AÇÕES EXTENSIONISTAS DE EDUCACAO AMBIENTAL EM COMUNIDADES
PESQUEIRAS DO CEARÁ, BRASIL
Nicolly Santos Leite- Graduanda, Universidade Federal do Ceará
Wallason Farias de Souza- Graduando, Universidade Federal do Ceará
Brenda Thaís Galdino da Rocha- Graduanda, Universidade Federal do Ceará
Dayane de Siqueira Gonçalves- Graduanda, Universidade Federal do Ceará
Adryane Gorayeb (Orientadora)- Profª. Drª. da Universidade Federal do Ceará
INTRODUÇÃO
A questão ambiental vem, atualmente, permeando diversos discursos que se
posicionam, de algum modo, contrário ao modelo de desenvolvimento baseado no
lucro e na exploração inconsciente dos recursos naturais. O modelo econômico de
produção capitalista, que preza a competição, a concentração das riquezas e a
busca desenfreada pelo lucro em detrimento da sustentabilidade, da cooperação
entre os povos e da valorização da ética e da justiça social, vem causando impactos
no espaço natural, que são principalmente sentidos pelas populações de baixa
renda (Pelicioni, Philippi jr, 2005).
Desse modo, a educação ambiental se configura como importante
instrumento de mudança de valores e atitudes pela população, frente aos problemas
ambientais vivenciados.
Assim, o presente trabalho tem por objetivo discutir e apresentar as atividades
extensionistas voltadas para a promoção da educação ambiental desenvolvidas,
desde 2002, pelo projeto Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre que atua em
escolas da rede pública de ensino e em comunidades litorâneas da Região
Metropolitana de Fortaleza, no estado do Ceará- Brasil. O referido projeto está
vinculado ao Laboratório de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental,
localizado dentro do departamento do curso de Geografia da Universidade Federal
do Ceará.
TROCA DE SABERES PARA A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
A educação ambiental, mais do que apenas transmissão de conhecimento,
busca a reflexão e a troca de conhecimento entre os indivíduos envolvidos, acerca
da questão ambiental, mas não somente dos aspectos físicos, químicos e biológicos
que a envolve, mas também procurando relacionar com os aspectos sociais,
políticos e econômicos, procurando, assim, promover um cidadão crítico e ativo,
mobilizado, no processo de mudança e transformação, na busca de um
desenvolvimento e uma sociedade mais sustentável (Castro, Canhedo jr, 2005).
Nesta perspectiva, as atividades e projetos extensionistas promovidos pelas
universidades vem desempenhando importante papel na promoção da educação
ambiental. A partir dos projetos de extensão é possível a transposição e troca de
conhecimento para além das discursões promovidas em âmbito acadêmico. Assim,
o conhecimento científico produzido nas instituições de ensino superior podem ser
refletidos, discutidos e apropriados dentro das escolas de ensino básico e também
nas comunidades, permitindo, consequentemente, a troca e uma construção mútua
de saberes entre as instituições acadêmicas e a população em geral. Desse modo,
faz-se necessária a constante valorização dos diversos conhecimentos, tanto o
técnico- científico como também os conhecimentos populares, tracionais e o senso
comum.
BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
As sociedades vêm, ao longo da história recente valorizando o crescimento
produtivo como uma forma de demonstrar o progresso, não se preocupando em
questionar as consequências e os impactos degradantes que a grande produtividade
das atividades humanas poderia gerar ao meio ambiente. A partir década de 1960
em diante realizaram-se movimentos e encontros pelo mundo contestando a forma
de
exploração
inconsciente
dos
recursos
naturais
e
alertando
para
as
consequências no futuro, caso não houvesse mudanças (Díaz, 2002).
Apesar de já existirem registros sobre a educação ambiental em outros
momentos, configura-se como marco para a educação ambiental a “Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente”, que ocorreu no ano de 1972 em Estolcomo,
primeiro evento que destacou a importância da educação ambiental na agenda
internacional (Brasil, 2007).
Após este evento, seguem-se vários outros como o “Seminário
Internacional sobre Educação Ambiental” que ocorreu no ano de 1975 em Belgrado,
a “I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental”, em Tbilisi em 1977
e em resposta a este evento e às diversas movimentações sociais que ocorriam na
Espanha foi realizado em Barcelona em 1983 a “I Jornada de Educação Ambiental
de âmbito estatal”. Em Moscou (1987), segue outro importante evento para o
desenvolvimento da educação ambiental o “Congresso internacional sobre educação
ambiental e formação relativas ao meio ambiente” que tinha como objetivo fortalecer
as políticas de educação ambiental e traçar um plano de estratégias para a década
posterior. Neste evento estiveram presentes delegados de 110 nações. No final dos
anos de 1980 se efetivaram vários outros eventos e momentos de reflexão acerca
da educação ambiental que trouxeram grandes avanços (Díaz, 2002).
Em 1992, o Brasil sedia um importante evento a “Conferência
Internacional sobre Meio ambiente e Desenvolvimento” a Rio-92. Nesta, a ideia de
desenvolvimento sustentável foi o foco principal. O evento elaborou um importante
documento o “Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis”
que estabeleceu princípios a serem seguidos pela educação a fim de alcançar o
desenvolvimento sustentável (Brasil, 2007). A Conferência teve, ainda, como um dos
principais resultados a criação da Agenda 21, um importante documento onde são
apresentadas alternativas às nações para que estas possam alcançar o
desenvolvimento sustentável.
Em
2012,
observou-se
mais
uma
tentativa
de
se
discutir
o
desenvolvimento sustentável, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Esta teve como um de seus objetivos
avaliar o cumprimento, ou não, das ações de desenvolvimento sustentável
promovidas nos vários eventos da ONU ocorridos após a Rio-92 (Vitae civilis, 2012).
Portanto, a Conferência se mostrou como um ótimo momento de
discussão sobre a forma como as Nações lidam com seus recursos naturais e
humanos, promovendo uma reflexão acerca do modelo de desenvolvimento adotado
e incentivando a “construção de uma sociedade socialmente justa, economicamente
próspera e ambientalmente sustentável” (Vitae civilis, 2012, p.2).
EXTENSÃO E EDUCAÇÃO EMBIENTAL NA COMUNIDADE DA PRAIA DAS
FONTES, MUNICÍPIO DE BEBERIBE (CEARÁ), NORDESTE DO BRASIL
O Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre é um projeto permanente de
educação ambiental e se constitui em um espaço de 17,38 m², integrando o
Laboratório de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN) e
localizado no Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O espaço é composto por três exposições permanentes, sendo elas: exposição
sobre o ecossistema manguezal, exposição sobre a cultura indígena brasileira e
uma exposição com minerais e fósseis encontrados no Ceará. O referido projeto
atua como disseminador das questões socioambientais, tendo como suas principais
metodologias a organização de visitas guiadas ao seu espaço, além da realização
de oficinas em escolas e comunidades.
Desse modo, as atividades do projeto vão além da visitação ao seu espaço,
sendo realizadas diversas formas alternativas de transmissão, troca e construção
dos conhecimentos com as populações. Assim, as atividades são efetivadas através
da realização de rodas de debate, palestras, oficinas e a exibição de filmes,
dinâmicas lúdicas, exposições de slides em projetor, enfim, dependendo sempre do
tempo disponível. Estas atividades são realizadas principalmente em escolas da
rede pública de ensino, localizadas em Fortaleza (capital do estado) e na Região
Metropolitana, e também em comunidades tradicionais como as atividades
realizadas na comunidade da Praia das Fontes.
A comunidade tradicional pesqueira da Praia das Fontes (4°10'52,31"S; 38°
4'51,01"W) faz parte do município de Beberibe, localizado no litoral leste do estado
do Ceará e dista 83 km da capital, Fortaleza. A Praia das Fontes possui beleza
exuberante com falésias que resguardam águas ressurgentes, como a gruta da Mãe
d’água, e que também abriga uma Unidade de Conservação, o Monumento Natural
das Falésias de Beberibe. A beleza paisagística natural da localidade e a
infraestrutura presente têm promovido o desenvolvimento da atividade turística,
evidenciada através da crescente presença de grandes hotéis e casas de veraneio
na área.
Neste sentido, foram realizadas atividades de educação ambiental com as
crianças e com as mulheres da comunidade. Dentre as atividades desenvolvidas,
destacam-se: “A morte de animais marinhos pela ingestão de sacos plásticos” e a
“Confecção de sabão artesanal a partir da reutilização do óleo de cozinha usado”.
A discussão e reflexão sobre a temática “A morte de animais marinhos pela
ingestão de sacos plásticos” foi realizada com os alunos do ensino fundamental I da
Escola de Ensino Fundamental Raimundo Fagner, sendo que este momento foi uma
solicitação da escola em decorrência desse tipo de acontecimento na comunidade.
Assim, caracterizou-se como principal objetivo da atividade conscientizar acerca da
importância e da diversidade biológica do ecossistema marinho, ressaltando os
problemas causados pela destinação imprópria dos resíduos sólidos na área de
praia.
Foi realizada também uma oficina teórico- prática na qual foram apresentadas
às mulheres da comunidade como se confeccionar sabão artesanal a partir do óleo
de cozinha usado. Esta atividade foi realizada a partir de um diagnóstico da
presença de diversas barracas de praia na comunidade que utilizam o óleo para a
fritura de peixe, batata, etc. Dessa forma, o principal objetivo da oficina foi alertar
para os problemas causados pelo despejo do óleo na natureza e sugerir estratégias
para uma melhor destinação do óleo utilizado na comunidade, como a confecção de
sabão de uso doméstico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre, vem contribuindo como
disseminador do pensamento ambiental, a partir das atividades de extensão que
proporcionam a mudança de valores e atitudes. Dessa forma, a partir de atividades
simples, mas comprometidas e continuadas, é possível desenvolver a sensibilidade
e a criticidade nas pessoas envolvidas com o projeto, tornando-os além de cidadãos
mais ativos, agentes multiplicadores da educação ambiental. A importância deste e
de outros projetos de extensão se apresentam, então, a partir da ideia de
disseminação do conhecimento socioambiental que se reveste na formação de
indivíduos mais comprometidos e envolvidos com a busca de uma sociedade
sustentável. É um processo em que resultados grandiosos só são percebidos em
longo prazo, mas que para existirem necessitam, também, das iniciativas
extensionistas, em pequena escala de atuação.
REFERÊNCIAS
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de Participação. In. PELICIONI, Maria Cecília Focesi; PHILIPPI JR, Arlindo.
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DÍAZ, A. P. (2002). Educação Ambiental Como Projeto. Porto Alegre: Artmed.
FLORIANI, D. (2007). Diálogos de Saberes: uma perspectiva socioambiental.
FERRARO JR, Luiz Antonio (Org.). Encontros e Caminhos: Formação de
Educadoras (res) Ambientais e Coletivos Educadores. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente. p. 107- 116.
PELICIONI, M. C. F.; PHILIPPI JR, Arlindo. (2005). Bases Políticas, Conceituais,
Filosóficas e Ideológicas da Educação Ambiental. In: ______. Educação Ambiental e
Sustentabilidade. Barueri, SP: Manole. p. 3- 12.
SANTOS JR, S. J. dos; SANTOS, Alba Maria Nunes. (2007). Comunidades
educadoras: a terra como casa, a casa aberta à terra. In. FERRARO JR, Luiz
Antonio (Org.). Encontros e Caminhos: Formação de Educadoras (res) Ambientais e
Coletivos Educadores. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. p. 60- 70.
SILVA, J. M.O. (2008). Monumento Natural das Falésias de Beberibe/ Ce: Diretrizes
para o Planejamento e a Gestão Ambiental. 207 f. Dissertação (Mestrado em
Geografia)- Centro de Ciências, Universidade federal do Ceará, Fortaleza.
VITAE CIVILIS. Rio + 20: As Informações Essenciais. São Paulo: janeiro, 2012.
Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/mudancasclimaticas/proclima/file/rio_20/do
cs/Rio+20-As%20informa%C3%A7%C3%B5es%20essenciais.pdf>. Acesso em: 8
set. 2012.
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