OCORRÊNCIA DE DISTÚRBIOS MUSCULOESQUELÉTICOS EM FISIOTERAPEUTAS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Jaqueline Marins Pereira 1 Orientadora: Profª. Ms. Thays Candida Flausino 2 RESUMO Introdução: O fisioterapeuta é um profissional da saúde que tem como principal instrumento de trabalho o seu próprio corpo, o qual, muitas vezes, é utilizado em situações de sobrecarga, estando exposto principalmente a vários fatores de risco para o desenvolvimento de desordens musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho (DMRT). O presente estudo teve a finalidade de verificar a ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos em fisioterapeutas quanto ao gênero e áreas de atuação, determinando os sintomas e regiões mais acometidas e os fatores contribuintes para o desencadeamento destes sintomas. Métodos: Foi realizada uma revisão da literatura. As publicações seguiram os seguintes critérios de inclusão: artigos de pesquisa em periódico nacional ou internacional, indexados, e publicados no período de 2000 a 2012, visando uma melhor atualização referencial e/ou bibliográfica. A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2012 a julho de 2013, e após a busca e seleção das publicações, os trabalhos selecionados foram recuperados na íntegra e analisados em profundidade. Discussão e Considerações Finais: foi possível concluir a partir desta pesquisa que as principais causas de aparecimento e/ou agravamento das lesões musculoesqueléticas são por esforços repetitivos, trabalho estático e posturas inadequadas, principalmente no sexo feminino. A sintomatologia está mais presente na região vertebral principalmente em atendimentos de traumato-ortopedia e neurologia. Sugere-se, portanto, a necessidade de eliminar os fatores de risco, cuidado com a postura e pausas durante o turno de trabalho na tentativa de prevenir o aparecimento e piora das queixas álgicas musculoesqueléticas e o desempenho laboral. Palavras-chave: Fisioterapia, Distúrbios, Musculoesqueléticos, Sintomas. 1. Fisioterapeuta. Pós-Graduanda em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Desportiva, pelo CEAFI, chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, e-mail: [email protected] 2. Fisioterapeuta do CRER. Mestre em Ciências Ambientais e Saúde pela PUC-GO. Orientadora da especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Desportiva CEAFI/PUC-GO. Professora da Faculdade Padrão – Goiânia/GO, e-mail: [email protected] ABSTRACT Introduction: The physical therapist is a health professional who has as main instrument of work his own body, which is often used in overload situations, being exposed mainly to several risk factors for the development of work-related musculoskeletal disorders (WMSDs). The purpose of this study was to verify the occurrence of musculoskeletal disorders in physical therapists regarding gender and areas of performance, determining the symptoms and areas most affected and the contributing factors to the onset of these symptoms. Methods: a literature review was conducted. The publications obeyed the following inclusion criteria: research articles published in national or international journal, indexed, and published in the period from 2000 to 2012, aiming at a better update reference and/or bibliography. The data collection took place between November 2012 and July 2013, and after the search and selection of publications, the chosen papers were recovered in full and analyzed in depth. Discussion and Final Remarks: It was possible to conclude from this research that the main causes of the appearance and/or aggravation of musculoskeletal injuries are by repetitive strain, static work and awkward postures, especially in females. The symptomatology is more present in cervical and lumbar region mainly in treatments of traumatology, orthopedics and neurology. Therefore, you need to eliminate risk factors, careful posture and breaks during the work shift in an attempt to prevent the onset and worsening of musculoskeletal pain complaints and work performance. Keywords: Physical Therapy, Disorders, Musculoskeletal Disorder, Symptoms. INTRODUÇÃO Os distúrbios musculoesqueléticos são responsáveis por elevados índices de absenteísmo e incapacidade temporária ou permanente, com reflexos negativos também para a qualidade dos serviços de saúde prestados (BARBOSA et al, 2012). As alterações osteomusculares relacionadas ao trabalho vêm assumindo um caráter epidêmico. Essas alterações são decorrentes da inadequação dos aspectos sociais, organizacionais e físicos do trabalho, além de aspectos culturais e comportamentais do estilo de vida do trabalhador e de suas características individuais (SCHMITZ, 2008). As Lesões por Esforços Repetitivos (LER), atualmente também conhecidas por Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), são afecções do aparelho osteomuscular que acometem músculos, fáscias, tendões, ligamentos, articulações, nervos e representam um dos principais problemas da saúde ocupacional detectados nos trabalhadores nas últimas décadas (DEUS et al, 2011). Dentre os principais fatores para sua instalação, destacam-se a intensificação da jornada de trabalho e a necessidade de aumento de produção, além da repetitividade de movimentos, manutenção de posturas inadequadas, esforço físico, invariabilidade das tarefas, pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo, trabalho muscular estático, impactos e vibrações (PASTRE, et al, 2007). Pesquisas realizadas em vários países relatam casos de trabalhadores de diferentes áreas profissionais acometidos por dores na coluna, dentre eles Fisioterapeutas, Enfermeiros, Dentistas, e trabalhadores da construção civil e da indústria (WANDERLEY, et al, 2001); O fisioterapeuta é um profissional da saúde que tem como principal instrumento de trabalho o seu próprio corpo, o qual, muitas vezes, é utilizado em situações de sobrecarga, seja pela realização inadequada de um movimento ou durante o trabalho com um paciente totalmente dependente. Fato esse que, a médio e longo prazo poderá acarretar em uma série de complicações na saúde deste profissional, estando exposto principalmente a vários fatores de risco para o DMRT (GAMA, 2012). Pesquisas recentes afirmam que fisioterapeutas são acometidos por desconfortos músculoesqueléticos relacionados ao trabalho de tamanha gravidade que, a cada seis fisioterapeutas, um necessita realizar uma mudança em sua carreira ou nas técnicas por ele utilizadas (SOUZA, 2008). Os esforços repetitivos, trabalho estático, esforço físico intenso, ritmos intensos de trabalho e posturas inadequadas estão presentes na maioria das atividades profissionais, inclusive no trabalho do fisioterapeuta. Estas condições de trabalho são causas para o aparecimento ou agravamento de lesões, principalmente no sistema musculoesquelético (RIBEIRO, 2007). Diante do tempo e da jornada de trabalho densificados, traduzido pelo alto número de pacientes atendidos em hospitais e clínicas de atendimento público e/ou particular, contribui para a grande ocorrência de distúrbios álgicos nos profissionais de fisioterapia (GAMA, 2012). Rotineiramente, o fisioterapeuta realiza atividades que sobrecarregam o sistema musculoesquelético, como transferência de pacientes dependentes, assistência a pacientes durante deambulação, resistências manuais, levantamentos de pesos e equipamentos, trabalhar em posições desconfortáveis por longo período, rodar e curvar o corpo, sentar-se ou ficar em pé prolongadamente e movimentos repetitivos de membros superiores quando utiliza técnicas terapêuticas manuais (LEANDRO, 2012). Dentre os principais fatores de risco que mais agridem as estruturas osteomusculares em fisioterapeutas podem-se destacar o esforço físico pesado, manutenção de uma mesma postura por tempo prolongado, torção na coluna vertebral, além do levantamento e manuseio de cargas, pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo, utilização de movimentos repetitivos e movimentos rotacionais, transferência de peso e o ortostatismo prolongado, os quais sobrecarregam bastante a coluna vertebral (GAMA, 2012). O fisioterapeuta muitas vezes não tem como evitar ou mesmo minimizar a adoção de posicionamentos inadequados. Eles não ocorrem apenas devido aos posicionamentos adotados para a prática fisioterapêutica, mas principalmente em razão de mobiliário inadequado. Em muitos casos, o comprimento e a altura de macas, cadeiras, colchões, tablados, entre outros, não permitem a regulagem de sua altura e posição, a fim de possibilitar o posicionamento adequado do profissional (SOUZA, 2008). Embora não possamos modificar as características pessoais dos trabalhadores, os elementos relacionados ao nível individual podem ser modificados, a fim de melhorar as condições de trabalho e reduzir os efeitos sobre o trabalhador (BARBOSA et al, 2012). Diante disto, o presente estudo apresenta uma grande relevância de interesse social, tendo como finalidade verificar, através de uma revisão bibliográfica, a ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos em fisioterapeutas quanto ao gênero e áreas de atuação, conhecer regiões mais acometidas e os fatores contribuintes para o desencadeamento destes sintomas. MÉTODOS Foi realizada uma revisão de literatura, utilizando a própria literatura como fonte de dados sobre determinado tema, especificando e utilizando métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente os estudos realizados nos períodos entre novembro de 2012 a julho de 2013, tendo como tema: Ocorrência de Distúrbios Musculoesqueléticos em Fisioterapeutas: uma revisão bibliográfica. As publicações seguiram os seguintes critérios de inclusão: artigos de pesquisa em periódico nacional ou internacional, indexados, e publicados no período de 2000 a 2012, visando uma melhor atualização referencial e/ou bibliográfica. Foram utilizados estudos divulgados em revistas especializadas, além de revisão esquematizada de base de dados disponíveis na internet, como Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e nas bases de dados do National Center for Biotechnology Information (PUBMED). Foram excluídos artigos incompletos, e que não se encaixaram nos critérios de inclusão do estudo. Os descritores (termos de busca) como indexadores da busca, registrados no Bireme e na Medical Subject Headings utilizados, foram: fisioterapia, distúrbios, osteomusculares. Após a busca e seleção das publicações que atendiam aos critérios de inclusão, os trabalhos selecionados foram recuperados na íntegra e analisados em profundidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 FREQUÊNCIA DOS DISTÚRBIOS RELACIONADOS AO GÊNERO Segundo Cromie et al, (2000) o fisioterapeuta é um profissional que tem como principal instrumento de trabalho o seu próprio corpo, portanto, está exposto a vários fatores de risco para o desenvolvimento de desordens musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho. Em relação ao gênero, Barbosa et al, (2012) realizaram uma pesquisa com fisioterapeutas da rede municipal de saúde de Belo Horizonte, resultando em um total de 1.687 sujeitos verificando-se que a prevalência de distúrbios musculoesqueléticos foi maior no grupo feminino (54,3%). Da mesma forma, Shehab et al, (2003) que questionaram em seu estudo 143 fisioterapeutas, concluiu que a maioria das queixas álgicas eram no sexo feminino (21%) enquanto que os homens (15%). Provavelmente devido ao peso e tamanho, pois as mulheres têm uma constituição menor, o que aparentemente é uma desvantagem física ao levantar ou transferir pacientes. Trelha et al, (2004), pesquisaram 170 fisioterapeutas na cidade de Londrina e observaram que a prevalência de sintomatologia musculoesquelética relativa aos últimos doze meses foi similar aos demais autores, sendo de 129 (94,9%) para o gênero feminino e 31 (91,2%) para o gênero masculino. O mesmo ocorreu no estudo de Gonçalves et al, (2010) que realizaram uma pesquisa quantitativa, epidemiológica, transversal e descritiva com 60 fisioterapeutas de 21 clínicas particulares na cidade de Taubaté – SP. Ficou evidenciado que entre os profissionais que apresentaram alguma desordem musculoesquelética, 19 (86,36%) eram do sexo feminino e três (13,63%) do sexo masculino. Corroborando com esses dados, Deus et al, (2011) que em sua coleta de dados realizaram um questionário na cidade de Marília e região, aplicado para 37 fisioterapeutas de ambos os sexos, sendo 32,4% do sexo masculino e 67,6% do sexo feminino, foi possível observar que houve maior incidência de dor no sexo feminino (72%), ao passo que no sexo masculino apenas 41% dos fisioterapeutas referiram dor. O fato das mulheres serem mais acometidas pode ser, segundo Leite et al, (2006), não somente devido às respostas biológicas, mas ao papel e à forma de inserção das mulheres nas divisões e as múltiplas funções mãe-esposa-profissional, gerando assim, de acordo com Pastre et al, (2007) a presença de altas taxas de sintomas osteomusculares na população feminina de maneira geral e alta possibilidade de afastamento de atividades ocupacionais das acometidas. 4.2 ETIOLOGIA DAS LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS EM FISIOTERAPEUTAS Quanto às causas para o aparecimento ou agravamento das lesões musculoesqueléticas, parece haver um consenso em praticamente todos os autores encontrados. Ribeiro (2007) realizou uma pesquisa do tipo epidemiológica, com metodologia exploratória descritiva e abordagem qualitativa, composta por 10 fisioterapeutas da cidade de Cascavel, que atuavam na aplicação do Método Pilates. Foi constatado que os esforços repetitivos, posturas inadequadas, trabalho estático, esforço físico e ritmos de trabalho intenso estão presentes na maioria dos trabalhos do fisioterapeuta. Souza (2008), através de uma pesquisa de campo com uma amostra de 42 sujeitos, também conclui que, 91,7% dos profissionais pesquisados o principal fator agravante para o aparecimento de desconfortos era trabalhar na mesma posição por longos períodos e/ou trabalhar em posturas inadequadas. Para Gama (2012), o levantamento de peso inadequado em ambiente de trabalho, traumas, esforço físico demasiado e novamente atividade laboral em diversas posições inadequadas, constituem causas de dores na região da coluna cervical e torácica. No estudo de Naves e Mello (2008), constataram-se quatro situações como sendo os principais fatores de risco para o aparecimento de DORT em fisioterapeutas, sendo elas: transferência de paciente dependente, trabalhar numa mesma posição, fazer uso de terapia manual e realizar movimentação repetitiva. Bagalhi et al, (2011), corroboraram com os demais autores acima em sua pesquisa realizada por meio do preenchimento de seis questionários por profissionais de fisioterapia vinculados à Universidade da Cidade de São Paulo identificando como principais fatores agravantes na atividade profissional, respectivamente: manutenção da postura ortostática por períodos prolongados; manutenção da postura em flexão de tronco e cervical, comum em atendimentos domiciliares ou em macas muito baixas; transferência de pacientes dependentes e semidependentes, e atividades envolvendo movimentos repetitivos, como massoterapia e mobilização passiva. Deste modo é interessante ressaltar que trabalhar em longos períodos em posturas inadequadas e movimentação repetitiva pode ser um fator que favorece o desenvolvimento dos distúrbios musculoesqueléticos, segundo Ribeiro (2007) e Pastre, et al, (2007). 4.3 REGIÕES MUSCULOESQUELÉTICAS MAIS ACOMETIDAS Quanto às regiões musculoesqueléticas mais acometidas, segundo Mascarenhas e Miranda (2010) que em seu estudo pesquisaram 21 profissionais fisioterapeutas que atuavam nas clínicas e nos hospitais do município de Jequié-BA, mostraram que das 69 queixas álgicas, as regiões mais acometidas foram à região cervical (71,43%), principalmente entre os indivíduos do sexo feminino; região lombar (57,14%) atingindo igualmente ambos os sexos, e punho/mãos (52,38%). Da mesma forma, o estudo de Fronza e Teixeira (2010), foi realizado com os profissionais da área da saúde de um hospital de Joinville, em Santa Catarina, totalizando 130 sujeitos, verificando-se que quanto à frequência das dores, percebe-se que tal sintomatologia está sempre presente nas regiões cervical e lombar dos fisioterapeutas. Similar ocorreu no estudo de Trelha et al, (2004), que teve como propósito determinar a prevalência de sintomas músculoesqueléticos em 170 fisioterapeutas da cidade de Londrina através de um questionário auto-aplicável. Ao verificar os segmentos anatômicos acometidos em relação aos últimos meses, a coluna com 95,0%, também se destacou, seguida dos membros superiores (71,9%) e membros inferiores (36,9%). Leandro (2012) realizou um estudo descritivo, composto por uma amostra de 39 fisioterapeutas docentes de Instituições de Ensino Superior, através do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares. Pôde-se também verificar que mais de 90% da amostra referiu dor e que as regiões anatômicas mais acometidas foram a coluna cervical (34,1%) e a coluna lombar (27,2%). O mesmo ocorreu na pesquisa de Peres (2002) que encontrou em 156 fisioterapeutas maior índice de dor em cervical (50%). No entanto Pivetta et al, (2005) afirmaram ter encontrado 21% de distúrbios musculoesqueléticos em região torácica. Corroborando com o estudo de Pivetta et al, (2005), Barbosa et al, (2012) também concluiram que a prevalência de distúrbios musculoesqueléticos foi de 36,5% para o dorso, 34,3% para os membros inferiores e 20,4% para os membros superiores. Contradizendo os resultados anteriores, Guedes e Machado (2008) demonstraram em seus estudos com 45 estudantes do sétimo e oitavo períodos do curso de fisioterapia da Universidade Estácio de Sá, Campus Petrópolis I, que a área mais acometida pela dor foi à região lombar, correspondendo a 64,28% dos entrevistados. Similar ocorreu na pesquisa de Salik e Ozean (2004) os quais encontraram 26% desses distúrbios em região lombar e no estudo de Naves e Mello (2008), em relação às regiões anatômicas de maior frequência de acometimento, puderam-se identificar seis regiões: colunas lombar, torácica e cervical; ombro, punho e dedos/polegar e cotovelo. As três regiões com menor frequência foram quadril, joelho e tornozelo. Analisando os diferentes estudos podemos considerar que, a coluna vertebral seria a região mais acometida, pois a coluna cervical, torácica e lombar obtiveram maior destaque. Isto parece estar relacionado, de acordo com Hanson et al, (2007), à continuidade da exposição diária a movimentos repetitivos ou de força, sem pausas, como ocorre com a atividade executada pelos fisioterapeutas, podendo produzir lesões nos músculos, tendões e ligamentos, predispondo ao aparecimento de distúrbios na coluna vertebral. 4.4 RELAÇÃO ÁREA DE ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA COM AS REGIÕES MUSCULOESQUELÉTICAS MAIS ACOMETIDAS E ETIOLOGIA No estudo de Souza et al, (2008), dos 24 fisioterapeutas que referem DMRT atualmente, a maioria (62% - 15 sujeitos) trabalha em apenas um estabelecimento, do setor privado, em mais de uma área de atuação, mais especificamente nas áreas de traumortopedia–reumatologia–geriatria e neurologia. Ciarlini et al, (2005), realizaram uma pesquisa em fisioterapeutas de clínicas particulares de Fortaleza a partir de dois anos de atuação em Traumato-Ortopedia e/ou Neurologia, concluindo que ao atuar em até três especialidades distintas o fisioterapeuta expõe-se a uma maior quantidade de fatores de risco e mecanismos de lesões diferentes. Trelha et al, (2004) observaram que em relação às áreas de atuação profissional, verificou-se predominância de sintomatologia em profissionais que atuam nas áreas de gerontologia, dermato-funcional, neurologia e cardio-pneumologia, considerando-se os doze meses precedentes à autoaplicação do questionário. Entretanto Gonçalves et al, (2010) verificaram em sua pesquisa, que em relação à área de atuação, 15 (68,18%) dos que apresentaram dores atendiam ortopedia e traumatologia, RPG – Reeducação Postural Global e Pilates. Romani (2001) relata em seu estudo sobre sobrecargas posturais em fisioterapeutas que 54,7% atuam em ortopedia e traumatologia, 36,7% neurologia, 37,5% cardiorespiratória, 9,4% pediatria, 8,6% reumatologia, 6,3% desportiva e hidroterapia. Isto poderá ser justificado quando analisada a relação entre a região afetada e os fatores de risco associados. Segundo D’ávila et al, (2005) relataram significativa à ocorrência de dor lombar relacionada a trabalhar em posições encurvadas, tratar um grande número de pacientes em um mesmo dia, levantar ou transferir pacientes dependentes como no caso de fisioterapeutas que atuam na área da neurologia. Justificando ainda mais tal proposição, Peres (2002), concluiu que há uma maior incidência (88,46%) de fisioterapeutas que desenvolvem atividades de trabalho em postura de pé com flexão do tronco, posicionamento este que coloca a coluna vertebral em alto risco de constrangimento postural por sobrecarga nas estruturas que a compõe. O mesmo autor confirma que os distúrbios em coluna lombar dos profissionais fisioterapeutas relacionam-se com o fato de mobilizar, curvar-se, segurar, levantar, transportar, empurrar e puxar pacientes. Realizou um estudo com 156 fisioterapeutas, através de um questionário para verificação de queixas músculoesqueléticas em residentes de Cascavel – Paraná e região. No estudo de Gama (2012), composto por profissionais de fisioterapia (n=30) atuantes na área de traumato-ortopedia de acordo com o QNSO (Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares) utilizado com os fisioterapeutas, dos 30 profissionais pesquisados, 60% sentem dor em parte inferior de costas. A lombalgia é causada por desequilíbrios musculares na pelve, como posições de sentar e levantar, caminhar, subir e descer escadas, e manter-se na postura em pé ou sentada por alguns minutos. Já Naves e Mello (2008) perceberam que especificamente na região de punho/dedos (polegares), a prática de terapia manual se mostrou um fator desencadeador de DORT, devido ao tempo prolongado de execução e repetitividade de seus movimentos, sendo os polegares os mais sobrecarregados, por ser a principal estrutura envolvida para a execução da técnica. Cole et al, (2005), descreve que a introdução de pausas durante a jornada de trabalho constitui uma ferramenta importante para minimizar a sobrecarga na região vertebral. Sabe-se que existem instituições que preconizam estas pausas, porém quando um fisioterapeuta é liberal, o mesmo precisa de auto-conscientizar quanto à postura e pausas durante a jornada, já que a maioria atua em áreas da fisioterapia com maior predisposição ao aparecimento dos distúrbios musculoesqueléticos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O profissional fisioterapeuta deve dar maior atenção à sua postura durante os atendimentos, pois foi possível concluir a partir desta pesquisa que as principais causas de aparecimento e/ou agravamento das lesões musculoesqueléticas são por esforços repetitivos, trabalho estático, posturas inadequadas, manutenção da postura ortostática por períodos prolongados; transferência de pacientes dependentes e semidependentes, e atividades envolvendo movimentos repetitivos. O fato de manterem-se em postura fletida ou na mesma postura corrobora com o resultado de altos índices de dores lombares nestes profissionais, principalmente nas mulheres, visto que o sexo feminino apresenta desvantagens físicas e maior predisposição ao aparecimento das queixas e distúrbios musculoesqueléticos. Quanto à freqüência e região mais acometida percebeu-se que tal sintomatologia está sempre presente nas regiões de coluna vertebral (cervical, torácica e lombar) dos fisioterapeutas, seguidas de punhos e dedos, verificando-se que os que apresentam maiores queixas estão nos atendimentos de traumato-ortopedia e neurologia. Sugere-se, portanto, a necessidade de eliminar os fatores de riscos, bem como, adoção de auto-cuidados com a postura, de pausas durante o turno de trabalho principalmente nas áreas de atuação da fisioterapia com maior predisposição ao aparecimento dos distúrbios musculoesqueléticos na tentativa de prevenir o aparecimento e piora das queixas álgicas musculoesqueléticas e consequentemente o desempenho laboral. REFERÊNCIAS BAGALHI, CT; ALQUALO, CR. Prevalência de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em fisioterapeutas. Revista Science in Health, 2(2): 93-102, São Paulo, 2011. BARBOSA, REC; ASSUNÇÃO, AA; ARAÚJO, TM. 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