GEOGRAFIA HUMANA
O CONFLITO DA FAZENDA SANTA ELINA / O MASSACRE DE CORUMBIARA. RONDÔNIA,
1995.
Helena Angélica de Mesquita1, Ariovaldo Umbelino de Oliveira2
1. Departamento de Geografia/Campus Catalão – UFG, Catalão/GO. [email protected].
Geografia, FFLCH/USP, São Paulo/SP.
2. Departamento de
(INTRODUÇÃO)
A ocupação capitalista da terra no Brasil tem sido violenta, contra índios, escravos, ex-escravos e posseiros.
Isto tem resultado em conflitos e em grandes massacres. O conflito da Fazenda Santa Elina, que resultou no
massacre de Corumbiara, sintetiza esta situação. Os conflitos estão presentes onde estão as cercas do latifúndio. Os
massacres mostram como agem e reagem as elites frente às lutas populares.
(METODOLOGIA)
O trabalho é resultado de mais de três anos de pesquisa: revisão bibliográfica e especialmente pesquisa e fontes
primárias e secundárias. A metodologia básica foi fazer uma análise dos processos judiciais e um paralelo com as
entrevistas com 85 camponeses que estiveram na Fazenda Santa Elina. Esse procedimento permitiu comprovar
grandes contradições entre o que está registrado nos autos e a realidade vivida pelos camponeses.
(RESULTADOS)
No dia 14 de julho de 1995 cerca de 600 famílias ocuparam uma pequena parte da Fazenda Santa Elina, no município
de Corumbiara, Rondônia. Rapidamente os fazendeiros se mobilizaram e pressionaram juízes, comandantes da PM e
o próprio Governo do Estado a agir contra os “invasores”. E o que era um conflito por terra, se tornou uma tragédia
sem precedentes. Na madrugada do dia 9 de Agosto o acampamento dos sem terra foi cercado por todos os lados e o
ataque começou com o lançamento de bombas de gás lacrimogêneo e tiroteio com armas pesadas por longas horas.
Homens foram executados sumariamente depois de rendidos. Mulheres foram usadas como escudo humano por
jagunços e policiais e cerca de 300 pessoas foram presas e torturadas. Neste dia morreram 11 pessoas, inclusive
uma menina de 6 anos. Nos dias seguintes aconteceram mais mortes de camponeses. Os posseiros não tiverem
tempo para negociações ou para se defenderem. E como se defender diante de policiais e jagunços fortemente
armados e embrutecidos? A desproporção de forças era brutal.
(CONCLUSÕES)
O conflito da Santa Elina foi semelhante a milhares de outros que acontecem todos os dias no Brasil. Famílias
ocupam terras improdutivas e em muitos casos o governo é obrigado a agir, desapropriando e assentando. Mas o
conflito da Santa Elina foi se tornando tragédia à medida que os fazendeiros agiam e pressionavam juizes,
comandantes da PM e o próprio governo. Tudo isso reflete a questão em uma escala muito mais ampla. É a opção
neoliberal de administração da questão agrária agravada em 1995.
A era FHC está definitivamente marcada pela violência, pelo agravamento das diferenças sociais e pela mais
lastimável impunidade. O primeiro mandato foi marcado por conflitos por todo o país e a repressão aos conflitos
resultaram em grandes massacres, tais como o de Corumbiara e o de Eldorado do Carajás, sem falar os massacres
urbanos. O segundo mandado já foi implantado com o estigma da corrupção.
O conflito da Fazenda Santa Elina era tão somente uma ocupação de terras improdutivas, e o massacre de
Corumbiara mostrou como agem e reagem as elites do poder nesse país frente as reivindicações dos trabalhadores.
Corumbiara é um tempo presente, é o lugar onde ainda ecoam os gemidos dos posseiros, os gritos das
crianças, o desespero das mães... tudo ainda acusa, denuncia e clama por justiça.
Agência Financiadora: CNPq.
TESE DE DOUTORADO. Título: Corumbiara: o massacre dos camponeses. Rondônia, 1995. FFLCH/USP.
54a Reunião Anual da SBPC - Goiânia, GO - Julho/2002
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