PROGRAMA EQ-ANP Processamento, Gestão e Meio Ambiente na Indústria do Petróleo e Gás Proposição de Análise Comparativa no Parque de Refino Brasileiro Márcio do Nascimento Magalhães Tese de Mestrado Orientadores Prof. Peter Rudolf Seidl, Ph.D. Prof. José Vitor Bomtempo Martins, D.Sc. Novembro de 2002 PROPOSIÇÃO DE ANÁLISE COMPARATIVA NO PARQUE DE REFINO BRASILEIRO MÁRCIO DO NASCIMENTO MAGALHÃES TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE PÓSGRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA DE PROCESSOS QUÍMICOS E BIOQUÍMICOS DA ESCOLA DE QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DE GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA QUÍMICA. Aprovada por: Prof. Peter Rudolf Seidl, Ph.D. (DPO/EQ – U.F.R.J) Presidente da Banca (Orientador) Prof. José Vitor Bomtempo Martins, D.Sc. (DEQ/EQ – U.F.R.J) (Co-Orientador) Profª. Adelaide Maria de Souza Antunes, D.Sc. (DPO/EQ – U.F.R.J) Prof°. Edmar Luiz Fagundes de Almeida, D.Sc. (IE – U.F.R.J) Dr. Ernani Teixeira Torres Filho, D.Sc. (ANP/IE – U.F.R.J) RIO DE JANEIRO, RJ — BRASIL NOVEMBRO DE 2002 ii FICHA CATALOGRÁFICA Magalhães, Márcio do Nascimento Proposição de Análise Comparativa no Parque de Refino Brasileiro/ Márcio do Nascimento Magalhães. Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola de Química, 2002. xviii, 141p.; il., graf., tab. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química, 2002. 1. Indústria de Petróleo – Tese. 2. Refino. 3. Análise da Indústria – Tese. I. Titulo. II. Tese (Mestr. – UFRJ/Escola de Química) iii Aos meus pais iv “Nunca andes apenas pelos caminhos traçados, pois eles conduzem somente até onde os outros foram”. Alexander Graham Bell v AGRADECIMENTOS À AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, ANP – pela bolsa de estudos, oportunidade de participar do programa PRH 13 (EQ– ANP), custeio da participação em congressos nacionais e patrocínio da viagem de campo (University of Oklahoma, Norman, OK, U.S.A); À ESCOLA DE QUIMICA da U.F.R.J., seu Corpo Docente e Diretorias (Adelaide M. Antunes, D.Sc., Carlos Augusto G. Perlingeiro, D.Sc. e Belkis Valdman, Ph.D.) – pelo convívio enquanto aluno desta instituição (1996 – 2002); AO PROF. PETER RUDOLF SEIDL, Ph.D. (EQ – U.F.R.J) – pela oportunidade de desenvolver este trabalho, assim como pelo incentivo, apoio, amizade e reconhecimento durante minha vida acadêmica; AO PROF. JOSÉ VITOR BOMTEMPO, D.Sc. (EQ – U.F.R.J) – pela amizade, incentivo e oportunidade de desenvolver um trabalho na área de Gestão e Inovação Tecnológica; AO PROF. ARIKERNE RODRIGUES SUCUPIRA, D.Sc. (EQ – U.F.R.J) † – pelo incentivo e amizade durante nosso convívio na EQ. Que Deus o tenha. AO PROF. GORDON ATKINSON, Ph.D. (Chemistry Department, University of Oklahoma, Norman, OK, U.S.A) – pela cordialidade, hospitalidade, apoio, amizade e interesse no desenvolvimento da etapa do estudo nos E.U.A.; AO PROF. MIGUEL J. BAGAJEWICZ, Ph.D. (Sarkeys Energy Center, University of Oklahoma, Norman, OK, U.S.A) – pela possibilidade de poder discutir as novas tendências da atividade de refino nos E.U.A e no mundo; vi À COORDENAÇÃO E SECRETARIA DO PRH 13 EQ – ANP: PROF. EDUARDO MACH QUEIROZ, D.Sc. (Coordenador do Programa); Sr. ANDRÉ LUIZ HEMERLY COSTA, D.Sc. (Pesquisador Visitante); Sr.ª ALZIRENE RODRIGUES (Secretária) – pelo convívio, apoio e amizade durante a realização deste trabalho; À PROF. VERÔNICA M. CALADO, D.Sc. (EQ – U.F.R.J) – pelas idéias durante a etapa de análise estatística; AO Sr. HILDO HENZ (Diretor – Presidente da REFAP S.A., PETROBRAS) – pelas idéias, interesse e cordialidade quando estive em visita às instalações da refinaria em Canoas, RS; AOS PESQUISADORES E PROFISSIONAIS DO SETOR: PROF. MAURÍCIO TOLMASQUIM, D.Sc. (PPE – U.F.R.J); Sr. ADRIANO PIRES, D.Sc. (Centro Brasileiro de Infraestrutura – CBIE); Sr. ANTÔNIO R. PIMENTEL DE OLIVEIRA, M.Sc. (PETROBRAS); Sr.ª ELIZABETH TELLECHEA (Superintendente da Refinaria de Petróleo Ipiranga, RS); Sr. ERNANI CARVALHO (Superintendente de Refino da ANP); Sr. JEAN-PAUL TERRA PRATES, M.Sc. (Diretor Executivo do Grupo EXPETRO Consultoria em Petróleo e Gás Ltda.); Sr. PAULO MAURÍCIO CAVALCANTI GONÇALVES (Gerente Geral de Planejamento e Gestão da PETROBRAS) – por poder discutir assuntos de interesse acadêmico com as pessoas certas; A LEONARDO G. CARDOSO E RAFAEL C. RIBEIRO (EQ – U F.R.J) – pela ajuda nas tarefas de edição, impressão e entrega da tese; AOS DEMAIS AMIGOS E COLEGAS – pelo convívio e amizade durante a realização deste trabalho; AOS MEUS FAMILIARES – por me incentivarem em galgar um novo degrau na minha vida acadêmicoprofissional e pela crença no potencial que julgam que tenho. MUITO OBRIGADO! vii RESUMO MAGALHÃES, Márcio do Nascimento. Proposição de Análise Comparativa no Parque de Refino Brasileiro; Orientadores: Peter Rudolf Seidl, Ph.D. e José Vitor Bomtempo, D.Sc. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia Química). A Indústria do Refino representa um segmento de importância estratégica para o desenvolvimento econômico e industrial do país. Com vistas ao entendimento da missão da referida atividade dentro de um novo contexto regulatório, torna-se necessário conhecer as atuações desempenhadas pelos agentes participantes, visando analisar tendências relevantes, associadas à competitividade num mercado (recentemente) aberto. Dentro desse contexto, procedeu-se uma caracterização das atividades desses indivíduos, seguida de análise da estrutura da indústria investigada, buscando quantificar o poder de atuação dos atores envolvidos. Tendo sido caracterizado como potencial o movimento de integração por parte de empresas concessionárias de atividades de E&P no país, identificou-se como tendência a estruturação de possíveis acordos entre estas empresas e aquelas atuantes no segmento de refino. Nesse sentido, desenvolveu-se uma metodologia relacionando-se fatores técnicos e gerenciais, com vistas à proposição de uma tipologia de refinarias, mediante análise da sua competitividade. Identificaram-se, assim, quatro grupos (clusters) de unidades com propensões distintas em relação à concretização de um eventual movimento de integração. viii ABSTRACT MAGALHÃES, Márcio do Nascimento. Proposição de Análise Comparativa no Parque de Refino Brasileiro; Orientadores: Peter Rudolf Seidl, Ph.D. e José Vitor Bomtempo, D.Sc. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia Química). The oil refining industry represents a segment which plays a strategic role concerning the economic and industrial development of the country. Considering the understanding of the mission of this activity in a new legal context, it is necessary to be aware of the attributions of the involved agents in order to analyze relevant trends concerning competitiveness in a (recent) open market. In this context, a characterization of the activities developed by these individuals was developed, followed by the analysis of the structure of the investigated industry, concerning the weight of each participant group. Regarding the potential of forward integration involving E&P concessionaries, eventual agreements between these agents and the refinery owners in Brazil might come true. Hence, in order to measure the exposure of each one of the analysed plants, concerning the interests of the upstream potential partners, a comparative methodology, including a refinery tipology proposition based on competitiveness differentials was proposed. The results showed possible to identify four clusters with distinct perspectives, considering the possibility of the referenced movement. ix LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ANP – Agência Nacional do Petróleo; ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica; API – American Petroleum Institute; API – Grau API; ASFOR – Fábrica de Asfalto de Fortaleza; BCG – Boston Consulting Group; bpd – Barris de petróleo por dia; bpe – Barris de petróleo equivalente; CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica; CBIE – Centro Brasileiro de Infraestrutura; CENPES – Centro de Pesquisa da PETROBRAS; CIDE – Contribuição de intervenção no domínio econômico; CDE – Capacidade de Destilação Equivalente; CNP – Conselho Nacional do Petróleo; CO – Capacidade ociosa; COPENE – Companhia Petroquímica do Nordeste (atual Braskem S.A.); COPESUL – Companhia Petroquímica do Sul; CMP – Central de matéria prima; CNPE – Conselho Nacional de Política Energética; DOI – Dependência de óleo importado; E&P – Exploração e Produção; EIA – Energy Information Administration; EPA – Environmental Protection Agency; FCC – Fluid catalitic cracking; FRONAP – Frota Nacional de Petroleiros; GAV – Gasolina de aviação; LUBNOR – Lubrificantes e Derivados do Nordeste; MACRE – Metodologia de Análise e Comparação de Refinarias; MIPE – Modelo integrado de planejamento energético; Mbpd – Milhares de barris de petróleo por dia; MMA – Ministério do Meio Ambiente; MME – Ministério das Minas e Energia; x LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS (CONTINUAÇÃO) MTBE – Metil-terc-butil éter; NBS – National Bureau of Standards; NPC – National Petroleum Council; OC – Óleo combustível; OD – Óleo diesel; PCN – Produção de Cortes Nobres; PPE – Parcela de preço específico; ppm – Partes por milhão PMPC – Programa de monitoramento de preços dos combustíveis; PQU – Companhia Petroquímica União; PROCAP – Programa de inovação tecnológica e desenvolvimento avançado; PROTER – Programa estratégico de tecnologia de refinação QAV – Querosene de aviação; RECAP – Refinaria de Capuava (SP); REDUC – Refinaria Duque de Caxias (RJ); REFAP – Refinaria Alberto Pasqualini (RS) REGAP – Refinaria Gabriel Passos (MG) REMAM – Refinaria de Manaus (AM) RENOR – Refinaria do Nordeste; REPAR – Refinaria Presidente Getúlio Vargas (PR); REPLAM – Refinaria de Paulínea (SP); REVAP – Refinaria Henrique Lage (SP); RLAM – Refinaria Landulpho Alves (BA); RPBC – Refinaria Presidente Bernardes (SP); RPI – Refinaria de Petróleo Ipiranga (RS); SEI – Stockholm Environment Institute; SDE – Secretaria de Direito Econômico; SiBI – Sistema de Bibliotecas de Informação; toe – Toneladas de óleo equivalente; UEN – Unidade Estratégica de Negócios. xi LISTA DE EQUAÇÕES EQUAÇÃO 4.1 – COMPLEXIDADE NELSON ______________________________________________79 EQUAÇÃO 4.2 – ICN PARA UM PARQUE DE REFINO P ______________________________________79 EQUAÇÃO 4.3 – CAPACIDADE DE DESTILAÇÃO EQUIVALENTE _______________________________82 EQUAÇÃO 4.4 – COMPETITIVIDADE ___________________________________________________83 xii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1.1 − TENDÊNCIA FUTURA DO MERCADO DE ENERGIA _______________________________22 FIGURA 1.2 − VISÃO SIMPLIFICADA DE UMA REFINARIA DE PETRÓLEO _________________________30 FIGURA 1.3 − CADEIA PRODUTIVA DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO _____________________________30 FIGURA 1.4 − ESTRUTURA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE PETRÓLEO _________________________31 FIGURA 1.5 – MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO PARA FRENTE __________________________________33 FIGURA 3.2 − MODELO DE ABERTURA DO MERCADO ______________________________________64 FIGURA 4.1 − FORÇAS COMPETITIVAS _________________________________________________72 FIGURA 4.2 – ESTRATÉGIAS DE TERCEIRIZAÇÃO __________________________________________76 FIGURA 4.3 − CÁLCULO DE COMPLEXIDADES DE UNIDADES DE PROCESSAMENTO ________________81 FIGURA 5.1 – PARQUE DE REFINO BRASILEIRO ___________________________________________87 FIGURA 6.1 − DESENHO DAS FORÇAS COMPETITIVAS APLICADAS À ATIVIDADE DE REFINO NO PAÍS __110 FIGURA 6.2 – MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA DE PRODUTOS ENERGÉTICOS ___118 FIGURA 6.3 – FLUXOS REGIONAIS TOTAIS DE DERIVADOS __________________________________122 FIGURA 8.1 – TIPOLOGIA___________________________________________________________141 LISTA DE GRÁFICOS xiii GRÁFICO 2.1 – FASES DO DESENVOLVIMENTO DO REFINO NO BRASIL _________________________41 GRÁFICO 5.1 – GASTOS COM IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO E EVOLUÇÃO DO PREÇO DO BRENT _______91 GRÁFICO 5.2 – IMPORTAÇÃO DE ÓLEO SEGUNDO A ORIGEM EM 2000 _________________________92 GRÁFICO 5.4 − DEPENDÊNCIA DE ÓLEO IMPORTADO NAS REFINARIAS NACIONAIS ________________95 GRÁFICO 5.5 − GASTOS COM IMPORTAÇÃO DE ÓLEO NAS REFINARIAS NACIONAIS ________________96 GRÁFICO 5.6 − PROCESSAMENTO DE ÓLEO NO PARQUE BRASILEIRO (SÉRIE HISTÓRICA) ___________97 GRÁFICO 5.7 – CAPACIDADES INSTALADA E UTILIZADA NO PARQUE DE REFINO NACIONAL ________98 GRÁFICO 8.1 – GRÁFICO DE ÁRVORE (DENDROGRAMA) DO PARQUE DE REFINO BRASILEIRO _______134 GRÁFICO 8.2 – COMPARAÇÃO ENTRE AS CLASSES PROPOSTAS______________________________135 xiv LISTA DE TABELAS TABELA 1.1 − MAIORES REFINADORES DO MUNDO ________________________________________28 TABELA 1.2 − CONTROLE ACIONÁRIO (CAPITAL VOTANTE) DA BRASKEM S.A.___________________33 TABELA 2.1 − ÓLEOS NACIONAIS E IMPORTADOS _________________________________________53 TABELA 2.2 − CARTEIRA DE PROJETOS PROTER ________________________________________55 TABELA 2.3 − QUADRO COMPARATIVO DE ÓLEOS NACIONAL E IMPORTADO TÍPICOS ______________55 TABELA 3.1 − ATRIBUIÇÕES DA ANP PREVISTAS NA LEI N.º 9.478 DE 06/08/1997 _______________60 TABELA 3.2 − RELAÇÃO DAS PORTARIAS SUBMETIDAS À CONSULTA PÚBLICA ___________________62 TABELA 4.1 − ABORDAGENS EM GESTÃO ESTRATÉGICA____________________________________77 TABELA 4.2 − COMPLEXIDADE NELSON ________________________________________________80 TABELA 5.1 − REFINARIAS DO PARQUE BRASILEIRO _______________________________________88 TABELA 5.2 − PRODUÇÃO DE DERIVADOS DE PETRÓLEO ENERGÉTICOS E NÃO ENERGÉTICOS (2001) __90 TABELA 5.3 − DEPENDÊNCIA EXTERNA DE PETRÓLEO E SEUS DERIVADOS: SÉRIE HISTÓRICA ________93 TABELA 5.4 − CARGA PROCESSADA E CAPACIDADE OCIOSA DAS REFINARIAS BRASILEIRAS (2001) ___99 TABELA 5.5 − DIRECIONAMENTO DOS INVESTIMENTOS ANUNCIADOS EM REFINO _______________102 TABELA 8.1 − REFINARIAS CLASSE IV ________________________________________________135 TABELA 8.2 − REFINARIAS CLASSE III ________________________________________________137 TABELA 8.3 − REFINARIAS CLASSE II_________________________________________________138 TABELA 8.4 − REFINARIAS CLASSE I _________________________________________________139 TABELA 8.5 − DIMENSÕES INVESTIGADAS PELA TIPOLOGIA PROPOSTA _______________________140 xv SUMÁRIO CAPÍTULO I _____________________________________________________________________19 INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________19 1.1 – PROJEÇÕES INTERNACIONAIS PARA O CONSUMO DE ENERGIA/PETRÓLEO 20 1.2 – TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS DOS MERCADOS ENERGÉTICOS________________21 1.2.1 – UM FUTURO MAIS LIMPO _______________________________________________21 1.2.2 – CONVÍVIO COM OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS _____________________________23 1.3 – A POSICÃO DA ATIVIDADE DE REFINO FRENTE ÀS TENDÊNCIAS DO MERCADO DE ENERGIA __________________________________________________________________25 1.3.1 – TENDÊNCIAS E DESAFIOS DA ATIVIDADE________________________________25 1.3.2 – MODIFICAÇÕES NECESSÁRIAS Á ADEQUAÇÃO DE TENDÊNCIAS___________26 1.3.3 – CONSEQÜÊNCIAS DAS MODIFICAÇÕES __________________________________27 1.3.4 – SITUAÇÃO ATUAL DAS PRINCIPAIS EMPRESAS ATUANTES EM REFINO NO MUNDO _____________________________________________________________________27 1.4 – ASPECTOS GERAIS DA INDÚSTRIA DE REFINO NO PAÍS ____________________28 1.4.1 – MODIFICAÇÃO DA ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE REFINO________________32 1.5 – O CARÁTER OPORTUNO DE UMA ANÁLISE NO SEGMENTO DE REFINO _____33 1.5.1 – OBJETIVOS ____________________________________________________________35 1.5.2 – DIMENSÃO TEMPORAL _________________________________________________35 1.5.3 – MOTIVAÇÃO __________________________________________________________35 1.5.4 – JUSTIFICATIVA ________________________________________________________36 1.6 – ASPECTOS SOBRE A ESTRUTURA DO TRABALHO DESENVOLVIDO _________36 1.6.1 – CONTEÚDO ____________________________________________________________36 CAPÍTULO II_____________________________________________________________________39 O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA NACIONAL DE PETRÓLEO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A ATIVIDADE DE REFINO ___________________________________________________39 2.1 – OBJETIVO DO CAPÍTULO _________________________________________________39 2.2 – REGISTROS DA OCORRÊNCIA DE OLEO NO PAÍS E OS ASPECTOS LEGAIS ENVOLVIDOS _________________________________________________________________39 2.3 – HISTÓRICO DA INDÚSTRIA NACIONAL DE PETRÓLEO _____________________40 2.3.1 – DO INÍCIO DAS ATIVIDADES ATÉ 1966 ___________________________________41 2.3.3 – A AUTO-SUFICIÊNCIA (1967 – 1979) ______________________________________46 2.3.4 – SOBRE-CAPACIDADE (1980 – 1989) _______________________________________48 2.3.5 – A RETOMADA (DO INÍCIO DOS ANOS 1990 ATÉ HOJE) _____________________50 2.4 – ASPECTOS EVOLUTIVOS DA ATIVIDADE DE REFINO NO BRASIL____________52 2.4.1 – NECESSIDADE DO PROCESSAMENTO DO ÓLEO NACIONAL ________________52 2.4.2 – PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO ____________________53 2.5 – CONCLUSÕES SOBRE A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA NACIONAL DE PETRÓLEO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O SEGMENTO DE REFINO ______________55 CAPÍTULO III ____________________________________________________________________57 REGULAÇÃO: A NOVA REALIDADE DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NO PAÍS _________57 3.1 – OBJETIVOS DO CAPÍTULO ________________________________________________57 3.2 – AS ORIGENS DA POLÍTICA REGULATÓRIA_________________________________57 3.3 – MOTIVAÇÃO DA ATIVIDADE REGULATÓRIA ______________________________58 3.4 – O PAPEL DO ÓRGÃO REGULADOR_________________________________________59 3.5 – OS ASPECTOS PRÁTICOS DA REGULAÇÃO DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS _61 3.5.1 – OBJETIVOS ____________________________________________________________61 xvi 3.5.2 – PORTARIAS____________________________________________________________62 3.5.3 – ABERTURA DO MERCADO DE COMBUSTÍVEIS (NOVO MODELO) ___________64 3.5.4 – ATORES _______________________________________________________________65 3.6 – A ESTRUTURA DE FORMAÇÃO DE PREÇOS NO REGIME DE LIVRE MERCADO68 3.7 – CONCLUSÕES SOBRE A REGULAÇÃO NO SETOR ___________________________69 CAPÍTULO IV ____________________________________________________________________70 REFERENCIAL TEÓRICO _________________________________________________________70 4.1 – OBJETIVOS DO CAPÍTULO ________________________________________________70 4.2 – GESTÃO ESTRATÉGICA ___________________________________________________70 4.2.1 – ABORDAGENS RECENTES_______________________________________________71 4.4.1.1 – FORÇAS COMPETITIVAS ____________________________________________71 4.4.1.2 – CONFLITO ESTRATÉGICO ___________________________________________72 4.4.1.3 – VISÃO BASEADA EM RECURSOS (RBV) _______________________________73 4.4.1.4 – CAPACIDADES DINÂMICAS _________________________________________76 4.3 – ABORDAGENS EM GESTÃO DA ATIVIDADE DE REFINO _____________________77 4.3.1 – COMPLEXIDADE NOS PROCESSOS DE REFINO ____________________________78 4.3.2 – CONSIDERAÇÃO TEÓRICA SOBRE COMPETITIVIDADE NO REFINO _________83 4.3.3 – GESTÃO DA ATIVIDADE DE REFINO NO BRASIL __________________________84 CAPÍTULO V _____________________________________________________________________85 SITUAÇÃO ATUAL DA INDÚSTRIA DE REFINO NO PAÍS _____________________________85 5.1 – OBJETIVOS DO CAPÍTULO ________________________________________________86 5.2 – O PARQUE DE REFINO BRASILEIRO _______________________________________86 5.2.1 – DEFINIÇÃO ____________________________________________________________86 5.2.2 – DERIVADOS PRODUZIDOS ______________________________________________88 5.2.3 – DEPENDÊNCIA EXTERNA DE ÓLEO E DERIVADOS ________________________91 5.2.3.1 – DISPÊNDIOS COM IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO _______________________91 5.2.3.2 – HISTÓRICO ESTATÍSTICO ___________________________________________92 5.2.3.2 – PERSPECTIVAS _____________________________________________________93 5.2.3.4 – DEPENDÊNCIA EXTERNA DAS REFINARIAS NACIONAIS _______________94 5.2.4 – CAPACIDADE OCIOSA E CARGA PROCESSADA ___________________________97 5.3 – A ATIVIDADE DAS CMPs___________________________________________________99 5.4 – INVESTIMENTOS ________________________________________________________102 5.4.1 – AMPLIAÇÕES OU INSTALAÇÃO DE NOVAS UNIDADES ___________________102 5.4.2 – AQUISIÇÕES __________________________________________________________103 5.5 – POSSIBILIDADE DA INSTALAÇÃO DE NOVAS REFINARIAS ________________104 5.5.1 – PROJETOS EM DISCUSSÃO _____________________________________________105 5.5.2 – RISCOS ENVOLVIDOS _________________________________________________106 5.6 – CONCLUSÕES SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL DO REFINO NO PAÍS____________106 CAPÍTULO VI ___________________________________________________________________108 ANÁLISE DA ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE REFINO FRENTE À NOVA REALIDADE REGULATÓRIA _________________________________________________________________108 6.1 – OBJETIVO DO CAPÍTULO ________________________________________________108 6.2 – ABORDAGEM TEÓRICA UTILIZADA ______________________________________108 6.2.1 – POSSÍVEIS CRÍTICAS __________________________________________________108 6.2.2 – A ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DO REFINO ______________________________109 6.2.2.1 - CONCORRENTES ___________________________________________________111 6.2.2.2 – ENTRANTES EM POTENCIAL________________________________________112 6.2.2.3 – FORNECEDORES___________________________________________________114 6.2.2.4 – COMPRADORES ___________________________________________________114 6.2.2.5 – PRODUTOS SUBSTITUTOS __________________________________________115 6.2.2.6 – COMPLEMENTADORES_____________________________________________116 xvii 6.3 – ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS ______________________________________________118 6.3.1 – SUPORTE TEÓRICO____________________________________________________119 6.3.2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA PETROBRAS120 6.4 – CONSISTËNCIA DE UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE REFINARIAS ___121 6.5 – CONCLUSÕES SOBRE A ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE REFINO NO PAÍS __123 CAPÍTULO VII __________________________________________________________________124 METODOLOGIA DE ANÁLISE_____________________________________________________124 7.1 – OBJETIVOS DO CAPÍTULO _______________________________________________124 7.2 – MOTIVAÇÃO E ASPECTOS GERAIS _______________________________________124 7.2.1 – NECESSIDADE DE UMA PROPOSIÇÃO ___________________________________125 7.2.2 – ETAPAS NA CONSTRUÇÃO DA METODOLOGIA __________________________125 7.2.3 – OBJETIVO DA METODOLOGIA__________________________________________125 7.3 – ESCOLHA DAS VARIÁVEIS _______________________________________________125 7.3.1 – BASE TEÓRICA _______________________________________________________126 7.3.2 – OPINIÃO DE PESQUISADORES/PROFISSIONAIS DO SEGMENTO ____________126 7.3.3 – VARIÁVEIS COMPONENTES DA ANÁLISE _______________________________127 7.3.3.1 – Dimensão 1 (Posicionamento Tecnológico)________________________________128 7.3.3.2 – Dimensão 2 (Aspecto Humano/Organizacional) ____________________________129 7.3.3.3 – Dimensão 3 (Localização Geográfica) ____________________________________129 7.3.4 – NECESSIDADE DE NORMALIZAÇÃO ____________________________________129 7.4 – AGRUPAMENTO DAS REFINARIAS POR SIMILARIDADE ___________________130 7.4.1 – TRATAMENTO ESTATÍSTICO ___________________________________________130 7.5 – PROPOSIÇÃO DE TIPOLOGIA_____________________________________________130 7.5.1 – GRUPOS ______________________________________________________________131 7.5.2 – TRATAMENTO ESTATÍSTICO ___________________________________________131 7.6 – CONSIDERAÇÕES SOBRE A MACRE_______________________________________131 CAPÍTULO VIII__________________________________________________________________133 ANÁLISE DOS RESULTADOS _____________________________________________________133 8.1 – REFINARIAS CLASSE IV _________________________________________________135 8.2 – REFINARIAS CLASSE III _________________________________________________137 8.3 – REFINARIAS CLASSE II__________________________________________________138 8.4 – REFINARIAS CLASSE I __________________________________________________139 CAPÍTULO IX ___________________________________________________________________142 CONCLUSÕES __________________________________________________________________142 SUGESTÕES ____________________________________________________________________144 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________________________146 ANEXOS________________________________________________________________________153 ANEXO I – CONCESSÕES DA ANP NA TERCEIRA RODADA DE LICITAÇÕES (2001) 154 ANEXO Ii – LEGISLAÇÃO DE PREÇO PARA GASOLINA COMUM _________________155 ANEXO III – ESTIMATIVA DE DESPESA COM IMPORTAÇÃO DE ÓLEO __________156 ANEXO IV – UNIDADES INSTALADAS NO PARQUE DE REFINO NACIONAL _______158 xviii CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Sem dúvida alguma, o Século XX poderia ser tratado como o século da energia, já que, dentre uma série de transformações geopolíticas, tecnológicas e sociais, vivenciou-se a emergência de uma economia global, baseada na demanda crescente de óleo e, posteriormente, de gás (TOWNSED, 1999). Certamente, o setor de energia continuará a deter crucial importância no cenário mundial, com vistas ao seu caráter estratégico, dado que se apresenta fundamental para as cadeias produtivas da indústria, muito embora modificações cada vez mais iminentes (sejam de cunho ambiental e/ou regulatório) se proponham a alterar seu panorama. Dentro dessa premissa, segundo TOWNSEND (1999), surge, naturalmente, a pergunta que tenderá a nortear as preocupações e as buscas de organizações relevantes, direta ou indiretamente relacionadas ao setor: O que esperar do futuro em relação ao negócio de óleo e gás e como se preparar (estrategicamente) para não ser surpreendido por horizontes que ainda estão por vir? É bem provável que trabalhar numa resposta convincente seja a chave para obter uma vantagem competitiva no longo prazo, sem a qual, alguns dos atuais players tenderão a ser engolidos pelos naturais movimentos do mercado (sobretudo aquisições) daqui a alguns anos. Torna-se cada vez mais claro que as companhias internacionais atuantes principalmente no segmento de petróleo têm sido forçadas a realinhar suas operações (tornando-se mais integradas) e repensar suas estratégias, tendo em vista as tendências de um mercado no qual, cada vez mais, o interesse por parceiros que venham a conferir sinergia em diversas áreas de atuação (E&P, Refino e Distribuição, etc.) torna-se relevante (TOWNSEND, 2000). 19 Dessa maneira, parece natural que as organizações busquem novos modelos que as direcionem pelo caminho menos tortuoso no intuito de atingir as metas de produtividade almejadas nas próximas décadas. Dentro dessa nova realidade de economia globalizada, firma-se cada vez mais (como uma resposta geral) a tendência de alianças entre organizações que utilizam os mecanismos de fusão e aquisição, no intuito de promover esta sinergia. Nesse sentido, as empresas perseguirão soluções (à questão proposta) no sentido de promover integração, mitigar riscos, custos e passivos ambientais, além de buscar maior remuneração para os seus acionistas, na incansável busca pela liderança. 1.1 – PROJEÇÕES INTERNACIONAIS PARA O CONSUMO DE ENERGIA/PETRÓLEO De acordo com um estudo recente do Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI, 1998 apud TOWNSEND, 1999), em 2050 a população mundial terá dobrado em relação aos números de 1990 e atingindo um valor, segundo FAVENNEC (2001), entre 10 e 12 bilhões de habitantes; o Produto Interno Bruto (PIB) per capita terá sido incrementado por um fator maior que dois e a produção industrial terá mais do que quadruplicado. Entretanto, o SEI espera que a demanda por energia1 cresça a uma taxa menor do que a do crescimento da economia, tendo-se em vista um iminente aumento na eficiência das atividades de geração/transmissão, principalmente nos países desenvolvidos, bem como graduais modificações do panorama atual, no sentido de promover atividades econômicas cada vez mais diversificadas e menos intensivas em energia. O instituto sueco prevê, também, que os combustíveis fósseis continuarão a dominar os mercados nos quais são negociados (principalmente automotivo), apesar de uma expansão bastante significativa em suprimentos relacionados a fontes alternativas renováveis. Assim, espera-se que a demanda global de carvão cresça por um fator de 4,1 entre 1990 e 2050 e que a de eletricidade cresça por um fator de 3,7. 1 Torna-se possível falar em energia de uma maneira geral dado que suas diferentes formas se apresentam interconversíveis, com fatores de equivalência podendo ser expressos na forma de coeficientes. Nesse sentido, segundo FAVENNEC (2001), 1t (7,3 barris) de petróleo (equivalente) ou seja, 1toe = 7,3 bpe (barris de petróleo equivalente) = 1t carvão (0,67toe) = 1t lignita (0,33toe) = 1000m3 gás natural (0,9toe) = 1000kWh energia elétrica (0,086toe) = 1000 kWh energia nuclear (0,26toe). 20 É também esperado que o consumo de energia seja particularmente intensivo em países/regiões em desenvolvimento (notoriamente energívoros), como China, África, Oriente Médio, Sudeste Asiático (nessas localidades, projeta-se aumento no consumo entre 400 e 500%) e América Latina. Observam-se tendências na redução de geração por via nuclear, tendo-se em vista diversos aspectos negativos (custo, segurança, armazenamento de lixo radioativo, encargos com seguros, apelos ambientais, etc.) que conspiram para o desvio de recursos privados ou governamentais para opções mais “limpas” como a geração termelétrica a partir de gás natural. A geração por via hídrica, particularmente importante em países com bacias hidrográficas de grandes dimensões, como o Brasil, décadas atrás incentivada e subsidiada, tende a ser vista como potencial causadora de impactos ambientais irreversíveis, uma vez que modifica o panorama natural da flora e da fauna nas regiões eleitas. 1.2 – TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS DOS MERCADOS ENERGÉTICOS Em paralelo ao cenário previsto pelo instituto sueco, em meados de 1999, o então presidente do Royal Dutch/Shell Group, Mark Moody-Stuart apontava duas tendências que, provavelmente, continuariam a se apresentar relevantes no século XXI: O aumento da complexidade e competitividade nos mercados de energia e o crescimento das expectativas da sociedade em relação aos mesmos (TOWNSEND, 1999). Nessa visão, a solução de problemas ambientais, a redução das emissões de poluentes e o compromisso com o desenvolvimento sustentável apresentar-se-iam como alguns objetivos perseguidos pela indústria de energia num futuro próximo (PETROLEUM ECONOMIST, 2000). 1.2.1 – UM FUTURO MAIS LIMPO Em meio a esse conjunto de tendências que deverão nortear a nova lógica energética que governará o planeta neste século, caberia talvez se fazer outra pergunta não menos ousada: Como atender (futuramente) as crescentes necessidades energéticas da sociedade de forma menos prejudicial à saúde e ao meio ambiente (THE ECONOMIST, 10/02/2001)? 21 À primeira vista, esta pode parecer uma pergunta difícil de ser respondida e embora tendências naturais apontem para fontes alternativas de energia, potencialmente menos prejudiciais, provavelmente, a resposta estaria condicionada à concepção particular de futuro. Nesse raciocínio, certamente o gás natural, cuja demanda deverá apresentar um crescimento da ordem de 76% entre 1993 e 2015, tenderá a ocupar um lugar de destaque na matriz energética mundial, assim como células de hidrogênio, sobretudo para uso automotor2, figurarão como alternativa às pressões ambientais cada vez mais intensas. Os combustíveis fósseis, entretanto, continuariam a deter a posição principal, pelo menos até 2030, dada a sua inegável vantagem-custo (THE ECONOMIST, 10/02/2001). Na visão relativa de futuro dos executivos da GHK Company (uma firma americana de engenharia atuante em mercados energéticos), em 2050, o consumo de gás natural e hidrogênio terá ultrapassado o de óleo e carvão, representando, no final do século XXI (FIGURA 1.1), cerca de 75% do mercado global de energia (Id., 2001). FIGURA 1.1 − Tendência futura do mercado de energia Fonte: THE ECONOMIST (10/02/2001). 2 Dispositivos que utilizam a energia da reação de queima do H2 para fins mecânicos. Segundo HART (2001), apesar dos consideráveis avanços nesse campo, a escolha de um processo padrão, simultaneamente atraente com relação aos custos e pouco prejudicial ao meio ambiente, para a geração do combustível ainda se apresenta um tanto quanto distante. 22 Nesse sentido, assumindo como “futuro”, os próximos trinta anos, o petróleo continuará sendo a base desse mercado e, a menos da questão particular de uma concepção de distância (do futuro), a pergunta está respondida. Relata-se ainda que, segundo TOWNSEND (1999), tanto a Shell como o SEI também predizem que o crescimento econômico, especialmente em países em desenvolvimento, será baseado no consumo de combustíveis fósseis (principalmente petróleo) apesar da tendência natural da redução (em nível mundial) do consumo de combustíveis que contenham carbono. Haveria, portanto, uma linha natural: carvão, óleo, gás e renováveis, dado que o avanço tecnológico tenderá a minimizar os elevados custos inerentes ao desenvolvimento destes últimos, ao passo que a escassez natural propiciará sensível aumento nos custos (fundamentalmente ligados a atividades como E&P) nos combustíveis fósseis como o petróleo. 1.2.2 – CONVÍVIO COM OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS De acordo com estudos do órgão norte-americano ligado à administração de informações em energia (EIA, 1999), a demanda internacional de petróleo crescerá de 75 milhões de bpd (base do consumo em 1998) para 114,7 milhões bpd em 2020. Como descrito, apesar de todas as pressões de cunho sócio-ambiental com relação à diminuição da produção dos combustíveis com base no carbono, o baixo custo de produção dos seus derivados e a dificuldade, pelo menos atual, de substituição servirão de subsídio para a manutenção de uma baixa sensibilidade da demanda em relação ao preço (elasticidade − preço da demanda3, Ep)(SHEPHERD, 1990), caracterizando os derivados do petróleo (ex. gasolina) como inelásticos (0 < Ep< 1; Ep ≅ 0,4) nas próximas décadas. 3 A elasticidade-preço da demanda (Ep) mede o negativo da variação (percentual) da quantidade demandada de um determinado bem, em relação à variação (percentual) do preço (de oferta), sendo menor (bem inelástico) quando 0 < Ep ≤ 1, quanto menor for sua possibilidade de substituição (“bem de primeira necessidade”) e maior, Ep ≥ 1, em caso contrário (bem supérfluo). 23 Nesse sentido, o potencial produtivo crescerá a partir do aumento das produções individuais de países membros ou não da Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo − OPEP4 (detentora de cerca de 80% das reservas mundiais, cerca de 1,03 trilhões de barris, segundo TOWNSEND, 1999), com vistas às cotações do óleo no mercado internacional e a situação político-econômica internacional: questões militares, diplomáticas, aquecimento e desaquecimento (recessão) da economia norte-americana. É esperado também, um significativo crescimento em regiões de produção offshore na Argélia, Nigéria, Venezuela, sobretudo como conseqüência da busca de vantagens competitivas por parte da Petroleos de Venezuela S.A. − PDVSA e Brasil, neste último, pela notória tecnologia em produção em águas profundas, desenvolvida pela PETROBRAS, ao longo de cerca de duas décadas de operação na Bacia de Campos, RJ. Os estudos suecos (SEI, 1998 apud TOWNSEND, 1999) atentam ainda para a tendência no crescimento da produção referente ao Mar Cáspio, que deve atingir a marca de 6 milhões bpd em 2020, retratando ainda contínua expansão da produção referente ao Mar do Norte e regiões offshore do oeste da África. Cenários avaliados pela Shell levam a empresa a acreditar que o consumo mundial de energia possa crescer cerca de 80% nas próximas duas décadas. Dentro desse raciocínio, os países em desenvolvimento consumiriam mais do que a metade de toda a energia do planeta, em comparação com menos de um quinto desse montante há uma geração atrás. Assim, é de se esperar que haverá uma modificação gradual, da matriz energética mundial, na direção do consumo de combustíveis provenientes de fontes renováveis. Entretanto, devido às vantagens-custo associadas aos combustíveis fósseis, espera-se que nos próximos 20 a 30 anos, estes ainda ocupem lugar de destaque. 4 Países membros: Arábia Saudita, Kwait, Iraque, Irã, Venezuela, Quatar, Indonésia, Líbia, Emirados Árabes Unidos, Argélia e Nigéria num total de 11 (onze). Os ex-membros Equador e Gabão deixaram a organização em 1992 e 1996, respectivamente (FAVENNEC, 2001, p. 10). 24 1.3 – A POSICÃO DA ATIVIDADE DE REFINO FRENTE ÀS TENDÊNCIAS DO MERCADO DE ENERGIA Dado que o refino ou atividade de refinação se constitui na transformação de óleo cru nos seus derivados5 (Anuário Estatístico da ANP, 2001) e que, pelo menos a princípio, esta fonte não renovável (e acessível) de energia não será substituída no curto prazo (FAVENNEC, 2001, p. 22; THE ECONOMIST, 10/02/2001), é de se esperar uma relativa longevidade na sua relevância como elo de ligação da cadeia produtiva (desta indústria), numa posição fundamental entre as atividades de E&P e distribuição de combustíveis, não energéticos ou petroquímicos (FIGURA 1.2). 1.3.1 – TENDÊNCIAS E DESAFIOS DA ATIVIDADE Partindo-se desta premissa, segundo PENNING (2001), relatam-se três importantes tendências desta atividade a nível internacional: 1. Necessidade de processamento crescente de óleos cada vez mais pesados (em função da escassez dos leves); 2. Contínua necessidade de processos de tratamento (principalmente a base de hidrogênio (hidrotratamentos) como dessulfurização6, desnitrificação, etc.), dado o caráter cada vez mais restritivo das regulamentações ambientais; 3. Busca da competitividade (vantagens-custo) das empresas, aliada à qualidade dos seus produtos (OIL & GAS JOURNAL, 01/01/2001). 5 Segundo o Anuário Estatístico da ANP (2001), produtos decorrentes da separação física ou transformação química do petróleo. Dividem-se em energéticos (utilizados, predominantemente, como combustíveis, com a finalidade de liberar energia, luz ou ambos a partir de sua queima: GLP, gasolina, gasolina da aviação, querosene de aviação (QAV), óleo diesel e óleo combustível) e não-energéticos (derivados que embora tenham significativo conteúdo energético, não são utilizados para este fim: graxas, lubrificantes, parafinas, asfaltos, solventes, coque, nafta, extrato aromático, gasóleo de vácuo, resíduo atmosférico, diluentes e outro óleos de petróleo). 6 Eliminação de compostos sulfurados presentes em cortes (frações) do petróleo (GOMES, 2001). Como cerca de 80% do enxofre presente no pool de gasolina (OIL & GAS JOURNAL, 01/01/2001) provêm do Craqueamento Catalítico (processo químico que consiste na quebra de frações pesadas em leves, visando maximizar a produção dessas ultimas, conforme GOMES, 2001), as opções se constituem em: Tratar a carga desta unidade (maior quantidade de hidrogênio e condições mais severas); tratar o seu efluente (menor quantidade de hidrogênio e condições mais brandas) (OIL & GAS JOURNAL, 01/01/2001). 25 1.3.2 – MODIFICAÇÕES NECESSÁRIAS Á ADEQUAÇÃO DE TENDÊNCIAS Para ilustrar este cenário futuro, salienta-se que as refinarias americanas, nos seis últimos anos, têm concentrado esforços (e investimentos) no sentido de processar, a baixo custo, petróleos mais pesados (oriundos principalmente do Canadá, Venezuela e México) ou leves com elevados teores de enxofre (principalmente árabes). Dentre outras, as empresas BP Amoco (refinaria Toledo, em Ohio, 1999), Mobil Corp. (hoje Exxon-Mobil Corp., 1999), Phillips Petroleum (refinaria Sweeny, Texas, no mesmo ano), Both Coastal Corp. (numa refinaria em Aruba, 2000), Premcor Inc. (refinaria Port Arthur, Texas, 2000), Shell Oil Co. (refinaria Deer Park, Texas, 2001) ou Valero Corp. (refinaria Benicia, na Califórnia, 2001) investiram pesado em unidades de destilação ou coqueamento no intuito de adaptar suas plantas ao processamento de crus pesados (Orinoco, Venezuela; Maya, México ou North Slope, Alaska) ou ácidos − com elevados teores de enxofre − principalmente oriundos do Canadá) (Id., 2001). Investimentos no desenvolvimento de catalisadores para unidades de FCC7 também fazem parte desta tendência, uma vez que a necessidade deste tipo de processo de conversão torna-se particularmente mais presente no processamento de óleos mais pesados (BHASCAR et. al., 2002). Com relação à especificação dos combustíveis (qualidade) e qualidade do ar, pode-se dizer que o caso americano se apresenta como crítico (REGULATION, 2001). Estimativas de alocação de recursos (da ordem de dezenas de US$ bilhões) para a adequação de especificação de derivados de petróleo (diesel e gasolina), particularmente no que diz respeito aos teores de enxofre (Tier 2 Rule)8 e Metil-Terc-Butil Éter (MTBE) almejados pela Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana (EPA) têm se tornado assunto em pauta de diversas discussões e estudos promovidos por respeitadas instituições daquele país. Análises e previsões têm sido desenvolvidas, com o objetivo de avaliar os potenciais impactos aos quais os consumidores estariam 7 Do Inglês Fluid Catalytic Cracking – craqueamento catalítico em leito fluidizado (operação que visa obter cortes mais leves e nobres a partir, principalmente, dos resíduos da destilação atmosférica). 8 Decreto regulatório expedido pela Agência Americana de Proteção Ambiental – Environmetal Protection Agency (EPA) em 21/11/1999 requerendo, dentre outras coisas, a proibição da utilização do MTBE (cujo prazo limite, para o Estado da Califórnia, é 31/12/2002) a redução dos teores de enxofre da maioria das gasolinas comercializadas nos E.U.A para um máximo de 15 ppm (partes por milhão) no início de 2006 (NAKAMURA, 2002). 26 sujeitos, quando as tendências futuras da atividade de refino, seja sob o ponto de vista regulatório-ambiental, seja sob o ponto de vista tecnológico, se tornarem realidade. 1.3.3 – CONSEQÜÊNCIAS DAS MODIFICAÇÕES De uma maneira geral, o Conselho Nacional de Petróleo NorteAmericano – NPC pôde concluir que os maiores problemas estariam relacionados a possíveis lapsos locais na oferta de derivados (por parte dos agentes refinadores e importadores, assim como operadores do sistema de distribuição) uma vez que, certamente, nem todas as empresas e/ou concessionárias estariam preparadas para despender recursos que tornassem viáveis as adaptações9 necessárias em todas as áreas do país, sendo esta decisão de cunho estratégico e função do mercado de interesse a ser atendido (NPC, 2000). Nesse sentido, certamente, o aparecimento de regulamentações ambientais mais restritivas (redução do teor de enxofre, diminuição da parcela de MTBE na gasolina, controle mais rígido da volatilidade, etc.) de certo tenderão a promover maior competitividade (com relação ao custo e à qualidade) entre os atores interessados apesar de poderem causar problemas (locais) de abastecimento no médio prazo nos E.U.A e em outras regiões do mundo. 1.3.4 – SITUAÇÃO ATUAL DAS PRINCIPAIS EMPRESAS ATUANTES EM REFINO NO MUNDO 27 Com relação à capacidade de processamento de óleo cru das principais companhias de petróleo do mundo, é possível observar, a partir dos números de 2001, que os movimentos de fusão e aquisição seja de empresas, seja de ativos no segmento de refino, representaram algumas modificações no ranking (TABELA 1.1) dos maiores refinadores do mundo (NAKAMURA, 2001), com relação às posições de janeiro de 2000. Alterações significativas envolveram, principalmente, as norte-americanas Chevron, Texaco, Phillips Petroleum Co. e Tosco Corp. Ranking (01/01/2001) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Ranking (01/01/2000) 1 2 3 12, 1310 4 5 Empresa Exxon Mobil Corp. Royal Dutch/Shell Corp. BP PLC Chevron-Texaco Corp. Sinopec Petroleos de Venezuela S.A. (PDVSA) 6 Total Fina Elf S.A. 7 Saudi Aramco 9 Petroleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) 8 China National Petroleum Corp. 43, 1411 Phillips Petroleum Co. 10 Petroleos Mexicanos (PEMEX) 11 National Iranian Oil Co. 16 Nippon Mitsubishi Petroleum Refining Co. ltd. 15 Repsol-YPF 17 Agip Petroli SpA. 18 Pertamina 19 Kwait National Petroleum Co. 20 Marathon Ashland Petroleum 22 Conoco Inc. Empresa de país membro da OPEP Capacidade (bpd) 5.308.000 3.889.000 3.163.000 2.950.000 2.665.000 2.656.000 2.498.000 1.991.000 1.832.000 1.763.000 1.728.000 1.632.000 1.484.000 1.223.000 1.150.000 1.043.000 993.000 966.000 935.000 852.000 TABELA 1.1 − Maiores refinadores do mundo Fonte: Adaptado de NAKAMURA (2001). 1.4 – ASPECTOS GERAIS DA INDÚSTRIA DE REFINO NO PAÍS 9 Avaliações técnicas, projetos de engenharia, financiamento, terceirização de atividades, desenvolvimento de produtos (ex. catalisadores para dessulfurização, FRANZ, 2001). 10 As posições 12 e 13 estão associadas às companhias Chevron e Texaco, respectivamente, quando atuavam de maneira independente. 11 As posições 43 e 14 estão associadas as empresas Phillips Petroleum Co. e Tosco Corp. antes da operação de fusão anunciada no final do ano 2000. 28 A Indústria do Refino12 representa um segmento de importância estratégica para o desenvolvimento econômico e industrial do país (BRANDÃO, 1999), na medida em que os produtos dela provenientes se tornam responsáveis por grande parte do suprimento de energia da malha viária (diesel e gasolina), bem como pela base das centrais de matérias primas petroquímicas13 (CMPs) (nafta) e indústrias de segunda geração. Nesse sentido, torna-se possível, a partir do entendimento do funcionamento dessa atividade (FIGURA 1.2) e do conceito de cadeia produtiva (FIGURA 1.3), fazer uma projeção das dificuldades relacionadas ao desenvolvimento nacional, caso lacunas ou insuficiências nessa competência tecnológica venham a se sedimentar (MILANI, 2001). Visando uma melhor compreensão dos principais aspectos estratégicos relacionados, uma série de projetos foi desenvolvida (mediante, em particular, grande subsídio da Agência Nacional do Petróleo − ANP, dentre outras instituições) em universidades e centros de pesquisa de renome. Entretanto, apesar do contexto de transformações relacionado à vigoração da lei n.º 9.478, no que diz respeito ao setor nacional de óleo e gás (e sua cadeia produtiva como um todo: exploração e produção − E&P, refino, distribuição, revenda) ser bastante atual, discussões a respeito do segmento de upstream (principalmente exploração, em função das margens envolvidas – FIGURA 1.4) e da questão da liberação da importação de derivados (ou da sua adulteração) têm sido preferidas por diversos autores, em detrimento de uma análise detalhada (a que me proponho) da atividade de refinação de petróleo no país, dentro do novo arcabouço legal relacionado. 12 Segundo o inciso V do art. 6º, da seção II, capítulo III da lei n.º 9.478 de 06/08/1997, a atividade de refino consiste no conjunto de processos destinados a transformar o petróleo em seus derivados, estando, dessa forma, a indústria de refino inserida na indústria do petróleo que, pela definição do inciso XIX, consiste no conjunto de atividades econômicas relacionadas com a exploração, desenvolvimento, produção, refino, transporte, importação e exportação de petróleo, gás natural, outros hidrocarbonetos fluidos e seus derivados. 13 A ANP define CMP como uma unidade de processamento de condensado, gás natural, nafta e outros, que possua craqueamento térmico, com uso de vapor de água, e/ou unidade de reforma catalítica para produzir, prioritariamente, matérias primas para a indústria química, tais como: eteno, propeno, butenos, butadienos e suas misturas; benzeno, tolueno, xilenos (BTX) e suas misturas (Anuário Estatístico da ANP 2001). 29 Óleo Cru Energia REFINO Efluentes Fronteira da atividade Base p/ Combustíveis Petroquímicos FIGURA 1.2 − Visão simplificada de uma refinaria de petróleo Fonte: Elaboração própria. Logística Exploração Desenvolvimento Sondagem Produção Refino Petroquímica Transporte Distribuição FIGURA 1.3 − Cadeia produtiva da indústria de petróleo Fonte:MILANI (2001). 30 Neste sentido, apesar de haver alguma literatura recente relacionada à gestão da atividade de processamento de cru para refinarias genéricas (FAVANNEC, 2001), ou que aborde algumas particularidades sobre a realidade nacional do tema (TOLMASQUIM E SZKLO, 2000), aspectos relacionados à análise de desempenho das refinarias, apesar de abordados em contribuições recentes como TOLMASQUIM et. al. (2000) ou SEIDL e MAGALHÃES (2001) não fazem menção à possibilidade de movimentos de integração (para frente e para trás) ou re-organização desta atividade. Assim, estudos relacionados à compreensão das diversas transformações políticas e econômicas, que procurem integrar os componentes técnicos e gerenciais dentro da realidade atual no segmento, embora não esgotem o assunto, servem de subsídio ao desenvolvimento de proposições a cerca de tendências na modificação da indústria de refino nacional. Assim, preocupações que procurem considerar interações entre atores do segmento, dentro de um novo panorama estratégico e legal, deixam uma lacuna propícia ao escopo deste trabalho. Upstream Exploração Produção Downstream Refino Transporte Distribuição Revenda Perspectiva de ganho Baixa Elevada FIGURA 1.4 − Estrutura da Indústria Brasileira de Petróleo Fonte: ANP (2002a). 31 1.4.1 – MODIFICAÇÃO DA ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE REFINO Tendo em vista o caráter estratégico da atividade, esforços relacionados à compreensão das possíveis tendências estruturais que essa indústria venha assumir, a partir da configuração singular em que se encontrava há pouco (monopólio legal14 da PETROBRAS), apresentam-se, de fato, convenientes. Haja vista a modificação da legislação para o setor de óleo e gás (lei n.º 9.478), alguns fatores se apresentam como contribuintes para tais modificações: 1. Alteração do regime de importação de derivados, amparada pela lei do petróleo − que permitiu a importação de diesel e gasolina (dentre outros derivados) a partir de 1º de janeiro de 2002, findo o período de transição15 previsto. 2. Aumento do poder de negociação das centrais de matéria prima (CMPs), sobretudo após o leilão da Companhia Petroquímica do Nordeste (COPENE, atual Braskem S.A.) − que atualmente divide16 com o Grupo Ipiranga o controle acionário da Companhia Petroquímica do Sul (COPESUL) − hoje de propriedade do grupo Odebrecht (TABELA 1.2), que poderão vir a buscar, estrategicamente, um posicionamento de integração para trás a partir da instalação de refinarias próprias, ou troca de ativos em refinarias existentes. EMPRESA PARTICIPAÇÃO (%) 14 Muito embora a nova lei do petróleo atue como dispositivo regulatório que objetiva promover maior competição no setor de óleo e gás, via legalização da concorrência, a estatal ainda é responsável por cerca de 99% da atividade de refino no país, em termos de petróleo processado (ANP, 2002c). Dessa maneira, apesar da flexibilização legal, existe ainda monopólio de fato. 15 O período de transição correspondia ao intervalo de tempo entre a promulgação da lei n.º 9.478 (06/08/1997) e 01/01/2002, quando os monopólios de exploração, produção, refino e distribuição estriam totalmente flexibilizados, os subsídios extintos, havendo ainda a liberação das importações de óleo cru e derivados energéticos ou não. 16 Ambos detêm 29,46% do capital votante. 32 Petroquisa (PETROBRAS Química S.A.) 8,10 Previ (Fundo de previdência do Banco do Brasil) 3,10 Grupo Odebrecht 44,6 Norquisa1 (Nordeste Química S.A.) 30,8 Grupo Mariani 3,60 Petros (Fundo de previdência da PETROBRAS) 3,10 Mercado de Capitais2 6,80 TABELA 1.2 − Controle acionário (capital votante) da Braskem S.A. 1 Controlada pelos Grupos Odebrecht e Mariani (39,80% e 16,10% do capital votante, respectivamente) 2 Ações negociadas na bolsa de São Paulo (Bovespa) e ADRs na bolsa de New York (NYSE). Fonte: COPENE (2002). 3. Possibilidade de participação ativa de multinacionais da indústria do petróleo tais como: El Paso, Total Fina Elf, Enterprise Oil, Esso, Phillips Petroleum, Petroserv ou Statoil17, (recentes concessionárias de blocos nas bacias brasileiras, vide ANEXO I, p. 155), no âmbito da indústria do refino, considerando a possibilidade de Integração para frente – movimento a jusante das atividades de E&P (FIGURA 1.5)18. Atividades da concessionária (Momento 1) Atividades da concessionária (Momento 2) Exploração Exploração Desenvolvimento Desenvolvimento Produção Produção Refino Refino FIGURA 1.5 – Movimento de integração para frente Fonte: Elaboração própria t 1.5 – O CARÁTER OPORTUNO DE UMA ANÁLISE NO SEGMENTO DE REFINO 17 Foram indicadas no exemplo empresas integradas ao longo da cadeia produtiva do petróleo. 33 Haja vista o teor (complexidade) e a diversidade dos fatores mencionados, somados a recente preocupação de cunho ambiental (CHENG et. al., 1998), elementos para sustentar a hipótese da modificação na estrutura dessa indústria, certamente não faltam. Resta saber, ou pelo menos fornecer, ferramentas de como buscar as possíveis configurações (tendências) futuras a serem assumidas, quando da vigoração dessas transformações. Assumindo como válidas tais considerações, provavelmente, o desenho das forças competitivas (PORTER, 1980) atuantes no refino de petróleo no país irá se modificar. Assim, traçar um panorama das possíveis configurações que este poderá assumir, valendo-se de variáveis que busquem integrar os componentes técnicos (relacionados à atividade de produção) e gerenciais (relacionados à performance) para a construção de uma tipologia de refinarias poderia ser muito útil na compreensão das transformações associadas. Dessa forma, tornar-se-ia possível construir argumentos sustentáveis que dariam subsídios para entender e justificar mudanças de interesse dos principais atores envolvidos: governo (enquanto regulador, sob a figura da ANP), PETROBRAS, possíveis entrantes internacionais como players globais da indústria do petróleo e grupos industriais nacionais da iniciativa privada. Nesse sentido, mostra-se pertinente o desenvolvimento de uma ferramenta de comparação de performance entre refinarias, na tentativa de apontar perspectivas no que tange à intenção de alocação de recursos/propensão a investimentos futuros levando em consideração aspectos relacionados à competitividade destas unidades. 18 Esquema hipotético da consolidação de um movimento de integração para frente, por parte de uma concessionária. 34 1.5.1 – OBJETIVOS 1. Identificar os agentes atuantes no segmento de refino no país, no contexto da nova realidade regulatória vigente; 2. Apresentar um modelo da estrutura da indústria de refino brasileira buscando quantificar o poder de atuação dos atores nela inseridos; 3. Traçar um panorama, à luz das possíveis transformações que venham a ocorrer a médio ou longo prazos no âmbito da referida indústria, atentando para eventuais alterações no ambiente competitivo em que esta se insere; 4. Construir uma tipologia de refinarias, baseada em indicadores gerenciais e técnicos que venha a retratar as tendências de organização e diferenças de performance dentro da referida indústria, servido de ferramenta na avaliação da direção de investimentos futuros por parte dos grupos interessados. 1.5.2 – DIMENSÃO TEMPORAL Com relação ao intervalo de tempo investigado para a análise desenvolvida neste trabalho, tomou-se por base o ano de 2001 como representativo da situação da atividade de refino no país, imediatamente antes da abertura do mercado de derivados, representada pelo final do período transitório estipulado pela lei n.° 9.478. Cabe ressaltar que, muito embora possíveis críticas relativas à pequena dimensão do período analisado venham a ser pertinentes, tendo a metodologia proposta sido desenvolvida a partir de um modelo estático de estrutura da indústria (PORTER, 1980), uma fotografia da situação da atividade de refino nacional que antecede à nova realidade de mercado aberto (ano de 2001) se apresenta como o subsídio mais condizente com a análise proposta. 1.5.3 – MOTIVAÇÃO Modificações atuais no contexto político (regulação) econômico (livre mercado) que apresentam implicações diretas na lógica de organização da 35 indústria a ser analisada representam um desafio para uma proposta de estudo que venha a ser útil, como ferramenta de análise por parte dos diferentes atores (academia, governo, empresas estatais – PETROBRAS e privadas) que desempenham papéis importantes e distintos, dentro do ambiente em questão, de acordo com seus interesses. 1.5.4 – JUSTIFICATIVA Face à situação singular do segmento de refino no país e o particular caráter estratégico a trabalho de pesquisa ele associado, mostra-se pertinente desenvolver um que vise buscar elementos para analisar as conseqüências da modificação na estrutura dessa indústria devido, às implicações relacionadas à nova lei do petróleo (Lei n.º 9.478, de 06/08/1997) como a possibilidade de integrações para trás, por parte das centrais petroquímicas (sobretudo após o leilão da COPENE S.A.) ou para frente, por parte de empresas atuantes nos segmentos de exploração e produção, licitantes de blocos em bacias como Campos (RJ) e Santos (SP), assim como a participação de novos atores do setor (importadores e formuladores), após a flexibilização do monopólio. 1.6 – ASPECTOS SOBRE A ESTRUTURA DO TRABALHO DESENVOLVIDO Com vistas à forma, a dissertação foi dividida em nove capítulos, enunciados a partir deste que discorrem sobre assuntos relacionados ao setor de petróleo e gás, numa tentativa de integrar elementos que traduzam sua lógica, bem como esclarecer as particularidades da atividade de refino, valendo-se de bibliografia de suporte à discussão da dimensão estratégica, num âmbito gerencial, sem deixar de contextualizar a análise com o novo arcabouço legal vigente no país após 1997. 1.6.1 – CONTEÚDO Tendo sido sugerido o caráter oportuno do desenvolvimento de uma análise sobre a atividade de refino no país, num novo contexto pósflexibilização do monopólio e apresentados os objetivos e a motivação que 36 nortearão a seqüência deste trabalho, sua estrutura foi dividida da seguinte forma: O Capítulo II (O desenvolvimento da indústria nacional de petróleo e suas implicações para a atividade de refino) fornece uma seqüência histórica dos acontecimentos relacionados à indústria de petróleo no país, desde o descobrimento das primeiras reservas, apresentando alguns elementos sobre os aspectos legais nos primórdios da atividade exploratória. Discutem-se ainda a estruturação do setor, a criação do Conselho Nacional do Petróleo (CNP) e da PETROBRAS, o desenvolvimento da atividade de refino no país, características do óleo nacional, além de programas tecnológicos e fatos relevantes de 1950 até o presente, facilitando o entendimento da situação atual da atividade de refino no pais. O capítulo seguinte (Regulação: A nova realidade do setor de óleo e gás no país) comenta de maneira sucinta os fundamentos teóricos da regulação econômica, atendo-se às suas implicações práticas para a atividade de refino no país, a partir da vigência da lei n.º 9.478 e da criação da ANP. Enumera, ainda, as principais portarias de regulamentação de derivados relacionadas à atividade-alvo da análise, além de definir os objetivos da abertura do mercado de combustíveis, os novos atores do segmento, bem como suas atribuições legais. O Capítulo IV (Referencial teórico) tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica a respeito dos fundamentos em gestão estratégica, apresentando uma seqüência de abordagens relacionadas, assim como um levantamento trabalhos clássicos e recentes a cerca da atividade de refino. O capítulo subseqüente (Situação atual da indústria de refino no país) fornece características e dados relevantes, como localização, propriedade, produção, gastos com importação, utilização da capacidade instalada e investimentos planejados relativos Mencionam-se ainda estatísticas consolidadas ao parque brasileiro. e estimativas a respeito da dependência externa de óleo e derivados, além da discussão da atuação das centrais petroquímicas no novo cenário do setor desregulamentado. O Capítulo VI (Análise da estrutura da indústria de refino frente à nova realidade regulatória) apresenta a justificativa da utilização da abordagem de Forças Competitivas com agente complementador (desenvolvida por PORTER, 1980 e estendida por BRANDENBURGER e NALEBUFF, 1996) 37 para modelar a estrutura da indústria de refino num novo ambiente contextualizado pela lógica de mercado pós-flexibilização. Explora-se ainda uma teoria sobre estratégia de terceirização (ARNOLD, 2000), que utilizada sob a ótica de potenciais investidores estrangeiros, apresentar-se particularmente interessante no que condiz ao desenvolvimento de acordos para uma eventual expansão da capacidade de refino nacional, motivando, dessa maneira, uma análise comparativa no parque nacional. O Capítulo VII (Metodologia de análise) preconiza a descrição das etapas de desenvolvimento de uma análise comparativa das refinarias brasileiras, com base na sua competitividade, mediante subsídio de suporte teórico aliado à experiência de pesquisadores e profissionais atuantes no segmento. Propõe ainda uma divisão das referidas unidades em quatro grupos (clusters), a partir de uma análise do comportamento das variáveis estudadas. O Capítulo VIII (Discussão dos Resultados) fornece a comparação das refinarias brasileiras, segundo os critérios pré-estabelecidos na metodologia, discutindo os resultados obtidos com relação à tipologia empírica proposta, tendo em vista a propensão diferencial dessas unidades ao interesse de concessionárias de atividades de E&P no país. O Capítulo IX (Conclusões) tem por objetivo comentar os resultados obtidos fornecendo perspectivas a respeito de uma eventual reorganização do parque de refino brasileiro, considerando a possibilidade do movimento de integração para frente por parte de concessionárias atuantes nas atividades de E&P no país, num novo ambiente de mercado aberto. 38 CAPÍTULO II O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA NACIONAL DE PETRÓLEO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A ATIVIDADE DE REFINO 2.1 – OBJETIVO DO CAPÍTULO Tendo sido sugerida uma motivação com relação ao entendimento do novo ambiente legal das atividades relacionadas ao setor de óleo e gás, mostra-se importante compreender os aspectos responsáveis pela evolução que o tornou possível. Nesse sentido, o capítulo procura apresentar acontecimentos relevantes ao desenvolvimento da indústria de petróleo nacional e, particularmente, do segmento de refino, desde os primórdios da atividade exploratória no país, até a realidade atual do setor desregulamentado. 2.2 – REGISTROS DA OCORRÊNCIA DE OLEO NO PAÍS E OS ASPECTOS LEGAIS ENVOLVIDOS Segundo MENEZELLO (2000, p. 30), os primeiros documentos sobre petróleo no Brasil datam da segunda metade do século XIX, ainda durante o governo do segundo reinado, iniciando-se em 1864, na Bahia, estudos sobre a possibilidade da ocorrência do mineral em território nacional. A autora destaca ainda que a legislação atribuída à atividade de lavra de minerais em geral passou por modificações que oscilavam entre a propriedade e a concessão do subsolo (naquela época apenas com ênfase em bacias continentais), fato particularmente interessante, sobretudo se considerarmos as disposições legais atuais (Cap. III). Dentro desse raciocínio, no que se refere às riquezas minerais do subsolo, a primeira Constituição da República (1891) estabelece, na Seção II – Declaração de Direito, art. 72, § 17, que: “As minas pertencem aos proprietários do solo, salvas as limitações que forem estabelecidas em lei a bem da exploração deste ramo de indústria.” No entanto, segundo MARINHO JR (1989, p. 216) apud MENEZELLO (2000 p. 30), nesta mesma Carta Republicana 39 “substituiu-se o regime da dominialidade das minas pelo sistema fundiário ou direito de acessão, atribuindo-se a propriedade do subsolo e de suas riquezas ao proprietário do respectivo subsolo, a título de propriedade acessória, como na legislação americana.” adotando-se, assim, o regime de propriedade plena. Nos anos que se seguiram, destacam-se variadas buscas por petróleo com a participação de técnicos estrangeiros, sendo criado em 1907 o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil (SGMB), como uma entidade vinculada ao Ministério da Agricultura. Como principais dificuldades da atividade de lavra, sobressaíam-se as carências tecnológicas e a dimensão continental do território brasileiro (MENEZELLO, 2000 p. 31). Ainda segundo MARINHO JR, (1989, p. 223) apud MENEZELLO (2000, p. 31): “em 1928, o SGMB fixou nova doutrina em matéria de produção de petróleo. Substituiu a ‘orientação preferencialmente inicial’ por uma base marcadamente científica, pela qual ‘todas as sondagens deverão ser feitas onde houver estrutura geológica apropriada para a concentração de petróleo em quantidades expropriatórias’. Dentro da nova orientação, prosseguiram em 1929 as perfurações nos Estados do Pará, São Paulo e Paraná.” Tais aspectos representaram um passo importante caracterizado na Constituição de 1934, que “trouxe modificações importantes ao regime de exploração dos recursos minerais. Por outro lado, adotou o regime da concessão, ou seja, a exploração do bem mineral dependia de autorização federal19, e instituiu, pela primeira vez, em uma Carta Constitucional a dicotomia entre a propriedade do solo e do subsolo” (ALMEIDA, 1999, p.36 apud MENEZELLO, 2000, p.31). 2.3 – HISTÓRICO DA INDÚSTRIA NACIONAL DE PETRÓLEO Numa tentativa de resumir os caminhos traçados pela indústria de refino nacional, a ANP, em apresentação na Rio Oil & Gas Conference (ANP, 40 2002a), propôs uma divisão histórica da atividade em quatro fases (GRÁFICO 2.1), com base na comparação entre as capacidades instaladas, capacidades processadas e o consumo de derivados no país. São elas: 1. Aprendizado (até 1966); 2. Auto-suficiência (1967 – 1979); 3. Sobre-capacidade (1980 – 1989); 4. Retomada (após 1990). Com o intuito de facilitar a ilustração dos fatos marcantes com relação às atividades da indústria de petróleo no Brasil e, em particular, do segmento de refino, adotou-se a proposta para o desenvolvimento da série Barris/dia histórica do presente capítulo. Ano GRÁFICO 2.1 – Fases do desenvolvimento do refino no Brasil Fonte: ANP (2002a). Obs.: Assinalou-se, em amarelo, a fase atual que será tratada, em maior detalhe, ao final do capítulo. 2.3.1 – DO INÍCIO DAS ATIVIDADES ATÉ 1966 De acordo com estudo realizado pela GAZETA MERCANTIL – Análise Setorial (1999), a atividade de refino de petróleo no Brasil teve início 19 Tal qual como acontece hoje, após a promulgação da Lei N.º 9.478 de 06/08/1997, conforme 41 em 1932, antes mesmo de que se encontrasse a primeira gota de óleo em território nacional (que só viria acontecer em 1934), com a Destilaria SulRiograndense, construída da cidade de Uruguaiana (RS), na fronteira com a Argentina e pioneira na refinação de petróleo no país. Operando em processo descontínuo, com capacidade inicial de 25 m3/dia (157 bpd), era abastecida por óleo bruto proveniente do Equador e importado via Argentina. Em 1935, aquele país proibiu o tráfego de petróleo em trânsito para outros países, sendo a solução encontrada importar óleo pelo porto do Rio Grande (RS) − o que resultou no projeto da Refinaria de Petróleo Ipiranga (RPI) (159 m3/dia ou 1.000 bpd), construída próxima a este e inaugurada em 1936. Também em 193620, foi inaugurada, em São Caetano (SP), a Refinaria Matarazzo, com capacidade de processar 80 m3 (500 bpd) que, por sua vez, fazia parte das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, o maior conglomerado industrial brasileiro da época. Durante a Segunda Guerra Mundial, as refinarias brasileiras tiveram sérios problemas de abastecimento em função da dificuldade de obtenção de petróleo importado, devido às operações de submarinos alemães em diversas regiões do Atlântico-Sul. Dentro desse contexto, após a guerra, em meados de 1950, o então Conselho Nacional de Petróleo – CNP , órgão estatal que havia sido criado em 1938, inaugurou a Refinaria de Mataripe (BA), para processar o petróleo extraído do Recôncavo Baiano, com capacidade de 400 m3/dia (2.512 bpd), sendo maior do que as três outras unidades precursoras. Em 1953, com a promulgação da Lei n.º 2.00421, o refino passou ao monopólio estatal, exercido pela recém-criada Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS), que incorporou ao seu patrimônio os campos de petróleo no Recôncavo Baiano, a Frota Nacional de Petroleiros – FRONAP (com 22 navios), os bens da Comissão de Industrialização do Xisto Betuminoso (PETROBRAS, 2002c), além das refinarias de Mataripe (futuramente RLAM, BA) e a Refinaria Presidente Bernardes (futuramente RPBC), em Cubatão (SP), ambas em fase de construção (as obras foram iniciadas pelo CNP e concluídas pela empresa em 1955). abordado em detalhe no Cap. III. 20 Neste mesmo ano, a capacidade de refino (no país) atingiu 265 m3/dia (1.650 bpd). 21 Lei que regulamentou a criação da Petróleo Brasileiro S.A.(PETROBRAS) e instituiu o monopólio em relação às atividades relacionadas à cadeia produtiva da commodity. 42 Com relação à indústria nacional de petróleo, os anos 1950 (e mais da metade da década de 1960) foram marcados pelo learning by doing. Naquela ocasião (e em outras) o governo foi responsável por uma série de benefícios, meios e facilidades concedidas à sua recém-criada estatal, visando aumentar a produção e o processamento de óleo cru, melhorar a infra-estrutura de abastecimento (desenvolvimento da rede de transporte) e incrementar a pesquisa no país. A partir da metade da década, a produção de petróleo somava cerca de 2.700 bpd, sendo associada aos campos de Candeias, Dom João, Água Grande e Itaparica, todos na Bahia (e em fase inicial de desenvolvimento), representando, aproximadamente, 27% do consumo brasileiro. Ao final da década, o parque de refino atendia a uma pequena fração do consumo nacional de derivados, neste momento, cerca de 137 mil bpd, sendo a maior parte destes, importada (Id., 2002). Segundo a GAZETA MERCANTIL – Análise Setorial (1999), pela legislação vigente na época, as refinarias privadas existentes foram mantidas com seus proprietários sendo, embora, impedidas de serem ampliadas22. Naquela ocasião, três refinarias privadas estavam em construção – Manguinhos no Rio de Janeiro (RJ), União, em Santo André (SP) e Isaac Sabbá, em Manaus (AM) – sendo concluídas entre 1954 e 1956. Amparada pela lei n.º 2.004 e detentora do monopólio de refinação de petróleo em território nacional, a PETROBRAS expandiu seu parque de refino com a construção de sete novas refinarias entre as décadas de 1960 e 1970, além da constante preocupação com a ampliação de suas capacidades. Em 1961, a estatal havia alcançado um dos seus principais objetivos: a auto-suficiência na produção dos derivados principais (gasolina, diesel e GLP), com o início do funcionamento da Refinaria Duque de Caxias (REDUC), situada no Estado do Rio de Janeiro e primeira construída pela empresa (naquela década) sendo a REVAP, em São José dos Campos (SP) a última. Durante aqueles anos, outras unidades entraram em operação: As Refinarias Gabriel Passos (REGAP, em 1968), em Betim, MG e Alberto Pasqualini (REFAP, no mesmo ano), em Canoas, RS. 22 Um mês antes da promulgação da lei n.º 2.004, a RPI havia aumentado a sua capacidade para 1.500 m3/dia (9.420 bpd). 43 A PETROBRAS acabou também absorvendo diversas refinarias privadas, como a pioneira Destilaria Sul-Riograndense e a Refinaria Matarazzo – ambas desativadas em seguida – a Refinaria União Santo André (atual Refinaria de Capuava, RECAP) e a Refinaria Isaac Sabbá (futuramente conhecida como REMAM), restando apenas as Refinarias Ipiranga (RPI, de propriedade da Petróleo Ipiranga S.A.) e Manguinhos (naquela época apenas de grupo Peixoto de Castro) sob propriedade privada (GAZETA MERCANTIL – Análise Setorial, 1999). No que concerne à importação de petróleo e derivados, pode-se observar uma evolução na vocação da produção desses últimos em território nacional: Enquanto em 1953, quando da criação da estatal, 98% das compras (do setor) no exterior correspondiam à demanda por derivados e apenas 2% a óleo cru (uma proporção de 49:1), em 1967 a relação era de 1:11,5, ou seja, 8% de derivados para 92% de petróleo bruto, numa tendência invertida. Com relação à produção de óleo, registrou-se ainda um outro importante marco alcançado nesta fase de aprendizado: O patamar de 100.000 bpd, em 1962. 44 De acordo com PETROBRAS (2002c), destacam-se como marcantes, nesta primeira fase, os seguintes fatos: 1. A partida da Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão (SP), em 1955; 2. A descoberta (no mesmo ano) de petróleo em Nova Olinda, AM, sendo considerado mais tarde campo de aproveitamento subcomercial; 3. O início da operação do Terminal de Madre de Deus (BA), que tornou possível enviar para São Paulo o excesso de óleo produzido no Estado (1956); 4. O esforço para conseguir, no mercado interno, quantidades cada vez maiores de materiais e equipamentos. Em 1956, a RPBC adquiriu 78% dos seus suprimentos no país; 5. A intensificação das pesquisas geológicas e geofísicas em todas as bacias sedimentares conhecidas. 6. O início da exploração da plataforma continental, na faixa que se estendia do Maranhão ao Espírito Santo (1961); 7. A inauguração do primeiro posto de abastecimento PETROBRAS (BR Distribuidora) em Brasília, DF (1961); 8. A diversificação das fontes de suprimento da estatal, até então restritas à Arábia Saudita e Venezuela (1965); 9. A inauguração da Fábrica de Asfalto de Fortaleza (antiga ASFOR), hoje conhecida como Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste – LUBNOR (1966); 10. A Criação (no mesmo ano) do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da PETROBRAS – CENPES, atualmente o maior centro de pesquisas da América Latina. 45 2.3.3 – A AUTO-SUFICIÊNCIA (1967 – 1979) Data dessa fase a primeira descoberta de petróleo no mar, em 1968. O campo de Guarirema no litoral de Sergipe representaria um passo importante para que o país mergulhasse em direção ao futuro sucesso exploratório na atividade offshore. No inicio dos anos 1970, o consumo de derivados de petróleo duplicou, impulsionado, principalmente, pelo crescimento médio anual do PIB a taxas superiores a 10% a.a. (milagre econômico). Como responsável pelo abastecimento nacional de óleo e derivados, a estatal brasileira viu-se diante da necessidade de reformular sua estrutura de investimentos, na tentativa de atender uma demanda crescente. Datam desse período o início da construção da Refinaria de Paulínea (REPLAN), SP, a modernização da RPBC, além da construção da unidade de lubrificantes da REDUC (Id., 2002b). A década de 1970 seria marcada ainda por duas crises. Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) elevaram substancialmente os preços internacionais da commodity, provocando os chamados choques de 1973 e 1979. O mercado tornou-se, então, conturbado e repleto de incertezas relacionadas a dois fatores fundamentais de interesse nacional: O preço do barril cotado internacionalmente e a garantia de suprimento. Entretanto, como importante cliente das companhias (estatais) dos países membros da OPEP, a PETROBRAS conseguiu manter o abastecimento nacional, como resultado de anos de bons relacionamentos com as mesmas, diminuindo o impacto, para o mercado brasileiro, da conjuntura político-econômica internacional. Na busca da superação das dificuldades cambiais, (com a importação de quantidades crescentes de óleo a elevados valores em dólar), o governo adotou medidas econômicas de contingência, algumas destas, ligadas, diretamente, à estatal: Redução do consumo de derivados e aumento da oferta interna de petróleo. Datam dessa época a adoção de contratos de risco assinados entre a PETROBRAS e companhias privadas, para intensificar a pesquisa de novas jazidas, bem como o desenvolvimento de fontes alternativas de energia. O exemplo clássico foi o incentivo na utilização do álcool como combustível automotivo, com a criação do Programa Nacional do Álcool – Proálcool. Passou a ser dada prioridade aos investimentos nas áreas 46 de E&P, ocasionando aumento da produção de óleo brasileiro, sendo utilizado, cada vez mais, na carga das refinarias do país23. Destacam-se de acordo com PETROBRAS (2002c) como marcos da fase de auto-suficiência: 1. A constituição da PETROBRAS Química S.A. (Petroquisa), buscando articular a ação dos setores estatal e privado na implantação da indústria petroquímica no país (1967); 2. O inicio dos levantamentos geofísicos na Bacia de Campos (RJ), sendo o primeiro poço submarino perfurado em 1968. 3. A criação de 5 (cinco) outras subsidiárias: PETROBRAS Distribuidora (1971), PETROBRAS Internacional – Braspetro (1972), PETROBRAS Fertilizantes – Petrorfértil e PETROBRAS Comércio Internacional – Interbrás (1976), além da PETROBRAS Mineração S.A. – Petromisa (1977); 4. A Partida do Complexo Petroquímico de São Paulo (1972), em Cubatão (I pólo petroquímico brasileiro), com a operação da Petroquímica União (PQU), sua CMP; realização (no mesmo ano) da primeira extração de óleo de xisto com a partida da Usina Protótipo do Irati, em São Mateus do Sul, PR. 5. O Início da operação das Refinarias de Paulínea – REPLAN (SP), ainda hoje a maior do país e Presidente Getúlio Vargas (REPAR), em Araucária, PR (1977), além do início da produção de petróleo na Bacia de Campos, no mesmo ano, no campo de Enchova. 6. A Compra das Refinarias de Capuava, SP (hoje RECAP) e Manaus (Isaac Sabbá, hoje REMAM) pela PETROBRAS (1974); 7. A Primeira descoberta de acumulo de gás com possibilidades comerciais na região amazônica em Juruá, AM (1978); 8. A Inauguração da Copene (atual Braskem) − Companhia Petroquímica do Nordeste S.A. (CMP do II pólo petroquímico do país), subsidiária da Petroquisa, em Camaçari, BA (1978). 23 Ao final da década o país produzia 165.000 bpd, 34% dos quais devido a atividades offshore, atingindo a produção média de gás natural o patamar de 5.200 m3/dia (Id., 2002). 47 2.3.4 – SOBRE-CAPACIDADE (1980 – 1989) Segundo PETROBRAS (2002c), a chamada “década perdida” levou a indústria nacional de óleo a superar grandes desafios. Com as bruscas elevações dos preços no exterior (reflexo, principalmente da crise de 1979), o dispêndio de divisas com petróleo e derivados aumentava cada vez mais, chegando a alcançar a casa dos US$ 10 bilhões em 1981. Dentro deste contexto, investimentos em atividades de E&P, junto ao esforço desenvolvido na área de comercialização, contribuíram para minimizar a dependência energética nacional, reduzindo, em 70% (em meados de 1989), os gastos do setor com produtos importados. Com relação à atividade offshore, a estatal brasileira importou tecnologia disponível no exterior para produção em lamina d'água de 120 m, consolidando a primeira fase de operação comercial da Bacia de Campos, RJ. A utilização de sistemas antecipados trouxe a possibilidade de antever receitas e o domínio gradual da tecnologia de produção submarina, fundamental para a atual posição de destaque da companhia, no que tange à produção em águas profundas. Sucessivos recordes foram alcançados, atingindo a marca dos 675.135 bpd em dezembro de 1981. Bons resultados foram relatados no que concerne à atividade de produção em bacia continental. A operação comercial do campo de Urucu, no Alto Amazonas (1988), descoberto dois anos antes, foi um marco histórico nas operações da companhia naquela região, onde a procura de óleo antecedia à criação da empresa. A respeito do segmento de refino, as instalações industriais da PETROBRAS foram adaptadas, em todo o país, na tentativa de atender o consumo crescente de derivados. Data dessa década a implantação do Projeto Fundo de Barril, com o objetivo de transformar os excedentes de óleo combustível (produto de baixo valor agregado) em derivados (nobres) como óleo diesel (de maior demanda), gasolina automotiva e GLP. Os anos 1980 foram marcados ainda pelo germinar da preocupação ambiental (por parte da empresa) a exemplo da alocação de recursos no treinamento e educação ambientais, no desenvolvimento de tecnologias específicas de proteção do meio ambiente, além da adoção de um programa de melhoria da qualidade de combustíveis. Segundo PETROBRAS (2002c), destacaram-se ainda: 48 1. A Entrada em operação da Refinaria Henrique Lage (REVAP), em São José dos Campos, SP (1980); 2. A Partida do III pólo petroquímico brasileiro, instalado em Triunfo, RS (1982); 3. A Construção do Centro de Combate à Poluição por óleo (primeiro do país), em São Sebastião, SP (1984); 4. A Realização das únicas descobertas comerciais efetuadas pelas contratantes de risco: Gás natural pela Pecten, na Bacia de Santos (SP) e óleo, pela brasileira Azevedo Travassos, na parte terrestre da Bacia Potiguar, RN (1985); 5. A Descoberta dos primeiros campos gigantes em águas profundas da Bacia de Campos (RJ) – Albacora (1984) e Marlim (1985); 6. A Criação do Programa de Inovação Desenvolvimento Avançado – PROCAP, Tecnológica e para viabilizar a produção de óleo e gás primeiramente em profundidades superiores a 1.000 m e, posteriormente, a 3.000 m (1986); 7. A Consolidação do pioneirismo na exploração em águas profundas, com perfuração de poços de lâminas d'água superiores a 1.200 m e produção a profundidades de cerca de 400 m (recorde mundial em 1986); 8. O Novo recorde mundial de produção em águas profundas (492 m), no campo de Marimbá, RJ (1988). 49 2.3.5 – A RETOMADA (DO INÍCIO DOS ANOS 1990 ATÉ HOJE) Os últimos dez anos representaram o início da vanguarda tecnológica: sensoriamento remoto, poços perfurados horizontalmente, robótica submarina, produção de petróleo em águas ultraprofundas. A estatal brasileira iniciou a década sendo indicada pela Offshore Technology Conference para receber o OTC Distinguished Achievement Award, o maior prêmio do setor petrolífero mundial, em reconhecimento à sua notável contribuição para o avanço da tecnologia de produção em águas profundas. O início dos anos 1990 foi marcado pelo desafio de produzir petróleo em águas abaixo de 500 metros, feito não conseguido então por nenhuma companhia no mundo. A partir de notório esforço e concentração de competências principalmente nacionais, desenvolveu-se a tecnologia necessária para produzir em águas até mil metros, sendo o sucesso tamanho que, menos de uma década depois, o país seria indicado como referência na produção em águas ultraprofundas24. Além da capacitação brasileira na produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas, outros desafios foram enfrentados pelo setor nacional de óleo e gás. Entre eles estão o aumento do fator de recuperação do petróleo das jazidas, o desenvolvimento de novas tecnologias para adequação do parque de refino ao perfil da demanda nacional (principalmente diesel, gasolina automotiva e GLP) de derivados e a formulação de novos produtos e aditivos que garantam o atendimento à crescente exigência da sociedade brasileira por combustíveis e lubrificantes de melhor qualidade. A partir de agosto de 1997, o setor passou a atuar em um novo cenário de competição instituído pela lei n.° 9.478, que regulamentou a emenda constitucional de flexibilização do monopólio estatal do petróleo. Abririam-se, então, perspectivas de ampliação das atividades produtivas para empresas estrangeiras interessadas (E&P, refino, distribuição), vislumbrando a situação de mercado aberto (que se consolidaria no início de 2002). 24 Dentre os últimos recordes registrados, destaca-se o obtido em janeiro de 1999 no campo do Roncador, na Bacia de Campos (RJ), produzindo a 1.853 metros de profundidade. 50 Segundo Id. (2002b), entre o início da década de 1990 e os dias atuais, destacam-se: 1. O Decreto Presidencial n.° 99.226, de abril de 1990, determina a extinção da Interbrás e da Petromisa; 2. A Assinatura do acordo Bolívia − Brasil, para importação de gás natural, prevendo a construção de um gasoduto (GasBol) de 2.233Km (1993); 3. O Desenvolvimento do projeto Centros de Excelência que associa o governo, universidades e empresas privadas e a estatal na implantação de núcleos de notório saber com ascendência tecnológica de nível internacional (1997); 4. A Superação da marca de produção de 1 milhão bpd (1997); 5. A Criação (por força do decreto presidencial n.° 2.455, de 14 de janeiro de 1998) da ANP com a missão de promover a regulação e estimular a competição no setor nacional de petróleo e gás; 6. A Modificação do estatuto da Petrofértil (1996), a tal sorte que a empresa pudesse operar no segmento de gás natural. Mais tarde, a subsidiária teria sua razão social alterada para PETROBRAS Gás S.A. − Gaspetro (1998); 7. A Criação da PETROBRAS Transporte S.A. − Transpetro com o objetivo de construir e operar dutos e terminais, embarcação e instalações para o transporte e armazenagem de petróleo, gás e derivados (1998); 8. A Assinatura dos primeiros acordos de parcerias entre empresas nacionais e estrangeiras para a cooperação em atividades de exploração e desenvolvimento (1998); 9. A Inauguração da primeira etapa do gasoduto Bolívia − Brasil (trecho Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia e Campinas, SP) (1999) e o lançamento (no mesmo ano) da primeira rodada de concessões (Brazil round 1) de áreas exploratórias nas bacias sedimentares nacionais; 10. A Segunda (2000), terceira (2001) e quarta (2002) rodadas de concessões de áreas para atividades exploratórias. 51 2.4 – ASPECTOS EVOLUTIVOS DA ATIVIDADE DE REFINO NO BRASIL Especificamente com relação ao desenvolvimento da atividade de refino, optou-se pelo aprofundamento da discussão de dois aspectos particularmente importantes nas fases de Sobre-capacidade e Retomada, abordadas no histórico da indústria nacional de petróleo. 2.4.1 – NECESSIDADE DO PROCESSAMENTO DO ÓLEO NACIONAL De acordo com TOLMASQUIM et. al. (2000), o aumento do preço do óleo cru, devido ao segundo choque do petróleo, ocorrido no final de década de 1970, afetou sensivelmente a balança comercial brasileira, a ponto de, em 1981, os gastos com sua importação representarem cerca de 44% das compras nacionais. Nesse sentido, a necessidade de reduzir as importações motivou o aumento da participação do petróleo nacional no consumo brasileiro. A plataforma continental passou a merecer atenção especial e, depois de Guaricema, SE, foram realizadas mais de 20 descobertas de pequeno e médio portes no litoral de vários Estados (PETROBRAS, 2002c). Ressalta-se ainda que a adoção de técnicas pioneiras colocou em operação áreas produtoras recém-descobertas na Bacia de Campos, RJ e disparou investimentos por parte da estatal na capacitação de produção em águas profundas25, no intuito de reduzir as importações nacionais de petróleo. Como resultado desse esforço, a produção nacional cresceu de 97,4 milhões de barris, em 1982 (MME, 1998 apud TOLMASQUIM et. al., 2000) para 501,2 milhões de barris em 2001 (Dados Estatísticos mensais – ANP, 2002), o que representou uma taxa média anual de 19,96%. No mesmo período, o volume de importações caiu de 298,9 para 153,3 milhões de barris (uma variação total de -94,97% nestes nove anos), explicitando um gradativo aumento da participação do óleo nacional na carga das refinarias brasileiras. Como conseqüência, a participação do óleo bruto nas importações nacionais caiu para 9,3% em 1997. Neste mesmo ano a estatal atingiu o patamar de produção de 1 milhão de bpd, devendo-se esta marca, principalmente, aos 734 Mbpd produzidos na Bacia de Campos. 52 2.4.2 – PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO Os crescentes incrementos nas atividades offshore da PETROBRAS fomentadas, inclusive, pela competição por blocos exploratórios nas quatro rodadas (1999, 2000, 2001 e 2002) de licitações promovidas pela ANP sinalizam para uma produção de cerca de 1,7 milhão de bpd em 2002, com destaque para o Estado do Rio de Janeiro26, que deverá ser o responsável por mais de 80% do óleo nacional. Vale ressaltar, entretanto, que os petróleos oriundos do Norte Fluminense, ainda que tenham baixo teor de Enxofre (óleos doces27), apresentam baixo grau API28 (TABELA 2.1), exigindo um maior número de unidades de conversão para a obtenção de produtos de maior valor agregado. Bacia de Campos Oriente Médio e África América Latina Petróleo ºAPI Petróleo ºAPI Petróleo ºAPI Albacora 26 Arabe leve 35 Mescla Venezuelana 23 Cabiunas 25 Bonny leve 36 Maya29 22 Corvina 29 Dubai 32 Marimba 28 Iraniano leve 34 Marlim 19 Marlim Sul 27 TABELA 2.1 − Óleos nacionais e importados Fonte: TOLMASQUIM et. al. (2000). O programa Fundo de Barril (criado em 1981) e o Programa Estratégico da Tecnologia de Refinação (PROTER) mais recente (1997) objetivaram, diante desse quadro, promover modificações tecnológicas pertinentes nas refinarias (estatais) para torná-las aptas a aproveitar esses 25 Implantação do Programa de capacitação tecnológica de produção em águas profundas (PROCAP) em 1986. 26 O Estado do Rio de Janeiro foi responsável por 79,4% da produção nacional de óleo bruto no ano passado, com base no Anuário Estatístico da ANP (2002). 27 No jargão da indústria do petróleo, consideram-se como doces óleos que tenham baixos teores de enxofre, sendo ácidos aqueles que apresentam quantidades elevadas de compostos que apresentam elemento. 28 Escala idealizada pelo American Petroleum Institute – API, juntamente com o National Bureau of Standards – NBS, utilizada para medir a densidade relativa de líquidos. A escala API varia inversamente com a densidade relativa (quanto maior a densidade relativa, menor o grau API): º API = (141,5/g) – 131,5; onde g é a densidade do petróleo, em relação à água, a 15ºC. 29 Petróleo oriundo do México. 53 óleos pesados, na busca da otimização da produção de derivados que maximizassem frações leves (GLP, nafta e gasolina) e médias (diesel). Com relação ao PROTER, as preocupações com a estimulação da busca pela competitividade na indústria do refino (tendência mundial), em função da globalização dos mercados e do estreitamento da margem associada, foram decisivas com relação à necessidade de se implementar inovações tecnológicas e ferramentas de gerenciamento modernas, na busca da excelência em gestão (LEITE, 2000). Nesse sentido, o aumento da oferta do petróleo fluminense implicou na necessidade de investimentos nas refinarias para operar com essa matéria prima de forma rentável, assim, o fundamento do programa se baseia no fato de que um óleo de baixo grau API (pesado) gera grande quantidade de frações pesadas (escuros), de menor valor agregado, em detrimento dos derivados leves (claros), como gasolina, nafta ou querosene de aviação (QAV) (TOLMASQUIM et. al., 2000). No que concerne às características da atividade, o parque de refino atual difere bastante daquele em operação na década de 1980, seja em relação à qualidade do óleo processado (hoje pior) ou ao mix de derivados produzidos. De uma maneira geral, as unidades foram se adaptando à necessidade de produzir cortes de maior valor agregado (a partir de crus mais pesados), atentando para especificações de qualidade cada vez mais severas (principalmente no que tange a questão ambiental30), em detrimento de produtos menos nobres (ex. óleo combustível), cuja demanda tem se mostrado decrescente. Dentro desse panorama, observa-se uma tendência de concentração de investimentos em processos que otimizem a produção de derivados leves e no tratamento de produtos acabados31, visando o aumento de qualidade e atendimento a especificações de produto cada vez mais restritivas. A título de exemplificação dessa problemática, a PETROBRAS tem se mostrado bastante interessada no desenvolvimento de tecnologias que 30 Portarias recentes da ANP atentam para a produção de derivados com menor teor de enxofre, como é o caso do diesel. 31 Destacam-se as unidades de hidrotratamento (HDT) da Refinaria de Cubatão (RPBC), Paulínia (REPLAN) e Gabriel Passos (REGAP), assim como o conjunto de hidrorefino da Refinaria de Duque de Caxias (REDUC), cuja finalidade é produzir diesel de alta qualidade, além da unidade de hidrodessulfurização da Refinaria do Paraná (REPAR). 54 viabilizem o processamento desses crus, de maneira cada vez mais rentável, conforme pode ser observado na TABELA 2.2. N.º 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 PROJETO Craqueamento catalítico fluido para conversão de resíduos Processos alternativos para conversão de resíduos Maximização de efluentes líquidos no coqueamento retardado32 Consolidação da tecnologia de craqueamento térmico brando Redução nos custos de produção de H2 Hidroconversão33 de resíduos em leito expandido Redução nos custos das unidades de hidroconversão de gasóleo34 Derivados de petróleo Marlim Integração de processos Alternativas de uso de produtos pesados Rotas biotecnológicas TABELA 2.2 − Carteira de Projetos PROTER Fonte: PETROBRAS (2002a). Um bom exemplo de capacitação tecnológica alcançada pelo PROTER foi o desenvolvimento de catalisadores para a remoção de compostos nitrogenados tolerantes a elevados teores de metais (principalmente níquel e vanádio, vide TABELA 2.3), que resultou numa considerável economia nas operações de regeneração, necessárias aos processos de FCC. Óleo Características ºAPI S (%p/p) N (%p/p) Acidez (mg KOH/g) Asfaltenos (%p/p) Ni (ppm) V (ppm) MARLIM 19,70 0,75 0,45 1,01 2,60 19 24 Nacional CABIÚNAS 24,70 0,47 0,27 0,83 2,80 9 12 Importado ÁRABE LEVE 33,30 1,63 0,09 0,08 1,10 3,50 14 TABELA 2.3 − Quadro comparativo de óleos nacional e importado típicos Fonte: LEITE (2000). 2.5 – CONCLUSÕES SOBRE A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA NACIONAL DE PETRÓLEO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O SEGMENTO DE REFINO 32 Operação de obtenção de cortes leves a partir do processamento de coque (C). Processo que visa obter produtos mais leves (e nobres) a partir de resíduos de fundo da unidade de destilação à vácuo. 33 55 Dentro do âmbito do desenvolvimento da indústria de petróleo no Brasil, pôde-se observar que aspectos de cunho estrutural se mostraram representativos no que concerne na adequação da atividade de refino. Primeiramente, já estabelecido um mínimo de infra-estrutura relacionada ao processamento de óleo no país (construção das primeiras refinarias e sistemas de dutos), as crises internacionais de 1973 e, principalmente, de 1979 motivaram o fomento da atividade exploratória em bacias oceânicas, com o intuito de minimizar o ônus causado à balança comercial, por conta da sua importação. A mudança de mentalidade quanto a origem do óleo a ser processado tornara-se vigente. Posteriormente, a percepção da necessidade de adequação das unidades de refino às características do óleo nacional se mostrou fundamental na criação dos programas de capacitação tecnológica que norteariam sua reestruturação, numa tentativa de promover melhor apropriação do valor gerado pela atividade de processamento. 34 Unidade de conversão de gasóleo (derivado médio) associada à produção de diesel. 56 CAPÍTULO III REGULAÇÃO: A NOVA REALIDADE DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NO PAÍS 3.1 – OBJETIVOS DO CAPÍTULO Com o intuito de analisar as perspectivas da atividade de refino no país, torna-se de grande importância o conhecimento da legislação do setor de petróleo e gás, assim como uma revisão associada aos fundamentos nos quais se apóia a estrutura da regulamentação. Acredita-se ainda que, provavelmente, as modificações iminentes na atividade com relação a eventuais movimentos estratégicos tenderiam a ser impulsionadas pela recente modificação da legislação, levando-se em consideração o regime de livre mercado adotado a partir do início de 2002. Nesse sentido, mostra-se pertinente comentar a atuação dos novos atores do segmento mediante suas atribuições específicas, numa tentativa de esclarecer suas participações num ambiente de setor desregulamentado. 3.2 – AS ORIGENS DA POLÍTICA REGULATÓRIA Na opinião de PEREIRA (2001), o crescimento do setor público brasileiro é resultado de uma contínua expansão da interferência do governo em atividades não tradicionais, decorrente da necessidade de intervenção do Estado em setores de natureza social e da busca de crescimento rápido após a década de 1950. Dentro desse raciocínio, observa-se que a natureza contínua dessa atividade começou a mostrar sinais de deficiência. Durante a década de 1970, surgiram os primeiros sinais de esgotamento do padrão de intervenção estatal e, devido a uma série de fatores sociais, econômicos, tecnológicos e institucionais, iniciou-se durante os anos 1980, um processo de deterioração dos serviços e do desempenho econômico das empresas estatais, gerando fortes críticas dos consumidores e pressões pela sua privatização, inicialmente nos países desenvolvidos e, posteriormente, nos países ditos em desenvolvimento ou emergentes. Assumindo como válidas tais considerações, a queda acentuada de investimento público brasileiro provocou a deterioração da qualidade dos 57 serviços e um crescimento de demanda insatisfeita. Nesse sentido, a forma tradicional de organização de oferta de produtos e serviços dos setores elétrico e de petróleo e gás, seja em termos da estrutura, da propriedade, da gestão de patrimônio ou do estabelecimento de preços, tornou-se obsoleta. Com a crise fiscal do Estado, que se abateu não somente sobre os países em desenvolvimento, tornou-se não só desejável, como imperativa, a busca de um modelo alternativo de prestação desses serviços. A questão estrutural a ser resolvida no escopo da reformulação desses setores diz respeito à introdução da competição (onde possível), de modo que o mercado assumisse o papel de agente regulador dos níveis ou tarifas, assim como da freqüência de entradas ou saídas do setor, sendo que as demais atividades (de caráter não competitivo) necessitariam ser reguladas de modo consistente com o interesse público. Com relação a esse novo panorama, PEREIRA (2001) afirma que a montagem e operação dos órgãos reguladores que induzam à eficiência do modelo (regulatório) escolhido são primordiais para a sociedade, devendo a regulação ser encarada como um instrumento de política econômica. 3.3 – MOTIVAÇÃO DA ATIVIDADE REGULATÓRIA Segundo PINTO (2001), as experiências recentes de reestruturação da indústria de infra-estrutura de uma maneira geral e, das indústrias energéticas, em particular, alimentam de forma permanente e salutar o debate sobre os problemas relacionados à regulação econômica. Em uma análise mais específica, a literatura sobre esse assunto não é propriamente nova, sendo que os trabalhos afins se concentram, fundamentalmente, em dois temas: a regulação da concorrência, escorada na base jurídico-institucional da legislação anti-truste e a regulação de monopólios naturais. Nesse sentido, as questões no que concerne à regulamentação econômica vêm sendo alvo de maiores investigações, sobretudo em países com histórico recente de reestruturação de setores produtivos como Brasil, Argentina, Índia e sudoeste da Ásia (LANE e GHEMAWAT, 2000), onde o processo de redução progressiva de barreiras institucionais (governamentais) à entrada de novos operadores ou concessionários numa determinada indústria, acentuou ou acentuará a introdução benéfica de pressões competitivas, culminando numa revisão dos dispositivos regulatórios existentes 58 (desregulamentação) e estabelecendo, a reboque, uma agenda complexa de tarefas de regulação a serem executadas. Os princípios básicos desses dispositivos envolvem um amplo leque de objetivos, dentre os quais, tal qual sugere abordagem recente (PINTO, 2001), cabe destacar: 1. Promoção da competição; 2. Correções das imperfeições (falhas) de mercado; 3. Garantia do livre acesso às redes; 4. Incentivo à eficiência; 5. Garantia da qualidade adequada do serviço e 6. Manutenção do equilíbrio econômico-financeiro da concessão. Dessa maneira, serão apresentadas a caracterização e as prerrogativas específicas do organismo competente (ANP) em se tratando da regulação do setor de petróleo e gás no Brasil, para que, posteriormente, tornese possível discorrer a respeito das implicações práticas associadas ao marcoregulatório vigente (lei n.º 9.478), considerando ainda o término do período de transição, previsto neste instrumento. 3.4 – O PAPEL DO ÓRGÃO REGULADOR Tendo sido mencionados os objetivos básicos dos dispositivos de regulação, abordando-se ainda, de uma maneira geral, a prerrogativa principal de um órgão regulador, torna-se necessário discutir os aspectos relacionados ao caso específico da regulação do setor de petróleo e gás no Brasil, procurando ressaltar as atribuições da ANP. Instituída pelo decreto presidencial n.º 2.455, de 14/01/1998 como uma entidade integrante da Administração Publica Federal, submetida ao regime autárquico especial com o status de órgão regulador da indústria de petróleo a ANP apresenta-se vinculada ao Ministério das Minas e Energia (MME), conforme disposto no art. 7º da lei n.º 9.478, que discorre sobre a política energética nacional35, as atividades relativas ao monopólio do petróleo e o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). 35 A política energética nacional (que discorre sobre o aproveitamento nacional das fontes de energia) tem como principais objetivos: preservar o interesse nacional, promover o desenvolvimento (aumentar a competitividade do país no mercado internacional) ampliar o 59 Nesse sentido, de acordo com o art. 8º e os incisos I a XV (TABELA 3.1) da mesma lei, a ANP tem como finalidade promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da industria do petróleo, cabendo-lhe as seguintes atribuições: Inciso I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV Atribuição Implementar, em sua esfera das atribuições, a política nacional de petróleo e gás natural, contida na política energética nacional (em acordança com os termos do capítulo I da lei em questão); Promover estudos visando a delimitação de blocos36, para efeito de concessão das atividades de exploração, desenvolvimento e produção Regular a execução de serviços de geologia e geofísica aplicados à produção petrolífera, visando o levantamento de dados técnicos, destinados à comercialização, em bases não exclusivas; Elaborar os editais e promover as licitações para a concessão de exploração, desenvolvimento e produção, celebrando os contratos delas decorrentes e fiscalizando sua execução; Autorizar a prática das atividades de refinação, processamento, transporte e importação e exportação, na forma estabelecida (na lei n.º 9.478) e sua regulamentação; Estabelecer critérios para calculo de tarifas de transporte dutoviário e arbitrar seus valores nos casos e da forma prevista (na referida lei); Fiscalizar diretamente, ou mediante a convênios com órgãos dos Estados, e do Distrito Federal, as atividades integrantes da industria do petróleo, bem como aplicar as sanções administrativas e pecuniárias previstas em lei, regulamentação ou contrato; Instituir processo, com vistas a declaração de utilidade publica, para fins de desapropriação e instituição de servidão administrativa, das áreas necessárias à exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural, construção de refinarias e dutos terminais; Fazer cumprir as boas práticas do uso nacional do petróleo, dos derivados, do gás natural e da preservação do meio ambiente. Estimular a pesquisa e a adoção de novas tecnologias na exploração, produção transporte, refino e processamento; Organizar e manter o acervo das informações e dados técnicos relativos a atividade da indústria do petróleo. Consolidar anualmente as informações sobre as reservas nacionais de petróleo e gás natural transmitidas pelas empresas, responsabilizando-se por sua divulgação. Fiscalizar o funcionamento do Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis e o cumprimento do plano anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis, de que trata o art. 4º da lei n.º 8.176, de 08 de fevereiro de 1991. Articular-se com outros órgãos reguladores do setor energético sobre as matérias de interesse comum, inclusive para efeito de apoio técnico ao CNPE. Regular e autorizar as atividades relacionadas com o abastecimento nacional de combustíveis, fiscalizando-as diretamente ou mediante a convênios com órgãos da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios. Atribuições associadas, dentre outras atividades ao refino TABELA 3.1 − Atribuições da ANP previstas na lei n.º 9.478 de 06/08/1997 Fonte: Conforme Art. 8º, Lei 9.478, de 06/08/1997. A partir do descrito, cabe a ANP zelar pelo cumprimento da política energética nacional com vistas à competitividade do país no mercado internacional, no que tange ao setor de petróleo e gás. Assim, segundo PINTO (2001), a agência deve consolidar suas fronteiras de competência, a fim de firmar seu espaço institucional num novo contexto (flexibilização do monopólio), mercado de trabalho, valorizar os recursos energéticos, proteger os interesses do consumidor e garantir o fornecimento de derivados de petróleo em todo o território nacional, nos termos do § 2º do art. 177 da Constituição Federal. Este, por sua vez, ressalta os aspectos relacionados aos Monopólios da União (flexibilizados pela lei n.º 9.478). 36 De acordo com as definições técnicas (inciso XIII, art. 6º, seção II do capitulo III) previstas na lei n.º 9.478, bloco se constitui na parte da bacia sedimentar, formada por um prisma vertical de profundidade indeterminada, com superfície poligonal definida pelas coordenadas geográficas de seus vértices, onde são desenvolvidas atividades de exploração ou produção de petróleo e gás natural. 60 buscando cumprir uma complexa agenda de relações com o Poder Executivo Federal, o CNPE, outras entidades reguladoras (Agência Nacional de Energia Elétrica − ANEEL, no caso do gás natural para geração de energia), Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE, assim como outros ministérios ou instâncias governamentais (Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Fazenda, etc.) no caminho da aprendizagem institucional e regulatória no país. Tendo sido discutidas as prerrogativas-chave da agência, cabe salientar o conjunto de modificações que se tornaram vigentes na esfera jurídica do setor, a partir da promulgação da lei do petróleo e do fim do período de transição. Tomando por base o teor da lei n.º 9.478, esta implantou um novo marco regulatório para o setor petrolífero brasileiro, objetivando dotá-lo de regime de livre mercado, com maior nível de eficiência/competição entre os agentes econômicos interessados (empresas estatais e privadas atuantes nos elos da cadeia produtiva) e benefícios para o consumidor (ANP, 2001). 3.5 – OS ASPECTOS PRÁTICOS DA REGULAÇÃO DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS Em síntese, findo o período de transição (a partir de 01/01/2002), o petróleo, o gás natural e todos os seus derivados básicos estão com seus preços livres, do produtor ao consumidor final; as importações liberadas e os subsídios extintos, exceto quando justificáveis e previamente aprovados pelo Congresso Nacional, em concordância com a lei n.° 9.478, de 06/08/1997. Em meados de dezembro de 2001, após aprovação em primeiro turno do Senado Federal (requisito indispensável para a abertura do mercado de importações) a ANP submeteu à consulta pública um conjunto de portarias (TABELA 3.2) que versavam sobre o abastecimento de combustíveis, alinhadas aos preceitos da referida lei. Essas regras, que passaram a vigir a partir do início do corrente ano, tinham como objetivos principais, tal qual sugere o informativo Modelo de abertura do abastecimento de combustíveis, ANP (2001): 3.5.1 – OBJETIVOS 1. Assegurar um aumento das alternativas de oferta de derivados ao mercado interno; 61 2. Ampliar as opções de acesso dos consumidores a novas fontes de suprimento, tanto internas (CMP´s, no caso de gasolina, por exemplo) quanto externas ao país (como traders de derivados). 3.5.2 – PORTARIAS37 N.º 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 COMPETÊNCIA Estabelece as especificações para a comercialização de gasolinas automotivas38 em todo o território nacional e define obrigações dos agentes econômicos sobre o controle de qualidade do produto Estabelece as especificações para a comercialização de óleo diesel automotivo em todo o território nacional e define obrigações dos agentes econômicos sobre o controle de qualidade do produto Estabelece procedimentos de controle de qualidade na importação de petróleo, seus derivados e álcool etílico combustível Estabelece a regulamentação para a atividade de importação de solventes Estabelece a regulamentação para a importação de óleo diesel Estabelece a regulamentação para a importação de gasolinas automotivas Estabelece a regulamentação para a exportação de derivados de petróleo Regulamenta o exercício da atividade de formulação da gasolina “A”, comum, premium39 e óleo diesel a partir de misturas de correntes de hidrocarbonetos Regulamenta o exercício da atividade de produção, armazenamento e comercialização de gasolina “A”, comum, premium nas centrais de matériasprimas petroquímicas Regulamenta o exercício da atividade de produção de solventes TABELA 3.2 − Relação das portarias submetidas à consulta pública Fonte: ANP (2002d). Quanto à produção de derivados, as principais alterações referem-se à introdução de dois novos agentes: “Formulador” e “Importador” e à autorização para produção de gasolina “A”40 por parte das CMP’s. Em relação aos novos agentes mencionados, ambos se apresentam como pessoas jurídicas distintas dos demais agentes existentes no mercado (refinarias, CMP’s, distribuidoras, TRR’s41 e revendedores), devendo atender a requisitos próprios e específicos (portaria ANP n.º 317/2001 para o primeiro e 37 Portarias expedidas em 27/12/2001, (DOU de 28/12/2001). Combustível apropriado para motores de combustão interna com ignição por centelha, em motores que usam o ciclo Otto, em automóveis de passageiros, utilitários, veículos leves, lanchas e equipamentos agrícolas. Inclui as gasolinas classificadas como gasolina comum (“A” ou “C”) e gasolina premium (“A” ou “C”). 39 Gasolina automotiva de alta octanagem, com índice anti-detonante maior ou igual a 91, conforme estabelece a portaria ANP N.º 197/1999. 40 Gasolina produzida no país ou importada pelos agentes econômicos autorizados, isenta de componentes oxigenados e comercializada com o distribuidor de derivados de petróleo. 41 Transportadores e Revendedores Retalhistas – pessoas jurídicas, devidamente registradas e autorizadas pela ANP a desempenhar as funções de aquisição (de produtos à granel), armazenamento, transporte, comercialização e controle da qualidade de combustíveis. 38 62 n.º 311/2001, 312/2001, 313/2001 e 314/2001 para o segundo) para o exercício das respectivas atividades, previamente autorizadas pela ANP. Com o intuito de proceder com o processo de regulamentação, a ANP tornou pública (DOU, 20/12/2001) a portaria n.º 297/2001, obrigando todos os produtores e importadores de combustíveis autorizados a operar no país a partir de 1º de janeiro de 2002, a informarem, semanalmente, à agência seus preços de venda máximo, mínimo e médio, assim como os respectivos volumes comercializados. Começou a vigorar nesta data o novo modelo de abertura do mercado de combustíveis no Brasil, com liberação total dos preços e importações de produtos (FIGURA 3.2). As informações serão destinadas ao acompanhamento pela ANP das políticas de preços praticadas no mercado interno pelos produtores locais de combustíveis (refinarias da PETROBRAS, Manguinhos e RPI, centrais petroquímicas Braskem, PQU e Copesul e novos formuladores a serem autorizados pela agência) e pelos importadores. A ANP estará comparando os preços internos com as cotações internacionais dos produtos, incorporando os custos de internação42 no país. Nesse sentido, ressalta-se que o acompanhamento dos preços dos produtores e importadores complementará o Programa de Monitoramento de Preços dos Combustíveis (PMPC) da ANP, que investiga os valores cobrados por distribuidoras e revendedores. Este permite à agência verificar a ocorrência de infrações a ordem econômica e instruir processos junto à Secretaria de Direito Econômico (SDE) bem como, se for o caso, à agência anti-truste de regulação da concorrência (CADE) (ANP, 2002b). 42 Utilização de dutos e terminais, dentre outros. 63 3.5.3 – ABERTURA DO MERCADO DE COMBUSTÍVEIS (NOVO MODELO) Mercado Externo Refinarias CMP Formulador Aumento das opções de oferta no mercado interno Importador Distribuidores Exceto Gasolina e Diesel TRR Revendedores Exceto Gasolina Consumidores Finais FIGURA 3.2 − Modelo de abertura do mercado Fonte: ANP (2001). Maiores opções de acesso a fontes de suprimento 64 3.5.4 – ATORES Seguem listados, os agentes previstos na legislação e suas atribuições, em consonância com a lei n.º 9.478. Formuladores Estes novos atores do segmento podem exercer a atividade de formulação de gasolina “A”, sendo autorizados a adquirir no mercado interno correntes de hidrocarbonetos líquidos, de refinarias, CMP´s, produtores de solventes, importadores e outros formuladores. Podem ainda comercializar, no mercado interno: 1. Gasolina “A”, exclusivamente com distribuidores de combustíveis, refinarias, CMP´s, exportadores e outros formuladores; 2. Diesel, exclusivamente com distribuidores, refinarias, CMP´s, exportadores, outros formuladores e consumidores finais; 3. Sobras de correntes de hidrocarbonetos líquidos, exclusivamente com refinarias, CMP´s, exportadores e outros formuladores. além de poderem exportar gasolina, diesel e sobras de hidrocarbonetos líquidos. Importadores As atividades de importação de petróleo, gás natural e derivados43 estão sujeitas à prévia aprovação da ANP. De uma maneira geral, os pontos que merecem destaque se referem à importação de solventes passíveis de promover adulteração em combustíveis44, à marcação de solventes importados que não se destinarem à produção de combustíveis e ao fato de que, em respeito às portarias ANP n.º 313/2001 e 314/2001, empresas cujo objeto social contemple a atividade de importação (traders) não podem exercer outras atividades. 43 Como exemplo da atividade, chegou ao Brasil (no porto de Suape, PE), em 05/03/2002, o primeiro carregamento de óleo diesel importado por uma empresa privada. A empresa de trading PETRO ENERGIA comprou no mercado norte-americano 19,5 milhões de litros do combustível, pretendendo atender, principalmente, o mercado nordestino através de sua ligação com as distribuidoras Dislub e Total (O GLOBO online, 06/03/2002). 44 Neste caso há necessidade de aprovação da transação pela ANP. 65 Vale a pena salientar que foi autorizada somente a importação de gasolina isenta de componentes oxigenados (portaria ANP n.º 313/2001), tais como MTBE45, metanol, etanol anidro ou quaisquer álcoois. Dessa maneira, em consonância com o órgão regulador, as empresas não produtoras, autorizadas ao exercício da atividade exclusiva de importação de gasolina e diesel (novos agentes previstos na legislação) podem, observando as regras de internação, fixadas pela portaria ANP n.º 311/2001, comercializar tais produtos no mercado interno, exclusivamente com: distribuidores de combustíveis, produtores de gasolina e diesel (refinarias, CMP´s e formuladores), empresas exportadoras autorizadas pela ANP (portaria ANP n.º 315/2001) e consumidores finais, no caso do diesel. Agentes de Produção de Derivados No que diz respeito ao escopo de atuação dos agentes de produção de derivados, à exceção dos formuladores (portanto, refinarias e CMP’s), estes têm o privilégio de importar e exportar correntes de hidrocarbonetos líquidos e produtos derivados do petróleo e do gás natural, em conformidade com a legislação vigente, podendo ainda comercializar, no mercado interno: 1. Correntes de hidrocarbonetos líquidos destinados à formulação de combustíveis, exclusivamente com formuladores, importadores, exportadores ou outras refinarias e CMP’s; 2. Correntes de hidrocarbonetos líquidos destinadas a uso não combustível, atendendo ao disposto na portaria ANP n.º 274/2001 (estabelece obrigatoriedade de adição de marcador a derivados de petróleo indicados pela agência), exclusivamente com distribuidores de solventes, importadores, exportadores, outras refinarias e CMP’s (portaria ANP n.º 212/2001); 3. Produtos especificados (exceto gasolina “C”46), exclusivamente com distribuidores de combustíveis automotivos, formuladores, 45 Éter metil-terc-butílico, produto que confere aumento de octanagem misturado à gasolina “A” para a obtenção da gasolina “B” até o mês de abril de 1999, apenas no Estado do Rio Grande do Sul (Anuário Estatístico da ANP, 2001). 66 importadores e exportadores, outras refinarias, CMP’s e consumidores finais. Nesse sentido, as refinarias e CMPs passaram a dispor de maior flexibilidade no que concerne à sua carteira de clientes (podendo vender inclusive para consumidores finais) e tenderão, conforme objetivado pela legislação, a ampliar a preocupação no que diz respeito a qualidade dos derivados produzidos (em função da concorrência), buscando melhorar as condições de processamento, provavelmente, via investimentos que otimizem seus processos de produção. Outros Agentes de Mercado Com relação aos players não citados (exportadores, distribuidores, revendedores e TRR’s) informa-se que a atividade de exportação de petróleo, gás natural e seus derivados continua sujeita à autorização prévia da ANP (nos moldes da portaria ANP n.º 315/2001), sendo que será somente concedida a empresas produtoras (refinarias, CMP’s ou formuladoras), para gasolinas, diesel, nafta, querosene de aviação, GLP e solventes apropriados à formulação de combustíveis. Ressalta-se ainda que estas devem ter, como objeto social, a atividade de exportação, não exercendo assim, outras atividades reguladas pela agência, a menos das de importação. Com relação às atividades de distribuição e revenda, foram mantidas as regras vigentes com relação a requisitos de habilitação, autorização, escopo de atuação, qualidade dos produtos comercializados, e relacionamentos com consumidores e demais agentes do setor. As alterações pertinentes que foram introduzidas na regulamentação atual, a partir da portaria ANP n.º 310/2001 que discorre sobre a autorização concedida aos TRR´s para adquirirem produtos que estão autorizados a comercializar das refinarias e CMPs. Consumidores Finais Sendo os principais beneficiados com o novo conjunto de leis, decretos e portarias que regulamentam a atividade do setor de petróleo e gás, 46 Gasolina constituída de uma mistura de gasolina “A” e álcool etílico anidro combustível. A proporção obrigatória de álcool na mistura é fixada por decreto presidencial, podendo variar de 20 a 24%, conforme determinou a lei N.º 10.203/01. Para o ano 2000, o percentual adotado era de 24% até 20/08, sendo reduzido para 20% após esta data (Anuário Estatístico da ANP, 2001). 67 os consumidores finais passam a contar com a possibilidade do acesso direto a fontes primárias de suprimento, tanto no mercado interno (refinarias, CMP´s, formuladores e importadores), quanto externas ao país (importação direta). Além desses aspectos, tais agentes foram ainda beneficiados pela preocupação por parte do órgão regulador a respeito da qualidade dos produtos, no que concerne às especificações47 (portaria ANP n.º 301/2001) e à adição de marcadores (portaria ANP n.º 274/2001). Com relação a esta última, torna-se obrigatória, para derivados de petróleo ou gás natural indicados pela agência, solventes e correntes efluentes da indústria petroquímica (comercializadas no mercado interno ou, quando for o caso, exportadas) a adição de marcadores por parte dos produtos ou importadores definidos anteriormente. 3.6 – A ESTRUTURA DE FORMAÇÃO DE PREÇOS NO REGIME DE LIVRE MERCADO Dentro da lógica do processo de desregulamentação do setor de óleo e gás, o governo vem adotando providências (desde 1997, com a lei n.º 9.478) no sentido de construir um regime de livre mercado, dentre as quais se destaca a liberação, ao consumidor, de preços, fretes e margens de comercialização de combustíveis em todo o território nacional (ANP, 2002b). A partir de 1º de janeiro do ano corrente, completou-se importante etapa desse processo, mediante a introdução de modificações estruturais no downstream, inserindo-o, praticamente, em regime de livre mercado. Nesse sentido, várias medidas foram implementadas tais como: eliminação do controle de preços de faturamento de refinaria para gasolinas automotivas, óleo diesel e GLP, extinção de subsídios e edição de regulamentação sobre novos agentes concorrentes dos produtores de derivados de petróleo previamente instalados no país. As modificações alcançaram, também, a formação de preços de combustíveis, com destaque especial para sua componente tributária, haja vista a instituição, pela Emenda Constitucional n.º 33 de 11/12/2001, da 47 Com relação, fundamentalmente, aos teores máximos de enxofre para o diesel automotivo metropolitano (0,20% em peso), a ser comercializado nos municípios estabelecidos pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e para o diesel automotivo interior (0,35% em peso), sendo este último comercializado nos demais municípios brasileiros por refinarias, CMP´s, formuladores e importadores, depois da adição de corante especificado pela ANP. 68 Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) para os combustíveis. Com a CIDE, cuja criação foi regulamentada pela lei n.º 10.336, de 19/12/2001, extinguiu-se a Parcela de Preço Específica (PPE) que integrava os preços de faturamento de refinaria de óleo diesel, gasolinas automotivas e GLP, dando condições para que se promovesse a abertura do mercado à importação. Dessa maneira, em conformidade com o novo contexto regulatório, é apresentada, no Anexo II (p.156) a estrutura de formação dos preços ao consumidor final da gasolina comum. 3.7 – CONCLUSÕES SOBRE A REGULAÇÃO NO SETOR Com relação à nova realidade legal do setor de petróleo e gás no país, constatam-se, para o segmento de refino, modificações na composição e nas atribuições dos atores envolvidos. destacar Torna-se particularmente importante a nova possibilidade de relacionamentos entre mercado externo, agentes produtores (refinarias, CMPs, formuladores e importadores) e consumidor final. Espera-se, dentro dos objetivos da lei n.° 9.478, que a presença de alternativas de escolha no fornecimento de derivados permita ao consumidor uma exposição maior a um mercado mais dinâmico e competitivo. 69 CAPÍTULO IV REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 – OBJETIVOS DO CAPÍTULO Devido à importância da atividade de refino para o desenvolvimento econômico e industrial do país (BRANDÃO 1999), ao seu caráter longevo (THE ECONOMIST, 10/02/2001) e à recém-desregulamentação do setor de óleo e gás (MENEZZELO, 2000; Lei n.° 9.478, 06/08/1997), uma revisão da literatura que relacione ferramentas associadas à sua gestão torna-se necessária. Nesse sentido, serão abordadas teorias relacionadas à estratégia competitiva em geral e na atividade de refino. 4.2 – GESTÃO ESTRATÉGICA Sob o ponto de vista conceitual, a gestão estratégica se tornou objeto de estudo, pesquisa e ensino em meados da década de 1960 (MILANI, 2001), sobretudo, a partir dos esforços despendidos por consultorias de negócios que se dedicavam ao desenvolvimento de práticas gerenciais ou ao esclarecimento de relações quantitativas entre companhias e seus mercados. Nessa época, O Boston Consulting Group – BCG foi responsável, pela idealização de uma ferramenta chamada “Curva de Experiência”, desenvolvida para explicar políticas de preço e comportamento competitivo de segmentos de crescimento acelerado como eletroeletrônicos. Postulava-se que os custos de produção decairiam de 20 a 30% para cada vez que a quantidade produzida dobrasse, devido a economias de escala e à aprendizagem organizacional (GHEMAWAT, 1997). A década de 1970 foi marcada pelo surgimento de ferramentas como a “Análise de Portfólio”, apresentada pelo BCG numa tentativa de proceder à classificação dos negócios de uma determinada empresa, baseando-se no seu potencial de crescimento versus necessidade de alocação de recursos. Posteriormente, a abordagem foi estendida, dando origem a matriz de Atratividade da Indústria – Força do Negócio, idealizada pela McKinsey & Company (HAX e MAJLUF, 1984 apud GHEMAWAT, 1997). 70 Esta, por sua vez, também foi responsável pelo desenvolvimento da abordagem de Unidades Estratégicas de Negócios (UEN) que sugeria uma organização departamental orientada em linhas estratégicas, mais preocupada com as condições do ambiente e orientada por medidas de performance financeira passada. Naquela época, acreditava-se que, de alguma forma, a teoria econômica levaria a regras universais em relação à estratégia (Id., 1997). Segundo TEECE, PISANO e SHUEN (1997), na área de gestão estratégica, apesar das variadas alternativas desenvolvidas, a questão fundamental continuou sendo como as firmas alcançariam e seriam capazes de manter uma determinada vantagem competitiva. 4.2.1 – ABORDAGENS RECENTES 4.4.1.1 – FORÇAS COMPETITIVAS Durante os anos 1980, a abordagem dominante se intitulava Forças Competitivas. Atribuída ao trabalho de PORTER (1980), teve como raiz intelectual o paradigma Estrutura – Conduta – Desempenho, da organização industrial (MASON, 1949; BAIN, 1959 apud TEECE, PISANO e SHUEN, 1997) que preconiza que dada uma certa estrutura de indústria, a rentabilidade das empresas que nela se inserem se torna sua conseqüência direta. Nesse sentido, esta se apresentaria função de uma posição privilegiada em relação aos demais atores. Vale ressaltar que, diferentemente das ferramentas comentadas até então, neste caso, a unidade analisada é a indústria, que toma para o autor uma conotação particular, definida, por ele próprio, como o “conjunto de empresas fabricantes de produtos que são substitutos bastante aproximados entre si” (PORTER, 1980, p. 24). Dentro dessa premissa, são apresentadas cinco forças (FIGURA 4.1) que tenderiam a competir pela apropriação do valor gerado pela atividade industrial. 71 ENTRANTES FORNECEDORES CONCORRENTES COMPRADORES SUBSTITUTOS FIGURA 4.1 − Forças Competitivas Fonte: PORTER (1980). Numa abordagem mais recente (PORTER, 1998) o autor sugere que o conceito de estratégia estaria relacionado à criação de uma “posição exclusiva e valiosa”, envolvendo um conjunto de diferentes atividades. Para PROENÇA (1999), é possível identificar, a partir da contribuição de PORTER (1980), o surgimento de uma “terceira onda”48 em Estratégia Empresarial, com o deslanchar da “Escola do Posicionamento”, onde o conceito de estratégia se apresenta relacionado à posição a partir da qual o empreendimento resiste às forças de competição e atende a demandas particulares da sociedade. Ainda com relação à análise da estrutura da indústria, BRANDENBURGER e NALEBUFF (1996), propõem, no seu livro Coopetition, uma extensão do modelo de Forças Competitivas, caracterizando os chamados Agentes Complementadores49 como uma sexta força dentro da concepção cunhada por PORTER (1980). Segundo os autores, apesar desses novos atores não se apresentarem diretamente relacionados à competição pela apropriação dos valores gerados pela produção ou pela prestação de serviços numa determinada indústria, poderiam alterar as relações entre as outras forças competitivas e, conseqüentemente, melhorar ou piorar o posicionamento dos seus constituintes. 4.4.1.2 – CONFLITO ESTRATÉGICO 48 Para PROENÇA (1999), A segunda onda representaria as matrizes para análise de portfólio de negócios (BCG e McKinsey). A primeira remonta à estratégia militar (MINTZBERG, 1990). 49 Com relação à natureza complementar de agentes na indústria, pode-se citar a atribuição do governo (por exemplo, via Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA) no segmento farmacêutico. Sua autonomia para modificar seus padrões de concorrência (via proibição de comercialização de determinados fármacos), representa a possibilidade de beneficiar ou penalizar o posicionamento dos atores desta indústria com relação ao conceito de forças competitivas. 72 Segundo TEECE, PISANO e SHUEN (1997), uma outra abordagem recente é atribuída a SHAPIRO (1989). O Conflito Estratégico se assemelha às Forças Competitivas no que diz respeito ao tratamento da interação entre atores, entretanto, utiliza ferramentas da teoria dos jogos e, conseqüentemente, visões implícitas de resultados como uma função da eficácia com a qual as firmas mantêm seus rivais afastados através de investimentos, estratégias de preços e controle de informação. . Sob o ponto de vista conceitual da teoria dos jogos, para GHEMAWAT (1997), são utilizados estudos matemáticos relacionados às interações entre tais atores, para orientá-los nos seus investimentos dependendo das decisões dos concorrentes. Nesta linha, cita-se como raízes intelectuais da abordagem John von Neumann e Oskar Morgenstern, pela sua contribuição no livro The Theory of the games and Economic behavior (NEUMANN e MORGENSTERN, 1944). Assim como a alternativa anterior, a rentabilidade estaria relacionada ao posicionamento. 4.4.1.3 – VISÃO BASEADA EM RECURSOS (RBV) Para GHEMAWAT (1997), uma terceira abordagem estaria baseada na construção de vantagens competitivas através da apropriação de rentabilidade de eficiências no nível da firma. Esta corrente, originária no trabalho de WERNERFELT (1984) teria, posteriormente, diversos seguidores preocupados com as questões de identificação e propensão à imitação dessas vantagens competitivas classificadas como recursos. A RBV apresenta raízes em discussões mais antigas a respeito de forças e fraquezas corporativas, como a teoria de crescimento da firma (PENROSE, 1959 apud GHEMAWAT, 1997) e sugere que a construção de vantagens competitivas sustentáveis é conquistada apenas a partir da exclusividade (isolamento da firma quanto à imitabilidade) dos seus recursos. Assim, os defensores desta alternativa procuram atribuir a possibilidade de obtenção de resultados superiores num ambiente de concorrência pela capacidade de obtenção ou manutenção de recursos dificilmente imitáveis. 73 Dentro dessa linha, HAMEL e PRAHALAD (1994) defendem a idéia de que a identificação dos recursos-chave da empresa, seguida do desenvolvimento de atividades a eles relacionadas tende a protegê-la de eventuais modificações nos padrões de produto ou serviço, garantindo uma apropriação eficaz da exploração de mercados ainda indefinidos. Dessa maneira, a abordagem em torno das Competências Essenciais questiona o sistema de gerenciamento apoiado no conceito de UENs, dado que este tende a colocar em foco basicamente produtos ou serviços e a apuração dos resultados (consolidados) relacionados à sua comercialização, em detrimento da compreensão da vocação da firma para competir num momento futuro sob condições incertas. HAMEL E PRAHALAD (1990) sugerem que “No curto prazo, a competitividade de uma companhia deriva dos atributos de preço e performance dos produtos por ela produzidos (...) no longo prazo, a competitividade está atribuída de competências essenciais que a permitem produzir novos produtos”. Num trabalho mais recente (HAMEL e PRAHALAD, 1994, p. 227), os autores sugerem que “Qualquer empresa que queira capturar uma fatia desproporcional dos lucros do mercado de amanhã precisa desenvolver as competências que contribuirão de forma desproporcional para o valor futuro percebido pelo cliente (...) Usamos repetidamente a expressão Competência Essencial para subscrever as capacidades subjacentes à liderança em uma gama de produtos ou serviços.” Segundo TEECE, PISANO e SHUEN (1997), entretanto, a abordagem não se atém a explicação de como proceder àquele isolamento, no intuito de garantir que as vantagens competitivas sejam mantidas. Num trabalho mais recente, ARNOLD (2000) propõe uma combinação entre os conceitos de Competências Essenciais (HAMEL e 74 PRAHALAD, 1990; 1994) e Custo de Transação Econômico50, que associa o custo relativo a uma determinada transação (COASE, 1937 apud ARNOLD, 2000) à especificidade da atividade contratada (WILLIAMSON, 1989 apud ARNOLD, 2000) para desenvolver um modelo integrado (com dimensões gerenciais e econômicas) sobre estratégia de terceirização (dilema de fazer ou comprar) (FIGURA 4.2). Dentro dessa perspectiva, segundo ARNOLD (2000), o design da estratégia de terceirização (fazer com recursos próprios – Insourcing, Terceirização Interna ou Terceirização Externa) baseia-se, fundamentalmente, na classificação dos recursos disponíveis (multi-propósito, duradouros, relevantes para os clientes ou irrelevantes) numa esfera de know-how (relacionada ao conceito de Competências Essenciais), bem como na sua Fazer com recursos próprios 50 Terceirização Interna Terceirização Externa Atividade ativas de design especificidade (esfera que reflete seus custos de transação). Custo na realização de contratos, por exemplo, negociação, avaliação de fornecedores, funções de controle 75 spot Transação Parceria informal Joint Venture Investimento de capital Serviços comuns Cooperação Abordagem central Atividades de Fabricação própria Baseado em hierarquia Baseado no mercado Orientação híbrida Importância Estratégica Competências Essenciais Vantagem competitiva Competitividade Irrelevantes Duradouros Desvantagem competitiva Multi-propósito Relevante para Clientes Classificação dos recursos Especificidade e Custo de Transação FIGURA 4.2 – Estratégias de terceirização Fonte: ARNOLD (2000). Nesse sentido, as atividades tidas como estratégicas estariam relacionadas a recursos-multipropósito (Competências Essenciais) e seriam altamente específicas (o que envolveria elevado custo de transação em caso de subcontratação), não devendo, desta forma, ser terceirizadas. Ocorreria o contrário para atividades de baixa especificidade e pouca importância estratégica para a empresa. 4.4.1.4 – CAPACIDADES DINÂMICAS Para GHEMAWAT (1997), durante os anos 1990, diversos autores procuraram estender a teoria RBV. O sentido era procurar explicar, com alguma clareza, como capacidades específicas associadas à firma e dirigidas a 76 possibilitar a promoção de atividades mais eficientes que àquelas dos concorrentes poderiam ser construídas e mantidas de maneira sustentável no tempo. A abordagem de Capacidades Dinâmicas se diferencia da anterior dado que a capacidade precisa ser desenvolvida e não é tomada como dada (recurso), como na RBV, tal qual sugerem TEECE, PISANO e SHUEN (1992): “Se o controle sobre recursos escassos é a fonte do lucro, conseqüentemente, aspectos como aquisição de habilidades e aprendizado se apresentam estratégicos. Nessa segunda dimensão, cercar aquisição de habilidades, aprendizado e capacidade de acumulação se refere a uma abordagem de capacidades dinâmicas (...) ganhos são vistos não só como resultado da incerteza (...) mas também como o produto de atividades dirigidas pelas firmas que criaram estas capacidades diferenciadas e por seus esforços gerenciais para dispor desses ativos de uma maneira coordenada.” TEECE, PISANO e SHUEN (1997) resumem, na TABELA 4.1, as principais características relacionadas às principais abordagens apresentadas: 1 2 3 4 Raízes Intelectuais Referências em Gestão Estratégica Racionalidade Gerencial Análise Fundamental Re-orientação a Curto Prazo Papel da Estrutura Industrial Preocupação Focal Mason, Bain Porter Racional Indústrias, firmas e produto Firmas e Produtos Alta Exógeno Freqüentemente Infinita Endógeno Condições estruturais e posicionamento Interações Estratégicas Racional Recursos Baixa Endógeno Conversibilidade de ativos Racional Posições, Processos e Trajetórias Baixa Endógeno Acumulação, replicabilidade e proteção contra imitações de ativos Machiavell, Ghenmawat, Schelling, Shapiro, Cournot, Nash, Brandenburger, Shapiro e Nalebuff Harsany Penrose, Rumelt, Selznick, Chandler, Christensen e Wernerfelt e Andrews Teece Schumpeter, Dosi, Teece, Nelson, Winter e Winter, Teece Prahalad, Hamel, Hayes, Whellwright, Dierickx, Cool e Porter Hiper-racional TABELA 4.1 − Abordagens em Gestão Estratégica Abordagens: 1 – Forças Competitivas; 2 – Conflito Estratégico; 3 – RBV; 4 – Capacidades Dinâmicas. Fonte: TEECE, PISANO e SHUEN (1997). 4.3 – ABORDAGENS EM GESTÃO DA ATIVIDADE DE REFINO Haja vista a importância de cunho estratégico associada à atividade de refino, observa-se o desenvolvimento de um razoável número de trabalhos a ela relacionadas. Entretanto, devido à sua dimensão técnica inerente, a grande 77 maioria se atém a estudos da engenharia51 e/ou química dos seus processos componentes52. Nesse sentido, abordagens associadas à esfera da gestão ou que preconizem o tratamento de questões que transcendam o elemento técnico (sem deixar, todavia, de levá-lo em consideração) se apresentam, de uma maneira geral escassas. Registra-se dentro desta perspectiva a iniciativa pioneira de COPP (1976) em analisar aspectos relacionados à competição no segmento de refino no período de 1948 a 1975. Comenta-se, entretanto, que muito embora o trabalho esteja, ainda que indiretamente, associado à esfera mencionada, sua preocupação está mais ligada à discussão da evolução da sua regulação dentro da indústria do petróleo norte-americana. Assim, devido à particular carência de contribuições afins, descrevem-se cinco abordagens afins, sendo duas de caráter geral e três dentro do âmbito da indústria de refino nacional. 4.3.1 – COMPLEXIDADE NOS PROCESSOS DE REFINO Segundo NELSON (1976), é possível se fazer distinção entre os processos componentes de uma refinaria, tomando por base uma comparação que forneça informações do quão mais complexos são esses processos, em relação à unidade de destilação atmosférica (unidade de referência, de complexidade 1,0). A partir desse raciocínio, pode-se entender, por exemplo, por que o custo de produção de uma corrente proveniente da unidade de craqueamento catalítico é maior do que o correspondente ao cru destilado. Existe uma série de processos, de diferentes complexidades ao longo do caminho físico percorrido pelo petróleo entre a alimentação da coluna de destilação atmosférica e a saída da unidade de craqueamento, que tendem a agregar valor à carga – transformando-a num produto intermediário – e, em função disso, associa-se um custo de capital embutido em cada um deles. Nesse sentido, tratando uma refinaria hipotética j como um conjunto de i processos de capacidade fi, torna-se simples computar, para cada 51 Projetos ou desgargalamento de unidades, compreensão dos fenômenos de transporte associados, cinética/termodinâmica das reações químicas envolvidas dentre outros campos correlatos. 52 Listam-se como exemplos: CAMPOS e LEONTSINIS (1990); MATAR e HATCH (1994); BAGAJEWICZ (1997) e PINTO, JOLY e MORO (2000). 78 processo, seu fator de complexidade, Ci (TABELA 4.2). Ponderando-se tais fatores pelo percentual da carga total de refino (Fj, recebida pela unidade de destilação atmosférica da refinaria j) e procedendo-se um somatório é possível calcular a complexidade total da refinaria ou seu Índice de Complexidade Nelson – ICN (EQUAÇÃO 4.1). A complexidade de uma refinaria j depende, dessa maneira, das propriedades físicas do óleo cru (ou do mix de crus) a ser processado e das características (especificações quanto à qualidade ou em atendimento às restrições de cunho regulatório – ambiental) dos produtos produzidos, uma vez que o binômio matéria prima – produto é o fator determinante da necessidade de uma dada configuração de equipamentos adequados para a operação. Um exemplo ilustrativo pode ser observado na FIGURA 4.3. i fi Fj ICN j = ∑ Ci . i =1 EQUAÇÃO 4.1 – COMPLEXIDADE NELSON Adaptando-se este mesmo raciocínio para um parque de refino P, com j refinarias, conclui-se que o ICN deste conjunto (ICNP) de unidades de processamento é dado pela EQUAÇÃO 4.2 i j ICN P = ∑ j =1 ∑ Ci i =1 fi Fj j ∑F j =1 ⋅ Fj j EQUAÇÃO 4.2 – ICN PARA UM PARQUE DE REFINO P UNIDADE DE REFINO (i) COMPLEXIDADE (Ci) Destilação atmosférica Destilação a vácuo Processos Térmicos 1,00 2,00 5,00a 79 Craqueamento Térmico Viscorredução Coqueamento retardado Craqueamento catalítico Reforma catalítica Hidrocraqueamento catalítico Hidrorefino catalítico Hidrotratamento catalítico Alquilação/Polimerização Aromáticos/Isomerização Lubrificantes Asfalto Geração de hidrogênio (Mft3b) Oxigenados (MTBE/TAME) TABELA 4.2 − Complexidade Nelson Fontes: JOHNSTON (1996) e NELSON (1976). a Média ponderada de diversos processos térmicos; b por Milhares de pés cúbicos dia (Mft3/dia). 2,75 2,75 6,00 6,00 5,00 6,00 3,00 2,00 10,0 15,0 10,0 1,50 1,00 10,0 Aplicações dos conceitos de relacionados ao ICNj (para as refinarias brasileiras) e ao ICNP (para a indústria de refino nacional) podem observadas no ANEXO IV, p. 159. 80 Complexidades de Unidades de Processamento53 (Exemplo) (...) (...) f2 F i = 2, C2 = 2,0 i = 1, C1 = 1,0 FIGURA 4.3 − Cálculo de complexidades de unidades de processamento 53 No exemplo, calcula-se a complexidade para o par de unidades i = 1, i = 2. Fonte: PETROBRAS (2002b). ICN 1 ,2 = 1 + 2 f2 F 81 Estendendo-se a análise, torna-se possível comparar refinarias a partir dos seus valores de complexidade (comparação superficial54) ou, de uma forma mais homogênea, a partir das suas Capacidades de Destilação Equivalentes (CDE) (EQUAÇÃO 4.3), excluindo assim, o problema de justapor escalas (capacidade de processamento, Fj) demasiadamente diferentes. CDE j = ICN j ⋅ F j EQUAÇÃO 4.3 – CAPACIDADE DE DESTILAÇÃO EQUIVALENTE A CDE é, segundo NELSON (1976), uma grandeza representada pelo produto entre o Índice de Complexidade Nelson (ICNj) de uma refinaria j e a capacidade de processamento, Fj, com o objetivo de reduzir (normalizar) as diversas unidades de processo (destilação a vácuo, coqueamento, FCC, reforma catalítica, etc.) a uma única unidade de destilação atmosférica (com uma capacidade equivalente), possibilitando, assim, uma comparação direta entre refinarias de escalas e processos variados. Nesse raciocínio, toda a refinaria se comportaria como uma torre de destilação de x Mbpd e, se o custo da unidade de destilação no mercado representasse y$/Mbpd, um valor (absoluto) aproximado da refinaria55 seria dado pelo produto xy. Entretanto, como para os fins comparativos a que se propõe a análise do autor não há necessidade da obtenção dos valores absolutos das plantas, a CDE mostra-se como uma ferramenta capaz de medir, de forma indireta, o capital (imobilizado) associado a cada uma delas, estando associada ainda à descrição da planta como um todo. 54 A comparação é superficial dado que refinarias de pequena escala (baixa capacidade de processamento, ex. Fj < 30.000bpd) podem apresentar valores de ICNj distorcidos (elevados), quando apresentam unidades instaladas de complexidade mediana (ex. 5) responsáveis pelo processamento de percentuais consideráveis da carga total, o que pode vir a mascarar uma análise para um conjunto de refinarias (especialmente, se as suas escalas são muito variadas) se esta for a única ferramenta de análise. 55 A metodologia proposta por NELSON (1976) não leva em consideração os aspectos logísticos envolvidos, por exemplo, como extensão da rede dutoviária. 82 4.3.2 – CONSIDERAÇÃO TEÓRICA SOBRE COMPETITIVIDADE NO REFINO Na ótica de POMPÉI (2001), a competitividade de uma refinaria depende, fundamentalmente de três fatores: Localização Geográfica (proximidade dos seus mercados), i.e. acesso ao óleo cru por meio de portos, dutos, bem como facilidade na distribuição de derivados, Posição Tecnológica (relacionada à configuração e performance das suas unidades), além do Aspecto Humano e Organizacional (caracterizado pela eficiência de organização e gerenciamento, resultante da produtividade do seu pessoal). Dentro desta descrição, pode-se assumir, ainda que qualitativamente, Competitividade (C) como uma função objetivo, dependente dos três fatores (ou variáveis) descritos acima. Tem-se, assim, conforme a EQUAÇÃO 4.4: C = C (LG, PT, AHO) EQUAÇÃO 4.4 – COMPETITIVIDADE Assumindo o primeiro como fixo (a menos da construção de dutos e terminais, aproximar uma unidade de processamento dos seus mercados é uma atividade limitada à posição da planta) e resultante das decisões tomadas quando da construção da planta, pode-se perceber que a maximização da competitividade como um objetivo associado à sinergia de Posição Tecnológica (PT) e Aspecto Humano e Organizacional (AHO). Pensando em PT e AHO como recursos de propriedade da refinaria (suas unidade, tecnologia comprada e/ou licenciada, seus empregados, etc.), pode-se classificar os mesmos, segundo BARNEY (1996), quanto sua propensão à imitação. O autor, numa tentativa de fazer uma análise mais abrangente da chamada Visão Baseada em Recursos (RBV), procura mostrar que os recursos identificados contribuirão em maior ou menor grau para a obtenção de uma vantagem competitiva quanto forem menos sujeitos à imitação. Dentro desta abordagem, segundo POMPÉI (2001), apesar da Posição Tecnológica poder ser melhorada no médio prazo (desenvolvimento de novos processos oriundos de inovações ou transferência de tecnologia), torna-se normalmente difícil que atenção despedida apenas à essa variável seja suficiente para o alcance de uma vantagem competitiva sustentável. 83 A facilidade de imitação (BARNEY, 1996) do progresso tecnológico é normalmente associada à dificuldade de proteção da propriedade intelectual. Na visão de POMPÉI (2001), o oposto tenderia a ocorrer no que concerne o estabelecimento de um sistema de gerenciamento (específico) que contribua para a obtenção de altos níveis de performance, dificilmente imitáveis. Nesse sentido, a possibilidade da maximização da função objetivo Competitividade passa por uma solução de compromisso entre Posição Tecnológica (associada à inovação) e Aspecto Humano e Organizacional (associado à manutenção desta posição), que busca o caráter sinérgico da sua associação. 4.3.3 – GESTÃO DA ATIVIDADE DE REFINO NO BRASIL Com relação à preocupação de analisar a atividade de refino no país, dentro de uma perspectiva técnico-gerencial, registram-se as iniciativas de TOLMASQUIM e SZKLO (2000), TOLMASQUIM et. al. (2000) e SEIDL e MAGALHÃES (2001). Em seu livro “A matriz energética brasileira na virada do milênio”, TOLMASQUIM e SZKLO (2000) procuram apresentar diversos estudos setoriais (que abarcam, dentre outros aspectos, a questão da produção de derivados no país) e resultados de simulações da evolução da demanda e oferta de energia no país, realizados em 1997, tomando por base dados de 1995 e o ano de 2010 como horizonte de análise. Desenvolveu-se, para tal uma ferramenta analítica computacional – Modelo Integrado de Planejamento Energético (MIPE) – dividida em módulos interativos (macroeconômico, oferta, demanda e consumo final de energia) que, no caso do segmento de refino, leva em consideração elementos associados à disponibilidade de óleo (nacional e/ou importado), a configuração (ainda que simplificada) do parque brasileiro, além de estimativas de demanda baseadas em cenários. Numa outra contribuição, TOLMASQUIM et. al. (2000) buscam avaliar a indústria de refino brasileira frente ao anúncio da abertura do mercado nacional de derivados às importações. Dentro dessa perspectiva, os autores apresentam o desenvolvimento de uma análise comparativa baseada no conceito de complexidade, fator de utilização de capacidade e margem. Vale ressaltar, entretanto, que muito embora a preocupação a cerca do desempenho das refinarias nacionais e sua conseqüente discussão quanto 84 à adaptabilidade das mesmas a um novo cenário regulatório seja deveras pertinente, a análise dos elementos (variáveis) eleitos se apresenta um tanto quanto discutível: Em primeiro lugar pela desconsideração dos pesos atribuídos às unidades na análise de complexidade56 e finalmente pelo tratamento conjunto57 do parque com relação à avaliação da margem. Também interessados na investigação da competitividade das refinarias brasileiras, SEIDL e MAGALHÃES (2001) propuseram uma metodologia comparativa, com o objetivo de analisar similaridades entre estas unidades. Vale ressaltar, entretanto, que o caráter puramente empírico associado à avaliação dos processos instalados (via escala de importância elaborada pelos autores), o modo pelo qual a questão ambiental foi avaliada (número de decretos e leis ligadas à disposição de resíduos por Estado58) e a justaposição de refinarias com escalas e unidades variadas (essas dimensões foram consideradas estanques) apresentam-se discutíveis. CAPÍTULO V SITUAÇÃO ATUAL DA INDÚSTRIA DE REFINO NO PAÍS 56 Considerou-se, na referida abordagem, a mesma ponderação para unidades diferentes (ex. craqueamento, reforma, destilação a vácuo), computando-se apenas os percentuais entre as cargas das mesmas e o processado pela coluna de destilação atmosférica (abordagem mais simples e diferente daquela proposta por NELSON, 1976). 57 Como não foi proposto nenhum modelo ou estimativa da margem por refinaria, a comparação dessas unidades levando-se em conta dados que exprimam a condição do parque como um todo, fica um pouco prejudicada. 58 Procurou-se associar o fato de que uma refinaria competitiva deveria apresentar bons resultados mesmo em ambientes onde a legislação ambiental fosse mais restritiva. 85 5.1 – OBJETIVOS DO CAPÍTULO No intuito de avaliar as possíveis tendências na transformação da indústria analisada frente a uma nova realidade de mercado aberto, torna-se necessário conhecer alguns fatores relevantes à atividade de processamento de óleo nas unidades de refino instaladas no país. Este capítulo se dedica à apresentação e comentário de dados estatísticos atuais e eventuais projetos em discussão no âmbito da indústria do refino nacional. 5.2 – O PARQUE DE REFINO BRASILEIRO Segundo a GAZETA MERCANTIL (Análise Setorial, 1999), o parque de refino brasileiro atualmente é composto por doze refinarias de petróleo (FIGURA 5.1), sendo duas privadas (MANGUINHOS, RJ e RPI, RS, Grupo Peixoto de Castro/Repsol-YPF e Petróleo Ipiranga S.A., respectivamente) e dez de propriedade da PETROBRAS (REMAM, RLAM, REGAP, RPBC, RECAP, REPLAN, REVAP, REDUC, REPAR e REFAP) sendo que, 30% dos ativos da Refinaria Alberto Pasqualini (atualmente, REFAP S.A.), localizada em Canoas, RS, são de propriedade da Repsol-YPF S.A. (TABELA 5.1). Existem ainda mais duas unidades de propriedade da estatal: uma de processamento de lubrificantes (LUBNOR) em Fortaleza, CE e a PetroSIX, que processa xisto betuminoso em Araucária, PR. 5.2.1 – DEFINIÇÃO Assume-se como Parque de Refino Brasileiro o conjunto formado pelas unidades de processamento que disponham de destilação atmosférica (processo básico do refino), excluindo-se, nesse sentido, as plantas de lubrificantes e xisto. 86 REMAM RLAM (1956) 42.703 bpd (1950) 283.710 bpd REGAP REPLAN (1972) 304.184 bpd REPAR (1977) 175.491 bpd REFAP (1968) 175.491 bpd RPI ` (1937) 12.581 bpd (1968) 140.393 bpd REDUC (1961) 222.289 bpd MANGUINHOS (1954) 14.500 bpd REVAP (1980) 210.589 bpd RECAP (1954) 42.118 bpd RPBC (1955) 157.942 bpd Legenda: REFINARIA (Partida) Carga Processada (2001) FIGURA 5.1 – Parque de refino brasileiro Fonte: Elaboração própria com base nos dados de GAZETA MERCANTIL – Análise Setorial (1999) e Oil & Gas Journal Survey (2002). 87 N.º REFINARIA CIDADE UF REGIÃO CONTROLE EMPREGADOS 1 REMAM MANAUS AM N ESTATAL 220 2 RLAM MATARIPE BA NE ESTATAL 1.241 3 REGAP BETIM MG SE ESTATAL 653 4 RPBC CUBATÃO SP SE ESTATAL 941 5 RECAP CAPUAVA SP SE ESTATAL 285 6 REPLAN PAULÍNEA SP SE ESTATAL 666 7 REVAP S. J. DOS CAMPOS SP SE ESTATAL 651 8 REDUC RIO DE JANEIRO RJ SE ESTATAL 1.433 9 MANGUINHOS RIO DE JANEIRO RJ SE PRIVADO 426 10 REPAR ARAUCÁRIA PR S ESTATAL 509 11 REFAP CANOAS RS S MISTO 551 12 RPI RIO GRANDE RS S PRIVADO 373 TABELA 5.1 − Refinarias do parque brasileiro Fontes: GAZETA MERCANTIL – Análise Setorial (1999); GAZETA MERCANTIL – Balanço Setorial (2002); HENZ (2001)59 Obs.: Os dados de empregados por refinaria (posição em 31/12/2001) incluem mão-de-obra contratada. A carga processada pelo parque brasileiro somou 1.782.863 bpd60 (OGJ Survey, 2001) em 2001, colocando o país em posição de destaque com relação aos dados internacionais de empresas que atuam neste segmento (vide Cap. I, TABELA 1.1). 5.2.2 – DERIVADOS PRODUZIDOS Com relação à destinação, o petróleo processado nas refinarias brasileiras (TABELA 5.2) foi transformado em 2001, principalmente, em óleo diesel (34,45%), gasolina “A” (19,80%), óleo combustível (18,38%), nafta petroquímica (10,12%) e GLP (7,57%) (ANP, 2002c), sendo o perfil de refino resultado das características dos diferentes tipos de crus utilizados (leves ou pesados), das características (unidades instaladas61) das refinarias do parque e do consumo de derivados. Segundo TOLMASQUIM et. al. (2000), tal destinação foi alterada consideravelmente nas últimas duas décadas, a tal sorte que o óleo diesel (OD) tornou-se o derivado produzido em maior quantidade, para atender o consumo crescente (grande aumento da frota rodoviária); para tal, observaram59 Os dados referentes ao número de empregados por refinaria da PETROBRAS foram oriundos de informações fornecidas pela REFAP S.A., após entrevista com seu diretorpresidente em 26/09/2001. 60 Os dados divulgados em ANP (2002c) apontam para 1.671 Mbpd, ou seja, uma capacidade efetiva 6,7% menor. 61 A maximização da produção em derivados nobres (maior valor agregado) e leves está diretamente ligada ao conjunto de equipamentos e unidades de processamento instaladas na refinaria, bem como à qualidade da matéria prima. Quanto maior o número de unidades ditas de fundo de barril (conversão de frações pesadas em leves) como desasfaltação a solvente, coqueamento retardado, hidroconversão de resíduos, etc., mais fácil produzir cortes nobres. 88 se alterações das características do OD nacional, incorporando-se um mix de parcelas pesadas e leves. A proporção de gasolina proveniente do refino cresceu na década de 1990, invertendo a queda que vinha sendo registrada, como conseqüência dos altos e baixos do uso do álcool como combustível automotivo (Pró-Álcool). Com relação ao óleo combustível (OC), observa-se que sua participação foi reduzida até o início da década de 1990, como resultado dos incentivos de substituição do seu uso por outras fontes de energia mais limpas, como é o caso da geração por via térmica62, utilizando o gás natural como combustível. O crescimento recente da produção reflete, entretanto, o aumento da necessidade de se processar quantidades maiores de óleos cada vez mais pesados, oriundos, principalmente, dos blocos de produção offshore da Bacia de Campos. 62 Atividade cada vez mais comum no que diz respeito à geração de vapor como utilidade quente em sites industriais diversos. 89 Valores expressos em m3 REFINARIA GLP Gasolina "A" Diesel Lubrificante QAV REMAM 147.290 195.676 721.192 65.301 RLAM 1.047.190 1.572.085 2.815.587 71.874 246.719 REGAP 746.956 1.732.177 2.812.691 362.337 RPBC 641.670 2.278.542 3.729.083 RECAP 392.332 890.649 1.084.695 REPLAN 1.344.662 4.135.925 9.197.560 484.853 REVAP 966.113 2.511.547 2.861.828 1.528.620 REDUC 745.395 2.032.740 2.537.056 643.799 697.532 MANGUINHOS 45.906 535.840 18.668 REPAR 907.991 2.115.552 5.068.507 190.686 REFAP 361.600 854.807 2.591.675 124.247 RPI 44.694 468.581 182.525 7,57% 19,80% 34,45% 0,73% 3,79% Total (%) 7.391.799 19.324.121 33.621.067 715.673 3.700.295 TOTAL OC: Óleo combustível GAV: Gasolina de aviação. QAV: Querosene de aviação. D/G"A": Relação entre as produções de Diesel e Gasolina "A", respectivamente. a GAV 93.357 0,10% 93.357 Nafta 860.396 2.086.221 307.343 51.237 7.820 1.729.971 1.892.391 994.245 3.416 529.313 1.416.407 10,12% 9.878.760 OC 334.617 3.325.767 927.862 650.083 145.641 3.596.704 3.180.399 2.771.909 329.252 1.909.512 681.319 80.583 18,38% 17.933.648 Outros 66.928 419.655 702.610 1.078.104 166.780 1.113.887 427.386 446.037 49.761 299.729 117.146 40.266 5,05% 4.928.289 D/G"A" 3,69 1,79 1,62 1,64 1,22 2,22 1,14 1,25 0,03 2,40 3,03 0,39 1,74 Ñ Energéticos a 1.057.246 2.575.356 990.992 1.128.917 174.599 2.731.214 2.292.799 2.041.067 53.176 813.916 1.533.553 41.538 18,82% 15.434.373 Energéticos b c OC(%) Nobres 58,07% 77,77% 86,97% 86,75% 93,50% 87,36% 82,85% 81,22% 94,59% 92,62% 75,05% 94,96% 13,27% 28,71% 12,20% 7,63% 5,42% 16,65% 23,79% 25,50% 33,50% 17,33% 11,08% 9,78% 84,07% 67,67% 78,55% 79,72% 88,38% 78,20% 73,01% 70,39% 61,44% 79,95% 87,01% 85,34% 84,21% 18,35% 76,61% Total 2.391.400 11.585.098 7.591.976 8.522.076 2.687.917 21.603.562 13.368.284 10.868.713 982.843 11.021.290 6.147.201 816.649 100,00% 97.587.009 d Ñ Energéticos = Asfalto, coque, nafta, lubrificantes, parafinas, solventes e outros não energéticos . Energéticos = GLP, gasolina "A", diesel, GAV, QAV, querosene iluminante e óleo combustível. c Nobres = GLP, Gasolina "A", Diesel, Lubrificante, QAV, GAV e Nafta. d Inclui diluentes, gasóleos para fins não-energéticos, GLP não-energético, intermediários não-energéticos e resíduos não-energéticos. Assinalados os maiores valores para cada categoria. b TABELA 5.2 − Produção de derivados de petróleo energéticos e não energéticos (2001) Fonte: Elaboração própria com base em Dados Estatísticos Mensais (ANP, 2002c). Obs.: Foram desconsideradas as operações que envolviam acabamento de lubrificantes na REMAM, REGAP, REVAP e RPI por não se tratarem de atividades de produção. 90 5.2.3 – DEPENDÊNCIA EXTERNA DE ÓLEO E DERIVADOS A combinação, no Brasil, de produção de óleo pesado e elevado consumo de diesel (um derivado médio), sem a adequação do parque de refino levou a excedentes exportáveis de óleo combustível (um derivado pesado, de baixo valor agregado, vendido por cerca da metade do valor do preço do óleo cru original) e à necessidade constante de importação do diesel. Desde então, as Revamps (ampliações) das unidades de destilação das refinarias da PETROBRAS63 foram aproveitadas no processo de adaptação aos óleos mais pesados. O atual parque de refino da estatal é significativamente diferente do existente antes do programa Fundo de Barril (1981), estando algumas refinarias em condições de processar quantidades signifiacativas de óleos pesados da Bacia de Campos, como Cabiúnas (19º API) e Marlim (19ºAPI). 5.2.3.1 – DISPÊNDIOS COM IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO Com relação à importação de óleo, o país tem caminhado rumo a auto-suficiência, diminuindo os dispêndios econômicos com a commodity a 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 US$/barril 35,00 4.500.000 4.000.000 3.500.000 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 - 1 20 0 0 20 0 9 19 9 8 19 9 7 19 9 6 19 9 4 5 19 9 19 9 3 19 9 19 9 19 9 2 5,00 1 US$ Milhares cada ano, tal qual pode ser observado no GRÁFICO 5.1. Ano Dispêndio (milhares US$) Preço médio (US$/b) GRÁFICO 5.1 – Gastos com importação de petróleo e evolução do preço do Brent Fontes: Anuário Estatístico da ANP (2001); Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c). 63 As refinarias privadas (Manguinhos e RPI) se encontravam (até 1997) impedidas de promover aumento de capacidade de processamento de cru antes da lei n.º 9.478. 91 Conforme o GRÁFICO 5.2, atualmente, importa-se mais óleo da América do Sul (principalmente Argentina) e da África, diferentemente do que ocorria no passado (antes de 1997), quando os maiores parceiros comerciais, com relação ao fornecimento de cru, se localizavam no Oriente Médio. Possivelmente, a troca dos fornecedores representou uma diminuição no custo do frete e, dessa maneira, economia nos dispêndios com a compra de óleo estrangeiro. Com relação aos dispêndios nas operações de importação de cru, o país gastou, em 2000, pouco mais de US$ 4 bilhões64 (o maior valor desde 1991), ou seja, 7,73% do total (US$ 55,7 bilhões65) importado naquele ano, considerando-se os elevados preços do petróleo no mercado internacional (cerca de US$29,56/barril66). 45% Participação 35% 30% 25% 20% Argentina 40% 15% 10% 5% 0% Am. (Central e Sul) Oriente Médio África Ásia-Pacífico Origem GRÁFICO 5.2 – Importação de óleo segundo a origem em 2000 Fontes: Anuário Estatístico da ANP (2001); 5.2.3.2 – HISTÓRICO ESTATÍSTICO Apesar do reconhecido empenho nas atividades de exploração e processamento de óleo terem reduzido consideravelmente a dependência externa de petróleo e seus derivados ao longo dos últimos onze anos, conforme pode ser observado na TABELA 5.3, o país ainda necessita de cerca de 23% do que consome. 64 65 Conforme dados do Anuário Estatístico da ANP (2001). Conforme dados publicados em PICCININI e PUGA (2001). 92 Especificação Ano 1991 Dependência externa de petróleo e seus derivados (Mbpd) 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Óleo e derivados Produção de Petróleo¹ (a) 646,9 653,4 668,3 692,8 716,2 809 Importação líquida de petróleo (b) 525,8 552,1 503,4 554,4 495,1 550,7 551 523,1 464,4 377,8 9,7 30,3 138,9 86,4 147,8 173 182 143,5 148,8 136,7 107,4 Consumo aparente (d)=(a)+(b)+(c) 1.182,30 1.235,70 1.310,60 1.333,60 1.359,00 1.532,80 1.602,20 1.670,80 1.745,10 1.785,50 1780,5 Importação líquida de derivados (c) Dependência externa (e)=(d)-(a) 869,2 1.004,30 1.131,90 1.270,90 1.373,20 535,4 582,3 642,3 640,8 642,9 723,7 733 666,5 613,2 45,30% 47,10% 49,00% 48,10% 47,30% 47,20% 45,70% 39,90% 35,10% Petróleo Produção de Petróleo¹ (a) 646,9 653,4 668,3 692,8 716,2 809 Importação líquida de petróleo (b) 525,8 552,1 503,4 554,4 495,1 550,7 551 523,1 464,4 377,8 299,9 1172,7 1205,5 1171,7 1247,2 1211,3 1359,7 1420,2 1527,4 1596,3 1648,7 1673,1 Dependência externa (e)/(d) Consumo aparente (f)=(a)+(b) Dependência externa (g)=(f)-(a) Dependência externa (g)/(f) 514,6 299,9 869,2 1.004,30 1.131,90 1.270,90 1.373,20 525,8 552,1 503,4 554,4 495,1 550,7 551 523,1 464,4 377,8 299,9 44,84% 45,80% 42,96% 44,45% 40,87% 40,50% 38,80% 34,25% 29,09% 22,92% 17,92% TABELA 5.3 − Dependência externa de petróleo e seus derivados: série histórica Fontes: Anuário Estatístico da ANP (2001); Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c). 1 Inclui condensado, óleo de xisto e LGN. 5.2.3.2 – PERSPECTIVAS Falando-se exclusivamente de óleo, a situação do país se apresenta bastante promissora, com uma dependência externa da ordem de 18%, que, provavelmente, resultará no alcance da auto-suficiência no médio prazo. Uma previsão das perspectivas de dependência de óleo e seus derivados é apresentada no GRÁFICO 5.3, podendo-se observar (pelas linhas de tendência) que, mantido o crescimento das taxas de produção e processamento, o país alcançaria uma posição de independência em relação às fontes externas em meados de 2003. Entretanto, com relação à auto-suficiência (exclusivamente) em derivados, as perspectivas não se apresentam tão promissoras. Apesar da tendência de queda da dependência (conjunta) desses produtos e do óleo (linha tracejada vermelha) apontarem para resultados satisfatórios num curto intervalo de tempo, isso carrega em grande parte, a influência do contínuo aumento da atividade de produção que tem crescido a uma taxa superior à capacidade de processamento nas refinarias brasileiras. Dentro deste panorama, segundo CARVALHO (2002), previsões recentes da ANP indicam que apesar de o país ter possibilidade de se tornar 66 407,3 28,80% 22,90% Conforme Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c). 93 auto-suficiente na produção de petróleo em meados de 2005 (ou mesmo antes, como mostra o GRÁFICO 5.3), provavelmente, mantidas as capacidades atuais das unidades instaladas no parque, precisará importar derivados (algo em torno de US$ 5 bilhões), devido à falta de investimentos na construção de novas refinarias ou na ampliação radical de suas capacidades. Dependência Externa 60,00% Petróleo e derivados 50,00% 40,00% Petróleo 30,00% 22,90% 17,92% 20,00% 10,00% 0,00% 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 Ano Petróleo Tendência petróleo Petróleo e deriv. Tendência petróleo e deriv. GRÁFICO 5.3 – Dependência de óleo e derivados: série histórica e projeções Fonte: Elaboração própria a partir da TABELA 5.3. 5.2.3.4 – DEPENDÊNCIA EXTERNA DAS REFINARIAS NACIONAIS Em maior detalhe, é possível observar, a partir do GRÁFICO 5.4, um comparativo da dependência de óleo importado entre as refinarias brasileiras (2001), atentando para o fato que as privadas, de uma maneira geral, se apresentam entre as mais vulneráveis a variações no câmbio ou na cotação da commodity no mercado internacional, dado que importam a maior parte do óleo que processam. 94 RPI REFAP REPAR Refinarias MANGUINHOS REDUC REVAP REPLAN RECAP RPBC REGAP RLAM REMAM 0 20 40 60 80 100 % GRÁFICO 5.4 − Dependência de óleo importado nas refinarias nacionais Fonte: Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c). Obs.: Foram destacadas as refinarias privadas. Nesse sentido, os gastos, particularmente durante o ano de 2000, foram expressivos, dado que, num comparativo entre os anos de 1999 e 2001, o petróleo (Brent) atingiu sua maior cotação naquele ano, fazendo as unidades nacionais despenderam mais recursos, tal qual pode ser observado no GRÁFICO 5.5. Uma estimativa de gastos com importação (para cada um desses anos), abertos por refinaria do parque, pode ser observada no Anexo III (p. 157 e 158), tendo sido feitas as devidas considerações67. 67 Como principal consideração, assumiu-se que os gastos com importação (por refinaria) eram proporcionais à quantidade de óleo importada e ao preço médio (FOB – free on board) do petróleo do tipo Brent do referido ano. 95 35 4.500 4.000 30 3.500 2.500 20 2.000 15 US$ US$ milhões 25 3.000 1.500 10 1.000 5 500 0 0 1999 2000 Ano PETROBRAS Privadas 2001 Brent GRÁFICO 5.5 − Gastos com importação de óleo nas refinarias nacionais Fontes: Elaboração própria a partir de Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c); Obs. 1 – O preço do petróleo do tipo Brent é FOB (free on board) em dólares no valor corrente; Obs. 2 – Os gastos com importação por refinaria são aproximados, dado que os petróleos importados, na grande maioria das vezes não são do tipo Brent, mas mixes de tipos distintos e as variações de cotação dos diferentes tipos no mercado internacional podem causar diferenças nos valores totais. Nesse sentido, tais valores representam uma estimativa. Ainda em relação aos gastos com matéria prima para a atividade de refino, como, nos anos mencionados, as refinarias privadas processaram grandes quantidades de óleo importado (GRÁFICO 5.6) e têm uma desvantagem (se comparadas às refinarias do Sistema PETROBRAS) com relação à escala (por serem bem menores em capacidade), pode-se afirmar que seus custos de produção de derivados foram maiores. Certamente, investimentos relacionados ao aumento da capacidade de processamento das unidades estatais e privadas mostrar-se-ão necessários para atender a escalada da demanda por derivados a médio e longo prazos, sejam estes patrocinados pelos agentes atuais ou por consórcios formados pelos mesmos, juntamente com interessados estrangeiros, possivelmente empresas integradas ao logo da cadeia produtiva (nos seus países de origem), atuantes na área de E&P no Brasil, com perspectivas de produção. 96 180 100 160 90 80 bep (milhões) 140 70 120 60 100 50 80 % 40 60 30 40 20 20 10 0 0 PETROBRAS Privadas PETROBRAS 1999 1999 2000 Privadas PETROBRAS Privadas 2000 2001 2001 Ano Barris Carga Importada GRÁFICO 5.6 − Processamento de óleo no parque brasileiro (série histórica) Fonte: Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c). 5.2.4 – CAPACIDADE OCIOSA E CARGA PROCESSADA Com relação ao processamento de cru nas refinarias nacionais (GRÁFICO 5.7), observa-se uma redução média na capacidade ociosa das plantas (entre os anos de 1997 e 2001) de cerca de 58%, numa tentativa de atender uma demanda cada vez maior de derivados. Durante os mesmos anos, a capacidade de processamento instalada do parque cresceu apenas 6,7%, o que demonstra a necessidade de investimentos no setor (devidamente anunciados, conforme a TABELA 5.5), dado que a demanda (de derivados em geral) cresceu a números consideráveis. Com relação ao ano de 2001, o parque operou, em média, a 90% da sua capacidade instalada (vide GRÁFICO 5.7 e TABELA 5.4), havendo ainda possibilidade de absorver parte da escalada da demanda, ainda que, por pouco tempo. 97 2000 169 Capacidade (Mbpd) 1800 1600 1400 1200 1000 1783 800 600 400 200 0 1997 1998 1999 2000 2001 Ano Capacidade Utilizada Capacidade Ociosa GRÁFICO 5.7 – Capacidades instalada e utilizada no Parque de Refino Nacional Fonte: PETROBRAS (2002b)10/06/2002; para refinarias privadas: Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c)68; OGJ Survey 2002. Tendo sido observado panorama geral de processamento de petróleo no parque de refino brasileiro, a TABELA 5.4 apresenta, em detalhe, a situação da utilização da capacidade em cada uma das refinarias instaladas no país no ano de 200169, assim como dados relacionados às cargas processadas. Pôde-se observar que, de uma maneira geral, registram-se baixos valores de capacidade ociosa (a menos da RECAP, SP e da REPLAN, SP). Observa-se ainda a existência de refinarias que operaram no limite das suas instalações (REPAR, MANGUINHOS e RPI), o que indica a possibilidade futura de investimentos na sua ampliação e pode ser facilmente justificado para o caso das refinarias privadas, tendo em vista tentativa de buscar o máximo em economia de escala (devido ao seu porte reduzido e menos competitivo em matéria de custo). REFINARIA CAPACIDADE CARGA CAPACIDADE 68 Considerou-se (a título de aproximação) que as refinarias Manguinhos e Ipiranga operaram a 100% da sua capacidade instalada, de 1997 até 2001 e que para os anos de 1997 e 1998, as capacidades instaladas, das duas refinarias eram, respectivamente, 11 e 12 Mbpd. 69 As considerações pertinentes encontram-se discriminadas após o registro da fonte dos dados para a TABELA 5.4. 98 INSTALADA (bpd) PROCESSADA (bpd) OCIOSA (%) 46.000 REMAM 42.703 7,17 306.000 RLAM 283.710 7,28 151.000 REGAP 140.393 7,02 170.000 RPBC 157.942 7,10 53.000 RECAP 42.118 20,53 352.000 REPLAN 304.184 13,58 226.000 REVAP 210.589 6,82 242.000 REDUC 222.289 8,15 15.372 MANGUINHOS 15.372 189.000 REPAR 175.491 7,15 189.000 REFAP 175.491 7,15 12.581 RPI 12.581 1.951.953 1.782.863 9,13 TOTAL TABELA 5.4 − Carga processada e capacidade ociosa das refinarias brasileiras (2001) Fontes: PETROBRAS (2002b) para os dados de capacidade instalada das refinarias da estatal; ANP (2002c) para capacidade instalada das refinarias privadas; OGJ Survey (2002) para carga processada. Obs. – Assumiu-se a utilização de 100% da capacidade para as refinarias de Manguinhos e RPI numa extrapolação dados passados, quando ambas operaram no limite de suas capacidades – o que é particularmente natural em unidades de pequena capacidade na tentativa de atingir algum tipo de vantagem-custo oriunda da escala. 5.3 – A ATIVIDADE DAS CMPS As centrais de matérias primas representam os atores da cadeia produtiva no elo subseqüente à atividade de refino (vide Capítulo I, FIGURA 1.3), sendo, nesse sentido, importantes clientes, produzindo, petroquímicos básicos como eteno e propeno, fundamentais para a indústria de polímeros. Segundo dados da GAZETA MERCANTIL (13/12/2001), as CMPs têm investido no aumento de escala e na organização das suas empresas de distribuição de combustíveis, além de se preocuparem ainda com qualidade e comunicação, com o objetivo de diferenciar seus produtos da PETROBRAS ou dos demais refinadores privados. A COPENE (atual Braskem S.A.) já produz 35 milhões de litros de gasolina por mês70, visando ampliar essa produção para cerca de 50 milhões de litros ainda este ano, tendo por meta abastecer 30% do mercado nordestino num período de dois anos (quando sua produção de gasolina chegaria a 100 milhões de litros/mês – vide GRÁFICO 5.8). Em meados de outubro de 2001, a empresa recebeu uma autorização da ANP para produzir GLP (previsão de 5.000 toneladas mês para o ano de 2002), visando ainda, futuramente, a produção de óleo diesel via 70 A autorização concedida pela ANP para a produção de gasolina “A” pelas CMP´s data de agosto de 2000, conforme GAZETA MERCANTIL (30/10/2001). 99 importação de condensado71, GAZETA MERCANTIL (14/01/2002a). Tais cortes são produzidos normalmente pelas CMP´s ao processarem nafta e, até a flexibilização do monopólio do setor de óleo e gás do país (lei n.° 9.478), deveriam ser devolvidos à PETROBRAS, uma vez que a estatal, até então, era a única organização legalmente habilitada a comercializá-los. A empresa registra ainda interesse numa diversificação de suas atividades, pretendendo alocar investimentos no ramo de distribuição, com o intuito de atuar como atacadista, fornecendo gasolina misturada ao álcool72 no mercado nordestino, sendo que os devidos pedidos de autorização já tramitam na sede da ANP (GAZETA MERCANTIL, 30/10/2001). 120 Milhões de litros 100 80 60 40 20 0 Out/2000 Out/2001 Jan/2002 Tempo 2003 (Previsão) GRÁFICO 5.8 – Braskem (COPENE): Perspectivas na produção de gasolina Fonte: GAZETA MERCANTIL (30/10/2001). Já a COPESUL, CMP do pólo petroquímico de Triunfo, RS segue um caminho semelhante, pretendendo dobrar sua produção de gasolina automotiva ao longo de 2002, no intuito de alcançar um patamar de produção de 23 milhões de litros mensais, também almejado pela Companhia Petroquímica União (PQU), SP. A companhia gaúcha pretende ainda iniciar a produção de GLP ainda este ano (prevendo produção de 20 mil toneladas) e já estuda a possibilidade de produzir óleo combustível, uma vez que, além da 71 O condensado é uma matéria-prima (petroquímica) semelhante à nafta e tem vantagens em relação à sua cotação no mercado internacional. Além disso, permite que se produza óleo diesel via processamento prévio. 72 O que ainda não é possível, dado que as CMP´s só têm autorização para comercializar gasolina “A”, isto é, isenta de etanol. 100 possibilidade de atuar em outro mercado, o processamento desses produtos contribui para a redução dos custos do eteno e do propeno, uma vez que as matérias-primas tornam-se totalmente aproveitadas (GAZETA MERCANTIL, 05/03/2002). Ressalta-se ainda que a companhia não depende apenas da PETROBRAS para o fornecimento de nafta73, chegando a importar (a partir do início deste ano) 30% da matéria-prima de empresas como a Sonatrach74 (Argélia) e Repsol-YPF (Argentina) (GAZETA MERCANTIL, 14/01/2002b). A possibilidade de importação de matérias-primas petroquímicas pelas CMP´s tende a pressionar os preços da nafta da PETROBRAS para patamares mais competitivos, beneficiando assim os segmentos a jusante da primeira geração petroquímica, representando a possibilidade de ganhos em cascata ao longo da cadeia produtiva. Observa-se ainda, uma tendência de maior segmentação do mercado nacional de derivados nos próximos anos, com consumidores dispostos a pagar mais por uma gasolina especial, de teor de enxofre75 reduzido, por exemplo. Findo o período de transição, previsto na lei n.º 9.478, o limite de produção de gasolina para as CMP’s deixou de existir. Dessa maneira, as empresas estão procurando se organizar visando reunir elementos (investimentos, autorizações, etc.) que as permitam participar mais ativamente do mercado brasileiro de gasolina (que movimenta cerca de 1,4 bilhão de litros do combustível por mês). Estima-se que as centrais teriam condições de produzir de 5 a 10% desse volume a curto prazo (quantidade significativamente pequena) sendo, num primeiro momento, sua participação de alta concentração regional. No entanto, políticas de investimento num produto diferenciado acoplado a veiculação adequada poderiam representar o início de um processo de fidelização dos clientes. Levando-se em consideração que a gasolina recém-processada tende a se apresentar como um produto com características de coommodity, investimentos no desenvolvimento de aditivos/marketing (para o caso das distribuidoras) e na otimização de processos e assistência pós-venda (para o 73 Gastos com matéria-prima (ex. Nafta) chegam a 80% dos custos variáveis de uma CMP (Gazeta Mercantil, 30/10/2001). 74 O contrato com a empresa argelina Sonatrach prevê a compra de condensado. 75 Enquanto o padrão da ANP é de 1,2 mil PPM (partes por milhão) de enxofre na gasolina, o teor desse contaminante no combustível da central baiana é de cerca de 10 PPM. 101 caso das CMP’s) poderia representar um importante diferencial no momento do cliente escolher a procedência do combustível quando abastecer. 5.4 – INVESTIMENTOS Atentando para as unidades de processamento instaladas nas refinarias do parque nacional, salienta-se que investimentos foram conduzidos com o objetivo de aumentar a capacidade de recuperação de cortes leves (de maior valor agregado) em frações pesadas como resíduos da destilação atmosférica ou de vácuo (GAZETA MERCANTIL – Análise Setorial, 1999). 5.4.1 – AMPLIAÇÕES OU INSTALAÇÃO DE NOVAS UNIDADES Pode-se observar ainda uma perspectiva de novos investimentos, tal qual sugere Petro & Química (2001a) numa entrevista com o diretor gerente de refino da PETROBRAS: “A empresa deverá investir cerca de US$ 6,2 bilhões em suas refinarias até 2009”. Metade dessa pretensão foi relatada pela mesma fonte, onde se pode visualizar (TABELA 5.5) a distribuição de investimentos por unidade de processamento. Informa-se que foram incluídos nesta tabela dados76 relacionados à Refinaria de Manguinhos, RJ, a partir de uma referência subseqüente (Petro & Química, 2001b). REFINARIA INVESTIMENTO UNIDADES PREVISTAS Alquilação Coqueamento Reforma Frac. de nafta HCC HDT HDS RFCC UGH Outros REMAM RLAM REGAP RPBC RECAP REPLAN REVAP REDUC MANGUINHOS REPAR REFAP RPI (Milhões de R$) 270 304 93 528 370 727 20 285 464 TOTAL 3.061 HCC – hidroconversão de resíduos; HDT – hidrotratamento; HDS – hidrodessulfurização; RFCC – craqueamento catalítico de resíduos; UGH – unidade de geração de hidrogênio. TABELA 5.5 − Direcionamento dos investimentos anunciados em refino Fonte: Petro & Química (2001a; 2001b). Entretanto, ainda assim, questiona-se se o segmento está recebendo uma injeção suficiente de capital para suportar os possíveis saltos 76 Petro & Química (2001a) não divulga de maneira clara a direção dos investimentos como quais unidades seriam beneficiadas (revamps ou reformas) ou construídas, entretanto, em artigo subseqüente (Petro & Química, agosto de 2001b), é demonstrado o interesse por parte 102 de produção de óleo, associados ao descobrimento de novos campos, após sucessivas rodadas (1999, 2000, 2001 e 2002) de contratos de concessão de blocos realizadas pela ANP. Dentro das características atuais (2001) de utilização de capacidade e preocupação com o atendimento da demanda por combustíveis ou derivados não energéticos, de uma maneira geral, a indústria de refino procura, a partir dos investimentos citados, alcançar alguns objetivos centrais que visam maximizar os benefícios da atividade de processamento de petróleo nas suas unidades, tais como: 1. Valorização e maior absorção do petróleo nacional nas refinarias; 2. Aumento da rentabilidade da companhia pela integração das áreas de Abastecimento e E&P77; 3. Adequação do perfil de oferta à demanda de derivados; 4. Maior competitividade no mercado; 5. Melhoria da qualidade de derivados; 6. Atendimento dos requisitos ambientais. Uma descrição detalhada do conjunto de unidades instalado nas refinarias nacionais pode ser observada no Anexo IV. 5.4.2 – AQUISIÇÕES Com relação a movimentos estratégicos (fusões e aquisições), o ano de 2001 foi marcado por uma importante iniciativa por parte da PETROBRAS na tentativa de se consolidar como uma empresa de atuação global. A estatal brasileira adquiriu duas refinarias da Empresa Boliviana de Refinación (EBR), nas localidades de Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra, com capacidade de processamento (conjunto) de 63.000 bpd (Oil & Gas Journal Survey, 2002). A operação reflete os interesses da empresa em proteger (e internacionalizar) seus negócios de downstream. Segundo WETUSKI (2002), a empresa brasileira demonstra ainda interesse na aquisição de unidades de processamento nos E.U.A, numa da direção da refinaria em alocar recursos em unidades que propiciem o desenvolvimento de produtos especiais ou de alta qualidade (ex. tratamentos). 77 Válido apenas para a PETROBRAS. 103 tentativa de promover alguma integração (à jusante) das suas atividades (de exploração e produção) em território norte-americano, devido suas recentes descobertas (com perspectivas de aproveitamento comercial) de óleo no Golfo do México (Garden Banks Block 244, a 700m de lâmina d´água). Em matéria recente, O GLOBO (06/07/2002) apresenta o desinteresse da PETROBRAS com relação a investimentos em novas unidades no país, principalmente devido aos vultosos custos envolvidos – da ordem de US$ 10.000/bpd, segundo FACINA (2000) – e a esperança que parte da demanda crescente seja atendida pelas iniciativas privadas nacional e estrangeira (GAZETA MERCANTIL, 11/07/2002). Assim, os esforços da estatal com relação à instalação de novas plantas visariam o desenvolvimento do segmento de downstream no exterior (Planejamento Estratégico PETROBRAS, 2001), aproveitando oportunidades em regiões onde atua nas atividades de E&P (GONÇALVES, 2002). Dentro desta perspectiva, a empresa pretende adquirir uma refinaria com capacidade de 150.000 bpd78 nas proximidades de suas atividades offshore em território americano79 (uma transação de cerca de US$ 500 milhões), despendendo um terço do investimento necessário para construir uma planta com capacidade equivalente em território nacional (O GLOBO, 06/07/2002). 5.5 – POSSIBILIDADE DA INSTALAÇÃO DE NOVAS REFINARIAS Com a flexibilização do monopólio do refino (e de outras atividades da cadeia produtiva), concedida pelo novo arcabouço legal do setor petróleo, a instalação de novas refinarias (e o aumento de capacidade das unidades privadas existentes) passou a depender apenas de autorização da ANP. Devido à escalada da demanda por derivados em regiões de maior crescimento econômico (como o Sudeste) ou onde a infra-estrutura da atividade de refino não se apresenta suficiente para satisfazer o consumo de 78 dado e ao fato de o processamento de cerca de 300.000 bpd no exterior ser uma das metas (para 2005) da companhia (Planejamento Estratégico PETROBRAS, 2001). 79 Golfo do México. 104 cortes como diesel e GLP (como é o caso do Nordeste80), motivação para investir em novas unidades certamente não falta. Neste sentido, estariam em discussão estudos a cerca da viabilidade de projetos de refinarias em Estados como o Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará. 5.5.1 – PROJETOS EM DISCUSSÃO No Caso do Rio de Janeiro, o Governo do Estado, Interessado em aumentar a arrecadação de impostos, já que o petróleo bruto é isento de tributação, conseguiu que a Assembléia Legislativa aprovasse uma lei, estabelecendo um fundo para a construção de uma refinaria na região norte do estado, capitalizado com 50% dos recursos excedentes das receitas dos royalties e das participações especiais, descontadas as parcelas comprometidas com o pagamento da dívida com a União e aquelas destinadas ao Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano. Os recursos, contudo, só começariam a fluir a partir de março de 2003, quando a lei entra em vigor. Relata-se, entretanto, que apesar do interesse de algumas empresas estrangeiras na participação do projeto, a posição da PETROBRAS (que não tem se mostrado favorável a investimentos na construção de novas plantas) com relação a eventuais parcerias seria fundamental. Segundo FACINA (2000), com relação aos investimentos previstos para o Estado de Pernambuco (possível instalação de uma refinaria no complexo industrial e portuário de Pacém, na área metropolitana do Recife), os elevados riscos envolvidos e o particular desinteresse da PETROBRAS no desenvolvimento de uma parceria com a empresa portuguesa Petrogal S.A.81 (naquela época, principal interessada no projeto) foram decisivos para sua inviabilização. Salienta-se ainda que, muito embora o Grupo Vibrapar tenha anunciado uma retomada dessa iniciativa, com previsão de iniciar a construção da planta em 2003 (BRASIL ENERGIA, setembro de 2002), não existem evidências que suportem a realização efetiva do projeto. Com relação à instalação da Refinaria do Nordeste (RENOR), originalmente em Caucaia (a 11 km de Fortaleza), CE, salienta-se que a queda 80 Para FACINA (2000), a elevada demanda por derivados associada à produção insuficiente fazem da Região Nordeste uma grande importadora (ano base: 1999) de diesel (48,3% dos 5.117.513 m3 consumidos) e de gás liquefeito de petróleo 71,9% das 1.355.485 t consumidas. 81 Empresa atuante no setor de petróleo e derivados com faturamento da ordem de US$ 12 bilhões em 1999 (FACINA, 2000). 105 no preço dos derivados, em conseqüência da política tributária do governo, findo o período de transição, acabou por reduzir a taxa de retorno estimada do projeto, aumentado o desinteresse de possíveis parceiros como a PETROBRAS e a Repsol-YPF. Salienta-se ainda que a indefinição da questão dos incentivos governamentais (que poderiam inclusive mudar a localização da planta) geraram incertezas que têm levado o grupo alemão Ferrosstaal (majoritário no projeto) a protelar uma eventual construção (BRASIL ENERGIA, setembro 2002). 5.5.2 – RISCOS ENVOLVIDOS Ressalta-se, em matéria da GAZETA MERCANTIL (28/10/2001), que devido ao desaquecimento da economia e aos elevados custos envolvidos na atividade de refino (cerca de US$ 2 bilhões no caso da refinaria de 200.000 bpd a ser instalada no Nordeste), mesmo empresas integradas, tradicionalmente atuantes no setor petróleo como a Agip têm-se apresentado relutantes com relação à disposição a investir sem uma maciça participação do Estado. Nessa linha, para a PDVSA, um eventual projeto deveria contar, necessariamente, com uma participação do Estado da ordem de 50% (BRASIL ENERGIA, setembro 2002). Segundo PIRES (2002), a captação de recursos externos para custear o desenvolvimento de projetos de instalação de novas refinarias seria ainda prejudicada pelo ônus associado à conjuntura de elevação do risco-país. Dentro dessa perspectiva, incertezas relacionadas ao futuro político-econômico do Brasil inflariam as taxas de juros praticadas por bancos estrangeiros, o que dificultaria a contratação de financiamentos e aumentaria a necessidade da participação do BNDES. Some-se a isso o eventual, mas não menos importante risco regulatório (BRASIL ENERGIA, setembro de 2000; novembro 2001; maio 2002) associado à intervenção do Estado na política de preços dos derivados, o que tenderia a invalidar projeções futuras da estimativa de receita em empreendimentos em discussão. 5.6 – CONCLUSÕES SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL DO REFINO NO PAÍS 106 Sejam quais foram as perspectivas de crescimento do parque brasileiro, o processamento de crus cada vez mais pesados aliada à necessidade de um suprimento crescente de combustíveis de maior valor agregado como GLP, gasolina automotiva e diesel, tendo em vista a escalada da demanda, tenderão por dirigir os investimentos de grupos nacionais e estrangeiros, privados ou não, na busca pela manutenção ou inserção no mercado nacional no que concerne a atividade de refino. Vale ressaltar, entretanto, que, com relação às dimensões políticoeconômico e estratégica, a possibilidade de instalação de novas refinarias torna-se discutível tendo-se em vista, principalmente, as implicações associadas ao risco regulatório, a atual situação (econômica) do país, além do desinteresse da PETROBRAS na participação deste tipo de empreendimento. 107 CAPÍTULO VI ANÁLISE DA ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE REFINO FRENTE À NOVA REALIDADE REGULATÓRIA 6.1 – OBJETIVO DO CAPÍTULO Tendo em vista a necessidade de identificação dos agentes do segmento de refino no Brasil, assim como a discussão do seu poder de atuação num novo cenário regulatório, (conforme registrado nos objetivos deste estudo), mostrou-se necessário organizar um raciocínio com respaldo em abordagens teóricas e opiniões de especialistas para que se pudesse apontar suas possíveis tendências. Nesse sentido, este capítulo tem como objetivo apresentar o referencial teórico selecionado para a justificativa da proposição de uma análise comparativa no parque de refino brasileiro. 6.2 – ABORDAGEM TEÓRICA UTILIZADA Dentro da perspectiva de desenvolver um entendimento da questão do refino com bases em elementos técnicos e gerenciais, buscou-se analisar, num primeiro momento, sua estrutura (agentes/poder de atuação) ao nível estratégico da indústria, utilizando-se para tal a abordagem de PORTER (1980) − Forças Competitivas, FIGURA 4.1 − modificada dentro dos conceitos BRANDENBURGER e NALEBUFF (1996), no que diz respeito aos agentes complementadores. 6.2.1 – POSSÍVEIS CRÍTICAS Apesar desta teoria (PORTER, 1980) se apresentar, ainda nos dias de hoje, em muitos casos, satisfatoriamente pertinente para analisar questões associadas ao posicionamento estratégico, seu caráter exógeno apoiado no paradigma Estrutura – Conduta – Desempenho (BAIN, 1956) esvazia a compreensão (na dimensão da firma) de aspectos relativos a obtenção e manutenção de vantagens competitivas. Provavelmente, a associação deste tipo de tratamento (relacionado apenas às oportunidades e ameaças) à conotação estática comentada por diversos autores tenha sido suficiente para 108 motivar as diversas críticas atribuídas à referente abordagem, apesar do seu caráter seminal. Mesmo assim, a alternativa torna-se deveras conveniente quando a indagação não está relacionada ao entendimento completo (posicionamento, competências, processo) da gestão estratégica associada à indústria ou de seus pré-requisitos de competitividade (ao nível da empresa), mas à sua estrutura (no que tange ao refino) num dado momento (o atual), para depois se construir (ou adaptar) elementos numa metodologia para inferir suas tendências de transformação a curto e médio prazos. 6.2.2 – A ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DO REFINO Dentro dessa perspectiva, o universo de análise se ateve às doze refinarias do parque brasileiro, identificando as empresas proprietárias de suas refinarias como entidades concorrentes dentro da lógica da definição em questão (conjunto de empresas que processam óleo cru, produzindo derivados) e posicionando empresas com atividades à montante e à jusante da atividade de refino (Fornecedores e Compradores, respectivamente), Entrantes em Potencial ou produtos substitutos (levando-se em consideração a dimensão do corte no refino de petróleo) de acordo com suas características, entendendo ainda o governo (sob a égide da ANP) como agente Complementador. Sob essa ótica, a competição se apresenta como algo que transcende o limite da rivalidade entre concorrentes diretos se estendendo a outros players dentro da estrutura da indústria, que competiriam, simultaneamente, para a divisão de valor gerado pela produção de derivados de petróleo, no sentido de minimizar as margens em maior ou menor grau, de acordo com sua importância de participação nesse tipo de ambiente. Procurou-se aplicar o modelo à realidade da atividade de refino no país, com base em dados estatísticos de domínio público referentes ao ano de 2001, identificando e analisando cada um dos participantes (discriminados na FIGURA 6.1) da estrutura da indústria considerada. 109 ENTRANTES REFINO NACIONAL 1. MIPs (pp. Concessionárias) 2. Importadores 3. Formuladores 4. Refinadores independentes FORNECEDORES 5 CONCORRENTES 1. PETROBRAS 2. Fornecedores internacionais (ex. COMPRADORES 1. Ref. PETROBRAS 1. CMPs 2. Ref. Manguinhos 2. Distribuidoras 3. RPI membros da OPEP) 4. REFAP S.A. 3. Fornecedores de equipamentos 2 3 4 COMPLEMENTADOR SUBSTITUTOS 1. Gás natural 1. ANP ? 2. GNV 3. Carvão 4. Renováveis 5. Outrosa 1 Legenda: AGENTE Listagem # Magnitude da força: 1 – muito fraca; 2 – fraca ; 3 – moderada; 4 – potencialmente forte; 5 – forte. FIGURA 6.1 − Desenho das Forças Competitivas aplicadas à atividade de refino no país Fonte: Elaboração própria com base em PORTER (1980) e BRANDENBURGER e NALEBUFF (1996). a Combustíveis como gasolina e diesel a partir da tecnologia gas-to-liquids (GTL82), renováveis como energia solar, eólica, etc.; Obs. 1 – MIPs: Multinacionais da indústria do petróleo. Obs. 2 – Com relação à participação na produção de derivados (Concorrentes), tem-se (1) + (4): 98,2%; (2): 1,2% e (3): 0,8, conforme Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c). 82 A tecnologia em GTL está relacionada a obtenção de combustíveis líquidos a partir do gás natural, mediante à utilização de diversos processos como, por exemplo, Fischer-Tropsch. 110 6.2.2.1 - CONCORRENTES Dentro das premissas salientadas, pode-se classificar as empresas atuantes no segmento de refino nacional, PETROBRAS (98,2% da capacidade processada, incluindo a REFAP S.A.), Refinaria de Manguinhos (1,0%) e Refinaria de Petróleo Ipiranga (RPI, 0,8%) como concorrentes. Sob essa ótica, percebe-se uma posição dominante associada à atuação da estatal com relação aos demais agentes, apesar da participação da REPSOL-YPF (proprietária de 30% dos ativos da REFAP S.A.), haja vista seu porte e a situação de monopólio de fato existente. Ressalta-se, dessa maneira que, muito embora a intenção do aumento da competição na atividade de refino seja um dos objetivos do novo modelo regulatório vigente, pelo menos no que tange à atual situação das empresas concorrentes, o desequilíbrio das suas capacidades produtivas reflete uma forte concentração em torno das refinarias do Sistema PETROBRAS. Com relação à intensidade da concorrência, pode-se classificar, nesse sentido a magnitude do poder de atuação como 2 – fraco (FIGURA 6.1), comentando que, apesar do regime de produção se aproximar do monopólio, a atuação do governo tem sido intensificada no sentido da sua flexibilização. 111 6.2.2.2 – ENTRANTES EM POTENCIAL Levando-se em consideração a flexibilização do monopólio, assim como os aspectos afins relacionados que conferem os artigos 4º e 5º, seção I, capítulo III da lei n.º 9.478, promulgada em 06 de agosto de 1997: As atividades econômicas de pesquisa e lavra de jazidas de petróleo e gás natural, refinação, importação e exportação (de derivados), assim como o transporte, serão reguladas e fiscalizadas pela União e poderão ser exercidas, mediante concessão ou autorização, por empresas constituídas sob as leis brasileiras, com sede e administração no País; além das portarias 309, 310, 311, 312, 313, 314, 315, 316 e 318, apresentadas na TABELA 3.2, podem ser classificados como entrantes em potencial dessa indústria: 1. Multinacionais da indústria do petróleo – empresas integradas ao longo da cadeia produtiva – conforme artigo 5º, seção I, capítulo III da referida lei, sendo concessionárias ou não da atividade exploratória no país; 2. Companhias internacionais ligadas exclusivamente à atividade de refino – Idem. 3. Formuladores (blenders) – Portaria ANP n.º 316 (2001); 4. Importadores (traders) – Portaria ANP n.º 311 (2001); Tais agentes se apresentam como potenciais interessados no mercado atendido pelas refinarias nacionais, com perspectivas para disputar uma possível participação a partir de investimentos em instalações industriais no país. Vale ressaltar, entretanto, que em função da extensão das atividades da PETROBRAS, tendo em vista sua característica de empresa integrada, participante de atividades à montante e à jusante do refino, é possível identificar barreiras à entrada de agentes que porventura se interessem pela oportunidade do processamento de óleo no país: experiência, 112 economias de escala, facilidade ao acesso à matéria-prima, além de posição favorável no que concerne à negociação com clientes. Vale ressaltar, entretanto, que ao se considerar os atuais objetivos da política regulatória para o segmento, mostra-se conveniente mencionar que a iniciativa à entrada é incentivada. Nesse sentido, retaliações relacionadas à guerra de preços de derivados ou outras atitudes hostis estariam descartadas. Analisando a possibilidade de participação de multinacionais nesta indústria, percebe-se que, sobretudo, aquelas ligadas a atividades de upstream no país (concessionárias) estariam mais propensas a desenvolver interesse, devido à elevada probabilidade dessas empresas se tornarem (a curto e médio prazos) produtoras de petróleo, o que justificaria um eventual movimento de integração para frente, que se concretizaria na instalação de refinarias próprias ou na participação da atividade via parcerias eventualmente formadas com a PETROBRAS (HENZ, 2001). Para dar suporte a este raciocínio, cabe ressaltar que a grande maioria dessas são verticalmente integradas, dispondo de competências nos diversos elos da cadeia produtiva (inclusive no refino), nas suas matrizes ou em outras regiões do mundo. Segundo NICHOLLS (2002), grandes descobertas com potencial de aproveitamento comercial irão catalisar os investimentos no refino e, apesar do ceticismo a respeito da espontaneidade dos investimentos do setor privado (haja vista a necessidade de incentivos fiscais por parte do governo para reforçar tal interesse), é bastante provável que as companhias mencionadas (quando da disponibilidade de óleo) invistam nas suas próprias unidades de processamento ou procurem parceiros locais (como a PETROBRAS) para este tipo de empreitada. Uma outra possibilidade seria o estabelecimento de refinadores independentes que tenderiam a se interessar pela atividade devido à projeção de déficit na produção de derivados com relação à demanda nacional. Esta opção, todavia, não será discutida neste estudo, assumindo-se a hipótese que o desinteresse da PETROBRAS em participar de eventuais projetos de construção de novas refinarias e o risco regulatório protelariam tais investimentos. No que se relaciona à atividade de importação, observa-se que apenas algumas empresas apresentam-se desenvolvendo atividades no país 113 (ainda que as quantidades de produtos transacionadas tenham sido pequenas, sobretudo devido à crise cambial). Com vistas à atividade de formulação, até o momento não há evidências de interesse ou qualquer pedido de autorização para eventual atuação futura. Dentro desse raciocínio, classifica-se (principalmente devido à possibilidade de integração para frente) o poder de atuação dos potenciais entrantes como 5 – forte (FIGURA 6.1) no modelo de atratividade da referida indústria. 6.2.2.3 – FORNECEDORES A partir da aplicação da definição de indústria de PORTER (1980) ao refino, pode-se classificar como Fornecedores o conjunto de empresas à montante da atividade de processamento de óleo cru. Dessa maneira, estariam nesse grupo a estatal brasileira, fornecedores internacionais de óleo, como empresas estatais de países-membros da OPEP ou multinacionais detentoras de reservas, além de fornecedores de equipamentos/empresas de engenharia. Com relação à possibilidade de integração para frente desses agentes, salienta-se que apesar da existência de um mercado promissor com uma demanda por derivados parcialmente insatisfeita, um movimento estratégico dessa natureza teria maior justificativa caso a atividade de exploração ocorresse no país (o que recairia no caso dos potenciais entrantes). Nesse sentido, procurou-se classificar a magnitude do seu posicionamento como 3 - moderada (FIGURA 6.1), na medida em que, pelo menos até o momento, tais agentes não representam uma grande ameaça para os atuais concorrentes da indústria em questão. 6.2.2.4 – COMPRADORES Com relação aos Compradores (clientes do refino) destacam-se, principalmente, as CMP´s (devido à necessidade de nafta – matéria-prima petroquímica) e as distribuidoras de combustíveis, sendo que, particularmente, 114 as primeiras apresentam-se em posição mais confortável com relação ao poder de negociação com as refinarias do parque nacional. Atentando-se para o fato de que, em termos práticos existem apenas dois grupos no negócio de petroquímicos básicos no país (Odebrecht/Mariani através da Braskem S.A. e PETROBRAS, via Petroquisa, através da PQU) e que a iniciativa privada controla mais de dois-terços da produção (Braskem e COPESUL), certamente, a pressão no que se refere a preços e contratos apresenta-se maior no negócio de petroquímicos do que no negócio de combustíveis, onde cerca de 168 distribuidoras (Anuário Estatístico da ANP, 2002) disputam o mercado em todo o país. Aliando-se a isso o movimento de integração para trás das CMP´s (produção de gasolina, GRÁFICO 5.8), caracteriza-se uma visível disposição desses agentes em disputar uma fatia no mercado de combustíveis com as refinarias, até então, as únicas unidades com autorização legal para explorar o negócio. Entretanto, partindo do princípio de que grandes investimentos visando ao aumento exponencial na produção de gasolina (além de serem extremamente caros em função do custo do capital) tenderiam a comprometer a quantidade de matéria-prima necessária à produção de eteno e propeno (uma vez que a composição química da nafta e da gasolina é bastante semelhante), principal atividade dessas empresas, é provável que o interesse pelo fornecimento de combustíveis automotivos (também há interesse na fabricação de diesel) se restrinja a mercados locais, não representando, assim, grandes perdas de faturamento para a indústria do refino. Classifica-se, compradores então a magnitude do posicionamento dos como 4 – potencialmente forte (FIGURA 6.1), salientando-se ainda que uma maior amplitude nos movimentos de integração para trás (uma CMP vir a investir numa unidade de refino própria) se apresenta pouco provável em função das carências financeira e tecnológica (considerando a falta de competências) desses agentes, as atividades correntes de produção de derivados leves representam ainda que em pequeno grau concorrentes com aquelas desenvolvidas pelos refinadores nacionais clássicos. 6.2.2.5 – PRODUTOS SUBSTITUTOS 115 Conforme abordado na introdução deste estudo, a indústria carece de combustíveis ou produtos substitutos economicamente viáveis que venham a desempenhar a função dos derivados de petróleo no curto ou médio prazos. Com relação a este raciocínio, vale a pena comentar que, apesar da utilização do gás natural ter se difundido consideravelmente nos últimos anos (expandindo-se até mesmo para o uso em automóveis na forma de Gás Natural Veicular – GNV), sua aceitação com relação à utilização em motores a combustão ainda se apresenta pequena no país. Os custos de adaptação dos motores dos veículos nacionais (fabricados para funcionar com álcool, gasolina ou diesel), a extensão da rede de abastecimento (restrita basicamente aos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo) e à deficiência de performance (em relação aos combustíveis líquidos) relatada pelos usuários têm postergado, dessa forma, uma maior adesão à alternativa. Nesse sentido, apesar da sua utilização para fins industriais (geração de vapor, geração de energia elétrica por via térmica e em fornos) registrar aumento considerável, em detrimento, principalmente, do óleo combustível, o uso automotivo (maior fatia do mercado de combustíveis) é ainda restrito, apesar de apresentar considerável tendência de crescimento. Quanto às fontes renováveis de energia, o país ainda carece de tecnologia (e interesse) para seu aproveitamento comercial ficando a exploração desses recursos momentaneamente postergada para um futuro distante. Tendo em vista a situação geral dos substitutos dos derivados do petróleo com ênfase numa utilização eficiente (em matéria de custos), classifica-se sua magnitude de posicionamento como 1 – extremamente fraca. (vide legenda da FIGURA 6.1). 6.2.2.6 – COMPLEMENTADORES Considerando a extensão do modelo das Forças Competitivas, no caso da indústria de refino nacional, classifica-se como agente Complementador, o governo (através da ANP), na medida em que, mediante a alteração da política regulatória do setor, possibilita variações na influência dos demais agentes, aumentando ou diminuindo a pressão exercida por estes 116 sobre os concorrentes, o que tende a acarretar na variação nas suas margens. Exemplos clássicos são a permissão da entrada de novos players na referida indústria (Importadores e Formuladores) ou a autorização concedida às CMP´s para a fabricação de gasolina “A”, em decorrência dos dispositivos previstos na lei n.º 9.478. Dado o caráter complementar da sua atividade, não se atribuiu peso à influência relacionada ao agente mencionado (valor “?” na legenda da FIGURA 6.1), entretanto, afirma-se que seu caráter decisório em relação à organização do segmento de refino se apresenta deveras relevante. 117 6.3 – ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS A partir da análise da estrutura da indústria de refino no país, pôde-se perceber que os prováveis futuros produtores de óleo representam os agentes de maior ameaça à atual (e cômoda) posição dos concorrentes na situação do monopólio de fato existente. Como abordado, existe uma tendência lógica no interesse por investimentos no refino por parte das atuais concessionárias na atividade de E&P, uma vez que produzir destilados no país representaria a instalação do único elo ausente (FIGURA 6.2) na cadeia produtiva (muitas dessas empresas atuam nos dois extremos: E&P e distribuição/marketing), promovendo a integração vertical (no Brasil) de empresas como Esso (Exxon – Mobil), Shell, Texaco, etc.. Some-se a isso a isenção da necessidade de exportação ou envio (a custos de frete consideráveis) do óleo aqui produzido para suas matrizes ou refinarias localizadas ao redor do mundo, o que aumentaria a atratividade do negócio. Matéria-Prima Produtos REFINO DISTRIBUIÇÃO PETROBRAS (100%)1 Concessionárias PETROBRAS (98,2%) Manguinhos (1,0%) RPI (0,8%) BR Distribuidora (37,85%) Descoberta de óleo E&P/(Transporte) Movimento de Integração Outras distribuidoras “NOVOS PARCEIROS” Legenda: Realidade atual: Tendência possível: FIGURA 6.2 – Movimento de integração na cadeia produtiva de produtos energéticos Fonte: Elaboração própria com base no Anuário Estatístico da ANP (2002). Obs1.: O percentual citado está relacionado ao fato de apenas a estatal ter atividades de produção de óleo em níveis comerciais. 118 6.3.1 – SUPORTE TEÓRICO A partir do estudo da estrutura da indústria do refino no país, tornase possível tentar explicar o aparecimento de um ambiente favorável para o movimento de integração das concessionárias atuantes em E&P citadas anteriormente. Vale ressaltar que, apesar do universo de análise considerado pela abordagem utilizada estar relacionado com a indústria, dentro da clareza da definição abordada anteriormente, nada impede que se busquem subsídios, na particularidade do ambiente da empresa, para se concluir sobre possíveis tendências da atividade. Com relação à competição, partindo-se da premissa que os padrões de produto e serviço são mutáveis, torna-se necessário (para uma empresa) desenvolver um conjunto de habilidades e tecnologias que permitam oferecer determinados benefícios ou soluções aos seus clientes no futuro (Competências Essenciais, cf. PRAHALAD e HAMEL, 1990). Dentro desse raciocínio, tomando por base a revisão do planejamento estratégico da PETROBRAS83 e o trabalho de ARNOLD (2000) a respeito das novas dimensões da terceirização (combinação de custo de transação econômico com o conceito de Competências Essenciais), existe uma teoria que suporte a decisão sobre a extensão da terceirização (subcontratação) de acordo com o posicionamento de uma determinada atividade em relação ao foco (competência) de uma companhia. O referido trabalho atesta a possibilidade da terceirização (que pode ser encarada como a criação de uma joint-venture) de atividades de importância estratégica ou especificidade medianas. 83 Deu-se destaque ao planejamento da estatal dada a importância marginal das refinarias privadas no ambiente do refino nacional, muito embora represente a evidência de alguma competição, no sentido da referida indústria não ser totalmente dominada pela PETROBRAS. 119 6.3.2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA PETROBRAS A partir da leitura da proposta presente na “Visão 2010”84 do planejamento estratégico da PETROBRAS, pode-se observar que, apesar da atividade de refino ser encarada como um meio para a manutenção do status de companhia de petróleo integrada, havendo ainda intenção da manutenção do posicionamento da empresa como líder no mercado nacional de derivados85, pode-se perceber que a atenção fundamental é despendida às atividades de E&P (conforme demonstrado pelo seu percentual nos investimentos da companhia no GRÁFICO 6.1), mostrando a convicção de que o processamento de cru se apresenta numa faixa de menos nobre de especificidade/importância estratégica86. Nesse sentido, a preocupação da empresa é caracterizada pela garantia do crescimento do suprimento de óleo, principalmente via produção offshore (em águas profundas), certamente refletindo uma das competências essenciais da estatal (desenvolvimento de tecnologia de produção em bacias oceânicas), justificando-se a possibilidade da opção estratégica da terceirização externa, com o desenvolvimento de parcerias, joint-ventures ou operações de swap na atividade de refino. 84 “A PETROBRAS será uma empresa de energia, com forte presença internacional, líder na América Latina, com liberdade de atuação de uma corporação internacional e foco na rentabilidade e responsabilidade social. A empresa tem como missão atuar de forma rentável nas atividades da indústria de óleo, gás e energia, tanto no mercado nacional quanto internacional, fornecendo produtos e serviços de qualidade, respeitando o meio ambiente, considerando o interesse dos seus acionistas e contribuindo para o desenvolvimento do país” (Planejamento Estratégico PETROBRAS, 2001). 85 Inclui a preocupação com a meta de custo do refino no patamar de US$ 0,80/barril (Planejamento Estratégico PETROBRAS 2001). Os custos nos anos de 2000 e 2001 foram, respectivamente, US$ 1,06/barril e US$ 0,98/barril (Relatório Anual PETROBRAS 2000; 2001). 86 O que, de certa forma, pode ser explicado pelo fato de a atividade se apresentar como necessária para estruturar a ponte entre a exploração e a venda de derivados, apesar de agregar margens reduzidas para a empresa (talvez as menores com relação a todos os outros elos da cadeia produtiva), dados os custos operacionais envolvidos. 120 Percentual de Investimetos 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1998 1999 2000 Ano E&P e PE (Obs.1) Refino Outros (Obs. 2) GRÁFICO 6.1 – Investimentos PETROBRAS Fonte: Relatórios Anuais 2000 e 1999. Obs. 1 – Investimentos relacionados às áreas e exploração, desenvolvimento da produção e projetos estruturados - PE (que apesar de não representarem investimentos diretos da empresa, estão relacionados à atividade de E&P, nos diversos campos de produção). Obs. 2 – Inclui as atividades de transporte e empreendimentos em negociação. 6.4 – CONSISTËNCIA DE UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE REFINARIAS Assumindo a hipótese de que as incertezas associadas a eventuais investimentos na atividade (situação político-econômica indefinida e risco regulatório) e o particular desinteresse da estatal na participação na construção de novas refinarias protelariam a construção de nova capacidade de refino, apesar dos déficits na produção de derivados nas regiões N/NE e S (FIGURA 6.3), torna-se possível justificar o interesse de concessionárias de E&P no aumento ou na adequação da capacidade das refinarias existentes. Aponta-se, nesse sentido, como uma possível tendência, a estruturação de eventuais acordos entre as referidas concessionárias e os atuais atores do segmento de refino no país. 121 Legenda: FIGURA 6.3 – Fluxos regionais totais de derivados Fonte: ANP(2002a). A partir desse raciocínio, mostra-se razoável analisar o parque de refino ao nível da unidade produtiva (refinaria), dentro de uma abordagem de unidades estratégicas de negócios (UENs), com resultados apuráveis e passíveis de comparação, tal qual sugere a PETROBRAS em seu planejamento estratégico. Assim, haja vista a situação atual do segmento, com respaldo nos objetivos da política regulatória vigente, tornaram-se possíveis investimentos, operações de compra, venda ou swap de ativos entre empresas nacionais (estatais ou privadas) e companhias estrangeiras e fazem maior sentido quando consideram oportunidades (de investimento) discriminadas. Dessa forma, aos olhos de empresas estrangeiras ou grupos nacionais, uma comparação entre as unidades do parque se apresenta conveniente, na medida em que a propensão a investimentos (ou parcerias) deverá se verificar em plantas de maior conveniência (mais competitivas) o que, para o caso específico do refino, se traduziria em produzir, numa escala rentável, derivados de maior valor agregado com menor dependência de óleo importado. 122 6.5 – CONCLUSÕES SOBRE A ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE REFINO NO PAÍS Torna-se possível observar o aparecimento de novos agentes (tal qual sugerido no Capítulo III) no recém-desregulamentado setor nacional de óleo e gás. O seu poder de penetração ou a relevância em termos de concorrência relacionada ao mercado de combustíveis são, entretanto, ainda incipientes, tornando as análises referentes à atratividade na indústria do refino um tanto quanto preliminares. Mesmo assim, considerações relacionadas a uma possível tendência de organização foram justificadas, motivando a discussão sobre a consistência de uma análise comparativa entre refinarias. 123 CAPÍTULO VII METODOLOGIA DE ANÁLISE 7.1 – OBJETIVOS DO CAPÍTULO O presente capítulo tem como principal objetivo descrever as etapas constituintes no desenvolvimento da análise comparativa das unidades de refino do parque brasileiro, discutindo suas considerações e apontando as limitações envolvidas. 7.2 – MOTIVAÇÃO E ASPECTOS GERAIS A partir da análise da estrutura da indústria do refino no país frente aos objetivos do cenário legal presente (aumento da competição entre os agentes do segmento) e sua potencial possibilidade de reorganização (movimentos de integração por parte de futuros fornecedores de óleo), uma discussão a respeito da competitividade no nível da refinaria torna-se pertinente. Atentando para os objetivos do presente trabalho (Cap. I, p. 34), tornar-se-ia demasiada pretensão buscar os elementos necessários para a maximização da competitividade (Cap. IV, p. 84, EQUAÇÃO 4.4) de cada uma das refinarias objeto do estudo, no intuito de sugerir modificações estruturais (nos esquemas de refino) ou organizacionais pertinentes. Dessa maneira, a busca da posição relativa destas unidades, a partir de análise estatística de um conjunto de variáveis que permita inferir seu desempenho e, conseqüentemente, favoreça procedimentos de agrupamento se apresenta mais condizente com o proposto. Possibilitar-se-ia, assim, a partir dos resultados obtidos, identificar que unidades estariam mais propensas a investimentos externos (caso os movimentos de integração se verificassem) e quais seriam as menos favorecidas pela política de liberação das importações no segmento, findo o período de transição. 124 7.2.1 – NECESSIDADE DE UMA PROPOSIÇÃO Haja vista a carência de abordagens específicas e com um caráter técnico-gerencial para analisar o segmento de refino no Brasil, no nível da unidade produtiva (a refinaria) dentro da nova realidade legal, tornou-se necessária propor uma nova metodologia. Salienta-se, entretanto, que preconizou-se um desenvolvimento com base num arcabouço teórico conveniente e na opinião de profissionais e pesquisadores do setor, no intuito de diminuir um possível grau de subjetividade associado. 7.2.2 – ETAPAS NA CONSTRUÇÃO DA METODOLOGIA Assumida tal premissa, propõe-se, uma Metodologia (empírica) de Análise e Comparação de Refinarias (MACRE) brasileiras cujos esforços foram concentrados nas seguintes etapas: 1. Escolha das variáveis pertinentes ao desenvolvimento de uma análise comparativa das refinarias do parque brasileiro, com relação ao seu desempenho; 2. Agrupamento das unidades investigadas de acordo com a similaridade observada, com relação às variáveis analisadas; 3. Proposição de uma tipologia de refinarias (Classes I, II, III e IV) para fornecer subsídios a discussão das suas características, apontando possíveis tendências associadas ao seu desempenho (Cap. VIII). 7.2.3 – OBJETIVO DA METODOLOGIA O desenvolvimento da metodologia proposta prevê como principal produto uma classificação empírica de unidades de refino87, apoiada no tratamento estatístico de variáveis que levem em consideração elementos técnicos e gerenciais. 7.3 – ESCOLHA DAS VARIÁVEIS 87 Estendida a todas as refinarias instaladas no parque brasileiro, incluindo as unidades privadas de Manguinhos e RPI. 125 Partindo-se da premissa de que os principais objetivos regulatórios para o segmento estão relacionados à ampliação do grau de competição entre os seus agentes tendo em vista o benefício dos consumidores finais, mostra-se conveniente analisar a competitividade das refinarias do parque nacional. Desta maneira, procurou-se eleger variáveis representativas da atividade, buscando-se subsídio no referencial teórico conveniente, assim como na experiência de pesquisadores e profissionais atuantes no segmento entrevistados ao longo da pesquisa. 7.3.1 – BASE TEÓRICA Com relação ao referencial teórico sobre gestão da atividade de refino, pôde-se observar que apenas POMPÉI (2001) fornece (ainda que de maneira abstrata) os elementos gerais para descrever o conceito de competitividade aplicada à atividade. Dessa maneira, orientou-se, a escolha das variáveis a serem analisadas nas dimensões de Posição Tecnológica (1), Aspecto Humano/Organizacional (2) e Localização Geográfica (3). Utilizaram-se ainda, quando pertinentes, os conceitos de complexidade e CDE (NELSON, 1976; JOHNSTON, 1996). 7.3.2 – OPINIÃO DE PESQUISADORES/PROFISSIONAIS DO SEGMENTO Tendo em vista o objetivo de buscar subsídios para a comparação no âmbito do conhecimento de profissionais da indústria investigada, desenvolveu-se um total de oito entrevistas semi-estruturadas88, no Brasil e no exterior89 com pesquisadores, membros de agências reguladoras, consultores, além de funcionários de empresas privadas ou da PETROBRAS. Com relação à Dimensão 1, pôde-se perceber, a partir de entrevistas com profissionais e pesquisadores atuantes no segmento, a existência de uma preocupação constante no relacionado à capacidade efetiva 88 Os entrevistados não foram submetidos ao preenchimento de questionários, entretanto, o assunto deveria discorrer dentro de pontos de interesse. 89 Intercâmbio de curta duração (20/05/2002 a 02/07/2002) na Universidade de Oklahoma, Norman, OK, USA, sob a orientação do Prof. Gordon Atkinson, Ph.D, para discussão das 126 de processamento (como uma expressão das economias de escala produzidas) e ao conjunto de unidades instalado em cada refinaria, como uma representação da capacidade de produção de cortes mais leves e nobres (que foram ainda levados em consideração numa variável à parte). Relata-se também a questão da adequação das unidades de processamento ao petróleo nacional, podendo-se dizer que, de uma maneira geral, refinarias que processam grandes quantidades de óleo importado o fazem pela incapacidade de tratar, de maneira eficiente, os óleos nacionais mais pesados. Por esse motivo, tais unidades apresentariam performance questionável, por exemplo, para processar quantidades eventualmente crescentes de petróleos da região do Rio de Janeiro. Identificou-se ainda uma preocupação relacionada à capacidade ociosa de cada planta industrial, como uma medida indireta do aproveitamento da economia de escala gerada pelo processamento de volumes mais próximos dos valores de projeto. Para a Dimensão 2, registrou-se uma preocupação com relação ao aproveitamento do capital humano (definido aqui como o conjunto de funcionários de cada refinaria). Dentro dessa perspectiva, aspectos relacionados à produtividade por empregado se apresentariam como indicativos indiretos, por exemplo, do grau de automação de uma determinada unidade. Para a Dimensão 3, observou-se uma preocupação relacionada à localização das unidades industriais em mercados deficitários ou superavitários. Nesse raciocínio, regiões de demanda não satisfeita estariam mais propensas a investimentos futuros. 7.3.3 – VARIÁVEIS COMPONENTES DA ANÁLISE Tendo sido apresentadas as dimensões explícitas (associadas aqui ao aspecto teórico relacionado) e tácitas (relacionadas à opinião de profissionais do segmento, sob a forma não codificada), apesar da existência de algum grau de subjetividade na consideração (utilizar ou não a base teórica, aceitar ou não as opiniões e fazer uma elaboração própria das variáveis), salienta-se que foram levados em consideração problemáticas inerentes à tendências da atividade de refino no mundo, além do desenvolvimento de entrevistas com 127 atividade de refino. Dentre estas, observam-se a questão da escala e da diversidade dos processos90/grau de automação, assim como o fator mercado. Sugerem-se, portanto, como componentes da análise: 7.3.3.1 – Dimensão 1 (Posicionamento Tecnológico) 1. Capacidade de Destilação Equivalente – CDE (bpd, Calculada no ANEXO IV, segundo o Cap. IV) Possibilita a comparação de refinarias com diferentes unidades instaladas (layouts distintos) e faixas de capacidades, fornecendo, ainda, um valor indireto do capital imobilizado de cada planta industrial (vide Cap. IV, item 4.3.1), viabilizando considerações sobre densidade tecnológica (e de capital91) a partir do conceito de complexidade, e dos valores de capacidade efetiva. 2. Dependência de Óleo Importado – DOI (base percentual, GRÁFICO 5.4): Demonstra a capacidade da refinaria em processar óleos segundo a origem92 e traduz uma maior ou menor exposição da refinaria a alterações no cenário econômico internacional como variações na cotação do petróleo, efeitos sazonais de preço ou flutuações abruptas no câmbio. 3. Produção de Cortes Nobres93 – PCN (base percentual, TABELA 5.2) Demonstra a capacidade da refinara em produzir derivados de maior valor agregado. 4. Capacidade Ociosa – CO (base percentual, TABELA 5.4) Possibilita levar em consideração o aproveitamento da economia de escala inerente à atividade de refino, fundamental para pesquisadores do setor. 90 Várias dezenas de unidades de processo, dependendo da refinaria. 91 Assume-se, nesse sentido, uma dependência linear entre capital e tecnologia. 92 Os óleos nacionais, por serem pesados requerem, em geral, mais unidades do tipo “fundo de barril” para a produção de cortes mais leves e nobres. 93 Definidos conforme TABELA 5.2. 128 unidades de escala reduzida e a existência de alguma flexibilidade no caso da necessidade de aumento da carga a ser processada (para o caso de unidades de escalas maiores). 7.3.3.2 – Dimensão 2 (Aspecto Humano/Organizacional) 1. Produtividade (por empregado) – P Calculada com base no ANEXO IV (valores de cargas processadas) e TABELA 5.1 (distribuição da mão de obra). Relação entre a carga processada e o número de empregados da refinaria. Além de possibilitar uma comparação com relação ao aproveitamento da mão de obra no parque nacional, fornece uma medida indireta do grau de automação de cada unidade. 7.3.3.3 – Dimensão 3 (Localização Geográfica) Caracterização do mercado – M (natureza binária) Leva em consideração o posicionamento da refinaria em mercados deficitários (D) ou superavitários (S), de acordo com análise entre a oferta e a demanda de derivadas desenvolvida pala ANP (FIGURA 5.4). 7.3.4 – NECESSIDADE DE NORMALIZAÇÃO Devido às escalas das unidades das variáveis analisadas diferirem (ordem de grandeza representada por valores percentuais, bpd bpd/empregado), houve a necessidade de normalizá-las para que obtivessem resultados mais consistentes. ou se Optou-se por utilizar a variável normal padrão, definida como o quociente entre a diferença da variável e a média observada para todas as refinarias e o desvio padrão associado. Salienta-se que, muito embora se tenha optado por utilizar este recurso para efeito de normalização, não há qualquer relação entre esta estratégia e a necessidade de as variáveis estudadas precisarem apresentar uma distribuição normal (o que seria muito pouco razoável, dado que a performance, não deveria apresentar esta conotação). Nesse sentido outras normalizações (divisão pelo total observado de cada variável, divisão pelo 129 maior valor encontrado, dentre outras) seriam pertinentes, oferecendo os mesmos resultados comparativos. 7.4 – AGRUPAMENTO DAS REFINARIAS POR SIMILARIDADE Dentro da perspectiva de avaliação (de performance) das refinarias do parque nacional, optou-se por identificar, numa segunda etapa, que refinarias apresentariam características comuns, levando em consideração as variáveis eleitas para a análise. 7.4.1 – TRATAMENTO ESTATÍSTICO Numa tentativa de investigar semelhanças e diferenças entre refinarias, considerando o conjunto de variáveis proposto, buscou-se agregálas em grupos (Clusters) sucessivos de tamanhos crescentes. Dentro desta perspectiva, o grau de similaridade entre os elementos analisados decresce com o tamanho do grupo, até que se tenha apenas um conjunto, representado pelo parque de refino brasileiro, com suas doze unidades de processamento, razoavelmente distintas entre si. Utilizou-se para tal o programa Statistica 5.0® como plataforma, valendo-se da ferramenta Tree Clustering, optando-se pela escolha da medida das distâncias Euclidianas (como representativo da similaridade entre as refinarias) devido ao fato de ser a alternativa mais indicada (STATSOFT, 1995) para o tratamento de problemas de agrupamento multi-variável. Finda esta etapa, cada elemento (refinaria) representa seu próprio cluster, sendo que sua similaridade é definida de acordo com a opção escolhida (no caso, medida das distâncias Euclidianas). Entretanto, uma vez que diversos objetos tenham sido agrupados (por estarem próximos uns dos outros em relação às variáveis analisadas), determinar, sucessivamente quão próximos são esses grupos (para reagrupá-los) é um problema criterioso. Com relação ao critério de agrupamento utilizou-se o Método de Ward (WARD, 1963 apud STATSOFT, 1995). 7.5 – PROPOSIÇÃO DE TIPOLOGIA Finda a etapa de investigação da similaridade entre refinarias com relação às variáveis eleitas para a análise a partir da obtenção do diagrama de 130 árvore (dendrograma) para o parque de refino brasileiro, propôs-se agrupar estas unidades num número reduzido de conjuntos. 7.5.1 – GRUPOS Devido à pequena dimensão do universo analisado (12 refinarias), buscou-se dividir o parque de refino num número reduzido de grupos (clusters), para que suas características fossem avaliadas sob a perspectiva de conjunto. Optou-se, dessa maneira, pela conveniência da proposição de quatro grupos distintos (Classes I, II, III e IV), com o intuito de apresentar um antagonismo mais claro entre as características das refinarias constituintes das Classes I e IV e posições intermediárias para aquelas da Classe II e III. 7.5.2 – TRATAMENTO ESTATÍSTICO Novamente, utilizou-se o mesmo programa, valendo-se desta vez da ferramenta K-means clustering para dividir o parque de refino brasileiro em 4 grupos (K = 4). A lógica computacional embutida nesta etapa do desenvolvimento da análise estatística jaz no compromisso de minimizar a variabilidade dentro dos grupos, maximizando a variabilidade entre eles. Dentro desta perspectiva, são efetuados testes ANOVA94, onde sua significância avalia diferenças dentro e entre os grupos analisados, partindo da hipótese de que estes são diferentes entre si. Dessa maneira, com o objetivo de conseguir resultados significativos, a ferramenta move os elementos (no caso, as refinarias) para dentro e para fora dos grupos, até que o compromisso seja atingido. 7.6 – CONSIDERAÇÕES SOBRE A MACRE Conforme descrito nos objetivos do capítulo, torna-se necessário apresentar as limitações relacionadas à proposição da metodologia descrita, para que seus resultados não sejam tomados de maneira absoluta. Identificam-se assim: 1. Teor preliminar; 2. Caráter estático e 94 Do inglês Analisys of Variance. 131 3. Pequeno rigor no tratamento do fator mercado. Pode-se caracterizar a metodologia proposta por um caráter preliminar, principalmente, com relação às variáveis eleitas. Salienta-se, nesse sentido, que a falta de informações (principalmente devido ao seu caráter confidencial) relacionadas a outros elementos técnicos e gerenciais pertinentes como eficiência na utilização de energia ou na manutenção; margem operacional ou custos de processamento discriminados por refinaria dificulta quaisquer estudos que se proponham a desenvolver análises baseadas em dados de acesso público. Com relação ao elemento tempo, cabe discutir que apesar do objetivo do trabalho estar relacionado com o momento pós-abertura do mercado, o tratamento dos dados no período imediatamente anterior (ano de 2001) apesar de registrar as características mais recentes é empobrecido se comparado com análises que considerem séries históricas das variáveis propostas. Cabe no entanto afirmar que a possibilidade de proceder a uma análise no tempo pressupõe o acesso às informações pertinentes o que, mais uma vez, pode representar problemas de privilégio. Finalmente, com relação ao tratamento do balanço oferta/demanda de derivados, assume-se uma simplicidade na abordagem, considerando apenas características gerais na classificação dos mercados atendidos pelas refinarias do parque nacional. Vale salientar, todavia, que uma análise mais estruturada dependeria da determinação das áreas de atuação de cada unidade (o que na prática difere do modelo de macro-regiões proposto pela ANP), para que se desenvolvessem balanços nesses mercados específicos (o que demandaria análise no nível de bases de distribuição). Quaisquer outras formas de tratamento dessa questão embutem uma arbitrariedade na região de incidência dessas unidades, tornando questionável a viabilidade do atendimento de uma determinada área pelo crescimento (ou até mesmo pela implantação – que não é abordada nesse estudo) de uma refinaria, dado que suas respectivas malhas dutoviárias foram projetadas para suprir as necessidades logísticas das suas áreas específicas de atuação. 132 CAPÍTULO VIII ANÁLISE DOS RESULTADOS A partir da interpretação dos resultados previstos no desenvolvimento na MACRE (capítulo anterior), torna-se possível iniciar uma discussão sobre as semelhanças entre as refinarias analisadas (GRÁFICO 8.1) e diferenças entre as quatro classes propostas (TABELAS 8.2, 8.3, 8.4 e 8.5), atentando para a comparação dos clusters obtidos (GRÁFICO 8.2). A 133 B Distância de ligação Similaridade GRÁFICO 8.1 – Gráfico de árvore (dendrograma) do parque de refino brasileiro Fonte: Elaboração própria. Pôde-se observar que o produto do agrupamento dos elementos analisados refletiu a criação de conjuntos distintos, com relação às dimensões inversas (distância de ligação e similaridade) investigadas pela ferramenta utilizada. Constata-se, primeiramente, a criação de dois conjuntos bastante distintos (A e B) envolvendo refinarias componentes com características semelhantes. Dentro de cada um desses conjuntos, revelaram-se alinhamentos entre REMAM, RECAP e REFAP (mais proeminente para as duas primeiras); MANGUNHOS e RPI; RLAM, REDUC, REGAP e RPBC (com as duas primeiras e as duas últimas se apresentando mais próximas entre si) e, finalmente, REPLAN, REVAP e REPAR (sendo que, no seu respectivo grupo, as duas últimas se apresentaram com mais características em comum). Conforme sugerido na Seção 7.5, procedeu-se o agrupamento das refinarias em quatro classes, de acordo com as variáveis analisadas. Apresenta-se, a seguir uma discussão das características gerais de cada um dos clusters, com base nos valores médios observados (GRÁFICO 8.2). 134 Variação normal padrão Classes I II III IV GRÁFICO 8.2 – Comparação entre as classes propostas Fonte: Elaboração própria. Obs. 1 – A letra N ao final de cada variável é apenas um indicativo da sua normalização; Obs. 2 – Devido à natureza binária da variável mercado, ela não está representada neste gráfico. 8.1 – REFINARIAS CLASSE IV TABELA 8.1 − Refinarias Classe IV Fonte: Elaboração própria. Representantes do status mais desfavorável, as refinarias Classe IV (MANGUINHOS e RPI – TABELA 8.1) devem ser observadas como os agentes que, provavelmente, serão mais afetados pela flexibilização do 135 monopólio, no que concerne à liberação da importação de derivados, nos atributos da lei n.º 9.478 e da portaria ANP n.º IV. Estas unidades apresentam os menores valores observados com relação à Capacidade de Destilação Equivalente sendo, conseqüentemente caracterizadas por um conjunto de unidades de processo pouco complexo (o que reflete uma incapacidade de processar petróleos pesados no sentido de maximizar a produção em cortes mais nobres, numa escala mais rentável); pouca incidência de capacidade ociosa que, longe de ser um fator de melhor aproveitamento das economias de escala, por ventura, geradas, reflete sua “condição de existência”; elevada dependência de petróleo importado, evidenciando a incapacidade das suas unidades em processar óleos nacionais pesados e caracterizando sua exposição a eventuais flutuações na cotação da commodity no mercado internacional ou ainda a variações no câmbio (particularmente desfavorável em momentos de elevada volatilidade, como crises econômicas internacionais ou perspectivas de conflitos), além de reduzida produtividade por empregado com relação à carga processada, o que evidencia um grau de automação incipiente. Salienta-se ainda que ambas se apresentam próximas das áreas de atuação de concorrentes que produzem gasolina (seu principal produto) em grande quantidade (no caso de Manguinhos, a REDUC) ou recentemente e com perspectivas promissoras (no caso da RPI, a COPESUL). Nesse sentido, as refinarias privadas apresentar-se-iam como as unidades menos competitivas do parque (pior performance), estando menos susceptíveis a investimentos estrangeiros (com relação à integração das atividades de E&P e refino) e mais sensíveis (em função da sua baixa competitividade) à importação de derivados por parte de empresas distribuidoras. Vale ainda ressaltar que o interesse externo no que concerne uma política de investimentos nas refinarias privadas se mostra menos provável dado que, em virtude do seu porte e importância (estratégica) para suas empresas controladoras (Grupo Peixoto de Castro/Repsol-YPF e Grupo Ipiranga), a atividade se caracteriza como chave para sua manutenção e perspectiva de crescimento no mercado de derivados, ficando descartada, dessa forma, a possibilidade de desenvolvimentos de eventuais parcerias. 136 8.2 – REFINARIAS CLASSE III TABELA 8.2 − Refinarias Classe III Fonte: Elaboração própria. Representantes de um status intermediário de baixa performance, as refinarias Classe III (REMAM, RECAP e REFAP – TABELA 8.2) são caracterizadas por uma associação de baixa complexidade dos seus processos e pequena escala (CDE pequeno). Apresentam-se ainda razoavelmente dependentes de óleo importado (o que poderia explicar uma produção concentrada em cortes mais nobres), trabalhando com valores consideráveis de capacidade ociosa (o que tende a ser desfavorável em plantas de baixa CDE) num grau de automação intermediário. Nesse sentido, tornam-se expostas às ameaças externas (particularmente no caso da REMAM, no tocante à importação de derivados, em princípio pelo, interesse e proximidade da área de atuação da PDVSA) ou à concorrência interna, no caso da RECAP pela proximidade da área de atuação da Petroquímica União, SP, no que concerne ao mercado de gasolina. É possível esperar, portanto, uma ausência de interesse de eventuais grupos privados nacionais ou estrangeiros na aquisição ou troca de ativos (swap) dessas refinarias. Em contrapartida, no que diz respeito à PETROBRAS, enquanto proprietária da RECAP, existe alguma possibilidade de investimentos, uma vez que apesar dos problemas ressaltados anteriormente, a tendência crescente da ampliação do mercado de São Paulo pode justificar desembolsos futuros. Em relação à REMAM, investimentos semelhantes só se apresentariam justificáveis caso o descobrimento de novas reservas terrestres, principalmente nas proximidades das regiões de Urucu ou Coari, AM, fossem anunciadas. Com relação à recente operação de troca de ativos entre a PETROBRAS e a REPSOL-YPF no caso da REFAP, salienta-se, entretanto que a proximidade das áreas de atuação dessas companhias e o particular interesse da estatal brasileira na expansão das suas atividades na Argentina 137 (Planejamento Estratégico PETROBRAS, 2001) foram muito mais influentes na tomada de decisão do que um eventual interesse da companhia argentina na refinaria gaúcha em função da sua performance. Vale a pena registrar que muito embora REMAM e REFAP estejam localizadas em mercados deficitários em relação à produção de derivados (FIGURAS 5.4 e 8.1), provavelmente sua performance tenderia a se apresentar como fator limitante no aproveitamento de oportunidades relacionadas à ampliação da oferta de derivados. Estudos posteriores apresentar-se-iam valiosos no sentido de avaliar (quantitativamente) seu grau de exposição à opção de importação por parte de empresas distribuidoras atuantes nas suas respectivas regiões. 8.3 – REFINARIAS CLASSE II TABELA 8.3 − Refinarias Classe II Fonte: Elaboração própria. Representantes de um status intermediário, as refinarias Classe II (RLAM, REDUC, REGAP e RPBC – TABELA 8.3) devem ser observadas como os agentes que, a princípio tenderiam a ser interessantes candidatos a propostas de ampliação financiadas por acordos bilaterais entre a PETROBRAS e eventuais grupos internacionais participantes das rodadas de licitação de blocos de exploração e produção, num momento em que a produção de óleo no país se concretize. 138 Este grupo apresenta elevados valores de Capacidade Destilação Equivalente e pequena incidência de capacidade ociosa, que pode ser interpretado como um elevado grau de aproveitamento da escala. Entretanto, uma capacidade reduzida de produção de cortes nobres e a baixa produtividade por empregado representam necessidade de adequação futura às características do óleo nacional. Com relação à dimensão localização geográfica, observa-se que todas as refinarias se apresentam instaladas próximas a áreas produtoras (REGAP, RPBC e REDUC, ao Estado do Rio de Janeiro; RLAM à região do recôncavo), apesar de apenas a refinaria baiana fazer parte de um mercado deficitário em derivados. 8.4 – REFINARIAS CLASSE I TABELA 8.4 − Refinarias Classe I Fonte: Elaboração própria. Em posição de destaque na tipologia proposta, as refinarias Classe I (REPLAN, REVAP e REPAR, TABELA 8.4) se apresentam como unidades eficientes na produção de derivados, seja em relação ao binômio escala – conjunto de unidades instaladas (CDE), ou no que concerne à produção de cortes nobres, mediante uma elevada produtividade por empregado. Salientase ainda sua elevada capacidade de processamento de óleo nacional (pesado) e a presença de alguma capacidade ociosa (principalmente na REPLAN) para absorver uma eventual necessidade de aumento no processamento de óleo. 139 Pode-se observar que o grupo formado pelas três refinarias citadas apresenta-se promissor no que concerne à superação dos desafios da atividade de refino (maximização da produção de cortes nobres a partir de óleos pesados a custos competitivos) dada sua posição com relação às dimensões mensuradas. Assim sendo, é de se esperar que eventuais investimentos por parte de empresas concessionárias da atividade de E&P se dirijam a este grupo de unidades, caso se verifique o movimento de integração descrito anteriormente. A própria estatal tem concentrado esforços (e recursos) no desenvolvimento ou na importação de tecnologia para essas refinarias, uma vez que as mesmas, como evidenciado, representam o destaque da atividade no país, apresentando características favoráveis ao alcance dos objetivos da empresa no que tange aos aspectos relacionados ao downstream da indústria de petróleo no Brasil. Por fim, numa tentativa de resumir os resultados da análise comparativa, procurando integrar as dimensões relativas à competitividade (tipologia), susceptibilidade a eventuais parcerias por parte das concessionárias de E&P e localização geográfica, construíram-se a TABELA 8.5 e a FIGURA 8.1. TIPOLOGIA PROPOSTA Liberação da importação de derivados Altamente Susceptibilidade a parcerias CLASSE IV sensíveis Não susceptíveis CLASSE III Sensíveis Baixa CLASSE II Pouco sensíveis Moderada CLASSE I Indiferentes Elevada TABELA 8.5 − Dimensões investigadas pela tipologia proposta Fonte: Elaboração própria. 140 ` REMAM RLAM (1956) 42.703 bpd (1950) 283.710 bpd REGAP (1968) 140.393 bpd REPLAN (1972) 304.184 bpd REDUC (1961) 222.289 bpd REPAR (1977) 175.491 bpd MANGUINHOS (1954) 14.500 bpd REFAP (1968) 175.491 bpd REVAP (1980) 210.589 bpd RPI (1937) 12.581 bpd RECAP (1954) 42.118 bpd RPBC (1955) 157.942 bpd Legenda: Classe IV REFINARIA Classe III (Partida) Carga Processada (2001) Classe II Mercado deficitário N/NE Classe I Propensão a movimentos de integração FIGURA 8.1 – Tipologia Fonte: Elaboração própria. Mercado deficitário S Mercado superavitário CO/SE 141 CAPÍTULO IX CONCLUSÕES Com relação à atividade de refino, tendo em vista a nova realidade da política regulatória para o setor de óleo e gás no país (sedimentada pelo modelo de abertura do mercado de derivados), findo o período de transição, espera-se, dentro dos objetivos de promover uma maior competição entre os agentes participantes (Importadores, Formuladores, Refinarias e CMPs) que a diversidade de alternativas quanto à origem dos suprimentos seja ampliada a partir da flexibilização do monopólio (Capítulo III). Pôde-se observar, entretanto, que em função da extensão da atuação da PETROBRAS no segmento de refino no país, eventuais pressões por parte dos participantes descritos se apresentariam, a princípio, marginais (Capítulos V e VI). Mostrou-se ainda que, a partir da análise da estrutura da indústria de refino brasileira (Capítulo VI), provavelmente, empresas multinacionais da indústria do petróleo concessionárias de atividades de E&P e atuantes na distribuição de derivados apresentar-se-iam como os potenciais entrantes de maior peso, haja vista, principalmente, a possibilidade de um eventual movimento de integração para frente que consolidaria uma atuação integrada em território nacional. Dentro dessa perspectiva, assumindo o refino como uma atividade de importância estratégica mediana para a estatal brasileira e levando-se em consideração a atual situação político-econômica do país (elevação do risco Brasil e o risco regulatório associado a uma eventual intervenção do Estado no mercado de derivados de petróleo), torna-se possível levantar a hipótese de que investimentos por parte de empresas nacionais ou estrangeiros na construção de novas plantas seriam protelados. Assim, demonstrou-se (ao longo do capítulo VI) que a solução mais provável para o atendimento da escalada da demanda nacional por produtos oriundos da referida atividade estaria relacionada ao desenvolvimento de acordos entre os entrantes mencionados e a PETROBRAS. A partir do desenvolvimento de uma metodologia de comparação entre as refinarias do parque brasileiro, mediante adoção de variáveis pertinentes (Capítulo VII), pôde-se verificar, com vistas à análise da tipologia (Capítulo VIII) dela proveniente – refinarias Classe I a IV – uma propensão 142 diferencial por parte destas unidades quanto à possibilidade de estruturação destes acordos. Ressalta-se, desta maneira que o grupo formado por REPLAN, REVAP e REPAR (Classe I) se apresentaria como o representante da vanguarda da atividade de refino no país, constituindo-se, provavelmente, como um alvo em potencial de investimentos por parte das multinacionais concessionárias das atividades de upstream. Em contrapartida, observou-se a posição desfavorável ocupada pelas refinarias privadas (Manguinhos e RPI – Classe IV) caracterizada, principalmente, pela sua escala reduzida e pelo conjunto de unidades de processamento pouco complexo que, associadas à elevada dependência de petróleo importado, tendem a diminuir a sua competitividade. Ressalta-se ainda, que o conjunto formado por RACAP, REMAM e REFAP (Classe II) apresenta-se representante de um perfil intermediário (embora de baixa performance) no âmbito do parque nacional, sendo REGAP, RPBC, RLAM e REDUC (Classe III) exemplares de refinarias com boas perspectivas de incremento de competitividade. Por fim, respeitadas as limitações da metodologia proposta, observou-se a possibilidade de integração de elementos técnicos numa análise de cunho gerencial da indústria do refino. Nesse sentido, comenta-se que, apesar da particular dificuldade em justapor esferas tradicionalmente estanques, contribuições dessa natureza, no âmbito de outros segmentos da indústria do petróleo, apresentar-se-iam demasiadamente úteis no entendimento mais amplo de atividades estratégicas da indústria nacional. 143 SUGESTÕES Tomando por base o estudo desenvolvido nesta dissertação, é possível afirmar que o entendimento do setor nacional de óleo e gás seria em muito favorecido, caso houvesse interesse e incentivos no sentido da orientação de outros trabalhos que cobrissem com algum grau de detalhe os demais elos ou atividades afins (logística e regulação) de sua cadeia produtiva. Dessa maneira, contribuições investigativas nas atividades de E&P e distribuição tornar-se-iam de grande valia no mapeamento dos acontecimentos e inovações ou no desenvolvimento de avaliações técnico-gerenciais mais amplas, tendo como pano de fundo o panorama nacional do setor. Fugindo um pouco da idéia fechada de indústria do petróleo e buscando horizontes mais holísticos, certamente seria interessante atentar para metodologias que buscassem comparações entre CMPs, na tentativa de integrar a petroquímica numa análise conjunta. Dados, profissionais competentes e um rico campo para estudos, de certo, não faltariam. Havendo suporte de Agências (ANP, ANEEL, etc.) ou de organismos de fomento competentes (CNPq, CAPES, FAPERJ, FAPESP, dentre outros), disposição e massa crítica para a atividade de gerenciamento, poder-se-ia pensar na direção de um projeto integrado, com teses, trabalhos de pósgraduação (e por que não projetos de fim de curso?) partindo de uma data acertada pelas referidas partes, no objetivo (ou utopia) de traçar tendências (com algum rigor e confiabilidade) para o futuro das atividades da indústria nacional. Saliento ainda que, apesar da tentativa referente à abordagem do segmento de refino ter sido apresentada no presente trabalho, não faz parte das minhas pretensões (nem da falsa modéstia própria) o objetivo de esgotar o assunto, devido às limitações do estudo desenvolvido (caráter estático, dificuldade na aquisição de dados, etc.), minha experiência (estritamente acadêmica) no setor e à complexidade do assunto. Por fim, espero que a tentativa tenha se mostrada fortuita e que, se interessante, venha a despertar o interesse e disposição na confecção de contribuições afins. “O País foi capaz de formular estratégias que o aproximam cada vez mais da auto-suficiência em petróleo e certamente encontrará (na experiência e 144 na pesquisa) métodos semelhantes que apontem os melhores caminhos para aproveitar este importante recurso natural (SEIDL e MAGALHÃES, 2001)”. Críticas ao presente trabalho ou tentativas na elaboração de outros, certamente contribuirão neste sentido. A sociedade agradece. 145 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, Anuário Estatístico (2001). _______________________________ , Anuário Estatístico (2002). _______________________________, Perspectivas para o desenvolvimento do setor de refino de petróleo no Brasil, Rio Oil & Gás Expo 2002, 04/09/2002, www.anp.gov.br/conheca/palestras.asp, visitado em 10/09/2002a. _______________________________, Estrutura de formação dos preços, Levantamento de Preços, www.anp.gov.br, site visitado em 20/02/2002b. _______________________________, Dados Estatísticos, Dados Estatísticos mensais, www.anp.gov.br, site visitado em 13/03/2002c. _______________________________, Modelo de abertura do abastecimento de combustíveis, www.anp.gov.br, site visitado em 14/12/2001. _______________________________, Portarias técnicas expedidas em 27/12/2001 e submetidas à consulta pública, www.anp.gov.br, site visitado em 14/01/2002d. ALMEIDA, H. M. 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Haas School of Business Working Paper, Berkley, University of California (1989). 152 ANEXOS 153 ANEXO I – CONCESSÕES DA ANP NA TERCEIRA RODADA DE LICITAÇÕES (2001) EMPRESA BLOCO95 (PARTICIPAÇÃO) BACIA Área (UF) (Km2 ) Pan Canadian (100%) BM-PAMA-2 Pará-Maranhão (PA/MA) 2.308 Phillips (100%) BM-PAMA-3 Pará-Maranhão (PA/MA) 1.667 PETROBRAS (100%) BM-BAR-1 Barreirinhas 2.435 PETROBRAS (100%) BM-CE-1 Ceará (CE) 1.281 PETROBRAS (100%) BM-CE-1 Ceará (CE) 1.153 Ranier (100%) BT-POT-5 Potiguar (RN) 459 Koch (100%) BT-POT-6 Potiguar (RN) 128 Koch (100%) BT-POT-7 Potiguar (RN) 499 Samson (55%)/Ipiranga (45%) BT-REC-4 Recôncavo (BA) 347 Petroserv (100%) BT-REC-5 Recôncavo (BA) 451 Samson (55%)/Ipiranga (45%) BT-REC-6 Recôncavo (BA) 358 BM-CAL-5 Camamu-Almada 1.119 BM-CAL-6 Camamu-Almada 1.117 PETROBRAS (100%) BM-J-1 Jequitinhonha 1.115 PETROBRAS (65%)/El Paso (35%) BM-ES-5 Espírito Santo (ES) 1.087 El Paso (100%) BM-ES-6 Espírito Santo (ES) 1.091 Wintershall (100%) BM-ES-7 Espírito Santo (ES) 1.090 Esso (40%)/PETROBRAS (30%)/Kerr-McGee (30%) BM-ES-9 Espírito Santo (ES) 2.165 Esso (40%)/PETROBRAS (30%)/Kerr-McGee (30%) BM-ES-10 Espírito Santo (ES) 2.158 Phillips (100%) BM-ES-11 Espírito Santo (ES) 2.159 PETROBRAS (100%) BM-ES-12 Espírito Santo (ES) 121 BM-C-14 Campos (RJ) 1.882 Ocean (65%)/Amerada Hess (35%) BM-C-15 Campos (RJ) 1.999 PETROBRAS (100%) BM-C-16 Campos (RJ) 1.768 Wintershall (100%) BM-C-19 Campos (RJ) 1.077 PETROBRAS (70%)/Queiroz Galvão (30%) BM-S-12 Santos (SP) 2.059 El Paso (100%) BM-S-13 Santos (SP) 1.400 Wintershall (100%) BM-S-14 Santos (SP) 1.407 Maersk (100%) BM-S-15 Santos (SP) 1.411 PETROBRAS (50%)/Enterprise (25%)/Statoil (25%) BM-S-17 Santos (SP) 1.611 YPF (50%)/Enterprise (25%)/Statoil (25%) BM-S-19 Santos (SP) 2.075 PETROBRAS (80%)/Petrogal (20%) BM-S-21 Santos (SP) 2.075 Amerada Hess (80%)/Ocean (20%) BM-S-22 Santos (SP) 2.769 PETROBRAS (100%) BM-S-34 Santos (SP) 2.788 PERTROBRAS (45%)/Queiroz Galvão (18,34%)/Petroserv (18,33%)/El Paso (18,33%) PERTROBRAS (45%)/Queiroz Galvão (18,34%)/Petroserv (18,33%)/El Paso (18,33%) Total Fina Elf (30%)/PETROBRAS (25%)/Enterprise (22,5%)/Shell (22,5%) Bloco operado por empresa multinacional Fonte: GAZETA MERCANTIL – Balanço Setorial (2002). 95 BT: Bloco terrestre; BM: Bloco marítimo. 154 ANEXO II – LEGISLAÇÃO DE PREÇO PARA GASOLINA COMUM Gasolina Comum96 Descrição Parcelas A. Custo da Gasolina “A” no produtor A B. Custo do transporte dutoviário e/ou B cabotagem97 C. (CIDE) C D. Preço de faturamento da Gasolina “A”, sem ICMS, no produtor D = A + B +C E. ICMS98 no produtor E = [(D/(1-ICMS%)] – D F. ICMS distribuição e revenda a menos da F = [(A+C)/(1-ICMS%)]-[(A+C)*(1+ICMS%ST)] - E substituição tributária (ST) G. Preço de venda da Gasolina “A” no G=D+E+F produtor H. Custo do álcool etílico anidro combustível H (AEAC) I. Frete de coleta de álcool I J. Custo do AEAC com frete J=H+I L. Custo da Gasolina Comum “C” L = G*(1-AEAC%) + J*AEAC% M. Fretes (transferência e/ou entrega) M N. Margem de distribuição N O. CPMF na distribuição O = (L + M + N)*CPMF% P. Preço de faturamento da distribuidora P=L+M+N+O Q. Margem de revenda Q R. CPMF na revenda R = (P+Q)*CPMF% S. Preço da Gasolina Comum “C” ao S=P+Q+R consumidor (final) Fonte: Estrutura da formação dos preços, ANP (2002b). 96 A gasolina comum, vendida nos postos revendedores, consiste em uma mistura composta por gasolina “A” e álcool etílico anidro combustível (AEAC). De acordo com a portaria n.º 589, de 10/12/2001, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o atual percentual de AEAC é de 24% em base volumétrica. 97 Transporte naval. 98 Alíquotas e margens de valor agregado estabelecidas pelos governos estaduais. 155 ANEXO III – ESTIMATIVA DE DESPESA COM IMPORTAÇÃO DE ÓLEO 1999 Processamento de Petróleo REFINARIA Importado(bep) REMAM RLAM Estimativa de Gastos Total(bep) CP c/Importação (US$) 1.007.356 19,36% 4.195.257 80,64% 5.202.612 0,90% 16.933.646 13.447.220 19,11% 56.910.879 80,89% 70.358.099 12,15% 226.047.769 REGAP RPBC Nacional(bep) 868.103 1,75% 48.656.691 98,25% 49.524.794 8,55% 14.592.816 3.398.549 5,79% 55.340.273 94,21% 58.738.822 10,15% 57.129.613 634.098 4,81% 12.548.809 95,19% 13.182.906 2,28% 10.659.183 RECAP REPLAN 31.179.628 28,99% 76.380.220 71,01% 107.559.848 18,58% 524.129.547 REVAP 13.664.022 18,96% 58.386.473 81,04% 72.050.495 12,44% 229.692.207 REDUC 38.493.010 48,15% 41.444.324 51,85% 79.937.335 13,81% 647.067.506 4.055.120 99,02% 40.298 0,98% 4.095.419 0,71% 68.166.574 REPAR 20.596.958 29,37% 49.542.737 70,63% 70.139.695 12,11% 346.234.868 REFAP 535.085.670 MANGUINHOS 31.831.390 72,76% 11.916.464 27,24% 43.747.854 7,56% RPI 3.927.443 88,84% 493.541 11,16% 4.420.983 0,76% 66.020.310 Privadas 7.982.563 93,73% 533.839 6,27% 8.516.402 100,00% 134.186.884 PETROBRAS 155.120.335 27,19% 415.322.126 72,81% 570.442.461 2.607.572.825 TOTAL 163.102.898 28,17% 415.855.966 71,83% 578.958.863 2.741.759.710 Brent(US$/Barril) 16,81 Cotação média do ano Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; Refinarias do Sistema PETROBRAS e particulares, conforme Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c); CP: Capacidade de processamento em relação à capacidade efetiva (processada) no parque. Obs. 1 – O preço do petróleo do tipo Brent é FOB (free on board) em dólares no valor corrente; Obs. 2 – Os gastos com importação por refinaria são aproximados, dado que os petróleos importados, na grande maioria das vezes não são do tipo Brent, mas mixes de tipos distintos e as variações de cotação dos diferentes tipos no mercado internacional podem causar diferenças nos valores totais. 2000 Processamento de Petróleo REFINARIA Importado(bep) REMAM RLAM 1.319.763 Nacional(bep) Total(bep) Estimativa de Gastos CP c/Importação (US$) 11,46% 10.200.985 88,54% 11.520.748 1,95% 39.012.183 10.136.943 16,14% 52.655.347 83,86% 62.792.290 10,62% 299.648.028 REGAP 292.938 0,60% 48.309.298 99,40% 48.602.236 8,22% 8.659.238 RPBC 1.800.554 3,05% 57.261.642 96,95% 59.062.195 9,99% 53.224.363 974.204 6,41% RECAP 14.217.634 93,59% 15.191.838 2,57% 28.797.465 23.062.685 19,05% 97.974.999 80,95% 121.037.684 20,46% 681.732.965 REVAP 9.670.415 285.857.459 REDUC 35.799.047 52,60% 32.265.242 47,40% 68.064.289 11,51% REPLAN MANGUINHOS 4.242.791 11,69% 73.023.068 88,31% 82.693.483 13,98% 98,42% 68.003 1,58% 4.310.794 1.058.219.815 0,73% 125.416.891 REPAR 24.743.935 35,70% 44.558.131 64,30% 69.302.066 11,72% 731.430.727 REFAP 29.626.396 66,68% 14.803.611 33,32% 44.430.007 7,51% 875.756.274 RPI 4.401.052 98,04% 87.804 1,96% 4.488.856 130.095.085 Privadas 8.643.842 98,23% 155.808 1,77% 8.799.650 100,00% PETROBRAS 137.426.878 23,58% 445.269.956 76,42% 582.696.834 TOTAL 146.070.720 24,70% 445.425.764 75,30% 591.496.484 Brent(US$/Barril) 0,76% 255.511.976 4.062.338.518 4.317.850.494 29,56 Cotação média do ano 156 ANEXO III – ESTIMATIVA DE DESPESA COM IMPORTAÇÃO DE ÓLEO (CONTINUAÇÃO) 2001 Processamento de Petróleo REFINARIA Importado(bep) Nacional(bep) Estimativa de Gastos Total(bep) CP c/Importação (US$) REMAM 1.317.333 7,94% 15.275.132 92,06% 16.592.465 2,74% 34.250.655 RLAM 4.375.208 5,66% 72.930.938 94,34% 77.306.146 12,75% 113.755.409 REGAP 533.254 1,09% 48.480.542 98,91% 49.013.796 8,08% 13.864.611 RPBC 2.587.327 4,48% 55.144.719 95,52% 57.732.046 9,52% 67.270.502 RECAP 2.989.508 17,59% 14.006.059 82,41% 16.995.567 2,80% 77.727.210 REPLAN 29.365.329 24,60% 89.989.845 75,40% 119.355.174 19,68% 763.498.557 REVAP 11.576.419 13,94% 71.457.009 86,06% 83.033.427 13,69% 300.986.888 REDUC 36.090.280 51,73% 33.680.535 48,27% 69.770.815 11,50% 938.347.286 4.363.949 92,50% 353.722 7,50% 4.717.672 0,78% 113.462.680 REPAR 20.388.171 29,10% 49.684.689 70,90% 70.072.861 11,55% 530.092.458 REFAP MANGUINHOS 27.962.419 73,88% 9.883.801 26,12% 37.846.220 6,24% 727.022.896 RPI 4.038.510 100,00% - 0,00% 4.038.510 0,67% 105.001.257 Privadas 8.402.459 95,96% 353.722 4,04% 8.756.181 100,00% 218.463.936 PETROBRAS 137.185.249 22,95% 460.533.269 77,05% 597.718.517 3.566.816.471 TOTAL 145.587.708 24,01% 460.886.991 75,99% 606.474.699 3.785.280.408 Brent(US$/Barril) 26,00 Cotação média do ano Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; Refinarias do Sistema PETROBRAS e particulares, conforme Dados Estatísticos Mensais, ANP (2002c); Obs. 3 – Todas as observações e fontes relativas ao ano de 1999 se aplicam aos anos de 2000 e 2001. 157 ANEXO IV – UNIDADES INSTALADAS NO PARQUE DE REFINO NACIONAL Capacidade de Carga (bpd) Complexidade REMAM % Processamento Complexidade RLAM % Processamento Complexidade REGAP % Processamento Complexidade RPBC % Processamento Complexidade RECAP % Processamento Complexidade REPLAN % Processamento Complexidade REVAP % Processamento Complexidade REDUC % Processamento Complexidade MANGUINHOS % Processamento Complexidade REPAR % Processamento Complexidade REFAP % Processamento Complexidade RPI % Processamento Complexidade Parque Brasileiro % Processamento Complexidade 2001/2002 Capacidade de Produção (bpd) Destilação Destilação Coqueamento Operações Craqueamento Reforma Hidrocraq. Hidrotrat. (Atmosférica) (vácuo) Retardado Térmicas Catalítico Catalítica Catalítico Catalítico Alquilação Pol./Dimeriz. Aromáticos Isomerização Lubrificantes Oxigenados Hidrogênio Asfalto 1 2 6 3,8 6 5 6 2 10 10 15 15 10 10 1 1,5 (Mcfd) 42.703 14.624 100,00% 34,25% 0,00% 0,00% 6,85% 2.925 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 2,58% 1.100 ICN CDE %CDE 1,0 0,7 0,0 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 91.151 1,25% 283.710 91.834 1.000 2.300 100,00% 32,37% 0,00% 0,00% 10,31% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 2,02% 0,00% 0,35% 0,81% 1,0 0,6 0,0 0,0 0,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 2,5 704.562 9,67% 140.393 70.781 19.012 8.000 6.000 100,00% 50,42% 13,54% 0,00% 25,00% 0,00% 0,00% 25,42% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 5,70% 4,27% 1,0 1,0 0,8 0,0 1,5 0,0 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,1 5,0 694.979 9,53% 157.942 83.028 30.418 55.572 10.529 29.249 2.925 100,00% 52,57% 19,26% 0,00% 35,19% 6,67% 0,00% 18,52% 1,85% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 18,99% 0,00% 1,0 1,1 1,2 0,0 2,1 0,3 0,0 0,4 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 6,4 1.010.331 13,86% 42.118 21.059 100,00% 50,00% 0,00% 0,00% 44,80% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 1,0 1,0 0,0 0,0 2,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,7 197.456 2,71% 304.184 140.393 29.249 2.057 28.000 4.000 100,00% 46,15% 9,62% 0,00% 29,81% 0,00% 0,00% 9,62% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,68% 9,20% 1,31% 1,0 0,9 0,6 0,0 1,8 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 4,7 1.417.552 19,45% 210.589 102.370 1.516 10.000 2.600 100,00% 48,61% 0,00% 0,00% 33,33% 0,00% 0,00% 36,11% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,72% 4,75% 1,23% 1,0 1,0 0,0 0,0 2,0 0,0 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 4,8 1.017.657 13,96% 222.289 75.480 46.798 10.529 12.806 1.234 10.000 2.300 100,00% 33,96% 0,00% 0,00% 21,05% 4,74% 0,00% 13,46% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 5,76% 0,56% 4,50% 1,03% 1,0 0,7 0,0 0,0 1,3 0,2 0,0 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6 0,1 0,0 0,0 4,1 920.374 12,63% 0,00% 3,6 79.100 1,09% 4,3 759.383 10,42% 2,0 354.881 4,87% 3,3 41.581 0,57% 4,1 7.288.947 29.249 5.724 35.098 35.682 30.000 18.870 90.670 29.249 70.196 15.372 12.000 76.046 29.921 3.000 3.000 100,00% 0,00% 0,00% 96,00% 0,00% 24,00% 0,00% 24,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 1,0 0,0 0,0 3,6 0,0 1,2 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 175.491 87.191 100,00% 49,68% 0,00% 0,00% 31,00% 0,00% 0,00% 16,67% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,97% 0,00% 1,0 1,0 0,0 0,0 1,9 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 175.491 35.098 100,00% 20,00% 0,00% 0,00% 10,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 1,48% 1,0 0,4 0,0 0,0 0,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 12.581 5.500 100,00% 43,72% 0,00% 0,00% 23,85% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 1,0 0,9 0,0 0,0 1,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1.782.863 727.328 78.679 12.000 424.329 24.058 232.396 2.925 18.530 6.517 87.000 25.900 100,00% 40,86% 4,42% 0,67% 23,84% 1,35% 0,00% 13,06% 0,16% 0,00% 0,00% 0,00% 1,04% 0,37% 4,89% 1,46% 1,0 0,8 0,3 0,0 1,4 0,1 0,0 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 54.402 29.249 1.710 0,0 5.000 17.549 2,85% 0,0 2.600 3.000 100,00% Fonte: Elaboração própria a partir de Oil & Gas Survey (2001), NELSON (1976) e JOHNSTON (1996). 158 159