ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais UMA REFLEXÃO SOBRE AS POSSIBILIDADES INTERPRETATIVAS À LUZ DE GRANDES CLÁSSICOS DA ANTROPOLÓGIA Aristéia Mariane Kayser 1; Marco Aurélio da Silva2; Dejalma Cremonese3 (UFSM) RESUMO A antropologia evolucionista esta marcada para a contribuição do Darwinismo Social no Século XIX, dentro da sua obra é enfatizado o processo evolucionário da sociedade européia. Nesta perspectiva o conceito de cultura sedimenta a teorização de Tylor, Frazer e Morgan na concepção destes autores o conceito de cultura configura de modo universal. Por entenderem que por haver uma estreita relação entre cultura e condições históricas da sociedade. Tylor comunga da teoria de Morgan no que se refere o desenvolvimento primitivo da civilização tendo como objetivo a classificação dos fenômenos da cultura havendo uma compreensão do presente por meio de uma visão multilinear. Todavia, Durkheim considerado sociólogo clássico se propôs a estudar o fato social como coisa enfatizando o conhecimento científico da vida social. Nesta perspectiva iremos observar a noção de magia permeia a teoria do autor pelo fato que a sociologia da religião de Durkhein transita entre profano e sagrado. Palavras Chaves:Antropologia Evolucionista, civilização, cultura ABSTRACT Evolutionary anthropology is marked for the contribution of Social Darwinism in the nineteenth century, in his work is emphasized the evolutionary process of European society. In this perspective the concept of culture consolidates the theory of Tylor, Frazer and Morgan in the design of these authors the concept of culture set in a universal way. Because they understand that because there is a close relationship between culture and historical conditions of society. Tylor shares the Morgan theory regarding the early development of civilization with the objective of the classification of the phenomena of culture there is an understanding of this vision through a multilinear. However, sociologist Durkheim considered classic set out to study the social fact as a matter of emphasizing the scientific knowledge of social life. In this perspective we see the notion of magic permeates the author's theory by the fact that the sociology of religion Durkhein transitions between profane and sacred. Keywords: Evolutionary Anthropology, civilization, culture 1 Mestrando em Ciências Sociais - UFSM, Mestrando em Educação – UNISC, Especialização em Gestão Educacional – UFSM, Especialização em Educação Ambiental –UFSM, Especialização em Mídias na Educação – UFPEL. Santa Maria-RS/BRASIL, E-mail: [email protected]; Endereço Lattes: http://lattes.cnpq.br/6665383866556823 2 Especialização em Gestão da Organização em Saúde Pública – UFSM, Especialização em Educação Ambiental – UFSM.Santa MariaRS/BRASIL, E-mail; [email protected]; Endereço Lattes. http://lattes.cnpq.br/7654244279351973 3 Doutor em Ciências Políticas –UFGRS e Professor do Departamento de Ciências Sócias (UFSM) Santa Maria-RS. [email protected] . Endereço Lattes; http://lattes.cnpq.br/1612981086021270 Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 6 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais INTRODUÇÃO A Antropologia tem por essência o estudo do homem enquanto ser biológico, social, religioso, político e cultural. Visando contemplar estas temáticas a antropologia trabalha com subdivisões por meio da transversalidade destes temas. Neste sentido surge a Antropologia Etnografia, a qual tem por finalidade distinguir diferentes níveis de análise. Observa-se, que a antropologia evolucionista é marcada para a contribuição do Darwinismo Social no Século XIX, dentro da sua obra é enfatizado o processo evolucionário da sociedade européia. Nesta perspectiva era usado o conceito de civilização, propositadamente visando enfatizar a superioridade esta recebe o nome de etnocentrismo 4. O método basicamente era por meio da comparação de dados, os quais eram consequentemente retirados das sociedades e de seus contextos sociais. O interessante é que estes dados eram utilizados para comparação entre as sociedades, com finalidade de pontuar um nível de estágio cultural específico. Evans-Pritchard (1978), faz uma observação interessante, referente aos objetivos dos pensadores britânicos entre os séculos XVII e XVIII os quais tinham por objetivo entender / conhecer como se constituía os princípios gerais da vida humana e como se esta relação estrutural da evolução humana 5. [...] serviam-se dos povos primitivos como prova dos seus argumentos sobre a natureza da sociedade selvagem contraposta à sociedade civil, isto é, a sociedade anterior ao estabelecimento do governo por contrato ou aceitação do despotismo. Locke (1632-1714), especialmente, refere-se a estas sociedades nas suas especulações sobre religião, governo e propriedade. Estava familiarizado com o que se tinha escrito sobre os Pele-Vermelhas caçadores da Nova Inglaterra, mas a sua informação, ao estar limitada a um único tipo de sociedade índia americana, prejudica o seu trabalho.” (EVANS-PRITCHARD. 1978, p.52) 4 CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. 1993. São Paulo: Companhia das Letras. pp. 9-16. EVANS-PRITCHARD (1978), insiste em sua afirmação dizendo que os [...] investigadores [do século XIX] estavam consideravam que estavam a escrever História, História do homem primitivo e estavam interessados nas sociedades primitivas não tanto por si mesmas, mas mais pelo uso que delas se poderia fazer nas hipotéticas reconstruções dos começos da história da humanidade e, em especial, das suas instituições (p, 67). 5 Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 7 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais Pode se dizer que todas as experiências tinham um método de abordagem linear, diacrônica visando observar a escala evolutiva social. Para os evolucionistas não se trata de um tecido social, pois o que estava sendo considerado era a individualidade, a qual independia do contexto social. Optou por fazer uma re-leitura dos autores Boas (2009 e 2010), Durkheim (2003), Frazer (2005), Malinowsski (1977), Mauss (2003), Morgan (2005) e Radcliffe-Brown (1973 e 1980) pela a importância hermenêutica de suas pesquisas no que se refere a compreensão do sentido e propriamente os seus atos de fala conforme Peirano (1997) destaca que os, [...] clássicos [da Antropologia] são, portanto, criações sociologicamente necessárias e teoricamente indispensáveis, através dos quais os praticantes se identificam e se (re)produzem nos diversos contextos acadêmicos; eles tornam possível a existência de uma comunidade de cientistas, daí derivando sua relevância regular e contínua (PEIRANO. 1997,p. 67). Dentro desta perspectiva, é que surge a contribuição do método comparativo a princípio desenvolvido por Frazer et al (2005), como um mecanismo que se propõe a estudar as instituições humanas como esferas interdependentes. Hans-Georg Gadamer (2005), enfatiza que a6, [...] finitude de o próprio compreender é o modo no qual a realidade, a resistência, o absurdo e o incompreensível alcançam validez. Quem leva a sério essa finitude deve levar a sério também a realidade da história (p,22). Há uma pretensão de Tylor, Frazer (2005), em analisar o que se entende por vida selvagem, dentro da linha do tempo, ou seja, a proposta original era analisar o processo evolutivo de povos mais rudimentares e como se dá a sobrevivência destes (FRAZER, 1908. In: CASTRO, 2005, p. 108 a 112). Frazer et al (2005), considera que as superstições destes povos sendo um fenômeno considerável e que estabelece a desigualdade, portanto trata-se de uma questão quantitativa por isto acredita no princípio metodológico comparativo para ter uma confiabilidade em sua pesquisa (FRAZER, 1908. In: CASTRO, 2005, p. 120). O conceito de cultura sedimenta a teorização de Tylor, Frazer e Morgan, na perspectiva destes autores o conceito de cultura é 6 GADAMER, Hans-Georg. “Prefácio à 2ª Edição” In: Verdade e Método – traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo Meurer; Petrópolis: Rio de Janeiro. 2005. pp. 13-26, 7ª Edição. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 8 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais configurado de modo universal, pois compreendem haver uma estreita relação entre cultura e condições históricas da sociedade. Para Morgan, não há uma sistematização desta cultura, mas sim um modelo de subsistência os povos sobrevivem sob determinadas condições dentro de um contexto de tempo e espaço excluindo qualquer medida limitada de tempo (MORGAN, 1877. In: CASTRO, 2005, p.43 a 50). Já, Tylor considera o conceito de “cultura”, semelhante o que entendemos por “civilização” (TYLOR, 1871. In: CASTRO, 2005, p.69). Todavia, para Frazer o conceito de “cultura” disponibiliza subsídios para que possamos desenvolver um estudo sobre costumes dos selvagens e suas crenças não de forma sistematizada (FRAZER, 1908. In CASTRO, 2005, p. 106). Segundo EVAN-SPRITCHARD (1978), a reflexão antropológica de Morgan e Tylor, é pautada na indistinção é uma perspectiva indutivista e que segundo estes autores os seres humanos são encaixados nas etapas da evolução. A critica EVAN-SPRITCHARD (1978), é feita como o método é utilizado pois não se percebe uma respeitabilidade ao processo de evolução dos outros povos mas, sim um claro discurso de superioridade por parte dos autores. Actualmente, não estamos muito seguros dos valores que eles aceitavam. O abandono da elaboração de estádios de desenvolvimento, que tanto os ocupou, e a orientação para estudos indutivos e funcionais das sociedades primitivas, devem ser atribuídos, em parte ao crescimento do cepticismo a respeito das mudanças produzidas no século XIX, e às dúvidas que sobre elas surgiram, isto é, se constituíam ou não um progresso real. Por outro lado, pese à opinião de muitos dos que se dedicam à Antropologia Cultural, há que reconhecer que esta disciplina moderna, encarada no seu aspecto teórico, é conservadora: interessa-se mais pelo que origina equilíbrio e integração na sociedade, que pela confecção de escalas e etapas de progresso (EVAN-SPRITCHARD, 1978,p. 73). Há sem dúvida uma aproximação da teoria do evolucionismo antropológico em Darcy Ribeiro (1975a), o qual enfatiza as concepções sobre a história humana e a escala de tempo, o método comparativo, a relação entre cultura e civilização como progresso humano. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 9 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais Esta noção de Morgan, expande as escalas de tempo analiticamente, por meio de uma concepção unilinear segundo classificações de períodos da humanidade relativos à sua história, em termos de seqüências do progresso humano (MORGAN, 1877. In: CASTRO, 2005, p.44). Tylor comunga da teoria de Morgan no que se refere o desenvolvimento primitivo da civilização tendo como objetivo a classificação dos fenômenos da cultura havendo uma compreensão do presente por meio de uma visão multilinear (TYLOR, 1871. In: CASTRO, 2005, p. 74 a 97). Não muito obstante, esta a teoria de Frazer a qual aproxima das teorias de Tylor e Morgan. Frazer se propõe a [...] descobrir as leis gerais que regulavam a história humana no passado e que, se a natureza for realmente uniforme, é de se esperar que a regulem no futuro.[...] (FRAZER, 1908. In: CASTRO, 2005, p. 104 a 116). A proposta de Frazer et al (2005), é uma análise comparativa entre passado e futuro apresentando desta forma uma perspectiva evolucionista multilinear por meio do método comparativo. Para Franz Boas (2009), as várias condutas e seus resultados compõem uma determinada cultura. Isto significa que há um caráter distinto em cada sociedade. Há uma inquietação por parte do autor em entender como se dá o processe de distinção entre uma sociedade boa sobre a sociedade primitiva. O autor desconfia que toda esta relatividade esta no processo de formação. Devemos mencionar que o evolucionismo cultural era portanto a escola que estava no auge. Neste sentido tivemos a contribuição das obras “Cultura Primitiva” (1871) de E. B. Tylor, “Sociedade Antiga” (1878) de L.Morgan e “O Ramo de Ouro” (1890) de J. Frazer, são obras que se fundamentam no referencial teórico da escola evolucionismo cultural . Esta escola propôs seu objeto de estudo abrangendo o fenômeno cultural e a própria espécie humana. Por meio de uma catalogação dos distintos estágios e progresso da evolução que envolvia a sociedade chegou –se ao conceito de civilização tambem conhecido como modelo sócio – cultural. Para os evolucionistas não estava em voga à questão do estágio de cultura vivido mas os níveis de cultura que determinavam o tempo. Outro processo que se observa é o método comparativo sem muito rigor científico. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 10 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais Neste sentido fica fácil de entender que a critica de Franz Boas (2009), era contra o método e não contra a teoria da evolução. Boas, não concordava com o método dedutivo aplicado pelos evolucionistas, defendia o método da indução empírica . No entanto, autor (2009), propôs o método histórico como oposição ao método comparativo. O autor, não mediu criticas aos difusionistas os quais acreditavam que a diversidade cultural humana se dava pela difusão. Boas (2009), enfatizou seus muitos estudos na questão cultural, preocupando-se, com aquilo que chamamos de equipamento mental das várias raças. Pois a dúvida pairava sobre a possibilidade de serem todas as raças igualmente dotadas ou existiria uma diferenciação. O autor insiste que vários fenômenos/casos são baseados em processos psíquicos que para ele eram ou são fenômenos semelhantes. [...] mudanças dinâmicas na sociedade [e que] podem ser observadas no tempo presente. [Abstendo-se] de tentar solucionar os problemas fundamentais do desenvolvimento geral da civilização até que [se esteja apto] a esclarecer os processos que ocorrem diante de nossos olhos (BOAS, 2010 [1920], p. 47) O configuracionismo é um prolongamento do difusionismo americano de Boas (2009), porque representa ainda uma abordagem de culturas particulares. Isto pode ser observado no método histórico do autor.Neste sentido o ambiente é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa pois ele restringe possíveis opções culturais. A cultura é adequada ao meio ambiente onde se estabelece aquela sociedade. Ruth Benedict e Margaret Mead essas firam discípulas de Franz Boas, se propuseram a desenvolver pesquisas e reflexões referente algumas temáticas como a suposta superioridade cultural de certos povos, a questão do racismo, a xenofobia.Ruth Benedict, doutora-se pela Universidade de Columbia. A qual teve como Margaret Mead como aluna. Em um trabalho encomendado a Ruth sobre a segunda guerra ela faz referência que a razão é evidente que é vencer a guerra. Pois, os americanos tinham a pretensão de ocupar a outra civilização da qual eles sabiam pouquíssimo. A pretensão da autora foi de demonstrar que o predomínio de Apolo ou de Dionísio pode ocorrer em diversas épocas consequentemente em diferentes sociedades. Aqui percebe claramente a influência do filósofo alemão Nietzsche. Para Ruth a cultura japonesa é um emaranhado de contradições às quais estão por demais integradas. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 11 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais Já Margaret Mead usou declaradamente a etnografia para dirigir mensagens aos norteamericanos e produzir novas idéias no que se refere à construção de gênero e à sexualidade. Todavia, o surgimento da linhagem francesa se dá pela contribuição de Durkheim (2003), começam o qual se propôs a estudar os fenômenos sociais por acreditar que os fatos sociais eram mais complexos do que se pensavam. Mauss (2003) e Durkheim (2003), assumiram o desafio de estudar as representações primitivas. Durkheim (2003), considerado sociólogo clássico se propôs a estudar o fato social como coisa enfatizando o conhecimento científico da vida social. Nesta perspectiva observase a noção de magia permeia a teoria do autor pelo fato que a sociologia da religião de Durkhein (2003) transita entre profano e sagrado. Para o autor não há como conciliá-las consequentemente estas não se misturam. A distinção que o autor faz é que o sagrado corresponde a sentimentos “comuns” fatos sociais os quais fortalecem os laços de solidariedade, de sentimentos coletivos. Enquanto o profano corresponde ao indivíduo estão para a magia a qual é entendida como anti-social, ou seja, não há grupo social. A diferencia entre religião e magia é que a primeira é composta por sacerdotes, fies, comunidade. Enquanto, que a segunda existe apenas um indivíduo feiticeiro e clientes. Na perspectiva de Durkheim (2003), há uma efervescência coletiva é por este meio que surge a religião. Pois, o indivíduo tem um alto grau de emotividade, no entanto, o social esta acima deste fenômeno ele é a soma das partes. Neste sentido, muitos objetos tornaram sagrados e este fenômeno demonstra uma necessidade de uma relação social. Exemplo as Igrejas que congregam homens/fieis! Ao contrário, observamos que não existe Igrejas Mágicas, mas sim um mundo de escuridão de individualidade. Na concepção do autor há uma enorme facilidade por parte das práticas mágicas profanarem o sagrado a religião. O que Durkheim (2003), esta dizendo é que o fato social exige uma metodologia/ciência que seja. Neste sentido não podemos confundir sociologia com psicologia conforme o pensamento durkheimiano, pois a primeira visa à análise das representações coletivas. Enquanto que a segunda se propõem a analisar as representações individuais. O que se entende é que a psicologia tem a missão de estudar as Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 12 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais partes enquanto que a sociologia estuda o todo é por isto que a sociologia durkheimiana estuda as representações coletivas. Para o autor todo o fenômeno que possa envolver as práticas mágicas só poderá ser analisado se houver um contraponto que envolve os 13 fenômenos religiosos. No entanto, para Mauss (2003), magia e religião pertençam ao universo do sagrado. Todavia, o autor contrapõe o conceito de religião com o de magia no qual existem elementos antagônicos. Percebe que há claras distinções entre os fenômenos das práticas religiosas e práticas mágicas considerando-as como bem estabelecidas. Para o mencionado autor, a definição de magia são atos e representações, que são ritos e mitos portanto não pode ser confundida com religião. Uma característica da magia é a sua repetição. A religião necessariamente precisa de um profissional do sagrado. É objeto de sua investigação o campo do sagrado como as questões de oferendas, mitos, preces.Mauss, também faz uma critica a modernidade esta critica está muito próxima à percepção anti - utilitarista de Boaventura conforme podemos observar na seguinte passagem deste autor. [...] o princípio da comunidade foi, nos últimos duzentos anos, o mais negligenciado. E tanto assim foi que acabou por ser quase totalmente absorvido pelos princípios do Estado e do mercado. Mas também, por isso, é o princípio menos obstruído por determinações e, portanto, o mais bem colocado para instaurar uma dialética positiva com o pilar da emancipação. (SANTOS, 2000, p. 75). Segundo Mauss (2003), todos estes fenômenos estão intimamente ligados à vida social. Ou seja, ele considera que são fatos sociais necessários é um processo de construção de teias.Percebe que no âmbito da magia os mágicos utilizam de forças espirituais as quais estão ligadas a religião. No entendimento do autor há necessidade de estudar os ritos para a compreensão da magia e isto é algo social. A religião só surge com o fracasso da magia. Assim sendo, Mauss tem uma compreensão da magia como algo ou melhor idéia do coletivo, reconhecida pela coletividade, distinta não considera a proposta de Durkheim, Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais onde a magia era vista como um ato, ou uma idéia, individual 7. Mauss (2003), busca neste sentido fazer uma clara classificação analítica dos ritos. Para o autor a força da magia esta no silencia, no mistério, no segredo, na palavra, são aspectos importantes para o sucesso e permanência da magia 8. Há uma necessidade do ser humano de ir em busca destes mistérios e de desejarem que os mesmos se constituem desta forma pois, isto é próprio do rito mágico. Todavia, o autor não se preocupa em definir a magia pela forma de seus ritos, tem sim a necessidade de defini-la pelas condições que de dão tais ritos, ou seja, como eles se produzem e como se dá esta demarcação do lugar que ocupam nos hábitos sociais da sociedade. Nesta perspectiva reconhecemos rapidamente um mágico, pois o mesmo tem características específicas às quais denuncia sua personalidade seu olhar mágico. E neste sentido o olhar do mágico é envolvente, encantador, sedutor, cativante. Neste sentido é que o mágico envolve o sujeito pela sedução do mistério.Devemos conhecer como se dá os atos mágicos para compreender a magia. Assim sendo, dá para se concluir que a força da magia está no segredo, no não dito, que passa pelo mistério do interdito. A magia envolve funções e fatos sociais, destacando a dimensão do oculto o qual é aspecto fundamental para o estabelecimento da magia é algo associada ao extraordinário da vida do sujeito. O aspecto que envolve o fenômeno da magia é a crença a qual proporciona o encantamento. O autor esta convicto, que o poder da crença esta relacionado ao social, ou seja, não no indivíduo. O que Mauss (2003), esta dizendo é que a sociedade legitima o poder sedutor do mágico, da magia por meio da sua crença 9. Assim, deve-se [...] considerar a magia como um sistema de induções a priori, operadas por grupos de indivíduos, sob a pressão da necessidade (MAUSS, 2003, p. 154). 7 Camile Tarot, esclarece que, [...] o simbolismo não constitui um território balizado mas uma terra de exploração; trata-se de um continente a descobrir e a rememorar, algumas vezes uma terra a exumar, como o dom [...] (Tarot, 1998,p. 25). 8 Karsenti (1994), fala que, O que permite a noção de símbolo é a necessidade de ultrapassar a confrontação de realidades hipostasiadas ultrajadamente pelas ciências sociais: não existe nessa concepção nem indivíduo nem sociedade, mas somente um sistema de signos que, mediatizando as relações que cada um mantém com cada um, constrói num mesmo movimento a socialização dos indivíduos e a unificação dos mesmos num grupo (p. 87). 9 Mauss (2003), parte da asserção de que [...] tudo o que é mágico é eficaz, porque a expectativa de todo um grupo empresta às imagens que essa expectativa suscita, como às que persegue, uma realidade alucinante (p. 167). Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 14 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais Para Mauss (2003), necessariamente devemos definir a religião para conseguirmos teorizar os elementos que envolvem a magia. Ambas estão estreitamente ligadas. Para o referido autor, podemos conhecer e classificar a magia pela prática ou pela pelo próprio contexto social que a envolve. Mas, devemos observar que no caso específico do mágico não há uma Instituição que o legitima, ou seja que legitima suas ações. É o que diferencia do sacerdote o qual é respaldado por uma instituição pública que conhecemos como religião, a qual é institucionalizada. Mauss (2003), enfatiza que o ato mágico pertence sem dúvida ao campo do sagrado apesar de saber que ela é manipulável. Enquanto, para Durkheim (2003), as forças que fundam o social estão na religião. Por isso, Durkheim menciona parece que , [...] ordinariamente, que elas apresentam caráter humano somente quando são concebidas em forma humana; mas mesmo as mais impessoais e as mais anônimas não são outra coisa senão sentimentos objetivados. (DURKHEIM, 2003, p. 496). Durkheim (2003), sabe que não basta dizer que a religião e a magia nascem dos fenômenos que envolvem o coletivo. É um fenômeno que envolve uma somatória de fatores emocionais, como fé, medo, coragem, vergonha tudo correlacionado com a experiência concreta da divindade que o indivíduo tem. Há na religião algo de eterno destinado a sobreviver a todos os símbolos particulares nos quais o pensamento religioso se envolveu sucessivamente. Não pode haver sociedade que não sinta a necessidade de conservar e reafirmar, a intervalos regulares, os sentimentos coletivos e as idéias coletivas que constituem a sua unidade e a sua personalidade […]. Se hoje encontramos, talvez, alguma dificuldade para imaginar em que poderão consistir essas cerimônias do futuro é porque atravessamos uma fase de transição e de mediocridade moral […]. Os antigos deuses envelhecem ou morrem, e não nasceram outros […]. Mas esse estado de incerteza e de agitação confusa não poderá durar eternamente. Virá um dia em que as nossas sociedades conhecerão novamente horas de efervescência criadora, durante as quais novas idéias surgirão, novas fórmulas aparecerão e, por certo tempo, servirão de guia para a humanidade; e nessas horas, uma vez vividas, os homens sentirão espontaneamente a necessidade de revivê-las de tempos em tempos, pelo pensamento, ou seja, de conservar a sua lembrança por meio de festas que revivifiquem regularmente os seus frutos. (DURKHEIM, 2003,pp. 504-506). Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 15 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais Enfim Mauss (2003), busca compreender as ações sociais por meio das ações ritualizadas, portanto devemos analisar os ritos e seus fundamentos. Segundo Radcliffe-Brow (1973), a “idéia da unidade funcional de um sistema social, é uma hipótese”. O conceito de função baseia na inferência entre vida social e vida orgânica da sociedade. Durkheim (2003), já usava esta tática! Para Radcliffe-Brow (1973), há condições necessárias de existência para a sociedade. Portanto; o termo função é a correspondência entre uma instituição social e suas condições “organização”. A função da estrutura social só existe pelo fato que há uma vida social. Neste sentido a estrutura social é uma relação entre entes. A sociedade altera sua estrutura dentro do contexto social. Durkhein (2003), tenta associar a disnomia “estado depressivo leve e prolongado” às possíveis perturbações as quais estavam relacionadas algum tipo social. Para Radcliffe-Brow (1973), há duas hipóteses e que devemos fazer uma observação sistemática dos fatos, “que nem tudo na vida social há uma funcionalidade”, mas sim há uma construção em busca de resultados. Dentro de algumas sociedades poderá haver costumes os quais não são iguais. [...] usa-se a expressão “método comparativo” em Antropologia para significar o método usado por autores tais como Fazer em seu livro “The Golden Bough”. Porém, comparações de características particulares da vida social podem ser feitas com dois objetivos muito diferentes, os quais correspondem à distinção hoje comum na Inglaterra, entre Etnologia e Antropologia Social.18 A existência de instituições, costumes ou crenças similares em duas ou mais sociedades, pode, em certos casos, ser tomada pelo etnólogo como indicação de que há conexão histórica entre elas. O que se visa é um tipo de reconstrução histórica da sociedade, povo ou região. Mas em Sociologia Comparativa ou Antropologia Social, o objetivo da comparação é diferente, qual seja, o de investigar as várias formas de vida social como base para o estudo teórico dos fenômenos sociais humanos (RADCLIFFE-BROWN, 1980 [1951], p. 195). Para o autor qualquer hipótese não implicar uma afirmação dogmática de que a sociedade é regida por uma dada função. No entanto; suas funções normativas são diferentes. Ex: do Celibato, de um determinado período histórico. O processo funcionalista é uma investigação no que tange os aspectos sociais, pois neste sentido há possibilidade de Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 16 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais fazermos comparações válidas, na forma de moldar este indivíduo dentro da vida social ou ajustado por ela. Para Radcliffe-Brow (1973), há uma necessidade de sabermos fazer um relato detalhado do sistema social que permeia a história do indivíduo. Todavia, Radcliffe-Brown (1980 [1951]) pondera que o, [...] desenvolvimento dos estudos de campo levou a um relativo abandono das investigações em que se usava o método comparativo, o que é compreensível e justificável sem, contudo, deixar de trazer alguns efeitos lamentáveis. Diz-se ao estudante que ele deve examinar qualquer traço da vida social no seu contexto, na sua relação com os outros traços do sistema particular no qual é encontrado. Mas, muitas vezes, não se lhe ensina a ver esse traços dentro do contexto mais amplo das sociedades humanas em geral. Os ensinamentos da escola antropológica de Cambridge eram favoráveis, não ao abandono da antropologia de gabinete, mas a sua combinação com estudo intensivos de sociedades primitivas particulares, nos quais qualquer instituição, costume ou crença da sociedade fosse examinado em relação ao sistema social total do qual era uma parte ou item. Sem estudos comparativos sistemáticos, a Antropologia tornar-se-á mera historiografia e etnografia. A teoria sociológica deve estar baseada na comparação sistemática e por ela ser continuamente testada (RADCLIFFEBROWN, 1980 [1951]pp. 196-197) Todavia, para Malinowski (1977), a etnografia é um método utilizado pela antropologia na coleta de dados. Ex.: Kula sistema de trocas! Para o estabelecimento deste contato é necessário a relação de inter-subjetivo entre o antropólogo e seu objeto. No entendimento de Malinowski (1977), o resultado da pesquisa não pode ser vicioso deve apresentar uma imparcialidade. Considera que o principio metodológico se estrutura no objeto, na lógica criando desta forma condições adequadas para o desenvolvimento da pesquisa. Todos os fatos que permeia a realidade devem ser considerados. CONSIDERAÇÕES Dentro da etnografia deve haver regras. Neste sentido as regularidades são resultados da interação do indivíduo com o meio ambiente. Acredita que por meio de um quadro sinótico onde se condensa informações a fidelidade do trabalho fica menos Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 17 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Estudos Sociais comprometida.Pois, desta forma se tem uma visão mais ampla por meio de uma esquematização dos resultados. Dentro desta perspectiva tem-se o método de documentação estatística pela evidência concreta. 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: BOAS, Franz. As limitações do método comparativo da antropologia. In: Antropologia cultural. Trad. Celso Castro – 5. Ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2009. _________,Os métodos da etnologia In: CASTRO, Celso (org.). Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010 [1920], pp. 41-52. CASTRO, Celso. Apresentação. In: Evolucionismo Cultural. Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. DURKHEIM. Emile. As formas elementares da vida religiosa. 3º Ed. São Paulo. Martins Fontes. 2003. EVANS-PRITCHARD, E.E. Antropologia Social. São Paulo: Edições 70. 1978. pp. 45-74. FRAZER, James George. O escopo da antropologia social. In: CASTRO, Celso (Org.). Evolucionismo Cultural. Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. MALINOWSKI, Bronislaw – Argonautas do Pacifico Ocidental, São Paulo, Abril, Coleção Os pensadores, 1977. MAUSS, Marcel. Esboço de uma teoria geral da magia. 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