CAPÍTULO 2: DIFUSÃO CULTURAL NAS UNIVERSIDADES AS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, PARA ALÉM, DE SEREM AGENTES CULTURAIS ESTÃO DEPENDENTES DAS ENTIDADES ÀS QUAIS RESPONDEM. DESTE MODO, ALÉM DE TEREM AS SUAS PRÓPRIAS DIRECTRIZES CULTURAIS, É NECESSÁRIO COMPREENDER COMO AS UNIVERSIDADES, E MESMO AS FACULDADES LIDAM COM A CULTURA A NÍVEL ACADÉMICO E SOCIAL. UNIVERSIDADES. ISTO UNIVERSIDADES. SERÁ TAMBÉM CRIATIVOS? NESTE CAPÍTULO SERÁ ABORDADA A DIFUSÃO CULTURAL NAS TRADUZ-SE NO TRABALHO DA LIGAÇÃO ENTRE GESTÃO CULTURAL E AS QUE EXISTE A PREOCUPAÇÃO DE CRIAREM ACTORES SOCIAIS INTELECTUAIS MAS 24 2.1 A CULTURA E A UNIVERSIDADE As universidades inicialmente surgiram na Idade Média e encontravam-se ligadas à Igreja que detinha o culto do saber; eram instituições homogéneas e organizadas, porém elitistas, sendo que a acessibilidade ao conhecimento, na altura considerado erudito (desde à escrita à leitura), apenas chegaria aos nobres e aos membros do clero. De facto, não existe data específica sobre a origem desta instituição, tendo em conta apenas autores como Serrão e Romeno podemos afirmar que estas entidades surgiram sensivelmente entre os séculos XII e XIII. No entanto, qual é a verdadeira função da Universidade? Várias são as abordagens e os estudos teorizando as funções destas entidades, apesar de só a partir do século XVIII iniciarem-se estudos e a questão sobre o papel das universidades intensificar-se no século XIX. Segundo o artigo de Armando Loureiro e Artur Cristóvão na “Revista Portuguesa de Educação”, existem duas perspectivas sobre as funções destas entidades. A primeira defende a universidade como entidade que deve estar ligada à sociedade; tal princípio traduz-se na ligação entre a universidade e o mundo exterior. A segunda perspectiva afirma que a universidade deve estar apenas virada para si: ensino e investigação académica. Todavia, a universidade pode ser uma entidade virada para a resolução de problemas da sociedade sem perder a viabilidade do ensino e da investigação. Devido aos variadíssimos estudos realizados sobre esta questão, apareceram alguns modelos de universidade que nos dão a percepção do evoluir das universidades até aos dias de hoje. Existem três modelos que lidam com as funcionalidades da universidade: o modelo anglo-saxónico, que se ocupa apenas da educação geral dos alunos; o modelo francês, que se dedica à formação técnica avançada; e o modelo alemão, que trabalha a investigação académica. Este último foi adaptado para a realidade dos E.U.A onde evoluiu, o que permitiu, mais tarde, que este modelo aquando na Europa abordasse: o ensino e a investigação científica. Mais recentemente o papel básico da universidade expandiu-se e intensificou-se na investigação que integra nos seus objectivos e funções transformando-os para apoio à comunidade. A referida alteração provocou remodelações nas organizações e gestão, surgindo, deste modo, gabinetes de projectos, unidades separadas do ensino, investigação e prestação de serviços. 25 Todavia, a universidade contemporânea já insere este tipo de organização nos seus objectivos, ao realizar investigação científica, em que a resolução de problemas é aplicável à comunidade onde a entidade está inserida. Em Portugal, as universidades estavam vocacionadas para a educação e preparação profissional dos alunos (modelo anglo-saxónico), apesar da existência de outros modelos que algumas universidades usufruíam. No entanto, desde 1926 até à lei “Viega Simão” publicada em 1973, o ensino superior português não sofria transformações nos modelos utilizados. Só a partir da década de 80, com a publicação de vários decretos de lei o modelo de investigação passou a afirmar-se nas nossas universidades. Esta legislação permitiu chegarmos à universidade que conhecemos hoje. Uma universidade que alia a investigação como método de ensino e aplicação prática dos conhecimentos teóricos ensinados nas instituições. 26 2.1.1 EXTENSÃO CULTURAL UNIVERSITÁRIA Como podemos ver, toda a mudança nas universidades permitiu uma ligação maior entre universidade e comunidade, ou seja, uma extensão cultural. A extensão, tendo em conta, Paulo Freire (1973), é vista como a transmissão de saberes e de conhecimento. Esta transmissão é um acto de comunicação não unidireccional. A extensão ou comunicação pode ser abordada em vários sectores, ainda que, nos interessa abordá-la a nível do ensino superior. A extensão universitária é considerada um “processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade”. (Fórum Nacional, 1987), trata-se um processo que trabalha com o ensino e o desenvolvimento da comunidade envolvente. De acordo com a definição dada pela OCDE (apud Loureiro, Armando; Cristóvão, Artur.2000: 248 6): “Toda a actividade ou todo o serviço de formação, oferecido por um estabelecimento de ensino superior com a finalidade de ajudar a colectividade local a resolver os problemas que tem, quer nas regiões rurais, quer urbanas.” No caso do Brasil existe um Programa de Fomento à Extensão Universitária e um Plano Nacional de Extensão Universitária que ditam que a extensão é: “ (...) um meio através do qual a universidade vai cumprir sua função social. Repensar a extensão enquanto atividade acadêmica significava colocá-la ao lado do ensino e da pesquisa, na cadeia de produção e difusão do conhecimento. Significa entendê-la como o instrumento que vai possibilitar a democratização do conhecimento produzido e ensinado na universidade e atender 6 OCDE. Que Futuro para as Universidades. 1987, Lisboa In Loureiro, Armando; Cristóvão, Artur. A Universidade ao encontro da comunidade: Traços do perfil da actividade de extensão de uma universidade. 2000 27 às demandas mais urgentes da população. Ao mesmo tempo, ela se constitui em uma forma privilegiada, por meio da qual a universidade avalia e submete à avaliação da sociedade o conhecimento que produz, pelo confronto com situações concretas.” (Nogueira, 2005: 11) Efectivamente, a universidade é uma entidade que transmite conhecimento para a sociedade, porém como referido anteriormente, a extensão não é unidireccional. Este acto de comunicação pode servir de ferramenta para a comunidade transmitir saberes não só da parte da universidade como da sociedade: “A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da praxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, terá como consequências a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social.” (Fórum Nacional, 1987) Esta é uma interacção, um diálogo entre o académico e o popular, que possibilita a produção do conhecimento resultante do confronto entre a realidade regional, nacional e internacional e o universo científico e académico. Assim, é possível uma participação da comunidade na acção universitária. O que acaba por realizar actividades de carácter interdisciplinar, possibilitando a integração de várias áreas distintas do conhecimento dos indivíduos. Uma das áreas temáticas da extensão universitária é a cultura. A extensão cultural universitária, correspondendo a uma das políticas culturais implementadas nas universidades, hoje em dia, tem como finalidade direccionar as acções culturais para 28 as acções académicas, integrando-as nos objectivos de trabalho, de modo a não ser só uma reflexão do pensamento humano mas também dar aos alunos a fórmula prática das teorias problematizadas no ensino superior. Assim sendo, a acção cultural como extensão universitária é uma mais-valia, uma vez que a execução desta permite o envolvimento dos alunos como agentes empreendedores. O processo de Bolonha permite tal envolvimento, de forma a criar indivíduos auto-suficientes, críticos e criativos. Este desenvolvimento cultural, promovido e realizado pelas universidades vai para além de ser uma ferramenta de ensino, também preserva o legado cultural da comunidade onde está inserida: “No campo da cultura, a extensão universitária ultrapassa a função de exclusivamente atender a demanda pela universidade geradora de novos conhecimentos por uma função mais propositiva, que plena da consciência de sua função social atua na promoção do desenvolvimento cultural da sociedade. Preservar e desenvolver a cultura é visto como necessidade intrínseca da universidade, que se integra as diferentes forças na sociedade para a conservação do legado cultural.” (Mendes, 2005: 6) Podemos concluir que a extensão cultural mais que uma ferramenta de ensino, é um instrumento de comunicação entre sociedade e universo académico que, para além de constituir mecanismos de crescimento criativo para os universitários, consiste numa uma construção do espaço de diálogo, onde o desenvolvimento cultural é apresentado através de programas, eventos esporádicos de conteúdo científico – cultural. Para desenvolver a extensão cultural, as faculdades usam os departamentos e as bibliotecas como laboratórios, onde os alunos desenvolvem os seus trabalhos. Estes trabalhos são depois desenvolvidos com as bibliotecas adjacentes em que os trabalhos serão expostos. Mas, para que tal aconteça, é necessário recorrer a uma gestão e acção consagrada para o efeito: a gestão e acção cultural. 29 2.2 GESTÃO CULTURAL - ACÇÃO CULTURAL O conceito de gestão não se restringe apenas ao mundo empresarial quando entendido como uma ciência social, uma vez que lida com contactos interpessoais. A gestão cultural é uma das sub-categorias da noção de gestão que apareceu juntamente com as medidas políticas viradas para a cultura nos finais do século XX. Com a aposta das instituições no mercado cultural tornou-se claro a necessidade de existir uma gestão no sector cultural. As funções desempenhadas por um gestor cultural não diferem muito das funções de um gestor empresarial. Este, além, de gerir os recursos que lhe são intrínsecos, como os recursos humanos e os recursos patrimoniais que possui, deve gerir a organização cultural, de modo, a produzir bens e serviços culturais. A gestão cultural é uma administração do território cultural onde trabalha e responsável por todos os profissionais e voluntários ligados ao sector cultural, ou seja, é uma intervenção estratégica. Este proporciona uma relação entre empresas e potenciais consumidores dos produtos e serviços prestados, no sentido em que articula um conjunto de projectos com as instituições de sector privado e/ ou público, de modo a que haja consumidores. O gestor é, de facto, um agente mediador que trabalha a seis níveis: cultural, territorial, educacional, económico, artes e comunicação. As actividades culturais devem ser geridas de forma adequada, para que o seu desenvolvimento consiga suportar todo o esforço físico e financeiro presente no momento da sua criação, embora no caso do gestor cultural a sua principal função não é o de gerar dinheiro mas sim gerar iniciativas culturais acessíveis a todos os potenciais consumidores. Cabe então ao gestor a tarefa de tornar as entidades culturais se possam afirmar enquanto organismos empresarial e cultural em simultâneo, dando a oportunidade à Cultura para se afirmar como factor de coesão sócioeconómico na sociedade em que se insere. Para tal o gestor cultural deve gerir e tomar decisões estratégicas através de objectivos definidos com a sua equipa. Com esta deverá articular, comunicar todos os seus trabalhos, pensando sempre na visão e no papel da organização onde trabalham. 30 A gestão cultural consiste no desenvolvimento de acção cultural através de actividades e projectos culturais sustentáveis e racionais que sejam organizadas por uma equipa que tenha o intuito de atingir os objectivos marcados tendo em conta o plano nacional e internacional onde se insere. Enquanto a gestão cultural faz uma gestão de recursos humanos patrimoniais, de modo a que criem actividades culturais em que o público é um espectador, a acção cultural encontra-se num plano diferente. Este conceito é definido por Coelho como “o desejo de fazer da arte e da cultura instrumentos deliberados de mudança do homem e do mundo” (Coelho, 2001: 8). A Acção cultural baseia-se no processo cultural que provoca o pensamento crítico dos indivíduos. Promove a procura e o processo de reflexão cognitiva do conhecimento. Temos, como exemplo, as iniciativas como as exposições ou mesmo as sessões de cinema que promovem a discussão ou debate no final de cada sessão. Nestes casos, o público, para além de absorver o conhecimento e de ter um momento de descontracção, passa também pelo processo de reflexão e de argumentação. O que a acção cultural acaba por criar é a realização de um espaço público. Desta forma, os centros de conhecimento, como as bibliotecas universitárias, passam a ser considerados, locais de formação de opiniões através da razão. São espaços de formação cívica, intelectual utilizados para promover a interacção nos procedimentos sociais e de independência humana. A participação do público/ indivíduo é essencial nesse contexto. As bibliotecas universitárias deverão dispor de um acervo iniciativas atractivas que requer saber e conhecer o que cada indivíduo procura, uma vez que a participação deste é parte principal nesse processo. Nas bibliotecas universitárias estes dois planos complementam-se. A gestão cultural nas bibliotecas traduz-se na planificação, programação e gestão de recursos, de modo, a que o plano da acção cultural se concretize plenamente. A acção cultural, como o nome indica, é o uso das iniciativas como processos de desenvolvimento de conhecimento dos indivíduos que participam nas iniciativas. Mas, para tal, é necessário a existência de uma planificação criteriosa da programação. 31 2.2.1 PROGRAMAÇÃO CULTURAL Nesta fase irei abordar a questão da produção de um programa cultural de uma forma abstracta. Nem todos os programadores e gestores passam por todos os passos que irei abordar. Todavia, são fases importantes que, frequentemente, não se encontram delineadas, uma vez que são processos de transição entre fases. Neste subcapítulo elaborei uma construção de programação abstracta que pode ser usada em qualquer tipo de actividade. A missão das bibliotecas, independentemente da sua natureza, é a de suporte à Educação, dado sistemas complexos e dinâmicos em que o objectivo consiste em disponibilizar e comunicar a informação contida nas colecções de documentos que possuem, ou então informação que tenham acesso pelas tecnologias de informação e comunicação. Estas beneficiam o público em geral ao tornar a informação acessível através da realização de actividades como comunidades de leitores, exibições de filmes, exposições, palestras e outros programas culturais. A programação cultural baseia-se num conjunto de actividades ou pequenos ciclos que as bibliotecas proporcionam com a finalidade de criar processos de diálogo e discussão ou mesmo de lazer, ou seja, criar processos de reflexão e pensamento crítico dos consumidores, optimizando uma cultura de respeito entre os indivíduos. A elaboração de cada programa deve ter em conta o contexto em que a instituição está inserida. No caso das bibliotecas universitárias deve ter-se em conta a natureza da Faculdade; porém, o factor lazer não deve ser descurado. O planeamento de um projecto passa por várias fases. Os passos que irei identificar são os passos abordados para a realização de uma proposta de actividades para o programa cultural. Cada actividade passa pelas seguintes fases: I – Fase Emergente Esta é a primeira fase onde a equipa dedica tempo ao brainstorming (discussão de ideias) onde define o propósito, a exposição de ideias e a sua selecção, avaliando as condições e as circunstâncias. 32 II – Fase Esboço: Nesta segunda fase, as ideias apesar de continuarem genéricas passam a ter alguma forma, ou seja, passam a ser propostas simples com alguma recolha de dados relativamente a espaços, localização, duração e recursos humanos. Ainda nesta fase, esboçam-se as primeiras estratégias, actividades, e elaboram-se os primeiros orçamentos. Todas estas operações vão sendo elaboradas, tendo em conta a percepção geral da procura (públicos/ consumidores). III – Fase Ante Projecto Quando a equipa chega a esta fase presume-se que todos os projectos pensados serão assumidos. A partir daqui as propostas serão aprofundadas, procedendo a análises mais pormenorizadas. IV – Fase Dossier de Projecto Nesta fase, o que se pretende da equipa é que esta desenhe o projecto através de um esquema (guião) que será detalhado em cada capítulo. É importante elaborar um dossier, para uso interno, de modo que este seja lógico, coerente e ordenado. Durante a elaboração dos projectos, deve-se começar por uma análise de todos os aspectos que possam afectar o mesmo (aspectos burocráticos, económicos, criativos entre outros), ou seja, o contexto em que será realizado. Para tal, é necessário realizar um diagnóstico onde constam informações, dados, estatísticas, estudos, planos, mapas, etc. A partir deste diagnóstico será possível reter uma visão mais informada da realidade, onde desejam actuar, de modo, a que o projecto contenha propostas coerentes com o contexto. Outro aspecto que se deve ter em conta é a finalidade à qual o projecto responde. Sendo a finalidade um instrumento preciso de acção (que representa a filosofia inerente do projecto), esta é também a “mãe” dos objectivos, sendo, por conseguinte, um macro-objectivo aplicado ao projecto. Deve existir uma relação entre 33 dois momentos do projecto: os objectivos propriamente ditos que deverão concretizar a finalidade deste e a missão da organização. Nesta fase, também é abordada a difusão ou comunicação dos projectos através dos média ou mesmo pelos meios de comunicação que a equipa disponha como redes sociais, cartazes, etc. Sem uma boa divulgação, o projecto pode ser um fracasso. Daí a importância de elaborar um dossier de comunicação com os contactos a serem realizados V – Fase de Execução Como o próprio nome indica, esta última fase dedica-se à execução e produção do projecto. Onde todos os detalhes já estarão acertados. Nesta fase, a equipa reúne-se para estabelecer as tarefas necessárias para a realização das actividades previamente identificadas, ou seja, a planificação da produção. Depois de identificadas as actividades e tarefas a produzir e a delegar, é necessário criar um cronograma operacional. Este cronograma irá servir de guia de tarefas a serem cumpridas durante a fase de implementação dos projectos e da fase de acompanhamento. VI – Fase de Balanço e Avaliações Esta é uma fase pós execução. Após a realização do projecto a equipa deverá reunir-se para fazer um balanço e avaliação do projecto, onde identifica quais os objectivos foram alcançados, se é necessário reorientar ou reforçar o projecto, de modo a melhorar, actualizar e inovar as iniciativas no futuro. Esta fase é deveras importante dado que permite à equipa elaborar uma reflexão sobre o feedback da iniciativa por parte do público e as possíveis lacunas ou falhas que se deram durante a planificação do projecto. Independentemente das instituições que realizem actividades culturais, o processo de programação passa pelas mesmas fases. Resumindo, podemos agrupar as fases em dois estágios na elaboração de uma proposta: pré-programarão e a 34 execução ou produção. A primeira, considerada como a mais burocrática, destina-se ao estudo e à estruturação da actividade, de forma a definir o conjunto de elementos necessários à sua concretização – local de produção e equipamentos requeridos, pedidos de serviços e autorizações, como pedidos de licença entre outros – e realizar os contactos necessários. É a partir do momento em que os contactos são estabelecidos que o projecto entra na sua fase de produção, ou seja, a fase executiva, durante a qual se procederá à divulgação e à promoção do projecto. Em seguida, realizar-se-á o trabalho de terreno que consiste em orientar as várias equipas de produção, entre as quais o equipamento de som, montagem de palcos ou outros, organizar o trabalho dos vários elementos da equipa mediante um plano de trabalho e participar no evento em si para controlar a actividade. Após a realização da iniciativa programada, o gestor cultural do projecto terá de entregar ao director um relatório escrito com o balanço final da mesma onde constem os dados qualitativos e quantitativos para que a informação possa ser incluída no Relatório Anual da organização. 35 2.2.2 PROGRAMAÇÃO CULTURAL NAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS Como foi referido no ponto anterior, as bibliotecas de diferentes tipologias beneficiam com os programas culturais, incluindo as bibliotecas universitárias. Contudo os seus programas encontram-se restringidos aos programas educativos das respectivas faculdades. Apesar de a elaboração dos programas seguir o mesmo padrão, as bibliotecas universitárias desenvolvem programas diferentes, excepto em casos em que a universidade, ou entidades a que estão ligadas por protocolos assinados, entregue um projecto segundo o qual deverão trabalhar. Desta forma, os programas encontram-se todos sujeitos a aprovação não só da administração responsável pela gestão da biblioteca, mas também pela administração da faculdade e ou entidade. A cada ano lectivo ou mesmo durante o ano decorrente as actividades culturais e artísticas devem ser planeadas, tendo em conta o processo educativo da Faculdade. No entanto, vão existindo no calendário do programa espaços livres. Estes espaços em branco deverão estar destinados a eventos realizados por indivíduos que desejem demonstrar os seus trabalhos artísticos, usando os espaços da biblioteca como lugar de exposição. Um bom exemplo de programação cultural são as Bibliotecas da Universidade Tecnológica Metropolitana do Chile. Os seus programas culturais seguem uma linha estratégica e um plano de programa cultural concebido para o fomento ao conhecimento e apoio à formação dos utilizadores, com base num calendário de actividades culturais, e num programa de extensão bibliotecária, ou seja, abordam os ciclos tradicionais, os que estão ligados a actividades com livros, enquanto o segundo ponto se baseia na inovação das actividades artísticas nas bibliotecas. No Brasil, várias são as bibliotecas universitárias com programas culturais que são uma extensão cultural das universidades. O uso das actividades depende do técnico que realiza a função de agente cultural e da sua criatividade. O técnico e a sua equipa são os responsáveis pelo sucesso ou não das suas actividades. Consequentemente, deve ter em conta o contexto real da situação que aborda, bem como saber que temas ou actividades serão melhor aceites pelo público. Todos os temas são possíveis actividades realizáveis. Podem ser, de natureza científica, cultural, ou de entretenimento e lazer. O programador é quem decide a escala do calendário juntamente com a sua equipa. No caso das bibliotecas 36 universitárias, é necessário que a equipa responsável tenha em atenção as linhas de orientação dadas pela Faculdade e Universidade, mas deve ter em conta também as linhas das suas colecções e usá-las como ferramentas de actividades culturais. 37 2.3 TIPOLOGIA DE ACTIVIDADES Nas Bibliotecas Universitárias os eventos realizados são, por norma, de natureza científica dado o universo em que se encontram; embora sejam científicos estes podem ter uma componente cultural. Os bibliotecários que exercem a função de gestor/programador apoia-se em diversas actividades culturais para os utilizadores que também são o seu público-alvo. Um evento é um acontecimento planeado, que ocorre num determinado espaço e tempo, que visa promover a relação entre a organização anfitriã e o público de interesse, com vista em alcançar vários tipos de finalidades e objectivos que esta tem na sua missão. Os eventos, tendo em conta a visão do programador podem ser quanto à sua periocidade: esporádicos, periódicos ou de oportunidade que podem ter uma constituição de pequeno, médio ou grande dimensão. Neste ponto, irei abordar as naturezas dos eventos e que tipos de actividades são abordadas de modo a que o leitor compreenda as escolhas do programador ao escolher um tipo de actividade para cada natureza ou tema que deseja trabalhar: 2.3.1 CONFERÊNCIA As conferências são eventos do tipo reunião que pretendem abordar assuntos específicos e públicos. São discursos que podem ser de teor literário, científico, político ou mesmo religioso. Nestes eventos, após a exposição do assunto tratado, existe, no final, um período dedicado para um possível debate ou levantamento de questões que vão surgindo ao longo da exposição do assunto abordado. As conferências visam um público específico que demonstra uma certa familiarização com o tema discutido. É comum existir uma figura de moderador. 38 2.3.2 CICLOS DE PALESTRAS Este evento é uma subcategoria conferência, sendo que a sua diferença principal, consiste na realização de várias reuniões pronunciadas por professores e especialistas no mesmo assunto. O período de tempo aqui é diferente, uma vez que o tema base é dividido por uma série de palestras. 2.3.3 EXPOSIÇÕES As exposições são um tipo de evento que envolve diversas disciplinas especifica que comunicam ideias e interpretações aos diversos públicos que as visitam (comunicação visual). Estes eventos são “um meio de comunicação dirigido a um público alargado e que tem como fim transmitir informação, ideias e emoções relativas às evidências materiais do Homem e dos seus meios circundantes, com o auxílio de métodos visuais e multidimensionais” (Meeter, 1989: 26). 2.3.4 LANÇAMENTO DE LIVROS Estes eventos de teor promocional, acção publicitária, visam promover o autor e a sua obra em lançamento. Nestas actividades, encontramos o autor que pode fazer uma breve leitura de apresentação da sua obra. Esta leitura pode ser realizada também pelos convidados do autor (muitas vezes são os autores do prefácio do livro). Por fim, acontece uma sessão de autógrafos. 2.3.5 SESSÃO DE CINEMA, POESIA, MÚSICA E TEATRO Estes eventos são exibições que podem ser finalizadas com a elaboração de um debate (caso seja a intenção do agente cultural). Estas actividades têm como função ampliar o reportório dos utilizadores de um ponto de vista multicultural. Contudo, 39 servem de apoio ao currículo disciplinar do ano lectivo decorrente na instituição de ensino e é também uma forma criativa de mostrar aos utilizadores as colecções existentes na biblioteca. 2.3.6 SEMINÁRIO Os seminários consistem numa exposição oral de um determinado assunto em que os participantes/ públicos tenham algum conhecimento técnico prévio do assunto a ser debatido. A dinâmica da sessão divide-se em três momentos: Fase de exposição: quando um participante convidado realiza uma pesquisa que enquadra no debate, dando, desta forma, uma contribuição para o seminário; Fase de discussão: quando o assunto em pauta é debatido em todos os seus aspectos por todos os participantes; Fase de conclusão: quando o coordenador polariza as opiniões dominantes, e submeteas à aprovação do grupo. Aqui desenvolvem-se recomendações finais da sessão. Estas actividades não são as únicas que são produzidas numa biblioteca universitária. No entanto, são as principais. As actividades dependem do técnico que realiza a função de agente cultural e da sua criatividade. A partir destas actividades todos os temas são possíveis para serem abordados. Podem ser de natureza científica, cultural, ou de entretenimento e lazer. O programador é aquele que decide a escala do calendário juntamente com a sua equipa. No caso das bibliotecas universitárias é necessário que a equipa encarregue tenha em atenção as linhas de orientação dadas pela Faculdade e Universidade, mas deve ter em conta também as linhas das suas colecções e usá-las como ferramentas de actividades culturais. 40 2.4 MARKETING CULTURAL O marketing é uma ferramenta bastante usada quer na venda de produtos, ou serviços de uma empresa. Entende-se marketing como “um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e desejam por meio de criação, oferta, e troca de produtos e serviços” (Kotler, 2000: 29). Desta forma, o marketing é então um processo de gestão que identifica e antecipa as necessidades do público. O marketing pode ser aplicado em diversas áreas dos sectores público e privado, como organizações sem fins lucrativos, instituições religiosas e outras, nos seus mais variados tipos e segmentos. Todos os segmentos de marketing existentes são difíceis de documentar, uma vez que surgem constantemente novos conceitos e aplicações em diversas áreas em que exista um mercado e uma economia. As mais conhecidas são: Marketing de Serviços, Marketing de Relacionamento, Marketing Cultural, Marketing Desportivo, Marketing Social, Marketing Político, Marketing Viral, Marketing de Guerrilha, Marketing Pessoal, Marketing Governamental, Marketing Organizacional, etc. O profissional de marketing é aquele que deve estar atento aos diferentes públicos e analisá-los, de forma, a que consiga, no final, responder às necessidades destes, estando sempre atento a novas oportunidades e tendências sem pôr em causa a imagem da organização. Para o presente relatório interessa abordar o marketing do ponto de vista cultural. Segundo Vaz (apud Muylaert 1995:27) Marketing Cultural é definido como “o conjunto de recursos de marketing que permite projectar a imagem de uma empresa ou entidade, através de acções culturais”. Um dos objectivos do marketing cultural é estabelecer uma comunicação directa com o público-alvo, atraindo e mantendo a oferta de um circuito cultural. Cada agente cultural deve traçar o perfil do mercado e empresa ou instituição, onde actua, levando em consideração as hierarquias fundamentais, tais como definir metas e objectivos, identificar oportunidades, desenvolvimento de novos produtos, fidelização de clientes, entre outros. Este processo de marketing de planeamento e execução fornece à organização um leque de opções viáveis para inseri-la no ambiente em que actua ou pretende actuar e qual a melhor forma de promover os seus produtos. 41 Nas bibliotecas universitárias falamos de marketing como um processo de gestão administrativo, que o bibliotecário usa como via de comunicação entre si e os utilizadores. Sendo uma ferramenta de sedução por parte do bibliotecário em que este identifica, antecipa e satisfaz as necessidades do utilizador. O marketing aplicado às bibliotecas é considerado tanto social como cultural. Falamos de marketing social, uma vez que falamos de uma organização sem fins lucrativos que presta serviços de informação à comunidade envolvente, ou seja, é “um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e desejam por meio de criação, oferta, e troca de produtos e serviços” (Kotler, 2000; 29). Porém, uma vez que esta instituição faz também uma gestão e programação de iniciativas aplicada ao desenvolvimento cultural, o marketing passa a actuar num plano cultural. Para qualquer um dos conceitos o instrumento base de todo o Marketing, é aplicado: marketing-mix. O marketing-mix é o conjunto de decisões de marketing que resultam das orientações definidas pela segmentação, posicionamento e definição das acções prioritárias da estratégia. De modo a assegurar que a imagem na mente dos consumidores seja a pretendida pela biblioteca, na comunicação das suas actividades devem ser correctamente utilizados, e de uma forma integrada, todos os elementos de marketingmix. Falamos, então, de produto, preço, comunicação e distribuição. Uma vez que os bibliotecários começaram a desenvolver novas funções para além da gestão e manutenção de património, o uso do marketing passou a ser uma ferramenta constante nas suas actividades culturais. Instrumentos como inquéritos de satisfação são usados para compreender o que os utilizadores desejam ao necessitam da instituição e identificar o tipo utilizadores, de forma, a orientar uma planificação de programação cultural mais virada para as necessidades do mercado em questão. 42 2.5 PÚBLICOS Ao falarmos de cultura e dos seus mercados (consumo de bens ou serviços) é necessário falarmos de Públicos da Cultura, uma vez que estes são parte integrante de uma relação social entre indivíduos e as instituições (António Firmino Costa - dos públicos da cultura aos modos da relação com a cultura). São estes potenciais consumidores que criam os Públicos da Cultura. Em Portugal já existe alguns estudos sobre os públicos da cultura. As metodologias usadas compõem-se de inquéritos, entrevistas e estudos comparativos implicando dados quantitativos (estatísticas e variáveis) e qualitativos (perfis e tipologias). É a partir destes estudos que podemos chegar uma definição de Públicos da Cultura. Tendo em conta os artigos publicados em Públicos da Cultura pelo Observatório de Actividades Culturais chegamos à conclusão que os públicos da cultura são uma estrutura dinâmica, capaz de ser estimulada que é complexa e efémera. São comunidades provisórias compostas por agentes sociais activos e críticos que compõem os diferentes públicos. Estes são criados pelas próprias instituições culturais que frequentam (Oliveira, 2004). Esta visão do sociólogo pretende mostrar como a multiplicidade das ofertas e espaços culturais que os institutos criam é capaz de estimular os indivíduos enquanto potenciais consumidores culturais. O que torna a noção de públicos de difícil caracterização. Assim sendo, a noção não pode ser estrita e inflexível, uma vez que esta reside numa constante alteração consoante o universo observado. De uma maneira geral, encaramos os públicos como um núcleo heterogéneo que evidenciam um conjunto de variáveis como a categoria socio-profissional, o sexo, a idade, o nível académico e o grupo ocupacional, o que nos indica o consumo e a frequência de determinados eventos e equipamentos culturais, ou seja, a definição de públicos passa pela sua caracterização social: “1) conhecimento da estrutura social e institucional dos contextos, 2) relação entre multiplicidade de actividades e variabilidade de bens e obras presentes nessas actividades, e 3) análise das lógicas dos públicos.” (Santos, 2004:3). Nas bibliotecas universitárias pode-se contar com um público bastante específico. Este é constituído por alunos, professores, investigadores e não docentes, que se dirigem às bibliotecas como o objectivo de obter determinada informação, ou que procuram um local onde estudar. Estes utilizadores são de vários extractos sociais e faixas etárias. De 43 facto, o seu universo de consumidores é bastante mais alargado devido à comunidade que serve: comunidade académica. Contudo, outros potenciais consumidores existem, como a comunidade urbana envolvente que, devido à extensão universitária à comunidade começa a usufruir das infra-estruturas das universidades. De uma maneira geral, as iniciativas culturais geram uma proximidade entre estas duas comunidades que não existia. 44