Deslocamento de Equilíbrio: Simulação Utilizando Materiais de Baixo Custo José Euzébio Simões Neto1; Renaldo Tenório de Moura Júnior2, Gabriel Costa A. da Hora3 INTRODUÇÃO Chamamos a situação na qual, em um sistema reversível, as velocidades das reações direta e inversa são iguais de equilíbrio químico. Quando um equilíbrio químico é atingido, as concentrações dos reagentes e produtos se tornam constantes, porém, a reação não cessa, sendo então um equilíbrio de natureza dinâmica. Mesmo sendo um dos mais belos e interessantes conceitos da físico-química, o conceito de equilíbrio, e conseqüentemente, o principio de Le Chatelier do Deslocamento de Equilíbrio, não é bem aceito pelos estudantes do ensino médio. Dentre os diversos problemas que resultam nessa situação, talvez o maior seja o de visualização em nível atômico-molecular. A resolução proposta para esse problema neste texto é a utilização de modelos. Um modelo é algo fácil de imaginar, mas não tão fácil de definir. Mortimer (1994) trata os modelos não como uma cópia do real, mas como uma representação. Ciccilini e Silveira (2005) mostram o “modelo como uma representação do real, uma simplificação do fenômeno na tentativa de entendê-lo”. Na química, a modelagem é indispensável. Os fenômenos microscópicos podem explicar muito, e não há outra forma de tratar destes senão com modelos. Simões Neto et al. (2006), propõem um experimento de simulação da natureza dinâmica do equilíbrio: “Sugerimos a realização de um experimento usando materiais de escritório (24 bolinhas de isopor e duas caixas de plástico), que serve para simular o estabelecimento do equilíbrio e relacionar os fenômenos macro e microscópicos. Iniciando com todas as bolas em A e utilizando leis de velocidade diferentes para a reação direta (1/2 das bolinhas) e inversa (1/4 das bolinhas). Quando as velocidades se igualarem em números de bolinhas, o equilíbrio estará estabelecido, e ainda é possível verificar as trocas de bolinhas entre as caixas, na mesma velocidade”. V1 = 1/2 bolinhas A V2 = 1/4 bolinhas B Figura 01: Montagem do Experimento Baseados nesse experimento, buscamos com esse trabalho sugerir um mecanismo de utilização desse mesmo experimento, porém, com o objetivo de ilustrar o deslocamento de equilíbrio. RESULTADOS E DISCUSSÃO O experimento sugerido tem o equilíbrio atingido usando 24 bolinhas, quando t=4, conforme a tabela: (Nota: o “arredondamento” do número de bolinhas é feito pra cima. Ex: 7,5 8): Tabela 01: Relação entre a passagem do tempo (em unidade absoluta) e as concentrações (números de bolinhas): Tempo (t) 0 1 2 3 4 5 [A] 24 15 12 11 10 10 [B] 0 9 12 13 14 14 ________________ 1. José Euzébio Simões Neto é aluno do Programa de Pós-graduação em Ensino das Ciências, da Universidade Federal Rural de Pernambuco. CEP: 52171-900 - Recife/PE. [email protected] 2. Renaldo Tenório de Moura Jr. é aluno do Programa de Pós-graduação em Ciências dos Materiais, da Universidade Federal de Pernambuco. CEP: 50740-540 - Recife/PE. [email protected] 3. Gabriel Costa A. da Hora é aluno do Departamento de Química Fundamental, da Universidade Federal de Pernambuco. CEP: 50740-540 Recife/PE. [email protected] Note que: V1 = V2 = 5 bolas, ou seja, as velocidades são iguais nas reações direta e inversa. Porém, se no instante t = 5 for introduzida uma nova bolinha em A, temos o equilíbrio alterado. O número de bolinhas passa a ser 11, ou seja, seis bolinhas vão se transformar em B, naquele momento. O principio de Le Chatelier diz que um sistema em equilíbrio, ao sofrer uma perturbação, age visando minimizar os seus efeitos e atingir um novo equilíbrio. Desta forma, continuando o experimento, temos: Tempo (t) 6 7 8 [A] 11 10 10 [B] 14 15 15 Ou seja, no instante t = 7 já temos um novo equilíbrio estabelecido. As novas concentrações são [A] = 10 bolinhas e [B] = 15 bolinhas. A velocidade não foi modificada depois do estabelecimento do novo equilíbrio. O resultado é coerente com a Lei de Le Chatelier para adição de reagente (reação direta): a adição de um reagente desloca o equilíbrio na direção da formação dos produtos. A concentração da espécie B aumentou, mas continuamos com a situação que define o equilíbrio: velocidades direta e inversa iguais (ainda 5 bolinhas). CONCLUSÕES Os resultados mostram que o experimento sugerido por Simões Neto et al. suporta a utilização também para a construção do conceito de deslocamento de equilíbrio pelos estudantes. Sendo o conceito de deslocamento de equilíbrio um dos que mais exige da visualização e modelagem de estruturas em nível microscópico, essa inovação pode constituir uma boa opção de modelo para o ensino deste conceito. AGRADECIMENTOS UFRPE, UFPE, Méson Pi – Curso de Química, Cecília Veras, Carol Pacheco e Prof. Rodrigo Oliveira. REFERÊNCIAS Simões Neto, J. E. et al. Sugestões para Abordagem de Equilíbrio Químico no Ensino Médio. Apresentado na 29º Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química – SBQ. Águas de Lindóia-SP, 2006. Ciccilini, G. A. Silveira, H. E. Modelos Atômicos e representações no Ensino de Química. Revista Enseñanza de las Ciências, 2005. Mortimer, E. F. Evolução do atomismo em sala de aula: mudança de perfis conceituais. TESE (Doutorado em Educação), Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 1994.