Bioenergia em Revista: Diálogos ano 3 | n. 2 | jul.2013 / dez.2013 | ISSN: 2236-9171 Bioenergia em Revista: Diálogos ISSN: 2236-9171 Bioenergia em Revista: Diálogos | publicação semestral | Piracicaba / Araçatuba ano 3 | n. 2 | jul. 2013 / dez. 2013 Governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin Secretario de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia Rodrigo Garcia Diretora Superintendente do Centro “Paula Souza” Laura Laganá Diretor do CESU César Silva Diretor da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba Dep. “Roque Trevisan” Hermas Amaral Germek Diretora da Faculdade de Tecnologia de Araçatuba Daniela Russo Leite Editoria Filomena Maria Formaggio Adriana Badioli – estagiária Editores de Seção Profª Drª Filomena Maria Formaggio – Fatec Piracicaba Prof. Dr. Luis Fernando Sanglade Marchiori – ESALQ-USP e Fatec Piracicaba Prof. Dr. Paulo Cesar Doimo Mendes – Fatecs de Piracicaba e Itapetininga, EEP Prof. Dr. Fernando de Lima Camargo – Fatec Piracicaba, EEP Prof. Dr. Christiano Franca da Cunha – Fatec Piracicaba e UNIMEP Prof. Msc. Fabio Augusto Pacano – Fatec Piracicaba, CNEC Capivari-SP Profa Msc. Luciana Fischer – Fatec Piracicaba e PUCCampinas-SP Bel. e Tecnólogo Mauricio D. C. Pinheiro – Fatec Piracicaba Comissão Editorial Filomena Maria Formaggio - Fatec Piracicaba Vanessa de Cillos Silva - Fatec Piracicaba Paulo Cesar Doimo Mendes - Fatec Piracicaba Carolina Ribeiro Germek - Fatec Araçatuba Marcia Nalesso Costa Harder - Fatec Piracicaba Fabio Augusto Pacano - Fatec Piracicaba Karenine Miracelly Rocha da Cunha – Fatec Araçatuba Maria Helena Bernardo Myczkowski Bioenergia em Revista: Diálogos ● Rua Diácono Jair de Oliveira, 651 ● Bairro Santa Rosa CEP: 13.414-155 ● Piracicaba / SP ● Telefone: [+55 19] 3413-1702 Conselho Editorial Hermas Amaral Germek – Fatec Piracicaba Daniela Russo Leite – Fatec Araçatuba Gisele Gonçalves Bortoleto - Fatec Piracicaba Eliana Maria G. Rodrigues de Siqueira – Fatec Piracicaba Daniela Defavari do Nascimento – Fatec Piracicaba Regina Movio de Lara – UNIESP Siu Mui Tsai Saito - Cena – USP Raffaella Rossetto - APTA - polo regional Centro-Sul Ada Camolesi - FIMI Mogi Mirim Marly T. Pereira - ESALQ-USP Vitor Machado – UNESP Bauru Adolfo Castillo Moran - Cordoba, Ver. Mexico Gregorio M. Katz - San Miguel de Tucuman Argentina Guilherme A. Malagolli - Fatec Taquaritinga Murilo Melo - ESALQ-USP Angelo Luis Bortolazzo – Centro Paula Souza Jorge Corbera Gorotiza - San Jose de Las Lajas - La Habana - Cuba Bioenergia em Revista: Diálogos (ISSN 2236-9171) é uma publicação eletrônica semestral vinculada a Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “Dep. Roque Trevisan” e à Faculdade de Tecnologia de Araçatuba (Fatecs). Objetivo: publicar estudos inéditos, na forma de artigos e resenhas, nacionais e internacionais, que contribuam ao debate acadêmico-científico, além de estimular a produção acadêmica nos níveis da graduação e pós-graduação. Os artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitida sua reprodução, total ou parcial, desde que seja citada a fonte. Bioenergia em Revista: Diálogos / Fatec - Faculdade de Tecnologia de Piracicaba / Faculdade de Tecnologia de Araçatuba. - - Piracicaba / Araçatuba, SP: a Instituição, 2011. v. Semestral - ISSN 2236-9171 1. Ciências Aplicadas / Tecnologia- periódico I. Bioenergia em Revista: Diálogos II. Fatec Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “Dep. Roque Trevisan” / Faculdade de Tecnologia de Araçatuba Bioenergia em Revista: Diálogos ● Rua Diácono Jair de Oliveira, 651 ● Bairro Santa Rosa CEP: 13.414-155 ● Piracicaba / SP ● Telefone: [+55 19] 3413-1702 Sumário 5 7 9 Apresentação Chamada de Artigos Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry GERMEK, H. A.; PATROCÍNIO, A. B do; SILVA, F. C. da; SIMON, E. J.; RIPOLI, T. C. C.. 18 A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas ALVES, SÉRGIO A. DE O.; Amaral, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. 29 Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica FREITAS, Marcela Domingues; ROMANO, Flavia Piacentini 38 Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial SIQUEIRA, Eliana M. Gonçalves Rodrigues de 50 Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TON, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Apresentação A publicação Bioenergia em Revista: Diálogos, periódico semestral das Faculdades de Tecnologia de Piracicaba Dep. “Roque Trevisan” e de Araçatuba oferece à comunidade acadêmica mais uma edição cujo objetivo principal é considerar a pesquisa, a inovação e a dialogicidade como elementos constituidores da formação superior tecnológica. Assim, o presente número aborda temas relevantes que envolvem as áreas de abrangência deste periódico. Iniciamos esta edição com uma discussão acerca das Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry cujo estudo revela uma nova tendência no gerenciamento ambiental para redução da poluição a partir da prevenção de queimada pelo uso de resíduos agrícolas, para vantagens competitivas e geração de um ciclo limpo de energia alternativa, com utilização de biomassa (palha) de acordo com o Protocolo de Kyoto. Além disso, este trabalho enfatiza que uma análise de simulação deve considerar os setores de agricultura e indústria ficando sujeito a um desenvolvimento isolado. Determinou-se, ainda, através de uma equação linear que a palha contribui com um aumento para a disponibilidade de energia a partir da palha, no intervalo de 5,59 % a 55,94 %, dependendo do estágio da cana plantada e do percentual de tipo de colheita adotado e a viabilidade para a utilização da palha. Continuando discussão iniciada em publicações anteriores, o artigo A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas ressalta que atualmente, o estado do Pará é o maior produtor de óleo de palma do país, representando mais de 90% da produção nacional. Lembram os autores que, a proposta do estudo ora apresentado é avaliar o atual cenário da dendeicultura no estado do Pará, considerando-se a análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). Tal diagnóstico permitiu identificar os maiores desafios para a agroindústria do dendê no estado, dentre os quais se encontram o combate ao amarelecimento fatal (AF), a falta de infraestrutura e mão de obra qualificada e a certificação. Além disso, sugere-se que à medida que as dificuldades vão sendo superadas, as empresas poderão alcançar novos mercados, assegurando a normatização de toda a cadeia e uma produção sustentável em longo prazo. Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica aponta que a fermentação alcoólica é o principal processo adotado para a produção de etanol pelas indústrias sucroalcooleiras. Informam as pesquisadoras, que esse processo ocorre de forma biológica, onde as leveduras (Saccharomyces cerevisiae) transformam o açúcar do meio em etanol e CO2. Todavia, é um processo que exige alguns cuidados, em especial na assepsia, para obter um processo fermentativo sadio, o nível de contaminação bacteriana deve ser próximo a 105 células.mℓ-1, pois, níveis superiores a 107UFL.mℓ-1 levam a prejuízos significativos uma vez que os microrganismos contaminantes de maior ocorrência no processo fermentativo são bactérias Gram-positivas que, dependendo do gênero da bactéria e do nível de contaminação, pode ocasionar diversos problemas como o consumo de açúcar pelos contaminantes, floculação do fermento, queda da viabilidade das leveduras e outros inconvenientes que se somados causam queda no rendimento alcoólico do vinho, além de dificuldades operacionais. No âmbito, ainda, da energia, o artigo Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial discute sobre as preocupações mundiais com o avanço do aquecimento global e elevação dos preços do petróleo, e lembra que a importância dos biocombustíveis vem aumentando. Assim, afirma que os resíduos lignocelulósicos são fontes importantes de matérias-primas. Entretanto, necessitam de prétratamento, os quais visam à desorganização do complexo lignocelulósico e, como consequência, aumento da acessibilidade às moléculas de celulose. Este estudo aponta que, através da utilização de um pré-tratamento alcalino no bagaço de cana-de-açúcar, juntamente com uma análise estatística, foi possível determinar um modelo matemático que representasse as melhores condições experimentais do processo. Nestas condições o rendimento máximo foi de 67%, obtido com 5 minutos de reação e concentração de NaOH de 2,5%. Finaliza a presente edição, o artigo Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo lembrando que a disponibilidade de leveduras comerciais nacionais para o setor cervejeiro ainda é muito escassa já que, grande parte das leveduras utilizadas durante o processo produtivo é de origem importada. Dessa forma, foi realizado um estudo para promover a multiplicação de leveduras cervejeiras, com o objetivo de manter suas características morfológicas e pureza, testando ainda o desempenho das leveduras multiplicadas na produção de cerveja. Informam os autores que, o crescimento celular em diferentes meios de culturas permitiu avaliar a viabilidade econômica e a relação custo-benefício dos meios de cultura empregados. Dentre as quatro formulações de meios de cultura testadas, a formulação que resultou em maior rendimento celular foi a de maior custo, porém, visando economizar durante o processo de multiplicação, o meio de cultura constituído apenas de açúcar mascavo pode ser considerado o mais viável, embora seja necessário aumentar a escala de produção para obter equivalente quantidade de massa celular. Afirmam, ainda, os pesquisadores que, para que a multiplicação seja certificada torna-se essencial a caracterização molecular antes e após a multiplicação para garantia de obtenção de culturas puras. A Editora Chamada de artigos A Revista Bioenergia em Revista: Diálogos convida pesquisadores, docentes e demais interessados das áreas de Bioenergia, Gestão Empresarial, Agroindústria e áreas afins, a colaborarem com artigos científicos, de revisão e/ou resenhas para a próxima edição deste periódico. As normas de submissão e análise estão disponíveis em nosso site – www.fatecpiracicaba.edu.br/revista. Os trabalhos serão recebidos por via eletrônica até 30/05/2014, e os autores poderão acompanhar o progresso de sua submissão através do sistema eletrônico da revista. Os dados apresentados, bem como a organização do texto em termos de formulação e encadeamento dos enunciados, das regras de funcionamento da escrita, das versões em língua inglesa e espanhola dos respectivos resumos, bem como o respeito às Normas da ABNT são de inteira responsabilidade dos articulistas. Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry GERMEK, H. A. PATROCÍNIO, A. B. do SILVA, F. C. da SIMON, E. J. RIPOLI, T. C. C.. Resumo Este estudo revela uma nova tendência no gerenciamento ambiental para redução da poluição a partir da prevenção de queimada pelo uso de resíduos agrícolas para vantagens competitivas e geração de um ciclo limpo de energia alternativa com utilização de biomassa (palha) de acordo com o Protocolo de Kyoto. Além disso, a redução de fontes poluentes também foi considerada para melhoria da saúde da população e qualidade de vida enquanto contemple o bom uso do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Este trabalho enfatiza que uma análise de simulação deve considerar os setores de agricultura e indústria ficando sujeito a um desenvolvimento isolado. Também foi determinado através de uma equação linear que a palha contribui com um aumento para a disponibilidade de energia a partir da palha no intervalo de 5,59 % a 55,94 %, dependendo do estágio da cana plantada e do percentual de tipo de colheita adotado e a viabilidade para a utilização da palha. Palavras chaves: palha, MDL, geração de energia e rotas de simulação. Abstract This study reveals new trends in environmental management for pollution reduction from sugarcane burning prevention by using agricultural residues for some advantages competitive and generating of a clean cycle of alternative energy with biomass utilization (straw) according to Kyoto Protocol. Moreover, the reduction of pollutant sources are also considered for improving the population’s health and life´s quality while making good use of Clean Development Mechanism (MDL). This work emphasizes that an analysis of the simulation must consider both agricultural and industrial sections avoiding incurring isolated evolution. It was also determined by linear equation that the straw contributes with increment to energy readiness to the bagasse into the range from 5,59 % to 55,94 %, depending on the suck sugarcane plantation and on the percentile of harvest adopted and the viability for straw utilization. Keywords: straw, MDL, energy´s generation and route´ simulations 9 Resumen Este estudio revela una nueva tendencia en la gestión ambiental para reducción de la polución a partir de la prevención de quemada por el uso de residuos agrícolas para obtener ventajas competitivas y generación de un ciclo limpio de energía alternativa con utilización de biomasas (paja) en consonancia con el Protocolo de Kyoto. Además de eso, la reducción de fuentes contaminantes también fue considerada para mejoría de la salud de la población y calidad de vida a través del Mecanismo de Desarrollo Limpio (MDL). Este trabajo enfatiza que un análisis de simulación debe considerar los sectores de agricultura e industria quedando sujeto a un desarrollo aislado. También fue determinado a través que una ecuación lineal que la paja contribuye con un aumento para la disponibilidad de energía a partir de la paja en el intervalo de 5,59 % a 55,94 %, dependiendo de la plantación de caña soca y del percentil cosecha adoptado y la viabilidad para la utilización de la paja. Palabras Llaves: paja, MDL, generación de energía y rutas de simulación. 10 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 9-17, jul./dez. 2013. GERMEK, Hermas Amaral, PATROCÍNIO. Alexei Barban do, SILVA, Fábio César da, SIMON, E. J., RÍPOLI, Tomás C. C. Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry INTRODUCTION Brazil has an area of 851 billion of hectare in which 376 million are arable land and only 5 million that are been used for sugarcane cultivation, which represents 1.3% of the available area for agriculture. Overall, the national average is 75 t of sugarcane per hectare, which provides 8.5 t of sugar or 5,400 liters of ethanol and 19.5 t of bagasse with 50% moisture. The activity of burning sugarcane produces 1.2 t of CO2 and absorbs 0.9 t of oxygen from the atmosphere. The burning of the bagasse, which produces the same energy, that alcohol releases 4.0 t of CO2. Moreover, the 5400 liters of alcohol, or 4.27 ton to be burned produces 8.2 tons of CO2. Thus, the fuel cycle ethyl sends 13.4 t CO2 to the atmosphere. The same ton of sugarcane removes from the atmosphere 109 tons of CO2 to grow and returns 70 ton of oxygen. To sum up the sugarcane cycle up to bioethanol removed from the atmosphere about eight times the CO2 it produces while gasoline produces three tons of CO2 per tons of fuel without any other environmental compensation and it produces even more aggressive pollutants, according to Eston (1990). A non-optimized waste burning from sugarcane harvest produces 1.2 tons of CO2, however, if this residue that were tapped as a fuel in the boilers, it could produce steam for the generation of bioelectricity. The use of residual biomass sugarcane in São Paulo would allow the final recovery of 34.8% of the culture available energy generating 12 to 33 million MWh and 22-60 million MWh in Brazil. For Paturau (1982) the oldest industries consumed 500-550 kg bagasse for generating a ton of steam. Nowadays the most modern industries, with low-pressure boiler consumption are in the range 450-500 kg / t of steam. The consumption for the boilers of medium and high pressure becomes in the range of 400 to 450 kg / t of steam allowing the use of the excess for other purposes, which can be a generation of bioelectricity to be sold to private utilities. These crop residues have moisture around 50% and its heterogeneity has caused obstruction in the supply system of high-pressure boiler operating with a fluidized bed instead of racks. The alternative has been to burn these mixed waste such as stalks of cane sugar before desfibration operation. This technique is not be recommended, since it can affect the extraction efficiency and increases the fiber content in the industry, causing a reduction in milling capacity according to equation 1 Hugot (1984) in which the fiber is a divisor parameter. 11 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 9-17, jul./dez. 2013. GERMEK, Hermas Amaral, PATROCÍNIO. Alexei Barban do, SILVA, Fábio César da, SIMON, E. J., RÍPOLI, Tomás C. C. Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry (1) C =milling capacity; K =factor forced feeding = 0,8; f =fiber content in sugarcane; c =coefficient for the sugarcane preparation; c = 1.20 (when using two sets of knives); c = 1.25 (when using two sets of knives and one disintegrated); c = 1.15 (when using one set of knife); N = speed of the first mill tender (rpm); L =length of tender milling (m); D=diameter of tender milling (m) and n = number of tender milling. The determination of the best technological route to the use of crop residue can be evaluated by the company with mathematical models of reduce costs, risks and time tests. It can also determine what increment of power that was generated by the use of crop residues in relation to bagasse contributing energy matrix type of alternative biomass. In the impossibility to test systems and procedures these linear equations can be used in the simulation as developed from the problem to define the shielding of a nuclear reactor in 1940 by von Neumann and Ulam cited by Silva (2003), which became known as analysis "Monte Carlo". Therefore, the typical plant producing sugar and alcohol should in future become an island of alternative energy production with the total use of sugarcane. MATERIALS AND METHODS The methodological approach was been characterized from a basic conceptualization in the field of operation research with objective functions and equations of restriction for each 12 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 9-17, jul./dez. 2013. GERMEK, Hermas Amaral, PATROCÍNIO. Alexei Barban do, SILVA, Fábio César da, SIMON, E. J., RÍPOLI, Tomás C. C. Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry alternative technology route with the straw received at the industrial unit from some different forms according to the process diagrams and simulation. The systems of equations for each model were analysed using the techniques of operations research through a spreadsheet calculation with Microsoft Excel to determine the most economical route. The method adopted was one that aimed to provide better modelling of alternative processing of straw for energy cogeneration with percentage of residues collection of 30, 50, 70 % and integral: Collection System: a) System cane harvest in full; b) System of collection of crop residue mechanized bulk; c) Collection system mechanized crop residue baled. Percentage of residues collection: a) Integral b) 30% c) 50% d) 70% The aim of studying bioelectricity cogeneration is support the mill owners to make a decision by the analysis on the use of trash from sugarcane, which was brought by the agricultural area and taken to the industrial area. The field experiment been done in Usina Guaira; Usinas do Grupo Andrade, Techpetersen and Santa Adélia. 13 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 9-17, jul./dez. 2013. GERMEK, Hermas Amaral, PATROCÍNIO. Alexei Barban do, SILVA, Fábio César da, SIMON, E. J., RÍPOLI, Tomás C. C. Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry Figure 1 - Analysis decision on the utilization of straw sugarcane. RESULTS AND DISCUSSIONS In the example (Table 1), a unit that processes 100TCH, can generate 10.48MW to process all bagasse resulting from the industrialization of sugarcane, while processing all bagasse along with all agricultural waste, it can be generated 16.33 MW. Table 1 - Power generated (KW) to 100 t/h of sugarcane in some different uses of biomass. Use of Biomass Bagasse Agricultural waste (Minimum) Agricultural waste (Maximum) Bagasse Residue + (Min) Bagasse Residue + (Max) Power (MW) 10.48 0.58 Energy harvest (MWh) 50.300 2.800 5,85 28.000 12.40 16,33 59.520 78.380 As 50% of biomass, the industrial process for the production of sugar and alcohol consumed bioenergy. Spare for marketing in the public's equivalent to about 50% of this bioelectricity. With the additional use of agricultural waste mechanical harvesting there will be an increase that could double revenue with agribusiness marketing bioelectricity to the public. 14 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 9-17, jul./dez. 2013. GERMEK, Hermas Amaral, PATROCÍNIO. Alexei Barban do, SILVA, Fábio César da, SIMON, E. J., RÍPOLI, Tomás C. C. Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry Table 2 - Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry. Table 3 - Percentages of increase of power due to the use of agricultural crop residue as an additional source of fuel, type of biomass to bagasse. Minimum Scenario: ⁄ = / , Et = Ep +Eb = 385 x 106 x 4,18 { [4 / 71,3 x 0,30 x 1.500] + [250 / 71,3 x 1.800] } x 0,20 Et = 2.039.485,34 x 106MJ/safra x 0,278 = 5,7 x 1010MWh/safra Maximum scenario: ⁄ + Et = Ep +Eb = 385 x 106 x 4,18 { [12 / 71,3 x 0,90 x 1.500] + [250 / 71,3 x 1.800] } x 0,25 Et = 2.630.400 x 106MW/safra x 0,278 = 7,32 x 1010MWh/safra It should been noted that the availability of this type of biomass - agricultural residue of mechanized harvesting and surplus bagasse can be accessible in the sugarcane harvest periods, which corresponds to the dry season in the east of the country where the water reservoirs of hydroelectric are in their minimum. 15 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 9-17, jul./dez. 2013. GERMEK, Hermas Amaral, PATROCÍNIO. Alexei Barban do, SILVA, Fábio César da, SIMON, E. J., RÍPOLI, Tomás C. C. Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry Considering that Brazil produces about 558 million tons of sugar cane per year according to UNICA (2012), in an area of 9.5 mi ha, and that the availability of agricultural residue harvest is mechanized in the range of 4-12 tons per hectare (Ripoli, 2003) and also considering the average farm income of 71.3 t / ha according to Vieira (2003). It is possible to estimate available electricity to be provided by the sugarcane sector for utilities, and remunerated by the Table Proinfra 2012, which contributes to creation of new job opportunities and ensuring energy supply for the implementation of projects in various sectors in Brazil. CONCLUSIONS Considering that the 18 turbines of 700MW of hydroelectric Itaipu on the Paraná River, can generate 12.6 MWh. The potential values that the sugarcane industry can offer with its biomass to generate electricity (Bioelectricity) for the utilities of the public is in order 45-58% of potential Itaipu, when compared with the potentials mills in Brazil (5.7 to 7.3 MWh). It should be emphasized that the creation of jobs by the Brazilian sugarcane sector is very representative, reaching people from different social classes and workers who are geographically distributed throughout the national territory. This is an important moving of chain for agribusiness in Brazil, which involve companies that produce capital goods, producers of inputs, training facilities and improvement of workforce, research institutions, carriers, educational institutions. Directly and indirectly, contribute to improving the quality of life of people with competence and social responsibility. REFERENCES ESTON, N. E. Etanol o combustível despoluente. Revista. AEA - Associação Brasileira de Energia Alternativa, n. 3/4 v. 5 mai./jul. 1990. HUGOT, E. Manual para ingenieros azucareros. 7. ed., México: Continental, 1984, 803 p. PATURAU, J. M. By – products of cane sugar industry. Amsterdam: Elsevier Scientific Publishing Company, 1982. 366p. PROINFA. Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica. ELETROBRÁS. Disponível em: http://www.aneel.gov.br/cedoc/areh20111244_3.pdf. Acesso em 18 de setembro de 2012. 16 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 9-17, jul./dez. 2013. GERMEK, Hermas Amaral, PATROCÍNIO. Alexei Barban do, SILVA, Fábio César da, SIMON, E. J., RÍPOLI, Tomás C. C. Analysis decision about the sugarcane straw recovery for cogeneration in unity operation industry RIPOLI, M. L. & RIPOLI, T. C. & GAMERO, C. A. Colheita integral: Retrocesso ou barateamento do sistema? IDEANews, Ribeirão Preto, Ano 4, n. 28, p 66 -67, 2003. SILVA, J. C. T. Pesquisa operacional. (apostila), Faculdade de Engenharia de Produção. UNESP. Bauru, São Paulo, 2003. ÚNICA União da agroindústria canavieira de São Paulo. Cana de açúcar: origem da atividade. Disponível em: www.única.com.br. acesso em 18 de setembro de 2012. VIEIRA. G. Avaliação do custo, produtividade e geração de emprego no corte de cana-de-açúcar, manual e mecanizada, com e sem queima prévia. 2003, 114p. Dissertação (Mestrado) FCA/UNESP – Universidade “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, 2003. 1 Hermas Amaral GERMEK é doutor em Agronomia (Energia na Agricultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil (2005). Professor Pleno e Diretor da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba Dep. “Roque Trevisan” do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, Brasil. 2 Alexei Barban do PATROCÍNIO é doutor em Engenharia Química pela Universidade Federal de São Carlos, Brasil (2005). Professor Associado I do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, Brasil. 3 Fábio César da SILVA é doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade de São Paulo, Brasil(1995). Pesquisador Doutor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Brasil e Professor da FATEC – Faculdade de Tecnologia de Piracicaba Dep. “Roque Trevisan”. 4 E. J. SIMON é professor da ESALQ-USP. 5 Tomás C. C. RÍPOLI é professor da ESALQ-USP. 17 A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas ALVES, SÉRGIO A. DE O. AMARAL, Weber A. N. do HORBACH, Micheli A. ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R. BRAGA, Lucas P. P. DIAS, Isabel F. da S. Resumo Atualmente, o estado do Pará é o maior produtor de óleo de palma do país, representando mais de 90% da produção nacional. Além de empresas estabelecidas há mais de 20 anos, recentemente novas empresas estão se estabelecendo na região. O objetivo desse trabalho foi avaliar o atual cenário da dendeicultura no estado do Pará, considerando-se a análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). Entrevistas semiestruturadas foram realizadas com as principais empresas da região para levantamento de dados. Este diagnóstico permitiu identificar os maiores desafios para a agroindústria do dendê no estado. Entre estes desafios se encontram o combate ao amarelecimento fatal (AF), a falta de infraestrutura e mão de obra qualificada e a certificação. Conforme as dificuldades vão sendo superadas, as empresas poderão alcançar novos mercados, assegurando a normatização de toda a cadeia e uma produção sustentável em longo prazo. Palavras-chave: Óleo de palma; Agroindústria; Entrevistas; SWOT. Abstract Nowadays, the Pará State is the major Brazilian palm oil producer about 90% of national production. Beyond the ancient companies, recently the new trades are arriving in the region and intend to reach new markets and competitiveness. The aim of this work was to evaluate the current scenario of palm culture in the state of Pará, considering the SWOT (strengths, weaknesses, opportunities and threats). Semistructured interviews were conducted with key companies in the region. This analysis identified the major challenges for the oil palm agribusiness in the state. Between these challenges are combating the fatal yellowing (AF), the lack of infrastructure and qualified workforce and the certification. As difficulties are identified, companies can reach new markets, with the certification of the entire chain and the sustainable in the long-term production. Keywords: Oil palm; Agribusiness; Survey; SWOT. 18 Resumen Actualmente, el estado de Pará es el mayor productor de aceite de palma en el país, lo que representa más del 90 % de la producción nacional. Además de las empresas establecidas para más de 20 años, recientemente nuevas empresas están estableciendo en la región. El objetivo de este estudio fue evaluar la situación actual de la cultura de palma en el estado de Pará, teniendo en cuenta el análisis SWOT (fortalezas, oportunidades, debilidades y amenazas). Las entrevistas semiestructuradas se realizaron con empresas líderes en la región de datos de la encuesta. Este análisis identificó los principales retos para la agroindustria de la palma aceitera en el estado. Entre estos retos son la lucha contra el amarillamiento letal (AF), la falta de infraestructura y mano de obra calificada y la certificación. Como se están superando las dificultades, las empresas pueden llegar a nuevos mercados, lo que garantiza la estandarización de toda la cadena y la producción sostenibles en el largo plazo. Palabras clave: Aceite de palma; Agronegocios; Entrevistas; SWOT. 19 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 18-28, jul./dez. 2013. ALVES, Sérgio A. de O.; AMARAL, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas INTRODUÇÃO O dendê (Elaeis guineensis Jacq) é uma palmeira de origem africana que fornece uma das mais versáteis fontes de óleos vegetais do mundo (ALVES et al., 2011). Do fruto do dendezeiro podem ser extraídos dois tipos de óleos: o óleo de palma que é extraído diretamente da polpa e utilizado principalmente na indústria alimentícia e o óleo de palmiste extraído da amêndoa do fruto, muito utilizado na fabricação de lubrificantes e cosméticos (ALVES, 2007). O óleo de dendê também é uma fonte importante para produção de biodiesel, comumente chamado de palmdiesel, que já é a principal matriz energética em alguns países asiáticos, principalmente na Indonésia e Malásia (WICKE et al., 2008). No Brasil o plantio de dendê pode chegar a 96 mil hectares, o que garante uma produção nacional de mais 220 mil toneladas de óleo/ano, ocupando apenas 0,53% do mercado internacional (IBGE, 2010). No estado do Pará, os plantios cresceram mais de 70% na última década, saltando de 39.877 para 56.193 hectares (ALVES, 2007). A cada ano, a tendência é aumentar ainda mais a área plantada na região não apenas pela vinda de novas empresas como também pela possibilidade de recuperação de áreas degradadas com espécies exóticas. Os plantios de dendê do estado se localizam em florestas tropicais do bioma Amazônico, em regiões fragmentadas pela atividade madeireira, abandonadas após a degradação, tornando-se pastagens. Este cenário é comum na Amazônia (PRATA et al., 2007), embora ela seja a floresta tropical com maior índice de biodiversidade do planeta. O dendê tem características de espécies arbóreas tropicais apresentando uma boa alternativa para o desenvolvimento na Amazônia, além disso, o manejo da cultura é manual o que garante a geração de empregos no campo (VIEGAS e MULLER, 2000). Aliado às questões ambientais encontram-se os desafios econômicos e acesso a novos mercados. Para isto, é necessário conhecer os pontos fortes, as deficiências, as exigências do mercado, além das perspectivas e desafios no setor. A análise SWOT é uma das ferramentas de gestão para suporte ao planejamento estratégico. O termo SWOT é um acrônimo das palavras Strenghts (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças) e pode ser dividida em duas partes: o ambiente externo à organização (oportunidades e ameaças) e o ambiente interno (pontos fortes e pontos fracos) (ANSOFF e MCDONNELL, 1984). O ambiente externo não está no controle da organização, atua sobre todas as organizações e, desta forma, representa oportunidade ou ameaça igual para todas. Por outro lado, o ambiente interno é aquele que pode ser controlado pela empresa e, portanto, é diretamente sensível às estratégias formuladas pela organização. A análise SWOT fornece os principais elementos para a formulação das estratégias competitivas Considerando estes aspectos, buscamos neste trabalho diagnosticar o atual cenário da cultura do dendê no estado do Pará, as perspectivas da atividade para os próximos anos, bem como os principais entraves, considerando a sustentabilidade da produção e a análise SWOT. 20 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 18-28, jul./dez. 2013. ALVES, Sérgio A. de O.; AMARAL, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas MATERIAL E MÉTODOS Para a realização desde trabalho foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com os diretores executivos das quatro principais empresas produtoras de óleo de palma do estado do Pará: Agropalma, Marborges, Biopalma e Yossan. As quatro empresas mencionadas estão distribuídas em basicamente três municípios, Moju, Tailândia e Bonito e respondem por 98% dos plantios de dendê no estado. O direito de uso das informações coletadas foi concedido sem identificação das empresas, portanto, as mesmas não são identificadas ao longo do trabalho. As entrevistas foram conduzidas no mês de Janeiro de 2009. Nelas foram levantados os dados referentes à diversidade dos plantios e utilização de bancos de germoplasma, as perspectivas da atividade para os próximos anos e os principais entraves, considerando as questões de sustentabilidade ambiental da produção. Os dados foram confrontados com literatura especializada e utilizou-se da análise descritiva para descrever os resultados obtidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para escolha das variedades utilizadas no plantio, as empresas baseiam-se em critérios de produtividade, ou seja, plantas com crescimento reduzido e elevado teor de óleo. Empresas que possuem plantios em áreas de déficit hídrico utilizam também variedades resistentes à seca. A maior preocupação das empresas sediadas nas proximidades de Belém é de plantios resistentes ao amarelecimento fatal (AF). O AF provoca o amarelecimento dos folíolos, da base para as folhas mais jovens, causando posteriormente sua necrose. No sistema radicular também ocorrem alterações, com diminuição de novas raízes, paralisando o crescimento e causando a morte da planta (MULLER; TRINDADE, 2001). Há uma correlação positiva entre o regime abundante de chuvas da região e a propagação do AF. Desta forma, as sementes e mudas que não sejam resistentes ou com grande tolerância possuem vida útil de no máximo sete anos. As empresas consultadas não possuem bancos de germoplasma. A justificativa para não investir em bancos de germoplasma se dá por três argumentos: (i) demanda de tempo, que varia entre 10 a 15 anos para se começar a produzir sementes de qualidades satisfatórias; (ii) falta de pessoal qualificado para implantação; (iii) custo de manutenção elevado. Os bancos de germoplasma não fazem parte da estratégia comercial, entretanto, duas empresas financiam o banco de germoplasma da Embrapa Amazônia Ocidental. Em relação à procedência das variedades adquiridas para o plantio, estas são oriundas de empresas da Colômbia, ASD (Costa Rica), Cirad (França) e Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus). Algumas empresas ainda importam variedades da Costa do Marfim, que são resistentes à seca. Os materiais provenientes da Colômbia e Cirad são pertencentes à espécie E. guineensis que, embora possua alta produção, não tem resistência ao AF. As empresas que convivem 21 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 18-28, jul./dez. 2013. ALVES, Sérgio A. de O.; AMARAL, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas diretamente com a doença compram materiais híbridos (E. guineensis x E. oleifera) da ASD e Embrapa. Houve um consenso geral entre os entrevistados sobre a importância da biodiversidade, sendo vista como um fator importante na resistência a doenças. Além disso, também foi mencionada a relação entre a importância da diversidade genética como componente da biodiversidade. Vários autores confirmam a importância da biodiversidade como fonte de genes de interesse relacionados à resistência (MENEZES et al., 1994; MELETTI; FISCHER, 2003). A diversidade genética é tida como importante para evitar o processo da endogamia que pode colocar em risco a sobrevivência do plantio contra doenças. A endogamia é sem dúvida uns dos problemas mais sérios que podem afetar um plantio comercial. No caso do dendezeiro, por se tratar de uma espécie perene a endogamia tem resultados adversos na produção e vigor de plantas, podendo reduzir o sucesso da polinização e aumentar a porcentagem de plantas raquíticas (HO, 1979). Luyindula et al. (2004), trabalhando na República do Congo, avaliou os efeitos da depressão endogâmica na produção do dendê, e observou a redução no rendimento de produção de cachos, sendo que houve pouco efeito na composição do cacho, não afetando a produção de folhas. Como as empresas analisadas não possuem banco de germoplasma, a preocupação recai sobre os bancos das empresas produtoras de sementes, se de fato há rigoroso critério na produção de sementes. O principal problema declarado pelas empresas é o preço elevado das sementes, que acabam por elevar o custo da produção. Sementes oriundas da espécie E. guineensis apresentam menor custo, com uma maior porcentagem de germinação, porém não possuem resistência ao AF e tem longevidade menor (cerca de 20 a 25 anos). Já as sementes híbridas (E. guineensis x E. oleifera) são as mais caras, pois sua taxa de germinação é de apenas 60%. Atualmente, estas são as sementes mais procuradas, principalmente por sua resistência ao AF. Além disso, a longevidade é maior e as plantas permanecem até 35 anos produzindo. Outra dificuldade relatada para a manutenção da agroindústria do dendê no estado são as barreiras tributárias, de certificação do produto, de financiamentos e exigências relacionadas à legislação ambiental. Segundo os entrevistados, a legislação tributária é muito rígida e de difícil acompanhamento. A legislação ambiental também é apontada como um problema, devido à dificuldade em se cumprir as leis vigentes. Um bom exemplo é o zoneamento agroecológico da região do Pará, que foi realizado recentemente (EMBRAPA et al., 2010). Durante muito tempo, as empresas ficaram impossibilitadas de estender suas áreas de plantios por indefinição de quais seriam as regiões com maior aptidão para a produção de dendê. Análise SWOT A agroindústria do dendê demonstra um grande potencial para o crescimento e desenvolvimento, porém há ainda pontos vulneráveis que precisam ser estudados. A análise SWOT é uma ferramenta 22 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 18-28, jul./dez. 2013. ALVES, Sérgio A. de O.; AMARAL, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas importante para direcionar futuros planos negócios. A partir das entrevistas foram diagnosticadas as principais fortalezas, fraquezas, oportunidades e ameaças da agroindústria do dendê (Tabela 1). Tabela 1 – Análise SWOT da agroindústria de dendê no estado do Pará Análise SWOT Fortalezas Fraquezas - Maior produtor de óleo do país; - Impacto ambiental de uma monocultura; - Experiência na produção de dendê; - Diversas utilizações do óleo (indústria alimentícia à química). - Mão de obra capacitada; - Alta rotatividade de funcionários; Oportunidades Ameaças - Alteração do código florestal; - Falta de infraestrutura para escoamento da produção; - Certificação da RSPO*; - Alcance de novos mercados; - Matriz energética para o biodiesel na Amazônia. - Suscetíveis a fatores climáticos; - Oscilações na economia; - Política fundiária; - Política tributária; - Amarelecimento fatal; - Autonomia em pesquisas científicas. *RSPO: “Roundtable Sustainable Palm Oil”. As fortalezas se configuram em características que fazem parte da estrutura interna das empresas. O estado do Pará atualmente é o maior produtor nacional de óleo de palma e conta também com os plantios mais antigos. Ao longo do tempo, o conhecimento foi sendo acumulado pelas empresas, o que permite melhor administração dos plantios. Além disso, o óleo produzido pelo dendê têm usos múltiplos, podendo ser utilizado tanto para o mercado alimentício quanto para indústria química. Entretanto, alguns pontos fracos das empresas precisam ser trabalhados, como o destino final dos efluentes, os impactos provocados pela monocultura, além de problemas relacionados à 23 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 18-28, jul./dez. 2013. ALVES, Sérgio A. de O.; AMARAL, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas contratação de mão de obra. Um dos maiores passivos, gerados pela agroindústria de palma, são os efluentes, pois ainda utilizam-se grandes quantidades de água (cerca de 6.000 m3) para a produção de óleo, o que gera uma quantidade enorme de efluentes (ALVES et al., no prelo). Segundo Tan et al. (2009), em alguns países do sudeste asiático, utiliza-se a decomposição anaeróbica dos efluentes para produção de gás metano, mas no Brasil nenhuma empresa adota esse sistema. Há muitos anos têm denúncias de derramamento de efluentes nos rios das regiões, provocando o aumento do processo de eutrofizacão, porém com o aumento da fiscalização, esse processo foi interrompido (VIEGAS; MULLER, 2000). Atualmente, estes efluentes são armazenados em piscinas e distribuídos nas parcelas para fertirrigação. Problemas com mão de obra também se configuram em fraqueza na análise SWOT. A agroindústria necessita de mão de obra capacitada e as empresas têm dificuldades em atrair trabalhadores e, quando contratam, os trabalhadores não permanecem por mais de um ano, o que dificulta um seguimento no processo de melhoria. A dificuldade maior está na localização dos plantios, em cidades pequenas e afastadas, que não oferecem infraestrutura adequada. Em relação às oportunidades, a certificação pela “Roundtable Sustainable Palm Oil” (RSPO) é uma excelente alternativa para a agroindústria do dendezeiro de alcançar novos mercados. Apesar de algumas empresas possuírem algumas certificações, entre elas, ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001 (qualidades de produtos, proteção do meio ambiente, segurança e saúde dos funcionários), estas ainda, não são o suficiente para o alcance de mercados externos. O início do plantio de palma, em alguns locais, se desenvolveu em áreas de mata nativa, o que dificulta o alcance da certificação internacional. Em 2004, foi criado um fórum internacional para discutir critérios de sustentabilidade da atividade conhecido como RSPO. Atualmente, para o alcance de mercados internacionais, as indústrias de palma precisam seguir os indicadores de sustentabilidade ambiental propostos pela RSPO. Segundo Tan et al. (2009) os indicadores da RSPO abrangem as três áreas que compõem o tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Entre as empresas associadas ao RSPO estão grandes multinacionais da produção de alimentos. Essas empresas, por sua vez, almejam a certificação de toda a cadeia, que passa também pelos fornecedores da matéria prima, ou seja, pelas empresas que produzem o óleo de palma. O zoneamento agroecológico do dendezeiro constitui em outra oportunidade para a região, pois as empresas poderão estender suas áreas de plantios. O zoneamento é uma ferramenta importante para criação de mecanismos de orientação e implementação da cadeia de óleo de dendê, representando para a Amazônia a base para a busca da sustentabilidade (BASTOS et al., 2001; EMBRAPA, 2010). O zoneamento foi lançado por uma demanda do Governo Federal com o apoio do FINEP para o Brasil e para a Amazônia Legal. Para o zoneamento, foram utilizados basicamente dois procedimentos metodológicos o cruzamento de informações sobre aptidão climática com aptidão das terras para produção de óleo enquadrando no primeiro momento em uma área de 232,8 milhões de hectares; e a superposição, sendo excluídas todas as 24 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 18-28, jul./dez. 2013. ALVES, Sérgio A. de O.; AMARAL, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas áreas cobertas com vegetação nativas e protegidas, indígenas e ecossistemas sensíveis (EMBRAPA, 2010). A partir do zoneamento, essas áreas reduziram para 31,8 milhões de hectares se estendo de áreas antropizadas do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima até Alagoas, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Espírito Santo ao Rio de Janeiro. Com relação às ameaças, as principais são o AF (por se tratar de uma doença letal e de causa desconhecida), as condições climáticas (que são variáveis), a política tributária (considerada alta) e fundiária. Estas ameaças podem dificultar o avanço da dendeicultura no estado do Pará. Além disso, são necessários maiores investimentos em pesquisa, para melhoramento dos cultivos e da produção e, principalmente para o combate ao AF. A falta de infraestrutura para o escoamento da produção pode ser responsável por elevar os custos de produção do óleo de palma. Na região, as vias de escoamento são estradas estaduais que não recebem a devida manutenção o que implica na demora na entrega e nos custos elevados dos fretes. Os encargos tributários são um dos custos que mais oneram a cadeia de produção do óleo de palma, sendo que de cada tonelada de óleo produzida, aproximadamente US$ 33,67 dólares são recolhidos em tributos na produção, sendo que o valor dos tributos incidente sobre o preço de venda pode chegar a mais de US$ 200,00 a tonelada. Portanto, a quantidade de tributos incidentes é considerada elevada, o que provoca o aumento dos custos de produção. Futuramente no cenário cada vez maior de competitividade entre as empresas brasileiras e as estrangeiras, estratégias que visem aperfeiçoar processos dentro das empresas serão cada vez mais necessárias para que os custos de produção diminuam. CONCLUSÕES A atividade da dendeicultura figura atualmente como uma das principais fontes de geração de emprego e renda para Amazônia. Entretanto, ainda há muitos desafios, como o combate ao AF, a falta de infraestrutura e mão de obra qualificada. Conforme as dificuldades vão sendo superadas, as empresas poderão alcançar novos mercados, internacionais e nacionais, com a normatização da cadeia produtiva e uma produção sustentável em longo prazo. REFERÊNCIAS ALVES, S.A.O. Resgate in vitro de híbridos interespecíficos de dendezeiro (Elaeis guineensis x Elaeis oleifera). 2007. 63 p. Dissertação (Mestrado em Botânica) - Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, 2007. 25 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 18-28, jul./dez. 2013. ALVES, Sérgio A. de O.; AMARAL, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas ALVES, S. A. O. et al. In vitro embryo rescue of interespecifics hybrids of oil palm (Elaeis guineensis x Elaeis oleifera). 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Belém: CPATU, 2001. 288 p. 26 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 18-28, jul./dez. 2013. ALVES, Sérgio A. de O.; AMARAL, Weber A. N. do; HORBACH, Micheli A.; ANTIQUEIRA, Lia Maris O. R.; BRAGA, Lucas P. P.; DIAS, Isabel F. da S. A dendeicultura no estado do Pará: cenário atual, entraves e perspectivas PRATA, S.S. Caracterização ecológica da vegetação de um fragmento de Floresta tropical na RPPN KLAGESI no município de Santo Antônio do Tauá, Pará, Brasil. Dissertação (Mestrado em Botânica) Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, 2007. 110 p. TAN, K.T.; LEE, K.T.; MOHAMED, A.R.; BHATIA, S. Addressing issues and towards sustainable development. Renewable and Sustainable Energy Reviews, London, v. 13, p. 420–427, 2009. VIEGAS, I.J.M.; MULLER, A.A. A cultura do dendezeiro na Amazônia Brasileira. Belém: EMBRAPA, CPATU, 2000. 374 p. WICKE, B.; DORNBURG, V.; JUNGINGER, M.; FAAIJ, A. 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His research and professional interests are in the areas of biofuels and sustainable use of biodiversity, forest genetic resources, biotechnology and biosafety, sustainable development and public policy. He is a professor at the University of São Paulo (http://www.esalq.usp.br), ESALQ, Brazil. He was the coordinator of the Brazilian Center for Biofuels - 2005 - 2008 (www.polobio.esalq.usp.br), and formally Senior Scientist at the International Plant Genetic Resources Institute, IPGRI (http://www.ipgri.cgiar.org/), based in Rome, coordinating the Global Forest Genetic Resources Project. Prior to his current assignment at the University of Sao Paulo, he was an Assistant Professor, Agronomy and Forestry at the State University of Sao Paulo (UNESP: http://www.fac.unesp.br) from 1989 to 1996. His professional career has included working as a researcher in Plant Genetics and Breeding at Florin Florestamento Integrado SA. Weber Amaral has been a consultant on Biodiversity for the Brazilian government, member of the International Advisory Group of the Pilot Programme on Tropical Rain Forests (PPG7), UNCTAD Biotrade Programme, FUNBIO, NGOs and private sector. E-mail: [email protected] 3 Micheli A. HORBACH: [email protected] 4 Lia Maria O. R. ANTIQUEIRA: [email protected] 5 Lucas P. P. BRAGA: [email protected] 6. Isabel F. da S. DIAS: [email protected] 28 Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica FREITAS, Marcela Domingues ROMANO, Flavia Piacentini Resumo A fermentação alcoólica é o principal processo adotado para a produção de etanol pelas indústrias sucroalcooleiras. Esse processo ocorre de forma biológica, onde as leveduras (Saccharomyces cerevisiae) transformam o açúcar do meio em etanol e CO2. Todavia, é um processo que exige alguns cuidados, em especial na assepsia, para obter um processo fermentativo sadio, o nível de contaminação bacteriana deve ser próximo a 105 células.mℓ-1. Pois, níveis superiores a 107UFL.mℓ-1, levam a prejuízos significativos. Os microrganismos contaminantes de maior ocorrência no processo fermentativo são bactérias Grampositivas, que dependendo do gênero da bactéria e do nível de contaminação, pode ocasionar diversos problemas como o consumo de açúcar pelos contaminantes, floculação do fermento, queda da viabilidade das leveduras e outros inconvenientes que se somados causam queda no rendimento alcoólico do vinho, além de dificuldades operacionais. Palavras-chave: contaminação bacteriana, fermentação alcoólica, Saccharomyces cerevisiae. Abstract The alcoholic fermentation is the main process used for producing ethanol by sugar and alcohol industries. This process occurs in a biological form, in which the yeast (Saccharomyces cerevisiae) transform the sugar into ethanol and CO2. However, it is a process that requires some care, especially in aseptic fermentation, so it is possible to obtain a sound fermentation process with levels of bacterial contamination near 105 cells.m ℓ -1. For contamination levels exceeding 107UFL.m ℓ -1 leads to significant losses. The highest occurrence of contaminating microorganisms in the fermentation process are Grampositive bacteria, which depending on the gender of the bacteria and the level of contamination, can cause many problems such as the consumption of sugar by contaminants, yeast flocculation, drop in viability of yeast and other drawbacks which together decrease the income alcoholic of wine, and also generate operational difficulties. Keywords: bacterial contamination, alcoholic fermentation, Saccharomyces cerevisiae. Resumen 29 La fermentación alcohólica es el proceso principal que se utiliza para la producción de etanol por las industrias de azúcar y alcohol. Este proceso se produce en una forma biológica, en la cual la levadura (Saccharomyces cerevisiae) convierte el azúcar en alcohol y CO2. Sin embargo, es un proceso que requiere algunos cuidados, especialmente en la asepsia, por lo que es posible obtener un proceso de fermentación saludable, con niveles de contaminación bacteriana cercana a 105 cells.m ℓ -1. Niveles de contaminación superiores a 107UFL.mℓ-1 conduce a pérdidas significativas. La incidencia más alta de contaminación de microrganismos en la fermentación son las bacterias Gram-positivas, que de acuerdo con el género de la bacteria y el nivel de contaminación, pueden causar muchos problemas, como el consumo de azúcar por los contaminantes, floculación de la levadura, redución en la viabilidad de levaduras y otros inconvenientes que en adjunto reducen el contenido alcoholico de el vino, y también generan dificultades operacionales. Palabras clave: contaminación bacteriana, fermentación alcohólica, Saccharomyces. 30 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 29-37, jul./dez. 2013. FREITAS, Marcela Domingues; ROMANO, Flávia Piacentini Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica INTRODUÇÃO No processo industrial de fabricação de álcool, a contaminação bacteriana devido ao desenvolvimento de microrganismos na fermentação alcoólica, consiste num fator limitante à otimização do processo, podendo ocasionar diversos problemas, como o consumo de açúcar e etanol por eles, produção de gomas, inibição e queda da viabilidade das leveduras devido às toxinas e ácidos excretados no meio durante a fermentação alcoólica, principalmente, ácidos lático e acético (Gallo, 1990; Freitas & Romano, 2012), perda das células de levedura no fundo das dornas ou nas centrífugas, causadas pela floculação do fermento, devido à produção de goma por bactérias (Serra at al., 1976; Oliva-Neto, 1995; Freitas & Romano, 2012), floculação causada pelo contato de bactérias floculentas e leveduras (Oliva-Neto, 1995) e outros inconvenientes que somados causam consequente queda no rendimento alcoólico do vinho. As bactérias que habitam a matéria prima não estão restritas a determinados grupos de microrganismos, considerando que o caldo de cana é um meio de cultivo extremamente rico em nutrientes (FREITAS & ROMANO, 2012). Tilbury at al.1 citado por Gallo (1990) e Cherubin (2003), relatam que estudos realizados no Reino Unido, na Índia e na África do Sul, indicam que a maior parte das perdas de sacarose é causada pelo crescimento bacteriano nas moendas, que corresponde a cerca de 62%. Podendo os contaminantes presentes na linha do caldo ocasionar perdas de sacarose que variam de 1 kg.ton-1 de cana, quando as condições higiênicas e operacionais são satisfatórias, até chegar a 2,5 kg.ton-1 quando não adequadas (CHERUBIN, 2003). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA As leveduras Saccharomyces cerevisiae responsáveis pela fermentação alcoólica competem pelo substrato com bactérias que normalmente habitam as dornas de fermentação. Um processo de fermentação considerado sadio apresenta níveis de bactéria próximo a 105 células.mℓ-1 (ANDRIETTA et al., 2006). Sendo níveis de contaminação acima de 5,0x106UFL.mℓ-1 consideradas prejudiciais, níveis acima de 107UFL.mℓ-1, causam prejuízos significativos e acima de 108UFL.mℓ-1 ocorrem queda no rendimento fermentativo, dificultando as operações das centrífugas e consequente aumento do consumo de ácido e antibiótico. Segundo Vermelho et al. (2006), a célula bacteriana é formada por glicoproteínas e glicolipídeos, o que torna importante para a virulência celular e para a fixação dessa célula a diversas superfícies. Possuem também ácido diaminopimélico (DPA), ácido murânico e ácido 1 TILBURY, R.H.; at al. Mill sanitation: a fresh approach to biocide evaluation. In: Proc. XVI Congress of the International Society of Sugar Cane Technology, 1977. Proceedings. V. 3, p. 2749-2768. 31 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 29-37, jul./dez. 2013. FREITAS, Marcela Domingues; ROMANO, Flávia Piacentini Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica teicóico (AMORIM, 2000). Como meio de locomoção, algumas bactérias possuem flagelo ou fímbria de adesão (pili), onde além da locomoção é responsável também pela reprodução celular. Dentre os principais grupos de bactérias existentes, podemos citar a Gram-positiva, Gram-negativa, espiroquetas, clamídias, micoplasmas, nocárdias, cianobactérias, entre outras (VERMELHO et al., 2006). As bactérias Gram-negativas possuem uma fração menor de peptoglicano na parede celular, quando comparada com as Gram-positivas, porém estas possuem um conteúdo maior de lipídeos, além de sua estrutura ser mais complexa (AMORIM, 2000; FREITAS & ROMANO, 2012). Serra et al. (1976) e Amorim e Oliveira (1982), citam como principais contaminantes na fermentação alcoólica os gêneros Acetobacter, Lactobacillus, Clostridium, Bacillus, Enterobacter, Streptococcus e Leuconostoc e geralmente associados ao baixo rendimento fermentativo na fermentação alcoólica, devido à formação de ácido lático e outros ácidos orgânicos, além de estarem associados à floculação (FREITAS & ROMANO, 2012). Rosales2, apud Cherubin (2003), avaliou amostras de fermento centrifugado, fermento após tratamento com ácido sulfúrico, mosto, vinho inicial e final, em que todas as amostras provenientes de destilarias se identificaram com as principais bactérias contaminantes do processo, as do tipo Lactobacillus sp (45,0%), Leuconostoc mesenteroides (14,4%), Bacillus sp (9,5%), Acetobacter sp (7,4%), Enterobacter sp (6,7%), Sporolactobacillus sp (3,6%), Pseudomonas flurescens (1,3%), Escherichia coli (1,3%) e Citrobacter sp (0,5%). Segundo Gallo3 apud Cherubin (2003) e Freitas & Romano (2012), as bactérias predominantes na fermentação alcoólica e identificadas em seu estudo, as do tipo Gram-positivas (98,52%), em forma de bastonetes (87,76%) e não esporuladas (73,95%), principalmente as do gênero Bacillus, Lactobacillus, Staphylococus, Micrococcus, linhagens pertencentes à família Enterobacteriaceae, Pediococcus e Streptococcus, sendo em sua maioria Lactobacillus (59,75%) e Bacillus (26,58%). Naves et al. (2010), citam como principais contaminantes que interferem no processo fermentativo as bactérias Gram-positivas dos gêneros Lactobacillus, Bacillus e Leuconostoc, sendo as do tipo Lactobacillus e Bacillus sempre presente na fermentação industrial e dependendo de sua intensidade, comprometem o rendimento do processo fermentativo. Diversos autores identificaram em seus estudos a predominância de bactérias Grampositivas e em forma de bastonetes no processo de fermentação alcoólica (CHERUBIN, 2003; ANDRIETTA et al., 2006; BREGAGNOLI, 2006; FREITAS & ROMANO, 2012), com destaque para os gêneros Bacillus e Lactobacillus. Assim entre os problemas encontrados na fermentação alcoólica podem-se mencionar fermentações indesejáveis como a fermentação acética, atribuída principalmente aos gêneros 2 ROSALES, S.Y.R. Contaminantes bacterianos da fermentação etanólica: isolamento em meios diferenciais, identificação e avaliação de desinfectantes. Rio Claro, 1989. 200p. Tese (Doutorado) – Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. 3 GALLO. C. R. Determinação da microbiota bacteriana de mosto e de dornas de fermentação. Campinas, 1990, 338p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas. 32 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 29-37, jul./dez. 2013. FREITAS, Marcela Domingues; ROMANO, Flávia Piacentini Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica Acetobacter e Pseudomas, como as espécies Acetobacter aceti, A. pasteurianum, A. acetosum, A. kuntzegianum e A. suboxydans, fermentação lática principalmente aos gêneros Lactobacillus e Streptococcus e espécies Lactobacillus acidophilus, L. bulgaricus, L. casei e L. leischmanii e Streptococcus lactis, a fermentação butírica às espécies Clostridium pasteurianum e C. Saccharobutyricum e a produção de goma dextrana a espécie Leuconostoc mesenteroides e a levana às espécies dos gêneros Bacillus, Aerobacter e Streptococcus (OLIVA-NETO, 1995; NAVES et al., 2010). Oliva-Neto (1995) relata em seu estudo, que dentre os contaminantes mais frequentes nas dornas e mais resistentes ao etanol, destacam-se as bactérias láticas, especialmente o gênero Lactobacillus. De acordo com Oliva-Neto (1995) e Cherubin (2003), as bactérias lácticas são acidófilas, crescendo a uma faixa ótima de pH 5,5 a 6,2, mas também em valores abaixo de 5,0, são tolerantes a temperaturas elevadas, apresentam habilidade de desenvolvimento rápido e comportamento não fastidioso e são capazes de inibir a viabilidade celular da levedura devido à pressão osmótica no meio de cultivo. Além de exercer ação inibidora ao crescimento bacteriano e produzir peptídeos, com a função de executar a comunicação célula-célula. A redução do rendimento fermentativo causada pela presença de bactérias láticas é obvia, pois consequentemente quando uma molécula de glicose é convertida em duas de ácido lático, deixam de serem produzidas duas moléculas de álcool pela levedura. Oliva-Neto (1995) menciona em seu estudo que o ácido acético é solúvel nos lipídios da membrana celular e inibe por interferência química o transporte de fosfato através da membrana. Já o ácido lático contém uma hidroxila extra e é muito menos solúvel em lipídios do que o ácido acético, ocorrendo à inibição das células de leveduras em concentrações mais elevadas (10 - 40 g.ℓ-1), o que torna o ácido acético com maior poder de toxidade sobre a levedura que o ácido lático. Oliva-Neto (1995) menciona ainda que, esta ação inibitória por sua vez, pode ser diminuída com a simples lavagem da célula de levedura com água. Gallo (1990) chama a atenção para o fato de que a fermentação acética se estabelece principalmente quando o mosto fermentado permanece por um longo período de tempo na dorna, à espera da destilação e que açúcares redutores como glicose e frutose, e substâncias relacionadas com o manitol e glicerol promovem o crescimento das espécies do gênero Acetobacter, produtoras de ácido acético. Essas bactérias por sua vez, também se desenvolvem principalmente em locais onde o contato com ar é muito intenso. O pH relativamente baixo do caldo, oriundo das moendas, favorecem as espécies consideradas acidófilas de gêneros como Leuconostoc e Lactobacillus, por outro lado, altas temperaturas associadas ao pH favorecem o crescimento de alguns microrganismos termófilos esporulados (CHERUBIN, 2003). Oliva-Neto (1995) relata em seu estudo que o gênero Leuconostoc apesar de contaminar a fermentação alcoólica proveniente do caldo de cana, raramente chega a causar grandes infecções, devido a sua relativa baixa resistência ao etanol, onde teores alcoólicos superiores a 6% impactaram na interrupção total do crescimento bacteriano. 33 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 29-37, jul./dez. 2013. FREITAS, Marcela Domingues; ROMANO, Flávia Piacentini Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica Segundo Andrietta (2006), entre as bactérias do ácido lático o gênero Leuconostoc possui o papel mais importante como contaminante, principalmente na produção de açúcar, onde esta bactéria utiliza o açúcar para a produção de goma. A presença de L. mesenteroides é considerada como o principal agente formador de goma (Serra at al., 1976), promovendo o aumento da viscosidade, o que além de dificultar a recuperação da sacarose, aumenta a presença desse açúcar no melaço, causando problemas na indústria e dificultando as operações de clarificação, evaporação e entupimento de trocadores de calor, centrífugas e peneiras. Outros microrganismos como algumas bactérias Gram-negativas como Klebisiella e Enterobacter apresentam algumas espécies produtoras de biopolímero de forma gomosa (OLIVA-NETO, 1995). Naves et al. (2010) também citam outros grupos que estão associados à formação de goma, como o Bacillus, Aerobacter, Streptococcus, Enterobacter aerogenes, E. cloacae, sendo que as espécies Bacillus subtilis, B. licheniformis e B. polymyxa também podem produzir gomas levana ou dextrana. Egan4 citado por Oliva-Neto (1995) verificou que a deterioração da cana cortada com mais de 1 dia, é muito rápida, encontrando valores de 6-11% de perda de açúcar por finais de semana, além do aumento de goma. Oliva-Neto (1995) relata ainda em seu estudo, perdas de até 3 kg.ton-1 de cana em unidades industriais, devido à formação de gomas dextrana em cana cortada, sendo que esse tipo de contaminação não se encontra em cana cortada com menos de 10 dias de armazenagem. Outro problema é a floculação do fermento, que ocorre na fermentação alcoólica por leveduras, as células agrupam-se formando flocos ou conglomerados, que muitas vezes maior em comparação à célula individualizada (Naves et al., 2010). Oliva-Neto (1995) e Naves et al. (2010), assim como outros autores relacionam a floculação das células de leveduras a várias causas, como a presença de leveduras selvagens floculentas, à produção de polissacarídeos como a dextrana, à bactérias que podem ser adsorvidas à parede das células de leveduras e causar a floculação do fermento, devido uma capa proteica, de natureza gelatinosa, ocorrendo assim a fixação das células de leveduras, causado principalmente pelo aumento do tempo de fermentação, como várias espécies de Bacillus, que não são resistentes ao tratamento ácido, bem como uma linhagem resistente ao tratamento ácido, à pHs de 1,9 a 2,0, identificada como Sporolactobacillus inulinus (Serra et al., 1976; Gallo, 1990; Andrietta et al., 2006) e algumas linhagens de Lactobacillus (GALLO, 1990). Segundo Amorim (2000), a interação entre as células das bactérias com as células das leveduras é afetada pela variação de pH, ou seja, presença de íons. Pois, para a ocorrência de floculação é preciso que íons Ca+2 estejam em concentrações a baixo de 10-1M, pois acima disso as células de bactérias e leveduras se repelem, ocorrendo a desfloculação. Gallo (1990) segue a mesma linha de raciocínio mostrando a importância do tratamento ácido para amenizar a contaminação bacteriana, devido ao processo químico que ocorre no 4 EGAN, B. T. Post-harvest deterioration losses in sugar cane in Queensland. Proc. Congress ISSCT, 13 th, 1729-1734. 1968. 34 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 29-37, jul./dez. 2013. FREITAS, Marcela Domingues; ROMANO, Flávia Piacentini Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica interior das células bacterianas, as injúrias celulares. Oliva-Neto (1995) também relaciona a necessidade do tratamento térmico à destruição das propriedades floculentas da bactéria. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nessa revisão bibliográfica foi possível verificar que as bactérias Gram-positivas são as bactérias de maior ocorrência no processo de fermentação alcoólica, sendo que, níveis de contaminação superiores a 107UFL.mℓ-1, levam a prejuízos significativos, podendo ocasionar queda no rendimento fermentativo, dificuldades operacionais e aumento do consumo de ácido e antibiótico, elevando o custo de produção. O controle bacteriano no processo de fermentação alcoólica é importante não somente para obter rendimento etanólico satisfatório, mas também para garantir a qualidade do produto final. No intuito de controlar ou inibir a contaminação no processo fermentativo é frequentemente utilizado na indústria produtora de etanol a lavagem da massa de fermento com ácido sulfúrico no pré-fermentador e reforçado pela adição de antibióticos de origem sintética ou natural. Pois, para esta finalidade, é necessário utilizar produtos que especialmente controle ou iniba a contaminação no processo de fermentação alcoólica, sem afetar a viabilidade das leveduras, e consequentemente, mantendo teores elevados de grau alcoólico, além de sempre manter o rendimento fermentativo elevado com baixo custo de tratamento. REFERÊNCIAS AMORIM, H. V.; OLIVEIRA A. J. Infecção na fermentação: como evitá-la. Açúcar e Álcool, v. 5, p. 12-18, 1982. AMORIM, H. V. Controle microbiológico no processo de fermentação alcoólica. Apostila Fermentec, 2000. P. 9-18. ANDRIETTA, M. G. S.; STECKELBERG, C.; ANDRIETTA, S. R. Bioetanol: Brasil, 30 anos na vanguarda. Revista Multiciência: Construindo a História dos produtos naturais, 2006, Campinas. Anais...Campinas: UNICAMP, 2006. p.1-16. BREGAGNOLI, F.C.R. Comportamento fisiológico de microrganismos submetidos a biocidas convencional e natural na produção de cachaça orgânica. 2006. 80p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Jaboticabal, 2006. CHERUBIN, Rudimar A. Efeitos da viabilidade da levedura e da contaminação bacteriana na fermentação alcoólica. 2003. 137p. Tese (Doutorado) - “Escola Superior Luiz de Queiroz” - ESALQ, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2003. 35 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 29-37, jul./dez. 2013. FREITAS, Marcela Domingues; ROMANO, Flávia Piacentini Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica EGAN, B. T. Post-harvest deterioration losses in sugar cane in Queensland. Proc. Congress ISSCT, 13 th, 1729-1734. 1968. FREITAS, Marcela. D.; ROMANO. Flavia P. Avaliação do controle bacteriano na fermentação alcoólica com antibióticos naturais. Piracicaba, 2012, 70p. TCC (Graduação) - Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “FATEC”. GALLO. C. R. Determinação da microbiota bacteriana de mosto e de dornas de fermentação. Campinas, 1990, 338p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas. OLIVA-NETO, P. Estudos de diferentes fatores que influenciam o crescimento da população bacteriana contaminante da fermentação alcoólica por leveduras. Campinas, 1995. 183p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas. NAVES, R. F.; FERNANDES, et al. Contaminação microbiana nas etapas do processamento e sua influência no rendimento fermentativo em usinas alcooleiras. Enciclopédia Biosféra, Centro Científico Conhecer, Goiânia, vol. 6, N.11, 16p. 2010. ROSALES, S.Y. R. Contaminantes bacterianos da fermentação etanólica: isolamento em meios diferenciais, identificação e avaliação de desinfectantes. Rio Claro, 1989. 200p. Tese (Doutorado) – Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. SERRA, G.R. CEREDA, M.P., FERES, R.J. BERTOZO, M.T. VICENTE, A.T. Contaminação da fermentação alcoólica. Floculação do fermento. Brasil Açucareiro, v. 93, n. 6, p. 26-31. 1976. TILBURY, R.H.; at al. Mill sanitation: a fresh approach to biocide evaluation. In: Proc. XVI Congress of the International Society of Sugar Cane Technology, 1977. Proceedings, v. 3, p. 2749-2768. VERMELHO, A.B. PEREIRA, A.F. COELHO, R.R.R. SOUTO-PADRÓN, T. Prática de Microbiologia. Rio de Janeiro-RJ: Guanabara Koogan, 2006. 36 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 29-37, jul./dez. 2013. FREITAS, Marcela Domingues; ROMANO, Flávia Piacentini Tipos de contaminações bacterianas presentes no processo de fermentação alcoólica 1 Marcela Domingues FREITAS é Tecnóloga em Biocombustíveis pela FATEC Piracicaba (2012). 2 Flávia Piacentini ROMANO é Tecnóloga em Biocombustíveis pela FATEC Piracicaba (2012). Atualmente é assistente de laboratório - Fermentec Internacional Assistência Técnica em Fermentação Alcoólica. Tem experiência na área de Bioquímica, com ênfase em Bioquímica, em microbiologia e na área de fermentação alcoólica. 37 Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de canade-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial SIQUEIRA, Eliana M. Gonçalves Rodrigues de Resumo Em virtude das preocupações mundiais com o avanço do aquecimento global e elevação dos preços do petróleo, a importância pelos biocombustíveis vem aumentando. Os resíduos lignocelulósicos são fontes importantes de matérias-primas. Entretanto, necessitam de pré-tratamento, os quais visam à desorganização do complexo lignocelulósico e, como consequência, aumento da acessibilidade às moléculas de celulose. Através da utilização de um pré-tratamento alcalino no bagaço de cana-de-açúcar, juntamente com uma análise estatística, foi possível determinar um modelo matemático que representasse as melhores condições experimentais do processo. Nestas condições o rendimento máximo foi de 67%, obtido com 5 minutos de reação e concentração de NaOH de 2,5%. Palavras-chave: pré-tratamento alcalino; bagaço de cana-de-açúcar; planejamento fatorial. Abstract Due to concerns with the advance of global warming and rising of oil prices, the importance of biofuels is increasing. Lignocellulosic residues are important sources of raw material. However, it requires pretreatment which aims the disruption of lignocellulosic complex and, consequently, increase accessibility to cellulose molecules. Through the use of an alkaline pre-treatment of sugar cane bagasse, along with a statistical analysis, it was possible to determine a mathematical model to represent the best experimental conditions of the process. Under these conditions the maximum yield of 67% was obtained for 5 minutes of reaction with 2.5% of NaOH concentration. Keywords: pre-treatment with alkali; sugar cane bagasse; factorial design. Resumen En vista de la preocupación mundial con el avance del calentamiento global y el aumento de los precios del petróleo, la importancia de los biocombustibles está aumentando. Los residuos lignocelulósicos son fuente importante de materia prima. Sin embargo, se requiere pre-tratamiento que está dirigido a la 38 interrupción del complejo lignocelulósico y, en consecuencia, el aumento de la accesibilidad a las moléculas de celulosa. Mediante el uso de un pre-tratamiento en alcalina bagazo de caña de azúcar, junto con un análisis estadístico, era posible determinar un modelo matemático para representar las mejores condiciones experimentales del proceso. Bajo estas condiciones se obtuvo el rendimiento máximo de 67% a los 5 minutos de reacción y la concentración de NaOH al 2,5%. Palablas-clave: pre-tratamiento con álcali, bagazo de caña de azúcar, el diseño factorial. 39 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial INTRODUÇÃO O bagaço de cana-de-açúcar é um dos principais resíduos agroindustriais do país, tendo uma produção de aproximadamente 250 kg por tonelada de cana. Apesar de possuir um grande potencial na produção de combustíveis líquidos, a maior parte é queimada nas usinas de açúcar e álcool, para gerar energia, e uma pequena fração é utilizada na alimentação de animais. No entanto, ainda há excedentes (WYMAN et al. 2005). Atualmente, os esforços para se conseguir produzir bioetanol de segunda geração estão sendo realizados a partir da conversão de resíduos lignocelulósicos (BALET, 2011). Essas matérias-primas provenientes dos resíduos de produtos naturais são fundamentais para a ampliação da produção, o que esbarraria em limitações para expansão da área plantada, seja por competir com a produção de alimentos, seja pelo nível de seus preços frente ao petróleo e também aos próprios alimentos. Os açúcares contidos nestes resíduos podem ser utilizados para produção de bioetanol, através de vias fermentativas (CANILHA et al., 2009). A celulose é um polímero linear que contém até 15.000 unidades D-glicose unidas por ligações glicosídicas β-1,4. As ligações intermoleculares são responsáveis pela rigidez e as intramoleculares pela formação de fibrilas, estruturas altamente ordenadas que se associam formando as fibras da celulose. As fibrilas apresentam desde regiões com elevado grau de cristalinidade até regiões com menor grau de ordenação, chamadas de regiões amorfas (ARANTES e SADDLER, 2010). Por sua vez, a fração hemicelulósica consiste em cadeias ramificadas de açúcares, cujas unidades incluem principalmente pentoses. A variedade de ligações e de ramificações, assim como a presença de diferentes unidades monoméricas, contribui para a complexidade da estrutura hemicelulósica e suas diferentes conformações (KOOTSTRA et al., 2009). Já a lignina, é um composto que é incorporado durante o crescimento da planta, sendo composta basicamente de unidades fenilpropano que formam uma macromolécula tridimensional e amorfa. É um complexo polimérico com caráter fenólico, formando uma estrutura rígida e hidrofóbica, que permite um suporte mecânico e facilita a adaptação das plantas superiores (RAVEN et al., 2001). As tecnologias empregadas na obtenção do bioetanol de segunda geração, a partir de materiais lignocelulósicos, consistem na hidrólise dos polissacarídeos da biomassa em açúcares fermentáveis e sua posterior fermentação. Para realizar esta tarefa, o processo de hidrólise necessita separar os açúcares e remover a lignina (PEREIRA JR et al., 2008). Alguns agentes alcalinos podem ser utilizados durante o pré-tratamento dos resíduos lignocelulósicos e os efeitos desse tratamento dependem da quantidade de lignina presente. Durante a utilização dos processos alcalinos, tende-se a obter uma maior dissolução da lignina e menor solubilização da hemicelulose. Estes tratamentos normalmente utilizam condições amenas de operação, em relação à temperatura e pressão, quando comparados com a hidrólise com ácidos diluídos. O principal resultado é a remoção de lignina, promovendo uma maior reatividade 40 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial da fibra. O álcali tende a causar um “estufamento” da biomassa de modo que a cristalinidade da celulose diminui, enquanto ocorre um aumento da superfície de contato e da porosidade. Em comparação com outras tecnologias de pré-tratamento este requer temperaturas e pressões mais baixas se comparadas com outros processos. São realizados em temperatura ambiente, mas exigem um tempo maior de processamento (RABELO, 2013). MATERIAIS E MÉTODOS Bagaço de cana-de-açúcar O bagaço de cana-de-açúcar foi proveniente de usina próxima ao município de Piracicaba - SP. Antes de se iniciar os tratamentos, foi submetido à secagem em estufa com temperatura de 45ºC durante 48 horas. Em seguida, foram submetidos à moagem e separado em peneiras da série de Taylor de 14 e 60 mesh. Pré-tratamento alcalino O bagaço de cana-de-açúcar foi pesado em Erlenmeyer, onde se adicionou solução de hidróxido de sódio de acordo com os valores determinados no planejamento fatorial (Tabela 1). Sendo levado à autoclave à temperatura de 121°C por tempo determinado também por planejamento fatorial. Em seguida, ficou em repouso por 24 horas, para permitir melhor atuação do NaOH. O bagaço foi lavado, neutralizado e analisado quanto aos açúcares redutores (AR). Açúcares Redutores (AR) Pesou-se 1g de amostra e dilui-se para 50mL de água destilada. Agitou-se e filtrou-se com gaze e algodão. Em um tubo de ensaio foi colocado 0,5mL desta amostra e 0,5mL ácido 3,5dinitrosalicílico (DNS). Ferveu-se por 5 minutos e esfriou em banho de gelo. Acrescentou-se 4mL de água destilada e agitou-se bastante. Procedeu a leitura no espectrofotômetro em um comprimento de onda de 540nm. O valor obtido foi expresso em gramas de açúcar redutores por mililitros (g.mL-1) de solução da amostra (MILLER, 1959). Delineamento Experimental do Pré-Tratamento do Bagaço de Cana-de-açúcar em meio Alcalino As variáveis aqui estudadas foram: tempo de hidrólise (A), razão sólido-líquido (B) e concentração de NaOH (C). O delineamento experimental para verificação das variáveis sobre o pré-tratamento alcalino foi realizado segundo um esquema fatorial completo do tipo 23 com 4 ensaios no ponto 41 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial central e em duplicata. Os níveis dos fatores utilizados são mostrados na Tabela 1, onde (-1), (0) e (+1) significam o menor nível, nível médio e maior nível, respectivamente. TABELA 1: Valores dos níveis das variáveis avaliadas no planejamento fatorial completo 23 com 4 ensaios no ponto central utilizados no pré-tratamento alcalino: Variáveis Níveis (-1) 0 (+1) A = Tempo de hidrólise (minuto) 10 15 20 B = Razão sólido-líquido (g/mL) 1:6 1:7 1:8 C = Concentração de NaOH (%) 3 4 5 Análise Estatística A análise estatística dos resultados foi realizada através do software STATISTICATM, versão 10.0, onde foram feitas estimativas dos efeitos das variáveis e suas interações, considerando um nível de significância de 95%. Os resultados foram expressos em tabelas de estimativa de efeitos, erros-padrão, teste t de “Student” e ainda em tabelas de análise de variância. Metodologia de Análise de Resultados Após cada pré-tratamento foi determinada a quantidade de açúcar redutor (AR) no bagaço de cana-de-açúcar. Valores estes que foram comparados com o valor inicial. O rendimento em açúcar redutor (ηAR) foi definido como: ηAR = ARTrat. – ARI x 100, onde : Equação (1) ARI ARTrat. = Açúcar redutor bagaço com pré-tratamento ARI = açúcar redutor bagaço inicial sem pré-tratamento 42 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial RESULTADOS E DISCUSSÃO Um dos reagentes mais empregados nos pré-tratamentos químicos são as bases, uma vez que são relativamente econômicos e degradam menos a celulose. O inchamento e a diminuição da cristalinidade são os principais fatores físicos que se alteram durante a reação da celulose com os hidróxidos. Comparando os pré-tratamentos ácido e alcalino, o meio alcalino resulta em menor perda dos açúcares provenientes da celulose (KUMAR et al., 2009). A utilização destes reagentes requer normalmente valores de temperatura e pressões mais baixas em relação aos outros processos. Entretanto, nestas condições, pode-se levar mais tempo na realização do pré-tratamento. Em função disso, optou-se por trabalhar a 121°C e 1 atm em todos os experimentos, variando o tempo de reação, razão sólido-líquido e concentração de NaOH de acordo com o planejamento fatorial. As condições experimentais de cada ensaio, juntamente com os resultados, estão apresentadas na Tabela 2. TABELA 2: Esquema da matriz utilizada no planejamento fatorial completo 23 com 4 ensaios no ponto central. Ensaios A B C Rendimento em AR (%) 1 -1 -1 -1 64,6 2 +1 -1 -1 31,3 3 -1 +1 -1 60,4 4 +1 +1 -1 43,8 5 -1 -1 +1 41,7 6 +1 -1 +1 27,1 7 -1 +1 +1 35,4 43 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial 8 +1 +1 +1 45,8 9 0 0 0 36,5 10 0 0 0 37,5 11 0 0 0 33,3 12 0 0 0 47,9 A = Tempo de hidrólise (min) (-1 = 10; 0 = 15; 1 = 20) B = Razão entre as fases (g/mL) (-1 = 1:6; 0 = 1:7; 1 = 1:8) C = Concentração de NaOH (%) (-1 = 3; 0 = 4; 1 = 5) Ao comparar os ensaios 1 e 6 (Tabela 2), onde temos o menor e maior rendimento em atividade, respectivamente, pode se observar que houve uma redução do rendimento da atividade em torno de 60%. Nestas condições percebe-se uma alteração significativa nos valores das variáveis tempo de reação e concentração de NaOH, pois passam do menor (-1) para o maior nível (+1). Estes resultados indicam que estas variáveis podem ser significativas. Todavia, se mantém inalterado o valor da razão sólido/líquido, o que pode significar que esta variável não seja significativa. Estas observações podem ser comprovadas pela análise estatística (Tabela 3). Os resultados comprovam as observações anteriores, ou seja, as variáveis tempo de reação e concentração de NaOH apresentam realmente efeitos significativos. O mesmo não acontece com a razão sólido-líquido. A variável concentração de NaOH apresenta um sinal negativo o que indica que para haver aumento do rendimento em atividade será preciso diminuir os valores desta variável. O mesmo acontece com o tempo de hidrólise. Os resultados indicam também que a curvatura não é significativa, o que demonstra que o modelo é mais bem representado por um modelo linear. 44 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial TABELA 3: Efeitos estimados, valores do teste t de “Student” e erros-padrão obtidos no planejamento fatorial completo 23 com 4 ensaios no ponto central. Efeitos e interações Estimativas Erros-Padrão T Média 43,7625 +/- 2,005 - A -13,5250 +/- 4,010 -3,3727* B 5,1750 +/- 4,010 1,2905 C -12,5250 +/- 4,010 -3,1233* AB 10,4250 +/- 4,010 2,5997 AC 11,4250 +/- 4,010 2,8490* BC 1,0250 +/- 4,010 0,2556 A = Tempo de hidrólise (min); B = Razão entre as fases (g/mL); C = Concentração de NaOH (%) *Significativos (t 4,0,95 = 2,77) Como os resultados das análises demonstraram que o modelo se ajusta a um linear, então podemos representar o processo de pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar considerando os termos que realmente influenciam no rendimento em atividade, pela Equação 2: Y = 43,76 - 6,76A –6,26C + 5,71 AC (2) Sendo que Y representa o rendimento em atividade, A o tempo de reação e C a concentração de NaOH. A partir deste modelo, obtiveram-se melhores resultados de recuperação em atividade quando se utilizou o valor de 10 minutos para tempo de reação (A = -1) e 3% de concentração de NaOH (C = -1). Nessas condições o rendimento máximo estimado pelo modelo foi de 62,5% de acordo com a Equação 2. A superfície de resposta do modelo e as linhas de contorno estão apresentadas na Figura 1. 45 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial > 70 < 70 < 60 < 50 < 40 FIGURA 1: Superfície de resposta e curvas de nível descritas pelo modelo da equação 7.1, que representa o pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar. Com o objetivo de se avaliar o modelo, foi realizado um novo experimento nas condições otimizadas, ou seja, valores menores para as variáveis significativas. Para isto, utilizou-se 5 minutos de reação e 2,5% de concentração de NaOH o que equivalem ao valor codificado de (1,5). Uma vez que o valor da razão entre as fases não foi significativo, optou-se em trabalhar no valor inicial, ou seja, 1:6, o que equivale ao valor codificado de (–1). Nestas condições foi obtido um valor de rendimento em atividade de 66,7%. O rendimento previsto variou em função do experimental em 12,4%, estando o mesmo dentro dos valores esperados. CONCLUSÃO Com base nos resultados experimentais obtidos, dentro da faixa dos valores utilizados, pode-se concluir que, através da utilização do planejamento fatorial, foi possível determinar o modelo matemático que representa as melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar. O rendimento máximo foi de 67%, obtido nas condições 5 minutos de reação e concentração de NaOH de 2,5%. 46 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial REFERÊNCIAS ARANTES, V.; SADDLER, J.N. Access to cellulose limits the efficiency of enzymatic hydrolysis: the role of amorphogenesis. Biotechnology for Biofuels, v. 3, n. 4, 2010. BALET, M. Production of bioethanol from lignocellulosic materials the biochemical pathway: A review. Energy Conversion and Management, n. 52, p. 858-875, 2011. CANILHA, L.; MILAGRES, A.M.F.; SILVA, S.S.; ALMEIDA E SILVA, J.B.; FELIPE, M.G.A.; ROCHA, G.J.M.; FERRAZ, A.; CARVALHO, W. Sacarificação da biomassa lignocelulósica através de pré-hidrólise ácida seguida por hidrólise enzimática uma estratégia de “desconstrução” da fibra vegetal. Revista Analytica, n. 44, p. 48-54, 2009. KOOTSTRA, A.M.J.; BEEFTINK, H.H.; SCOTT. E.L.; SANDERS, J.P.M. Optimization of the dilute maleic acid pretreatment of wheat straw. 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SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial WYMAN, C.E.; DALE, B.E.; ELANDER, R.T.; HOLTZAPPLE, M.; LADISCH, M.R.; LEE, Y.Y. Coordinated development of leading biomass pretreatment technologies. Bioresource Technology. V. 96, p. 1959–1966, 2005. 48 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 38-49, jul./dez. 2013. SIQUEIRA, Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de Determinação das melhores condições do pré-tratamento alcalino do bagaço de cana-de-açúcar através da utilização de um planejamento fatorial 1 Eliana Maria Gonçalves Rodrigues de SIQUEIRA possui graduação em Engenharia Industrial Química pela Faculdade de Engenharia Química de Lorena, Mestrado em Biotecnologia Industrial pela Faculdade de Engenharia Química de Lorena na área de Microbiologia Aplicada e Genética de Microrganismos, Doutorado em Engenharia Química na área de Processos Biotecnológicos pela Universidade Estadual de Campinas e PósDoutorado pela USP. Atualmente é Professora Associada da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba-FATEC. Tem experiência na área de Engenharia Química, com ênfase em Purificação de Enzimas, atuando principalmente nos seguintes temas: microrganismos, enzimas, fermentação e extração líquido-líquido. 49 Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo BORTOLI, Daiane Aline da Silva DOS SANTOS, Flávio; STOCCO, Nádia Monique ORELLI Jr., Alessandro TOM, Ariel NEME, Fernanda Faganello DEFAVARI DO NASCIMENTO, Daniela Resumo A disponibilidade de leveduras comerciais nacionais para o setor cervejeiro ainda é muito escassa, grande parte das leveduras utilizadas durante o processo produtivo é de origem importada. Dessa forma, foi realizado um estudo para promover a multiplicação de leveduras cervejeiras, com o objetivo de manter suas características morfológicas e pureza, testando ainda o desempenho das leveduras multiplicadas na produção de cerveja. A partir de duas cepas distintas de leveduras, uma comercial e outra de reciclo, foram testados diferentes tipos de meios de cultura caseiros a base de açúcar mascavo. Após o processo de fermentação, as leveduras originadas foram submetidas à caracterização molecular, que permitiu observar a possível presença de leveduras selvagens, mesmo na linhagem comercial, uma vez que produtos de amplificação apresentaram padrões diferentes após multiplicação celular e produção das cervejas. Após a fermentação, as amostras foram avaliadas através de análises químicas (teor alcoólico e de Diacetil) e sensorial para verificar a aceitação do produto. O crescimento celular em diferentes meios de culturas permitiu avaliar a viabilidade econômica e a relação custo-benefício dos meios de cultura empregados. Dentre as quatro formulações de meios de cultura testadas, a formulação que resultou em maior rendimento celular foi a de maior custo, porém, visando economizar durante o processo de multiplicação, o meio de cultura constituído apenas de açúcar mascavo pode ser considerado o mais viável, embora seja necessário aumentar a escala de produção para obter equivalente quantidade de massa celular. Para manter a pureza da cultura, antes de iniciar a multiplicação, é essencial isolar a cepa em meios de cultura específicos. Entretanto, para que a multiplicação seja certificada torna-se essencial a caracterização molecular antes e após a multiplicação para garantia de obtenção de culturas puras. Palavras-chave: Leveduras; Meios de Cultura; Multiplicação. Abstract The availability of commercial yeast for the national beer industry is still very scarce, most of the yeast used in the production process is of imported origin. Thus, a study was conducted to promote the 50 multiplication of brewing yeasts, with the goal of maintaining their morphological characteristics and purity, further testing the performance of multiplied yeast for brewing. From two distinct strains of yeasts, and other recycled were tested various types of home culture media based of brown sugar. After the fermentation process, the yeast derived underwent molecular characterization, which allowed observing the possible presence of wild yeasts, even at commercial line, since amplification products showed different patterns after cell multiplication and production of beers. After fermentation, the samples were evaluated by chemical (alcoholic and Diacetyl) and sensorial analysis to verify the acceptance of the product. Cell growth in different culture media allowed to evaluate the economic feasibility and costbenefit of culture media employed. Among the four culture media formulations tested, the composition that resulted in the highest cell yield was the one of the highest cost, however, in order to save money during the multiplication process, the culture medium consisting of brown sugar is the most viable although it is necessary to increase the scale of production to obtain equivalent amount of cell mass. To maintain the purity of the culture before starting the multiplication, it is essential to isolate the specific strain in culture media. However, for the multiplication, to be certified, is essential molecular characterization before and after multiplication to guarantee obtaining pure cultures. Keywords: Yeast, Culture Medium; Multiplication. Resumen La disponibilidad de levadura nacional comercial para la industria de la cerveza es todavía muy escasa, la mayor parte de la levadura usada en el proceso de producción es de origen importado. Por lo tanto, se realizó un estudio para promover la multiplicación de la levadura, con el objetivo de mantener sus características morfológicas y de la pureza, además probar el rendimiento de la levadura multiplicado para elaborar cerveza. A partir de dos cepas distintas de levaduras, y otro de reciclo se probaron varios tipos de medios caseros de cultivo a base de azúcar moreno. Después del proceso de fermentación, la levadura derivada fue sometida a la caracterización molecular, que permitió observar la posible presencia de levaduras silvestres, incluso en la línea comercial, ya que los productos de amplificación mostraron diferentes patrones después de la multiplicación celular y la producción de cervezas. Después de la fermentación, las muestras se evaluaron mediante análisis químico (alcohólica y diacetilo) y sensorial para verificar la aceptación del producto. El crecimiento celular en diferentes medios de cultivo permitió evaluar la viabilidad económica y la rentabilidad de los medios de cultivo empleados. Entre los cuatro medios de cultivo de las formulaciones ensayadas, la composición que dio como resultado el mayor rendimiento fue la de mayor costo, sin embargo, con el fin de ahorrar durante el proceso de multiplicación, el medio de cultivo compuesto de azúcar moreno sólo puede ser la más viable, aunque es necesario aumentar la escala de producción para obtener una cantidad equivalente de la masa de células. Para mantener la pureza del cultivo antes de iniciar la multiplicación, es esencial aislar la cepa en medios de cultivo específicos. Sin embargo, para la multiplicación a ser certificado, es esencial caracterización molecular antes y después de la multiplicación, para garantizar la obtención de cultivos puros. Palabras-clave: Levaduras, medios de cultivo, multiplicación. 51 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo INTRODUÇÃO Atualmente as leveduras tem grande importância na indústria em vários seguimentos, dentre eles a produção de cervejas. Muitos autores citam que as leveduras dão às cervejas sabor, aromas e textura. É o agente biológico que transforma o mosto cervejeiro em produto final. Para cada tipo de cerveja como as Belgas, Inglesas e outras, são selecionadas determinadas cepas de leveduras. Como a maioria desse material não é produzida no Brasil, o custo de aquisição acaba sendo elevado. Visando redução de custos, esse trabalho teve como objetivo avaliar diferentes meios de cultura a base de açúcar mascavo, para multiplicação de leveduras cervejeiras do tipo Saccharomycies cerevisiae, multiplicando uma cepa comercial (T58) do laboratório Fermentis, e outra cepa (Nottingham) de reciclo obtida de uma dorna de fermentação. REVISÃO DE LITERATURA As necessidades nutricionais dos microrganismos são basicamente iguais às de todos os seres vivos, que, para renovar seu protoplasma e exercer suas atividades, exigem fontes de energia e de materiais plásticos. (ALTERTHUM, 2001). O meio de cultura é caracterizado como um conjunto de nutrientes necessários para suprir os microrganismos durante sua fase de multiplicação, manutenção ou transporte (CARVALHAL, 2001). A composição de um meio adequado se dá através do conhecimento fisiológico dos microrganismos em estudo. Basicamente, existem dois grandes grupos de meios de cultura: os sintéticos e os complexos. Os sintéticos possuem sua composição qualitativa e quantitativamente conhecida (ALTERTHUM, 2001). Já os meios mais complexos, empregados na maioria dos processos fermentativos em grande escala, como o caldo de cana-de-açúcar, melaços, farinhas diversas, água de maceração do milho, entre outros, apresentam sua composição química desconhecida, podendo-se conhecer apenas os teores de açúcares disponíveis, nitrogênio, fósforo, mão não se conhecem os teores de sais minerais, devido ao fato de serem meios com grande número de constituintes (SCHMIDELL, 2007). A avaliação do crescimento de microrganismos pode ser realizada pelo aumento da massa celular ou pelo número de células, e é resultado de um conjunto de eventos altamente coordenados e enzimaticamente catalisados (MORAES, 2007) e pode ser determinada de diversas maneiras, como determinação da massa de matéria seca ou úmida; determinação química de componentes celulares, e através de turbidimetria (ALTERTHUM, 2001). A espécie Saccharomyces cerevisiae é uma levedura de grande importância econômica para as áreas de panificação, cervejaria e de produção de etanol (CARVALHO et al., 2006). Cepas desta 52 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo espécie são usadas em processos fermentativos para produção de bebidas alcoólicas. Em meio oxigenado, as leveduras convertem os açúcares em dióxido de carbono, gerando as “bolhas de ar” no pão. A cerveja é uma bebida basicamente feita através de malte fermentado pela ação de leveduras. A fermentação tem a função de transformar carboidratos em etanol. Os grãos de cevada utilizados têm na sua composição amido, um carboidrato que as leveduras fermentadoras não conseguem hidrolisar. Estes grãos são colocados para germinar e, nesse processo, produz enzimas α-amilase e β-amilase. A α-amilase liquefaz o amido e a β-amilase estimula a formação de açúcares (Jay, 2005). Ainda de acordo com este autor, as leveduras de alta fermentação resultam uma cerveja tipo Ale de pH aproximadamente 3,8, enquanto leveduras de baixa fermentação proporcionam uma cerveja tipo Lager com pH entre 4,1 e 4,2. Tradicionalmente, na fabricação de cervejas, utiliza-se água, malte, lúpulo (Humulus lupulus) e levedura. Em muitos processos utilizam-se também adjuntos (LEWIS & YOUNG, 2002), embora a antiga lei de pureza da cerveja (Reinheitsgetbot) publicada em 1516, na Bavária (Alemanha), estabeleça que essa bebida deva ser produzida exclusivamente com malte, lúpulo e água (VENTURINI & CEREDA, 2008). Adjuntos são considerados qualquer produto ou material que forneça carboidratos para o mosto cervejeiro desde que seja permitido por lei. Os mais usados são centeio, aveia, batata e mandioca. Mas pode-se usar também: milho, arroz, cevada, trigo, sorgo, açúcar cristal, xarope ou melaço de cana-de-açúcar. A vantagem do uso de adjuntos é principalmente econômica, embora melhore a qualidade físico-química e sensorial da cerveja acabada. Cervejas que utilizam adjuntos em sua composição são mais leves e refrescantes, normalmente apresentam cor mais clara e maior brilho (VENTURINI & CEREDA, 2008). O processo de produção de cerveja pode ser dividido basicamente em seis etapas: moagem do malte; mosturação ou brassagem; filtração; fervura; fermentação e maturação. Detalhes sobre estas etapas podem ser encontradas em artigo de Revisão de Literatura sobre o tema (Bortoli et al., 2013). MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho de pesquisa utilizou leveduras do tipo Saccharomyces cerevisiae comerciais (T58) e leveduras de reciclo (Nottingham), fornecidas, respectivamente, pelo Comerciante Afonso Landini, da “Turma da Cerveja – Cerva Paulista” e pelo professor Alessando Antonio Orelli Júnior. Estas leveduras foram submetidas à multiplicação em meios de cultura caseiros a base de açúcar mascavo. Para estabelecimento das culturas, foi necessário o preparo de um meio de cultura para ativação das leveduras. Nesse caso foi utilizado o meio YEP (2% extrato de levedura; 4% 53 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo peptona e 4% glicose, pH=5) e após essa etapa utilizou-se quatro diferentes formulações de Meios de cultura caseiros para a multiplicação das leveduras. O crescimento nos meios caseiros foi realizado em três etapas, apenas aumentando o volume de meio conforme as leveduras foram se multiplicando. Na primeira fase do crescimento o volume de meio utilizado foi 60 mL, na segunda 220 mL e na terceira 1020 mL, para cada tipo de meio. As formulações dos meios de cultura caseiros foram identificadas como A, B, C e D, de acordo com sua composição final. Meio A: solução de açúcar mascavo 4%; Meio B: solução de açúcar mascavo 4% e Extrato de Levedura 0,1%; Meio C: solução de açúcar mascavo 4% e Peptona 0,1%; Meio D: solução de açúcar mascavo 4%, Extrato de Levedura 0,1% e Peptona 0,1%. Todos os meios tiveram seu pH ajustado para 5 e foram submetidos à análise de Brix em refratômetro de bancada e posteriormente esterilizados em autoclave por 15 minutos, a 1 atm e temperatura de 121oC. Inoculação das leveduras Para a ativação das leveduras utilizou-se fluxo laminar limpo e estéril, onde com a alça de platina foi retirada uma alíquota da amostra de levedura da placa de petri e mergulhada no meio YEP. Após a inoculação, o erlenmeyer foi colocado em mesa agitadora a 150 rpm, 28oC, por 24 horas. Passadas 24 horas, as leveduras foram retiradas da mesa agitadora e, novamente no fluxo, removeu-se 1 mL da cultura ativada e transferiu-se para o meio de cultura da primeira fase, esse procedimento foi realizado para os quatro tipos de meio de cultura caseiros (A, B, C e D). Eles foram levados novamente para a mesa agitadora a 175 rpm, 28oC, por 24 horas. Após o crescimento da primeira fase retirou-se os erlenmeyers da agitação e, no fluxo laminar, foram separados alíquotas de: 2 mL para leitura de Densidade Ótica; outra alíquota de 10 mL para a leitura de pH, Brix e análise de células vivas em câmara de Neubauer (esta com diluição de 10:1); e o restante de cultura da primeira fase (~48mL) foi transferido para o meio de cultura da segunda fase de crescimento. Esse procedimento foi realizado para os quatro meios de cultura (A, B, C e D). Após inoculação foram mantidos em mesa agitadora por 24 horas a 175 rpm e 28oC. Terminado o crescimento da segunda fase, retiraram-se os meios da agitação e, em fluxo laminar, foram retiradas alíquotas para análise de Densidade Óptica (2mL), leituras de pH e Brix e contagem de células vivas em câmara de Neubauer (10mL). O restante da cultura (~256mL) foi transferido para o meio da terceira fase de crescimento. Novamente, esse procedimento foi 54 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo realizado para os quatro tipos de meios de cultura caseiros. Os erlenmeyers foram então levados para agitação por mais 24 horas, a 175 rpm, 28oC. Com o crescimento da terceira etapa finalizado, retirou-se os meios da mesa agitadora e as alíquotas para análise de Brix, pH e leitura de Densidade Óptica foram coletadas. O meio restante foi dividido em tubos de fundo cônico tipo falcon de 50 ml, previamente pesados e identificados pelo tipo de meio e submetidos à centrifugação. A leitura da Densidade Óptica (OD) a 600nm foi feita, em triplicata, em espectrofotômetro da marca Eppendorf. O material coletado foi centrifugado por 10 minutos e rotação de 3000 rpm. Após a centrifugação, em câmara de fluxo laminar, foi descartado o sobrenadante (parte líquida) e os tubos foram pesados em balança analítica, anotando-se os valores da massa de fermento precipitado no fundo do tubo. Contagem de células viáveis A contagem de células foi realizada em microscópio óptico com objetiva de 40X, em câmara de Neubauer. Adicionou se 1 mL de corante azul de metileno com citrato de sódio em 1 mL da amostra já diluída 1:10. Deixou-se o corante agir por 5 minutos e contaram-se as células não coradas para determinar o número de células viáveis por mL. Para determinar a viabilidade, as células coradas (mortas) e as não coradas foram contadas e anotadas. Amostras das cepas T58 e da levedura de reciclo (Nottingham), ativadas em meio YEP, antes de passar para a primeira fase de crescimento, foram analisadas através de contagem para determinar o número de células iniciais. Foi Inoculado 1 mL dessa suspensão ativada em cada um dos meios A, B, C e D. E em cada uma das fases, retirava-se uma alíquota para fazer a contagem de células viáveis. Produção das cervejas Para preparar o mosto foram utilizados 50 litros de água, 17 quilos de malte de diferentes tipos: 5 Kg de malte pilsen, 10,5 Kg de pale ale, 750 g de caramunique II, 750 g de cara-pils e 350 g de lúpulo. O mosto para o experimento foi feito na planta piloto da microcervejaria da Fatec Piracicaba pelo mestre cervejeiro Phillip Zanello, integrante da “Acerva Paulista”, que, muito gentilmente, cedeu cinco litros de mosto, para o teste de fermentação com as linhagens de levedura multiplicadas. A cerveja feita foi uma IPA (Indian Pale Ale), que se caracteriza por ser forte no teor alcoólico e amargor. 55 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo Todos os tipos de malte foram moídos juntos, em moinho de dois rolos motorizado. Após a triturado foi transferido para tina de cocção com água pré-aquecida a 65 °C, para ativação das enzimas. Essa temperatura foi mantida durante 90 minutos. Elevou-se a temperatura para 78 °C aumentando 1 °C por minuto, mantendo a 78 °C por 45 minutos. Neste momento foi retirada uma alíquota do mosto e adicionado 2 gotas de iodo. A cor roxa do iodo mudou para amarelo, com esse teste, foi possível comprovar que todo amido havia sido convertido. Em seguida, a temperatura foi elevada para 85 °C, mantendo mais 30 minutos para inativar todas as enzimas. Terminada a mosturação, foi realizada a filtragem. Para isto, o mosto foi bombeado para tina de filtração e ficou circulando até que se obtivesse um mosto livre de cascas. Concluída a filtração, a temperatura foi elevada até 100°C para fervura. Após a ebulição do mosto, adicionouse 200 gramas de lúpulo. Decorridos 20 minutos, foi retirado 5250 mL para a fermentação em laboratório, quando se mediu o pH e o Brix. O mosto foi dividido em 3 Erlenmeyers, previamente identificados (T1 a T3) lavados e esterilizados para que não houvesse qualquer tipo de contaminação, com capacidade de 2 litros cada, preenchendo um volume de 1750 mL. Foi inoculado 2g do fermento comercial T58 liofilizado no Erlenmeyer T1; 2 g do fermento comercial T58 previamente multiplicado em laboratório no T2; e 2 g do fermento de reciclo (Nottingham) no T3. As amostras foram tampadas com rolha de borracha, com um furo no meio, onde foi colocada uma mangueira, tomando cuidado para não encostá-la no mosto, e a outra ponta da mangueira ficou mergulhada em uma garrafa de água, com a função de não deixar entrar ar no mosto durante a fermentação. Foram mantidas em B.O.D. a 18°C durante 2 semanas. Depois de constatado a diminuição da formação de gás carbônico, indicativo do final da fermentação, abaixou-se a temperatura para 10°C, por mais 2 semanas até completa finalização da fermentação. A cerveja foi transferida para outros recipientes com o auxilio de mangueiras sem sugar o fermento do fundo do erlenmeyer e mantida a 4°C. Análise sensorial A análise sensorial foi realizada por integrantes da Acerva – Paulista, o método usado foi o descritivo, cada julgador analisou as características de aroma, odor, textura e cor de cada amostra codificada como T1, T2 e T3, seguindo mesma identificação do processo de fermentação. Cada julgador preencheu um questionário (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008), avaliando aparência, odor e aroma, sabor e gosto e sensação bucal. Depois, os resultados foram discutidos em uma mesa redonda e cada um contribuiu com o seu parecer. 56 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo Análises químicas As análises de teor alcoólico e de Diacetil das amostras foram gentilmente feitas por Cromatografia gasosa CGMS da marca Agilent 7890A / 5975C, realizada no Laboratório de Açúcar e Álcool localizado no Centro de Tecnologia Canavieira-CTC pelo técnico de laboratório Marcos Rasera, através de metodologia própria e confidencial do CTC. Análises Moleculares O DNA genômico total foi extraído de amostras de leveduras, através do método CTAB adaptado de Doyle & Doyle (1987). Aproximadamente 1mL de solução celular de leveduras foram centrifugadas a 3000xg por 5 minutos, descartando o sobrenadante. Os precipitados foram macerados em tubo eppendorf autoclavado, juntamente com 700µL de tampão de extração sem βmercaptoetanol (1,4M NaCl; 100mM Tris HCl pH=8; 20mM EDTA ph=8; 1% PVP; 2% CTAB) previamente aquecido (55ºC). Em seguida foram agitados e mantidos por 15 minutos a 55°C, com homogeneização em intervalos de 5 minutos. As amostras foram deixadas à temperatura ambiente por 5 minutos, para posterior adição de 600µL de CIA 24:1 (24v clorofórmio : 1v álcool isoamílico). A homogeneização foi feita por inversão dos tubos (25 vezes) até a formação de uma emulsão, antes da centrifugação (18.000xg), à temperatura ambiente, por 7 minutos. A fase aquosa (superior) foi transferida para tubo novo. A esse, adicionou-se 200µL de tampão de extração sem β-mercaptoetanol, e 600µL de CIA. Após a homogeneização, a amostra foi centrifugada (18.000xg), à temperatura ambiente, por 7 minutos. A fase aquosa superior foi novamente transferida para tubo novo, repetindo-se esse passo, uma segunda vez. Após a centrifugação, a fase aquosa superior, contendo o DNA genômico, foi recuperada. A precipitação foi feita pela adição de 600µL de isopropanol, seguida de centrifugação (18.000xg), a 4oC, por 15 minutos. O sobrenadante foi então descartado e o precipitado lavado com 600µL de etanol 70%, mantido a –20o C por 20 minutos, antes da centrifugação por 15 minutos, 4o C, a 18.000xg. O precipitado, após a secagem, foi ressuspendido em 30µL de tampão TE (Tris 10mM, EDTA 1mM, pH=7,5), contendo 10µg/mL de RNAse, e mantido a 37oC por 1 hora, antes de ser armazenado a 4oC. A verificação da qualidade do DNA total e a quantificação foram realizadas por eletroforese em gel de agarose (1%). As bandas foram visualizadas através de coloração com brometo de etídeo (0,01ng/µL) sob luz ultravioleta (Sambrook et al., 1989) e comparadas com padrões de peso molecular. 57 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo A reação de PCR do DNA genômico das leveduras com 4 pares de primers específicos para caracterização molecular de cepas (Carvalho-Netto et al., 2012), foi feita para um volume final de 20µL, utilizando-se Drem Taq® (Fermentas), conforme recomendações do fabricante. A amplificação do segmento de DNA a levedura foi realizada em duas etapas, devido a diferenças na temperatura de anelamento dos pares de primers. Para dóis pares (P1 e P2) o programa utilizado no termociclador TECHNE, modelo TC-4000, foi 5 minutos iniciais a 94ºC, e 45 ciclos de 45 segundos a 94ºC, 40 segundos a 54ºC e 1 minuto e 30 segundos a 72ºC; mais 2 minutos a 72ºC, para extensão final. Para os outros dois pares de primes (P3 e P4), mudou-se apenas a temperatura de anelamento ficando, portanto: 5 minutos iniciais a 94ºC, e 45 ciclos de 45 segundos a 94ºC, 40 segundos a 57ºC e 1 minuto e 30 segundos a 72ºC; mais 2 minutos a 72ºC, para extensão final (Carvalho-Netto et al., 2012). O produto de PCR (10µL de cada reação) foi submetido à eletroforese em gel de agarose 1% com tampão TBE 0,5x, submetido a corrente de 75V por 60 minutos, tendo como marcador de peso molecular 1kb DNA Ladder (Fermentas), todos acrescidos de tampão de amostra (Dye IV) (Sambrook et al., 1989). As bandas foram visualizadas por meio de coloração com brometo de etídio (0,01ng/µL) sob luz ultravioleta. RESULTADOS E DISCUSSÃO Através de análise da Tabela 1, onde estão apresentadas as medições realizadas para cada parâmetro e cepas estudadas, pode-se observar que, em todas as fases, o meio D tendeu a apresentar maior consumo de açúcar pelas leveduras em relação às demais formulações de meios. Isso se explica devido à composição do meio D, que contém além da fonte de carboidrato (açúcar mascavo), o extrato de levedura e a peptona, favorecendo o crescimento e consequentemente, maior consumo de açúcar pelas leveduras. 58 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo Tabela 1: Medidas de pH, Brix e Consumo de açúcar Cepa 1 Meio de pH Brix Cultura Fase de Ativação Fase 1 Fase 2 Fase 3 Cepa 2 Açúcar pH Brix Brix 5,07 4,60 A 4,45 2,10 B 4,50 C Açúcar Brix 5,00 4,80 2,50 3,45 1,90 2,90 1,90 2,70 3,50 1,00 3,80 4,38 1,50 3,10 3,38 0,90 3,90 D 4,54 1,80 2,80 3,54 0,90 3,90 A 4,35 3,70 0,90 4,35 3,70 1,10 B 4,52 2,10 2,50 4,52 1,10 3,70 C 4,55 2,50 2,10 4,55 1,00 3,80 D 4,67 1,60 3,00 4,67 1,00 3,80 A 4,63 4,10 0,50 4,63 3,90 0,90 B 4,52 1,70 2,90 4,52 1,30 3,50 C 4,50 1,90 2,70 4,50 1,50 3,30 D 4,50 1,10 3,50 4,50 1,00 3,80 As leituras da densidade óptica (OD) foram realizadas no comprimento de onda de 600 nm e como amostra padrão (branco) foi utilizado, 1mL de cada meio de cultura (A, B, C ou D). Foram efetuadas leituras no tempo 0, antes de iniciar a multiplicação e após 24 horas, ou seja, após multiplicação, para avaliar o crescimento celular. Através da diferença entre as leituras da densidade óptica, antes e após multiplicação, foi possível obter a taxa média de multiplicação para cada meio, em cada fase (Figura 1). 59 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo Figura 1: Leitura da densidade óptica (OD), valores médios para multiplicação. Observa-se que a formulação do meio A, para as duas cepas, e após a fase 1 de multiplicação, promove queda de rendimento em relação aos demais meios de cultura, provavelmente, devido ao fato de sua formulação conter apenas açúcar mascavo. O açúcar mascavo possui em sua composição química, além de carboidratos, alguns sais minerais como potássio (60-400mg/100g), magnésio (35-80mg/100g), cálcio (50-350mg/100g), fósforo (3080mg/100g), ferro (4-10mg/100g), manganês (1-5mg/100g), zinco (1-4mg/100g) e sódio (4070mg/100g) (Natalino, 2006). Para um adequado crescimento de leveduras, além da fonte de carboidratos, é essencial, para um meio mínimo, também o suprimento de nitrogênio, fósforo e de quantidades mínimas de metais (Bergman, 2001). Como na constituição química do açúcar mascavo não se detecta nitrogênio, pode-se mencionar que nitrogênio deve ser um o principal fator limitante ao crescimento da levedura, seguido de necessidade de complementação de fósforo e de demais micronutrientes. Estes complementos se encontram na formulação do meio de cultura D, que contém peptona e extrato de levedura, suprindo as necessidades nutricionais para a multiplicação celular e promovendo, assim, na maioria das fases, rendimento celular superior para ambas as cepas. Como parâmetro para determinar o crescimento celular, foram obtidos também os pesos em gramas de cada tubo tipo falcon de 50 mL. Para as duas cepas, observa-se que o meio de cultura D foi o que apresentou maior massa de fermento produzido durante as fases de crescimento. Os meios de cultura B e C apresentaram massa de leveduras equivalentes e o meio 60 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo de cultura A foi o que apresentou menor quantidade de massa de levedura produzida durante a multiplicação. Demonstrando coerência na comparação com os resultados obtidos das leituras de densidade óptica. Contagem de células viáveis A ativação da Cepa 1 (T-58) resultou em uma suspensão com 2 x 107 células. mL-1, enquanto que a Cepa 2 (levedura de reciclo - Nottingham) resultou em uma suspensão com 2,64 x 107 células. mL -1. A concentração comparativa de células viáveis para cada composição de meio e para cada fase de desenvolvimento pode ser observada na figura 2, para as cepas 1 (T58) e 2 (Nottingham de reciclo). A B 8 7 Cels . 107 . mL-1 6 5 4 3 2 1 0 Fase1 Fase2 Meio A Meio B Meio C Fase 3 Meio D Figura 2: Concentração de células viáveis em cada meio e fase de desenvolvimento A. Células viáveis - Cepa 1 (T 58); B. Células viáveis - cepa 2 (levedura de reciclo - Nottingham). Na fase 1 a cepa 1 teve uma quantidade menor de células viáveis, comparado com a cepa 2, para a composição do meio D como pode ser observado nas Figuras 7 e 8. Provavelmente a cepa 1 estava em uma fase de adaptação, a cepa 2 já tinha saído de um processo fermentativo, e foi repicada varias vezes em laboratório, com isso já estava ambientada ao meio de cultura. Ambas as cepas tiveram melhor resultados no meio de cultura D, por ser um meio mais rico em nutrientes, com fonte suplementar de nitrogênio, fósforo e demais nutrientes. Já o meio A é o mais pobre em nutrientes, e não tem uma fonte de nitrogênio necessária para que as leveduras metabolizem os nutrientes e assim, se multipliquem, acumulando massa. 61 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo Análise sensorial Os mestres-cervejeiros entrevistados durante análise sensorial chegaram à conclusão que as três amostras não diferiram visualmente entre si na cor, amarelo escuro. As amostras apresentavam um leve aroma de etanol, não sendo detectado aroma amanteigado ou rançoso (indicando presença de Diacetil), de fermento (indicativo de fermentação incompleta), nem de ácido acético (indicativo de contaminação por bactérias). As cervejas T1 (cerveja preparada com levedura T 58 comercial) e T2 (cerveja preparada com levedura T 58 multiplicada no laboratório da Fatec Piracicaba) apresentaram um aroma de lúpulo com notas frutadas. A amostra T3 (cerveja preparada com levedura de reciclo Nottingham multiplicada no laboratório da Fatec Piracicaba) não apresentou aroma de lúpulo tão acentuado como as demais, mesmo tendo sido preparada a partir do mesmo mosto cervejeiro e com a mesma receita. Foi constatada uma diferença no aroma da cerveja T3 em relação às T1 e T2. Entre a T1 e T2 não tiveram grandes diferenças de aroma, apenas da intensidade do aroma: a amostra T2 teve seu aroma atenuado. Durabilidade do fermento em meio líquido O fermento armazenado em meio D (açúcar mascavo + extrato de levedura + peptona), a uma temperatura de 4°C, por um período de três meses, manteve-se com bom número de células viáveis, conforme observado em exame microscópio usando azul de metileno e citrato de sódio como corantes. Segundo Costa (1991), dos métodos de conservação, o congelamento a -180 oC, com nitrogênio líquido e glicerol 20% ou óleo mineral, é o mais empregado. Quando se deseja manter o microrganismo para uso em um período de três meses, o uso de meio líquido contendo fontes de energia para a levedura também pode ser utilizado para minimizar o estresse em relação à queda de temperatura. Caracterização Molecular das leveduras Pela análise de PCR do DNA genômico das leveduras, com primers específicos para a caracterização molecular (Carvalho-Netto et al., 2012), foi possível identificar as duas cepas de leveduras testadas. Dada a diferenças de altura de bandas, em gel de agarose (Figura 3), dos produtos de reação PCR com os primers P2 e P4 pode-se claramente caracterizar os dois genótipos: T 58 (amostras 1, 2, 5 e 6) e Nottingham de reciclo (amostras 3, 4 e 7). A possível 62 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo presença de leveduras selvagens também pode ser observada ao analisar os produtos de PCR da amostra 5 (T 58 comercial) com os primers P1 e P4 (Figura 3), pois os produtos de amplificação resultantes apresentam padrões diferentes após crescimento celular e produção das cervejas, apresentam bandas adicionais (Figura 3). Sabe-se, através de indicação nas próprias embalagens comerciais de leveduras, que estas não são puras, podendo ter a presença de até 10% de leveduras selvagens. De posse dos resultados, há indícios de que as leveduras contaminantes levam vantagens durante a multiplicação nos meios de cultura e por este motivo, após etapa de crescimento, a presença de outro genótipo (devido à presença de banda adicional) pode ser detectada. Para se obter um fermento puro a ser comercializado, garantindo 100% de qualidade, fazse necessário, antes de iniciar o processo de multiplicação da levedura, purificar a amostra original (comercial) em placa de petri, com meio seletivo, isolar uma colônia, fazer seu crescimento em meio líquido e realizar a genotipagem da cepa, garantindo que não haja presença de outras espécies contaminantes. Só a partir de a caracterização iniciar o processo de multiplicação, tomando todo cuidado necessário de esterilização para evitar contaminações. A técnica de PCR é a mais empregada por requerer uma pequena quantidade de DNA que revela um grande número de marcas polifórmicas, é rápido e automatizado. Dentre as literaturas estudadas, não encontramos muitos trabalhos sobre este tipo específico de levedura cervejeira, mas sim, para leveduras utilizadas na produção de etanol de segunda geração e para a área de ciências dos alimentos. 63 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo Figura 3: Caracterização molecular das leveduras. Produto de PCR de cada primer (P1 a P4) para cada amostra de DNA: 1- Levedura T 58 multiplicada em meio de cultura YEP; 2- Levedura T 58 multiplicada em meio de cultura caseiro A (açúcar mascavo); 3- Levedura de reciclo (Nottingham) multiplicada em meio de cultura YEP; 4- Levedura de reciclo (Nottingham) multiplicada em meio de cultura caseiro A (açúcar mascavo); 5- Levedura T 58 (comercial) após produção da cerveja; 6- Levedura T 58 (multiplicada em laboratório) após produção da cerveja; 7- Levedura de reciclo (Nottingham), multiplicada em laboratório, após produção da cerveja. Teor alcoólico das cervejas produzidas Para a fermentação a partir do fermento puro comercial T58, cerveja T1, foi obtido 6,037 GL. Já para a cerveja T2, que foi fermentada a partir do fermento T58 multiplicado em laboratório, foi obtido 5,847 0GL e para a fermentação a partir do fermento de reciclo (Nottingham) (cerveja T3), obteve-se 5, 798 0GL. Em comparação com as cervejas nacionais do tipo Pilsen, as amostras apresentam um teor alcoólico mais elevado, sendo que a cerveja da marca Antarctica apresenta 5 0GL e a marca Skol, 4,7 0GL (FARIA, 2012). De acordo com Oliveira, 2009, as cervejas produzidas (T1, T2 e T3) são consideradas de elevado teor alcoólico, já que estão entre 4,5 e 7 0GL. Para cervejas com teor alcoólico médio e baixo, os valores ficam respectivamente, entre, 2 a 4,5 0GL e 0,5 a 20GL. 0 Concentração de Diacetil nas cervejas produzidas A eliminação do Diacetil se deu através do repouso do material fermentado por um período de três semanas, sob refrigeração constante, a 100C. A partir disso, a amostra B não acusou a presença de Diacetil, já a amostra C apresentou 0,87 mg/L e a amostra A, apresentou o maior teor de Diacetil com 1,46 mg/L. De acordo com Carvalho (2007), o Diacetil é o composto chave na determinação das características organolépticas do produto final, podendo variar de 0,12 a 0,15 mg/L. Acima disso, pode promover um sabor de manteiga na cerveja. Embora algumas amostras avaliadas tenham apresentado teor de Diacetil bem acima do recomentado, em análise sensorial, a presença deste composto não foi suficiente para alterar as propriedades organolépticas das cervejas produzidas, ao menos para o paladar de cervejeiros artesanais e demais apreciadores de cerveja, uma vez que os avaliadores não notaram sabor amanteigado ou rançoso nas amostras. 64 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo Viabilidade econômica A partir do custo dos reagentes e de posse das proporções necessárias de cada um para preparado das formulações foi calculado o custo de produção de cada meio de cultura para as três fases de crescimento. Considerando-se a massa celular obtida do cultivo em cada meio de cultura, foi possível inferir o custo de produção de cada grama de levedura e identificar qual meio seria mais viável economicamente para multiplicação das leveduras cervejeiras. O Meio A, somente com açúcar mascavo, foi o meio que apresentou o menor custo por grama de levedura produzida (R$0,01/g), apesar de ser o meio que apresentou o menor crescimento de células. Isso ocorreu devido à composição do meio de cultura não ser completo para suprir todas as necessidades exigidas durante o desenvolvimento das leveduras. O Meio D apresentou o maior crescimento de leveduras, porém é o meio mais caro (R$0,08/g) devido ao custo dos reagentes de sua composição. Para multiplicação de leveduras com menores custos, o meio A seria o mais indicado, pois apesar de ter pouco rendimento em relação à produção de leveduras, pode-se aumentar a escala de produção para obter a quantidade de fermento desejado, sendo possível ainda, em trabalhos futuros, testar fontes alternativas, economicamente mais viáveis de nitrogênio e fósforo para enriquecimento do açúcar mascavo, visando maiores rendimentos na multiplicação celular. CONCLUSÕES Meios de cultura caseiros, à base de açúcar mascavo, são viáveis para a multiplicação de leveduras cervejeiras, mas possuem dependência suplementar de alguma fonte de nitrogênio e outros nutrientes. Dependendo das condições ambientais, as leveduras contaminantes se desenvolvem em maior ou menor proporção, alterando características das cervejas produzidas; É essencial purificar e caracterizar as leveduras comerciais antes de fazer a multiplicação em laboratório, para evitar crescimento elevado de cepas selvagens, presentes nas cepas comercializadas. REFERÊNCIAS ALTERTHUM, F. Elementos de microbiologia. In: Biotecnologia Industrial-Fundamentos. V. 1, São Paulo, Editora Edgard Blucher LTDA, 2001. Cap. 1, p. 1-32. 65 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo BERGMAN, L. W. Growth and Maintenance of Yeast. In: MACDONAL, P.N. Methods in Molecular Biology, v.177, p.9-14. 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Universidade Federal de Viçosa, 2006. 66 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo OLIVEIRA, M. A. B. de. Cerveja: Análise Sensorial e Fabricação. Espírito Santo: Noryam, 2009. Cap. 5, p. 42. SCHMIDELL, W. Microrganismos e meios de cultura para a utilização industrial. In: Biotecnologia Industrial-Engenharia Bioquímica. V. 2, São Paulo: Edgard Blucher LTDA, 2007. Cap. 2, p. 5-18. VENTURINI, W. G. F.; CEREDA, M. P. W. Cerveja. In: Biotecnologia Industrial-Biotecnologia na produção de alimentos. V. 4, São Paulo: Edgard Blucher LTDA, 2008. Cap. 4, p. 91-144. 67 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 2, p. 50-68, jul./dez. 2013. BORTOLI, Daiane Aline da Silva; SANTOS, Flávio dos; STOCCO, Nádia Monique; ORELLI Jr., Alessandro; TOM, Ariel; NEME, Fernanda Faganello; NASCIMENTO, Daniela Defavari do Multiplicação de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) cervejeiras utilizando meios de cultura a base de açúcar mascavo 1 Daiane A. da S. BORTOLI é Tecnóloga em Biocombustíveis pela FATEC Piracicaba. 2 2 Flávio dos SANTOS é Tecnólogo em Biocombustíveis pela FATEC Piracicaba. 3 3 Nádia M. STOCCO Possui graduação em Tecnologia em Biocombustíveis - Fatec Piracicaba (2012). Tem experiência nos laboratórios de Biotecnologia, Microbiologia e Química. 4 4 Alessandro A. ORELLI Jr. possui graduação em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz-USP (1985). Atualmente é professor de graduação da FATEC-Piracicaba, da FATEP e professor do MBA do Instituto de Aperfeiçoamento Tecnológico - IAT., atuando principalmente nos seguintes segmentos: cervejaria, cana-de-açúcar, etanol, fermentação, destilação, usinas e destilarias. 5 5 Ariel TON possui graduação em Tecnologia em Biocombustíveis pela Faculdade de Tecnologia de Piracicaba (FATEC) (2011), curso-técnico-profissionalizante pela Escola SENAI "MÁRIO DEDINI" - Piracicaba (2006) e curso-técnico-profissionalizante pela ETEC Cel. "FERNANDO FEBELIANO DA COSTA" - Piracicaba (2004). 6 6 Fernanda F. NEME é Graduada pela Faculdade de Tecnologia de Piracicaba FATEC, no curso de Biocombustíveis. Tem conhecimento na área de Microbiologia, com ênfase em biologia molecular, produção de bebidas fermentadas e destiladas. Experiente em análises físico-químicas em açúcar, álcool e biodiesel, calibração em Infra Vermelho Próximo (NIR) para elaboração de equações, análises de componentes inorgânicos por espectrometria de absorção atômica e preparação de amostras de açúcar, álcool e caldo de cana para ensaios de proficiência. 7 7 Daniela Defavari do NASCIMENTO possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1997), graduação em Licenciatura Em Ciências Agrárias pela ESALQ/USP (1998), mestrado em Fisiologia e Bioquímica de Plantas pela ESALQ/USP (2000) e doutorado em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) pela ESALQ/USP (2005). Especialista (MBA) em Agronegócios pelo PECEGE/ESALQ/USP (2012). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Bioquímica e Biologia Molecular, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura de tecidos, micropropagação de plantas, clonagem gênica, transformação genética de plantas (Tabaco, Arabidopsis, Eucalipto e cana-de-açúcar), análises moleculares, DNA e RNA. Desde 2010 é professora nas disciplinas: Biotecnologia do curso de Graduação em Biocombustíveis, Biologia Celular e Bioquímica Aplicada à Agroindústria do curso de Graduação em Agroindústrias todos da FATEC Piracicaba. 68