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Curso de filosofia
12. O homem
como animal político
Para Aristóteles, a constituição do Estado decorre da própria natureza
do homem, incapaz de sobreviver isolado dos outros. Em sua Política,
além de passar em exame as constituições de diversas cidades-Estados
gregas, tenta interpretar-Ihes
o sentido, dentro de uma ordem "natural", isto é, uma ordem que emana da própria natureza do homem.
Assim como a natureza do universo se rege por leis eternas e imutáveis,
também o Estado, embora dependente das ações e decisões humanas,
deve ser regido segundo uma constituição que traduza, tanto quanto
possível, a própria natureza do Estado. Daí decorre a função política
da filosofia, ciência capaz de enunciar os fundamentos dessa ordem,
fornecendo aos governantes os subsídios teóricos necessários para que
governem com justiça.
A associação composta por vários povoados forma uma cidade perfeita,
possuindo todos os' meios de se bastar a si própria, para além de ter
atingido, por assim dizer, o fim de toda sociedade. Unicamente nascida
da necessidade de viver, ela existe para viver em bem-estar e abundância.
por isso que podemos dizer que toda cidade é um fato da natureza,
visto que foi a natureza que formou as primeiras associações; porque a
cidade, ou sociedade civil, é o fim dessas associações. Ora, a natureza
dos seres está em seu fim; porque o estado em que cada ser vem a
encontrar-se, desde o momento de seu nascimento e até o seu perfeito
desenvolvimento, é aquilo a que chamamos a natureza deste ser, como
por exemplo, do homem, do cavalo, da família. Por outro lado, o fim
para o qual foi criado é, para aquele ser, o que possui de mais vantajoso;
com efeito, a condição de se bastar a si mesmo é o fim de todo ser, e
aquilo que de melhor existe para ele. É, pois, evidente que, nesta base,
a cidade é um fato da natureza, sendo o homem um animal político por
natureza. Aquele que, pela sua natureza e não por efeito de determinadas
circunstâncias, assim não for, ou é uma criatura degredada, ou uma
criatura superior ao homem .... Tal como já o dissemos, a natureza não
faz nada em vão. Ora, o homem é o único entre todos os animais a ser
dotado de razão. Por outro lado, as inflexões da voz são sinais de
sentimentos agradáveis ou desagradáveis, e é por isso que também as
encontramos em outros animais; porque a sua natureza torna-os, pelo
menos, capazes de sentir o prazer e a dor e de o manifestarem uns aos
outros; mas a linguagem tem por fim dar a conhecer o que é útil ou
nocivo e, conseqüentemente, também aquilo que é justo ou injusto. Com
efeito, aquilo que distingue o homem dos outros animais é o fato de ele
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realismo aristotélico
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possuir o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto. Ora, a
comunicação destes sentimentos constitui a família e a cidade .... É
evidente, pois, que a cidade é por natureza anterior ao indivíduo, porque,
se o indivíduo separado não se basta a si mesmo, será semelhante às
demais partes com relação ao todo, e aquele que não pode viver em
sociedade, ou não necessita nada por sua própria suficiência, não é
membro da cidade, mas sim uma besta ou um deus. É natural em todos
a tendência a uma tal comunidade, porém o primeiro que a estabeleceu
foi causa dos maiores bens; pois, assim como o homem perfeito é o
melhor dos animais, afastado da lei e da justiça, é o pior de todos: a
pior injustiça é a que possui armas, e o homem está naturalmente dotado
de armas para servir à prudência e à virtude, mas pode usá-Ias para as
coisas mais opostas. Por isso, sem virtude, é o mais ímpio, lascivo e
glutão. A justiça, em troca, é coisa da cidade, já que a justiça é a ordem
da comunidade civil, e consiste no discernimento do que é justo.
(Política)
13. A virtude
como justa medida
Seguindo a concepção de que todas as coisas se regem segundo uma
ordem subjacente, que brota da própria natureza e visa o seu pleno
desenvolvimento,
a virtude aparece como a justa medida, ou seja, a
medida determinada por essa ordem natural e pelos fins que a sobredeterminam.
Costuma-se dizer que nada há que acrescentar nem tirar nas coisas
bem-feitas, considerando-se que o excesso ou a falta destrói a perfeição
e a justa medida a conserva .... E a virtude que é mais perfeita e melhor
que toda arte, do mesmo modo que a natureza, tenderá para o meio ....
Chamo meio da coisa o igualmente distante dos extremos, que é um e
idêntico para todos; meio a respeito de nós, o que não é excesso nem
falta. E este não é único nem idêntico para todos.
(Ética a Nicômaco)
14. Impacto
do realismo aristotélico
É difícil, senão impossível, exagerar na importância
do impacto do
pensamento aristotélico para a formação da civilização cristã ocidental.
De certa forma esquecido na Grécia de seus contemporâneos,
banido
de Atenas depois da morte de Alexandre, o Grande, Aristóteles ressurge
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Texto V