Artigo de Revisão O CUIDAR DE ENFERMAGEM NA IMUNIZAÇÃO: OS MITOS E A VERDADE NURSING CARE IN IMMUNIZATION: TRUTHS AND MYTHS Sandra R. de Souza Barbosa Faculdade do Futuro Resumo É de responsabilidade da equipe de enfermagem, a capacitação do profissional da sala de vacina no que diz respeito ao acolhimento da criança desde a vacina a ser administrada, as suas condições de uso (mantidas na temperatura de +2ºc a +8ºc), a administração dessa vacina realizada dentro das normas e técnicas preconizadas pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) e as orientações pertinentes a possíveis contra-indicações e reações adversas. O enfoque da imunização deve estar centrado neste tipo de orientação e despertar no profissional envolvido nesta área o interesse pela dinâmica de ações centralizadas nesta assistência. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica através de um levantamento de dados de artigos científicos referentes ao Programa Nacional de Imunizações. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi criado em 1973, por determinação do Ministério da Saúde, como parte de um conjunto de medidas que se destinavam a redirecionar a atuação governamental do setor. A enfermagem exerce papel fundamental em todas as ações de execução do Programa Nacional de Imunizações, sendo de sua responsabilidade orientar e prestar assistência à clientela com segurança, responsabilidade e respeito, prover periodicamente as necessidades de material e imunobiológicos, manter as condições ideais de conservação de imunobiológicos, manter os equipamentos em boas condições de funcionamento, acompanhar as doses de vacinas administradas de acordo com a meta, buscar faltosos, avaliação e acompanhamento sistemático das coberturas vacinais e buscar periodicamente atualização técnico-científica. Palavras-chave: cuidar da enfermagem, imunização, PNI Abstract It is nursing team responsibility the capacitating process for the professional in the vaccination room, not only in terms of children sheltering since the vaccination itself to the use conditions (it should be kept from +2ºc a +8ºc) and the vaccine administration should proceeded under rules and techniques established by PNI (Immunization National Program) and the pertinent orientation for counter indication diverse reactions. The focus of immunization must be centered on this kind of orientation and awake the interest in the involved professional for actions dynamics related to this O Cuidar na Imunização 76 Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. Maria Aparecida Diniz Pereira assistance. A bibliographical research was accomplished through a survey of scientific articles data referent to PNI. The PNI was created in 1973 by Health Ministry determination, as part of a conjunct of legislative measures aiming to redirect the governmental action in this sector. Nursing plays a fundamental rule in all action of PNI, and has responsibility to orientate and give assistance to the clients with safety, responsibility and respect, offering periodically the material and immunological needs, keeping the ideal conditions for immunobiological conservation, maintaining the equipments in good conditions and verifying the managed vaccines doses according to the goal, evaluation and systemic observation of vaccination cover and seeking periodically for technicalscientific up-to-dating. Key-words: Nursing care, immunization, PNI Introdução É de responsabilidade da equipe de enfermagem, a capacitação do profissional da sala de vacina no que diz respeito ao acolhimento da criança desde a vacina a ser administrada, as suas condições de uso (mantidas na temperatura de +2ºc a +8ºc), a administração dessa vacina realizada dentro das normas e técnicas preconizadas pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) e as orientações pertinentes a possíveis contra-indicações e reações adversas3. Logo, o pensar em imunização nos remete ao fato de realizar um cuidado de enfermagem com a criança, prevenindo doenças e assumindo o compromisso da execução correta do preconizado pelo PNI e conseqüentemente pelas diretrizes do SUS (Sistema Único de Saúde). Colocar isto em prática é o verdadeiro saber-fazercuidar da enfermagem. O enfoque da imunização deve estar centrado neste tipo de orientação e despertar no profissional envolvido nesta área o interesse pela dinâmica de ações centralizadas nesta assistência. Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. Uma observação constante nos setores de imunização é o não comparecimento dos adultos responsáveis conduzindo os menores como de sua obrigação. São inúmeras as situações apresentadas como desculpas pelo não comparecimento ao retorno agendado percebendo-se assim, que é necessária uma capacitação efetiva do profissional a essas diversas situações. Fica claro que num passado histórico de adoção de falsas contra-indicações à vacinação, apoiada em conceitos desatualizados criou-se um mito de que muitas vezes, a vacina não faz tão bem assim. A enfermagem desenvolve papel fundamental para a mudança dessa história, através da capacitação dos 77 Pereira, MAD e Barbosa, SRdeS profissionais de saúde que atuam no setor, tanto nos aspectos técnicos como na comunicação social. E ainda compreendendo o passado, entendendo o presente e almejando projetar o futuro é que em decorrência desses fatos procuramos aprofundar na exigência do cumprimento do PNI para crianças até 05 anos de idade, tendo como propósito a reflexão crítica da enfermagem nesse cuidado. É relevante a atuação do enfermeiro em todas as ações de uma sala de vacina, onde é de sua responsabilidade a conservação das vacinas, manutenção do estoque, administração das vacinas, capacitação do profissional e elaboração do arquivo de cartão espelho, o qual tem o controle das doses administradas na rotina diária, garantindo assim a eficácia de uma possível busca ativa aos faltosos. Também é de competência do enfermeiro através do seu conhecimento científico capacitar para a vacinação e destacar que não serão só aplicadores de vacinas, mas sim profissionais conscientes de que estão cuidando da saúde, da sobrevivência de milhões e milhões de cidadãos. Motivadas por este cenário apresentado, despertamos para a busca através de uma revisão bibliográfica o conhecimento sobre as vacinas que fazem parte do PNI, suas contra-indicações e falsas contra-indicações, gerando assim um produto final de esclarecimentos sobre mito e verdade acerca das vacinas e proporcionando um entendimento melhor e esclarecedor sobre o assunto, com o intuito de respaldar esse profissional na qualidade de sua orientação. Durante a nossa prática na sala de vacinação, procuramos desenvolver junto aos clientes atendidos, a educação em saúde, algo corroborado por Silva et al.16 “entendemos a educação em saúde como um dos processos particulares a serem assistência”. Segundo Barreira1 “a construção de uma memória coletiva é o que possibilita a tomada de consciência daquilo que somos realmente, enquanto produto histórico”. O presente trabalho teve como objetivos: - Destacar a produção científica nas ações da prática da enfermagem no cuidar em Imunização de acordo com o PNI; - Verificar as possíveis causas do não comparecimento ao retorno agendado no cartão de vacinação. O Cuidar na Imunização 78 Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. realizados pela Enfermagem de forma articulada aos objetivos gerais da Metodologia Foi realizada uma pesquisa bibliográfica através de um levantamento de dados de artigos científicos referentes ao Programa Nacional de Imunizações. Abordando os eventos adversos de vacinas, sala de vacinas, manuais de Vacinação e capacitação de Pessoal para Sala de Vacina, recorrendo a meios eletrônicos como Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), cujas bases de dados pesquisadas foram Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Librany Online (SCIELO). Foi destacado o período de 2000 a 2007. Foi realizada a leitura exploratória de vários artigos científicos. E a análise das informações coletadas sobre a importância do PNI e as contra-indicações gerais e específicas das vacinas, sendo muitas vezes o motivo para o não comparecimento à sala de vacina no retorno agendado. O fato do atraso das vacinas ser comum por vários motivos, que são, por vezes, mitos criados acerca da própria história da vacinação. Revisão de Literatura O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi criado em 1973, por determinação do Ministério da Saúde9, 18, como parte de um conjunto de medidas que se destinavam a redirecionar a atuação governamental do setor. A institucionalização do PNI foi resultante de um somatório de fatores, de âmbito nacional e internacional que convergiam para estimular e expandir a Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. utilização de agentes imunizantes no país, o que aconteceu através da Lei 62594 e pelo Decreto 782312. Assim, o PNI passou a coordenar as atividades de imunização desenvolvidas rotineiramente na rede de serviços de saúde. As ações de vacinação se constituem nos procedimentos de melhor relação custo e efetividade no setor saúde. O declínio acelerado da morbimortalidade por doenças imunopreveníveis nas décadas recentes, em nosso país e em escala mundial, serve de prova inconteste do enorme benefício que é oferecido às populações através de vacinas. 79 Pereira, MAD e Barbosa, SRdeS Permitiram a erradicação mundial da varíola e da poliomielite no hemisfério ocidental. No Brasil, as doenças evitáveis por vacina estão em franco declínio, com diminuição drástica dos casos de sarampo, difteria, tétano e coqueluche. Esta situação é decorrente do grande avanço tecnológico na produção de vacinas, associadas a um sistema de conservação desses imunobiológicos e o cumprimento de amplas coberturas vacinais. Acresce-se o fato de que a vacinação contempla a população brasileira, abrangendo não somente crianças, mas adolescentes, jovens, adultos e idosos. A vacinação, pela sua importância, assume um espaço privilegiado no modelo de gestão e de atenção à saúde explicitada na Norma Operacional Básica do SUS14, que tem como modelo de atenção o enfoque epidemiológico, centralizado na qualidade de vida das pessoas e do seu meio ambiente, e nas relações entre equipe de saúde e comunidade, em que Estados e Municípios assumem efetivamente o seu papel, responsabilizando-se pela estruturação e organização do sistema de saúde estadual e municipal. O Programa Nacional de Imunizações tem como objetivo, em primeira instância, a ampla extensão da cobertura vacinal de forma homogênea, para que a população possa ser provida de adequada proteção imunológica. A meta operacional básica é a vacinação de 100% das crianças menores de um ano, com todas as vacinas indicadas no Esquema de Vacinação e também a outros grupos populacionais conforme a priorização, objetivando o controle, eliminação e erradicação de doenças evitáveis pela vacinação (Tabela 1). Tabela 1. Esquema de vacinação: Calendário Básico de Vacinação da Criança IDADE Ao nascer 1 mês 2 meses VACINAS BCG – ID Vacina contra hepatite B (1) Vacina contra hepatite B Vacina tetravalente (DTP + Hib) (2) VOP (vacina oral contra pólio) VORH (Vacina Oral O Cuidar na Imunização DOSES dose única 1ª dose DOENÇAS EVITADAS Formas graves de tuberculose Hepatite B 2ª dose Hepatite B 1ª dose 1ª dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b Poliomielite (paralisia infantil) 1ª dose Diarréia por Rotavírus 80 Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. (Fonte: Ministério da Saúde13). de Rotavírus Humano) (3) Vacina tetravalente (DTP + Hib) 4 meses 6 meses 9 meses 12 meses 15 meses 4 - 6 anos 10 anos VOP (vacina oral contra pólio) VORH (Vacina Oral de Rotavírus Humano) (4) Vacina tetravalente (DTP + Hib) VOP (vacina oral contra pólio) Vacina contra hepatite B Vacina contra febre amarela (5) SRC (tríplice viral) VOP (vacina oral contra pólio) DTP (tríplice bacteriana) DTP (tríplice bacteriana SRC (tríplice viral) Vacina contra febre amarela Segundo Martins6, 7 2ª dose 2ª dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b Poliomielite (paralisia infantil) 2ª dose Diarréia por Rotavírus 3ª dose 3ª dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b Poliomielite (paralisia infantil) 3ª dose Hepatite B dose inicial Febre amarela dose única reforço Sarampo, rubéola e caxumba Poliomielite (paralisia infantil) 1º reforço Difteria, tétano e coqueluche 2º reforço Difteria, tétano e coqueluche reforço reforço Sarampo, rubéola e caxumba Febre amarela O Report of the Committee on Control of Infectious Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. Diseases, o famoso livro vermelho da Academia Americana de Pediatria, na edição de 1957 (Committee on Infectious Diseases, 1957), recomendava que apenas crianças saudáveis fossem vacinadas. Nos postos de saúde do Brasil, para que a vacinação pudesse ser feita, a consulta com o pediatra era obrigatória. Durante as décadas de 1960 a 1970, uma das principais causas de não-vacinação eram as contra-indicações, a maioria delas por problemas irrelevantes, como tosse sem febre, parasitoses, alergias passadas, presentes ou supostas etc. 81 Pereira, MAD e Barbosa, SRdeS Devido a estes casos, o Ministério da Saúde através do Programa Nacional de Imunizações10, 11, 12 passou a apresentar as contra-indicações gerais e específicas para a aplicação de vacinas, conforme descrito abaixo. Contra-Indicações Gerais10, 11, 12 As vacinas de bactérias ou vírus vivos atenuados não devem ser administradas a princípio, em pessoas: - com imunodeficiência congênita ou adquirida; - acometidas por neoplasia maligna; - em tratamento com corticosteróides em esquemas imunodepressores (por exemplo, 2mg/kg/dia de prednisona, por mais de 14 dias) ou submetidas a outras terapêuticas imunodepressoras (quimioterapia antineoplásica, radioterapia), transfusão de sangue ou plasma; - em mulheres grávidas, devido ao risco teórico de danos ao feto, salvo situações de alto risco de exposição a algumas doenças virais imunopreveníveis, como febre amarela, por exemplo. Deve ser adiada a aplicação de qualquer tipo de vacina em pessoas com doenças agudas graves, sobretudo para que seus sintomas e sinais, assim como eventuais complicações, não sejam atribuídos à vacina administrada. Contra-Indicações Específicas17 Vacina contra a tuberculose (BCG). Imunodeficiência ou adquirida, incluindo crianças infectadas pelo vírus da Embora não apresentem contra-indicações absolutas, recomenda-se adiar a vacinação com BCG em recém-nascidos com peso inferior a 2.000g ou com afecções dermatológicas extensas em atividade. Contra-indicações gerais estabelecidas para vacinas de bactérias vivas atenuadas. Vacina contra hepatite B. A única contra-indicação é o relato, muito raro, de reação anafilática após a aplicação da dose anterior, que ocorre nos primeiros 30 minutos e até duas horas pós-vacinação. Vacina contra a poliomielite. O Cuidar na Imunização 82 Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. imunodeficiência humana (VIH) que apresentam sintomas da doença. Apenas as estabelecidas nas contra-indicações gerais para vacinas de vírus vivos atenuados. Na rotina, recomenda-se adiar a sua aplicação nos casos de diarréia grave e/ ou vômitos intensos. Crianças HIV sintomático não tomar. Vacina contra difteria, coqueluche e tétano (DTP). A aplicação da vacina tríplice (DTP) é contra-indicada a crianças com doença neurológica em atividade ou que tenham apresentado, após a aplicação de dose anterior, alguns dos seguintes eventos: - convulsão nas primeiras 72 horas; - episódio hipotônico-hiporresponsivo, nas primeiras 48 horas; - reação anafilática, que ocorre nos primeiros 30 minutos e máximo de 2 horas pósvacinação; - Crianças de sete anos ou mais deverão receber a vacina dupla tipo adulto (dT). Vacina contra-rotavírus. As estabelecidas nas contra-indicações gerais para vacinas de vírus vivos atenuados e mais as seguintes situações: - Crianças < de 1 mês e 14 dias para administração da 1ª dose. - Crianças > de 5 meses e 15 dias para administração da 2ª dose. Vacina tetravalente. Vide DTP. Vacina contra febre amarela. As estabelecidas nas contra-indicações gerais para as vacinas de vírus vivos atenuados e mais as seguintes situações: - antecedente de anafilaxia após a ingestão de ovo de galinha; - reações graves após a aplicação de dose anterior; Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. - aplicação das vacinas de vírus vivos atenuados nos 15 dias anteriores. Vacina tríplice viral. As estabelecidas nas contra-indicações gerais para vacinas de vírus vivos e mais as seguintes situações: - gravidez: orientar as mulheres em idade fértil para evitar a gravidez nos próximos 30 dias, após a vacinação; - reações graves após a aplicação de dose anterior; - aplicação das vacinas de vírus vivos atenuados nos 15 dias anteriores. Falsas Contra-Indicações11, 12 83 Pereira, MAD e Barbosa, SRdeS Não constituem contra-indicação à vacinação: - doenças benignas comuns, tais como afecções recorrentes infecciosas ou alérgicas das vias respiratórias superiores, com tosse e/ ou coriza, diarréia leve ou moderada, doença de pele (impetigo, escabiose, etc.); - desnutrição; - aplicação de vacina contra raiva, em andamento; - doença neurológica estável (síndrome convulsiva controlada, por exemplo) ou pregressa com seqüela presente; - antecedente familiar de convulsão; - tratamento sistêmico com corticosteróide em doses diárias não elevadas durante curto período (inferior a 14 dias), ou tratamento prolongado com doses baixas ou moderadas em dias alternados; - alergias (exceto anafilaxia relacionada com componentes de determinadas vacinas); - prematuridade ou baixo peso no nascimento (as vacinas devem ser administradas na idade cronológica recomendada, não justificando adiar o início da vacinação); - internação hospitalar (crianças hospitalizadas podem ser vacinadas antes da alta e, em alguns casos, imediatamente depois da admissão, particularmente para prevenir a infecção pelo vírus do sarampo durante o período de permanência no hospital); - gravidez da mãe ou de outro contato familiar; Deve-se ressaltar que história e/ ou diagnóstico clínico pregressos de coqueluche, poliomielite, sarampo, tétano, tuberculose e qualquer doença imunoprevenível não constituem contra-indicação ao uso das respectivas vacinas. É importante também dar ênfase ao fato de que, havendo indicação, não existe limite superior de idade para aplicação de vacinas, com exceção da vacina contra a coqueluche, não indicada para os indivíduos com sete anos ou mais. Análise dos Dados Foi possível observar na faixa estabelecida de 2000 a 2007 que não existe um grande número de produções específicas da enfermagem. O que não significa que não estejam sendo produzidos conhecimentos nesta área, porém existe a O Cuidar na Imunização 84 Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. difteria, necessidade de enfatizar a grandeza desta temática na saúde do nosso país, já que, criança vacinada significa padrão de excelência em saúde da criança. Assim, produzir mais nesta temática reflete também valorizar o cuidado e a orientação de enfermagem. A experiência nos traz algumas situações que serviram de base para fundamentar este estudo. Como exemplo, podemos citar o fato que a mãe trazia um prematuro que havia nascido com 1780g e retornou com 03 meses e 07 dias, quando pesava 3100g para receber a vacina BCG sendo que, ainda não havia recebido a 2ª dose da Hepatite B com 1 mês, a vacina Tetravalente + Sabin + Rotavírus com 2 meses e a BCG (que seria contra indicada no prematuro pelo baixo peso 1780g.) Orientada quanto ao atraso das vacinas acima citadas, e esclarecendo à mãe a necessidade de estar atualizando o cartão de vacina do seu filho, realizou-se a administração de todas as vacinas que fazem parte do PNI e sendo informada da nova data de retorno. A partir deste exemplo, percebe-se que ela simplesmente foi orientada a não vacinar devido ao baixo peso, porém não foi informada quando seria adequado retornar à unidade de saúde. E isso sem questionar que esse bebê de baixo peso deveria ter sido acompanhado com Follow up (Seguimento do recém-nascido de risco)5 e se isto ocorreu, não foi enfatizada a questão da imunização adequada a ele. Outra situação vivenciada em nossa realidade é o da mãe que por motivo da criança estar tomando remédio para alergia havia deixado de comparecer ao retorno da vacina, pois estava esperando o remédio acabar. Além disso, segundo a mãe “quando a criança é vacinada ela fica muito “enjoadinha”, tem febre e precisa tomar remédio, pois a vacina não faz muito bem para o bebê”. Neste caso, a vacina Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. é vista como um problema e não como um fator de proteção, uma prevenção. Considerações Finais A enfermagem exerce papel fundamental em todas as ações de execução do Programa Nacional de Imunizações, sendo de sua responsabilidade orientar e prestar assistência à clientela com segurança, responsabilidade e respeito, prover periodicamente as necessidades de material e imunobiológicos, manter as condições ideais de conservação de imunobiológicos, manter os equipamentos em boas condições de funcionamento, acompanhar as doses de vacinas administradas 85 Pereira, MAD e Barbosa, SRdeS de acordo com a meta, buscar faltosos, avaliação e acompanhamento sistemático das coberturas vacinais e buscar periodicamente atualização técnico-científica. Hoje é uma realidade de sucesso no serviço público, em que o enfermeiro em todo esse contexto é comprometido e envolve a utilização do conhecimento técnico-científico, alcançando os objetivos propostos pela OMS e pelo próprio PNI. O que realmente importa é que o enfermeiro deve estar ciente da importância de sua participação na equipe multiprofissional, em que cada um tem o seu papel e sua importância, sendo que o objetivo maior é o ser humano, a criança que necessita e tem o direito a todas as vacinas do PNI, contribuindo para o controle das doenças imunopreveníveis15. Cabe aos enfermeiros buscar sempre uma conscientização de suas atribuições, criando novos processos de trabalho, não esquecendo que são “gente que cuida de gente”, devendo o seu trabalho ser humanizado nos aspectos éticos, dentre outros. Não é fácil mudar o que está enraizado há décadas, porém faz-se necessária a realização de um trabalho sério de conscientização da população. Este deve ser iniciado junto às unidades de saúde, demonstrando a importância e a necessidade do esquema de imunização, com atuação direta e primordial do profissional da enfermagem. Medeiros et al.8 afirmam que “desenvolver processos de produção de conhecimentos, especialmente pesquisas que ofereçam subsídios ao ensino e a novas formas de atuação, e alterar de acordo com referenciais novos parecem ser indispensáveis, quando o objetivo é propor competências profissionais significativas saúde”. Referências Bibliográficas 1. Barreira IAA. Contribuição da história da enfermagem brasileira para o desenvolvimento da profissão. Revista de Enfermagem da EEAN, Rio de Janeiro 1999; 8(1):125-141. 2. Decreto 78231. Regulamenta a Lei 5259. 13 de Agosto de 1976. 3. FUNASA, Ministério da Saúde. Capacitação de pessoal em sala de vacinação- manual do treinando. 2ª ed. rev. e ampl. – Brasília; 2001. O Cuidar na Imunização 86 Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. que o enfermeiro precisa apresentar para atuar em prevenção aos problemas de 4. Lei 6259. Dispõe sobre a organização das ações de vigilância epidemiológica, sobre o Programa Nacional de Imunização, estabelece normas relativas à notificação compulsória de doenças e dá outras providências. 30 de Outubro de 1975. 5. Lopes SMB, Lopes JMA. Follow up do recém-nascido de alto risco. Rio de Janeiro: MEDSI; 1999. 6. Martins RM. Oportunidades perdidas de imunização. Jornal de Pediatria 1996; 72:3-4. 7. Martins RM, Maia MLS. Eventos adversos pós-vacinais e resposta social. Hist.cienc.saude-Manguinhos 2003; 10(supl. 2):807-825. 8. Medeiros RM, Stédile NLR, Claus SMC. Construção de competências em enfermagem. Caxias do Sul: EDUCS; 2001. 9. Ministério da Saúde. Centro Nacional de Epidemiologia. Retrospectiva das ações do programa nacional de imunizações- PNI. Brasília, 2001. 10. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Imunizações. Brasília, 2003. 11. Ministério da Saúde. Manual de vigilância epidemiológica dos eventos adversos pós-vacinação. Fundação Nacional de Saúde. Brasília, 1998. 12. Ministério da Saúde. Vigilância dos Eventos Adversos Pós-Vacinação: cartilha para trabalhadores de sala de vacinação. 1ª ed. Brasília, 2003 13. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Disponível em: http//.portal.saúde.gov.br. Acesso em: 14 de Fev 2007. 14. NOB-SUS. Norma operacional básica do sistema único de saúde – SUS. Diário Oficial da União de 6 de Novembro de 1996. 15. Santos SLV, Souza ACS, Tipple AFV, Souza JT. O papel das instituições de ensino superior na prevenção das doenças imunopreveníveis. Revista Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. Eletrônica de enfermagem 2006; 8(1):91-98. 16. Silva MK, Gonzaga F, Verdi M. Marco conceitual para a prática assistencial de enfermagem enquanto processo educativo em saúde. Revista Brasileira de Enfermagem 1992; 45:54-60. 17. Succi RCM, Farhat CK. Vacinação em situações especiais. Jornal de Pediatria 2006; 82(3Supl.):S91-S100. 18. Temporão JG. O Programa Nacional de Imunizações (PNI): origens e desenvolvimento. Hist. Cienc.saude-Manguinhos, Rio de Janeiro, 2003; 10(Supl. 2):601-617. 87 Pereira, MAD e Barbosa, SRdeS Recebido em 04/05/2007 Revidado em 28/05/2007 Aprovado em 28/06/2007 Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1): 76-88. ______________________________ Endereço para correspondência Rua Duarte Peixoto, 259 Manhuaçu, MG CEP 36900-000 O Cuidar na Imunização 88