362 X Salão de Iniciação Científica PUCRS Isolamento de cepas petite a partir de cepas ambientais de leveduras e análise do seu potencial para a produção de etanol a partir de fontes de carbono alternativas Oliveira, A.S.1; Einloft, T.C.1; Medina-Silva, R.1 (orientador) 1 Faculdade de Biociências, PUCRS Introdução O microorganismo mais comumente utilizado para fermentação alcoólica na produção de etanol industrial é a levedura Saccharomyces cerevisiae. Esta levedura apresenta metabolismo anaeróbio facultativo, mas pode sobreviver dependendo exclusivamente de seu metabolismo fermentativo, na condição celular chamada de petite (CONTAMINE, V.; PICARD, M., 2000). As cepas utilizadas em processos de fermentação alcoólica industrial devem apresentar algumas características importantes, dentre elas: alta taxa de produção de etanol, baixa concentração de relativa de biomassa e resistência aos produtos da fermentação. As células petite, em relação às respirantes, costumam ser mais resistentes a químicos, além de apresentar taxas de produção de etanol mais elevadas (HUTTER, A., 1998) Além disso, petites não precisam ser confinadas em ambientes anóxicos para fermentar e não consomem o produto final, o etanol. Dentro deste contexto, os objetivos deste trabalho foram: 1. Isolar leveduras petite a partir de diferentes cepas, laboratoriais e ambientais (a partir de frutas); 2. Investigar características de interesse para a produção de etanol de tais isolados, como eficiência de fermentação alcoólica, resistência aos produtos de fermentação e estabilidade da sua condição petite. Na primeira etapa do trabalho, realizada com cepas laboratoriais de S. cerevisiae, obtivemos como resultados seis isolados petites, dois dos quais se mostraram estáveis nesta condição, bem como bastante eficientes em termos de fermentação alcoólica e resistentes ao etanol. Além disso, um deles mostrou-se capaz de realizar fermentação alcoólica a partir de uma fonte de carbono originada a partir de refugos agrícolas do cultivo do arroz, dentro de uma colaboração com a Faculdade de Química (PUCRS). Nesta nova etapa do trabalho, iniciamos as mesmas análises utilizando cepas ambientais de leveduras, isoladas a partir de frutas. Metodologia X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 363 Leveduras coletadas a partir de casca de uva (Vitis sp.) foram utilizadas para o isolamento de colônias petites. Para tal, coletou-se, com o uso de um suabe estéril, material da casca da uva, que foi semeado em meio fermentável sólido YPD (2% de glicose, 2% de peptona e 1% de extrato de levedura, adicionado de ágar a 2%) com cloranfenicol na concentração de 0,1 mg/ml, de forma a se obter colônias isoladas, após cultivo a 30oC. A partir desta, um pré-inóculo em 5 ml de YPD líquido foi cultivado a 30oC até fase exponencial (~107UFC/ml), diluído e semeado nos meios sólidos YPD e YPG (2% de glicerol,. 2% de peptona e 1% de extrato de levedura, adicionado de ágar a 2%). Estes cultivos em placa de petri foram submetidos à coloração de colônias com top-ágar (0,7%) contendo 0,05% de cloreto de trifenil-tetrazólio (TTC) (OGUR, M.; ST.JOHN, R.; NAGAI, S., 1957) , com o objetivo de identificar e isolar colônias petite (brancas) dentre as respirantes (vermelhas). Escolheu-se oito colônias como prováveis petites, que foram e semeadas novamente em YPD e YPG sólidos e analisadas microscopicamente, após coloração simples. Para analisar a produção de gás (eficiência de fermentação alcoólica) foram feitos oito inóculos a partir das colônias isoladas da cepa de uva, uma cepa laboratorial selvagem (FF18733), uma laboratorial mutante (MM101) e uma cepa petite isolada a partir de MM101 (MMρ1). 100 µl destes inóculos foram inoculados em tubos contendo YPD líquido e tubos de Durhan e cultivados durante um dia a 30oC em estufa. Após, mediu-se as colunas de ar produzidas para se ter uma noção da capacidade fermentativa das cepas. As cepas laboratoriais selvagem FF18733, mutante MM101 e petite MMρ1 foram usadas como controle. Resultados e Discussão Somente o pré-inóculo diluído e semeado em YPD teve crescimento significativo de colônias isoladas, enquanto o meio não-fermentável YPG ficou ausente de crescimento. No teste de coloração de colônias com top-ágar TTC, colônias grandes, médias ou pequenas mostraram-se fracamente coradas, algumas com e outras sem auréola vermelha. De qualquer forma, oito colônias pequenas foram escolhidas como prováveis petites, condição celular que o que não foi confirmada em um segundo cultivo em meio YPG, pois nem as colônias-controle grandes (prováveis respirantes) cresceram neste meio. Este dado indicou que a levedura coletada não apresentou capacidade de aproveitar o glicerol como fonte de carbono. Após a observação microscópica das oito X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 364 colônias escolhidas como prováveis petites, foi confirmado, através da análise da sua morfologia, que a levedura não se tratava de S. cerevisiae. Entretanto, nos testes de eficiência de fermentação alcoólica, os inóculos feitos com os isolados Uva A.II e Uva A.VI desta levedura produziram uma grande quantidade de gás, que mostrou-se semelhante nos dois experimentos realizados. Uva A.I, Uva A.III, Uva A.IV e Uva A.V mostraram-se instáveis, produzindo quantidades muito diferentes de gás nos dois experimentos. Uva A.VII e Uva A.VIII foram analisados somente uma vez, o primeiro não apresentando produção de gás e o segundo apresentando muita produção de gás. As cepas laboratoriais usadas como controle, selvagem FF18733, mutante MM101 e petite MMρ1 apresentaram os níveis de produção de gás observados nos experimentos da primeira etapa do trabalho. Conclusão Nesta segunda etapa do trabalho, as análises iniciais da levedura coletada a partir da uva mostraram que não se trata da espécie S. cerevisiae, pois além apresentar morfologia distinta desta espécie, não se mostrou capaz de crescer em meio de cultura com glicerol como única fonte de carbono, além de suas colônias não se corarem muito bem com o TTC. Entretanto, dados preliminares indicaram que esta levedura mostra-se bastante eficiente para realizar fermentação alcoólica, o que tem nos levado a continuar realizando testes para avaliar a sua condição fermentativa, bem como de resistência ao etanol. Ainda como perspectivas, em primeiro lugar serão realizadas provas bioquímicas para a identificação desta levedura pelo menos em nível de gênero. Além disso, novas coletas a partir de uva e outras frutas também serão realizadas para se obter pelo menos uma levedura ambiental (de preferência S. cerevisiae) que seja capaz de induzir a condição celular petite, a qual será avaliada, como realizado na primeira etapa do trabalho, em relação à sua adequação para fermentações alcoólicas industriais. Referências CONTAMINE, V.; PICARD, M. Maintenance and integrity of the mitochondrial genome: a plethora of nuclear genes in the budding yeast. Microbiol Mol Biol Rev v. 64(2), p. 281-315, 2000. HUTTER, A. Ethanol production using nuclear petite yeast mutants. Appl Microbiol Biotechnol 49, p. 511-6, 1998. OGUR, M.; ST.JOHN, R.; NAGAI, S. Tetrazolium overlay technique for population studies of respiration deficiency in yeast. Science v. 125 (3254), p. 928-9, 1957. 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