III FÓRUM DE PESQUISA FAU.MACKENZIE I 2007
CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DA MADEIRA NO BRASIL EM CONSTRUÇÕES
HABITACIONAIS
Célia Regina Moretti Meirelles
Henrique Dinis
Mario Lasar Segall
Silvio S. Sant’Anna
RESUMO
A pesquisa realiza um balanço da aplicação da madeira na construção habitacional no Brasil
e analisa a importância de uma maior participação dos arquitetos e engenheiros na
produção de construções em madeira, como instrumento de ampliação e preservação de
nossas florestas.
INTRODUÇÃO
A madeira é um ótimo material de construção quanto aos aspectos de conforto, plasticidade
no projeto, rapidez de montagem e durabilidade. Habitar uma casa de madeira aproxima o
homem da natureza, pois a madeira mantém em seu estado final de industrialização,
características como cores, textura e aromas naturais, que podem ser explorados nas
diferentes aplicações das construções habitacionais.
Um país com tal extensão territorial como o Brasil, possuindo grandes reservas florestais,
deveria ter na madeira um material com grande potencial de construção. Entretanto, o
numero de construções em madeira é pequeno, devido a vários fatores que vão desde a
forte tradição em construções de alvenaria, até a falta de valorização da madeira, como
material de construção, nos cursos de arquitetura e engenharia.
No Brasil, ao longo de sua história, o uso de técnicas construtivas inadequadas fizeram com
que as construções em madeira sejam sinônimas de sub-habitação ou de pouca
durabilidade. Os novos paradigmas de sustentabilidade e as transformações que a
sociedade vem passando, fazem com que esse estigma necessite ser revisto. (SZÜCS-2004)
A partir da conferência mundial Rio-92, os países Europeus, como França, Finlândia e
Alemanha, consideraram a aplicação da madeira na construção como um fator importante
para o desenvolvimento sustentável. Políticas de incentivo ao uso da madeira foram
implantadas, como por exemplo, a França irá aumentar em 25% o emprego da madeira na
indústria da construção civil até 2010. Segundo Muller “..aumentar o uso da madeira na
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construção dos edifícios promove uma iniciativa direta para a diminuição do efeito estufa,
pois se diminuiria a quantidade de CO2 emitida...” (MULLER,2005,p12)
O USO DA MADEIRA
A preferência pela madeira desde o inicio da história da construção e seu uso persistente,
inclusive em situações adversas, parecem indicar que existe uma afinidade especial entre o
homem e este material. A aplicação da madeira na construção variou com cada civilização.
Cada clima, terreno e cultura determinaram uma técnica construtiva diferente no uso da
madeira.
No oriente, a arquitetura em madeira está associada ao conceito de uma construção leve,
capaz de resistir aos terremotos. Na china, os primeiros relatos das técnicas de construção
em madeira, datam do período de 960 -1270, durante a dinastia Sung. A relevância de sua
arte, esta no fato dos construtores chineses terem documentado através de desenhos as
técnicas de construção em madeira. A construção chinesa trabalhava com elementos de
vigas e pilares com ligações por encaixes. Suas construções apresentavam uma grande
precisão geométrica.
As construções em madeira no Japão foram concebidas e inspiradas nas técnicas chinesas.
Os japoneses eram exímios carpinteiros e aperfeiçoaram as técnicas construtivas chinesas.
Uma característica importante das construções Japonesas sempre foi o respeito à natureza.
O carpinteiro devia por um lado superar a divida contraída com a natureza e por outro lado
cumprir um serviço publico. Se fosse cortada uma arvore de 1000 anos sua construção
deveria ser projetada para durar 1000 anos.
Na Europa destacaram-se as construções em madeira da Noruega e da Finlândia, onde
paredes das casas eram construídas com as toras empilhadas na posição horizontal. As
paredes apresentavam um grande fator de massividade, servindo como isolamento térmico.
Após a revolução industrial, com o surgimento de novos materiais, como aço e concreto,
ocorreu um declínio das construções em madeira. Entretanto, neste período, países como
Estados Unidos e Canadá, que possuíam grandes reservas de madeira passaram a utilizar
casas construídas em madeira em escala industrial. Uma grande mudança no modo de
construir com madeira surgiu no inicio do século XIX, quando se inicia a produção industrial
de pregos e as serrarias passam a ser acionadas por máquinas a vapor Em 1852 surgiu à
proposta construtiva conhecida como Ballon Framing. As construções são construções leves,
onde a estrutura da parede é uma estrutura portante com pequenos pilaretes inseridos a
cada 60 cm. Esta técnica foi modificada no final dos anos 60 e inicio 70, quando jovens
arquitetos americanos buscavam inovação tecnológica na construção de habitações
unifamiliares de baixo custo, mas com alto valor arquitetônico. O jovem arquiteto Franky
Gehry foi considerado um dos percursores desta técnica, que recebe o nome de Platform
construction. Neste processo não se exige a grande destreza dos carpinteiros de
construções tradicionais.
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Em 1902 o alemão Friedrich Otto Hetzer patenteia o uso de vigas retas em madeira laminada
colada e em 1906 patenteia os arcos. Durante a segunda guerra, devido às restrições do
uso do aço, ocorreu um grande desenvolvimento do uso da madeira laminada na Europa.
Após a segunda guerra mundial ocorreu processo de reflorestamento maciço, na Europa, e
hoje, a madeira de reflorestamento representa um papel econômico importante para países
como Alemanha, Suíça, Áustria e Finlândia, que são produtores e exportadores de madeira.
Entretanto a retomada das construções em madeira ocorreu somente, por volta de 1970,
quando impulsionada por arquitetos renomados como Thomas Herzog da Alemanha, Roland
Schweitzer e Pierre Lajus na França. Atualmente as construções residenciais em madeira
representam 10% das construções na França, 20% na Alemanha e 60% na Finlândia. Em 2001
o governo francês e as principais associações de profissionais da construção civil assinaram
um protocolo em que se comprometem a aumentar em 25% o emprego da madeira na
indústria da construção civil até 2010. Passando a ocupar 12,5% do mercado da construção.
A madeira contribuirá para reduzir em média 7 milhões de toneladas ao ano, à presença de
gás carbônico na atmosfera. (AFLALO, M. at al-2005)
O Brasil possui uma forte tradição de construção em alvenaria de tijolos de barro, trazida
pelos portugueses desde a sua colonização. A construção de madeira foi muito utilizada nas
regiões sul e sudeste como habitação, onde a matéria prima utilizada, o pinho do Paraná,
era abundante. Entretanto, em 1905, na cidade de Curitiba, o governo proibiu a construção
de casas de madeira nas zonas centrais da cidade. Este fato contribui para gerar no meio
técnico brasileiro, o preconceito contra as estruturas em madeira. (MEIRELLES, 2005)
No período de 1950 a 1960, o Paraná foi um dos maiores produtores de madeira do mundo,
e suas madeiras eram consideradas como uma das melhores. Entretanto, nos anos
seguintes, poucos exemplos foram projetados considerando todas as possibilidades deste
material. Na cidade de Curitiba, dois projetos referencias em madeira, onde as
potencialidades do material foram consideradas, foram às casas dos arquitetos Othelo Lopes
filho em 1973 e Osvaldo Navarro Alves em 1977. (DUDEQUE, 2001)
No período entre 1980 – 2006 destacam-se os trabalhos dos arquitetos Severiano Mario
Porto, na região Amazônica e de Marcos Acayaba, na região sudeste. O trabalho de Marcos
Acayaba, em conjunto com o engenheiro Hélio Olga, demonstra uma arquitetura onde a
madeira é aplicada com toda a sua potencialidade. Trabalhada como um sistema préfabricado, industrializado, prima por manter a identidade de ser um projeto ímpar.
SITUAÇÃO DAS RESERVAS FLORESTAIS DO BRASIL
O Brasil contém uma das maiores áreas de florestas nativas e de reflorestamento da América
Latina. A região norte apresenta uma ampla área de floresta nativa e a região sul, uma
reserva de madeira de reflorestamento do tipo Eucalipto e Pinus, favorecendo a utilização
deste material na construção de habitações.
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No entanto, o meio técnico brasileiro deve desenvolver uma visão mais ampla e responsável
sobre o processo de construção em madeira, buscando a preservação dos recursos florestais
naturais brasileiros. Para tanto recomenda-se que as madeiras utilizadas nas construções
sejam de origem certificada ou retiradas de áreas de manejo. (SZÜCS-2004)
Segundo Martins, por manejo entende-se uma produção de madeira que além de atender
por completo às leis ambientais e trabalhistas vigentes no país, deve ser realizada de forma:
a) ambientalmente sustentável: uma área de manejo explorada só volta a ser objeto de corte
num prazo de 25 anos
b) socialmente justa: as necessidades das comunidades tradicionais têm prioridade sobre
quaisquer outras atividades econômicas; simultaneamente, a empresa é obrigada a cobrir
qualquer forma de trabalho ilegal, cumprir todas as normas de segurança no trabalho e
providenciar cursos de educação e formação técnica para os funcionários e suas famílias.
c) economicamente viável: a exploração da madeira deve ser legal e não predatória; deve
gerar renda, remunerando adequadamente o trabalhador e fixando a população local com
emprego estável e qualificado. (AFLALO, 2005).
Segundo Muller, somente 6% das áreas de florestas exploradas no mundo são aplicadas na
construção civil. Muller considera relevante para os paises sul americanos, o
desenvolvimento de uma indústria de produtos florestais, como por exemplo, a produção de
madeiras laminadas e a produção de chapas transformadas. Muller considera que a
produção industrial teria uma contribuição maior para o desenvolvimento de países como o
Brasil, do que a exploração extrativista da madeira bruta. (MULLER, 2005)
CONCLUSÃO
No Brasil, a tecnologia das construções em madeira, muita vezes, foi perdida junto com os
mestres carpinteiros que vieram da Itália, de Portugal, etc...
O domínio das técnicas
construtivas em madeira serve de instrumentos para a preservação e expansão de nossas
florestas. Em geral as construções em madeira não são consideradas como duráveis,
gerando uma dificuldade para a comercialização das construções feitas com este material.
Novamente o domínio da tecnologia determina projetos em madeira, onde a durabilidade
das construções são relatadas em mais de 100 anos, como em casas encontradas nos
Estados Unidos.
No Brasil, deve-se desenvolver a indústria de componentes e de produtos florestais, para
que ocorra um salto de qualidade na construção e ainda procurar incentivar a criação e
valorização das escolas técnicas ligadas ao oficio da carpintaria.
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O uso de madeira certificada pode ser uma forma de preservação e ampliação da vida de
nossas florestas nativas, pois impede de certa forma que as florestas sejam desmatadas de
forma predatória para o plantio de soja ou para a agropecuária.
REFERÊNCIAS
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Paulo, IPT/ Sinduscon:2003.
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