Introdução A pesquisa é uma incerteza constante. Assertiva acima, enunciada em várias desafios da Antropologia Brasileira, publicações, como na coletânia: Os desenvolvido pela Associação Brasileira de Antropologia – ABA , como nos recentes trabalhos apresentados no Grupo de Trabalho, da 29ª Reunião Brasileira de Antropologia – RBA (2014), sobre o título: “As incertezas do trabalho de campo: narrativas sobre a pesquisa etnográfica”. Esses textos dialogam sobre os “desafios de fazer a pesquisa antropológica na contemporaniedade, em diferentes campos de pesquisa,” (FELDMAN-BIANCO, B. 2013) da mesma forma que tentaremos fazer com este trabalho, com pesquisa feita em dois diferentes espaços: físico/presencial e virtual, que resulta em um contínuo processo de erros e acertos, ao longo de 2 anos de pesquisa, entre os anos de 2013-2015. Porém, antes da pesquisa propriamente dita, foi no ano de 2012 que começei todo o processo de investigação, que cuminou neste trabalho. Nesse período, era uma outra época, com outras questões, tanto quanto pesquisador e como pessoa. Espeficamente no segundo semestre do ano de 2012, comecei a pesquisar. Neste momento, tudo era uma descoberta, individualmente, foi uma fase de aprendizado para as múltiplas oportunidades que a pesquisa social traz, como também no coletivo, através da participaçãoo em eventos de antropologia. Como informa, Peirano (1995), “Um Cientista social torna-se antropólogo ao longo de um processo de aprendizado e descoberta que é, ao mesmo tempo, coletivo e individual”. Nesse momento, estava ocorrendo a segunda semana de Antropologia da UFPB, uma oportunidade de me envolver neste processo de pesquisa, na condição de um neófito, graduando em Bacharel em Ciências Sociais. Então levantei à tona uma das questões que já me interessavam na época. No contexto de descoberta na pesquisa social, descobria que poderia, unir o útil ao agradável, ou seja, o meu trabalho como Adminstrador de Redes e Sistemas, em paralelo com a atividades acadêmicas, isto é, pesquisar o mundo no qual trabalhava, o mundo virtual1. Assim, unir esses lados aparentemente distintos, resultou em uma pesquisa, no trabalho sobre a construção social indentitária no âmbito virtual, entre os membros da lista de discussão GUS-BR2 . O que me interessava nesta pesquisa eram as fronteiras sociais como centro formação e manutenção de identidade social na esfera virtual, com a reflexão teórica do antropólogo, Frederik Barth (2000), em: “o guru, o iniciador e outras variações antropológicas”. Observava, nesse âmbito de pesquisa, o poder relacional que há entre diferentes grupos e pessoas. Neste momento, a questão identitária, foi tema de grande motivação para mim e para a pesquisa que eu iria desenvolver. A imersão no campo virtual na lista de discussão dos membros do GUS-BR, analisados como as demonstrações das marcações indentitárias por mim observadas, gerou o mote sobre as diferentes ideologias no mundo virtual, este último termo também conhecido como ciberespaço3. Através dessas observações acima, fiz o trabalho. Dias depois da apresentação do trabalho, me encontrei com um colega na Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, que conheci, entre os lanches no Centro de Humanidades. Este rapaz era do curso de Ciências da Computação da UFCG, e em uma das nossas conversas contei sobre a pesquisa que eu estava fazendo, e contrariamente ao que pensava, (por ele ser do curso de Computação) acreditei que questões humanas/sociais, com as quais estava tratando em torno da pesquisa, pudesse ser negligenciada por ele. No entanto, ele se mostrou bastante interessado, me informando até sobre um grupo de jovens que se encontravam em um apartamento no Centro da Cidade de Campina Grande-PB, que falavam e trocavam experiências técnicas sobre Tecnologia da Informação. Chamavamse: CGHS – Campina Grande HackSpace. 1 Trabalho em torno de 10 anos na área de TI, na função Administrador Redes e Sistemas, na cidade de Campina Grande-PB 2 Ver: Pacheco, Pedro. Construindo identidade: discursos mobilizadores entre os usuários de software livre e software proprietário. 2012. 3 É um termo criado em 1984, por : William Gibson. Ele me indicou este grupo por acreditar que os membros do CGHS, fosse usuários de Software Livre4, tema esse abordado na minha anterior pesquisa, e que lhe chamava à atenção, no que tange a ideologia do pensamento do FOSS 5. Como não bastasse, meu colega ainda chegou até a enviar um e-mail para Arthur, um dos membros do CGHS, informando o que estava pesquisando e dando deixas que iria aparecer a qualquer hora por lá. Apesar de eu ficar bastante interessado na indicação do grupo e por intermediar o contato, em contrapartida, ficava curioso pela amplitude que a anterior pesquisa estava me levando, indo além do que imaginava, porque pesquisar esse grupo seria em partes um desdobramento da última pesquisa, e por outro lado a enunciação de novas questões. Questões estas, tais como: o que de fato significava um HackSpace? Era um grupo de Hackers, ou não? Que espaço é esse? E que uso faziam deste ? As respostas para essas perguntas comecei a levantar no ano de 2013, quando fui de fato pela primeira vez no local, onde se localizava o Hackspace. Isto ocorreu literalmente no dia 01/02/2013 em torno das 20h30min 6. GUS-BR ao CGHS Nessa circunstância, não sabia a origem do grupo, nem o “real” significado dele, mas o meu interesse era tentar compreender o que motiva os membros do CGHS a se encontrarem presencialmente, e não só no virtual. Pois, em meu último trabalho em final de 2012, sobre os membros da lista de discussão GUS-BR, via no espaço virtual, um constructo indentitário, longe de ser um dos “não-lugares” de Marc Augé (1994), mas sim, um local com diferenças do mundo físico, evidentemente, mas que ambos espaços: físico e virtual, são construções sociais inventadas e acreditadas pelo Homem, possuindo todas as implicações simbólicas, relacionais que tange à construção da identidade, que o social traz. 4 Software livre, é um software que é licensiado a partir de quatro prerrogativas: Usar, cópiar,esudar e modificá-lo. 5 FOSS, que dizer, free and open source software São dois pensamentos diferentes, mas semelhantes no que tange a ideologia do compartilahmento na ética hacker.. 6 Anotações do meu diário de campo. Com esse embasamento na época, pensei: Por que esse grupo não fica somente no virtual? O que motivam eles a fazerem o encontro presencial? O que instiga e provocam eles se encontrarem? Aparentemente, tais perguntas são irrelevantes, sem contextualizar o cenário de uso com à Internet que estava passando a America Latina e o Brasil, e as leituras sobre antropologia do ciberespaço/cibercultura 7, para tornar claro o que motivou a fazer estas primeiras perguntas para os membros do CGHS. Contextualizando então, o ceńario da Internet Brasileira, em termos de números de acessos, temos as estatísticas do site: Internet World Stats8, que através das informações obtidas, podemos analisar em forma de gráficos, a percentagem do uso da Internet na América Latina, mais especificamente no Brasil, no ano de 2013. Mesmo ano que iniciei a pesquisa. FIGURA 1: Gráfico do uso da Internet, America Latina versus Mundo. FONTE: Internet World Stats 7 Antropologia da cibercultura, é um olhar sobre os grupos virtuais e grupos não virtuais que de uma forma ou interagem com a rede mundial de computadores, à Internet. Acessar o site: http://www.grupciber.net/blog/ 8 Acessar site: http://www.internetworldstats.com FIGURA 2 : Gráfico do uso da Internet na America Latina FONTE: Internet World Stats Os dados acima não justificam e/ou explicam nossa pesquisa, mas, ajudam a evidênciar em qual contexto de uso e crescimento a Internet no Brasil estava passando no ano da pesquisa, tomando então como base que: 49,9 9 % ou 109 milhões de brasileiros estavam conectados, dentro de um total de 202,656,788 de habitantes no país, que usam à Internet. Além desse dado, a mesma fonte, ainda revela os números de usuário brasileiros cadastrados em uma das maiores rede sociais: o facebook, com : 64,878,26010 usuário cadastrados. Outro elemento que ajuda no processo contextualização, são os trabalhos de cunho antropológico que tratam sobre as novas sociabilidades e relações de poder e movimento sociais no virtual, como o trabalho de Raquel Souza 11 (2012), sobre a hashtag #ForaMicarla, que trata sobre a insatisfação dos cidadões potiguares para com a Prefeita Micarla do Partido Verde (PV). A autora, coloca como centro de reflexão a rede social Twitter, como espaço de manifestação, bem como, atenta para as novas formas de arenas políticas na esfera pública. Então, através desses elementos expostos vemos mesmo que superficialmente, que a particiação da população brasileira na Internet e consequentemente em grupos virtuais, é uma prática em crescimento, e que possui situações/questões e complexidades próprios desse espaço vitual em que se insere. Tendo em vista, as novas formas de sociabilidades cibernéticas se multiplicam cada vez mais, e recursos como vídeo-conferência, compartilhamento de arquivos, e tanto outros artefatos tecnológicos estarem a cada vez mais à disposição do público. Logo imaginava, que para membros do CGHS não seria indiferente tal lógica, e não conseguia entender porque mesmo assim, faziam a questão de realizar o encontro presencial. Partia do discurso que a Pós-modernidade e/ou supermodernidade (AUGÉ, 1994) de fato, é uma época contemporânea, no qual, as pessoas são menos participativas, isoladas em seus próprios mundos, favorecendo ao individualismo. Dessa maneira, imaginava o CGHS como um grupo de “nerds”, que não tinha claramente um porque de realizar um encontro presencial. 9 Acessar site: http://www.internetworldstats.com/stats15.htm#south 10 Acessar site: http://www.internetworldstats.com/south.htm#br 11 Ver: Twitter e ciberativismo: o movimento social da hashtag “#ForaMicarla” em Natal-RN Com essas premissas, elaborava as primeiras perguntas sobre os grupo CGHS. Este era meu interesse inicial no ano de 2013. E para pesquisar esse interesse, tinha desejo enquanto pesquisador de etnografar. Para tanto, era necessário traçar uma pesquisa que atendesse aos requisitos do grupo, percorrendo tanto os encontros presenciais, especificamente no Prédio Pascalle no Centro da Cidade de Campina Grande, como também os encontros na esfera virtual. Então, como fazer a pesquisa? Inicialmente me propus ir ao HackSpace de uma a duas vezes na semana, segunda-feira e quarta, de preferência à noite, por conta das aulas de graduação e do trabalho que me tomavam o tempo. E no âmbito virtual, acompanhar diariamente os “posts”, comentários do grupo vindo da lista de discussão do Google Groups. Esta lista de discussão em particular tinha duas divisões a princípio. Uma lista de discussão pública e outra privada, está última reservada somente para os membros oficiais do grupo. E no que tange o referencial teórico na época, eu estava lendo as teorias de Frederik Barth (2000), isto é, estava com o pensamento da construção indentitária em mente, bem como de Marcel Mauss (1974), propositalmente a obra: O ensaio sobre a dádiva. Assim, mediante ao meu desejo de pesquisar, a curiosidade e o arcabouço teórico presente na época, iniciei a pesquisa com o grupo CGHS. Primeiras perguntas Como dito anteriormente, foi em 01/02/2013 que adentrei de fato, in loco no grupo no qual estava com interesse em fazer pesquisa. Segundo minhas anotações no meu diário de campo, neste dia conheci 8 integrantes do CGHS, todos que estavam lá, eram membros oficiais, não havia no dia nenhum convidado, além de mim. Neste dia, era o dia de reunião do grupo que se debatia as pautas de interesse dos membros. Ali no canto da sala do apartamento de 70 m², como segue a imagem abaixo, FIGURA 3: Foto de projeto arquitetônico do Hackspace. FONTE: imagem feita por: Carolina Gadelha e Andréia Oliveira Falavam sobre as contas a serem pagas, dos afazeres e apresentações que estavam pendentes, novas assuntos tecnológicos a serem tratados, tecnologias que fossem de interesse para os membros e não membros, pois havia um continuo interesse dos membros de publicar/divulgar suas ideias para público interessado, que inclusive, por vezes esses interessados já estavam cadastrados e recebendo as notificações da lista de discussão pública do grupo. Após esse momento de reunião, fui tentar conversar com alguns deles e fiz a pergunta que tinha me levado até eles. Por quê se encontrar presencialmente, tendo em vista que já participavam de uma lista de discussão, (lista de discussão essa que já existia em torno de 4 anos, contendo informações desde do processo de criação do grupo até os dias atuais), e são pessoas que que sabem manejar os recursos tecnológicos que proporcionam interação remota, com Hangout (videoconferência ponto-a-ponto, gratuito) , transferência e compartilhamento de arquivos? Em suma, para mim enquanto pesquisador naquele momento não haveria em linhas gerais um motivo para o grupo formando por sua maioria em Ciência da Computação, e por todo contexto tecnológico que o Brasil se econtrava, ter a necessidade do encontro presencial. Mas isso foi somente minha primeira impressão, pois logo eles me responderam rapidamente, principalmente um dos membros mais antigos do CGHS, Nigini. Que tomando à frente dos outros membros lá presentes, respondia minhas questões. Dizendo que o encontro presencial estabelecia mais contato e produtividade com grupo, porém antes de tal resposta sutilmente ouve um breve momento de troca de olhares, um silencioso e rápida interjeição: Boa Pergunta!!! (nesse período da pesquisa em 2013 que visitei o CGHS, todos os membros eram da UFCG, quer dizer, já se conheciam antes.) Nigini, nesse momento falava representando o grupo, logo ali, naquele momento eu via um lider passando as informações sobre o processo de ajuda mútua, na qual o grupo se configurava, não apenas como um membro. Nigini, então informava que o grupo se mantia pela troca de conhecimento técnico, amizades e informava dizendo que o CGHS também é um espaço de co-working12. Com essas informações até o momento, via que meu direcionamento da pesquisa estava se alterando, pois acreditava que fosse factível encaixá-los em minhas “teorias”, baseado no resultado da minha última pesquisa, porém, vi que não era simples assim. Entendi que não havia “encaixe”, porque o que os membros ali responderam desmontava esse desconexo com o resto que eu tentava alimentar, ou seja, eu tentava encaixá-los em determinada teória e local. Não era porque eles pertenciam a área da Tecnologia da Informação – TI, que deveriam pertencer quase que exclusivamente para o mundo virtual, no caso com o grupo GUS-BR, era outro contexto, os membros do GUS-BR surgiram dentro do virtual para o virtual. Já no caso do grupo CGHS, tinha outra formação e outra complexidade. Via agora, que o que eu procurava não era pesquisa, mas simplesmente uma resposta rápida para minha pergunta. Via agora, neste momento do percurso de pesquisa, que não há “encaixes”, não há uma forma certa, a pesquisa pode levar você para diversos caminhos. Assim, um fato, um elemento, não são pontos que se conectam ao acaso, como um simples passo de mágica. A resposta que eu acabei de ouvir vindo do Nigini, me colocava então em outro 12 Co-working ou coworking, é um termo que represeta uma nova forma de trabalho em coletivo. Onde diversas pessoas de diferentes áreas compartilham um determinado espaço e o recursos de escritório do mesmo. Acessar site: http://coworkingbrasil.org/ nível da pesquisa, em um nível de maior entendimento da complexidade da mesma, e de como eu realmente não sabia nada e/ou muito pouco sobre eles, e mais, via a distância que estava de fazer etnográfico, pois somente com bagagem teórica rasa, não era ainda uma simples ida e com uma suficiente para deter alguma compreensão e responder a minha questão. Então me perguntei novamente: Se o que fazem se encontrar é a troca, a troca de conhecimento técnico, como esta é elaborada? Tal pergunta, me impulsionou a ter outras narrativas do grupo. Como tinha comentado anteriormente, estava entre minhas leituras: Marcel Mauss, “ O ensaio sobre a Dádiva”, nesse ponto da pesquisa, refletia sobre “a troca”, esse mecanismo que tinha identificado na minha primeira ida ao CGHS. Nesse ponto, analisava, as trocas de saberes no CGHS, como questão central até o momento. Não obstante, a afim de compreender a lógica do grupo, analisava a teoria sobre a reciprocidade no pensamento de Marcel Mauss, como auxílio para o entendimento. Pegando o mote do pensamento sobre a dádiva de Marcel Mauss, em conjunto com os dados que tinha do grupo, observando nas particularidade dos encontros dos membros do CGHS, pude observar que eles criaram três tipos de encontros por assim dizer, sendo eles: o HackNight, que é um momento de descontração, um momento para falar dos assuntos do tipo: Topic-off . Regados a cerveja, games e todo entretenimento geek13 possível. Como: circuitos elétricos com Arduíno 14,e brincar com os sensores de realidade aumentada. Outro tipo de encontro, que eles elaboram é o TalkNight, este já possui um tom mais formal e de preferência e feito convites para palestrantes acadêmicos e não acadêmicos de irem até o CGHS e compartilharem suas ideias. Neste tipo de encontro, o TalkNight, o convite é lançado para qualquer um que tenha o que dizer sobre tecnologia, seja em qual área da TI for. No entanto, se há um convidado de fora do grupo com algo novo para mostrar, este fica sendo o palestrante mais requerido. Fato esse que ocorreu em 06/07/201415, quando com a vinda do CEO da Empresa 13 Geek é um termo relativamente novo, que traz outro sentido sobre o uso e gosto da tecnologia, com outra conotação que o termo nerd, trata. Uma melhor entendimento do termo geek e das implicações sociais, ver: Christopher M. Kelty “Geeks, Internets, and Recursive Publics,” Cultural Anthropology 20, no. 2 (Summer 2005). 14 Arduino, é um placa eletrônica com código aberto.Acessar o site: https://www.arduino.cc/ 15 Registro do meu diário de campo. Buddy Cloud, Simon Tennant, fez lotar o espaço do apartamento do CGHS neste dia. Por fim, outra forma de encontro é o GameNight, onde são levados jogos de todo tipo. Em suma, esse três tipos de encontros existem e coexistem no espaço, além de evidentemente de sofrerem as alterações de acordo com a vontade dos membros do grupo. Assim, a partir dessa tipificação dos encontros, tendo com referência a teoria da dádiva de Marcel Mauss, que me inspirava desde das disciplinas como: Teoria Antropológica II, Antropologia Social II e Métodos e Técnicas de Pesquisa II, cursadas durante a graduação, me conduziram a ver o tema: tecnologia com maior profundidade. Na tentativa de responder a minha pergunta (Como é feita o compartilhamento de saberes/a troca ?) Enxergava nesse arranjo entre a prática com teoria, uma possibilidade para respondê-la. No que corresponde à prática, na idas e vinda do apartamento onde de localizava o HackSpace, uma fato recorrente que observava, era a colaboração entre os membros, seja durante em um desses encontros ditos acima ou não. Quando havia o encontro presencial, sempre havia um compartilhamento, um sociabilidade que permitia a troca de saberes entre os membros, seja tirando uma dúvida técnica, seja mostrando uma nova tecnologia que um esteja usando e achava interessante passar a dica à frente, nessas formas entre outras, que via in loco, em conjunto com a teoria vigente em minha leituras (Ensaio sobre a dádiva)Analisava que a tecnologia direta e/ou indiretamente permeava e facilitava essa sociabilidade de compartilhamento, vivênciada pelos membros do CGHS. Em outras palavras, o encontro como do, Talknight, que é um momento de palestras. Para organiza esse momento existe toda uma infraestrutura, uma organização que é feita para permitir que a noite do talk seja feita, com sucesso. Para tanto, os membros anteriormente ao dia do TalkNight, de preferência se reuniem presencialmente no arpartamento, ou por vezes fazem todas as discussões no virtual, utilazando a lista de discussão do grupo e/ou via e-mail. De uma forma ou de outra, o que entra em pauta é a colaboração entre os membros para dar certo à noite do TalkNight. Alguns membros se responsabilizam pela comida e bebidas, outro membro já pela pauta das palestras e pelo convite ao palestrante e outros se responsabilizam por divulgar o evento. Seja qual for o papel enquanto membro, o que foi identificado rotineiramente para organizar do TalkNight, foi o esforço colaborativo para promovê-lo. Esse esforço, essa solidariedade entre os membros, me ligava a ideia de aliança desenvolvido por Marcel Mauss, onde em outra palavras dizia: “A mesma troca que me faz anfitrião, faz-me também um hóspede potencial” (LANNA, 2000). Quer dizer, cada membro que ali contribuia, estava em outra palavras, criando aliança, a sociabilidade essencial para fluir as trocas de saberes tecnológicos, por eles desejadas. E no que corresponde à teoria, fiquei tentado a imaginar, um certo tipo de “encaixe” com a tecnologia, como fato social total, onde todas ou as maiorias das motivações do CGHS, se misturam em torno da temática tecnologia. Como informa Marcel Mauss (1974) sobre o fato social total: [...] tudo se mistura, tudo que constitui a vida propriamente social das sociedade que precederam as nossas – até as da photo-história. Nesses fenômenos sociais, “totais” como nos propomos chamá-los, exprimem-se, ao mesmo tempo e de só uma vez, toda espécie de instituições: religiosas, jurídicas e morais – estas políticas e familiares ao mesmo tempo; econômicas – supondo formas partiulares de produção e consumo, ou antes, de prestação e de distribuição, sem contar os fenômenos estéticos no quais desemboca tais fatos e os fenômenos morfológicos que manifestam estas instituições. Apesar do esforço tanto prático e teórico, para responder a pergunta nessa fase da pesquisa, só conseguia responder pequenas partes, uma dessas partes, correspondia a sociabilidade vinda do local de encontro, o CGHS, que era um ponto de encontro, para compartihar as experiências e também juntos desenvolver projetos de desenvolvimento de software. E de fato, o “espírito” de colaboração existia no espaço e isso fazia, sim, criar alianças e fortalecer os laços existentes, porém, a tecnologia, não era em si, o motivo e a resposta que eu procurava para entender como é feita o compartilhamento de saberes/a troca entre os membros do CGHS. Quer dizer, ainda tinha uma grande lacuna a ser entendida, que não era respondida tendo como base, a tecnologia como fato social total, apesar de tudo ali no apartamento do CGHS, nos objetos geeks encontrados, como: a placa de Arduino para fazer automatizações de casa, servidores de aplicação para experimento, e livros técnicos para leitura no apartamento e/ou emprestimo, dizerem que a tecnologia é “tudo”. E como na primeira tentativa de responder a pergunta: Por que se encontram presencialmente? Eu fiz “encaixes” teóricos, na tentativa de obter uma rápida resposta , aqui nesse segundo momento em responder: como é feita o compartilhamento de saberes/a troca entre os membros do CGHS? Não foi muito diferente, apesar de estar uma posição menos imatura, usando teoria e os dados da observação participante e conseguindo até responder pequenas partes do “quebra cabeça” da pesquisa, mas mesmo assim, via que ainda fazia a pesquisa com pressa. Reavaliando então a pesquisa, via que mesmo respondendo partes da questões, como dito anteriormente, as demais perguntas nunca conseguiria responder somente observando o local do CGHS. Porque o encontro presencial, só me respondia algumas partes e o encontro no virtual, que já vinha diariamente acompanhando de casa ou do trabalho, me respondi outras questões. Como por exemplo, o ato de participação do grupo. A participação no virtual ao longo do tempo observado, variava, mas praticamente a participação é diaria, tendo sempre postagens no grupo particular da lista de discussão, e reuniões, como podemos ver no trecho abaixo: Então, levantou-se a questão de fazer 10 mesas, já que temos 2 da Octa. Vamos ter uma mesa na sala de reuniões? (Eu acho importante já que reuniões pelo Skype são frequentes e precisariamos levar o computador pra la) -Thiago Sousa Santos . Evidentemente uns participam mais que outros, mas no geral na lista de discussão, a maioria dos membros participam mais do que in loco no apartamento. Contudo, mesmo havendo uma mais participação significativa no virtual, o ato de participar não fica presa a questão de aparecer, ou de pontuar a presença, seja este qual espaço for, mas se direciona na contribuição que você faz ou não para o grupo. Seja no apartamento ou na lista de discussão do CGHS, a participação não deixa de ter um papel importante no que tange a sociabilidade, mas como meu interesse inicial era no que faz eles se estarem juntos, e posteriormente se alternou para como é feita o compartilhamento de saberes/a troca entre os membros do CGHS. A tecnologia para o grupo e o ato de participar, no que tange enxergar esta, como um fato social total, era minha a hipótese até o momento. Porém, para responder esta minha última questão, seja no mundo físico como no virtual, a tecnologia como fato social total, bem como o ato da participação, me traziam respostas rasas para a pesquisa. Visto então que na primeira questão, sobre o porque do encontro presencial, fora respondido em partes pelo ato da sociabilidade, e da segunda questão sobre como é elaborada a troca, tenha sido respondido pela, tentativa de ver a tecnologia no grupo como um fato social total, esta segunda ainda, trazia mais outros questionamentos, como já mencionados sobre o ato de participar, no mundo físico e no virtual. Se o ato de participar não era o mais significativo para os membros, se número de membros era restrito (em 2013 eram 10 membros e no ano de 2014 subiu para 13), e tendo em vista, que em certo período eles próprio não sabiam se eram um espaço de coworking e/ou hackspace, como expressa esse trecho abaixo, em 28/01/2014 : Fiquei com a seguinte dúvida agora: dado que seriam membros como qualquer outro, isso significa que eles também teriam direito de começar a usar o R$ do HS para comprar coisas relacionadas a Direito, certo? Isso é do nosso interesse? De certa forma me fez lembrar a antiga confusão entre o conceito de HS e Coworking! Na minha cabeça, os caras estão querendo o segundo. Abraços. Nigini .com.br Assim, pensei: ainda assim poderíamos enxergar o CGHS como um grupo? Essa pergunta gerou um obstáculo na pesquisa, me fazendo acreditar que não tinha mais motivo para pesquisá-los, esta conclusão que eu tive no ano de 2014, quando já frustado com os resultados superficiais das primeiras duas perguntas da pesquisa, e agora por acreditar que nem grupo mais ele pudessem ser, me fez ficar desmotivado com a pesquisa. Até que finalmente parei de procurar, e comecei a deixar de tentar fazer “encaixes” e deixei a pesquisa ir a deriva através dos dados de campo. Revisando os dados que tinha sobre o CGHS, e com ajuda do orientador, via que mesmo se o ato de participar, não era o mais importante, e que a interação dos membros fossem em dinstintos lugares, e que o número de integrantes fosse reduzido. Essas caracteristicas não determinavam, se eram ou não um grupo, deviam ter mais elementos para apreender, que ainda não tinha sido explicados. Cghackspace: um grupo para se pesquisar? A nossa vida do dia a dia, a cotidiana, não é única e nem exclusivamente nossa, mas sim, múltipla e compartilhada com todos os outros ao nosso redor, apesar de aparentemente acharmos que vivemos nossas vidas íntimas enclausuradas das significações dos outros, que tudo que somos são nossas indiossicracias, no entanto, agora esse pensamento é derrubado pela sociologia do conhecimento e outro é posto no lugar, monstrando em contrapartida a realidade do cotidiano sendo uma interpretação feita por todo nós, onde a minha realidade cotidiana é também parte da sua, compartilhamos então elementos comuns de significação e ordenação que formam nossa realidade cotidiana, como bem expressa Becker e Luckman (1985) no texto : A contrução social da realidade. Esta realidade coexiste com muitas outras, simultaneamente em nossas vidas, em nossas atividades corriqueiras, temos contato com várias outras pessoas que estão ou não presente diretamente em nossa realidade, pessoas do mesmo circuito eleboram em comum uma interpretação dessa realidade, como outros fazem em outras distintas realidades fazendo uso de outras significações, criando então uma miríade de realidades coexistentes, porém cada uma dessas realidades tem a facticidade da vida, como o tempo, que lhe impõem condições que determinam também nossa realidade cotidiana. Assim, tanto nossa subjetivade enquanto a facticidade da vida, nos impulsionam a configurar a nossa realidade cotidiana, nessa dialética que por um lado nos mostra o quê já existia e ainda vai existir como o tempo, fato social este, externo e coecertivo, como por outro lado nossas ações subjetivas compartilhadas, que moldam nossas ações coletivas. Nesse cruzamento temos a nossa realidade cotidiana que nos é familar, comum e ao mesmo tempo há um distanciamento das outras realidade próximas a nós. Distanciamento este que apesar de estarmos próximos, não compreendemos plenamente, é um distanciamento social que vemos em nossa realidade cotidiana. A familiariedade ao compartilharmos as subjetivações que moldam nosso realidade cotidiana, traz um interpretação comum quem pertence a este circuito, classificando-o e ordenando-o dentro de um todo complexo, que é nossa sociedade. Contudo, se torna familiar mas não necessariamente compreendido esta realidade. Não obstante, essa realidade se torna de fato real e predominante em nossas vidas, mesmo sem haver uma maior compreensão literal de todos o fatos correlacionados em uma realidade cotidiana. E esta realidade constrói um todo significante para quem vive dentro dela, moldando e construindo um ethos na vida em sociedade com diferentes realidades cotidianas, como a realidade enquanto grupo do CGHS. Antes do ano de 2011, antes do surgimento do CGHS, os integrantes que iriam ser chamados de membros-fundadores, já se conheciam nas intermediações da UFCG, entre as disciplinas do curso de Ciência da Computação. Esses 10 membros-fundadores, por se conhecerem e já terem uma sociabilidade no espaço da Universidade, possibilitou haver o encontro destes e a vontade de montar inicialmente um Startup16, que é em termos gerais, uma empresa de pequeno porte, com poucos recursos operacionais para se manter, voltado para aŕea tecnológica. E um espaço com um modelo de co-working, encaixa perfeitamente nesse cenário, tendo em vista, que no espaço de co-working, todos lá colaboram para o local, cada um em seu próprio projeto, mas compartilhando os recursos de escritório, como mesas, cafeteiras, impressoras e computadores. E o que motivou inicialmente a ir para um determinado local e monstar essa empresa foi o fato de todos esses 10 integrantes, fazerem: home-office, que trabalho remoto. Logo, como eles trabalham remotamente precisavam de um lugar, com o mínimo de conforto para o trabalho e que além disso tivesse a participaçao de outros home-officers para trocar experiências e questões pertinentes ao trabalho. Com essa ideia inicial de montar uma startup e de um espaço para co-woring, veio se tranformar no segundo semestre de 2011, em um local de hacking, hacklab, que dizer, um Hackspace. Espaço para troca de experiências e compartilhamento de ideias sobre o mundo hacker e sobre quaisquer outra tecnologia ou conhecimento. Com essa lógica do compartihamento que paira no mundo hacker, podendo ser analisa nos primeiros materiais do grupo em Março de 2012, (segundo o acervo digital do CGHS) temos o conceito da ética hacker, entendida por esse membros-fundadores, como sendo Hackerismo, que compõem quatro características 16 Startup é um seguemente novo empresarial de pequeno porte, vinculado à tecnologia. iniciais, sendo elas: Compartilhamento, Abertura, Desentralização, Livre acesso aos computadores e melhoria do mundo. A partir dessas prerrogativas, os primeiros membros do CGHS imaginavam o que era uma HackSpace - HS, e o que deveriam fazer, para essa ideia vinhesse a ser uma realidade. Segundo o acervo digital da lista de discussão do Google Groups, em 2011 sem saber direito o que era um HackSpace, liam a respeito, pesquisam na internet e acessando site de outros Hackspace mais populosos e conhecidos, como o Hackspace GaroaSP17. A contratação de um apartamento no Edificio Pascalle, no centro da Cidade, as primeiras reuniões lá feitas e as primeiras impressões do era Hackspace, ser Hacker, eram elementos que contorvam à imaginação destes fundadores. O fato de terem já um nome definido : CGHackspace, um local, um canal no IRC #cghacksoace no freenode18, eram primeiras definições do coletivo, mas esse coletivo, já poderia ser chamado de grupo? Ao passar dos meses, e das formulações de quem poderia entrar ou não no grupo, como vista no techo abaixo, na data de 07/09/2011: Galera, Na minha cabeça abrir o espaço para desconhecidos é que torna o lugar interessante. Um modelo misto de hackspace + coworking seria muito bom para a produtividade e para a circulação de ideias. Chamar designers, arquitetos, contadores, publicitários, fotógrafos, etc. para trabalhar nesse espaço o tornaria muito melhor. Por isso não vejo com bons olhos essa aversão a pessoas desconhecidas. Acho que qualquer um que se interesse em pagar R$75 deve ser bem vindo. Bagunçou, veste a roupa e vai embora. Simples assim. No mais, concordo com tudo. []'s Erick Moreno E entraves na discussões presenciais e virtuais sobre a formação e até formalização legal do Hackspace, estavam em debate. 17 Acessar site: https://garoa.net.br/wiki/P%C3%A1gina_principal 18 Servidor de IRC, canal de comunicação virtual, um chat. Com saídas de membros e entradas de outros, e criando um estilo próprio na construção dessa realidade sonhada de ser um espaço de Hackspace, o CGHS foi pouco a pouco, se constituindo ao longo dos anos, em uma realidade social constrúida e mantida por seus membros. Nos dias atuais no ano de 2015, os membros mantém uma portura Hacker de ser, digamos assim, pautada ainda naquelas 2 das 4 premissas da ética hacker. O compartilhamento e a Desentralização. Esses dois elementos de fato entraram em vigor. Pois com a criação do canal no IRC, com a lista de discussão, e-mail e toda artefato de comunicação remota disponível na Internet. Dos membros-fundadores aos atuais, a descentralização e a esfera de compartilhamento, se mantém. Entre entradas e saídas de membros e a curiosidade sobre tecnologia, que pauta a conduta Hacker, em conjunto com o amizade que esse grupo de estudantes já tinham na UFCG e que se manteve nessa novo espaço, criou uma particular sociabilidade e específicas normas sociais, que agregavam valor no ato de colaborar acima de tudo, e que via na participação remota, como no trabalho no estilo home-office ou toda interação pelo mundo virtual como aceitável em termos de relacionamento. Assim, seja estar presente presencialmente e/ou “distante” virualmente, os membros se falavam, trabalhavam e se divertiam nessa atmosfera criada por eles. O anterior grupo de colega da UFCG, se tornavam agora o grupo CGHS. Através do compartilhamento e desentralização que o recém grupo exigia para com seus membros, via-se um grupo interagir dinamicamente entre o presencial como no virtual. Permitindo então que os membros do CGHS não ficassem preso a um ou outro lugar, mas sim, ficassem desentralizados, como ortouga a ética hacker, seguida por eles. Não obstante, mesmo desentralizados os membros, estes deveriam fazer um dos “mandamentos” mais importantes e significates para o grupo, o compartlhamento, como já dito anteriormente na pesquisa. Então, seja no virtual como no presencial, se o membro compartilha suas inovações, ideias, bem como constritui positivamente para o grupo de qualquer forma que seja de interesse para o mesmo. Este membro, é reconhecido como tal por todas os outros, e todos juntos se reconhecem como um Hackspace, por essas duas premissas do hacking e outras normas internas que o grupo cria, na crença de compartilhar a ideia do hackspace, como um espaço real, dentro de uma realidade contruída por eles mesmos . Logo, não era só participar do CGHS ou pagar as mensalidade que você tornariase automaticamente em um membro, para ser legitimado enquanto tal, outros questões do grupo se faziam necessário entender. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGÉ, Marc. Não Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994. (coleção travessia do século) BERGER. Peter, LUCKMAN, Thomas. A construção social da realidade. 1985. BARTH, Fredrik. O guro iniciador e outras variações antropológicas .2000. Christopher M. Kelty “Geeks, Internets, and Recursive Publics,” Cultural Anthropology 20, no. 2 (Summer 2005). DOI 10.1525/can.2005.20.2.185 FELDMAN. Bianco (Org). 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