POLÍTICA INSTITUCIONAL DE COMPARTILHAMENTO DE CUSTOS: AMPLIAÇÃO DAS TAXAS DE MATRÍCULA E FINANCIAMENTO ESTUDANTIL EIXO 3: Políticas Nacionais e Gestão Institucional para a Redução do Abandono VOOS, Jordelina Beatriz Anacleto 1 MOROSINI, Marilia Costa 2 Universidade da Região de Joinville- UNIVILLE-SC Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul- PUCRS [email protected] [email protected] Resumo: Seguindo a trajetória das economias desenvolvidas, outras nações em desenvolvimento consideram que aumentar taxas de participação no ensino superior é necessário para a efetiva inserção no processo de globalização. Porém, os governos destas nações, como o Brasil, reconhecem que, por si só, não têm condições de atender a crescente demanda. Segundo dados do relatório da GUNI – Global University Network for Innovation (2009), contraditoriamente, os orçamentos governamentais para o ensino superior estão diminuindo constantemente. Então, no sentido de garantir o acesso, tendo em vista a procura crescente, foram criadas formas de compartilhamento de custos. No Brasil, há dois programas. O Programa de Crédito Educativo, o CREDUC, instituído em 1975, antecessor da atual forma de Financiamento Estudantil do Ensino Superior, o FIES e o Programa Universidade para Todos – ProUni, criado em 2004. São programas do Ministério da Educação destinados a financiar a graduação de estudantes de baixa renda, matriculados em instituições particulares (incluindo as sem fins lucrativos). Neste cenário investigou-se se, ao adotar esta política, a Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, no período de 2010 a 2013, expandiu a taxa de matrícula, nos cursos de licenciatura, garantindo o acesso e permanência dos acadêmicos. Objetivou-se verificar, ainda, o papel das famílias dos estudantes, no processo de financiamento. A investigação situa-se na confluencia das abordagens qualitativa e quantitativa, caracterizando-se como um estudo de caso educacional. A fonte de dados é institucional: a Central de Atendimento Acadêmico e o Programa de Apoio ao Estudante. Para a complementação dos dados foi aplicado um questionário e entrevistas realizadas com os estudantes e as suas famílias dispostos a participar da investigação. Os resultados traduzem as dificuldades de se cumprir os objetivos nacionais de desenvolvimento social e econômico, expectativas, institucionais e aspirações individuais, com base na política de compartilhamento de custos, via financiamento, para estudantes de baixa renda. Constatou-se que, no plano da prática, esta política não causou impacto em relação à ampliação da taxa de matrícula, isto é, ao acesso, bem como a permanência dos estudantes, nos cursos de licenciatura, o caso em análise. Os estudantes, bem como as suas famílias, não aderiram ao programa, como era o esperado. Palavras-Chave: Educação Superior, Política de Financiamento, Cursos de Licenciatura. 1 Professora dos cursos de licenciatura da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE. Doutoranda do curso de Pós-graduação, em Educação, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Doutora em engenharia da produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. 2 Professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Doutora em Educação pela UFRGS e pós-doutora pela Universidade do Texas. Coordenadora da rede UNIVERSITAS, da RIES e do Observatório de Educação Indicadores de Qualidade do Ensino Superior. 1 Introdução Para países de economias desenvolvidas, e de nações em desenvolvimento, aumentar as taxas de participação no ensino superior é necessário para a efetiva inserção no processo de globalização. Porém, os governos destas nações, como o do Brasil, reconhecem que, por si só, não têm condições de atender a crescente demanda. Segundo dados do relatório da GUNI – Global University Network for Innovation (2009), contraditoriamente, os orçamentos governamentais para o ensino superior estão em declínio, em uma base per capita. Então, no sentido de garantir o acesso, tendo em vista a pressão causada pela demanda crescente, os países criaram diversas formas de financiamento, compartilhando os custos. No Brasil, dois programas de compartilhamento são fundamentais. O Programa de Crédito Educativo, o CREDUC, instituído em 1975, antecessor da atual forma de Financiamento Estudantil do Ensino Superior, o FIES e o Programa Universidade para Todos – ProUni, criado em 2004. São programas do Ministério da Educação destinados a financiar a graduação de estudantes de baixa renda, matriculados em instituições particulares (incluindo as sem fins lucrativos), em consideração à extraordinária expansão deste segmento, na última década, o qual tem se revestido de grande importância. Espera-se que a educação superior contribua para impulsionar o desenvolvimento da sociedade brasileira, reposicionando o país no contexto internacional, haja vista que, no conjunto, da América Latina, o Brasil apresenta um dos índices mais baixos de matriculados na educação superior em relação à população de 18 a 24 anos. Diante de um contexto emergente “nenhum país pode aspirar a ser desenvolvido e independente sem um forte sistema de educação superior. Num mundo em que o conhecimento sobrepuja os recursos materiais como fator de desenvolvimento humano, a importância da educação superior e de suas instituições é cada vez maior. [...] é importante a contribuição do setor privado, que já oferece a maior parte das vagas na educação superior e tem um relevante papel a cumprir [...]” (BRASIL, Plano Nacional de Educação, 2010/2020, p.41). Porém, tal relevância inscrita nas políticas governamentais estatais, no que tange à expansão, acesso, financiamento, e permanência, não tem se materializado, institucionalmente, conforme as evidências do Relatório do 2º Encontro Nacional do Censo da Educação Superior, realizado na cidade de Recife, Estado de Pernambuco, no mês de junho/2013. Ainda, há necessidade de se revisar os indicadores do censo para melhor captar a realidade desse nível de ensino, de forma a subsidiar as Instituições de Ensino Superior - IES a aperfeiçoarem mecanismos e instrumentos para acompanhar a trajetória dos estudantes. Um destes indicadores diz respeito ao financiamento, além de outros, como a forma de acesso, a de permanência e a de articulação com a Educação Básica. Esta necessidade não é uma particularidade do sistema de ensino superior brasileiro, ultrapassa as fronteiras de todas as nações. O financiamento é um problema, das e entre as nações. Estudos desta natureza concentram-se em instituições estrangeiras. Na tradição brasileira, são embrionários, na ótica de Morosini (2012) e grande parte das pesquisas realizadas incide na Educação Básica, apesar de o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP, órgão do Ministério da Educação – MEC, fazer a divulgação anual dos dados referentes ao ensino superior possibilitando, aos interessados, compreender a gestão e o desenvolvimento das políticas e estabelecer relações entre a expansão e o financiamento estudantil. Conforme os dados do gráfico 1, logo a seguir, pode-se perceber que a significativa expansão quantitativa reforça a tendência do Brasil, de estar em sintonia com as políticas globais, o que implica no desafio de realizar mudanças estruturais na forma de gerenciar os problemas de financiamento da educação superior, compartilhando os custos. Gráfico 1 – Evolução da matrícula na educação superior Fonte: MEC/Inep/Censup, p. 3, 2011. Na publicação da Secretaria de Comunicação Social (SECOM, 2013, p.37), registra-se no primeiro semestre de 2013, 1.032.873 candidatos a bolsas de estudos do ProUni em instituições particulares de educação superior. Destas, 67% integrais, para 12.159 cursos em 1.078 instituições de ensino superior do País. E, com relação ao FIES, na tabela baixo, visualiza-se a adesão ao programa, no quadriênio 2010/2013. Observa-se que em 2013 houve retração na adesão ao programa. Tabela 2 - Evolução de contratos do FIES ANO familiar mensal seja de até 1½ salário mínimo por pessoa. Esse programa destina-se aos bolsistas parciais do ProUni, inscritos no FIES e estudantes matriculados em cursos de licenciatura. À luz destes dados justifica-se a realização de um estudo microscópico sobre esta política e situá-la, no contexto de uma universidade regional comunitária, na busca sistemática da relação entre a taxa de matrícula e o compartilhamento de custos, acesso e permanência dos estudantes nos cursos de licenciatura, especificamente, no período compreendido entre 2010/2013, entendido, este período, como um ciclo de formação. Nesse sentido, o foco da investigação assenta-se no que tem se constituído como desfio para os gestores das instituições de ensino superior comunitárias, a questão do financiamento. Entende-se que o fenômeno, a ser investigado, instaura-se nas contradições e conflitos produzidos no mundo interno das instituições, porém extrapola os seus muros. Sobre o mundo externo (mercado, ranking, consumidores, representações dos estudantes sobre os cursos e escolha das famílias, quanto ao tipo de financiamento), o controle dos gestores é, de certo modo, presumível. CONTRATOS FIRMADOS 1. 2010 76,3 mil 2011 154,1 mil 2012 372,5 mil 2013 92,3 mil TOTAL 695,2 mil Fonte: Secretaria de Comunicação Social (SECOM, 2013, p.37). Também, no sentido de compartilhamento de custos em 2010, houve a implementação do FIES, com a criação do Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo – FGEDUC. 843 das 2.412 instituições particulares de ensino superior que participam do Fies, já aderiam ao FGEDUC, financiando as mensalidades de estudantes que não dispõem de garantias e ou fiadores para abonar o empréstimo, desde que a renda Objetivos Neste cenário, a partir do problema enunciado, delinearam-se como objetivos investigar se, ao adotar a política institucional de financiamento estudantil, alinhando-se à política nacional de compartilhamento de custos, a Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, no período de 2010 a 2013, expandiu a taxa de matrícula, nos cursos de licenciatura e se esta forma de compartilhamento contribuiu para garantir a permanência dos acadêmicos, nos referidos cursos. Verificar, ainda, o papel das famílias dos estudantes, no processo de financiamento. 2. Quadro Teórico Os resultados das pesquisas realizadas sobre a educação superior têm demonstrado que as universidades e/ou instituições congêneres, na atualidade, vivenciam um processo de transformação estrutural, sem precedentes. Porém, em cada país ou região, as características emergentes desse fenômeno são muito específicas e estão circunscritas às sociedades em que elas atuam. Desafiadas a determinarem o lugar do conhecimento, como um bem público, na perspectiva do desenvolvimento humano e da responsabilidade social, a estrategicamente, reforçarem a sua postura crítica em relação às mudanças, a compartilharem da qualificação da população para o contexto produtivo local e global, as IES, ao mesmo tempo, se veem obrigadas a competir com os mecanismos de mercado, seguindo a trajetória das economias mais desenvolvidas. Faz-se necessário aumentar as taxas de participação no ensino superior para a efetiva inserção do país no processo de globalização e romper as fronteiras. Citando o caso brasileiro, criaramse, em seu território, universidades internacionais (Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA; Universidade Federal da Integração Luso Afro-Brasileira - UNILAB; Universidade Federal da Integração Amazônica – UNIAM e a Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS) e redefiniu-se a política de financiamento estudantil para estudantes de baixa renda, matriculados em instituições privadas e/ou comunitárias. Na Conferência Mundial sobre Educação Superior, em Paris no ano de 1998, essa questão veio à tona. Na Declaração Mundial sobre Educação Superior para o Século XXI: Visão e Ação - subscreve-se um conjunto de medidas fundamentais à promoção de reformas na educação superior, nos níveis governamentais, organizacionais e institucionais, com o intuito de aprimorar sua qualidade, pertinência e eficiência e em garantir recursos e financiamento suficientes, tanto públicos como privados, para lidar com o aumento das demandas no ensino superior pelos seus diferentes públicos de interesse. à política Contraditoriamente, expansionista, segundo dados do relatório da Global University Network for Innovation (GUNI 2009), os orçamentos governamentais para a educação superior estão diminuindo constantemente, em base per capita, e o mais alto índice é o do Brasil. Essa política gera um grande e preocupante desequilíbrio entre o sistema público e o sistema privado. Comprovam-se os dados, no Censo do Ensino Superior, publicado pelo Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (MEC/Inep, 2011), no que se refere à categoria administrativa, que 88,0% das IES são privadas e 12,0%, públicas. 4,7% são estaduais, 4,3% federais e 3,0% municipais. Entre as dez maiores IES, em número de matrículas de graduação, nove são privadas e uma é pública estadual. 73,7% dos alunos do ensino superior de graduação estão matriculados em instituições privadas. Este quadro fundamenta a nova política da educação superior: elevar taxas de matrícula, mediante o fomento do financiamento privado, isto é, a criação de linhas de crédito para os estudantes. Concordando com Cerdeira (2011) que, se de fato, até a década de 80 os governos assumiram o financiamento da educação superior, é porque entendiam ser essencial, a sua responsabilidade social e econômica na formação de seus cidadãos. Além da formação de profissionais, altamente qualificados, havia o compromisso político de constituição de uma “massa crítica” 3. Não atendendo à demanda e, incentivando a expansão do ensino privado, paralelamente, foi-se construindo uma ideia de externalidade aos governos, sobre a responsabilidade da educação superior. Isto é, a concepção de educação superior como um investimento pessoal, um bem de consumo, portanto, os custos e os benefícios devem ser compartilhados. Caberia à família ou ao sujeito, quando economicamente independente, decidir por esse tipo de investimento. Esta é a tendência, hoje. A decisão privada de investir implica na 3 Termo transposto da física nuclear (formar e manter uma reação em cadeia) para significar uma quantidade mínima, de sujeitos, necessária em um sistema social para que este possa sustentar-se e desenvolver-se. escolha de profissões, instituições e cursos mais valorizados, no mercado, limitam a permanência e a conclusão do curso e tem impacto direto na opção, do estudante e de sua família. Torna-se difícil a opção por um curso de licenciatura, haja vista o baixo valor do diploma. Em termos de avanço, quanto à permanência, o número de concluintes, no panorama da educação superior no Brasil, o resultado parece pouco expressivo. Tendo como critérios a confiabilidade das fontes, a legitimidade dos estudos e a representatividade dos órgãos oficiais na produção e divulgação de dados como, por exemplo, os apresentados na IIª Conferência Latinoamericana sobre o Abandono no Ensino superior – II CLABES 2012 4; as produções do Banco de Teses da CAPES 5 de 2000 a 2010 e o Censo da Educação Superior, MEC/Inep, nesse período, os índices de concluintes por categoria administrativa (Federal, Estadual Municipal e Privada), houve uma pequena elevação dos índices nas instituições privadas, nos últimos cinco anos. Explorando as pesquisas publicadas no âmbito do Projeto ALFA-GUIA 6, as instituições brasileiras de ensino superior das diferentes dependências administrativas têm desenvolvido ações visando minimizar a evasão dos alunos universitários. Consta no documento MEC/Inep/Censup, p. 10, 2011, que dos 1.022.711 concluintes em 2011, 1.016.713 (99,4%) referem-se aos cursos de graduação, dos quais 12% são cursos de licenciatura, demonstrando um crescimento de 4,3%. Todavia, não foi reduzido o percentual 4 O Evento foi realizado pelo Projeto Alfa GUIA (Gestión Universitaria Integral del Abandono), no qual a PUCRS participa, juntamente com outras 20 Instituições de Educação Superior de distintos países da América Latina e Europa. 5 Em 1951 foi fundada a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, atualmente, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 6 ALFA-GUIA é uma referência para as Instituições de Ensino Superior, Organizações e ou pessoas comprometidas com o objetivo de reduzir o abandono estudantil no Ensino Superior. de abandono próximo a 20%, apresentado em 2009 no Censo do MEC/Inep. A investigação de Silva Filho, et. al. (2009), aponta que, de acordo com os dados publicados, somente 47,2% dos estudantes universitários se titularam após quatro anos de curso e o recurso dispendido com a evasão no ensino superior, no Brasil, foi de aproximadamente R$ 9 bilhões. Verificando outros resultados, de caráter descritivo, de pesquisas que focam a trajetória de estudantes, menos favorecidos economicamente, uma das causas da não permanência nos cursos está relacionada às condições financeiras para manter-se num programa de ensino superior: gastos com material, transporte, moradia e alimentação (que não são financiados), baixa remuneração no trabalho, desemprego inesperado e precária situação econômica da família. Nesta altura cabe, então, aprofundar o que está posto macroscopicamente, investigando a realidade do financiamento dos cursos de Licenciatura, da UNIVILLE, dialogando com os seus atores, tendo como pano de fundo à política de compartilhamento de custos e a sua contextualização como centralidade. 3. O percurso metodológico Em consonância com o contexto e a particularidade do estudo, a investigação situa-se na confluência das abordagens qualitativa e quantitativa, caracterizando-se como um estudo de caso educacional. Contempla a intersecção de três etapas: a) a exploratória, na seleção dos participantes e do material de análise, para a confirmação do caso; b) a de coleta de dados, delimitando o foco da investigação; c) a análise e interpretação dos resultados, tendo como parâmetro duas categorias em interrelação: financiamento estudantil e cursos de licenciatura. Inicialmente, aspectos numéricos foram significados com a intenção de sustentar os procedimentos de caráter qualitativo. O locus da pesquisa foi uma instituição de ensino superior, comunitária, situada em Joinville, no Estado de Santa Catarina, no Sul do Brasil. Além das fontes bibliográficas, outros dados foram fornecidos por 101 acadêmicos, do total de 166, que estão matriculados no 4º ano dos cursos de licenciatura, no período de 2010/2013 (ciclo de formação), pelos informantes-chave da Central de Atendimento Acadêmico e do Programa de Apoio ao Estudante. Como instrumento para complementação dos dados da coleta foi utilizado um questionário constituído de 20 questões. 15 questões fechadas sobre o perfil dos respondentes e 5 questões abertas a respeito do financiamento estudantil. Para esclarecer o papel da família no processo de financiamento, foram solicitadas entrevistas com os estudantes e com as suas famílias. Os dados numéricos foram analisados à luz da estatística descritiva, levando-se em conta o significado da quantificação no contexto em que os dados foram produzidos e a área em que os problemas estudados se situam, segundo Gatti (2004). E a interpretação das respostas dadas às questões abertas e das entrevistas, fundamentou-se nos dispositivos da análise de conteúdo, na ótica de Bardin, (2009). Cabe informar que o período 2010/2013, foi considerado representativo, para definir o estudo de caso, em virtude da implementação das políticas públicas, governamentais, na esfera da educação superior. 4. Os resultados 4.1 O cenário Fotografia 1 – Visão panorâmica do Campus da UNIVILLE Fonte: Portal da UNIVILLE A Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE é uma universidade comunitária, mantida pela Fundação Educacional da Região de Joinville – FURJ, cuja criação data do ano de 1965. Dia 14 de agosto de 1996 o por Decreto Presidencial é credenciado o funcionamento da Universidade da Região de Joinville, que atualmente, oferece à comunidade e região 42 cursos de graduação nas diversas áreas do conhecimento (bacharelado e licenciatura) e cursos de pósgraduação (lato e stricto sensu) em educação, design, engenharia de processos patrimônio cultural e sociedade, saúde e meio ambiente, atendendo 9.312 estudantes. O sistema de ensino superior no Estado de Santa Catarina é distinto de outras unidades da federação. Além de três universidades públicas, uma universidade confessional e instituições privadas, foram credenciadas, no estado, 13 universidades comunitárias, mantidas por fundações educacionais. Estas universidades estão reunidas na Associação Catarinense das Fundações Educacionais – ACAFE comungam políticas, e respondem por 54% das matrículas neste nível de ensino. O Estado de Santa Catarina, também, possui mecanismos que visam garantir o acesso e a permanência do estudante, no sistema de ensino superior. É mantenedor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina – UDESC e fornece bolsas de estudo e de pesquisa, gratuitas, conforme o previsto nos Art. 170 e 171 da Constituição Estadual/1989. Este dado é relevante, no sentido de compreender a prevalência da forma de custeio dos cursos de licenciatura dos estudantes pesquisados. 4.2 Análise dos dados Nesta altura, é pertinente apresentar inicialmente, embora de forma breve, o perfil dos estudantes dos cursos de licenciatura da UNIVILLE em Arte, História, Educação Física, Letras, Pedagogia e Ciências Biológicas. Um percentual de 90% acessou ao curso superior via vestibular do sistema ACAFE e 10% pelo Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM. A maioria situa-se na faixa etária apropriada 24/26 anos; fez o curso como primeira e única opção; é o irmão mais velho, integrante de famílias com até 10 filhos; frequentou o ensino regular em escolas públicas; a trajetória estudantil na educação básica e superior é considerada exitosa; 46% já trabalham na área de conhecimento do curso e 25% desenvolvem atividades como estagiários, na UNIVILLE, por meio de bolsas de pesquisa e/ou extensão. 50% dos familiares possuem ensino superior completo e 25% é o índice do primeiro filho a cursar o ensino superior. Quanto à permanência no curso, há unanimidade quanto à motivação e o interesse de seguir a carreira do magistério. Com relação à política institucional de bolsas de estudo, de pesquisa, de extensão, e de financiamento estudantil, no Portal da UNIVILLE os estudantes acessam todas as modalidades, incluindo a orientação, a documentação, o formulário para a solicitação do recurso e os editais (www.univille.edu.br). Os dados, da tabela abaixo evidenciam que os estudantes agregam recursos, de fontes diversas, no sentido de garantir a permanência nos cursos. Chama a atenção, a relação ao índice que se evidenciava, em âmbito federal, nos programas de compartilhamento de custos. O percentual de financiamento do FIES não atinge a expectativa. Não foi a opção dos estudantes dos cursos de licenciatura ao ingressarem e permanecem na universidade no período 2010/2013. Tabela 2 - Formas de custeio do curso FAMÍLIA Art. 170/171 SC Trabalho Fies Prouni Financiamento total Financiamento parcial Fonte: questionário 30% 51% 46% 2,5% 12,5% 23,75% 76,25% Entrevistados sobre os motivos da não contratação do FIES os estudantes declararam não concordar com esta política de compartilhamento; alegaram que o processo de solicitação é muito burocrático; que os cursos de licenciatura deveriam ser gratuitos; há o receio de contrair uma dívida e não conseguir trabalho para pagá-la após concluir o curso. Por serem as suas famílias de baixa renda, as mesmas, não teriam como assumir o reembolso. Nesse sentido, o papel da família quanto à adesão ao compartilhamento de custos é irrelevante. Tão somente 16% delas apoiariam ou fariam o financiamento, no caso de necessidade extrema. As demais julgam que os estudantes devem responsabilizar-se pelo financiamento. Apenas, incentivariam o financiamento como investimento pessoal. 51% dos estudantes, respondentes, seguiriam os seus estudos com recursos provenientes do trabalho e com o apoio da família. 49% não teriam como fazer o curso se não lhes fossem proporcionados o acesso e a permanência mediante o programa de bolsas de estudo e/ou de pesquisa. Diante de dificuldade financeira, a maioria dos estudantes, para permanecer no curso, prefere buscar um trabalho, na área da formação, em vez de fazer o financiamento. Este dado foi confirmado junto ao setor de Apoio ao Estudante. Na tabela 3 visualiza-se o número de estudantes que acessaram aos cursos de licenciatura no período estudado. Tabela 3. Ingressantes 1º Ano – 2010/2013 Cursos 2010 2011 2012 Arte 27 Ciên. Biológicas 42 37 35 Edu. Física M 56 48 51 Edu. Física N 51 52 36 Geografia História 40 27 35 Letras/Ing/Por. 40 44 35 Letras/Lin. Por. 14 12 08 Matemática Pedagogia 36 32 25 TOTAL 306 252 217 Fonte: Central de Atendimento Acadêmico 2013 30 42 53 59 40 40 10 38 312 Estes resultados traduzem que, no plano da prática, a política de compartilhamento de custos, também, não causou o impacto esperado em relação à ampliação da taxa de matrícula, nos cursos de licenciatura, o caso em análise. Outro dado muito significativo refere-se à trajetória dos estudantes, no ciclo de formação. Tabela 4. Ingressantes/Concluintes Cursos 2010 2013 Arte 27 08 Ciên. Biológicas 42 23 Edu. Física Mat. 56 24 Edu. Física Not. 51 42 Geografia História 40 19 Letras/Dupla 40 14 Letras/Lin. Port. 14 16 Matemática Pedagogia 36 20 TOTAL 306 166 = 54,4% Fonte: Central de Atendimento Acadêmico O que teria ocorrido na trajetória destes estudantes? Mesmo não sendo esse o foco do estudo, mas tecendo as relações, procurou-se mediante os registros do setor de Apoio ao Estudante entender a discrepância. Os motivos apontados são aqueles que outras pesquisas, já socializaram no I e II CLABES. Há casos de trancamento de matrícula, transferência de curso, dependência, reprovação, doença, dificuldade financeira e mudança de domicílio. No entanto, cabe destacar que, na sua trajetória, na universidade, estes alunos não fizeram financiamento. Nenhum deles aderiu ao FIES. Guardando à proporção devida, em face da especificidade do caso, os cursos de licenciatura, infere-se que se estabeleceu uma cultura preconceituosa em torno do financiamento estudantil. Esta postura e a falta de estímulo traz em seu bojo o risco da redução de ingresso e de permanência de estudantes, economicamente desfavorecidos, na educação superior, na UNIVILLE. Considerações O tema financiamento do ensino superior, no que tange às formas de compartilhamento de custos é tema recorrente do debate político, social e econômico de todas as nações. Esse fato pode ser constatado nos relatórios das conferências e encontros nacionais e internacionais realizados com esta finalidade. Ainda são poucas, porém há produções no contexto das pesquisas acadêmicas, que discutem a problemática, no Brasil. Ao que os dados evidenciam as bases que sustem as políticas de ampliação da taxa de matrícula, articuladas ao compartilhamento de custos, estão alheias à investigação científica, ou a publicação dos resultados não é socializada aos interessados. À luz deste entendimento, não há como discordar de Cerdeira (2009), quando afirma que a ausência de um conhecimento rigoroso é a causa da repetição das mesmas ideias, quase sempre falsas ou enganadoras, que em nada contribuem para instaurar uma reflexão séria e informada. O mesmo ocorre com os formuladores de políticas públicas que operam com diagnósticos deficientes e uma compreensão empobrecida da realidade, revelando-se, na prática, a fragilidade da consecução de uma política. No recorte foi feito, tratando-se do caso de um segmento de estudantes, que cursam a licenciatura, esperava-se confirmar a adesão ao programa de financiamento estudantil, considerando os objetivos da política: uma oportunidade que favoreceria a formação superior, garantindo não só o acesso e o ingresso, mas o que se estimava como mais importante, a permanência, isto é, a terminalidade com êxito. Tornou-se visível na percepção dos participantes da investigação que a formação de professores diferencia-se de outros cursos superiores. É uma tarefa que deve constituir uma política de estado, uma política específica. Não pode, de forma alguma, situar-se no âmbito das generalidades, tendo em vista o desprestígio dos cursos e o barateamento do diploma. A nação brasileira corre o risco de esvaziamento desses cursos. Registra-se, ao concluir, que muito há muito para revelar, em face da riqueza dos dados. Este relato é preliminar. O estudo terá continuidade. Em outro momento, serão apresentados novos desdobramentos. Agradecimentos Aos acadêmicos dos cursos de licenciatura da UNIVILLE, colegas e integrantes da UNIVILLE que colaboraram fornecendo os dados e participando da investigação. E especialmente a Profa. Dra. Marília da Costa Morosini, a grande incentivadora e coautora desta produção. Referências Bibliográficas Bardin, L. (2009). Análise de conteúdo. 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