novamente existir. BIBLIOGRAFIA ANDRADE, Mª Ritta. A mulher na literatura. Tese apresentada ao Atheneu Pedro II para concorrer à livre docência da cadeira de Literatura. Aracaju, Casa Ávila, 1929. AZEVEDO, F. de. A cultura brasileira. 6ª ed., Rio de Janeiro, Ed. UFRJ/ Brasília, Ed. UnB,1996. O Estado de Sergipe, Ano III, Aracaju, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. FÉLIX, Loiva Otero. História e memória: a problemática da pesquisa. Passo Fundo, Ediupf, 1998. FERNANDES, Cléa Alves de Figueiredo. Jackson de Figueiredo: uma trajetória apaixonada. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1989. FERREIRA, E. L. O presbiterianismo em Lagarto. Texto mimeografado, 1982. FERREIRA, Júlio A . História da igreja presbiteriana do Brasil. 2ª ed., Vol. I, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992. _________________. ___________________________________. 2ª ed., Vol. II, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992. HACK, Osvaldo H. Protestantismo e educação brasileira: presbiterianismo e seu relacionamento com o sistema pedagógico. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1985. LE GOFF, Jacques. Documento Monumento. In Enciclopédia Einaudi. Vol. I, Porto, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984. Livro de Actas da Egreja da Larangeiras – Sergipe – 1902. Arquivo da Igreja Presbiteriana da Mangueira, Salvador-BA. Livro de Matrículas do Ensino Particular – 1900. Arquivo Público do Estado de Sergipe. Livro Segundo das Actas da Egreja Presbiteriana da Bahia – 04/10/1885 a 09/01/1900. Arquivo da Igreja Presbiteriana da Mangueira, Salvador-BA. Livro de Tombo da Cúria de Aracaju, nº 1, Arquidiocese de Aracaju-SE, 03/06/1949. Livro de Tombo da Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Arquidiocese de Aracaju-SE, 05/11/1968. MENDONÇA, José Nunes. A educação em Sergipe. Aracaju, Livraria Regina, 1958. MESQUIDA, Peri, Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil: um estudo de caso. Juiz de Fora, EDUFJF/S. Bernardo do Campo, EDITEO, 1994. Minutes of the Meetings of the Central Brazil Mission – 1897-1912. Arquivo particular do Dr. James Wrigth, Vitória, ES. Minutes of the Meetings of the Central Brazil Mission – 1904-1938. Arquivo particular do Dr. James Wright, Vitória, ES. NAGLE, Jorge. A educação na Primeira República. In: FAUSTO, Boris. (Org.). História geral da civilização brasileira. Vol. III, São Paulo, Difel, 1978. NUNES, Mª Thetis. História da educação em Sergipe. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984. _______________. Ensino secundário e sociedade brasileira. Rio de Janeiro, ISEB, 1962. OLIVEIRA, Vig. Philadelpho J. de. História de Laranjeiras. Aracaju, Segrase, 2ª ed., 1981. _____________________________. Registro de fatos históricos de Laranjeiras. Aracaju, Ed. Casa Ávila, 1942. PAIVA, Vanilda. Educação popular e educação de adultos. São Paulo, Ed. Loyola, 1987. RAMALHO, Jether P. Prática educativa e sociedade: um estudo de sociologia da educação. Rio de Janeiro, Zahar Editora, 1976. Revista da Faculdade de Letras, Educação e Psicologia. Universidade Mackenzie, Ano I, nº 1, novembro, 1997. SOUZA, Cyntia P. de (Org.). História da educação: processos, práticas e saberes. São Paulo, Escrituras Editora, 1998. TEIXEIRA, Mª Geralda. Os batistas na Bahia: 1882-1925 – um estudo de história social. Salvador, UFBA - Dissertação de Mestrado, 1975. VILAS-BÔAS, Ester F. A prática educativa do protestantismo no contexto histórico da educação brasileira – sua importância e influência. Aracaju, monografia de conclusão da Disciplina do Mestrado Educação Brasileira, UFS,1997. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 5ª ed., São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1987.