XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 Avaliação da temperatura de pelame e escores de limpeza de vacas Holandesas mantidas em sistema Compost Barn sobre diferentes camas1 Fur temperature evaluation and Holstein cleaning scores kept in Compost Barn system on different beds Nathã Silva de Carvalho2, Yago Machado da Rosa3, Bhernardo Ceccon de Melo3, Ana Flávia Muller 3, Mariele Rodrigues Antunes3, Wilderson Sodré Squizani3, Émerson Mendes Soares4 e Diego Zeni5 1 PROJETO DE PESQUISA DO IF FARROUPILHA CÂMPUS ALEGRETE Acadêmico do curso de Bacharelado em Zootecnia – IF Farroupilha Câmpus Alegrete – Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), Alegrete/RS, Brasil. 3 Acadêmico do curso de Bacharelado em Zootecnia – IF Farroupilha Câmpus Alegrete 4 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria. 5 Coordenador do projeto - Docente do IF Farroupilha - Email: [email protected] 2 Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar a temperatura de pelame e escores de limpeza de vacas da raça Holandesa mantidas em três diferentes composições de camas de Compost Barn: T1 – Cama de 100% maravalha, T2 – Cama de 100% casca de arroz e T3 – Cama mix (50% casca de arroz e 50% maravalha). O trabalho foi realizado no Instituto Federal Farroupilha, Câmpus Alegrete/RS, entre novembro e janeiro de 2014/2015 com a utilização de 18 vacas. Para a avaliação comportamental, foram realizadas três períodos de observações visuais ao longo do período experimental, cada um com 24 horas de duração onde foram coletados os dados. A temperatura de pelame foi avaliada utilizando um termômetro de infravermelho. O delineamento adotado foi o inteiramente casualizado, com três tratamentos e seis unidades experimentais. As análises foram realizadas utilizando o SAS. A temperatura de pelame apresentou o menor valor para os animais do tratamento casca de arroz no segundo período experimental. O escore de limpeza de patas apresentou os maiores valores no tratamento mix no terceiro período experimental, com valores intermediários no tratamento casca de arroz e maravalha no segundo período experimental e com menores valores no tratamento maravalha no terceiro período experimental. O escore de limpeza de úbere apresentou o maior valor no tratamento mix no terceiro período experimental. Conclui-se que a maravalha foi o material que apresentou melhor qualidade para trabalhar no sistema Compost Barn. Palavras–chave: bem-estar, calor, casca de arroz, compostagem, conforto, maravalha Abstract: The aim of this work was to evaluate the hair coat temperature and cleaning scores of Holstein cows maintained in three different bed compositions of Compost Barn system: T1 - Shavings bed (100%), T2 - Rice husk bed (100%) and T3 - Mix bed (50% of shavings and 50% of rice husk). The work was accomplished at the Instituto Federal Farroupilha, Câmpus Alegrete/RS, between November, 2014 and january, 2015 with 18 cows. For behavior evaluations, it was performed three steps of visual observations during the experimental period, each one with 24 hours, where it was collected the data. The hair coat temperature was evaluated using an infrared thermometer. The experimental design was a completely random casualized with three treatments and six experimental units (cows) in each treatment. The statistical analysis were performed using SAS. The hair coat showed the lower value in the animals belonging to rice husk bed treatment, in the second period experimental. The leg cleaning score had the greater value in the Mix treatment during the third period experimental, with intermediate value in the rice husk bed and shavings in the second period and the loweer value in the shavings treatment during the third experimental period. The udder cleaning score had the greater value in the Mix treatment during the third experimental period. The shaving bed was the material with better quality to work in the compost barn system. Keywords: comfort, compost, heat, rice husk, welfare, wood shavings Introdução O sistema em que os animais são criados apresenta substancial impacto sobre a saúde e longevidade do rebanho de bovinos de leite. No Brasil, existe uma grande diversidade de sistemas de produção de leite, desde aqueles baseados em pastagem (extensivos ou intensivos) até os sistemas confinados. Recentemente, produtores de leite dos Estados Unidos iniciaram o uso de um novo sistema de confinamento chamado Compost Barn (estábulo com compostagem). O Compost Barn é um sistema que visa primeiramente Página - 1 - de 3 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 melhorar o bem-estar dos animais e, consequentemente, os índices de produtividade dos rebanhos. O uso da cama de compostagem pode trazer maior conforto às vacas, o que refletirá em maior produção e redução de outros problemas, como lesão de cascos e pernas. Segundo Fulwider et al. (2007), mastite e lesões de pernas e pés são os maiores problemas apresentados nas propriedades de leite em sistemas de confinamento. O Rio Grande do Sul é o estado que mais produz arroz no Brasil. Em seu processamento, o subproduto casca de arroz, na maioria das vezes é descartado. Em virtude disso, a hipótese foi que esta casca de arroz poderia ser um material com um bom potencial de utilização como alternativa à cama de maravalha no sistema de Compost Barn. O objetivo desse trabalho foi avaliar a temperatura de pelame e escores de limpeza de vacas Holandesas lactantes mantidas em três diferentes tipos de camas no sistema Compost Barn. Material e Métodos O trabalho foi realizado na fazenda experimental do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção de Bovinos de Leite do Instituto Federal Farroupilha, Câmpus Alegrete, na região Fronteira-Oeste do Rio Grande do Sul entre novembro e janeiro de 2014/2015. Os animais experimentais foram dezoito vacas da raça Holandesa com peso de 540 kg ± 30 kg e com produção média 20 kg ± 5 kg de leite por dia e de 120 ± 30 dias de lactação. Os animais foram aleatoriamente divididos em três tratamentos: T1 – Cama de 100% maravalha, T2 – Cama de 100% de casca de arroz e T3 – Cama mix (50% Casca de arroz e 50% maravalha). Em todos os tratamentos as camas foram mantidas a uma profundidade de 0,6 m. O revolvimento da cama foi realizado duas vezes ao dia com o auxílio de um trator com enxada rotativa durante o manejo de ordenha. Os animais foram mantidos estabulados durante todo o período experimental, em um galpão de alvenaria de 240m2 em três baias coletivas com 80m2 cada, sendo 60m2 de cama e 20m2 como praça de alimentação. Os animais foram ordenhados duas vezes ao dia, com um intervalo de aproximadamente doze horas entre as ordenhas. O manejo alimentar adotado foi o mesmo para todos os tratamentos. As dietas foram compostas por silagem de milho ad libitum e seis kg de concentrado vaca/dia, fornecidos duas vezes ao dia após as ordenhas. A constituição do concentrado foi de 50% de farelo de milho, 35% de farelo de soja, 10% de farelo de arroz, 4% de núcleo mineral e 1% de mistura de sal branco e calcário calcítico. Durante o trabalho, foram realizados três períodos de observação visual, cada um com 24 horas de duração, onde foram coletados os escores de limpeza das pernas e do úbere conforme (Reneau et al., 2005). A temperatura de pelame foi avaliada utilizando um termômetro de infravermelho (Intruterm TI-550), posicionando o termômetro há uma distância padrão de três a cinco metros do dorso do animal. A coleta desses dados foi realizada com frequência de duas em duas horas, durante as avaliações do comportamento. O delineamento adotado foi o inteiramente casualizado (DIC), com três tratamentos e seis unidades experimentais (animais) em cada tratamento. Os dados experimentais foram submetidos para a análise conjunta e as médias comparadas pelo teste LSmeans a 5% de probabilidade de erro. Todas as análises foram realizadas utilizando o pacote estatístico “Statistical Analysis System” (SAS, 2001). Resultados e Discussão Houve interação entre tratamentos e períodos para todas as variáveis analisadas (Tabela 1). A temperatura de pelame (P=0.0002) apresentou o menor valor para os animais do tratamento casca de arroz no segundo período experimental. Enquanto isso, no tratamento mix, houve um menor valor de temperatura de pelame no segundo período experimental. O escore de limpeza de patas (P=0.0001) apresentou os maiores valores no tratamento mix no terceiro período experimental, com valores intermediários no tratamento casca e maravalha no segundo período experimental e com menores valores na maravalha no terceiro período experimental. Além disso, no tratamento maravalha, o escore de limpeza de patas foi decrescente ao longo do período experimental enquanto que, no tratamento mix, o escore de limpeza de patas foi crescente ao longo do período experimental. Quanto ao escore de limpeza de úbere (P=0.0001), os animais apresentaram o maior valor no tratamento mix no terceiro período experimental. Enquanto que, os escores de limpeza de úbere foram crescentes ao longo dos períodos experimentais, independente do tratamento. Nos animais mantidos no tratamento casca de arroz, a menor temperatura de pelame foi encontrada no segundo período experimental. Os maiores escores de limpeza de patas nos animais mantidos no tratamento mix (terceiro período experimental) refletem a necessidade de uma reposição dos materiais da cama durante a sua utilização. Mesmo com o revolvimento diário da cama, a mistura dos materiais propiciou os animais mantidos nesse tratamento apresentarem uma condição de limpeza menor quando comparada aos demais tratamentos. Essa piora na condição de limpeza dos animais poderá refletir em aumento nos índices de contagem de células somáticas (CCS) e quadros de mastite clínica conforme Shane et al. (2010). Além disso, o resultado explica por si só uma piora na qualidade da cama. Enquanto isso, no tratamento maravalha, mesmo com o passar do Página - 2 - de 3 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 tempo, os escores de limpeza de patas foram diminuindo ao longo do período experimental evidenciando que o manejo aplicado à cama propiciou uma condição adequada aos animais nesse tratamento. Quanto ao escore de limpeza de úbere, os maiores valores apresentados no último período experimental do tratamento mix refletem, (como o escore de limpeza de patas), na piora da condição desse material, fazendo com que os animais ficassem mais sujos. Porém, mesmo nos outros tratamentos, o escore de limpeza de úbere foi aumentando ao longo dos períodos experimentais demonstrando que, mesmo com o manejo diário aplicado às camas, houvesse uma piora na condição de limpeza dos animais. Rodrigues et al. (2005) demonstraram que em piores condições de limpeza de úbere houve um aumento nos casos de mastite clínica bem como um incremento da CBT dos animais mantidos confinados. Tabela 1 - Temperatura de pelame, escore de limpeza de patas e escore de limpeza de úbere em vacas holandesas lactantes em três diferentes tipos de cama Períodos Maravalha Casca Mix Int. T×P TºC PELAME 1 16/11/14 A * 33.1 a 32.5Aa 33.0Aa 2 19/12/14 32.8Aa 30.6Bb 32.1Ab 3 18/01/15 A 32.7 a A 32.5 a 0.0002 A 32.7 a PATAS (escore de 1 a 5) 1 16/11/14 2 19/12/14 3 18/01/15 A 2.5 a 2.0Bb 2.1Cb 2.4Aa 2.1ABb 2.6Ba 2.6Ab 2.4Ab 3.2Aa 0.0001 ÚBERE (escore de 1 a 5) A 1 16/11/14 1.9 b 1.9Ac 2.0Ac 2 19/12/14 2.5Aa 2.5Ab 2.6Ab 0.0001 3 18/01/15 2.6Ba 2.8Ba 3.4Aa *Valores seguidos de letras minúsculas diferentes na coluna diferem pelo teste LSmeans a 5% de probabilidade **Valores seguidos de letras maiúsculas diferentes na linha diferem pelo teste LSmeans a 5% de probabilidade Conclusões Com base nos resultados obtidos, ao longo dos períodos experimentais, a cama de 100% maravalha propiciou melhores condições fisiológicas e de limpeza para vacas lactantes em sistema Compost Barn. Literatura citada FULWIDER, W.K.; GRANDIN, T.; GARRICK, D.J.; ENGLE, T.E.; LAMM, W.D.; DALSTED, N.L.; ROLLIN, B.E. Influence of free-stall base on tarsal joint lesions and hygiene in dairy cows. Journal of dairy science. n.90, p.3559–3566, 2007. RENEAU, J.K.; SEYKORA, A.J.; HEINS, B.J.; ENDRES, M.I.; FARNSWORTH, R.J.; BEY, R.F. Association between hygiene scores and somatic cell scores in dairy cattle. Journal of the American Veterinary Medical Association. n.227, p.1297–1301, 2005. RODRIGUES, A.C.O.; CARAVIELLO, D.Z.; RUEGG, P.L. Management of Wisconsin dairy herds enrolled in milk quality teams. Journal of dairy science. n.88, p.2660–2671, 2005. SAS Institute, SAS User’s Guide. SAS Institute Inc., Cary, NC, 2001. SHANE, E.M.; ENDRES, M. I.; JANNI, K. A. Alternative bedding materials for compost bedded pack barns in Minnesota: A descriptive study. Applied Engineering in Agriculture. n.26, p.465–473, 2010. Página - 3 - de 3