Alpha1- Antitripsin Deficiency Clinical Practice NEJM 2009; 360: 2749-57 Problema clínica-A deficiência de alfa 1 anti-tripsina aumenta o risco de DPOC, doença hepática, e diversas outras condições. Apesar de várias definições terem sido usadas, chamamos de deficiência de alfa 1 antitripsina (AAT) como a herança de uma deficiência grave de dois alelos no lócus que expressa AAT. Esta desordem é relativamente comum na população descendente européia e nos USA é encontrada em 1:3.000 a 1:5.000 . A sua incidência em brancos recém nascidos é similar aquela encontrada na fibrose cística. Esta enzima é uma inibidora de serina protease expresso pela SERPINA1 (também conhecido como PI). Ela inibe a elastase dos neutrófilos de forma altamente efetiva. Um desequilíbrio entre os níveis de AAT e os níveis de elastase favorecendo esta última aumentam o risco de DPOC. Fenótipo proteína Z- Muitas pessoas com deficiência de AAT herdam duas cópias de PI alelo Z. As pessoas que herdam um dos alelos do heterogêneo grupo dos Null alelos (ausência de produção de AAT) e um alelo PI Z não será facilmente distinguido daqueles homozigotos para alelo PI Z com base no fenótipo da proteína e os níveis de AAT. Logo, pacientes que apresentam genótipo PI ZZ e PI ZNull são agrupados como tendo fenótipo de proteína Z. A proteína Z pode formar polímeros que aprisionam a AAT dentro retículo endoplasmático dos hepatócitos que é a primeira fonte de AAT gerando com isso redução dos níveis de AAT circulantes. Os níveis de AAT nestes pacientes são em torno de 15% do normal. A proteína acumulada no hepatócito parece ter relação com a doença hepática relacionada a deficiência de AAT. História natural- A história natural desta entidade clínica em adultos ainda é pobremente entendida. Essa doença é identificada em menos de 10% das pessoas em quem o diagnóstico deve ser esperado com base em estudos de screening na população em geral. O estado de saúde dos pacientes adultos não diagnosticados é incerto. Muitas vezes o diagnóstico só é feito após aparecimento de DPOC, doença hepática ou identificação do gene na família. Tabagismo aumenta o risco de DPOC em pacientes com fenótipo proteína Z. Outros fatores de risco são asma e sexo masculino. Modificadores genéticos da doença pulmonar e da doença hepática provavelmente existem, porém não foram identificados. Diagnóstico-A deficiência de AAT é sub-diagnosticada e geralmente o paciente apresenta por muito tempo queixa respiratória até que seja feito o diagnóstico. Aproximadamente 1% dos pacientes com DPOC apresentam deficiência de AAT. A pesquisa desta doença deve ser oferecida a todos os pacientes com DPOC, asmáticos com obstrução irreversível ao fluxo aéreo, doença hepática inexplicada e paniculite necrozante. Três estratégias são comumente utilizadas para o diagnóstico. São elas- Dosagem do nível sérico da proteína AAT, Fenotipagem da proteína AAT no soro ou plasma e Genotipagem da AAT. A dosagem dos níveis de ATT tem limitações, mas é um bom exame para avaliação inicial. Este teste pode não detectar heterozigotos que apresentam valores no limite inferior da normalidade. Como é uma proteína de fase aguda ela pode estar aumentada em insultos agudos. Caso o seu nível se encontre abaixo da normalidade devemos seguir a investigação com os outros testes.A fenotipagem da proteína é realizada em laboratórios especializados. Uma limitação desta técnica é a impossibilidade de avaliação do PI Null alelos, já que estes não produzem a proteína. A avaliação do genótipo geralmente é feita tentando identificar as variantes mais comumente vistas (PI S e PI Z). As outras variantes não são vistas através deste método. Desta forma é importante a realização da dosagem da proteína ou da fenotipagem desta antes da realização do genótipo. CURSO PRÓ-R Apresentação Clínica-A apresentação clássica da doença pulmonar é grave. Ocorre desenvolvimento de enfisema pan-acinar de início precoce com predomínio em bases. Este predomínio não é uma regra podendo aparecer acometimento difuso ou com predomínio em ápices. Bronquiectasias com ou sem enfisema presente é menos comum. Dispnéia é geralmente um sintoma proeminente, mas tosse crônica e sibilos também podem fazer parte do quadro. A maioria das crianças identificadas ao nascimento por teste de screening sendo portadoras de fenótipo proteína Z apresentam anormalidade dos testes de função hepática no primeiro ano de vida. Aproximadamente 10% destas com fenótipo proteína Z apresentam icterícia obstrutiva prolongada e em média 2% necessitam de transplante na infância por insuficiência hepática. A partir do momento que essas crianças crescem aumenta o risco de cirrose e carcinoma hepatocelular. A presença de outros alelos definem níveis diferentes de AAT séricos. A presença do alelo PI M está associado com valores normais de AAT. O alelo PI S é ligeiramente mais comum que o alelo PI Z e está associado com redução moderada dos níveis de AAT. Genótipo PI MZ tem discreto risco não comprovado de doença pulmonar e hepática. Genótipo PI SZ tem risco aumentado de DPOC principalmente se for tabagista, entretanto, o risco é menor do que aqueles com fenótipo proteína Z. 1 Avaliação e seguimento do paciente- História familiar e história de exposição ambiental ou ocupacional e tabagismo devem ser bem detalhadas na avaliação. Após o diagnóstico o paciente deve ser encaminhado ao pneumologista ou hepatologista com experiência na doença. É muito raro a manifestação clínica pulmonar antes dos 30 anos. A monitorização do paciente quanto ao aparecimento ou progressão do DPOC associado a esta patologia deve ser feita com realização de prova de função respiratória completa anual nos pacientes acima de 30 anos ou nos pacientes com menos de 30 anos com sintomas respiratórios. Radiografia de tórax é útil para descartar outras patologias e a tomografia de tórax fornece um detalhamento maior sobre o enfisema presente. Nos casos que apresentem doença hepática a biópsia hepática não é essencial para realização do diagnóstico. Ela ajuda para casos que necessitem descartar outras patologias ou definir gravidade. A importância da avaliação dos familiares quanto a presença da deficiência de AAT deve ser discutida com os pacientes. CURSO PRÓ-R Tratamento- Todos os pacientes com doença pulmonar devem ser aconselhados a parar de fumar, ser vacinados contra S. pneumoniae e influenza. O tratamento com broncodilatador, corticóide inalatório e reabilitação pulmonar são indicados. Não existe nenhum guideline específico para o DPOC por deficiência de AAT. Cirurgia de redução de volume não mostrou melhora da função pulmonar em um estudo com poucos pacientes com deficiência de AAT. O transplante passa a ser uma boa opção, já que esses pacientes são geralmente jovens. A terapia com reposição de AAT com um preparado rico nesta proteína de administração endovenosa tem mostrado uma taxa de declínio mais lenta na função pulmonar. Existem três formulações disponíveis no mercado, entretanto, nenhuma se mostrou superior. A infusão deve ser semanal, mas também pode ser feita de forma quinzenal ou mensal. O custo estimado é muito grande, por volta de 60.000 dólares por ano. Dois estudos avaliaram esta medicação. Em ambos foi evidenciado redução da progressão do enfisema (p=0,07 em um e p entre 0,05-0,08 em outro). Entretanto, nenhum dos dois mostrou redução do declínio de VEF1. A droga foi aprovada para uso nos pacientes com deficiência de AAT com DPOC, mas o seu rreal benefício ainda não está bem definido. Em relação a doença hepática não existe terapia específica. A suplementação de AAT não visa tratar a doença hepática. Pacientes com risco de doença hepática crônica devem ser vacinados contra Hepatite A e B e não podem engordar pelo risco de esteato-hepatite e piora da função hepática ou usarem etanol. Em relação ao tratamento da paniculite necrozante relacionada a doença, relatos de caso tem sido descritos referindo melhora importante com a reposição de AAT. 2