VIOLÊNCIA, DIREITOS, JUSTIÇA FLÁVIA SCHILLING FACULDADE DE EDUCAÇÃO- UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO [email protected] Textos disponíveis em: Schilling, Flávia. Igualdade, desigualdade e diferenças: o que é uma escola justa? http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151797022013000100003 Schilling, Flávia. Educação e Direitos Humanos: percepções sobre a escola justa. São Paulo, Editora Cortez, 2014.1 Quem pretenderá ser justo poupando-se da angústia? (Derrida) 1- INTERESSE DESPERTADO PELO SISTEMA DE PROTEÇÃO ESCOLAR. 2- VIOLÊNCIA? SEGURANÇA PÚBLICA? DIREITOS HUMANOS? COMO DEFINIR? COMO AGIR? 3- A PERSPECTIVA DE UMA ESCOLA JUSTA COMO NORTE PARA A AÇÃO. COMO DEFINIR? COMO AGIR? 1 Pesquisa com financiamento do CNPq: Bolsa Produtividade em Pesquisa, 2009/2012. UM PEQUENO PONTO DE PARTIDA: Paul Ricoeur (2008) discorre longamente sobre a justiça como fazendo parte do conjunto de alternativas que a sociedade opõe à violência. A justiça se opõe tanto à violência aberta e reconhecida como à violência dissimulada e sutil, assim como à violência da vingança (RICOEUR, 2008, p. 179). 2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS: Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo XXVI - 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. Artigo XXVII - 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor. 2 Ricoeur, Paul. O que é o Justo. São Paulo, Editora Martins Fontes, 2008. UM BREVE RELATO DE UMA PESQUISA “Faça um breve relato sobre uma situação reconhecida por você como justa ou injusta. Diga onde, com quem, circunstâncias, resultado”, que foi proposta para os respondentes em dois níveis, em relação ao “mundo em geral” e na escola. Onde Injusto Justo Pedagogia No mundo 80% 13,7% Na escola 82,5% 13,7% Quadro 1 – Onde estão as injustiças? Pedagogia Onde E.E.P.N.E. No mundo Na escola Injusto Justo 86,4% 77,7% 8,6% 20,9% Quadro 2 – Onde estão as injustiças? E.E.P.N.E. INJUSTIÇA NA ESCOLA Conflitos mais detectados que geram situações injustas. O quê Discriminação E.E.P.N.E. Pedagogia (total = 81) (total = 80) 1 – 1,2% 11 – 13,7% Ausência de reciprocidade, dois pesos e duas 8 – 9,8% 1 – 1,2% medidas Avaliação injusta, punição injusta ou ausência de 33 – 40,7% 36 – 45% punição (retribuição injusta: “não merecia”) Falta de diálogo, não querer ouvir, negativa da 12 – 14,8% 5 – 6,2% palavra Injustiça social e injustiça escolar, desigualdade 3 – 3,7% 13 – 16,2 social e desigualdade escolar Violência física, bullying, agressão verbal 10 – 12,3% 4 – 5% Desrespeito às normas e às leis 10 – 12,3% 4 – 5% Quadro 15 – Categorias da injustiça na escola Fonte: Elaboração da autora. Onde acontecem? Onde E.E.P.N.E. (total = 81) 25 – 30,8% 13 – 16% Pedagogia (total = 80) 51 – 63,7% 3 – 3,7% Sala de aula Banheiro, corredor, entrada, cantina, pátio Sala da direção 3 – 3,7% 2 – 2,5% Fora da escola: excursão, 3 – 3,7% – estacionamento, transporte Na escola em geral, no sistema 25 – 30,8% 10 – 12,5% escolar Quadro 6 – Onde acontecem as injustiças na escola? Quem está envolvido? Quem E.E.P.N.E. (total = 81) Alunos & professores 21 – 25,9% Alunos & direção/gestão 7 – 8,6% Alunos & alunos 18 – 22,2% Comunidade & escola 2 – 2,4% Alunos & sistema escolar 1 – 1,2% Professores & sistema 11 – 13,5% escolar Quadro 7 – Quem protagoniza? Pedagogia (total = 80) 46 – 57,5% 8 – 10% 1 – 1,2% 3 – 3,7% 10 – 12,5% – E A ESCOLA JUSTA? A percepção sobre o que seria uma escola foi sendo construída como um "negativo" da escola injusta. Parece cada vez mais provável que a justiça seja um movimento, em vez de um objetivo ou qualquer “estado final” descritível; que ela se manifesta nos atos de identificar e combater injustiças – atos que não indicam necessariamente um processo linear com uma direção, e que sua marca registrada é uma perpétua auto-desaprovação e descontentamento com o que foi alcançado. A justiça significa sempre querer mais de si mesma. (BAUMAN, 1998, p. 89). 3 1) Respeito à igualdade de direitos, recusa da desigualdade do tratamento. Se todos e todas são iguais perante as leis, regras e combinados – sejam estes formalizados ou sociais, cotidianos, o justo é que não existam “dois pesos e duas medidas”. 2)Respeito às diferenças, recusa da discriminação e do preconceito. 3)Em caso de violação de lei, norma, regra ou combinado, que exista uma punição (retribuição) justa e proporcional a determinada ação. Para tanto, é claro, é preciso que existam regras (e acordos) conhecidas por todos 4) Que reconheça o mérito. 5)Onde exista o diálogo, a comunicação, a possibilidade de participação nas relações escolares. 6) Onde exista a qualidade de ensino, princípios pedagógicos. Nesse caso, a função da escola do ponto de vista da instrução, dos conteúdos, da formação é exposta como fundamental para possibilitar a escola justa. 3 Bauman, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1998. Justiça é tratar com igualdade, mas não indiferença. É quando há igualdade de direitos e oportunidades. Quando há direitos respeitados, não apenas dos alunos, mas dos professores. Quando garante todos os direitos do ser humano. Uma escola justa pode ser aquela onde as coisas são decididas coletivamente. (Alunas(os) de Sociologia II e Educação e Atualidade, 2007)