Ani-ôt\l'::> ~e6CJ1-,ck.... ~~~eflo...~ 82 o Curso de filosofia 12. O homem como animal político Para Aristóteles, a constituição do Estado decorre da própria natureza do homem, incapaz de sobreviver isolado dos outros. Em sua Política, além de passar em exame as constituições de diversas cidades-Estados gregas, tenta interpretar-Ihes o sentido, dentro de uma ordem "natural", isto é, uma ordem que emana da própria natureza do homem. Assim como a natureza do universo se rege por leis eternas e imutáveis, também o Estado, embora dependente das ações e decisões humanas, deve ser regido segundo uma constituição que traduza, tanto quanto possível, a própria natureza do Estado. Daí decorre a função política da filosofia, ciência capaz de enunciar os fundamentos dessa ordem, fornecendo aos governantes os subsídios teóricos necessários para que governem com justiça. A associação composta por vários povoados forma uma cidade perfeita, possuindo todos os' meios de se bastar a si própria, para além de ter atingido, por assim dizer, o fim de toda sociedade. Unicamente nascida da necessidade de viver, ela existe para viver em bem-estar e abundância. por isso que podemos dizer que toda cidade é um fato da natureza, visto que foi a natureza que formou as primeiras associações; porque a cidade, ou sociedade civil, é o fim dessas associações. Ora, a natureza dos seres está em seu fim; porque o estado em que cada ser vem a encontrar-se, desde o momento de seu nascimento e até o seu perfeito desenvolvimento, é aquilo a que chamamos a natureza deste ser, como por exemplo, do homem, do cavalo, da família. Por outro lado, o fim para o qual foi criado é, para aquele ser, o que possui de mais vantajoso; com efeito, a condição de se bastar a si mesmo é o fim de todo ser, e aquilo que de melhor existe para ele. É, pois, evidente que, nesta base, a cidade é um fato da natureza, sendo o homem um animal político por natureza. Aquele que, pela sua natureza e não por efeito de determinadas circunstâncias, assim não for, ou é uma criatura degredada, ou uma criatura superior ao homem .... Tal como já o dissemos, a natureza não faz nada em vão. Ora, o homem é o único entre todos os animais a ser dotado de razão. Por outro lado, as inflexões da voz são sinais de sentimentos agradáveis ou desagradáveis, e é por isso que também as encontramos em outros animais; porque a sua natureza torna-os, pelo menos, capazes de sentir o prazer e a dor e de o manifestarem uns aos outros; mas a linguagem tem por fim dar a conhecer o que é útil ou nocivo e, conseqüentemente, também aquilo que é justo ou injusto. Com efeito, aquilo que distingue o homem dos outros animais é o fato de ele Ê l' realismo aristotélico 83 possuir o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto. Ora, a comunicação destes sentimentos constitui a família e a cidade .... É evidente, pois, que a cidade é por natureza anterior ao indivíduo, porque, se o indivíduo separado não se basta a si mesmo, será semelhante às demais partes com relação ao todo, e aquele que não pode viver em sociedade, ou não necessita nada por sua própria suficiência, não é membro da cidade, mas sim uma besta ou um deus. É natural em todos a tendência a uma tal comunidade, porém o primeiro que a estabeleceu foi causa dos maiores bens; pois, assim como o homem perfeito é o melhor dos animais, afastado da lei e da justiça, é o pior de todos: a pior injustiça é a que possui armas, e o homem está naturalmente dotado de armas para servir à prudência e à virtude, mas pode usá-Ias para as coisas mais opostas. Por isso, sem virtude, é o mais ímpio, lascivo e glutão. A justiça, em troca, é coisa da cidade, já que a justiça é a ordem da comunidade civil, e consiste no discernimento do que é justo. (Política) 13. A virtude como justa medida Seguindo a concepção de que todas as coisas se regem segundo uma ordem subjacente, que brota da própria natureza e visa o seu pleno desenvolvimento, a virtude aparece como a justa medida, ou seja, a medida determinada por essa ordem natural e pelos fins que a sobredeterminam. Costuma-se dizer que nada há que acrescentar nem tirar nas coisas bem-feitas, considerando-se que o excesso ou a falta destrói a perfeição e a justa medida a conserva .... E a virtude que é mais perfeita e melhor que toda arte, do mesmo modo que a natureza, tenderá para o meio .... Chamo meio da coisa o igualmente distante dos extremos, que é um e idêntico para todos; meio a respeito de nós, o que não é excesso nem falta. E este não é único nem idêntico para todos. (Ética a Nicômaco) 14. Impacto do realismo aristotélico É difícil, senão impossível, exagerar na importância do impacto do pensamento aristotélico para a formação da civilização cristã ocidental. De certa forma esquecido na Grécia de seus contemporâneos, banido de Atenas depois da morte de Alexandre, o Grande, Aristóteles ressurge