c e n t r o d e i n f o r m a ç ã o d o m e d i c a m e n t o ORDEM DOS FARMACÊUTICOS Medicação e cirurgia, riscos associados Temos assistido nos últimos tempos a um aumento do número de doentes idosos submetidos a procedimentos cirúrgicos, em resultado dos avanços verificados nas técnicas anestésica e cirúrgica. Alguns autores estimam que o número de doentes idosos com mais de 65 anos submetido a cirurgia aumente cerca de 50% nos próximos trinta anos. Muitos destes doentes fazem terapêutica habitual com medicamentos, conseguindo-se desta forma o controlo da(s) sua(s) patologia(s) de base, e em resultado desta terapêutica, são considerados elegíveis para cirurgia.1 Contudo, a existência da possibilidade de aspiração do conteúdo gástrico leva a restrições na utilização da via oral, com pelo menos seis horas de antecedência em relação à indução anestésica, obrigando a que toda a terapêutica oral seja suspensa antes da intervenção cirúrgica.2 De considerar ainda que os procedimentos cirúrgicos de uma forma geral, e a cirurgia major abdominal em particular, podem provocar o aumento do tempo de esvaziamento gástrico, tornando inviável a administração de fármacos por via oral ou sonda nasogástrica. Outros factores que dificultam a utilização da via oral no pós-operatório são a ventilação assistida, a intubação, as náuseas e os vómitos.3-5 Deve ser considerada a possibilidade de existência de interacções entre o(s) procedimento(s) cirúrgico(s) e os medicamentos usados no período perioperatório, associados ou não à intervenção cirúrgica. Exemplos de interacções importantes incluem o aparecimento de convulsões em doentes submetidos a terapêutica com antidepressivos tricíclicos e anestesia com enflurano, o prolongamento do efeito dos bloqueadores neuromusculares como o suxametónio em doentes com terapêutica com anticolinesterásicos, ou o aparecimento de síndroma da serotonina em doentes submetidos a terapêutica com inibidores da recaptação da serotonina e petidina. Os doentes cirúrgicos apresentam graus variáveis de stress fisiológico e psicológico, directamente relacionados com a cirurgia, sendo por isso mais vulneráveis a complicações resultantes da interrupção da sua terapêutica medicamentosa habitual, podendo estar aumentado o risco de disfunção orgânica.3,6,7 Um estudo efectuado por Kennedy evidenciou um risco acrescido de complicações pós-cirúrgicas em doentes submetidos previamente a terapêutica medicamentosa. Estes autores verificaram maior incidência de complicações neste grupo de doentes e a existência de uma relação entre a suspensão/interrupção da terapêutica e o aparecimento de outcomes negativos. Assim, descrevem o aparecimento de complicações no caso da suspensão abrupta de anti-hipertensores, L-dopa, benzodiazepinas e antidepressivos, complicações essas que desapareciam com a reintrodução do agente terapêutico.1 Assim, sempre que possível, a terapêutica medicamentosa deve manter-se no período perioperatório, de forma a prevenir recidivas da patologia de base, ou evitar os efeitos da ausência da terapêutica. Para tal, pode tornar-se necessário administrar medicamentos considerados essenciais através de vias de administração diferentes das habitualmente utilizadas pelos doentes em regime ambulatório, nomeadamente injectável, rectal, ou transdérmica. No entanto, a selecção de tratamentos alternativos deve ser feita com extremo cuidado, pois mesmo a troca de uma formulação de um dado medicamento por outra formulação do mesmo medicamento pode implicar a necessidade de alterar a dose a administrar, em resultado de uma biodisponibilidade diferente.3, 6, 8 É exemplo a terapêutica anticonvulsivante oral, que, durante o período perioperatório, deve, sempre que necessário, ser substituída por terapêutica endovenosa ou rectal, adequando as doses às formulações utilizadas, em consequência de diferente biodisponibilidade. Em doentes submetidos a terapêutica com corticosteróides sugere-se a utilização, como regime de substituição, de hidrocortisona injectável, de forma a evitar os efeitos da supressão adrenocortical.6 A manutenção da terapêutica cardiovascular mostra ter impacto significativo na redução da morbilidade cardiovascular perioperatória ao promover protecção contra a isquémia do miocárdio e crise hipertensiva resultantes do stress cirúrgico e anestésico.2 De notar que esta é uma das terapêuticas mais utilizadas em geriatria. O reconhecimento da existência de síndroma de privação manifestado por hipertensão, taquicárdia, ou isquémia, associado à cessação da terapêutica com anti-hipertensores/ antianginosos, nomeadamente bloqueadores β, agonistas α2 e metildopa, suporta a necessidade da administração pré-operatória, na maioria dos doentes. Os benefícios da Janeiro/Fevereiro 2004 Boletim do CIM Director: J. A. Aranda da Silva Boletim do CIM Janeiro/Fevereiro 2004 manutenção da terapêutica com bloqueadores β incluem a maior estabilidade do perfil hemodinâmico do doente e a redução na incidência de arritmias, isquémia do miocárdio e enfarte. Na verdade, a descontinuação súbita de bloqueadores β pode levar ao aparecimento de síndrome de privação 12 a 72h após a suspensão da terapêutica, podendo inclusivamente conduzir ao aparecimento de morte súbita. A descontinuação da terapêutica com agonistas alfa2, como a clonidina, mesmo que apenas numa única administração, tem sido associada ao aparecimento de instabilidade hemodinâmica, com aumento da excreção de catecolaminas urinárias e elevação na actividade da renina plasmática. De forma contrária, existem medicamentos que devem ser interrompidos antes da cirurgia, nomeadamente os diuréticos, os anticoagulantes, o ácido acetilsalicílico, os contraceptivos orais, e a terapêutica hormonal de substituição, de forma a reduzir os riscos para o procedimento cirúrgico que a sua manutenção implicaria. Assim, a espironolactona ou a amilorida devem ser omitidos antes da cirurgia, uma vez que uma perfusão renal diminuída pode conduzir ao aparecimento de hipercaliémia. Também os contraceptivos orais são normalmente descontinuados várias semanas antes da cirurgia, de forma a reduzir o risco de tromboembolismo venoso no pós-operatório.3 O ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não esteróides devem ser descontinuados algum tempo antes da cirurgia, de forma a permitirem a normalização da função plaquetária, reduzindo o risco de hemorragia.2, 6, 8 Segundo alguns autores, a descontinuação na terapêutica deve ser calculada em função da semivida do medicamento, e deve, regra geral, ocorrer 3 a 5 semividas antes da intervenção cirúrgica. Contudo, é de considerar a existência de restrições a estas guidelines, nomeadamente no caso de medicamentos com metabolitos activos, alteração na ligação às proteínas plasmáticas ou na eliminação, que tenham impacto na concentração sérica e significado clínico.2 Nem sempre é fácil decidir quais os medicamentos que devem manter-se e quais os que devem ser interrompidos, mesmo que de forma transitória, uma vez que existem poucos dados que nos possam guiar nesta tomada de decisão.6 É este o caso dos IECAs, em que se mantêm algumas dúvidas. No entanto, alguns estudos sugeriram que os doentes que não interromperam a terapêutica com estes medicamentos antes da intervenção cirúrgica apresentavam um maior número de episódios de hipotensão com a indução anestésica e intubação traqueal do que aqueles que tinham interrompido. Parece, assim, que o risco da manutenção desta terapêutica é superior ao que resulta da sua suspensão.2 Esta decisão pode ser particularmente difícil quando falamos em cirurgia de urgência, em que se torna essencial a antecipação das consequências da decisão tomada.3 Alguns autores recomendam que se efectue um plano de gestão da terapêutica, de forma a minimizar riscos. Este plano deve incluir toda a terapêutica habitual do doente, e, embora seja importante para todos os doentes, assume especial importância no caso dos doentes idosos, uma vez que estes estão muitas vezes polimedicados em resultado de patologias múltiplas ou doença crónica. É com base neste plano que devem ser programadas todas as alterações terapêuticas, nomeadamente a manutenção, a interrupção ou a substituição de medicamentos sempre que necessário.8 Em conclusão, muitos doentes admitidos para cirurgia estão sujeitos a terapêutica com medicamentos, e a abstinência da terapêutica habitual pode aumentar significativamente o risco associado à intervenção cirúrgica e influenciar negativamente o resultado da mesma. Admite-se que, quanto mais tempo os doentes se encontram sem a sua terapêutica habitual, maior é o número de complicações sofridas. Uma reintrodução precoce da terapêutica do doente, após a intervenção cirúrgica, pode diminuir a morbilidade e mortalidade nos doentes internados.1 O problema da paragem abrupta de medicamentos não foi ainda suficientemente estudado, nem é suficientemente reconhecido, quer pela indústria farmacêutica, quer pelas entidades reguladoras, com consequente ausência de informação nas brochuras informativas. Falta informação sobre os sintomas, sinais e possíveis sequelas resultantes desta interrupção, bem como a definição de estratégias que permitam minimizar o problema. Assim, torna-se necessário efectuar mais estudos epidemiológicos que confirmem e quantifiquem o impacto da ausência da terapêutica habitual.3 Fátima Falcão*, Carlos Santos**, José Cabrita*** * Serviços Farmacêuticos, Hospital de S. Francisco Xavier, Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. ** Serviço de Cirurgia, Hospital de S. Francisco Xavier. *** Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Bibliografia: 1. Kennedy J. M. et al. Br J Clin Pharmacol 2000; 49: 353-362. 2. Smith M. Muir H. Hall R. Drugs 1996; 51 (2): 238-59 3. Anon. Drug Ther Bull 1999; 37 (8): 62-64. 4. Noble D, Kehlet H. Br Med J 2000; 321: 719-20. 5. Holte H, Kehlet H. Br J Surg 2000; 87: 1480-1493. 6. Elfant A. B. et al. Am J Surg 1995; 169: 430-2. 7. Desborough J. P. Br J Annesth 2000; 85: 109-17. 8. Perioperative management of the geriatric patient. www.emedicine.com/med/topic3175.htm (21/10/2003) O aumento na produção de sebo e células descamativas anormalmente queratinizadas pode bloquear o canal de saída dos folículos pilossebáceos. Isto produz uma lesão chamada comedão, que pode ser fechada (pontos brancos) ou aberta (pontos pretos).1-4 Alguns comedões evoluem para lesões inflamatórias, como pápulas, pústulas, nódulos ou, raramente, para lesões granulomatosas.1 O acne inflamatório é resultado da resposta à proliferação de um membro da flora normal do folículo, o Propionibacterium acnes, que produz alterações dos mediadores inflamatórios.5-7 A forma mais comum de acne é o acne vulgaris, comum em adolescentes. Afecta principalmente a pele da cara, ombros, parte superior do peito e costas.1,5 Pode ocasionar cicatrizes ou hiperpigmentação e problemas psicológicos.1 No acne ligeiro há comedões abertos e fechados, algumas pápulas e pústulas. No acne moderado, além de comedões, há pápulas e pústulas mais espalhadas e cicatrizes ligeiras. O acne grave inclui também nódulos ou quistos e pode deixar cicatrizes.2,5 Alguns medicamentos como androgénios, corticosteróides, corticotropina, contraceptivos com progestagénios androgénicos como levonorgestrel, isoniazida, lítio e alguns antiepilépticos podem produzir acne ou “rash” acneiforme, bem como os cosméticos oleosos.8-11 O acne não tem relação com a limpeza; uma higiene excessiva pode agravá-lo.3,5 O acne não se relaciona com consumo de chocolate ou alimentos gordurosos, a dieta nunca mostrou ter muito efeito no acne.3,12 Se um doente está convencido de que um alimento em particular faz o seu acne piorar, é melhor evitá-lo.3,13 Muitas mulheres referem exacerbações 2-7 dias antes da menstruação.6,11,14 Não se devem manipular as lesões nem usar cosméticos oleosos.12,14 Devem ser evitados agentes abrasivos de limpeza que podem piorar o acne por provocarem inflamação.1 O tratamento pretende reduzir as bactérias do folículo pilossebáceo, a produção de sebo, a inflamação e a queratinização que bloqueia o folículo. Se os fármacos não forem eficazes topicamente, pode ser necessária a via oral. Normalmente é necessário um tratamento a longo prazo.10 A escolha da terapêutica depende da extensão, gravidade, duração, tipo de lesão e dos efeitos psicológicos da doença.7 Deve ser realizada de forma escalonada, dando a cada modalidade tempo para resposta. Se um fármaco falha, um agente mais potente ou uma associação devem ser usados até alcançar os resultados pretendidos.8 TERAPÊUTICA TÓPICA O tratamento tópico actua na prevenção de novas lesões e deve ser aplicado a toda a pele que possa ser afectada, não só nas lesões visíveis.1,5,12 As formulações serão escolhidas segundo o tipo de pele e preferências. Geralmente os geles e soluções, mais secantes, são adequados para a pele oleosa, mas podem provocar ardor na pele sensível. Os cremes podem ser mais indicados para pele sensível ou seca, mas podem tornar a pele oleosa mais gordurosa. As loções são indicadas para áreas grandes ou com pêlo.1,3 Há preparados queratolíticos com ácido salicílico para os casos mais leves.15 De início, deve ser usado um só preparado tópico. A maioria dos tratamentos tópicos necessita de dois meses antes da resposta, sendo nalguns casos necessário tratamento mais prolongado.1 Peróxido de benzoílo (PB) - Tem acção antibacteriana, queratolítica e ligeiramente anti-inflamatória, sendo usado para comedões e inflamação no acne ligeiro a moderado.1 É normalmente de primeira linha.8,10,15 No início pode causar irritação, que pode ser minorada com concentrações mais baixas em veículo creme, em dias alternados, aumentando a frequência e, se necessário, gradualmente a concentração.5,15 Pode descolorar o cabelo e a roupa em contacto com ele e provocar fotossensibilidade.12 Pode ser associado com antibióticos tópicos ou retinóides ou, nos casos mais graves, com antibióticos orais.3,8 Não aplicar ao mesmo tempo que os retinóides; é recomendado que sejam aplicados a diferentes horas, por exemplo um de manhã e o outro à noite.10,12 Retinóides tópicos - São uma alternativa ao PB, sendo considerados por alguns de eleição para o acne leve a moderado não inflamatório.10 Inibem a formação de comedões. Causam uma descamação superficial.1 A isotretinoína e a tretinoína (ácido retinóico) tópicos parecem igualmente eficazes, sendo a primeira menos irritante.10 Alternativas recentes são o tazaroteno e o adapaleno, que podem causar menor irritação.1,12,15 Devem aplicar-se na pele seca, 30 minutos depois da limpeza.3 Os retinóides tópicos podem ser usados com antibacterianos tópicos, já que estes são mais eficazes para a inflamação e os retinóides para os comedões, por exemplo aplicando o retinóide à noite e o antibiótico de manhã.10 A tretinoína quase sempre provoca eritema e secura cutânea no início, desaparecendo a intolerância nalgumas semanas. Pode usar-se inicialmente uma dosagem baixa cada duas ou três noites, incrementando gradualmente a concentração e a frequência.1,12 Os retinóides podem causar alterações temporárias na pigmentação da pele. Evitar a aplicação nos olhos, nos lados do nariz, na boca e mucosas, e em pele eczematosa. O acne pode piorar nas primeiras semanas de aplicação.15 Evitar as lâmpadas ultravioletas e minimizar a exposição ao sol.11,15 Não devem ser usados na gravidez, e segundo algumas fontes, as mulheres em idade fértil devem tomar precauções contraceptivas.1,15 Ácido azelaico - Tem acção anti-seborreica, levemente anti-inflamatória e inibidora da queratinização do folículo.5,10,12 De início, será aplicado uma vez por dia e posteriormente duas ou três. Com boa tolerância, o ácido azelaico pode ser alternativa ao PB e à tretinoína no acne ligeiro a moderado se a irritação da pele for um problema.1,5,10 O seu lugar na terapêutica não está muito claro pela limitada evidência clínica.1,6 O seu efeito secundário de hipopigmentação pode ser desejável em alguns doentes, já que pode existir nalguns casos uma hiperpigmentação pós-inflamatória.3,5 Antibióticos tópicos - Os antibióticos tópicos diminuem o P. acnes, mas o mecanismo de acção não está totalmente esclarecido. São usados no acne inflamatório, quando o PB é ineficaz ou não tolerado. Para uso tópico são usadas tetraciclina, clindamicina e eritromicina.1 São reservados de preferência para os que desejam evitar os antibióticos orais ou não os toleram.15 Os antibióticos tópicos devem usar-se pelo menos durante 6 meses.10 Podem causar raramente dermatite de contacto.5 Citam- Janeiro/Fevereiro 2004 O acne Boletim do CIM Janeiro/Fevereiro 2004 -se raros casos de colite pseudomembranosa com clindamicina, também referidos com a via tópica.10,15 O desenvolvimento de resistência pela flora cutânea é um problema que pode determinar a escolha.1 A combinação com PB pode ajudar a prevenir a resistência ou curtos cursos intercalares com PB ou ácido azelaico durante a terapia antibacteriana, que podem ajudar a eliminar as bactérias resistentes.10 A resistência a P. acnes é um problema, mais frequente com clindamicina e eritromicina tópicas.5 Para minimizar a resistência: o uso de antibacterianos não se prolongará mais do que o necessário; o mesmo antibiótico deve continuar a ser usado se for necessário outro tratamento; deve ser evitado o uso concomitante de dois antibióticos diferentes pelas vias oral e tópica ou a rotação.10,15 TERAPÊUTICA SISTÉMICA Antibióticos orais - O mecanismo de acção não é claro; inibem o P. Acnes e podem ter alguma acção anti-inflamatória.1,2,5,9 Podem ser usadas doxiciclina, tetraciclina ou minociclina. Uma alternativa é a eritromicina. Deve dar-se pelo menos durante 3 meses uma dose adequada de antibiótico oral antes de se decidir que não houve resposta; podem ser necessários 4 a 6 meses para resposta máxima, sendo, por vezes, necessário mais tempo.15 A resistência pode ser um problema, particularmente com a eritromicina.2,5,6,10 Tem sido sugerida a combinação com PB para diminuir o número de P. acnes resistentes. Para minimizar a resistência a antibióticos, deve ser usada a dose adequada.15 Com a minociclina há descrição de raras reacções de lúpus sistémico eritematoso, hepatite auto-imune, reacção semelhante a doença do soro e pneumonite e são citadas também pigmentação irreversível e tonturas.1 A minociclina deve ser reservada para os que não respondem a tetraciclina ou a oxitetraciclina.1,6 As tetraciclinas estão contra-indicadas em menores de 12 anos, grávidas ou durante o aleitamento.1,5 As tetraciclinas podem provocar problemas gastrintestinais, candidíase vaginal, e possível diminuição da eficácia de contraceptivos orais.2,5,10 São referidos também raros casos de hipertensão intracraniana benigna.6 As tetraciclinas podem causar fotossensibilidade, especialmente a doxiciclina; a minociclina só raramente.2,7 As tetraciclinas usualmente devem ser tomadas 2 a 4 vezes por dia, com estômago vazio.7 Há diminuição da absorção de tetraciclinas por ingestão de leite ou de ferro. A minociclina e doxiciclina interagem menos com alimentos e leite.1,2,6 Com a eritromicina, os problemas gastrintestinais são comuns.7 Pode ser associado um fármaco tópico que actue nos comedões como, por exemplo, um retinóide. Quando o acne estiver controlado a um nível satisfatório, pode iniciar-se a terapêutica de manutenção. Normalmente, para o controlo a longo prazo, é suficiente o tratamento tópico com retinóides ou PB.5 Nos casos mais severos de acne, são preferíveis os antibacterianos orais, podendo os tópicos ser usados como adjuvantes.5,15 Tratamento hormonal - Na mulher podem usar-se, em certos casos, tratamentos hormonais. As mulheres com masculinização têm alta incidência de acne, mas é errado pensar que todas as com acne têm alterações hormonais. Nas mulheres com acne resistente, especialmente com mens- truação irregular, devem ser medidos os androgénios.5 As mulheres que necessitam também de contracepção podem ser tratadas com contraceptivos orais de combinação com progestagénio não androgénico, tendo em consideração as contra-indicações habituais destes fármacos.10,15 Um contraceptivo com ciproterona (antiandrogénio) associada a etinilestradiol é indicado em acne grave que não responde a antibiótico oral prolongado.1 Isotretinoína - Retinóide sintético, que inibe a diferenciação das glândulas sebáceas, corrige o defeito de queratinização no folículo e tem alguma acção anti-inflamatória. Está indicado no acne nódulo-quístico grave com cicatrizes, que não responde a antibiótico oral ou no acne associado a problemas psicológicos.5,15 Altamente eficaz na redução da secreção de sebo, um ciclo de 16 a 20 semanas leva à remissão na maioria dos doentes.1 A dose diária é de 0,5-1 mg/kg/dia, em 2-3 doses com o estômago cheio, porque se absorve melhor em presença de gorduras.2,9,12 O seu uso deve ser prescrito por especialistas, já que pode causar sérios efeitos secundários, normalmente relacionados com a dose.1,13,15 É frequente a secura da pele com conjuntivite, a secura nasal com epistaxe e a dermatite atópica. São referidos, entre outros, problemas visuais, mialgias e artralgias, fotossensibilidade, e mais raramente, cefaleia e hipertensão intracraniana benigna. Nalguns casos pode existir um agravamento agudo do acne.2,5,10,12 Relatam-se casos de depressão, mas não se documenta convincentemente a sua relação com o medicamento.5 Antes e durante o tratamento, deve-se monitorizar a função hepática e os lípidos plasmáticos e realizar testes de gravidez.2,5 O problema maior é a teratogenicidade.2,5,12 Não pode ser administrada a mulheres grávidas ou em risco de engravidar.5 Deve verificar-se se existe gravidez antes do início do tratamento, e este deve ter lugar no dia 2º ou 3º do ciclo menstrual.6,15 Deverá garantir-se contracepção eficaz pelo menos um mês antes, durante e um mês após o tratamento para todas as mulheres em idade fértil.1,2,6,8,9,15 Evitar dar sangue até um mês após acabar o tratamento e a depilação com cera pelo menos até 6 meses depois da paragem.15 A. Simón Bibliografia: 1. Anon. Merec Bulletin 1999; 10(8): 29-32. 2. Johnson B., Nunley J. Am Fam Physician, 2000; 62(8): 1823-30. 3. Johnson B., Nunley J. Postgrad Med (Ed. Port.), 2001; 15(4): 99-108. 4. Gennaro A. R. (ed.). Remington: The Science and Practice of Pharmacy. 20th ed. Philadelphia, Lippincott William and Wilkins, 2000. 5. Webster G. Br Med J 2002; 325: 475-9. 6. Brown S., Shalita A. Lancet 1998; 351: 1871-6. 7. Leyden J. N Engl J Med, 1997; 336(16): 1156-62. 8. Yip C. HKPJ 2000; 11(3): 92-99. 9. Landow K. Postgrad Med 1997; 102(2): 94-112. 10. Sweetman S. (ed.). Martindale. 33rd ed. Londres, The Pharmaceutical Press, 2002. 11. Anon. S Afr Med J, 1999; 89(9): 1024-34. 12. Salcedo F., Cabrejas A. Acné. Em: Guia de Actuación en Atención Primária. Barcelona, Sociedad Española de Medicina de Familia y Comunitaria, 1998. 13. Speight T., Holford N. Avery’s Drug Treatment. 4th ed. Auckland, Adis International, 1997. 14. Russell J.J. Am Fam Physician 2000; 61(2): 357-65. 15. British National Formulary nº 43, Londres; British Medical Association and The Royal Pharmaceutical Society of Great Britain, 2002. 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