FICHA TÉCNICA Título Resenha Histórica do 1º Ciclo do Ensino Básico (I volume) Autoria Direcção Regional de Educação do Alentejo (DREAlentejo) Coordenação e Elaboração Rui Ângelo Oliveira Couto Maria Margarida Horta David Suporte Documental Serviços DREALE Évora, Dezembro de 2008 2 Índice Introdução .....................................................................................................................4 I - Ensino Primário Oficial ........................................................................................5 1. – As Medidas do Marquês de Pombal ...........................................................5 2. – D. Maria I e as Escolas ................................................................................5 3. – As Escolas dos Corpos Militares – As Primeiras Escolas Normais ....6 4. – A Legislação Liberalista ..............................................................................7 II - As Escolas “Conde de Ferreira” .....................................................................8 III - Uma Época de Instrução Popular ................................................................ 9 IV – As Escolas “Adães Bermudes” ........................................................................10 V – As Escolas da República .....................................................................................11 VI – O Após-Guerra – A Repartição das Construções Escolares ....................14 VII - A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais ....................19 VIII - Os Projectos – Tipo Regionalizados – Escolas “Raúl Lino” e “Rogério de Azevedo” ................................................................................................................22 IX – O Plano dos Centenários ..................................................................................28 1. - As Comemorações ......................................................................................28 2. – Uma Nova Rede Escolar .............................................................................29 3. – As Primeiras Escolas dos Centenários ...................................................30 X – Os Edifícios dos Centenários ...........................................................................32 1. – A Delegação para as Obras de Construção de Escolas Primárias ...32 2. – Os Novos Projectos ...................................................................................32 3. –A Realização das “Fases” do Plano dos Centenários ............................32 4. – Alterações aos Projectos .........................................................................40 3 XI – A Necessidade de Novos Edifícios e de uma Nova Rede Escolar ........43 1. – O Plano de Educação Popular ...................................................................43 2. – Os Novos Edifícios: Tipo Urbano e Tipo Rural ....................................45 3. – Uma Lei de Construções Escolares .........................................................47 4. –A Evolução dos Novos Edifícios ................................................................50 XII – As Cantinas ......................................................................................................52 XIII – As Casas dos Professores ..........................................................................57 XIV – Dos Edifícios às Escolas ...............................................................................61 1. - Obras Complementares – Arranjos Exteriores ...................................61 2. – A Sala de Aula – Material Didáctico- Mobiliário ................................62 Referências Bibliográficas ......................................................................................68 Anexos ..........................................................................................................................69 A – Açores e Madeira (Plano dos Centenários) .............................................69 B - Notas bibliográficas de Arnaldo R. Adães Bermudes .......................... 71 C – Notas bibliográfica de Raúl Lino ................................................................71 D - Notas bibliográfica de Rogério dos Santos Azevedo ...........................72 E – Índice de tipologias de edifícios ...............................................................73 4 Introdução Relembrando todas as pessoas que, ao longo do tempo, tiveram a oportunidade de aprender a ler e a escrever, aprendizagens cruciais para a vida, entendendo-se como um património intrínseco que se vai construindo e que no dia a dia se torna precioso, apresentamos este pequeno, mas grande documento sobre a história do 1º Ciclo do Ensino Básico. Este pensamento de aprender a ler e a escrever, remete-nos para as imagens da escola, do professor, dos livros e dos cadernos... Se é verdade que ao longo dos anos houve preocupação com a aprendizagem da população, não é menos verdade que ela passou por fases diversas. Pretendemos, é certo, apresentar e demonstrar todo um processo de evolução ao longo do tempo, resultante de dois grandes factores como as mudanças pelos quais o ensino foi passando e por outro, não menos importante, os edifícios enquanto escolas, as alterações e adaptações por que passaram em termos de conceitos de arquitectura, uso de diferentes materiais e novos métodos de construção. Este levantamento aqui apresentado, que abrange dois séculos, reporta-se ao ano de 1759 e vai percorrer um espaço temporal até ao ano de 1980. Este documento representa uma reflexão aprofundada que nos agradou bastante desenvolver e com a qual enriquecemos o nosso conhecimento nesta matéria. Não se trata de um trabalho acabado mas sim de um estudo evolutivo que irá sendo ampliado à medida que se considere oportuno. 5 I. Ensino Primário Oficial 1.- As Medidas do Marquês de Pombal 1759 – Alvará de 28 de Junho, (no reinado de D. José I – Marquês de Pombal) . . . . . . . Criados os Estudos Menores/Escolas Menores Ensino Público sob tutela do Estado Criada uma Directoria Geral do Ensino Mapa ou Plano de Escolas Projectos Régios Método Pedagógico segundo a Regra de Inácio de Loiola Escolas nos Bairros de Lisboa e Vilas que fossem sede de comarca 1772 – Carta-Lei de 6 de Novembro que constitui uma das primeiras tentativas no mundo de organização de um ensino primário oficial. . subsídio literário (10 Novembro). 1773 – Suplemento ao Mapa em 11 de Novembro . Ampliação para 526 (mais 47) das Aulas dos Mestres de Ler e para 399 (mais 40) as restantes Escolas Menores. 2. - D. Maria I e as Escolas 1779 - Resolução Régia de 16 de Agosto . Reordenamento da rede de Escolas Menores de acordo com o exposto na Consulta da Real Mesa Censória. . Rede ampliada mas com único critério de haver um convento que serviria de Escola Pública. . As escolas voltaram ao espaço dos Conventos. 1780 – Criação da Casa Pia de Lisboa no Castelo de S. Jorge (segundo a proposta do Intendente da Polícia Diogo de Pina Manique) 1781 – Criação da Escola Régia de Desenho, 23 de Agosto . Apoio a outras artes desde a Cirurgia, a Ourivesaria ou a Carpintaria . Cursos de Desenho de História e Figura e Desenho de Arquitectura 6 Contexto Histórico-Social ... Revolução Francesa ... invasão dos franceses, embarque da Família Real para o Brasil (27 de Novembro de 1807) ... Junta de Regência (regência do exército e comando do General Beresford). 3.– As Escolas dos Corpos Militares – As Primeiras Escolas Normais 1815 – Criação das Escolas dos Corpos de Linha, D. Miguel Pereira Forjaz . No seguimento da criação de Escolas de Primeiras Letras em quartéis militares (Ex: Escola do Regimento de Artilharia de Castelo de Vide). . Havia uma escola de ler, escrever e contar em cada um dos 24 Regimentos do Corpo de Infantaria, 12 Batalhões do Corpo de Caçadores, no Corpo da Real Polícia de Lisboa. . Posteriormente, na Brigada Real da Marinha, Arsenal do Exército, Depósito Geral de Cavalaria e Real Fábrica da Cordoaria. . Criação da Escola Geral Militar (primeira Escola Normal do País que aprontaria os indivíduos que tivessem concorrido aos postos de mestres, ajudantes e aspirantes, criada no Quartel da Guarda de Corpo em Belém e que abriu em Março de 1816). Instruções chanceladas em nome do Príncipe Regente (“...se haverá de se arranjar uma Caza D’Aula que só para isso servirá tendo a mesma à entrada um cabide para os capotes e as barretinas”). Todos os alunos deveriam ir à mesma aula, pagando o exército todas as despesas com papel, penas e tintas. Prohibe Sua Alteza Real que os Chefes dos mesmos Corpos possam intrometer-se na direcção do serviço enterior das Escolas, competindo-lhes “somête promoverê a execução das sobreditas Instruções e mantere nas mesmas Escolas a melhor orde e aproveitamêto dos Alunos dellas” – Instruções - D. Miguel Pereira Forjaz. 1815 - Edital de 15 de Maio, Directoria Geral dos Estudos “se hão-de prover 18 Escholas para as Meninas na Cidade de Lisboa, estabelecidas pela Rainha N.S., por sua immediata Resolução de 31 de Maio de 1790” – primeiras escolas públicas para raparigas; 25 depois de terem sido criadas por D. Maria I. 1817 – Abertura de Aulas a 1 de Janeiro 7 “As Escolas são num total de 55 e situã-se 18 em Lisboa e Termo, 10 na Extremadura, 5 em Trás-os-Montes, 10 no Além Tejo, 3 no Reino do Algarve e 3 no Porto e Província do Minho” . Haviam 1891 discípulos militares e 1952 discípulos paizanos, num total de 3843. 1822 – “Exposição do Novo Método” – João Crisóstomo do Couto e Melo (Novo Método de Ensino, seguido nas Escolas Militares de Primeiras Letras em Portugal) – D. João VI 1824 – Primeiras Escolas Normais - Decreto de 11 de Setembro . Criação de uma Escola Normal independente da Directoria Geral dos Estudos (D. João VI). . Determinação dos seus diplomados serem de futuro os preferidos nos concursos para os provimentos das cadeiras régias. Contexto Histórico-Social: . A Escola Normal esteve encerrada nos anos do absolutismo de D. Miguel 4. – A Legislação Liberalista 1820 – Implantação do Regime Liberal 1822 – Cortes de 1821 e Constituição de 1822 . Proclamavam livre ensino e a abertura de escolas de primeiras letras. Criaram 59 novas escolas primárias (algumas femininas) e aumento de vencimentos dos professores. . As Cadeiras das Primeiras Letras passaram a ser com certa frequência, instituídas por particulares, Juntas de Paróquia ou Municípios. 1826 – Carta Constitucional de 1826 Garantia a todos os cidadãos o Ensino Primário gratuito. Contexto Histórico-Social: No Período Miguelista que antecedeu a Guerra Civil (1829 – 1823) suprimiram 149 Escolas Primárias. 1835 – Há perto de 1000 escolas oficiais no País. 8 1847/1850 – O Método da Leitura Repentina – António Feliciano de Castilho - Ensaio numa “Escola Piloto” criada no Convento da Graça em Ponta Delgada do “Método da Leitura Repentina” depois conhecido por “Método Português”. II - As Escolas “Conde de Ferreira” Contexto Histórico-Social “...Convencido de que a instrução pública é um elemento essencial para o bem da sociedade, quero que os meus testamenteiros mandem construir e mobilar cento e vinte casas para escolas primárias de ambos os sexos nas terras que forem cabeças de concelho, sendo todos por uma mesma planta e com acomodações para vivenda do professor, não excedendo o custo de cada casa e mobília a quantia de um conto e duzentos réis; e pronta que esteja a casa, será a mesma entregue à Junta de Paróquia em que for construída; mas não mandarão construir mais de duas casas em cada cabeça de concelho e preferirão aquelas terras que bem entenderem...” (Joaquim Ferreira dos Santos – Conde de Ferreira) Segundo o testamento de Joaquim Ferreira dos Santos (1866 - Par do Reino e Conde de Ferreira passou a haver fundos para a construção e equipamento de escolas. Exemplo: Escola de Conde de Ferreira de Montemor-o-Novo. 1866- Publicação da Portaria no Diário de Lisboa pelo Ministério do Reino - Instruções sobre a Fundação de Escolas de Adultos - Criação de novas cadeiras de francês e de inglês - Construção de casas para as escolas primárias - Concessão de subsídios do estado Exemplos: “Escola Morais”, “Escola Amorim Campos” (inaugurada em 1899), “Escola Conde de S. Bento” (1834), “Escola Grandella”, “Escola Municipais” (Câmara Municipal de Lisboa), sendo a Escola Municipal nº1 a primeira a integrar a ginástica escolar. 9 III - Uma Época de Instrução Popular Contexto Histórico-Social Durante o século XIX, deu-se em todo o Mundo, a grande ruptura entre a ordem estabelecida no passado e os anseios de justiça manifestados pelas classes trabalhadoras. - Activação de uma tomada de consciência popular, também, a nível de Educação. - Vinda de José Fontana para Portugal (movimentos operários - 1872); - Fundação do Partido Socialista (1871 - Antero de Quental); - Fundação do Partido Republicano (1878) - Entre outros, Associações de Instrução Popular, as Mútuas, as Sociedades de Monte Pio, os Centros Republicanos e outras colectividades (Voz do Operário, Sociedade de Instrução do Porto), criaram Cursos de Alfabetização e Valorização Profissional (Desenho, Contabilidade e Línguas Vivas). . Aparecimento de escolas para crianças (creches e jardins de infância) desde meados do séc. XIX – Creche da Fábrica de Loiças de Sacavém (1876) e que foi prosseguida com a escola infantil e primária; acolhimento de crianças e escolas pela Fábrica das Sedas e de Fiação de Xabregas (1879); Associação das Creches e Associação Promotora de Asilos (1875/76), estabelecimentos para crianças; Jardim Escola João de Deus, criados pela Associação dos Jardins Escolas João de Deus (Coimbra 1911), sendo o projecto do primeiro Jardim–Escola resultado do trabalho conjunto de João de Deus Ramos e Raul Lino. . Criação do Ensino Oficial Infantil pelo Governo da República, através do Decreto de 29 de Março de 1911. . Publicação da “Cartilha Maternal” em 1876, João de Deus, método que se tornou oficial e que se estendeu ao Brasil e a África. . Em 1881 foi aberta, pelo Jornal “O Século”, uma subcriação para ser fundada a Escola Nacional pelo Método de João de Deus. . No Censo da População, de 1 de Dezembro de 1890, detectaram-se 4.000.957 analfabetos num total de 5.049.729 pessoas. . Em 1890, só funcionavam 2618 das 3825 Escolas Primárias Régias e que somadas a 1514 escolas particulares, perfaziam 1,17 escolas/1000 habitantes. 10 . Do levantamento da Rede de Ensino Primário constavam 3166 escolas masculinas, 1804 escolas femininas e 369 escolas mistas. IV - As Escolas “Adães Bermudes” Contexto Histórico-Social No dia 10 de Janeiro de 1898 deram entrada, no Ministério das Obras Públicas, “Os programas do concurso para apresentação de projectos de edifícios destinados a escolas de instrução primário e o respectivo relatório”(in o Século – 11 de Janeiro de 1898). 1898 – Programas do Concurso para apresentação de projectos de edifícios destinados a escolas de instrução primária e o respectivo relatório – Ministério das Obras Públicas (trabalho elaborado na Associação dos Engenheiros Portugueses). . Listagem de áreas incluindo vestiaria, uma ou mais aulas, pátio com recreio coberto, habitação do professor, retretes e urinóis. 50 alunos por sala, 1,25m2 por aluno. Pé direito de 4 a 4,5 metros. Pavimentos em madeira sobre elevado do terreno em 1,5 metros. - Três tipos de escolas: escola com uma sala, 50 alunos e habitação para um professor (só rapazes ou só raparigas); escola com duas salas, 100 alunos e habitação para um professor e ajudante (só rapazes ou só raparigas); escolas mistas com duas salas, 100 alunos com duas habitações para os professores e respectivos ajudantes. - Características regionais, recomendação que cada tipo viesse a ser construído de acordo com as técnicas e os materiais próprios de cada zona do país devendo considerar-se sete regiões distintas: Minho e Douro, Trás-os-Montes, Beiras, Estremadura, Alentejo, Algarve e Ilhas Adjacentes. - O projecto aprovado foi da autoria do Arquitecto Arnaldo Adães Bermudes e que mereceu a Medalha de Ouro da Secção de Arquitectura Escolar na Exposição Universal de Paris (1900). Exemplos: Escola Adães Bermudes – Gáfete, Crato (Portalegre) Escola Adães Bermudes Alter do Chão (Portalegre). 11 V - As Escolas da República 1909 – existiam 3000 estabelecimentos de ensino primário público. 1910 – É instaurada a República A taxa de analfabetismo em Portugal é muito elevada (75%). 1911 – Lei de 29 de Março (Governo de António José de Almeida) Reforma profunda das estruturas do ensino infantil, primário e normal implicando novas soluções à arquitectura de escolas e pressionar a construção, remodelação e reparação dos equipamentos educativos. . Oficializou o ensino Infantil . Oficializou as missões das Escolas Móveis. . Estabeleceu com cuidado a formação dos professores. . Criou as Escolas Normais de Lisboa, porto e Coimbra. . Descentralizou o Ensino Primário e as competências das Câmaras Municipais. . Estabeleceu os requisitos mínimos de higiene e salubridade para os locais de instalações das escolas primárias. Contexto Histórico-Social: (Funcionamento da Escola Oficial nº1, primeira tentativa em Portugal do ensino integrado de actividades manuais, intelectuais e artísticas a crianças cujas idades iam dos 7 aos 14 anos). 1916 – Lei n.º 563, de 6 de Junho, (Governo de Bernardino Machado) - Criou o Fundo das Construções Escolares que teve por fim auxiliar a construção dos novos edifícios destinados ao Ensino Primário Infantil, elementar e complementar, que satisfaçam as normas técnicas, de higiene e pedagógicas. . As Normas Técnicas foram claramente definidas: condições para escolha dos terrenos, 8 ou 10 metros quadrados por aluno (escolas infantis e primárias respectivamente), exclusão de construção em terrenos insalubres, acidentados ou perigosos, simultaneamente e interdição de construção perto de cemitérios, fábricas, matadouros, vidreiras e tabernas (mínimo a 100 metros). 12 . Na sala de aula exigiam as mesmas características que no Programa de 1898, mas definia-se a superfície iluminante (mínimo de 1/6 da área) e que deveria ser bilateral em salas com largura superior a 7 metros. Exigiam-se estores ou cortinas lisas para regular a luminosidade ambiente. . Foi definida a utilização do vestíbulo/vestuário, com boa ventilação e existência de cabides para roupa e prateleiras para os cestos e sacos dos alunos. . Exigia-se o abastecimento de água potável a toda a escola e os bebedouros seriam do tipo “fonte higiénica”. . Para os sanitários e os esgotos exigia-se que se situassem em locais de fácil acesso, mas sem comunicação directa para as salas de aulas. Previa-se a ligação à rede geral de esgotos ou a uma fossa adequada. Os aparelhos sanitários eram dimensionados e quantificados e nas escolas mistas deveriam ser diferenciados por sexo. . A habitação do professor seria uma moradia a ser integrada no edifício escolar e ter gabinete de estudo, sala de jantar, três quartos, cozinha, sentina e um quintal, sendo todo o conjunto independente da escola. . Exigia-se nas salas de desenho, de trabalhos manuais e de lavores femininos uma iluminação mais correcta e cuidada na sua implantação no edifício. . O salão para solenidade, conferências e projecções deveria situar-se em piso térreo e construído de preferência em anfiteatro. Deveria ter sistema de obscurecimento e saídas amplas e facilidade de circulação. . Para os corredores e escadas foram definidas dimensões mínimas; 1,50 de largura, 0,16 m de espelho e 0,28 m de cobertor, proibidos lanços com mais de 16 degraus e escadas em leque. . A cozinha e o refeitório situar-se-iam no piso térreo e poderiam servir para aulas de economia doméstica. . Para o balneário recomendava-se que existisse e fosse bem equipado, devendo articular-se com o ginásio, caso existisse. Nas escolas primárias os banhos seriam de duche e nos infantis de imersão. . O ginásio seria no piso térreo e deveria dimensionar-se na base de 2m2/utilizador e ter um pé-direito de 5 m.. Recomendava-se, ainda, um bom pavimento de madeira e ventilação eficaz. . A iluminação artificial tinha que ser de luz intensa, fixa e difusa, aconselhando-se preferencialmente as lâmpadas eléctricas incandescentes. Os focos luminosos deveriam estar sempre a mais de 1,5 m da cabeça dos alunos. . O aquecimento seria previsto onde fosse necessário elevar a temperatura ambiental para o nível dos 14-16º C. Recomendava-se caldeiras de água quente ou vapor. 13 . Deveria haver chaminés para a ventilação das escolas ou exaustão situadas de modo a proporcionar ar renovado, isento de poeiras ou emanações nocivas. . Os programas dos edifícios foram descritos para escolas infantis e primárias – 10 tipos de escolas primárias (elementares e secundárias), estabelecendo-se programas de espaços a seguir para cada escola. - Evidenciou o aspecto da regionalização dos edifícios (diálogo arquitectura escolar- região, materiais). - Previu as necessidades de ampliação. - Previu a criação de “Bairros Escolares” – implantação concentrada de edifícios escolares das várias tipologias necessárias seus anexos e equipamentos comuns, nas principais cidades dos País. Exemplos: Escola Normal de Lisboa; Quinta de Marrocos - Benfica (1913) Escola Primária e Residência de Professores – Fatela - Fundão (1914) Escola do Torrão – Alcácer do Sal (1917) 14 VI -O Após-Guerra /A Repartição das Construções Escolares 1920 – Decreto n.º 6700, de 23 de Junho que encarregava a Repartição das Construções Escolares de proceder ao estudo, elaboração do projectos e de cadernos de encargos para escolas a construir de acordo com as necessidades. Foi anexado um mapa com distribuição por freguesias de 87 edifícios escolares, cuja construção era prioritária. E, outro mapa com indicação dos edifícios já em construção e cuja conclusão era urgente. Contexto Histórico-Social: * As grandes dificuldades económicas no período pós 1º Guerra impediram uma realização razoável de obras de construção de escolas, apesar de tentativas de concessão de subsídios, administração directa de obras para as Câmaras Municipais e Juntas de Freguesias. * Em 28 de Maio de 1926, triunfara a marcha militar sobre Lisboa, iniciada em Braga, pelo General Gomes da Costa, estabelecendo uma ditadura que conduziu ao Governo os sectores mais antagonistas do Regime Republicano – Integralistas: grupos de combate católico e tendência monárquica (linha que fora a de Sidónio Paes e em que Oliveira Salazar exercia acção de relevo) e os Nacionalistas (direita parlamentar admiradora de Mussolini e Primo de Rúvera). * Os presidentes das Câmaras Municipais foram substituídos por Comissões Administrativas e foram nomeados novos Governadores Civis e autorizado de novo o ensino da Religião nas escolas. 1927 – Decreto n.º 13337, de 25 de Março, (Ministério da Instrução Publica) – construções escolares, reformulação das Normas Técnicas. Definia a zona de protecção das primárias e reforçou os cuidados com vizinhança perigosa para as escolas (tabernas,...). 1929 – Decreto n.º 1679, de 30 de Maio, que extinguiu a Repartição de Construções Escolares. Foi criada a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. - A Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais ao trabalhar com os projectos que recebera do Ministério da Instrução deu-lhes, entre 1929 e 1935, a designação informal de projectos dos tipos aprovados oficialmente, também conhecidos como Projectos Antigos. 15 Anos 20 (a partir de 1920) – Projectos Tipo da Repartição das Construções Escolares (Projectos Antigos): - Tipo I – Norte (1 piso): 1 sala aula cujo acesso á através de átrio coberto e estrutura gradeada com portão e dois compartimentos anexos. - Tipo II – Norte (1 piso) – 2 salas aulas, vestíbulo e gabinete de professores com átrio coberto gradeado e com colunas de cantaria. - Tipo II A – Norte (2 pisos) – Piso 0 com átrio coberto com escada de acesso ao piso1, sala de aula e gabinete. Piso1 com museu, gabinete e sala de aula. - Tipo II – Centro (1 piso) – 2 salas de aulas, vestíbulo, museu, gabinete de professores com átrio coberto gradeado e com vãos em arco. Exemplos: Sandonil (Seia), Santa Ovaia (Oliveira do Hospital), Alcanena, Sardoal e Amieira (Nisa). - Tipo III – Centro (1 piso) – 3 salas de aulas, vestíbulo, gabinete de professores com átrio coberto gradeada e com vãos em arco. Exemplo: S. Cristovão (Montemor-o-Novo). - Tipo VII nº7 (1 piso) – 2 salas de aulas, vestíbulo, gabinete de professores e átrio coberto com colunas (desenvolve-se em forma de L). - Tipo IX (2 pisos) – Piso 0 com 3 salas de aulas, vestíbulo com escada de acesso ao piso 1, átrio coberto, instalações sanitárias masculinas (urinóis e a cabines com turcas) e instalações femininas ( 2 sanitas, átrio às instalações e 2 lavatórios), 2 instalações sanitárias de professores (sanita e lavatório cada uma), arrumos e recreio coberto (posterior). Piso 1 com 3 salas de aulas, biblioteca, arquivo e gabinete de professores. - Projecto nº10 (Arquitecto Eugénio Correia) (2 pisos) – Piso 0 com 2 salas de aulas, vestíbulo com escadas de acesso ao piso 1, gabinete de professores e recreio coberto (área posterior). Piso 1 com 2 salas de aulas, museu, vestíbulo e gabinete de professores. - Tipo XIV – Centro (2 pisos - conjunto Escola – duas residências) – Piso 0, um núcleo central com átrio coberto de acesso murado com vãos, vestíbulo e recreio coberto (área posterior) e blocos de instalações sanitárias (masculinas e femininas) e duas salas de aulas. Dois núcleos laterais com vestíbulo, sala de aula, gabinete de professores, casa de jantar, cozinha e escadas de acesso ao piso 1, cada um. No piso 1 com dois núcleos laterais, vestíbulo e quatro quartos cada um. 16 - Projecto n.º15 (2 pisos) – No piso 0, o recreio coberto com acesso ao edifício, vestíbulo com escadas de acesso ao piso 1, dois blocos para as instalações sanitárias (alunos e alunas), gabinete, museu, sala de aula de trabalhos manuais e duas salas de aula. No piso 1 um vestíbulo, dois blocos para as instalações sanitárias (alunos e alunas), gabinete e duas salas de aulas. - Tipo XX n.º 27 (2 pisos) – No piso 0 o átrio coberto com vãos em arco tipo ogival, vestíbulo com escadas de acesso ao piso 1, gabinete , duas salas de aulas e recreio coberto (área posterior) com blocos independentes de instalações sanitárias (alunos, alunas e professores). No piso 1 com vestíbulo, varanda descoberta, gabinete e duas salas de aulas. Exemplos: Ervidel (Aljustrel), Serpa, Ferreira do Alentejo e Ponte de Sôr. - Tipo XXI – Norte (1 Piso - conjunto Escola/Residência, independentes e contíguas) - A escola era constituída por um átrio coberto murado e com colunas, vestíbulo, recreio coberto (área posterior), gabinete do professor, vestiário e sala de aula. A residência do professor era constituída por um átrio coberto murado e com colunas, vestíbulo-corredor, arrecadação, casa de banho, cozinha, sala de jantar, dois quartos e átrio posterior coberto com arrumos. - Tipo XXIV (2 pisos) – O Piso 0 com átrio coberto gradeada com vãos em arco, vestíbulo com corpo de escadas de acesso ao Piso 1, três salas de aulas, gabinete de professores e recreio coberto com blocos de instalações sanitárias independentes (alunos e professores). No Piso 1 com um vestíbulo, gabinete, três salas de aulas e museu com varanda descoberta. - Tipo XXV, n.º 46 (Arquitecto Eugénio Correia, 1926) - Átrio coberto e murado com colunas, vestíbulo, gabinete de professores, sala de aula e recreio coberto (acesso pela sala de aula). Contexto Histórico-Social: * Este projecto era o mais simples da Repartição de Construções Escolares. Este projecto, a variante com mais uma sala ou a duplicação do projecto foi o mais repetido em Portugal até finais da década de 30. O orçamento era o mais baixo (19.000$00 em 1933). - Tipo XXVIII n.º 50 (1 piso) – O átrio coberto murado com colunas, vestíbulo, gabinete de professores, duas salas de aulas, recreio coberto posterior com acesso pelas salas de aula e com blocos para as instalações sanitárias. Contexto Histórico-Social: * Este projecto foi também muito repetido, o orçamento era de 41.900$00 em 1933. 17 - Tipo XXXI, n.º 55 (Arquitecto Jorge Segurado) (1 Piso, conjunto Escola/ Habitação) – A escola com um átrio coberto, vestíbulo, gabinete de professores, sala de aula, recreio coberto posterior. A habitação com terraço descoberto, sala de jantar, três quartos, cozinha, casa de banho e átrio coberto. - Tipo XXXIV n.º 59 – Centro (2 pisos) – O Piso 0 com átrio coberto murado com colunas, vestíbulo com corpo de escadas, gabinete, sala de aula e recreio coberto posterior. O Piso 1 com vestíbulo, gabinete de professores e sala de aula. - Tipo XXXVI n.º 61 – Centro ( 1 piso) – Com átrio coberto murado com colunas, vestíbulo, dois gabinetes, duas salas de aulas e recreio coberto posterior. Exemplos: Barbacena, este com dois pisos (Elvas) e Baleizão (Beja). Contexto Histórico-Social: * Este projecto foi muito repetido de Norte a Sul de Portugal. - Tipo XXXIX n.º 78 (2 pisos) (Arquitecto Eugénio Correia) – O Piso 0 com átrio coberto murado e vãos em arco, vestíbulo com corpo de escadas, quatro salas de aulas, dois gabinetes e recreio coberto posterior. O Piso 1 com vestíbulo, quatro salas de aulas, dois gabinetes e museu. Contexto Histórico-Social: * Foi o projecto com maior número de salas (oito) da Repartição das Construções Escolares. Não chegou a ser realizado. - Tipo XI n.º 79 (1 Piso, conjunto de Escola e Residência) (Arquitecto Jorge Segurado, 1928) – A Escola com átrio coberto com colunas, vestíbulo, sala de aula, gabinete de professores e recreio coberto posterior. A habitação com vestíbulo, dois quartos, sala, cozinha, casa de banho e quintal posterior. - Tipo XIII n.º 81 ( 2 pisos) (Arquitecto Eugénio Correia) – O Piso 0 com recreio coberto anterior, vestíbulo com corpo de escadas duas salas de aulas e dois gabinetes. O Piso 1 com vestíbulo, duas salas de aulas, dois gabinetes e museu com varanda, terraço descoberto. Exemplo: Galveias (Ponte de Sôr). Os edifícios segundo estes tipos, apresentam-se por vezes com os respectivos projectos iniciais alterados ou com adaptações às possibilidades locais de construção e variados tipos de revestimentos com influências regionais (granitos, calcários, xistos, rebocos caiados). 18 Os sanitários que não eram contemplados nos projectos iniciais vieram, posteriormente, nalguns casos a ser implantados em pavilhões independentes construídos nos logradouros das escolas. O orçamento de pavilhão com três cabines sanitárias e fossa respectiva era de 5.792$00, em 1940. A electrificação dos edifícios que permitiria o recursos a uma iluminação artificial, só nas décadas de 50 e 60 seria concretizada. 1920/1935 - Projectos de Escolas variadas (segundo projectos exteriores à Repartição das Construções Escolares) - Escola de Vila Chã da Graciosa (Miranda do Douro) – foi programada no Mapa de 1920 e construída antes de 1926, como uma escola mista com áreas totalmente independentes, por sexo, dispondo de duas salas de aulas, dois gabinetes e dois arrumos, implantada num piso. - Escola “Jácome Correia” (freguesia do Rosário, concelho de Lagoa, Ilha de S. Miguel – Açores) – entrou em funcionamento em 1927/28, tendo custado 230.000$00 à Câmara Municipal de Lagoa e 80.000$00 à Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada pelo trabalho de adaptação do projecto originário do Ministério da Instrução. Escola de um piso com átrio coberto com colunas e murado, vestíbulo/corredor, quatro salas de aulas, duas salas gabinete e dois blocos de instalações sanitárias. - Escola de Vila Boim (Elvas) – edifício em fase de acabamento em 1929 (quando foi extinta a Repartição das Construções Escolares), Tem elementos arquitectónicos semelhantes às das escolas Adães Bermudas. Escola de um piso, mista com áreas diferenciadas e recreio coberto fechado comum, tendo cada ala, vestíbulo, gabinete de professor, vestiário com lavatórios e duas salas de aulas e em área coberto posterior ao salão do recreio coberto e bloco de instalações sanitárias. 19 VII - A Nacionais Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos A partir de 1927, os novos Serviços (que integraram os Serviços da Repartição das Construções Escolares) actuaram na construção de um conjunto de edifícios designados genericamente como Escolas Dr. Alfredo de Magalhães, por ter a sua construção sido autorizada pelo próprio então, Ministério da Instrução. As Escolas Dr. Alfredo de Magalhães caracterizam-se por ser variável o número de salas e os seus traçados serem diferentes e diversificados. Situam-se maioritariamente no distrito de Viana do Castelo. Exemplos: Escola Central de Viana do Castelo, arquitecto Baltazar de Castro e Rogério de Azevedo; Escola Primária de Alvarães em Viana do Castelo; Escola Dr. Alfredo de Magalhães na Guarda, Escola Primária de Fonte Grossa em Portuzelo e Escola Primária de Lantrezes em Viana do Castelo. 1929 – Decreto Lei n.º 1679, de 30 de Maio, foi criada a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, no Ministério do Comércio e Comunicações (posteriormente Ministério das Obras Públicas). 1931 – Escolas do Arquitecto Baltazar de Castro e Rogério de Azevedo. Até 1931, os Serviços dos Edifícios e Monumentos Nacionais aplicaram as dotações orçamentais para realização dos projectos da Repartição das Construções Escolares ou em projectos especiais de gabinetes de arquitectos. Exemplos: Escola Primária do Soajo no concelho de Arcos de Valdevez, Escola Regional do Barrô em Águeda, Escola Infantil de Bragança. 1930/1935 – Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, projectos do Arquitecto Jorge Segurado - Edifício Escolar para a cidade de Estremoz que não se chegou a construir. - Edifício Escolar para a Vila de Pombal que foi construído em 1941, o orçamento inicial foi de 430.000$00, com oito salas de aulas. As obras foram comparticipadas pela Câmara Municipal do Pombal, no Orçamento Geral do Estado e Fundo do Desemprego. - Edifício Central do Infante D. Henrique em Angra do Heroísmo, com 16 salas de aulas e com o orçamento inicial de 728.320$00. A obra foi construída pela Comissão Promotora das Construções Escolares de Angra do 20 Heroísmo e comparticipada pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e pelo Estado. - Edifício para as Escolas do Bairro Social do Arco do Cego, que é o Liceu D. Filipa de Lencastre em Lisboa. Este edifício foi começado em 1932 e concluído em 1940. É a maior Escola Primária do País, com salas de aulas, museu, gabinete de professores, salão para cinema e conferências, ginásio e balneários, posto médico, cozinha, refeitório, dispensa, salas para secretaria e central telefónica. - Projecto n.º 85 (Arquitecto Henriques Costa da Direcção dos Edifícios Nacionais do Sul) – Edifício Escolar de 4 salas. Não foi construída na prevista Vila Nova da Baronia (Alvito). Era constituídas por dois pisos: o piso o com vestíbulos masculinos e femininos, duas salas de aulas, gabinete de professores, corpo de escadas de acesso ao piso 1 e recreio coberto posterior com dois blocos de instalações sanitárias para cada sexo; o piso 1 com vestíbulo, gabinete de professores, duas salas de aulas e museu. - Projecto n.º 94 – Escola de Proença-a-Nova ( Arquitecto Francisco dos Santos da Direcção dos Edifícios Nacionais do Sul - 1932), com duas salas e construída com a comparticipação do Estado, num terreno cedido pela Câmara Municipal de Setúbal e orçamento inicial de 200.000$00. Constituída por dois vestiários, duas salas de aulas, dois gabinetes de professores, recreio coberto posterior com dois blocos de instalações sanitárias (masculinas e femininas) e sala polivalente. - Projecto n.º 96 – Escola de Brejos de Azeitão (Arquitecto Guilherme Rebello de Andrade da Direcção de Edifícios do Sul - 1933), com duas salas e construída com a comparticipação do Estado, num terreno cedido pela Câmara Municipal de Setúbal, cujo orçamento inicial foi de 200.000$00, vestíbulo, dois vestiários, duas salas de aulas, dois gabinetes de professores, recreio coberto posterior, dois blocos para instalações sanitárias (masculinas e femininas) e sala polivalente. Contexto Histórico-Social: * Com o regime estabelecido em 1926, a dinâmica do poder de base sofreu grande retrocesso, não admira, pois, que apesar das carências de edifícios na sede de ensino, empreendimentos como a construção de escolas se tenham tomado cada vez mais modesto e, mesmo assim, difíceis de concretizar”. *“Numa outra óptica surgiram bastantes particulares a ofereceram edifícios que mandavam construir...” 21 1931 – Decreto Lei n.º 19531, de 30 de Março – Escolas do Tipo Indefinido. Atribuía aos doadores de edifícios, o direito de indicar as pessoas para o primeiro provimento de professores, no lugar (ou lugares) criado para o funcionamento da escola. Nestes casos, a construção dos edifícios devia obedecer as normas técnicas e pedagógicas estabelecidas, sendo a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais a entidade que vistoriava e dava parecer sobre a execução, solidez e boas condições das escolas, antes de serem aceites as doações. Contexto Histórico-Social: * Algumas famílias com recursos resolveram, assim, o problema de colocação das suas filhas recém diplomadas pelas Escolas do Magistério Primário havendo por todo o País , exemplos destas escolas de tipo indefinido, concebidas segundo o gosto e possibilidades dos doadores. Exemplos: Escola Cantina “José Rufino” Alijó (Arquitecto Baltazar de Castro e Rogério de Azevedo), com dois pisos e, residência e cantina. O Sr. José Rufino doou o terreno e um fundo de manutenção do edifício de 200.000$00 que o Ministério das Finanças (Oliveira Salazar) determinou que se convertesse em fundos públicos (Títulos da Junta de Crédito Público). No Piso 0 era a escola com átrio coberto murado com colunas, vestíbulo, vestiário, balneário, duas salas de aulas, gabinete e museu. Escola Camarneira, Cantanhede com um piso em 1934 e Escola de Quinchães, em Fafe com um piso em 1936. 1933 – Direcção dos Edifícios Nacionais do Sul – Projectos Tipo Em Dezembro de 1933 o Arquitecto Rebello de Andrade completou uma Memória que definiu vários conceitos, um dos quais a regionalização a que deveriam obedecer os edifícios escolares a construir em série pelo governo. Juntamente com a memória foi apresentado um desenho esquemático de uma escola rural de um lugar. Este documento foi a base dos Projectos – Tipo Regionalizados dos Arquitectos Raul Lino e Rogério de Andrade. Projectos Tipo Escola Primária de duas salas em Lourosa (1930, Projectos n.º 39 dos Arquitectos Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro), com átrio coberto, vestiário, vestíbulo, sala de professor, duas salas de aula e recreio coberto posterior. Contexto Histórico-Social: * Este projecto de escola foi várias vezes repetido em escolas do Norte e Centro do País, identificado com o n.º 39. 22 1934 – Escola Primária para os dois sexos (Arquitecto Fernandes de Sá), com dois pisos: o piso com dois átrios cobertos e separados, gabinete, vestiários separados com acesso às respectivas salas de aulas e com acesso separado ao recreio coberto, na área posterior; o Piso 1 com acesso separado a recreio coberto, na área posterior. 1940 – Decreto n.º 31433, que iniciou um Período de Construção de Escolas com separação de sexos, de acordo com a proibição formal das escolas mistas, em Julho de 1941. VIII - Os Projectos – Tipo Regionalizados – Escolas “Raúl Lino” e “Rogério de Azevedo” A partir de 1935 e devido, principalmente, a faltarem técnicos e material aos Serviços de Estado (5ª secção), Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, ao reduzido tempo de resposta, 15 meses (previstos pelo Governo para se executarem os projectos de cinco regiões), à necessidade de deslocação aos locais em contraponto com o prestígio de dois gabinetes de arquitectura, o de Raúl Lino (projectos dos jardins-escola João de Deus) e de Rogério de Azevedo (Projectos dos edifícios escolares em quase todos os distritos do Norte e Centro do País) e ao seu tipo de arquitectura com a preocupação regionalistas foram estes escolhidos pela DGEMN e aprovados pelo Ministério das Obras Públicas e Comunicações – Eng. Duarte Pacheco. O Eng. chefe da DGEMN, Rebello de Andrade estabeleceu algumas regras ( no seguimento das já aprovadas ao tempo de Adães Bermudes) para os projectos. REGRAS DOS PROJECTOS – TIPO 1. Concepção de Projectos – Com a planta de uma escola para um “logar”, escola-unidade, resolver as plantas das restantes escolas para efeitos de facilitar ampliações futuras. - Conceber essas plantas a poder-se aproveitar rodos os terrenos seja qual for a exposição a Norte. - “Standardização” da construção de escolas, por grupos, mesmo que nesses grupos entrem escolas de diferente número de lugares. 23 2. Regiões -Tipo Região A – Algarve Região B – Alentejo Região C – Estremadura Região D – Beira Litoral Região E – Beira Baixa do Sul Região F – Beira Baixa do Norte Região G – Trás-os-Montes Esta divisão regional não coincidia com os limites das províncias, pretendia agrupar as várias zonas do País (continente) de acordo com as “afinidades em recursos de materiais de construção, em mão de obra e em processos de construção e ainda em afinidades climáticas”. 3. Custo das Construções Foi abordado apenas em “teoria”, por ainda se desconhecerem a maioria dos dados que permitissem orçamentos aproximados. No entanto, era dada indicação de que para além das capitais de distritos e sedes de concelho, ou algumas vilas mais importantes, as escolas não deveriam ter mais de duas salas de pavimento térreo e deveriam ser totalmente destituídas de cantaria, quando este material constituir um luxo ou encareça a obra. Era, ainda, referida a escola-campesina, cuja listagem de espaços se resumia à sala de aula, vestíbulo, vestiário e gabinete de professor, acrescentado-se possivelmente as retretes (com apresentação de um desenho esquemático deste tipo de escola). As considerações finais da Memória diziam respeito à execução das obras atendendo a que anteriormente se constatara a má qualidade de construção e deturpações quanto aos projectos fiscalizados por “comissões locais”, na sua maioria constituídas por elementos incompetentes. Encomenda de Projectos –Tipo Em documento da DGEMN formalizava-se a aprovação dos projectos para 44 diferentes edifícios de escolas primárias, executados em Lisboa por Raul Lino (3 Tipos Regionais – 12 soluções) e no Porto, por Rogério de Azevedo (6 Tipos Regionais e 1 Tipo Rural – 32 soluções), segundo o Plano de Construção em série, até ao montante de 20 mil contos (ofício n.º 3017, de 22 de Junho de 1933), do Director dos Edifícios Nacionais do Sul. 24 PROJECTOS TIPO – Raúl Lino Os projectos para os Distritos de Faro, Beja, Évora, Portalegre, Setúbal, Lisboa, Santarém e Leiria foram estudados e executados por Raúl Lino. Assim foi repetida a mesma planta para um mesmo número de salas de aula. Quanto aos aspectos de arquitectura regional agruparam-se em três tipos diferentes: Algarve, soluções para 1,2, 3 e 4 salas; Estremadura (cantaria) as mesmas soluções e Alentejo e Ribatejo (tijolo), as mesmas soluções. A atribuição, concelho a concelho, dos tipos regionais, bem como das áreas de terreno desejáveis para cada uma das soluções foram definidas pelo projectista. Pelos dados que dispomos, estimamos que foram concluídas: • 32 edifícios Raúl Lino (3 tipos Algarve, 17 Tipo AlentejoRibatejo, 12 Tipos Estremadura, no total de 71 salas de aulas) Escola Escola Escola Escola de de de de Exemplos: Tipo Raul Lino Messejana – Aljustrel - Tipo Alentejo-Ribatejo (tijolo) , 2 salas- 1938, Pardais – Vila Viçosa - Tipo Alentejo-Ribatejo (tijolo) – 1 sala – 1938, S. Clemente – Loulé - Tipo Algarve – 3 salas, 1938, Santa Vitória – Beja - Tipo Alentejo-Ribatejo – 3 salas, 1938 PROJECTOS TIPO - Rogério de Azevedo Para os distritos do Norte e Centro as novas escolas foram projectadas por Rogério de Azevedo que fundamentou a predominante aplicação do granito, nos dados da Carta Geológica de Portugal de J.F. Delgado e Paul Choffat, 1899. As plantas eram repetitivas para cada solução. Segundo os detalhes de arquitectura, agruparam-se em seis Tipos Regionais: Minho (tijolo) – soluções para 1 sala, 2 salas, sobrepostas, 2 salas, térreas, e 3 e 4 salas; Alto Minho (cantaria de granito) – as mesmas soluções; Douro (cantaria de granito) – as mesmas soluções; Beira Alta (cantaria de granito) – as mesmas soluções; Beira Litoral (cantarias) – as mesmas soluções; Trás-os-Montes (xisto) – as mesmas soluções. As atribuições, concelho a concelho, dos tipos regionais, bem como das áreas de terreno desejáveis para cada uma das soluções, foram definidas pelo projectista. Os Projectos Tipo para as ilhas da Madeira e Açores não chegaram a ser iniciados (chegou a estar definida uma viagem de estudo para o primeiro trimestre de 1938). Pelos dados que dispomos, estimamos que foram concluídas: 25 • 56 edifícios Rogério de Azevedo (10 Tipo Trás-os-Montes, 12 Tipo Alto Minho, 2 tipo Minho (tijolo), 16 Tipo Douro, 9 Tipo Beira Alta, 8 Tipo Beira Litoral, no total de 105 salas de aula) Exemplos: Tipo Rogério Azevedo Escola de Gestalinho – Maia - Tipo Douro – 2 salas térreas , 1939, Escola de Pedras Salgadas – Vila Real - Tipo Douro – 1 sala, 1962, Escola de Sequeirô – Santo Tirso - Tipo Minho (tijolo) – 1 sala, 1972 1937 – Em Janeiro, os Serviços Externos da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) começaram a enviar, aos Serviços Centrais, lista de escolas concluídas e em construção, para que fundamentassem um relatório-proposta sobre as verbas gastas e a previsão de despesas para a execução de um mapa de localidades em que a Direcção Geral do Ensino Primário reconhece a necessidade de construção ou ampliação de edifícios escolares. Foi apresentado um relatório com todos os elementos disponíveis sobre as Escolas Primárias em Julho de 1937 pelo Ministro das Obras Públicas ao Presidente do Conselho – António Oliveira Salazar, que acabou por negar qualquer reforço às verbas para a construção. 1938 – Em 25 de Maio, o Ministro das Obras Públicas, Eng.º Duarte Pacheco, reactivou o processo (Decreto Lei n.º 29011, de 19 de Setembro). No Diário do Governo, de 26 de Setembro de 1938 foi publicada a Relação dos novos edifícios de escolas primárias em construção para o executivo “transigia” em concluir. Era uma lista de 230 edifícios, a grande maioria de uma ou duas salas de aula, de que constavam escolas com Projecto-Tipo Regionalizados, outras mais antigos-projectos especiais, projectos da DGEMN e os projectos das Construções Escolares. Contexto Histórico-Social A Vila de Santa Camba Dão foi na década de 30, um caso raro quanto à construção de escolas, tendo obtido o privilégio de no mesmo ano de 1934), ver iniciadas as obras de duas escolas primárias. Inteiramente financiadas por verbas dos fundos públicos – a escola feminina, de 3 salas de aula (projecto especial do Arquitecto Joaquim Areal) e a escola masculina, de 7 salas, gabinetes e cantina (projecto incluindo o aproveitamento da antiga Escola Conde de Ferreira, dos Arquitectos Baltazar de Castro e Rogério de Azevedo). Como se sabe, atenção semelhante não mereceu a grande maioria dos núcleos populacionais do resto do país. Apesar da expectativa (credulidade, até) criada pela propagando oficial, havia milhares de crianças sem escola ou a frequentar casebres, cujas condições não diferiam muito das que, desde 26 meados do século XIX, tinham sido apontadas como a mais forte causa para o analfabetismo, em Portugal. A Ideologia do Estado Novo na Educação Desde 18 de Janeiro de 1936 (Ministro das obras Públicas – Carneiro Pacheco), o Ministério da Educação Nacional avançou na redacção e publicação de um Conjunto de Leis e Decretos que impregnaram todo o Sistema Educativo da ideologia do Estado Novo. - A Instituição da Junta Nacional de Educação sendo-lhe atribuídos poderes sobre todos os aspectos do ensino, educação, investigação científica, expressões artísticas e culturais, etc. No âmbito dos seus poderes veio a constar o exame e aprovação de projectos de construção escolar (Base I da Lei n.º 1941, de 11 de Abril de 1936). Obrigatoriedade dos livros únicos, para as várias disciplinas do Ensino Primário (Base X da Lei citada); - Obrigatoriedade em todas as escolas públicas da existência, atrás e acima da cadeira do professor, de um crucifico de modelo oficial (Base XII da Lei citada). - Criação da Organização Nacional da Mocidade Portuguesa (Decreto Lei n.º 26611, de 19 de Maio de 1936) e consequente extinção ou marginalização de todos os outros agrupamentos juvenis. - Criação da Obra das Mães para a Educação Nacional (Decreto n.º 26893, de 15 de Agosto de 1936), sendo-lhe atribuída a superintendência em todas as formas de ensino infantil e em todos os aspectos da educação própria das raparigas. - Revisão do programa do Ensino Primário, baixando para a 3ª classe a escolaridade elementar (Decreto n.º 27603, de 20 de Março de 1937). - Aceitação do nível elementar (3ª classe) como habilitação bastante em todos os casos em que fosse exigida por lei, a instrução primária (Base III da Lei n.º 1969, de 20 de Maio de 1938). - Criação de Postos Escolares, nos meios rurais, com um mínimo legal de frequência. O regente do posto teria de prestar provas de cultura geral (Base IV e V da citada Lei). - Atribuição às Câmaras Municipais de fornecerem as instalações para as Escolas e Postos Escolares, as quais deveriam obedecer, entre outros, ao princípio da separação de sexos. O Estado passaria a comparticipar a construção dos edifícios segundo a ordem de precedência que fosse determinada pelo Ministério das Obras Públicas, ouvido o da Educação Nacional (Base VII da citada Lei). 27 - Definição de que o Ensino Primário seria gratuito para quem atestasse ser pobre, prevendo-se o pagamento de propinas, variáveis segundo a situação económica das famílias. Anunciando-se a criação de bolsas de estudo para os alunos pobres muito bem dotados moral e intelectualmente (Base X da citada Lei). 28 IX – O Plano dos Centenários 1 - As Comemorações Anos 40 – Anos 70 Na Era do Engrandecimento (anunciada num discurso em Braga – 28 de Maio de 1936, no 10º aniversário da Revolução de 1926), as palavras públicas de Salazar e os textos da legislação oficial revelaram a limitada importância que o Chefe de Estado Novo conferia às questão do ensino primário e das escolas oficiais. Havia a intenção de ensinar as crianças a ler, mas seria prioritário educar politicamente o povo (discursos de Salazar aos legionários, no Liceu Camões em Lisboa, Março de 1938). Contexto Histórico Social * “O analfabetismo em Portugal vem de longe e não impediu que a nossa literatura fosse, em determinadas épocas, extremamente rica. Não nos cabe, aliás, a responsabilidade dessa lacuna e estamos fazendo tudo, ao contrário, para que deixe de existir, sobretudo para alargar quanto possível a nossa base de recrutamento dos valores sociais, hoje demasiado restrito. Estão lançadas as bases da grande reforma do ensino primário. Dentro de cinco, seis anos, conto que todas as crianças em idade escolar tenham à sua disposição escolas e professores que lhes ensinem a ler...” (Salazar a António Ferro, Setembro de 1938, in Diário de Notícias, de 16 de Outubro de 1928). * “Enquanto pelo Governo não tiver sido aprovado o plano geral nas novas construções para o ensino primário não poderão ser começados novos edifícios de escolas primárias, salvo quando se destinam a servir os agrupamentos de casa económicas executadas em conformidade com as disposições dos Decreto Lei n.º 23052, de 23 de Setembro de 1933 e Decreto Lei n.º 28912, de 12 de Agosto de 19 de Setembro de 1938”. (Art.º 4º do Decreto Lei n.º 29011, de 19 de Setembro de 1938 – Ministério das Obras Públicas e Comunicação). * A escolaridade dos adultos ficava de fora, no Programa de Educação Nacional, admitindo-se que a emigração, o serviço militar e algumas condicionantes legais, acabariam, de algum modo, por atenuar as elevadas taxas de analfabetismo. (Diário de Notícias, de 16 de Outubro de 1938). 29 Desde o início da década de 30 fora lançada a construção de edifícios para o Ensino Primário superior e secundário, imponente como arquitectura e nada modestos quanto a orçamentos. Estavam prontos o Instituto Superior Técnico, projecto do Arquitecto Pardal Monteiro), os Liceus de Beja (Arquitecto Cristino da Silva), Coimbra (Arquitecto Jorge Segurado e Adelino Nunes) e Lamego (Arquitecto Coltinelli Telmo). Trabalhava-se no Plano Geral da Cidade Universitária de Coimbra (Arquitecto Cornelli Telmo e Cristino da Silva), sendo os edifícios da autoria do Arquitecto Licínio Cruz. Fora encomendado o estudo conjunto para a Cidade Universitária de Lisboa a erguer na zona do Campo Grande e os projectos das Faculdades de Direito e Letras da Reitoria e Instalações Gerais para os estudantes (Arquitecto Pardal Monteiro). A Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário (criada em Setembro de 1928 e a funcionar até 30 de Setembro de 1969), especializada em arquitectura escolar, tendo dirigido em todo o país, a construção de cerca de 160 edifícios para Liceus e Escolas Técnicas começava as obras dos liceus de Castelo Branco, Lisboa (Gil Vicente e D. João de Castro), Porto (Carolina Michaelis), Santarém (projectos do Arq. José Costa e Silva) e Viana do Alentejo (Arq. Januário Godinho). A nível do País, ou na escola mais reduzida de cada capital de distrito, os edifícios escolares produziam forte impacto social e político: eram uma força que tinha de ser transmitida aos núcleos de freguesia. Mesmo que a instrução do povo não fosse considerada prioritária era preciso construir novas Escolas Primárias. Seriam, assim, as Escolas Centenárias. 2. – Uma Nova Rede Escolar Escolas dos Centenárias – 1940 Lei do Orçamento Geral do estado para o ano de 1941 – art.º da Lei n.º 1985/40, de 17 de Dezembro – Ministério das Finanças: Contexto Histórico Social “O Governo iniciará , em 1941, a execução do plano feral da rede escolar que será denominado DOS CENTENÁRIOS e em que serão fixados o número, localização e tipos de escolas a construir para completo apetrechamento do ensino primário, inscrevendo-se no orçamento as verbas necessárias para as obras a realizar em participação com os corpos administrativos ou outras entidades.” 30 1941 - O PLANO DOS CENTENÁRIO “Sucessivamente, elaboraram-se, aprovaram-se e reformularam-se mapas genericamente intitulados Rede de Escolas do Ensino Primário elementar e dos postos escolares, em execução da Lei n.º 1969”. Por fim, em 29 de Julho de 1941, foram publicados no Diário do Governo n.º 174. - O Despacho do Presidente do Conselho de Ministros, datado de 15 de Julho de 1941, em que, eram apresentados os critérios de formulação do plano e em que era referida a comissão que trabalharia no desenvolvimento da rede escolar (o Decreto Lei n.º 31468, de 19 de Agosto de 1941, regulamentou o funcionamento da Comissão. A Portaria, de 5 de Setembro de 1941, do MEN, as nomeações para os respectivos cargos). - Os mapas de: . Estimativa de despesas – total 500.000 contos, . Distribuição de verbas – que indicava o ano de 1951, como limite para o dispêndio de verbas prolongando-se, até 1956, o reembolso das comparticipações das Câmaras (50% dos custos totais) adiantadas pelo Estado; . Número de salas a construir – as previsões de edifícios e número de salas eram explicitadas concelho a concelho, com indicação dos totais, para cada distrito ( após revisão, o número definitivo de edifícios e salas, por freguesia, com indicação dos núcleos que influenciavam, seria publicado no Diário do Governo II Série, de 5 de Abril de 1943. O conjunto intitulava-se: “O Plano dos Centenários” Do ponto de vista legal tornava-se possível recomeçar a construir as Escolas Primárias de que o País tanto carecia. 3. - As primeiras Escolas dos Centenários (1941) Segundo o texto da Ordem de Serviço “urgente”, expedida a 6 de Outubro de 1941, pelo Director-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, para as quatro Direcções de Edifícios, Duarte Pacheco teve a intenção de rapidamente iniciar os trabalhos para a construção de 200 edifícios. Assim, cada uma das Direcções estudaria a localização de um grupo de 50 escolas (84 salas), atendendo que seriam: - 30 de 1 sala de aula - 10 de 2 salas de aula - 6 de 3 salas de aula - 4 de 4 salas de aula 31 As localizações, por concelho, deveriam estar previstas no plano e os distritos contemplados seriam: • Região Norte: Braga, Porto e Viana do Castelo • Região Centro: Aveiro, Coimbra e Leiria • Região Lisboa: Lisboa, Santarém e Setúbal • Região Sul: Beja e Faro Alguns dos critérios invocados para justificar as necessidades, por distrito, e as prioridades por concelho eram: “mau estado das instalações escolares existentes, elevado número de crianças inscritas para a frequência escolar, facilidades na aquisição dos terrenos, ofertas locais de materiais de construção e ainda, a falta de salas para a separação dos sexos”. Contexto Histórico Social Em Julho de 1941, Oliveira Salazar afirmava, no ponto 4 do Despacho do Plano dos Centenários: “o princípio legal da não coeducação dos sexos é fielmente seguido quanto às salas e sempre que possível quanto aos edifícios, mesmo nos meios rurais”. Pretendia-se, portanto, que as escolas masculinas funcionassem em edifícios distintos das escolas femininas. Contexto Histórico Social Foi difícil atingir a fase de execução das primeiras Escolas do Plano dos Centenários. A II Guerra Mundial fazia rarear os materiais de construção e as ferramentas, a falta de carvão e gasolina dificultava o fornecimento dos estaleiros e as deslocações, tanto dos empreiteiros, como dos técnicos que deveriam fiscalizar as obras. Quando se fez o balanço das 200 primeiras escolas que se pretendiam construir de acordo com o Plano dos Centenários, inscreveram-se, apenas, (respostas à Ordem de Serviço Circular n.º 101, de 8 de Agosto de 1945. Capa OS. N.º 101 de 8/8/1945. Arquivo ex-DGCE , Núcleo DGEMN. • • • • Direcções Direcções Direcções Direcções dos dos dos dos Edifícios Edifícios Edifícios Edifícios do Norte: 44 edifícios – 94 salas do Centro: 25 edifícios – 48 salas do Sul: 1 edifício – 2 salas de Lisboa: nenhum edifício 32 X – Os Edifícios dos Centenários 1.- A Delegação para as Obras de Construção de Escolas Primárias Em 1943, a Comissão de Revisão e Reajustamento da Rede Escolar concluiu o trabalho para que fora nomeada com a publicação, após revisão, do número definitivo de edifícios e salas, por freguesia, concelho e distrito: - Mapa Definitivo das Obras de Escolas Primárias – Plano dos Centenários (Diário do Governo – II Série, de 5 de Abril de 1943). 2. – Os Novos Projectos 1944 – Os novos projectos – Programa de 1944 de Construções Escolares ou a 1ª Fase do Plano dos Centenários. Quando se pretendem lançar as primeiras escolas do Plano dos Centenários, depreendeu-se que nem todas as soluções dos Projectos Regionalizados, de 1935, se poderiam adaptar às novas exigências funcionais, além disso, o agravamento geral dos preços tornara formas de economia da construção. Assim, o Ministro Duarte Pacheco determinou que os projectos fossem “revistos”. Manuel Fernandes de Sá (DEN), Joaquim Areal (DEL), Eduardo Moreira dos Santos (DEL) e Alberto Braga de Sousa (DES) encarregaram-se da remodelação dos projectos referentes às diferentes regiões do País – faltava o Algarve baseados todos nas mesmas plantas e obedecendo a dois tipos determinados “edifícios destinados a um só sexo” ou “separação para os dois sexos”. Introdução duma “chaminé algarvia” nos projectos Tipo Alentejo, feita em Julho de 1944, pelo Arquitecto Alberto de Sousa, originou o tipo de edifícios para as Escolas Primárias do Algarve. 3.- A Realização das “Fases” do Plano dos Centenários 1ª Fase do Plano dos Centenários Projectos aprovados em 1944/ Direcção dos Edifícios Nacionais do Norte/ Arquitecto Manuel Fernandes de Sá 33 Tipo–Regiões/materiais/revestimentos: - Minho (granito) - (xisto) - (tijolo) - Douro (granito) Tipologias construídas: 1 sala – 1 sexo – 1 piso 2 salas – 1 sexo – 1 piso 2 salas – 2 sexos – 1 piso 3 salas – 1 sexo – 1 piso 4 salas – 1 sexo – 2 pisos 4 salas – 2 sexos – 2 pisos Tipo 1 sala – átrio, sala de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino) Exemplo: Escola Paulo Adão – Guimarães; Escola Santo Aleixo – Vila Real; Escola do Monte Barbeado – Braga Tipo 2 salas/1 sexo – átrio, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Os recreios cobertos eram separados através de instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos um espaço de arrumos. Exemplo: Escola de Freiria – Arcozelo; Ponte de Lima – Viana do Castelo; Escola do Caminho, Barcelos (Braga). Tipo 2 salas/2 sexo – dois blocos geminados tendo cada um: átrio, sala de aula e recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Os recreios cobertos eram separados através de instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos um espaço de arrumos. Exemplo: Escola Freiria, Arcozelo, Ponte de Lima (Viana do Castelo); Escola de Caminhos, Lama, Barcelos (Braga). Tipo 3 salas/1 sexo – o rés-do-chão com átrio com corpo de escadas de acesso ao piso superior, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). O 1º andar com átrio com corpo de escadas e uma sala de aula. Exemplo: Escola Feminina Freixo Espada à Cinta – Bragança; Escola de Paranhos – S. Martinho de Bargado – Santo Tirso. Tipo 4 salas/1 sexo – No rés-do-chão um átrio com corpo de escadas de acesso ao 1º andar, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias. No 1º andar, um átrio com corpo de escada, 2 salas de aula. Exemplos: Escola de S. Silvestre, Brunheiro, Murtosa (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (tijolo) e a Escola Feminina nº2 de Ovar (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (cantaria). 34 Tipo 4 sala / 2 sexos – Dois blocos geminados de 2 pisos tendo cada um: no rés-do-chão um átrio com corpo de escadas de acesso ao 1º andar, sala de aula e recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). O 1º andar com um átrio com corpo de escada e sala de aula. Os recreios cobertos eram separados através dos blocos das instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos em espaço de arrumos. Exemplos: Escola de Monsanto, Idanha-a-Nova (Castelo Branco) – Tipo Beira Alta – granito e Escola do Pinheiro, Veiros, Estrarreja (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (tijolo). Projectos aprovados em 1944/ Direcção dos Edifícios Nacionais do Centro/ Arquitecto Joaquim Areal Tipo–Regiões/materiais/revestimentos: - Beira Litoral (cantaria) - Beira Litoral (tijolo) - Beira Alta (granito) - Beira Baixo (xisto) Tipologias construídas: 1 sala – 1 sexo – 1 piso 2 salas – 1 sexo – 1 piso 2 salas – 2 sexos – 1 piso 3 salas – 1 sexo – 2 piso 4 salas – 1 sexo – 2 pisos 4 salas – 2 sexos – 2 pisos Tipo 1 sala – átrio, sala de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino) Exemplo: Escola de Avelar, Ansião (Leiria) – Tipo Beira Litoral (cantaria); Escola de Padrão, Almaceda (Castelo Branco) – Tipo Beira Alta (granito); Escola de Lendiosa, Casal Comba , Mealhada (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (tijolo). Tipo 2 salas/1 sexo – átrio, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Os recreios cobertos eram separados através de instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos um espaço de arrumos. Exemplo: Escola de Preguiça, Arada, Ovar (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (cantaria). Tipo 2 salas/2 sexos – dois blocos geminados tendo cada um: átrio, sala de aula e recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Os recreios cobertos eram separados através de instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos um espaço de arrumos. 35 Exemplo: Escola de Cimo da Vila , Ovar (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (cantaria); Escola de Antas, Penedono (Viseu) – Tipo Beira Alta (granito). Tipo 3 salas/1 sexo – o rés-do-chão com átrio com corpo de escadas de acesso ao piso superior, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). O 1º andar com átrio com corpo de escadas e uma sala de aula. Exemplo: Escola Gafanha da Encarnação, Ílhavo (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (tijolo); Escola Feminina de Vila de Meda, (Guarda) – Tipo Beira Alta (granito). Tipo 4 salas/1 sexo – No rés-do-chão um átrio com corpo de escadas de acesso ao 1º andar, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias. No 1º andar, um átrio com corpo de escada, 2 salas de aula. Exemplos: Escola de S. Silvestre, Brunheiro, Murtosa (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (tijolo) e a Escola Feminina nº2 de Ovar (Aveiro) – Tipo Beira Litoral – (cantaria). Tipo 4 sala / 2 sexos – Dois blocos geminados de 2 pisos tendo cada um: no rés-do-chão um átrio com corpo de escadas de acesso ao 1º andar, sala de aula e recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). O 1º andar com um átrio com corpo de escada e sala de aula. Os recreios cobertos eram separados através dos blocos das instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos em espaço de arrumos. Exemplos: Escola de Monsanto, Idanha-a-Nova (Castelo Branco) – Tipo Beira Alta – (granito) e Escola do Pinheiro, Veiros, Estrarreja (Aveiro) – Tipo Beira Litoral (tijolo). Projectos aprovados em 1944/ Direcção dos Edifícios Nacionais de Lisboa/ Arquitecto Eduardo Moreira dos Santos Tipo–Regiões/materiais/revestimentos: - Ribatejo - Estremadura - Alto Alentejo Tipologias construídas: 1 sala – 1 sexo – 1 piso 2 salas – 1 sexo – 1 piso 2 salas – 2 sexos – 1 piso 3 salas – 1 sexo – 2 piso 4 salas – 1 sexo – 2 pisos 4 salas – 2 sexos – 2 pisos 36 Tipo 1 sala /1 sexo – átrio, sala de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Exemplos: Escola Arruda dos Vinhos (Lisboa) – tipo Estremadura; Escola de Moita Redondo, Vila Nova de Ourém (Santarém) – tipo Ribatejo; Escola Caia, Elvas – Tipo Alto Alentejo e Escola de Velada, S. Matias, Nisa , Tipo Alto Alentejo. Tipo 2 salas/1 sexo – átrio, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Os recreios cobertos eram separados através de instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos um espaço de arrumos. Exemplo: Escola de Longomel, Ponte de Sôr – Tipo Alto Alentejo; Escola de Monforte, Portalegre – Tipo Alto Alentejo. Tipo 2 salas/2 sexo – dois blocos geminados tendo cada um: átrio, sala de aula e recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Os recreios cobertos eram separados através de instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos um espaço de arrumos. Exemplo: Escola de Ordem, Marinha Grande – Tipo Estremadura; Escola da Vila Nova da Rainha, Azambuja (Lisboa). Tipo 3 salas/1 sexo - o rés-do-chão com átrio com corpo de escadas de acesso ao piso superior, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). O 1º andar com átrio com corpo de escadas e uma sala de aula. Exemplo: Escola Feminina de Rio Maior, Santarém – Tipo Ribatejo; Escola de Monte do Duque, Nisa – Tipo Alto Alentejo; Escola da Terrugem, Elvas – Tipo Alto Alentejo. Tipo 4 salas/1 sexo - No rés-do-chão um átrio com corpo de escadas de acesso ao 1º andar, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias. No 1º andar, um átrio com corpo de escada, 2 salas de aula. Exemplo: Escola Masculina das Avenidas Novas, Ponte de Sôr – Tipo Alto Alentejo. Tipo 4 salas/2 sexo - Dois blocos geminados de 2 pisos tendo cada um: no rés-do-chão um átrio com corpo de escadas de acesso ao 1º andar, sala de aula e recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). O 1º andar com um átrio com corpo de escada e sala de aula. Os recreios cobertos eram separados através dos blocos das instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos em espaço de arrumos. Exemplo: Escola do Engenho, Marinha Grande – Tipo Estremadura; Escola da MeiaVia, Torres Novas – Tipo Ribatejo. 37 Projectos aprovados em 1944/ Direcção dos Edifícios Nacionais do Sul/ Arquitecto Alberto Braga de Sousa Tipo–Regiões/materiais/revestimentos: - Alentejo - Algarve Tipologias construídas: 1 sala – 1 sexo – 1 piso 2 salas – 1 sexo – 1 piso 2 salas – 2 sexos – 1 piso 3 salas – 1 sexo – 2 piso 4 salas – 1 sexo – 2 pisos 4 salas – 2 sexos – 2 pisos Tipo 1 sala /1 sexo – átrio, sala de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Exemplos: Escola de Santo António, Sé, Évora – Tipo Alentejo; Escola do Barão de s. Miguel, Vila do Bispo – Tipo Algarve. Tipo 2 salas/1 sexo – átrio, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). Os recreios cobertos eram separados através de instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos um espaço de arrumos. Exemplo: Escola de Entradas, Castro Verde – Tipo Alentejo; Escola de Castro Marim – Tipo Algarve Tipo 3 salas/1 sexo – o rés-do-chão com átrio com corpo de escadas de acesso ao piso superior, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). O 1º andar com átrio com corpo de escadas e uma sala de aula. Exemplo: Escola Feminina de S. Teotónio – Tipo Alentejo; Escola Santiago Rio de Moinhos, Borba – Tipo Alentejo (com alteração no projecto inicial). Tipo 4 salas/1 sexo - No rés-do-chão um átrio com corpo de escadas de acesso ao 1º andar, 2 salas de aula, recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias. No 1º andar, um átrio com corpo de escada, 2 salas de aula. Exemplo: Escola Masculina nº1 de Reguengos Monsaraz – Tipo Alentejo; Escola Vila Viçosa – Tipo Alentejo (ampliada para seis salas em 1972). Tipo 4 salas/2 sexo - Dois blocos geminados de 2 pisos tendo cada um: no rés-do-chão um átrio com corpo de escadas de acesso ao 1º andar, sala de aula e recreio coberto posterior com bloco de instalações sanitárias (masculino e feminino). O 1º andar com um átrio com corpo de escada e 38 sala de aula. Os recreios cobertos eram separados através dos blocos das instalações sanitárias existindo, ainda, entre ambos em espaço de arrumos. Exemplo: Escola de Canhestros, Ferreira Alentejo – Tipo Alentejo. Contexto Histórico-Social: * Os jornais anunciaram a execução da 1ª Fase do Plano dos Centenários, a 13 de Maio de 1944 (Diário de Notícias “O Primeiro de Janeiro”). Com grandes títulos noticiavam: “561 edifícios escolares, com 1250 salas de aula, completamente mobilados vão ser construídos no corrente ano” – (O Primeiro de Janeiro). * Havia, era verdade, razões para dúvidas. O ano de 1944 foi difícil em todo o Mundo e também em Portugal. Tornou-se mais severo e racionamento de bens essenciais, mesmo os de produção nacional faltavam a lenha, o açúcar, o azeite, as farinhas e o pão. Nas cidades, as cantinas escolares funcionavam irregularmente servindo às crianças, só duas ou três vezes por semana, nada mais do que uma sopa, pouco nutritiva, vivendo as cantinas da Província em circunstâncias ainda piores. Era, pois, difícil acreditar que em Portugal, no ano de 1944, se iniciaria a construção de 561 escolas distribuídas por todos os distritos do País (incluindo Funchal, Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada) que o ritmo de execução viria a ser mantido durante 10 anos até se concluírem cerca de 12500 salas de aulas que haveria capacidade para orçamentar e gerir, verbas que ultrapassariam os 500.000 contos. Os contratos com os adjudicatários começaram a ser assinados em 1945, de um modo geral, cada contrato abrangia um conjunto de escolas, agrupadas por distrito, e o seu montante variava, em média, entre os dois e os três mil contos. Das primeiras empreitadas excluíram-se as escolas com mais de 4 salas, bem como as que eram atribuídas aos Açores e à Madeira. Lançamento da I Fase do Plano dos Centenários Totais nacionais previstos nos Planos Centenários: • salas previstas – 11.458 • limite máximo de salas admitidas – 12.500 • edifícios previstos – 6.809 • limite máximo de edifícios admitido – 7.180 39 Total previsto edifícios salas Beja 266 442 Évora 188 333 Faro 356 578 Portalegre 150 281 Setúbal 268 527 Distrito Total previsto edifícios salas 0 0 1 2 0 0 0 0 0 0 Total previsto edifícios salas 14 36 26 67 28 105 10 45 23 89 Os edifícios de 6 e 8 salas foram estudados como ampliação dos projectos aprovados em 1944. Manteve-se o mesmo tratamento dos espaços e de um modo geral. O mesmo aspecto dos interiores e exteriores. Exemplo: Edifício de 6 salas, Tipo Alentejo – Antiga Escola Masculina de Borba. Até meados da década de 1950 cumpriram-se cinco fases do Plano dos Centenários. Em Setembro de 1943, foram redigidas, na Delegação, as instruções para a escolha de terrenos destinados à edificação das escolas primárias. Este documento orientaria tanto os Municípios que deveriam indicar os terrenos disponíveis como os técnicos das Direcções de Edifícios que iriam inspeccionar e aprovar. As principais regras eram: • orientação entre Nascente e Sul, com preferência para a banda de Este, • área não inferior a 2000m2, com uma frente adequada às dimensões das fachadas principais dos edifícios, • serem planas e geologicamente facilitarem a construção, • terem pontos de água, ou serem facilmente abastecíveis, • servirem correctamente o núcleo que o Plano dos Centenários determinava para a escola. Sobretudo, nas regiões do Norte, era difícil a aquisição de talhões com todos os requisitos exigidos, tinha de haver cedências e aproximações. Em 1949, foi publicado o Decreto Lei n.º37575, de 8 de Outubro, que estabelecia distâncias mínimas de afastamento a cemitérios (diminua de 500 para 200 metros) e a estabelecimentos considerados insalubres, incómodos, tóxicos ou perigosos. Assim, as escolas foram sendo construídas fora das povoações, por vezes, em sítios ermos, muito distantes dos centros vivos dos aglomerados. A caminhada das crianças para as aulas passou a ser longa e a afastá-las dos sítios que sempre as tinham atraído: a rua onde os adultos 40 passavam para conversar, o largo onde chegavam as camionetas, a loja que vendia rebuçados. O crescimento posterior dos núcleos veio, geralmente, a darse ao longo dos acessos da escola e, assim, o percurso diário das crianças voltou a ser humanizado. Após a experiência de mais de uma década de aprovação de terreno e de implantação de edifícios escolares, publicou-se a Portaria n.º 15760, de 9 de Março de 1956, que aprovava as Instruções para a escolha dos terrenos destinados à edificação de Escolas Primárias. Comparativamente as regras estipuladas em 1943 era um documento muito mais completo. Por exemplo, as áreas mínimas a adquirir foram escalonadas, em relação ao número de salas a construir os terrenos serem escolhidos nas sedes dos núcleos escolares em zonas tanto quanto possível centrais, ficando fora das povoações, a sua distância, as casa mais próximas só excepcionalmente poderia ser superior a 100 metros. 4. - Alterações aos Projectos do Plano dos Centenários - Ao longo do período em que se cumpriu o Plano dos Centenários houve - - - ajustes técnicos de construção e foram-se alterando os projectos iniciais dos edifícios. À medida que as escolas ficaram prontas reconheceram-se deficiências de funcionamento e conforte, falta de normalização de elementos arquitectónicos (portas, janelas, etc.), surgiram preocupações com a qualidade da construção, o agravamento dos preços e, também, com a adaptabilidade dos edifícios à região em que eram implantados. Ao dar início à II Fase de Plano (Janeiro de 1946), a Direcção do Sul propôs que na região de Vila Viçosa, Borba e Estremoz em vez de granito se usasse mármore nas cantarias dos edifícios escolares. Foi uma condição especial, restrita à zona das pedreiras alentejanas, de que resultaram bons efeitos estéticos (aplicação de mármore na cantaria da entrada e no brasão municipal da escola da Aldeia de Sande, Borba). Posteriormente (empreitadas de 1948) e edifícios construídos em Olhão e Fuzeta, incluíram elementos da arquitectura tradicional: as açoteias ladrilhadas e tijoleira, em substituição dos telhados. Esta solução foi aplicada mais vezes em escolas do Algarve (Escola do Bairro dos Pescadores, Olhão; Escola do Zambujal, Alcoutim). Em 1949, devido a um “mal entendido” acerca do número de salas/sexo, originou-se um “Caso original” na Escola Primária de Cabeça Gorda (edifício de 4 salas, tipo geminado – 2 sexos, em que o sexo masculino ocupou uma sala no piso térreo e o feminino, as 3 salas restantes, de que resultou alterações em planta e alçados). 41 - Ao atingir a III Fase do Plano, a Direcção dos Edifícios do Centro - - - procurou baixar os orçamentos das empreitadas que iria pôr a concurso, tendo apresentado superiormente um Projecto de Simplificação do Tipo Beira Litoral – cantaria – 2 salas (Arq. Joaquim Areal) em que nomeadamente se mencionava a redução das alturas interiores de 3,50 metros para 3,20 metros; da superfície iluminante das salas (menos um sexto do que a proporcionada pelas anteriores, dimensões das janelas); aplicação das cantarias ao mínimo possível e pormenorização, a mais simples possível dos elementos construtivos, tendo os edifícios ficado mais pobres no geral. Durante a execução da V Fase, os técnicos de Coimbra e Évora voltaram a apresentar (1955/1956) uma “simplificação” para os projectos de uma sala Tipo Beira Litoral e Tipo Alentejo. Criaram, assim, o Tipo Serra, que se aplicaria em lugarejos remotos das Serras de Lousã, Estrela, Gordunha, Portel e Cabrela e em povoados do interior dos distrito de Beja e Faro. Escolas Tipo Serra – características alteradas Todas as cantarias eram suprimidas sendo substituídas por rebocos e cimento; O beiral à portuguesa era suprimido; Os mosaicos hidráulicos das zonas de circulação eram substituídos por betonilha de cimento, Os lambris de azulejo dos sanitários e as ardósias dos urinóis eram suprimidos, O fogão da sala era suprimido. Exemplo: Edifício de 1 sala, Tipo Serra – Escola de Vale de Rocins, Beja. Esta proposta foi aprovada pelo Subsecretário de Estado das Obras Públicas por despacho (25/02/1955), tendo, ainda, decidido que o novo projecto-tipo Serra deveria ser generalizado a todas as escolas a construir nos meios essencialmente rurais. Não seria, no entanto, o Tipo Serra a impor-se, a sua aplicação não teve significado nem sequer nas regiões para que inicialmente fora previsto. - A execução da VI Fase, e sucessivos adiamentos, prolongou o Plano dos Centenários, por um período muito mais longo do que estava estipulado. No final de 1959, os Ministros das Obras Públicas e da Educação Nacional reconheciam que relativamente aos números anunciados, em 1941, ainda estava por iniciar a construção de 3228 edifícios – 4226 salas para o ensino primário. 42 - Os estudos da rede escolar, feitos em 1956/57, evidenciavam enorme pressão das carências. Era preciso construir mais instalações e, também, reparar muitas concluídas nas fases anteriores. - Enquanto não era publicado outro suporte legal, o Decreto Lei n.º 41037, de 20 de Março de 1957, permitiu à Delegação continuar o seu trabalho. Por um lado, começou a aplicar os projectos acabados de estudar, para edifícios de 1 e 2 salas. Por outro lado, continuou a construir as escolas maiores, segundo os Projectos–Tipo anteriores. Ampliaram-se, ainda, muitas escolas, foi uma maneira de aumentar o número de salas construídas, sem aquisição de terrenos e, também, de reparar os edifícios sem recorrer às verbas de conservação. - Exemplo: Escola Feminina nº2 da Cidade de Beja (freguesia de Santiago Maior – Rua Infante D. Henrique – ampliação para 6 salas em 1960. 43 IX – A Necessidade de Novos Edifícios e de uma Nova Rede Escolar 1. - O Plano de Educação Popular Contexto Histórico-Social De acordo com o recenseamento de 1950 havia em Portugal, 2.916.000 analfabetos com mais de sete anos de idade. No universo da população em idade escolar e pós-escolar (7.212.662 indivíduos), 40,4% não sabia ler nem escrever. Na faixa dos 7 aos 11 anos (idade escolar), 20,3% das crianças continuava por alfabetizar (159.219, de ambos os sexos); nos jovens (dos 12 aos 30 anos) a taxa subia para 32,0%. Face à situação, delineou-se o I Plano do Fomento para vigorar de 1953 a 1958, terá sido na prática o primeiro ensino português de prática de planeamento económico e tinha como objectivo aumentar a produtividade do trabalho, reduzir o desemprego e, globalmente melhorar o nível de vida no País. Desde 1947, vinham a ser incrementados cursos diurnos e nocturnos, de ensino profissional, industrial e comercial, tendo-se definido uma rede de 44 Escolas Técnicas, a criar e a construir, em localidades de 16 distritos do Continente, uma na cidade da Horta e outra no Funchal. Em Outubro de 1952, foi publicado o Plano de Educação Popular (Decreto Lei n.º 38968 e Decreto n.º 38969, de 27 de Outubro). Entre as dominantes características deste Plano referem-se a obrigatoriedade da frequência escolar para as crianças até à aprovação no exame do ensino elementar (3ª classe) ou até completarem 13 anos de idade; cursos nocturnos em escolas e postos escolares (mantidos pelo Estado); cursos de educação de adultos que deveriam ser organizados nos quartéis das Forças Armadas e em empresas que tivessem ao seu serviço mais de 20 assalariados de idades inferiores a 35 anos sem a habilitação da 3ª classe. Contexto Histórico-Social Nenhum rapaz a cumprir o serviço militar, poderia passar à disponibilidade, sem o diploma do ensino elementar e no caso dos civis, seriam despedidos os trabalhadores que se recusassem a frequentar os cursos, que faltassem às aulas ou que perturbassem o seu funcionamento. 44 Cumulativamente com o Plano para que as suas imposições tivessem alguma eficácia, era necessário que a opinião pública as não rejeitasse, pela passividade, ou por eventual receio face ao desconhecido, pôs-se em movimento a Campanha Nacional de Educação de Adultos, com que se procuraria divulgar noções de educação moral e cívica, organização corporativa, previdência social, segurança no trabalho, higiene e defesa da saúde, agricultura e pecuária, etc. Esta campanha era financiada pelo Fundo Nacional de Educação de Adultos e envolveria na sua orgânica e acções, todo o aparelho corporativo do Estado e assumiria o seu carácter de Informação e Propaganda rodando filmes, produzindo teatro e programas de rádio e organizando as Missões Culturais Itinerante, que ao vivo tornariam conhecidas as propostas da Campanha. O cumprimento do Plano de Educação Popular exigiu à Direcção Geral do Ensino Primário (DGEP), o desempenho de novas tarefas de índole administrativa e didáctica. Reorganizada e reforçada com algum pessoal, a DGEP que, desde 1934, publicava o boletim Escola Portuguesa, passou a desenvolver uma actividade editorial para Difusão da Cultura Popular – com publicação de textos ilustrados sobre vários temas, dando assim forma à Colecção Educativa, núcleo principal das Bibliotecas Populares. Com a aplicação do Plano de Educação Popular, aumentou a frequência escolar o que veio também evidenciar grandes insuficiências na rede existente (Rede de 1941). As escolas faltavam, tanto nos núcleos do interior, como nas cidades do litoral e nas suas periferias que tradicionalmente atraíam as migrações internas da população. Tiveram de se admitir soluções mais eficazes para o lançamento e conclusão das empreitadas dos edifícios escolares. Assim, publicou-se o Decreto Lei n.º 39 982, a 21 de Dezembro de 1954, que permitiu às autarquias a administração directa das obras dando-lhes meios para construir escolas. Paralelamente, foi necessário estudar um edifício escolar enquanto a solução de arquitectura e engenheirias mais económico (em áreas e materiais) e de construção mais fácil (Despacho de 30 de Março de 1955, do subsecretário de Estado das Obras Públicas). 1911 Escolas 6.110 Matrícul 291.78 as 1 1926 8.484 316.88 8 1931 9.340 422.62 4 1936 11.813 470.52 3 1941 13.037 523.96 1 1946 13.426 536.48 9 1951 14.803 609.90 9 1956 15.724 726.49 8 45 2.- Os Novos Edifícios : Tipo Urbano e Tipo Rural (a partir de 1956) O primeiro estudo para os novos edifícios de escolas foi apresentado ao Ministro das Obras Públicas, em Janeiro de 1956. Tratava-se do AnteProjecto-Tipo, para edifícios de 1 sala de aula, organizado pelos técnicos do DOCEP, a partir de um trabalho de simplificação das fachadas e de normalização de portas, de janelas e de blocos sanitários executados pelo Arquitecto Fernando Peres. No estudo considerava-se que, aproveitando como base os projectos já existentes, que os edifícios de 1 sala seriam o ponto de partida para os edifícios de qualquer número de salas, tendo-se apresentado dois esquemas; a um foi chamado Tipo Urbano e ao outro Tipo Rural que diferiam no grau de simplificação sofrida: • um que designaremos por Tipo Urbano e seria destinado às vilas e às localidades que embora não tendo aquela categoria apresentarem nítidas características de aglomerado urbano e gozam já de um certo desenvolvimento económico; • outro que designaremos por Tipo Rural e que seria destinado às localidades essencialmente rurais e pouco evoluídas, situadas em regiões sertanejas. Pretendia-se, em ambos os casos, empregar elementos construtivos normalizados, encurtando o prazo de execução das obras e requerendo mão de obra pouco especializada, bem como reduzir ao mínimo os elementos arquitectónicos considerados dispensáveis e eliminar os desnecessários. Assim, para os Tipo Urbano e os Tipo Rural (cada um com duas soluções) o Ante-Projecto obedecia a : 1.- Uniformização das dimensões das salas de aula, vestíbulos e alpendres que diferem nos vários Projectos-Tipo actuais. 2. – Uniformização na dimensões de todos os vãos. 3. – Uniformização dos blocos sanitários. 4. – Simplificação das coberturas. 5. – Eliminação dos fogões de sala que quando necessário podem ser substituídos na sua função por salamandras. 6. – Redução de cantarias cujo emprego se limitará a peitoris, degraus e soleiras. 7. – Redução da espessura das paredes. O programa do edifício, para o Tipo Urbano, mantinha os espaços das escolas do Plano dos Centenários: • sala de aula de 8,00X6,00 metros, com 3,50 metros de pé direito; 46 • vestíbulo dimensionado para nele se poder desenvolver uma escada, caso o edifício viesse a ser acrescido de 1º andar; recreio coberto com alpendre; • • bloco sanitário; pequena arrecadação. • O programa • • • do edifício para o Tipo Rural sala de aula de 8,00X6,oo metros com 3,50 metros de pé direito; vestíbulo aberto (com acesso à sala de aula e aos sanitários); bloco sanitário (duas cabines sanitárias, sendo uma destinada ao professor); • alpendre posterior (com ligação ao vestíbulo aberto e bloco sanitário). De realçar, ainda, a modificação da abertura que deixaria de ser quatro águas no edifício e de três águas no alpendre, passando a duas (solução A) ou a uma água (solução B), admitindo-se nesta a possibilidade de substituir o travejamento de madeira por esteiras de tijolo e vigas de betão, que poderiam ser pré-fabricadas. O Ministro das Obras Públicas (Eng. Arantes e Oliveira), que por Despacho de 10 de Fevereiro de 1956, aprovou em princípio a orientação dos estudos de novos tipos. Os projectos foram definitivamente aprovados, bem como, as respectivas estimativas de custo, a 13 de Março de 1956, sendo recomendado que a DOCEP, estabelecesse, com o LNEC, a colaboração activa que permitisse prosseguir o estudo intensivo do aperfeiçoamento gradual dos projectos. Ficaram, assim, definidos projectos de 1 a 2 salas, Tipo Urbano e Tipo Rural. Melhorias aos novos projectos de Escolas Primárias – ampliações A primeira melhoria foi introduzida ainda em 1956, antes de lançadas as empreitadas para a construção de escolas, tratando-se da electrificação das escolas (Repartição de Electrotecnia e Mecânica – DGEMN). O átrio/vestíbulo junto à sala de aula, era coberto, mas aberto, deixando entrar o vento, chuva e poeiras, não cumprindo mesmo a sua função de vestíbulo pelo que foi decidido fechá-lo, tendo a Secção do Sul da DOCEP apresentado o respectivo projecto e orçamento (1.558$20), em Abril de 1958. Como se previa procedeu-se à ampliação dos projectos das escolas do Tipo Urbano de 1 sala, originando-se as de 3, 4, 6 e 8 salas, tendo havido também estudos de ampliação do Tipo Rural. As ampliações começaram a ser construídas a partir de 1960. Mais tarde em 1966 e 1970, os projectos vieram a ser revistos com alguma profundidade – introdução de estrutura anti-sísmica, criação de novos espaços para a nova pedagogia, etc. 47 3. – Uma Lei de Construções Escolares Tornou-se, porém, necessário regulamentar, segundo padrões actualizados, os processos administrativos de financiamento e de execução das obras. Isto é, tinha de se substituir formalmente o Plano dos Centenários, por um Novo Plano de Construções Escolares. Foi publicada a Lei n.º 2 107, de 5 de Abril de 1961, promulgando as bases de execução de um novo Plano de Construções para o Ensino Primário. Comprometia-se o Governo a executar, no menor prazo possível, uma nova rede de construções escolares, em substituição da parte ainda por executar do Plano dos Centenários; seria a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais – DOCEP, a cumprir a execução deste Plano que, estimava-se iria importar em 1.680.000 contos. Esclarecia-se que a designação de construções escolares abrangeria as escolas e as cantinas, incluindo mobiliário e apetrechamento. Previa-se que o M.O.P. fosse autorizado a comparticipar a construção de casas dos professores e a proceder ao aproveitamento de edifícios anteriores à execução do Plano dos Centenários. Contexto Histórico-Social * De sublinhar que nesta época, desde o início de 1961, os jornais ocupavam-se dos índices de perturbação política tornados evidentes pelo caso do Paquete Santa Maria, e sobretudo, com os acontecimentos do início da guerra colonial. * Destaca-se, também, a assinatura do Contrato para a construção da Ponte entre Almada e Lisboa. Referem-se, igualmente, a inauguração de um “novo e esplêndido Bairro Residencial em Oeiras” (Arquitecto Costa Macedo) e o anúncio de várias moradias populares, no Porto e em Guimarães. Plano de Construções para o Ensino Primário (actualização do Plano dos Centenários – Lei n.º 2 107, de 5 de Abril de 1961) 48 Distritos Edifícios Escolares Totais 1 sala 2 salas 4 salas 6 salas 8 salas Edifícios Salas Aveiro 246 Beja 215 Braga 341 Bragança 259 Castelo 190 Branco Coimbra 236 Évora 119 Faro 254 Guarda 216 Leiria 250 Lisboa 198 Portalegre 99 Porto 324 Santarém 222 Setúbal 130 Viana Castelo 186 Vila Real 321 Viseu 412 Angra 48 Heroísmo Funchal 126 Horta 44 Ponta Delgada 16 Total 4452 Para Ajustamentos Totais 124 61 287 80 27 17 60 5 14 8 17 2 7 1 16 - 418 302 721 346 742 461 1385 451 65 14 3 4 276 426 95 33 92 60 108 126 39 260 66 66 113 126 166 7 5 10 8 13 28 3 86 4 16 24 9 16 3 2 2 2 18 1 30 2 17 5 2 4 6 7 3 2 4 108 1 46 4 17 4 2 - 347 166 359 288 377 478 143 746 298 246 332 460 698 520 273 502 273 502 396 562 1534 203 1736 414 564 570 32 5 2 4 91 637 282 28 27 2336 29 4 31 421 7 9 150 4 8 248 448 76 91 7 607 693 8 300 832 176 880 13 692 1 308 15 000 Entretanto, o Ministro da Educação prolongara os Cursos de Educação de Adultos e alargara a escolaridade obrigatória até à 4ª classe, primeiro só para rapazes (Decreto Lei n.º 40964, de 31 de Dezembro de 1956) e posteriormente para raparigas (Decreto lei n.º 42994, de 28 de Maio de 1960), bom como, promovera também as primeiras conversações entre Portugal e a OCDE (1959). Refira-se que, de 1954 a 1968, além das Escolas Primárias construíram-se, no Continente, Açores e Madeira, cerca de 50 escolas técnicas, 16 liceus, os Institutos Industriais de Lisboa, Porto e Coimbra, a Biblioteca Nacional de Lisboa e vários outros edifícios para o ensino universitário. 49 O Novo Plano (designação que se impôs pelo uso) não tinha prazo definido para ser cumprido. Teve como suporte financeiro verbas extraordinárias do orçamento Geral do Estado, justificadas ao abrigo dos II e III Planos de Fomento: as Câmaras Municipais, além de suportarem directamente a aquisição dos terrenos, deveriam continuar a reembolsar o estado em 50% do custo total de cada edifício construído, agora em condições mais vantajosas para as autarquias. Em 1966, as construções escolares foram inseridas no Plano de Obras Públicas comemorativo do 40º aniversário do 28 de Maio, estipulando-se 87 827 contos para a construção de escolas primárias e cantinas. Como curiosidade, a par desta verba figuravam 111 595 contos para os liceus e escolas técnicas, 19 900 contos para se concluir o Panteão de Santa Engrácia, e a cifra de 2.183.000 contos, gastos na Ponte sobre o Tejo. Em 1 de Outubro de 1969, as competências da DOCEP transitaram para a Direcção das Instalações para o Ensino Primário (DIP), da então criada Direcção Geral das Construções Escolares. Quando se preparou o IV Plano de Fomento, para vigorar de 1974 a 1979, foi tida em conta a continuação do Plano de Construções Escolares. Pensava-se, nessa altura, que o crescimento da população não iria exigir um aumento muito acelerado de novas escolas primárias. A escolaridade obrigatória fora alargada para 6 anos, com a criação, em 1964, do Ciclo Complementar eram dispensadas as crianças que prosseguiam os estudos e assim, em termos de salas de aula necessárias, a pressão veio a dar-se nos Liceus (aumento de frequência no 1º ciclo) e, sobretudo, nas Escolas Técnicas Elementares. Contexto Histórico-Social Porém, de 1974 a 1979, a carência de instalações para o Ensino Primário viria a ser subitamente agravada pela explosão das frequências. Tudo o que se planeara, quantitativamente, para a Educação foi ultrapassado. O parque escolar, por algumas vezes, atingiu a ruptura, o que teve grande impacto na opinião pública. Todos os dias havia comissões de moradores, pais, professores e , até crianças, que reclamavam mais uma sala ou mais uma cantina. Como se sabe, o IV Plano de Fomento não chegou a concretizar-se; as dificuldades de gestão do País eram grandes, mas nunca se deixou de construir escolas primárias. Até Janeiro de 1979, o lançamento das empreitadas foi assegurado, ano a ano, pelas verbas extraordinárias atribuídas ao MOP. 50 4. – A evolução dos novos edifícios A seguir à publicação da Lei n.º 2 107, a DOCEP lançou a construção dos primeiros edifícios Tipo Urbano de 4, 6 e 8 salas. Os projectos resultaram da ampliação sucessiva do edifício de 1 sala, tal como fora planeado em 1956, ao elaborar-se o Ante-Projecto-Tipo. Como estas escolas, de maiores dimensões, seriam implantadas em localidades onde a habitação era concentrada, ou tendia a concentrar-se, foi preciso atender à economia do terreno e assim, à semelhança dos Escolas dos Centenários, os edifícios vieram a ter todos 1º andar, desenvolvendo-se as escadas ao fundo dos átrios, sem prejudicar a circulação horizontal, no rés-do-chão. A construção de edifícios Tipo Urbano de 1 e 2 salas foi praticamente abandonada, a partir de 1961: estes edifícios, mais pequenos, viriam mesmo a ser considerados como um acréscimo à série de escolas de 4, 6, 8 e até 10 salas, para atender aos casos em que se impusesse um complemento do número de instalações já existentes. Exemplos: • • • • • Edifício de 4 salas/1 sexo/Tipo urbano – Escola de Mourão Edifício 6 salas/ 2 sexos/Tipo Urbano – Escola de Vidago Edifício 8 salas/2 sexos/Tipo Urbano – Escola de Odivelas Edifício 3 salas/2 sexos/Tipo Rural – Escola da Granja, Paredes Edifício 4 salas/2 sexos/Tipo Rural – Escola de Matinhos, Vila Nova de Famalicão A substituição da madeira por elemento de betão em coberturas, pavimentos e tectos, começou a ser ensaiada no princípio da década de 60, em escolas construídas no Alentejo, Algarve e Vale do Tejo. Foram, porém, as preocupações com a estabilidade das construções escolares nos Açores, e os estudos para aplicar os Tipos Urbano e Rural, nas Ilhas, que mais contribuíram para a prática de uso do betão armado nas obras do Continente, primeiro nas zonas de maior risco sísmico e posteriormente em todo o País. Em Setembro de 1961, os projectos de engenheirias para os edifícios dos Açores estavam revistos e prontos a executar. Para o resto do País, a revisão dos projectos só se completaria em Fevereiro de 1966. As construções passaram a designar-se por Tipo Urbano 2 e Tipo Rural 2, sendo o seu aspecto visual igual ao dos tipos anteriores (as alterações são ao nível construtivo). Exemplo: Edifício de 1 sala – Tipo Rural – Escola da Corte Nova, Odeleite, Castro Marim. Entretanto, com a mudança de programas curriculares, troca de experiências entre pedagogos, arquitectos e engenheiros, bem como contactos com peritos estrangeiros, alterou-se a relação espaço-criança-ensino. Construiu-se a Escola 51 Piloto de Mem Martins onde se experimentava uma nova pedagogia e se observava a utilização do edifício. O espaço escola aberto ganhava adeptos. Procurou rever-se os projectos Tipo Urbana e Rural, nomeadamente para criar uma área própria para os trabalhos manuais e salas de aula mais abertas. Foi, então, estudada uma nova adaptação dos Projectos-Tipo à moderna concepção pedagógica e construtiva, que foi aprovada pelo Ministro Rui Sanches em 17 de Maio de 1971 e os edifícios passaram-se a designar por Tipo Urbano3 e Tipo Rural 3 (Direcção Geral das Construções Escolares – DIP). As principais características de nova solução eram: • aumento de espaço das salas de aula (à custa de largura do átrio – 7,10X7,10 m; (mais 2,5 m2/sala), • criação de áreas de trabalho manuais (no prolongamento das salas de aulas, ocupando parte do recreio coberto). Dotava-se o espaço com ponto de água e esgotos, • remodelação dos blocos sanitários, com aumento do número de cabines e melhoria das condições de higiene, • equipamento das salas, com painéis de parede, para expor os trabalhos dos alunos e criação de arrecadação em cada sala para material didáctico-escolar, • construção, sobre a fachada posterior das escolas, de um pequeno recreio coberto. Deveria haver qualidade no tratamento da fachada posterior (poderia ficar voltada para um arruamento principal). Assim, por exemplo, num edifício do Tipo Rural 3 /1 sala, a sala será alargada ao átrio (adaptado à área de trabalhos manuais) e em comunicação com área de vestíbulo com acesso posterior e lavatório e em comunicação com uns arrumos e duas cabines de W.C. com sanita. Num edifício do Tipo Urbano 3 – 4 salas/1 sexo: • no piso 0: o átrio de entrada com corpo de escadas e arrumos (sob as escadas) ligará às duas salas, tendo acesso na sua parte posterior em comunicação com recreio coberto. As salas de aula prolongam-se por áreas de trabalhos manuais com bancadas com tina e com ponto de água e esgoto e comunicam com um arrumos. As instalações sanitárias, masculinas e femininas têm acesso pela área posterior do átrio de entrada e dispõem cada uma de uma cabine de professor (lavatório e sanita) e de alunos/as (3 sanitas e 2 lavatórios). • No piso 1: o átrio de escadas ligará às duas salas de aula, à semelhança do piso 0 Exemplo: Escola da Ribeirinha de Tavira . Tipo Rural 3 – 1 sala; Escola da Comenda – Évora – Tipo Urbano 3 – 4 salas. 52 Com as ampliações surgiram também necessidades várias solucionadas destacando-se nomeadamente a da construção de uma sala polivalenterefeitório com cozinha e arrumos anexos, articulada com o edifício existente, através de alpendre coberto (área posterior do edifício escolar existente). XII – As Cantinas Contexto Histórico-Social A Obra das Mães pela Educação Nacional, estava desde 1936, atribuída à missão de dispensar aos filhos dos pobres a assistência necessária para que possam cumprir a obrigação de frequentar a escola, designadamente, pela instituição de cantinas. Na realidade, o Estado Novo, nem sequer se responsabilizava pelos custos de financiamento das cantinas das Escolas Primárias. O estado construía alguns edifícios de cantinas mas, previamente, tinha de ser assegurada, em títulos de Crédito Público, uma renda vitalícia que cobrisse todas as despesas inerentes à sua futura actividade. O Capital necessário variava entre os 150 e os 250 contos, na época, quantia avultada, impossível de obter por colecta das populações e também ultrapassava a capacidade financeira das Câmaras Municipais. Só com doações ou legados de pessoas abastadas se tornava possível a sua viabilidade. Como exemplo apontam-se a Escola-Cantina José Rufino em Alijó e a Escola-Cantina Salazar em Vimieiro, Santa Camba Dão, mandadas projectar e construídas pela DGEMN, na década de 30. Em 1941, foi projectada a Cantina Escolar de Murça, Vila Real (arquitecto Fernandes de Sá), patrocinado, também, através da doação (oferta de 250 contos e todo o recheio para uma cantina pelo Senhor Américo Breia) em que foi sugerido pelo Director Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e posteriormente aceite pelo Ministro das Obras Públicas que a cantina se instalasse em edifício próprio, independentemente da escola (com a condição de que a Câmara Municipal comparticipasse com 50% do seu custo – 67.800$00). Este edifício independente era constituído por átrio em ligação com sala de lavabos e o refeitório, com lareira. Deste, através de ante-câmara tinha-se acesso ao quarto da economa, instalação sanitária (sanita e lavatório) e 53 cozinha, interligada à despensa. A cozinha tinha acesso de serviço através de átrio coberto de que se acedia também a uma casa da lenha. O projecto da Cantina de Murça veio a repetir-se, primeiro (com algumas alterações) em localidades do Norte e depois, com adaptações mais significativas noutras regiões do país. Evoluiu-se assim para uma execução de Projecto-Tipo, embora a construção de cantinas continuasse “fragmentária e hesitante”. Em Fevereiro de 1946, o Director Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, apresentou ao Ministro o projecto tipo do arq. Fernandes de Sá, que já se intitulava Cantinas Escolares – Edifícios Tipo. As dependências previstas no programa eram: • sala de jantar, lavabos, quarto da ecónoma, instalações sanitárias, despensa, cozinha e anexos (copa e lavagens) e carvoeira. Na construção eram aplicados os materiais próprios de cada região, devendo dimensionar-se cada Cantina para servir a população de 2 salas de aula (custo médio do edifício – 169 contos), ou de 4 salas (custo médio do edifício – 179 contos). Este projecto foi recusado pelo Ministro devido ao preço do custo, considerado excessivo, solicitando ao arquitecto que anulasse algumas dependências (quarto para ecónoma e lavabos e instalações sanitárias que já existiam nos conjuntos escolares). O projecto foi reformulado com o título de Projecto-Tipo para as Cantinas Escolares, tendo os orçamentos baixado (2 salas de aula 121.361$00 e 4 salas de aulas – 138.175$00) e, foi aprovado pelo Ministro Frederico Ulrich, por Despacho de 15 de Maio de 1946. Pouco tempo decorrido foram lançadas as empreitadas e começaram as obras das Cantinas de várias localidades de Trás-os-Montes, do Minho e do Douro. O Projecto-Tipo de cantina para a escola (Norte), englobava átrio exterior coberto, refeitório com lareira, área de lavabos, com entrada de serviço (em ligação com alpendre coberto) e em ligação com a cozinha e esta com a despensa. As áreas nomeadamente do refeitório aumentavam consoante a cantina integrasse escolas de 2,4 ou 6 salas de aula. Exemplo: Cantina da Escola de Anelha, Chaves ( 2 salas de aula) Cantina da Escola de Lalim, Lamego ( 4 salas de aula) Cantina da Escola da Quinta do Rego, Ovar ( 4 salas de aula) No sul do País, à semelhança do ocorrido no Norte, a partir do estudo da Cantina de Murça foi necessário um estudo dum edifício de traça condizente com os já construídos ( 2 escolas, de 4 salas, simples, Tipo Alentejo) que foi elaborado pela Direcção dos edifícios do Sul aproveitando as plantas do edifício 54 da cantina da Direcção dos Edifícios do norte e alterando os alçados de acordo com os referidos edifícios tipo. Este primeiro estudo não foi aprovado, tendo o Ministro encarregue o arq. Alberto de Sousa de proceder à organização do Projecto-Tipo para as cantinas do Alentejo e Algarve. O projecto foi aprovado em Abril de 1949, para as cantinas do Sul e também para a Estremadura, após o parecer final do arq. Raúl Lino. O Projecto-Tipo da cantina para 2 salas de aula (Sul), englobava átrio exterior coberto, refeitório com lareira, copa, cozinha, com ligação a átrio exterior coberto para acesso de serviço , despensa e arrumos. O custo considerado das cantinas para 2 salas de aulas foi de 59.700$00 e para 4 salas de 84.000$00. Exemplo: Cantina da Escola Beringel, Beja, 4 salas Cantina da Escola de S. Vicente, Elvas, 4 salas (1960) As carências da cantina acentuaram-se com o tempo e sobretudo nas escolas mais populosas, tendo a Secção do Sul da DGEMN estudado várias hipóteses de edifícios para cantinas de maior capacidade em Reguengos de Monsaraz, Setúbal e Portimão, tendo finalmente sido aprovado pelo Ministro, novo projecto de edifícios com dois refeitórios (Despacho de 7 de Setembro de 1950), orçamento em 145.600$00. Seria este Projecto-Tipo que a partir de 1951 se aplicou na construção das Cantinas para 8 salas de aulas, no distrito de Évora, Beja e Faro. O Projecto-Tipo de cantina com dois refeitórios englobava o átrio principal, dois refeitórios, copa e cozinha com despensa com acesso de serviço em ligação com alpendre posterior. Exemplo: Cantina Escolar com dois refeitórios – 8 salas – escola do Bairro dos Pobres, Elvas Mais tarde, em 1955, seria finalmente aceite que os refeitórios tivessem lavabos anexos (anulação do gabinete da direcção), tendo sido aprovada a implantação de uma porta em grelha de ferro, aligeirada, no átrio de entrada. Os alçados-tipo das cantinas adaptaram-se às especificidade regionais caso as cantinas do Algarve, em que a cobertura em telha foi substituída por terraço. Foram, ainda, projectados pela Secção do Sul – DGEMN . 1955, edifícios de cantinas para 8 salas com 1º andar. No rés-do-chão permaneceram os refeitórios e cozinha com despensa e no piso superior, localizaram-se um salão de festas, uma biblioteca, um museu escolar, um bufete e gabinete da direcção. Exemplo: Cantina Escolar para 8 salas de aula com 1º andar – Aljustrel 55 Os projectos finais das cantinas para as regiões do Centro e de Lisboa foram desenvolvidas pelas duas Secções a partir dos trabalhos anteriores do Norte e do Sul. Nos edifícios com um refeitório repetiram-se as plantas; nos edifícios com dois refeitórios as plantas tiveram alterações ligeiras, não se considerando o gabinete da direcção. Alguns elementos das fachadas adaptaram-se às imagens das escolas da região. Foi, ainda, previsto a construção de um bloco de sanitários e lavabos, a implantar junto das cantinas, com localização estudada caso a caso. Exemplo: Cantina Escolar para 2 salas, Tipo Estremadura – Escola de Famalicão, Nazaré Cantina Escolar para 4 salas, Tipo Ribatejo – Escola de Póvoa e Meadas, Castelo de Vide (1959). Estes edifícios eram constituídos por átrio, dois refeitórios com lavabos, cozinha com copa e despensa e bloco de instalações sanitárias. As Cantinas Escolares Até 1966 foram construindo cantinas segundo os Projectos-Tipo anteriores. Em Agosto de 1966, estando concluído um novo estudo para os edifícios das cantinas, com introdução de estrutura anti-sísmica alteraram-se, também, as fachadas de modo a tornar as cantinas condizentes com as novas escolas primárias. Procurou-se compensar o encarecimento do preço que a nova estrutura implicava com a supressão de cantarias e a simplificação das entradas. Conseguiram-se orçamentos que o Ministro Arantes de Oliveira aprovou e as novas cantinas foram construídas até 1979, anexas às Escolas Tipo Urbano e Tipo Rural. - Cantina Escolar para 2 salas de aula – Tipo Rural e Tipo Urbano Era constituída por átrio de entrada, refeitório com dois lavabos, cozinha com copa e dependência para combustível e acesso de serviço em comunicação com átrio coberto posterior com acesso a instalação sanitária (lavatório e sanita) e despensa. - Cantina Escolar para 4 salas de aula – Tipo Rural e Tipo Urbano Era constituída por átrio de entrada, refeitório com dois lavatórios, cozinha com copa e despensa e acesso de serviço em comunicação com átrio coberto posterior com acesso a instalação sanitária (lavatório e sanita). Existia, ainda, na área posterior com acesso pelo exterior um depósito de combustível. Exemplos: Cantina Escolar de Beringel, Beja 56 Cantina Escolar de S. Vicente, Elvas - Cantina Escolar para 8 salas de aula – Tipo Urbano (com estrutura anti-sísmica). Era constituída por átrio de entrada, dois refeitórios com 4 lavatórios cada e cozinha com copas, despensa e instalação sanitária (sanita e lavatório), com acesso de serviço. Exemplos: Cantina Escolar do Bairro dos Pobres, Elvas. Os projectos especiais para Escolas Primárias que foram construídas em Lisboa e Porto, e noutros centros urbanos, geralmente incluíam cantinas. Porém, nalguns casos, só depois de vários anos de funcionamento das escolas, com edifícios já envolvidos pela malha urbana, se atendeu à necessidade de haver cantinas. Das soluções possíveis, a mais fácil foi a construção de um bloco, implantado no logradouro do estabelecimento de ensino, à custa do recreio, ou do espaço verde. Noutros casos, não havendo sequer um pátio de dimensões razoáveis, foi forçoso que a cantina se localizasse para além dos limites da escola, na mais próxima nesga de terreno ainda disponível: associou-se, por vezes, a sua instalação à de outros equipamentos de utilidade cívica, ou social. Exemplos: Cantina Escolar, para 8 salas de aula em Vila Viçosa. A Secção do Sul construiu ainda edifícios de cantinas para 8 salas de aula, com o 1º andar (salão de festas, biblioteca, museu escolar e bufete) Exemplos: Cantina Escolar, para 8 salas de aula de Aljustrel. 57 XIII – As Casas dos Professores Contexto Histórico-Social Desde que houve escolas, foi uso o professor morar na proximidade de aula. Era a relação tradicional do artesão com a oficina, qualquer que fosse a sua arte, ou o seu ofício. Situações houve em que os espaços de ensino e de habitação não eram sequer distintos., como terá acontecido nas casas para morada e aula, que os Mestres de ler, escrever e contar, alugaram por determinação do Marquês de Pombal, aconteceu ainda, até princípios do século XX, com muitas Escolas Régias Femininas, em que a leitura e a escrita eram ensinadas na sala de costura da Mestra. Em 1866, na sequência do Testamento do Conde de Ferreira, a construção de escolas foi pela primeira vez em Portugal, regulamentada pelo Governo. Sobre a residência dos professores considerava-se: No Projecto das Escolas Conde de Ferreira, a residência foi tratada como um espaço contíguo à aula. Situava-se discretamente, nas traseiras do edifício; constava de cozinha, sala, gabinete de trabalho e dois quartos; desenvolvia-se em r/c e 1º andar; aproveitando toda a altura do edifício (pé direito da sala de aula, acrescido do entre forro). Nalguns casos, depois de instalado o professor e a família, veio a construir-se, no pátio da escola, um forno de cozer pão, e um abrigo para lenha e selhas da roupa. Exemplo: Residência de Professores no Montijo Quando em 1898, a Direcção Geral de Instrução Pública abriu concurso para apresentação de projectos de edifícios destinados a escolas de instrução primária, o programa preliminar exigia que os edifícios compreendessem casa para habitação do professor; ou do professor e seu ajudante, ou do professor, da professora e dos seus ajudantes. Por omissão do programa, seriam os projectistas a definir os espaços e as exigências funcionais das habitações. Adães Bermudes, nas soluções que apresentou, deu às moradias um tratamento que traduzia grande valorização do professor primário, inequívoco reconhecimento da importância social da sua missão. Exemplo: Residência de Professor em Alijó O Regulamento do Ensino Primário, publicado em 1902 pelo Governo de Hintze Ribeiro, determinava que, após a Direcção geral de Instrução Pública e o Conselho Superior de Instrução Pública terem aprovado a 58 criação de uma escola, o provimento da mesma ficava dependente da efectiva aquisição da casa, mobília, utensílios e habitação para o professor. Nesse mesmo ano, construíram-se os primeiros edifícios Adães Bermudes, mas muitas escolas continuaram a funcionar em instalações adaptadas, morando os professores em casa que as Câmaras Municipais, ou as Juntas de Freguesia, providenciavam. As condições de higiene e de conforte eram muito variáveis: se, em alguns casos, as moradias, tal como as escolas, eram pardieiros, noutros tratava-se de residências bem conservadas, por vezes bastante dignas, que ao longo de várias décadas continuaram a ser habitadas pelos professores. Contexto Histórico-Social * Quando se projectaram os edifícios Tipo de Repartição das Construções Escolares ( de 1920 a 1929), o programa dos espaços seguido para as moradias foi das Normas Técnicas, Higiénicas e Pedagógicas... aprovadas em 1917. Porém, só em poucos projectos se previa habitação e não chegou a ter significado o número de casas para professores que foram construídas. * Na década de 30 acentuou-se a tendência de reduzir a escola a pouco mais do que a sala de aula. Era uma medida forçada de economia, própria de uma época em que Duarte Pacheco, ao gerir dotações anuais muito restritas, insistia que o custo total do edifício não podia ultrapassar os 20.000$00 por sala de aula, recusando aprovar orçamentos que excedessem esse valor. No entanto, em 1932, o Arq. Guilherme Rebello de Andrade elaboraria o Projecto-Tipo de um bloco de habitação para professores, que poderia ser implantado um qualquer terreno disponível, próximo de escolas já existentes, ou em construção. Identificado como Projecto n.º 91, o bloco era constituído por duas moradias geminadas, de r/c e de 1º andar; importava, a preços de 1933, em 74.932$63. Poderia ter sido uma solução fácil de executar, para o alojamento dos professores no lugar da sede da escola como eram obrigados, desde 1929, pelo Regulamento de Disciplina Escolar, e como a Direcção Geral do Ensino Primário insistia que fosse rigorosamente cumprido. 59 Contexto Histórico-Social * As dificuldades acentuavam-se com o crescente número de edifícios escolares que se construíam isoladamente, em locais com maus acessos e onde, normalmente, eram colocados professores em princípio de carreira, na maioria do sexo feminino. * O assunto veio a constar do Capítulo VI (Bases XIX a XXII) da Lei n.º 2107, de 5 de Abril de 1961, ficando o MOP, autorizado a comparticipar na construção promovida pelas autarquias ou pelos organismos corporativos, de casa destinadas aos professores do ensino primário. * O fracasso da experiência ficou registado numa folha de “movimentos” em que, de 30 de Janeiro de 1963 a 5 de Março de 1969, a Secção de Contabilidade, da DOCEP, registou todos os subsídios concedidos, de que beneficiaram 5 concelhos, e que totalizaram 180 contos. Em Junho de 1969, preparando-se a aplicação de um “Plano Suplementar” do III Plano de Fomento, o Governo decidiu que o Estado passaria a suportar integralmente os encargos com a construção de casas para os professores primários, competindo-lhes não só a execução das obras, como o fornecimento do mobiliário essencial. O MOP lançaria as empreitadas da construção, de raiz, ou de adaptação a residência dos edifícios escolares abatidos ao serviço de ensino, desde que ofereçam condições satisfatórias. Ficava, ainda, estipulado que as moradias seriam integradas no património das Câmaras Municipais, que teriam a responsabilidade da sua conservação, bem como do tratamento dos logradouros. Para a execução, na prática, das medidas tomadas pelo Decreto Lei n.º 49070, foi preciso, por um lado, que o Ministério da Educação organizasse as listas dos núcleos escolares carenciados de habitação para os professores; por outro lado, no âmbito do Ministério das Obras Públicas, foi necessário vistoriar os edifícios susceptíveis de serem convertidos em residências e de elaborar os projectos, tanto para as adaptações, como para as obras novas. Contexto Histórico-Social * Decorria a época em que Marcello Caetano criara a expectativa de mudanças no estilo da administração do país, a que os Serviços Públicos deveriam corresponder demonstrando rapidez e eficiência na execução das suas tarefas. Assim, ainda em 1969, a Direcção Geral do Ensino primário enviou à recém criada Direcção Geral das Construções Escolares os mapas com a indicação por concelhos do número de residências para professores que as Direcções Escolares consideravam de maior urgência. 60 Foi apurada uma relação de 2 806 residências mais necessárias, para a manutenção em funcionamento das escolas. A fase de estabelecimentos da rede de moradias a construir foi-se prolongando ao longo do ano de 1970. Decidiu-se que rapidamente, a DIP concluiria um Projecto-Tipo de habitação para professores, e que as obras das primeiras casas começariam, logo no início de 1973. O responsável pelo trabalho foi o Arq. José dos Santos, da Divisão de Estudos e projectos, que estudou duas soluções; habitação simples – 1 fogo e habitações geminadas – 2 fogos – os acabamentos das fachadas seriam de granito e de tijolo. A habitação era constituída por alpendre coberto, sala de jantar e de estar, três quartos, instalações sanitárias e cozinha com despensa e acesso de serviço. Até 1978, foram-se lançando as empreitadas para a construção de casas dos professores. O preço de cada fogo, incluindo algumas peças indispensáveis de mobiliário (ver Anexo VI.1), variou dos 212 000$00 (Jungeiros, Aljustrel, adjudicado em 1973), a 983 172$00 (Campinho, Reguengos de Monsaraz, adjudicado em 1978). Na totalidade construíramse de raiz 36 fogos (28 moradias de 1 fogo e 2 de 4 fogos) distribuídas por 19 concelhos do Continente. Adaptaram-se a moradias 3 edifícios de escolas desactivadas. Exemplo: Moradia para Professores Primários – 1 fogo – Tijolo – Orada, Borba Moradia para Professores Primários – 1 fogo – Tijolo – Venda, Alandroal. 61 XIV - Dos Edifícios às Escolas De acordo com a metodologia adoptada no decorrer da execução do Plano dos Centenários, ao aproximar-se o termo das empreitadas da construção civil, competia à DOCEP ( e posteriormente à DGCE), lançar as Obras Complementares, abrangendo arranjos exteriores, abastecimento de águas e ligação de esgotos. A Delegação era também responsável pelo fornecimento de mobiliário e atenderia alguns requisitos de conforto. Asseguradas as condições mínimas de habitabilidade e funcionamento, assinava-se o Auto de Entrega do Edifício Escolar à Câmara Municipal. 1. – Obras Complementares – Arranjos Exteriores Como regra elementar de higiene, deveria haver água potável e sistema de esgotos em todos os locais de frequência colectiva, como as escolas. Contexto Histórico-Social No passado, esta questão não terá sido relevante mas, em meados do século XX, ao cumprir-se o Plano dos Centenários, não poderia ignorar-se. Na época, em Portugal, as redes públicas de água e esgotos eram privilégio de alguns meios urbanos. Apesar das constantes preocupações em reduzir os custos dos edifícios, teve de admitir-se, para quase todas as escolas, despesas adicionais com a captação de água (abertura de poços, construção de cisterna ou aproveitamento de nascente), e com um sistema colector de esgotos (execução de uma fossa e poço absorvente). A estes trabalhos associavamse as terraplanagens e a vedação dos logradouros, orçamentado-se uma empreitada de Obras Complementares, com o prazo de execução de 30 dias, que geralmente era entregue ao construtor que já edificara a escola. Numa época em que era raro as escolas serem perturbadas por casos de roubo, e de vandalismo, a vedação dos logradouros correspondia, sobretudo, ao costume de demarcar a propriedade. Assim, contornaram-se os recintos escolares com elementos pouco agressivos (murros baixos, taludes, sebes vivas), em que se intercalava em pequeno portão. 62 Mas, tratando-se de facetas bem visíveis de “melhoramentos” de que o Estado Novo tanto se orgulhava, procurou-se, na maioria dos casos, que as cercas tivessem boa aparência. Elaborou-se mesmo um Projecto de Vedação-Tipo para os Edifícios Escolares do Plano dos Centenários que serviu de base a outras soluções, sendo aplicado pelas Secções de Lisboa e do Sul. Nas regiões do Centro e do Norte, bem como nas Ilhas, onde os terrenos são muito desnivelados, construíram-se sobretudo muros de suporte em alvenaria rústica, ou rebocada, a que se associava a plantação de arbustos. Evitava-se, assim, que futuros movimentos de terras provocassem desabamentos. O arranjo e a utilização dos logradouros dependia, caso a caso, de empenhamento dos professores e do contributo das Câmaras Municipais. Na cidade, por vezes, a autarquia mandava ajardinar a zona contígua à frontaria dos edifício, mas a tendência mais seguida era cimentar, ou lajear toda a área exterior transformando-a num átrio incaracterístico mas fácil de varrer, ou de lavar a jactos de mangueira. O aspecto destes logradouros modificou-se, sobretudo ao longo dos últimos 20 anos. Havendo crianças a frequentar as escolas, as Juntas de Freguesia e as Câmaras Municipais de quase todo o País cuidam dos recintos. Por empenhamento das vereações, ou pressão da opinião pública, além de se tentar, por todos os meios, proteger de assaltos as instalações escolares, fazem-se obras de conservação periódica e executam-se regularmente tarefas de limpeza e jardinagem de cisternas e fossas; muitas foram mesmo eliminadas, para evitar acidentes com as crianças. Nem todas as alterações desejáveis são possíveis de aplicar em pátios antigos, mas novos equipamentos, alguns cuidados com o tratamento das zonas verdes e muita criatividade têm sido decisivos para melhorar a qualidade do espaço exterior das escolas. 2.– A sala de Aula - Material Didáctico e Mobiliário De acordo com os padrões actuais, os interiores das Escolas dos Centenários são seriam confortáveis, nem particularmente acolhedores. Na verdade, dispunham de um espaço construído de novo, destinado a acomodar 48 crianças, o que era possível desde que não fossem muito irrequietas; a situação tornava-se difícil quando se superlotava a sala, o que acontecia frequentemente. Os alunos da última fila de carteiras ficavam a cerca de 8 m do quadro, não conseguindo ver o que nele se escrevia, mesmo que fosse normal o seu alcance de visão. Levantarem-se para ver de perto, perturbava o resto da classe; ficar desatento era a consequência provável, Fazer-se ouvir em toda a sala, obrigava o professor a um esforço vocal constante; descer do estrado e falar, circulando entre os alunos, era uma solução que o excesso de carteiras dificultava. 63 De acordo com o projecto inicial, os edifícios do Plano dos Centenários eram dotados com lareiras, em todas as salas. Mais nem sempre as chaminés tiveram boa tiragem e nem sempre se conseguiu lenha suficiente para as acender, diariamente. Tendo sido eliminadas as lareiras, as escolas passaram a ser construídas sem sistema de aquecimento, o que, nalgumas regiões, significativa um desconforto extremo, durante a maior parte do ano. Em Fevereiro de 1957, a Secção do Centro apresentou o estudo de implantação, na sala de aula, de um modelo de salamandra existente no mercado, cujo funcionamento era considerado fácil e económico. Previa-se um custo por unidade, acrescido de assentamento, de 11.170$00. O Ministro Arantes e Oliveira aprovou esta solução para o aquecimento de vários dos edifícios em construção (Despacho de 6 de Março de 1957). Passou então a DOCEP a adquirir e a instalar salamandras em algumas salas das zonas mais frias. Posteriormente teve de admitir-se que, nem quase todos os concelhos do Continente, havia escolas primárias em que as crianças se queixavam do frio, durante os meses de Inverno. Assim, no início dos anos 60, os trabalhos de assentamento de salamandras passaram a estar incluídos nos cadernos de encargos da construção civil dos edifícios. Para as escolas já a funcionar que não dispunham de aquecimento, foi aberto concurso de fornecimento de 1000 salamandras, adjudicado por 1.551.165$00, e cuja colocação se fez em Dezembro de 1963 a Março de 1967. Na época da chuva e do frio nãos e podia arejar a sala, durante a aula, visto as janelas abrirem ao nível das carteiras. O problema veio a resolver-se tornando basculantes algumas das bandeiras fixas. Mas, além de uma sala com as condições pedagógicas essenciais, os professores iam encontrar nos novos edifícios algum material escolar, cuja lista não era muito longa e que tinha duas proveniências principais: • O Ministério da Educação nacional – DGEP – que escolhia e comprava o Material Didáctico • O Ministério das Obras Públicas – DOCEP – que lançava os concursos de fornecimento de Mobiliário e fiscalizava as respectivas entregas. O material didáctico de cada sala de aula era distribuído através das Direcções Escolares. Nem sempre era novo, nem os conjuntos estavam completos; provinham em muitos casos de lotes desirmanados recolhidos em várias escolas, ou tratava-se de objectos pessoais doados por professores aposentados. Reconhecendo a permanente falta de equipamento, o Boletim Escola Portuguesa publicava muitas sugestões para que os professores e alunos construíssem objectos úteis à sala de aula a partir de desperdícios, ou de materiais económicos. 64 O fornecimento do mobiliário escolar foi orientado segundo parâmetros mais rigorosos que os do material didáctico. Globalmente, era muito elevado o número de peças a adquirir para as Escolas dos Centenários, mas considerou-se que todas as mobílias teriam de ser novas e construídas segundo modelos ajustados à compleição física dos alunos, facilitando-lhes posturas correctas. Na década de 1930, começaram a notar-se, em Portugal, o interesse pelo estudo do mobiliário escolar. O Eng.º Espregueira Mendes, da DEN, desenhara algumas peças a executar para as Escolas Alfredo de Magalhães. O escultor Tavela de Sousa, da Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário, desenvolvia o trabalho regular de estudo e projecto para todo o mobiliário dos Liceus e Escolas Técnicas. O Dr. Almiro do Vale, médico na região de Tondela e membro do Instituto da Universidade de Coimbra, publicou um estudo sobre o assunto, resumindo as deficiências que observava no mobiliário então existente. Para tornar o mobiliário adequado aos alunos portugueses, indicou algumas bases anátomo-fisiológicas e preconizou alguns tipos de arquitectura de carteira escolar, dimensionadas de acordo com as estaturas possíveis em crianças duma escola primária. Contexto Histórico-Social O modelo baseado neste estudo (desenhado pelo Eng.º Almiro de Figueiredo), teve parecer favorável da Direcção Geral de Saúde Escolar, e o Ministro da Educação Nacional, por Despacho de 12 de Maio de 1937, autorizou que fosse comercializado: “Sem carácter de exclusivismo, autorizo a sua aquisição pelas Câmaras Municipais que deliberarem fazê-lo”. Em 1941, os técnicos das Repartições de Estudos e de Obras da DGEMN foram do parecer que se deveria estudar uma linha de mobiliário escolar-tipo agradável e económico para depois ser executado em colaboração com as Câmaras Municipais. Com a concordância do Ministro das Obras Públicas, os Serviços do Norte organizaram em estudo referente às peças base a executar em madeira de pinho cerne. O autor do trabalho foi o Arq. Alberto Silva Bessa da Direcção dos Monumentos Nacionais do Norte. A JCETS foi consultada e enviou ao Director Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais os desenhos da carteira adoptada para os liceus, bem como a documentação técnica específica, em que se baseara a concepção do mobiliário que mandava executar, em unidades industriais do Norte do país. A Direcção Geral dos Desportos e Saúde Escolar nomeou o Dr. Daniel Sttau Monteiro, Médico-Inspector, para colaborar com a DOCEP na recolha de elementos necessários à definição de um tipo conveniente de mobiliário para as escolas. 65 A Direcção dos Edifícios do Norte, tendo prontas 48 escolas nos distritos de Braga, Porto e Viana do Alentejo, pôs a concurso o fornecimento do mobiliário, sendo o modelo as peças do Projecto-Tipo estudado pelo Arq. Silva Bessa. O contrato, no valor de 289 784$00, foi assinado a 18 de Abril de 1944. Também a Direcção dos Edifícios do Centro, que concluíra 25 escolas, nos distritos de Coimbra, Aveiro e Leiria, adquiriu mobiliário do mesmo modelo: contrato no valor de 214 948$00, assinado a 30 de Junho de 1944. Tendo-se resolvido a questão dos projectos a aplicar nos novos edifícios, anunciou-se que se iria cumprir a I Fase do Plano dos Centenários (Maio de 1944), o que significava mais 1 250 salas de aula a mobilar. Com autorização do Ministro das Obras Públicas, de 2 de Novembro de 1946, lançou-se o primeiro grande Fornecimento de 500 mobílias completas para equipamento de edifícios escolares construídos ao abrigo do Plano dos Centenários. Com o decorrer das entregas assinalaram-se desvantagens na aquisição de tantas peças (cerca de 46 500 unidades) a um único fornecedor e foram notórias as dificuldades em transportar todos os lotes, por caminho-de-ferro, de uma mesma proveniência (concelho de Paços de Ferreira), para localidades de todas as outras regiões do Continente. Posteriormente optou-se pela abertura de concursos limitados convidando-se fornecedores, zona a zona, para equipar pequenos conjuntos de escolas da região. Em 1956, num concurso para fornecimento de 5 mobílias a escolas do distrito de Portalegre, por falta de alternativa, a DOCEP teve de propor superiormente a adjudicação de mobiliário metálico. O Ministro Arantes e Oliveira autorizou, a título de experiência. A partir deste fornecimento passou a admitir-se maior diversidade nas aquisições, embora a DOCEP continuasse a manter o controle da qualidade. A carteira rígida, de dois lugares, alinhada com outras 23 carteiras semelhantes, continuaria a ser a peça mais importante das salas de ensino primário oficial, até meados da década de 1960. Contexto Histórico-Social Na década de 1960, a pedagogia e o mobiliário para o ensino, noutros países, passavam por uma grande evolução. O Engº Artur Eduardo de Macedo Gonçalves, técnico da DOCEP, que em Inglaterra (1961) fizera um estágio sobre Construções Escolares para o Ensino Primário, observava salas de aula a funcionar em moldes modernos, estando em uso novos tipos de mobiliário. A realidade nas escolas portuguesas ficava a grande distância das condições higiénicas e pedagógicas comuns em Inglaterra; nas questões de ensino, como em muitas outras, mantinha-se entre nós forte resistência a qualquer tentativa de alterar as situações. 66 Nova Linha de Mobiliário Logo, em 1963, o Eng.º Macedo Gonçalves apresentou para apreciação do Ministro das Obras Públicas, um estudo muito completo duma nova linha de mobiliário. Segundo o autor, a substituição, ainda que a título experimental, do antigo mobiliário para o Ensino Primário fundamentava-se: ”Por muito bem estudadas que sejam as dimensões de banco e da mesa, é sempre muito difícil ligá-los entre si por forma a que se ajustem perfeitamente às medidas do aluno. Considera-se preferível ser este ou o professor que realize o ajustamento.”. O mobiliário constituído por cadeiras e mesas separadas é muito fácil de arrumar, especialmente quando é desenhado tendo em vista essa possibilidade. Torna-se, deste modo, viável, ao professor, criar dentro da sala de aula, espaços livres onde pode organizar jogos, danças ou agrupamentos corais. • permite, este tipo de mobiliário, reunir, de formas variadas, diversas mesas, agrupando os alunos de modo mais destacado para a atenção do professor; o que é de grande utilidade quando uma sala de aula se reúne várias classes, • Esta disposição tirou ao ambiente da sala o aspecto rígido e um tanto monótono que o caracterizava, • Se torna mais fácil a limpeza da sala. O estudo baseava-se na coordenação da postura dos alunos, durante as aulas, e de dados antropométricos de crianças portuguesas. Considerava-se indicativo de boa postura a combinação de seis pontos: • pés bem assentes no pavimento, • ausência de pressão entre o assento e a face inferior da coxa, • folga entre a perna e a face inferior da mesa, • cotovelo ao nível do tampo da mesa ou ligeiramente abaixo, • costas em contacto com o espaldar da cadeira na região lombar, abaixo das espáduas, • folga entre a face posterior da perna e o topo do assento. Quando ao dimensionamento das peças foi seguido um critério de escalonamento baseado na estatura dos alunos: quatro escalões, abrangendo crianças dos 7 aos 12 anos. A composição do mobiliário, por sala de aula, seria: • 20 mesas duplas para os alunos, • 40 cadeiras individuais para os alunos 67 • • • 1 mesa-secretária para o professor, 1 cadeira para o professor, 1 armário-estante, • • • 1 quadro negro, 40 unidades cacifo-cabide, 3 estores. O orçamento, obtido junto de uma firma construtora era de 10.900$00 para a totalidade das peças. No estudo do Eng. Macedo Gonçalves, foram também modificadas a cadeira e a mesa do professor, justificando-se as alterações introduzidas: ”... procuramos tirar, ao modelo anterior, não só o carácter de mera escrivaninha, mas também torná-lo mais útil, dando-lhe a possibilidade de acomodar, embora transitoriamente, alguns livros e trabalhos dos alunos ou, até, uma simples jarra de flores.” A segunda alteração teve como objectivo tornar o móvel mais cómodo, por sabermos como se torna fatigante a escrita em mesas que obrigam a uma posição demasiado erguida do ante braço. A previsão de 20 mesas duplas e 40 cadeiras para os alunos duma sala de aula era explicada pelo autor do trabalho: “o número de lugares da solução que se propõe é justificado pelo conhecimento que temos do número de alunos com que, normalmente, funcionam as salas de aula.” Na realidade o Ministério da Educação Nacional considera como razão bastante para a criação de um lugar de professor a existência de 35 crianças em idade escolar. Havendo menos crianças por sala, sendo as mesas e cadeiras mais fáceis de deslocar, poder-se-ia ensaiar uma ruptura com o arranjo formal da aula. Não deixou o Eng.º Macedo Gonçalves de sugerir uma solução de flexibilidade que, para a época, em Portugal, era uma antecipação aos métodos de ensino em vigor. A Comissão para a Aquisição de Mobiliário, do MOP, analisou os estudos de mobiliário e deu parecer favorável, considerando-os optimamente elaborados (1964),. A 4 de Março, o Ministro Arantes e Oliveira homologou o Parecer da Comissão e, sobre o Estudo, despachou: “Visto, com muito apreço pelo valor do trabalho e recomendando vivamente que se não abandone o estudo destes importantes problemas,” Depois de observado o comportamento do protótipo, o novo mobiliário passou a ser entregue nas escolas primárias dos tipos Rural e Urbano que iam sendo construídas. Porém, a sua disposição na sala continuaria a ser a tradicional. Mas, uma nova pedagogia viria a impor-se, reconhecendo-se aos alunos o direito ao trabalho de grupo, e à mobilidade no seu espaço de ensino. Às salas dos Tipos Rural 3 e Urbano 3 projectadas no início da década de 68 1970, eram já uma resposta à nova dinâmica do ensino primário; tornaram-se então evidentes as vantagens da utilização do mobiliário estudado alguns anos antes. Referências Bibliográficas . Departamento de Gestão de Recursos Educativos, (1996). Muitos Anos de Escolas – Ensino Primário – Anos 40/Anos 70, M.E., Vol. II . Direcção Geral de Administração Escolar, (1990). Muitos Anos de Escolas – Ensino Primário – 1941, M.E., Vol. I . Direcção Geral das Construções Escolares, (1975). Custo de Edificação e Equipamento de Edifícios Escolares para o Ensino Primário – Plano dos Centenários e suas variantes, M.E.S.A., GEP, Anexo IV . Direcção Geral dos Equipamentos Escolares, (1987). Muitos Anos de Escolas – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário até 1941, M.E.C., Vol. I . Imprensa Nacional de Lisboa, (1943). Mapa Definitivo das Obras de Escolas Primárias – Plano dos Centenários 69 Anexos A - Açores e Madeira (Plano dos Centenários) 1 – Escolas dos Açores Em 1941, quando foi publicado o Plano dos Centenários, os Açores viviam sob a ameaça de envolvimento directo na II Guerra Mundial. Segundo o Plano dos Centenários, seriam construídas nos Açores, 287 escolas primárias (548 salas). EM 1943, estavam prontos os novos projectos para as escolas primárias do Continente, em Maio de 1944, foi anunciada a I Fase da construção, notificando-se que, nos Açores, se iniciariam as obras de 17 edifícios ( 42 salas), distribuídas por seis ilhas. Houve, entretanto, várias dificuldades a resolver: a escolha dos terrenos, a área mínima para os lotes (era impossível respeitar o número de 2000 m2) e também muito difícil conseguir frentes bem orientadas e com mais de 30 metros já que os núcleos urbanos eram muito densos e as áreas rurais muito repartidas. No verão de 1944 foi decidido adoptar para os Açores, o Tipo Estremadura, da autoria do Arq. Moreira dos Santos. No entanto, as influências das construções tradicionais e as condições do clima nomeadamente, levaram a que em 1945, o Arq. Luiz de Mello estudasse uma adaptação do projecto aos Açores, ajustando alguns detalhes, nas plantas e introduzindo, nas fachadas, elementos característicos como cantarias em basalto e “janelas de vidrinhos”. Foi, assim, criado o projecto Tipo Açores. Em 1945, deu-se o lançamento das empreitadas da II Fase (27 edifícios – 55 salas) que se adicionaram aso da I Fase. Projectos aprovados em 1945 – Arq. Luiz de Mello Tipo Açores: 1 sala, 2 salas/1 sexo, 2 sals/2 sexos, 3 salas, 4 sals/1 sexo e 4 salas/2 sexos. Exemplo: Escola do Bom Jesus , Santa Cruz da Graciosa – Ilha da Graciosa ( 1 sala) Escola da Camada Longa, Santa Cruz da Graciosa – Ilha da Graciosa ( 2 salas/2 sexos) Escola da Ribeirinha, Angra do heroísmo – Ilha da Terceira (3 salas) 70 Escola de Vale de Limbares, Angra do Heroísmo – Ilha da Terceira (4 slas/2 sexos) Escola de Porto Formosa, Ribeira Grande – Ilha de S. Miguel ( 4 salas/ 1 sexo). O primeiro grupo de 10 edifícios (27 salas) todos localizados na Ilha de S. Miguel foi dado como pronto em 1950, tendo importado 2.000.815$55. Como aconteceu no Continente, de empreitada para empreitada, foi havendo alterações à construção inicial como, por exemplo, a substituição da telha do tipo “Ribeira Grande” por outra, menos porosa e mais resistente; a pavimentação dos recreios de betonilha, para que os ventos levantassem a poeira; a abertura de fretas para circulação de ar e entrada de luz e, medida de extrema importância, a introdução de cintas anti-sísmicas. 2 - Escolas da Madeira Logo na I Fase do Plano dos Centenários foram anunciados 19 edifícios (61 salas) para os concelhos da Calheta, Funchal, Porta do Sol, Porto Moniz, Santana e Ribeira Brava. - Repetiram-se, porém, as dificuldades que no Continente e nos Açores atrasaram o lançamento das obras. - As primeiras escolas do Plano dos Centenários ( 8 edifícios – 31 salas), importaram em 2.327.297$14; foram todas construídas no concelho do Funchal e ficaram prontas a funcionar na década de 50. Destaca-se a Escola Masculina da Rua dos Ilhéus, promovida pela Câmara Municipal do Funchal, segundo projecto elaborado em 1936, pela sua Repartição Técnica. - Das restantes escolas da empreitada, seis localizaram-se no perímetro da cidade e uma no núcleo do Leiramento, freguesia de Nossa senhora do Norte. - Em todos estes casos, bem como nas empreitadas que se seguiram, construíram-se edifícios Tipo Arquipélago da Madeira, cuja base era a planta aprovada para o Continente, com arranjo das fachadas, segundo estudo do Arquitecto Fernando Peres. No Tipo Arquipélago da Madeira, a lareira manteve-se em projecto. - 71 B - Notas bibliográficas de Arnaldo Redondo Adães Bermudes Nasceu no Porto, a 29 de Setembro de 1863, tendo falecido aos 83 anos de idade (1947). Cursou a Academia Portuense de Belas Artes e em 1886 foi enviado ao estrangeiro, por subscrição dos comerciantes do Porto, tendo frequentado, ao longo de cinco anos, a Escola Nacional de Belas Artes de Paris. Em 1899 foi nomeado Director das Construções Escolares. Ganhou vários concursos de projectos de arquitectura, onde se destaca o Prémio Valmor, em 1910, (concedido anualmente pela Câmara Municipal de Lisboa, ao autor do mais belo prédio construído na capital), referente à Tapada da Ajuda (instituto Superior de Agronomia). Ganhou o 1º prémio, no ano de 1913 pelo projecto da Escola Normal de Lisboa (Benfica). Adães Bermudes foi um cidadão de ideais republicanos. Foi Presidente interino da Câmara Municipal de Lisboa em 1918 a 1919. Foi responsável por vários projectos de Escolas e também de edifícios públicos. C – Notas bibliográficas de Raúl Lino Nasceu em Lisboa, em 21 de Novembro de 1879 e faleceu no ano de 1974. Fez o Curso de arquitectura em Hannover. Estudou os estilos portugueses de várias épocas e elaborou projectos para casas de habitação. Projectou os primeiros edifícios dos Jardins-escola João de Deus, o primeiro inaugurado em Coimbra, no ano de 1911. Autor de um livro, redigido em 1916 sobre “Considerações sobre a Estética nas Escolas”, onde defendeu a qualidade funcional e a estética para os edifícios escolares e seu mobiliário. No ano de 1934, trabalhou na Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Em 1935 exercia a sua profissão liberal e elaborar projectos tipo regionalizados para as escolas primárias a construir no Algarve, Alentejo, Ribatejo e Estremadura. 72 Foi Director dos Serviços dos Monumentos Nacionais, desde Fevereiro de 1949 até completar os 70 anos de idade. O seu nome atingiu grande prestígio e ficou ligado a vários projectos de relevo em Portugal. D – Notas bibliográficas de Rogério dos Santos Azevedo Nasceu no Porto, a 25 de Junho de 1898 e faleceu em Setembro de 1983. Fez o Curso de Arquitectura Civil na Escola de Belas Artes do Porto, em 1992. No princípio da década de 30 executou muitos projectos para escolas infantis, Creches, escolas primárias e escolas-cantinas. Elaborou projectos regionalizados para edifícios tipo de escolas primárias a construir em vários distritos do norte de Portugal. Trabalhou para a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, tendo projectado diversas escolas. Foi professor da Escola Superior de Belas Artes do Porto, entre 1941 e 1960. Foi sócio fundador e presidente do Sindicato Nacional dos Arquitectos. Foi autor de projectos de vários edifícios importantes na cidade do Porto. 73 E – Índice de tipologias de edifícios CF – Conde Ferreira AB – Adães Bermudes PR – Projecto da República PE – Projecto Especial (República) PA – Projectos Antigos ( Repartição das Construções Escolares e Doutor Alfredo Magalhães – D.G.E.M.N.) RL – Raúl Lino C – Centenários CU – Centenário Urbano (Sub-Tipos 1, 2 e 3) CR – Centenário Rural (Sub-Tipos 1, 2 e 3) P3 – Projecto Tipo P3 Pa - Projecto Autor PI – Projecto Indefinido 74