Universidade Federal Fluminense Instituto de Ciências Humanas e Filosofia Programa de Pós-Graduação em Antropologia Antropologia do Consumo Profas Laura Graziela Gomes 2o semestre de 2013 - 3a feiras às 13 horas Ementa da disciplina: o curso pretende discutir uma dimensão da vida social fundamental nas chamadas sociedades urbanas e pós-industriais contemporâneas - o consumo. Através das práticas e dos hábitos de consumo, pretende-se discutir o conjunto teórico utilizado para interpretá-lo, bem como essa personagem, o consumidor, em suas atitudes e representações face às diferentes modalidades de consumo: alimentar, doméstico, moda, religioso, cultural (cultura de massas, indústria cultural), ambiental etc. Na impossibilidade de cobrir a totalidade do vasto território relativo ao objeto, a proposta da linha é fazer um mapeamento das “problemáticas obrigatórias” que constituem esse campo de reflexão. Programa: Partimos do princípio de que o consumo é um "fato social total" e igualmente transversal. Contudo, para não cairmos na tentação de perder algumas especificidades, tomaremos como ponto de partida, três categorias-chaves que dizem respeito a três dimensões fundamentais do consumo: o mercado ou o consumo visto como fenômeno coletivo; a casa ou o consumo vinculado à reprodução familiar; o indivíduo e o consumo individual, idiossincrático, relacionado à construção do sujeito e da pessoa. Essas categorias não serão tomadas em si mesmas ou mesmo entendidas em termos sequenciais ou cronológicos, mas como cenários possíveis, nos quais se desenrolam muitos dos dramas sociais, dos rituais e simbolismos modernos engendrados pelo consumo e o consumismo. 1 - Mercado(s), cidade e espaço público: consumidores e cidadãos. O objetivo será refletir sobre a natureza das relações sociais praticadas nos mercados (marketplace) e, em que medida, elas são fundamentais para o entendimento da esfera/espaço público no mundo contemporâneo. O consumo como forma de "ação coletiva", especialmente em função de suas utilizações políticas para a definição de classe social, bem como ao ser trazido para o centro de disputas políticas entre governos, partidos políticos e movimentos sociais. Enquanto questões introdutórias do curso, o foco será as controvérsias e ambiguidades relacionadas ao estatuto mesmo do mercado e do consumo, seja do ponto de vista jurídico e político (direitos, demandas, mobilizações), econômico (necessidades X utilidades) e cultural (valores, moralidades, representações). É a partir dessas questões que estaremos interessados em discutir os diferentes modos de circulação, circuitos e trajetórias das coisas (bens, mercadorias) e dos sujeitos sociais na esfera pública, incluindo hábitos e formas de apropriação e uso das coisas (inclusive coisas públicas) no espaço público, em lugares e situações específicas, incluindo modos de apresentação de si, identidades no espaço público, no trabalho e lazer. Braudel, F. Civilização Material, Economia e Capitalismo. Séculos XV – XVIII (vols. 1 e 2). São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997. Campbell, C. A ética romântica e o espírito do consumismo moderno. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000. ___________. The shopping experience. London: Sage publications, 1997, pp. 111-136; Canclini, N. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1996. DaMatta, R. Carnavais, malandros e heróis. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. __________. A casa e a rua. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1997. 1 Ewen, S. All consuming images. The politics of style in contemporary culture. New York: Basic Books, 1988. Habermas, J. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976. Lloyd, R. Neo-bohemia. Art and commerce in the postindustrial city. New York: Routledge, 2006. Latour, B. Jamais fomos modernos. Ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. _________. Reagregando o social. EDUFBA e EDUSC, 2012. Uma introdução à teoria do Ator-Rede. Salvador: Malinowski, B. Os argonautas do pacífico ocidental. São Paulo: Editora Abril, Coleção Os Pensadores, Massey, D. Pelo espaço. Uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2005. Mauss, M. Sociologia e Antropologia (2 vols.). São Paulo: Edusp, 1974. (Ensaio sobre o Dom). (completo). Miller, D. Teoria das compras. O que orienta as escolhas dos consumidores. São Paulo: Editora Nobel, 2000. Miller, M.B. The bon marche: bourgeois culture and the department store (1869-1920). London: Alen and Unwin, 1981. Nava, M. "Women the city and the department store". In: FALK, P. and CAMPBELL, C. The shopping experience. London: Sage Publications, 1997, pp 56-92. Pradelle, M. Les vendredis de carpentras. Faire son marché, en Provence ou ailleurs. Paris: Fayard, 1996. Polanyi, K. A Grande Transformação. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1980 (completo). _________. A subsistência do homem e ensaios correlatos. Coletânea organizada por Levitt, Kari Polanyi. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2012. Telles, V. http://www.veratelles.net/ Thomas, Rachel. Marcher en ville. Faire corps, prendre corps, donner corps aux ambiances urbaines. Paris: Éditions des archives contemporaines, 2010. Weber, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 2 - Consumo, casa e espaço doméstico (habitação e habitar). O significado da categoria "casa" e sua centralidade na sociedade brasileira. Como o mercado, através do consumo afeta a "casa" do ponto de vista de sua materialidade (organização do espaço, concepções de conforto e estética). Como, em face dessas influências recíprocas, o consumo afeta também a organização das atividades (trabalho) domésticas: gastos e despesas, tomadas de decisões sobre o consumo doméstico e a cultura material da casa, as artes de fazer (técnicas) e os rituais domésticos (comer, limpeza e poluição, organização). Trabalho, lazer e sociabilidades domésticas. Finalmente, tendo em vista o conjunto de práticas e objetos que compõem esse espaço, como mercado e consumo influenciam na redefinição e mudanças quanto às noções de família, relações de parentesco, construção social da afinidade, concepções de infância, cuidado, educação etc. 2 3 - Consumo e intimidade: Em que medida a invenção do psicológico como território do Eu e da sensibilidade moderna deu lugar a outras formulações e concepções de sujeito e, consequentemente de intimidade? O que o consumo tem a ver com isso? As tecnologias digitais e a reinvenção do sujeito. As relações entre a produção e o consumo de si incluindo seus espaços e cultura material. Individualismos, identidades, subjetividades e suas respectivas relações com o consumo. 4 - Dinâmica do curso: O curso será realizado a partir de discussões de textos (seminários), discussão de filmes, documentários e vídeos. Propostas de exercícios serão feitas no decorrer do curso. 5- Bibliografia (unidades 2 e 3): As referências bibliográficas incluem somente os livros e capítulos de livros. Ainda faltam outros textos em arquivo digital que serão disponibilizados em pasta dropbox. Appadurai, A. A vida social das coisas. As mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: EdUFF, 2008. Ariés, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. Baudrillard, J. O sistema dos objetos (partes A, B, C e D). São Paulo: Editora Perspectiva, 1973; ______________. Sociedade de consumo. São Paulo: Elfos Editora, 1995. Barbosa, L. (org.). Juventudes e gerações no Brasil contemporâneo. Porto Alegre: Editora Salinas, 2012. __________. & Campbell, C. (org.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Bourdieu, P. A Distinção. Crítica social do julgamento. São Paulo: EDUSP, 2007. __________. "La maison ou le monde renversé". In Esquisse d´une théorie de la pratique. Paris: Librairie Droz, 1972. Certeau, M. "A produção dos consumidores". In: A invenção do cotidiano. Petrópolis, 1994, p.38-53. Couniham, C. Esterik, P. Food and culture. A reader. New York and London: Routledge, 1997. Czechowski, N. (éd.). Habiter, habité. L´alchimie de nos maisons. Paris: Auttrement, 1990. Douglas, M. and Isherwood, B. O Mundo dos Bens. Em direção a uma antropologia do consumo . Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2003. (completo). Gomes, L.G & Barbosa, L. "Culinária de papel". In Estudos Históricos vol. 33. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004, pp. 3-23. Good, J. Food and love. A cultural historyof east and west. London & New York: Verso, 1998. Gras, A. & Moricot, C. Technologies du quotidien. La complainte du progrès. Paris: Éditions Autrement, 1992. Eleb, M. & Debarre, A. L´invention de l´habitation moderne. Paris 1880- 1914. Paris: Hazan, 1995. Jackson, S. & Moores, S. (editors). The politics of domestic consumption. Critical readings. 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