ENXERGANDO O PROBLEMA DE QUEDA DE RENTABILIDADE Por: Hélio Meirim É muito comum, quando nos deparamos com uma situação indesejada (problema), pensarmos que tudo está perdido, ou que todo o processo está ruim e que sendo assim é preciso mudar radicalmente. Pois bem, algumas vezes claro que é necessário mudanças radicais para reverter uma situação, mas antes de optarmos somente por esta alternativa, o ideal é conseguirmos um tempo para dividir o problema, buscando as suas reais causas e não os efeitos que estas estão nos gerando. Apoiados na identificação das causas, aplicaremos as medidas corretivas visando a eliminação das mesmas e com certeza o resultado irá sofrer uma transformação positiva. Vejamos por exemplo o caso de algumas empresas de transportes e operadores logísticos que vem identificando quedas sucessivas em sua rentabilidade ano após ano. Neste cenário, seus dirigentes vêm adotando uma série de medidas que eles entendem serem necessárias para sanar o problema. Normalmente estas medidas são relacionadas à corte de pessoal, corte de despesas com ações comerciais, viagens, redução de rotas, redução de pontos de apoio e/ou filiais, atrasos nas viagens buscando a consolidação de carga e quase sempre ações relacionadas à corte de despesas. Pois bem, a metodologia acima vem sendo aplicada por diversas transportadoras e operadores logísticos. No entanto, a sua efetividade na solução do problema em questão (quedas sucessivas de rentabilidade) nem sempre é satisfatória, pois muitos empresas deste segmento estão agonizando com seus resultados e, infelizmente muita estão encerrando suas atividades. Agora vamos tentar enxergar o problema (quedas sucessivas de rentabilidade) por um outro prisma. Se olharmos a rentabilidade como o resultado financeiro das entradas (receitas) versus suas saídas (custos e despesas) precisaremos atuar em duas frentes, ou seja, buscar medidas focadas nas saídas, mas também medidas focadas nas entradas. Muitas vezes já me deparei com situações onde a causa do problema estava na qualidade da entrada (receita), ou seja, o cliente demandava tantos recursos operacionais e administrativos que o valor que ele pagava não remunerava os recursos usados para atendê-lo. Algumas vezes temos situações onde o cliente com uma má qualidade de receita acaba onerando diversos outros clientes tanto em nível de rentabilidade como de nível de atendimento fazendo assim que a situação se agrave ainda mais. Um dos caminhos que podemos seguir para olhar a situação (queda de rentabilidade) sob o ponto de vista de entradas e saídas consiste em mapear todo o fluxo (produtos e informações) dos principais clientes (volume e valor). Após este mapeamento deve ser possível respondermos as seguintes perguntas: Todas as atividades, recursos (equipe, veículos, armazém, informação..), tempo de alocação destes recursos para o cliente e quanto os mesmos custam para a transportadora/ operador logístico? A Transportadora / operador logístico e o Cliente estão cientes de que o Cliente demanda por todos os serviços e recursos listados acima? A negociação tarifária com o cliente contempla todos os serviços prestados? Existe alguma forma de otimizar os recursos (equipe, sistema, veículos, terminais) usados para atender a este cliente, ou os mesmos estão sendo usados de forma exclusiva para ele? O tipo de carga deste cliente é compatível com as demais, ou ela acaba gerando um serviço muito customizado para ele? As operações de coleta, agendamento, carga, descarga, movimentação interna e entrega da carga deste cliente são ágeis ou elas demandam por tempo e recursos extras que devido a estas características acabam ficando exclusivos para ele? Os prazos de pagamento negociados com o cliente estão sendo obedecidos? Os produtos deste cliente geram muitas indenizações por furtos, avarias, trocas e faltas? Se retirarmos o volume movimentado por este cliente quanto conseguiremos reduzir de custos e despesas? Bem, ao responder estas perguntas, provavelmente teremos algumas surpresas, onde clientes que eram classificados como “A” em termos de faturamento, passaram a ser clientes classificados como “Z” em termos de rentabilidade (entradas – saídas). Ao término deste árduo mais gratificante trabalho, será possível identificar medidas a tomar que podem até fazer com que a transportadora / operador logístico tenha um faturamento menor, mas que proporcionalmente irá gerar uma melhor rentabilidade do seu negócio. No entanto, este trabalho de mapeamento de entradas e saídas por cliente, juntamente com a realização da análise de rentabilidade de cada um deles e identificação dos impactos de abrir mão de determinadas entradas (receitas) que não são boas, demanda por profissionais com experiência, competência e habilidades um pouco diferentes dos profissionais que apenas olham para as linhas de saída (custos e despesas) que, por terem uma visão focada somente neste lado do problema, não conseguem enxergar e solucionar o problema da queda de rentabilidade. Infelizmente, muitas vezes, já vimos situações onde, sem o planejamento necessário, foram realizadas diversas reduções drásticas em termos de equipe, filiais, quantidade de veículos que naturalmente a transportadora / operador logístico foi encolhendo, tendo sua rentabilidade esmagada até um dia desaparecer. Logo, o importante é enxergar o problema de rentabilidade do negócio por vários ângulos. Depois disso convoque o time para coletar dados, analisar informações e estabelecer as estratégias necessárias para solução do problema. Hélio Meirim é CEO da HRM Logística consultora & treinamento, tendo atuado, por mais de 20 anos, no Brasil e no exterior, em cargos executivos de empresas nacionais e multinacionais nos segmentos de Operadores Logísticos, Transportadores, Varejo, E-Commerce, Indústria Farmacêutica, Alimentícia, Siderúrgica, Química e Agrobusiness. Coordena a comissão de logística do Conselho Regional de Administração – RJ, é professor, escritor e palestrante. Contatos: [email protected] * www.hrmlogistica.com.br