ISSN 2317-3300 Hipersuperfı́cies do R4 com curvatura escalar nula invariantes por um subgrupo de isometrias Jocelino Sato Túlio Guimarães [email protected] [email protected] Faculdade de Matemática - FAMAT, UFU, Uberlândia/MG Palavras-chave: Hipersuperfı́cies Invariantes, Normal de Gauss, Curvatura Escalar, Equações Diferenciais. Resumo: Este trabalho trata das hipersuperfı́cies do R4 que possuem curvatura escalar S nula e que são invariantes por um subgrupo de isometrias. Através de uma curva geratriz p.p.c.a. γ(u) = (x(u), z(u)), podemos reduzir as equações diferenciais parciais das curvaturas escalares S das hipersuperfı́cie O(n)-invariante ou O(n) × O(n)-invariante, num sistema de coordenadas locais, tornando-as equações diferenciais ordinárias em função das coordenadas da geratriz. Assim podemos classificar as hipersuperfı́cies em R4 que são ou invariantes por O(3) ou por O(2)×O(2) com curvatura escalar nula. 1 Introdução As superfı́cies com curvatura constante constituem um tema muito pesquisado em Geometria Diferencial. Os primeiros resultados nesta direção devem-se a Delaunay [2]. Muitos outros matemáticos, como Hsiang, dedicaram-se ao estudo deste tema, adaptando as técnicas do R3 para dimensões maiores, para hipersuperfı́cies e para outros ambientes. Ao estudarem hipersuperfı́cies em espaços Rn , com n > 3, os matemáticos definiram as curvaturas principais que caracterizam melhor as hipersuperfı́cies através das r-ésimas curvaturas médias, dadas por: Hr (p) = X 1 ki 16i1 <i2 <···<ir 6n n r 1 ki2 · · · kir sendo curvatura escalar a 2a ésima curvatura média: S = H2 (p) = 2 (k1 .k2 + · · · + k1 .kn + k2 .k3 + · · · + k2 .kn + · · · + kn−1 .kn ). n(n − 1) Por meio da geometria equivariante, encontraram métodos que permitiram a construção de exemplos de hipersuperfı́cies que são invariantes por um grupo G de isometrias com curvatura escalar constante. A principal contribuição para esta área foi a classificação dos grupos de isometrias de baixa cohomogeneidade dados por Hsiang e Lawson [3]. Usando geometria equivariante foi possı́vel construir contra-exemplos para a conjectura de Hopf [4]. Em nosso trabalho, seguimos [6] e [5] generalizando resultados da curvatura média para curvatura escalar S de hipersuperfı́cies em Rn+1 e Rn+1 × Rn+1 invariantes pelos subgrupos de isometrias O(n + 1) e O(n + 1) × O(n + 1), respectivamente. Focamos nosso estudo nas hipersuperfı́cies em R4 com curvatura escalar S nula, classificando-as por meio de suas geratrizes. 2 Resultados Para fazermos o estudo da curvatura escalar das hipersuperfı́cies invariantes por O(n + 1) ou O(n + 1) × O(n + 1) utilizamos resultados obtidos na esfera. Parametrizamos a esfera Sn por: Ψn (θ) = sen(θn ).Ψn−1 (θ1 , · · · , θn−1 ) ⊕ cos(θn ) 73 ISSN 2317-3300 em que Ψ1 (θ) = sen(θ1 ) ⊕ cos(θ1 ) e θ = (θ1 , θ2 , · · · , θn ), temos como derivadas parciais sen(θn )Ψn−1 ⊕0 para i 6= n θi Ψnθi = sendo ⊕ a soma direta. Assim temos: cos(θn )Ψn−1 ⊕ (−sen(θn )) para i = n Ψnθ1 ×Ψnθ2 ×· · ·×Ψnθn = (−1)n n Y seni−1 (θi ).Ψn hΨn , Ψnθ1 ×Ψnθ2 ×· · ·×Ψnθn i = (−1)n i=1 2.1 n Y seni−1 (θi ). i=1 Curvatura escalar de Hipersuperfı́cies O(n) ou O(n+1)×O(n+1)-Invariantes As hipersuperfı́cies rotacionais, invariantes por O(n), são dadas pela união de órbitas Gγ(u) , onde γ(u) = (x(u), z(u)), u ∈ I, é uma curva geratriz parametrizada pelo comprimento de arco (ppca), ou seja, [x0 (u)]2 + [z 0 (u)]2 = 1, contida no espaço de órbitas Q = {(x, z) ∈ R2 ; x > 0}. Aqui x denota o raio da esfera e z sua altura em relação ao hiperplano xn+1 = 0. Uma parametrização desta hipersuperfı́cie gerada por γ(u) = (x(u), z(u)) pode ser dada por X(u, θ1 , . . . , θn ) = x(u).Ψn + z(u)en+2 = xΨn ⊕ z tendo como derivadas parciais Xu = x0 Ψn ⊕ z 0 e Xθi = xΨnθi ⊕ 0 i = 1, · · · , n. Sabendo que n Y n Xu × Xθ1 × · · · × Xθn = x seni−1 (θi ) z 0 Ψn ⊕ −x0 e pela curvatura escalar ser definida como i=1 a soma das multiplicações das curvaturas principais duas a duas, nos permitindo cancelar as mudanças de sinal da Aplicação Normal de Gauss em função do espaço, a definimos por N = −z 0 Ψn ⊕ x0 sendo as curvaturas principais k0 = hdN (Xu ), Xu i = (−z 00 x0 + x00 z 0 ) hXu , Xu i ki = −z 0 hdN (Xθi ), Xθi i = hXθi , Xθi i x ∀i = 1, · · · , n. Assim a curvatura escalar S dessas rotacionais geradas por γ(u) = (x(u), z(u)) é: S(u) = −2x00 x + (n − 1)(1 − (x0 )2 ) . (n + 1)(x)2 Já as hipersuperfı́cies M 2n+1 ⊂ R2n+2 invariantes por O(n + 1) × O(n + 1) são dadas pela união de órbitas Gγ(u) , onde γ(u) = (x(u), z(u)) é uma curva geratriz ppca contida no espaço de órbitas Q = {(x, z); x > 0, z > 0}. Aqui x e z denotam os raios das esferas. Uma parametrização explı́cita para a hipersuperfı́cie M é dada por X(u, θ, θ̄) = x(u)Ψn (θ) ⊕ z(u)Φn (θ̄), em que Ψn (θ) e Φn (θ̄) são parametrizações em coordenadas esféricas da esfera Sn ⊆ Rn+1 , com θ = (θ1 , . . . , θn ) e θ̄ = θ̄1 , . . . , θ̄n , tendo como derivadas parciais Xu = x0 Ψn ⊕ z 0 Φn , Xθi = xΨnθi ⊕ 0 e Xθ̄j = 0 ⊕ zΦnθ̄ para todo i, j = 1, 2, · · · , n. j Da mesma forma que na seção anterior, calculamos a aplicação normal nestas hipersuperfı́cies através do resultado n n Y Y Xu ×Xθ1 ×· · ·×Xθn ×Xθ̄1 ×· · ·×Xθ̄n = (−1)n+1 xn z n seni−1 (θi ) senj−1 (θ̄j ) −z 0 Ψn ⊕ x0 Φn i=1 j=1 [−z 0 Ψn e a normal destas hipersuperfı́cies fica definida por N = ⊕ x0 Φn ] com curvaturas princi−z 0 x0 pais k0 = −z 00 x0 + x00 z 0 , ki = e k̄j = e curvatura escalar x z 1 −z 0 z + x0 x n − 1 [−z 0 z]2 + [x0 x]2 −z 0 x0 S(u) = (−z 00 x0 + x00 z 0 ) + + n . 2n + 1 xz 2 x2 z 2 xz 74 ISSN 2317-3300 2.2 2.2.1 Estudo das Hipersuperfı́cies em R4 com Curvatura Escalar Nula Rotacionais O(3) em R4 com Curvatura Escalar Nula A geratriz das hipersuperfı́cies rotacionais O(3) são soluções da E.D.O. de segunda ordem 2x00 x − (1 − (x0 )2 ) = 0, que estudamos através da existência de uma integral primeira V (x) = x 1 − (x0 )2 , com V : R2 → R. Assim, além das geratrizes serem curvas em Q = {(x, z); x > 0}, são definidas pelas curvas de nı́vel V1 (x) = c. Teorema 1 - Dada a E.D.O. x.(z 0 )2 = c que define as geratrizes ppca de hipersuperfı́cies rotacionais M 3 ⊂ R4 com curvatura escalar nula, se c = 0 então a hipersuperfı́cie é um hiperplano, mas se c > 0 então a geratriz da hipersuperfı́cie é uma parábola de equação z 2 = 4cx+4c2 . Dem. Como x > 0 e por γ ser ppca logo (z 0 )2 = 1 − (x0 )2 > 0, então x (z 0 )2 > 0. Assim para x (z 0 )2 = 0, teremos z 0 = 0, isto é, z é constante. Daı́ esta curva geratriz gera um hiperplano contido em R3 ⊕ R a uma altura z. Para x.z 02 = c > 0 temos x02 = 1 − z 02 = x−c x . Tomando a derivada de z em função de x, 2 c ∂z temos ∂x (x) = x−c . Logo as geratrizes ppca são parábolas de equação z 2 = 4cx + 4c2 . 2.2.2 Hipersuperfı́cies O(2) × O(2)-Invariantes em R4 com Curvatura Escalar Nula Para este caso temos as coordenadas da geratriz γ (u) = (x (u) , z (u)) como soluções da E.D.O. de segunda ordem 0 = (−z 00 x0 + x00 z 0 )(−z 0 z + x0 x) − z 0 x0 . Estudamos essa equação pelo método usado por BOMBIERI, de GIORGI e GIUSTI [1]intro z z0 e v = arctan , duzindo a mudança de coordenadas (x, z) 7−→ (w, v) em que w = arctan x x0 reduzindo ao estudo das órbitas de um campo vetorial X(w, v) = X1 (w, v), X2 (w, v) equivalente à E.D.O. acima, onde X1 (w, v) = 12 (sen 2w − sen 2v) e X2 (w, v) = 12 sen 2v estão definidos num aberto de R2 . π π = −X(w, v), (w, v) ∈ Sendo X π-periódico em cada coordenada e além disso X w+ , v+ 2 2 π π 0, π2 × 0, π2 e X w + , v − = −X(w, v), (w, v) ∈ 0, π2 × π2 , π , podemos estudar o 2 2 2 campo vetorial somente no retângulo R = [0, π2 ] × [− π2 , π2 ], para obter a resolução em todo o R . π π A classificação π dos pontos singulares em R são em (0, 0) repulsor, em 2 , ± 2 atratores e π em 0, ± 2 , 2 , 0 pontos de sela. Através destas informações acima e fazendo algumas análises do campo por meio da teoria sobre equações diferenciais temos uma descrição do retrato de fase do campo X: Proposição 2 - As trajetórias do campo X em R são de uma das seguintes categorias: 1) Existe apenas três trajetórias horizontais com α-limite (0, v) e ω-limite ( π2 , v), onde v ∈ π − 2 , 0, π2 . 2) Trajetórias com α-limite (0, 0) que entram no interior de R+ e a deixam em pontos da forma (0, v), onde 0 < v < π2 . 3) Uma única trajetória com α-limite (0, 0) e ω-limite (0, π2 ). 4) Trajetórias com α-limite (0, 0) e ω-limite ( π2 , π2 ) possuindo uma tangente vertical nos pontos (w, v) satisfazendo w = v ou v = π2 − w. 5) Uma única trajetória com α-limite ( π2 , 0) e ω-limite ( π2 , π2 ). 6) Trajetórias que entram no interior de R+ por pontos da forma ( π2 , v), 0 < v < π2 possuindo ω-limite ( π2 , π2 ). 7) Todas as trajetórias intersectando R− , entram nessa região por pontos da forma (0, v1 ) e a deixa por pontos da forma ( π2 , v2 ), onde v1 , v2 ∈ (− π2 , 0). O lema abaixo nos dá uma boa noção de como serão as geratrizes γ(u) = (x(u), z(u)) destas hipersuperfı́cies: 75 ISSN 2317-3300 v 1 2 3 6 4 5 w 1 7 1 Figura 1: Trajetórias do campo vetorial Lema 3 - Seja M uma hipersuperfı́cie invariante por O(2) × O(2) em R4 , com curvatura escalar nula, gerada pela curva ppca γ(u) = (x(u), z(u)) com z = z(x), então 2 ! d2 z dz dz dz −1 = 1 + −x + z . dx2 dx dx dx Teorema 4 - As hipersuperfı́cies invariantes pela ação do grupo O(2) × O(2) em R4 com curvatura escalar nula, pertence a uma das seguintes classes (Figura 1): 1) Cilindros, ou seja, hipersuperfı́cies da forma R2 × S1 . 2) Hipersuperfı́cies cuja geratriz intersecta a fronteira do espaço de órbita Q no eixo x, formando π um ângulo v com o eixo x, onde 0 < v < . Neste caso temos x 6= 0. 2 3) Hipersuperfı́cies cuja curva geratriz intersecta a fronteira do espaço de órbita Q no eixo x, formando um ângulo π2 com ele. 4) Hipersuperfı́cies cuja curva geratriz tem uma singularidade em Q. 5) Hipersuperfı́cies cuja geratriz intersecta a fronteira do espaço de órbita Q no eixo z, formando π com ele. um ângulo 2 6) Hipersuperfı́cies cuja geratriz intersecta a fronteira do espaço de órbita Q no eixo z, formando π um ângulo v com o eixo z, onde 0 < v < . Neste caso temos z 6= 0. 2 7) Hipersuperfı́cies cuja geratriz intersecta a fronteira do espaço de órbita Q em pontos da forma (x, 0), x 6= 0 e (0, z), z 6= 0, em ambos os casos formando um ângulo diferente π2 com o eixo de interseção. Referências [1] BOMBIERI, E.; DE DIORGI, E.; GIUSTI, E. Minimal cones and the Bernstein problem. Invent. Math. 7, p. 243-269, 1969. [2] DELAUNAY, C. Sur la surface de révolution don’t la courbure moyenne est constante. J. Math. pure et appl. Série 16, 1841. [3] HSIANG, W. Y.; LAWSON, H. B. Minimal submanifolds of low cohomogeneity, Journal of Differential Geometry. vol. 5, p.1-38, 1971. [4] HSIANG, W. Y.; TENG, Z. H.; Yu, W. C. New examples of constant mean curvature immersions of (2k − 1)-spheres into Euclidian 2k-space. Annals of Math. no 117 p.609-625, 1983. [5] LEITE, M. L. Rotational hypersurfaces of space forms with constant scalar curvature. Manuscripta Mathematica. v.67 no 1 p.285-304. :Ed. Springer-Verlag, 1990. [6] PALMAS, O. O(2)×O(2)-invariant hypersurfaces with zero scalar curvature. Archives der Mathematiques no 74 p.226-233. Basel: Ed. Birkhäuser Verlag, 2000. 76