"Dadinho" Esse era, segundo seu irmão médico, Dr. Aleixo Lustosa, o apelido carinhoso pelo qual o Revmo. Pe. Dr. Eduardo Magalhães Lustosa, S.J. era conhecido. Aos oito anos, Dadinho já havia sido tomado pela vocação eclesiástica. A princípio, não contava com o apoio de seu pai, Sr. João de Almeida Lustosa, que desejava vê-lo advogado. Em respeito e consideração ao anseio do pai, decidiu, aos 13 anos, prestar exames de admissão para a Escola de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Corria o ano de 1918. O Rio era a Capital Federal. Apesar da pouquíssima idade, era permitido, legalmente, o ingresso de estudantes que provassem sua capacidade, seu brilhantismo, em exames escritos e perante Banca Examinadora Especial. Assim Eduardo fez e demonstrou... Admitido, formou-se Bacharel na turma de 1923, aos 18 anos. Em viagem naquele ano, à atual capital de Minas Gerais, quando ainda era estudante, fundou a primeira Congregação Mariana, no então Bispado de Belo Horizonte. Graduado, satisfeito o desejo de seu pai, lançou-se em busca de sua dimensão religiosa, iniciando, em 1924, o Noviciado na Casa de Formação da Companhia de Jesus, que funcionava no prédio do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo. Nesse Colégio, haviam estudado o Padre Leonel Franca, primeiro Reitor da PUC e o Dr. Sobral Pinto, que foi o primeiro Professor de Penal na nossa Faculdade, tendo ocupado a cadeira por quase 40 anos. Concluído o biênio do Noviciado, fez o curso de Humanidades Clássicas e o triênio de Filosofia, tudo em Nova Friburgo. Foi seu principal mestre e orientador o Revmo. Pe. José Manuel Madureira posteriormente biografado pelo aluno. Destinado em seguida à Faculdade de Teologia de San Miguel, em Buenos Ayres, Argentina, para fazer os estudos mais importantes para um Sacerdote, tendo sido ordenado em 1936, sendo de registrar-se que em l934, por ocasião do Congresso Eucarístico Internacional realizado naquela cidade, foi escolhido para acompanhar ao Rio de Janeiro, o Cardeal Legado Eugenio Pacelli, depois S.S. o Papa Pio XII. Nessa viagem, Eduardo Lustosa ensinou o português ao futuro Papa que, posteriormente, era conhecido por seu sotaque abrasileirado. Após os 4 anos de estudo de teologia, mais um ano de aperfeiçoamento espiritual, próprio dos jesuítas, ainda na Argentina. Daí, o nosso Eduardo Lustosa trilhou, com "espírito cintilante" e "inteligência absolutamente de exceção", conforme registra a crônica, uma trajetória marcada pelos princípios e valores adquiridos na Família, no Direito e na Religião. Em 1940 volta ao Brasil, sendo destinado à Faculdade de Filosofia para os estudantes jesuítas no mesmo prédio do Colégio Anchieta, onde iniciara sua vida de plena entrega a Deus. Ali ocupa a cátedra de Ética, sendo também o equivalente a um Vice Diretor Acadêmico da Faculdade, dando vida nova ao curso, segundo o testemunho de um dos seus mais brilhantes alunos, o Pe. Henrique Vaz, S.J., que se tornaria um dos maiores nomes da inteligência católica e da filosofia brasileiras. Aqueles anos foram poucos, mas de grande intensidade e valor. Em inícios de 1944 ele é destinado à nossa Faculdade Católica de Direito, uma das duas Unidades de "Faculdades Católicas", que no ano seguinte passaria a ser Universidade, a nossa PUC. Afirmou-se que, não só os professores da Faculdade de Direito, mas todos os que com ele conviveram, eram interlocutores seus, fazendo parte do grande grupo que, nos intervalos de aula, passeava pelo "pátio sombreado pelas grandes árvores"...a conversa girando em torno de temas da atualidade mundial... ciências... artes... administração e ensino. Naquelas oportunidades, um dos centros principais de agregação, "senão o principal", era o Padre Eduardo Lustosa. Foi também o primeiro redator da Revista "Verbum", publicação da recém criada Universidade. Foi ainda nesse tempo Diretor da Escola de Serviço Social, a terceira Unidade de "Faculdades Católicas", condição para passar a ser uma Universidade. Escreveu diversas monografias, tais como "Justitia Socialis", "O Corporativismo", "Soberania e Direito de Asilo", "Conceito Cristão de Estado" e "O Conceito Cristão da Propriedade", obras que traduziram sua profunda preocupação com o social e com a ciência jurídica. Obras a serem resgatadas e divulgadas. Mas essas suas preocupações não foram manifestadas apenas na teoria. Foram desenvolvidas igualmente na prática, na Congregação Mariana de Nossa Senhora das Vitórias e no Departamento de Ensino Religioso da PUC através da qual o jurista e sacerdote dedicou-se ao trabalho também no Parque Proletário da Gávea (que localizava-se onde é hoje o estacionamento da PUC, bem como o local do Planetário e do IASERJ), onde, no dizer de Francisco Mangabeira, " à frente desse trabalho estiveram dois sacerdotes - dos mais eminentes da Companhia de Jesus no Rio de Janeiro - o Padre Veloso e o Padre Lustosa." Nos sábados, à noite, comparecia às reuniões do Departamento de Ensino Religioso, definindo, com os demais, metas para o trabalho nesse Parque onde, todos os domingos, o Pe. Eduardo Lustosa celebrava Missa. Foi assistente eclesiástico da Juventude Universitária Católica, a JUC, no Rio de Janeiro; membro do Instituto de Ciências Políticas de Buenos Aires; membro do Instituto de Direito Social de São Paulo. Faleceu em julho de 1947 e, à sua perda, pouco tempo depois, seguiu-se a do Padre Leonel Franca, em 03 de setembro de l948, perdendo, assim, a PUC, em pouco mais de um ano, dois de seus mais brilhantes pilares. O Senado Federal, aprovou, unanimemente, voto de pesar nacional, assinalado pelo Senador Hamilton Nogueira (RJ), em sessão de 22.07.l947, que lamentou o falecimento precoce (como sempre foi o nosso Eduardo...), aos 42 anos, do Diretor de nosso Curso, "...um homem que se impôs pelo seu espírito de justiça ..." e que "...deixa luminoso traço de sua passagem pela terra." É essa Luz que nós, alunos do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, contemplamos e admiramos com todo respeito e carinho... Certa vez, referindo-se ao Departamento de Ensino Religioso, disse : "Para ele eu sempre encontro 'tempo'; eu serei capaz de fabricar 'tempo'..." O Centro Acadêmico Eduardo Lustosa dedica, hoje e sempre, ao seu Patrono, as vitórias, os sucessos, as alegrias, os debates e reflexões, as confraternizações, o lazer e o trabalho realizados e desfrutados nesse espaço dedicado em sua homenagem e que tanto inspira a todos nós. E dedica também, muito especialmente, a música, que, no Centro Acadêmico, faz-se ouvir nas reuniões festivas e alegres, como Eduardo, certamente, gostaria que acontecesse e imaginava em seus passeios pelo campus. Pois, dentre o tanto que se ignora (ignorava-se), sobre ele, cabe lembrar sua extrema sensibilidade artística, seu conhecimento e paixão pela Música, que conhecia, para variar, na teoria e na prática, tendo feito, antes de ser jesuíta o curso completo de piano (6 anos), simultaneamente, em parte, aos estudos na Faculdade de Direito. Tempo, Presença, Intensidade. Segue seu tempo, Dadinho... Você fabricou sua permanência entre nós. Vida, Viva!